terça-feira, 20 de setembro de 2011

Richard Rubenstein: Quando Jesus Se Tornou Deus

Este livro mostra todo o processo de construção da trindade cristã, desde os primeiros momentos do cristianismo até o Concílio de Nicéia. Como o autor é um judeu que queria entender como se deu essa área do Cristianismo que marcou definitivamente a cisão do Judaísmo este livro pode ser considerado neutro no ponto de vista religioso.

De Jesus a Cristo

A divindade de Cristo foi afirmada no Concílio de Nicéia, em 325 d.C., e que a igreja cristã ocidental defendia uma ruptura com a herança judaica.

De fato, o imperador Constantino, que convocou o Concílio de Nicéia e se dizia convertido ao cristianismo, ajudou a introduzir muitos dogmas antibíblicos na Igreja, como a observância do domingo como dia sagrado (321 d.C.) em oposição ao sábado bíblico (Êxodo 20:8-11). Mas a divindade de Jesus certamente não é um desses dogmas e pode ser detectada mesmo no Antigo Testamento.

Textos veterotestamentários como Miquéias 5:2, Isaías 9:6, sem contar a profecia das 2.300 tardes e manhãs de Daniel 8 e 9 e inúmeros outros textos messiânicos, não só estabelecem a preexistência de Jesus, como reafirmam Sua divindade.

A base bíblica da doutrina da Trindade e, conseqüentemente, da divindade de Jesus, antecede ao Concílio de Nicéia. E faz isso recorrendo aos escritos dos primeiros cristãos que viveram entre os séculos II e III, isto é, imediatamente depois do período apostólico e antes do Concílio de Nicéia.

A lógica é simples: “Se o argumento antitrinitário estiver certo, ou seja, se a Trindade é mesmo uma doutrina forjada por Constantino, não encontraremos nesse período inicial nenhuma defesa à idéia de um Deus triúno. Ao contrário, o ensinamento da época deverá ser bem diferente, afirmando que Cristo é apenas um segundo ser gerado do Pai e o Espírito uma emanação impessoal de ambos.”

Antes de citar os chamados “Pais da Igreja”, faz-se necessário uma ressalva: “O proposito deste artigo não é endossar indiscriminadamente toda a doutrina dos Pais da Igreja, mas verificar, pelo seu testemunho, se a Trindade era crida na igreja primitiva ou se, como dizem alguns, seria fruto apenas do Concílio de Nicéia.“

Uma rápida verificação no index geral das obras Ante-Nicene Fathers e da Sources Chrétiennes, que formam a coleção de todos os escritores cristãos mais antigos (inclusive os anteriores a Nicéia), nos mostra que, muito antes do concílio, a crença na Trindade já havia sido sistematizada entre os cristãos. Aliás, o próprio termo “Trindade” foi usado em 212 d.C. por Tertuliano, ou seja, 113 anos antes de Nicéia! Falando da Igreja de Deus, ele menciona o Espírito “no qual está a Trindade de uma Divindade: Pai, Filho e Espírito Santo” (Tertuliano, Sobre a Modéstia, XXI).

“Inácio, o segundo sucessor de Pedro como pastor em Antioquia, também acreditava na doutrina da Trindade”. “Pelo que se sabe, foi martirizado no reinado de Trajano, em 105 d.C. Nessa época de perseguição à Igreja, ele escreveu uma epístola aos cristãos da Trália, dizendo-lhes que, a despeito do sofrimento, continuassem ‘em íntima união com Jesus Cristo, o nosso Deus’ (Inácio, Epístola aos Tralianos, VII [recensão curta]). Em outro manuscrito, onde uma versão mais longa é preservada, o mesmo autor adverte os irmãos contra aqueles que ensinavam doutrinas contrárias à fé dos apóstolos. Entre seus ensinos equivocados, estaria a idéia de que ‘o Espírito Santo não existe’ e que ‘o Pai, o Filho e o Espírito Santo seriam a mesma pessoa’ (Ibidem [recensão longa]).

Justino, cognominado “o Mártir”, foi outro que escreveu várias apologias em favor do Cristianismo e contra a filosofia grega. Num de seus textos, escrito por volta de 160 d.C., ele diz: “Já que somos considerados ateus, admitimos nosso ateísmo em relação a esses [vários] tipos de deuses [do politeísmo]. Mas, no que diz respeito ao verdadeiro Deus, o Pai da justiça e temperança ..., ao Filho, ... e ao Espírito Profético, [saibam que] nós os adoramos e reverenciamos” (Justino, I Apologia, VI).

Atenágoras, também respondendo à acusação de serem os cristãos chamados de ateus por não aceitarem o politeísmo pagão, ele escreveu em 175 d.C.: “Ora, quem não ficaria perplexo em ouvir chamar de ateus pessoas que pregam de Deus o Pai, de Deus o Filho e do Espírito Santo e que declaram serem um no poder, mas distintos na ordem?” (Atenágoras, Súplica pelos Cristãos, X). Continuando com Atenágoras, temos esta elucidativa declaração: “Os cristãos reconhecem a Deus e a Seu Logos. Eles também reconhecem o tipo de unicidade que o Filho tem com o Pai e que tipo de comunhão o Pai tem com o Filho. Ademais, eles sabem o que é o Espírito e que a unidade é [formada] destes três: o Espírito, o Filho e o Pai” (Ibidem, XI). “Nós reconhecemos um Deus, um Filho e um Espírito Santo, os quais são unidos na essência” (Ibidem, XXIII).

Hipólito (c. 205 d.C.), autor do mais antigo comentário de Daniel de que dispomos em nosso tempo, disse que “a Terra é movida por estes três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo” (Hipólito: Fragmentos de Comentários, 10 [ANF, vol. 5, pág. 174]). Noutra passagem, depois de citar a fórmula batismal em nome do Pai, do Filho e do Espírito, ele demonstra que já no seu tempo havia os que negavam essa doutrina, pois diz: “Qualquer um que omitir um destes três, falha em glorificar a Deus de um modo perfeito. Pois é através desta triunidade que o Pai é glorificado” (Hipólito, Contra Noeto, 14).

Esses são apenas alguns exemplos de muitos que poderiam ter sido citados. Orígenes, Cipriano, Firmiliano e Dionísio de Alexandria são outros autores que também criam na Trindade muito antes da chegada de Constantino. Ao contrário do que muitos pensam, o próprio imperador não tinha interesse algum em ‘promulgar’ uma doutrina trinitária para a Igreja. Se este fosse o seu intento, ele não precisaria convocar um concílio. Bastava repetir o ato de quatro anos antes, quando promulgou o decreto dominical, e assinar um edito ordenando a todos que adorassem ao Deus triúno. Se quisermos ser honestos com a verdade dos fatos, devemos lembrar que Constantino nem possuía conhecimento bíblico suficiente para se posicionar diante daquela controvérsia. Aliás, a carta por ele enviada através do bispo Hósio de Córdova, dizia que o problema que estavam discutindo acerca da natureza de Cristo era ‘uma questão sem proveito’ (uma reprodução da carta de Constantino pode ser encontrada em Eusébio de Cesaréia, Vida de Constantino, II, 64-72.)”.

Foram os bispos que o convenceram a convocar o Concílio para resolver a questão. "Mas o que poucos sabem é que o partido de Alexandre, o partido trinitariano, era o mais fraco em termos políticos. Foi um verdadeiro milagre que o texto de Nicéia não favorecesse o arianismo. Tanto é que, embora os arianos tivessem sido derrotados no Concílio, os partidários de Eusébio de Nicomédia empreenderam uma verdadeira campanha, após Nicéia, para derrotar Atanásio e restaurar Ário ao poder.”

O mais surpreendente, é que, protegido pelo imperador, Ário começou aos poucos a reconquistar seu poder e a exercer influência em assuntos políticos. Eusébio, por sua vez, convenceu Constantino a enviar Atanásio para o desterro e a recolocar Ário no posto de líder da Igreja – o que, de fato, quase aconteceu, se não fosse o falecimento de Ário na noite anterior à da cerimônia de investidura, em 336 d.C. Assim, o plano era que o imperador convocasse um novo Concílio e desse ganho de causa aos arianos.

Sob tais circunstâncias, a fé trinitária parecia, se não oficialmente renegada, praticamente condenada, principalmente depois que Constantino declarou seu desejo de ser batizado por Eusébio, em um ritual antitrinitariano, evidentemente. A chamada fé nicena só não chegou ao fim porque Constantino acabou morrendo em 22 de maio de 337, poucos dias depois de ser batizado.

“Portanto, vê-se como infundada a declaração de que Constantino seria o pai da doutrina trinitariana usada para atrair o politeísmo para a Igreja”, arremata Rodrigo. “Pelo contrário, Ário e Eusébio é que traziam uma doutrina politeísta, pois apresentavam a Cristo como um ‘segundo’ deus, menor que o Pai, mas igualmente divino e que se assemelhava muito ao chamado ‘Demiurgo’, ou seja, um deus menor que, segundo o gnosticismo do Egito, fora usado pelo deus maior para trazer o mundo à existência. Isto, sim, pode ser classificado de politeísmo. Pena que muitos insistam em não entender!”

JESUS: HOMEM OU ANJO

A idéia de Elaine Pagels, autora de O Evangelho Desconhecido de Tomé, segundo a qual Marcos, Mateus e Lucas consideravam Jesus um ser humano. Mas basta uma consulta a esses evangelhos para se perceber exatamente o contrário. (Lembre-se, por exemplo, que quando Jesus Se apresenta a Tomé, este O chama de “meu Senhor e meu Deus”, e nenhum dos discípulos repreende o colega pela aparente “blasfêmia”.) Ademais, se os discípulos soubessem que Jesus Se tratava apenas de um ser humano, teriam dado a vida por essa ilusão – a de que Jesus era de fato Deus?

Uma coisa é certa: no fim das contas, ou se aceita Jesus como Deus ou como lunático, uma vez que Ele mesmo reclamava para Si a divindade. Com base na Bíblia, não existe outra possibilidade senão a de que “o Verbo era Deus” (João 1:1).

Correntes Cristológicas dos Primeiros Séculos


CORRENTES CRISTOLÓGICAS HERÉTICAS DOS PRIMEIROS SÉCULOS
Introdução aos movimentos cristológicos dos quatro primeiros séculos
Principais movimentos cristológicos dos quatro primeiros séculos
Arianismo
Apolinarismo
Nestorianismo
Eutiquianismo
Ebionismo, Alogói e Monarquianismo Dinâmico
Docetismo
Calcedônia
Considerações finais
As disputas cristológicas consistiram em uma série histórica de polêmicas sobre a natureza de Jesus Cristo mantidas no seio da igreja cristã durante os primeiros séculos do florescimento do cristianismo. O ano 325 d.C., no Concílio de Nicéia, sob a mão do imperador Constantino, o Grande, assim como no primeiro Concílio de Constantinopla, em 381 d.C., se estabeleceu a doutrina oficial da Igreja Católica, que abrangia todo o território do Império Romano (desde a Espanha até a Síria)1 Atingiu o consenso que Cristo era eterno, segundo o credo, “uma encarnação divina, (chamada de "homoousios"), que significa consubstancial com Deus Pai”2, em uma só pessoa, porém com duas naturezas : completamente divina e completamente humana . A partir desse momento, e até o século VII, sucessivos concílios condenaram doutrinas que diferenciavam com a do credo de Nicéia em matérias de ontologia em torno do Cristo.
O período dos quatro primeiros séculos da história do cristianismo se caracterizou por disputas cristológicas. Os movimentos religiosos minoritários, qualificados como heréticos, que surgiram no segundo século nunca voltaram a questionar as explicações estabelecidas sobre a natureza do Cristo, e se concentraram em problemas como a simonia, hipocrisia, a burocracia, a injustiça social e a luxuria da Igreja institucional. Voltando ser assunto durante a Reforma Protestante com o aparecimento de novos movimentos. Hoje em dia especialmente o das Testemunhas de Jeová, voltam a questionar as doutrinas cristológicas adotadas no quarto século.
A seguir veremos as principais correntes cristológicas heréticas e suas ideologias.
Principais movimentos cristológicos dos quatro primeiros séculos
Arianismo
Este movimento possui este nome, pois foi liderado por Ário (250-336 d.C.), que fora presbítero de Alexandria entre o fim do século 3 e inicio do século 4 depois de Cristo. Ário não admitia que Jesus era Deus, o Verbo encarnado. Ele acreditava que isso implicaria na aproximação entre o cristianismo e o paganismo, já que as religiões pagãs crêem na existência de diversos deuses. Ário acreditava que Jesus teve um começo, ou seja, que foi criado por Deus. Sua idéia é que houve tempo em que Jesus não existiu, ou seja, que este fora criado por Deus, isso implica que Jesus não é eterno.
Ele e seus seguidores negavam a divindade própria de Cristo. Àrio desenvolveu sua doutrina com base em especulações teológicas gregas, que floresceram no gnosticismo. Foi uma elaborada tentativa de definir a relação de Cristo para com Deus, segundo a razão natural.
O Arianismo teve suas doutrinas refutadas quando Ário foi confrontado por Atanásio (296-373 d.C.), num concílio convocado pelo imperador Constantino, que contou com a presença de mais de 300 bispos. Este evento ocorreu na cidade de Nicéia, em 325, e deste concílio surgiu o Credo Niceno, no entanto, a cristologia ariana permaneceu, e nos dias de hoje está presente em grupos como Cristadelfianismo, Testemunhas de Jeová e com alguns traços no Mormonismo.
Estes são seus pontos principais: 1. Deus é ímpar e não-gerado (agennetos). Fora de Deus, tudo o mais foi criado ex nihilo (do nada), através da vontade de Deus. 2. O Logos (Cristo) é um intermediário entre Deus e o homem. Ele começou antes do tempo, mas não seria eterno, o que significa que houve tempo em que o Logos não existia, embora Deus já existisse. 3. Segue-se daí que o próprio Logos foi criado por Deus (o Logos foi gennetos). Ele também nasceu (gennetos), o que aponta para a filiação por adoção. 4. O Logos encarnado (Jesus Cristo) é assim inferior a Deus, embora seja objeto próprio da adoração, por causa de sua elevada posição, estando acima de todas as demais criaturas.
O presbítero de Alexandria fez a sua apologia quando disse:
O que afirmamos e pensamos e temos ensinado e continuamos ensinando; que o Filho não é congênito, nem parte do congênito em nenhum sentido, nem é ele derivado de alguma substância [...] e antes que fosse gerado, ou criado, ou nomeado, ou estabelecido, ele não existia, porque não era congênito. Somos perseguidos porque afirmamos que o Filho tem um princípio, mas Deus é sem princípio.
Apolinarianismo
Devido a Apolinário (310-390 d.C.), que fora Bispo de Laodicéia no fim do século 4, defender uma cristologia heterodoxa, esta recebeu seu nome. Enquanto o Arianismo defendia que Cristo não era Deus, o Apolinarianismo ia contra o ensino que Cristo possui a natureza humana, alegando que Cristo era apenas Deus, indo contra a doutrina da encarnação, onde o Verbo se fez carne e habitou entre nós, que está muito evidente no capítulo 1 do Evangelho de João. O ponto crítico desta corrente girava em torno do conceito da mente de Cristo. Segundo Apolinário, Cristo possuía mente (ou espírito) divino, o que o impossibilitaria de passar por tentações genuínas. Segundo Hebreus 2.14-17, Jesus participou de humanidade como a nossa, para que houvesse o completo efeito da expiação. Os ensinos do apolinarianismo também foram declarados heréticos, através do Concílio de Constantinopla (381), onde os teólogos Basílio - “O Grande”, Gregório - Bispo de Constantinopla, e Gregório - Bispo de Nissa, também conhecidos como Pais Capadócios, o rejeitaram de forma veemente. Apesar de Apolinário ter levantado certo grupo de discípulos, seus ensinos não permaneceram e seu movimento se desfez.
...sendo usado para designar a doutrina que, em Jesus, o Logos (uma perfeita natureza divina) assumiu corpo físico, passando a exercer as funções ordinariamente realizadas pela mente humana. Apolinário opunha-se tanto à noção ariana da mutabilidade do Logos como à noção da completa união das naturezas divina e humana, em Jesus Cristo. Afirma que, na encarnação, o Logos tornou-se carne, tomando o lugar da alma humana racional na pessoa de Cristo. Isso negava a humanidade essencial de Cristo.
Preocupado com a ratificação do credo niceno e com a integridade cristológica, Apolinário formulou sua solução com base na antropologia platônica, que compreendia a pessoa humana como consistindo de três entidades substanciais: corpo, alma e espírito. Sua proposição era de que na encarnação o corpo e a alma de Jesus eram de natureza humana, enquanto que o Logos ocupava o seu espírito.
Nestorianismo
Esta doutrina está baseada nos ensinos de Nestório, que fora um pregador famoso em Antioquia, e desde 428 d.C., Bispo de Constantinopla. Seus ensinos foram refutados no Concílio de Éfeso, em 431. O Nestorianismo ensinava que a pessoa divina de Cristo e sua pessoa humana estavam divididas e com vontades divididas, mas residindo no mesmo corpo. Cirilo de Alexandria refutou os falsos ensinos do Nestorianismo.
Seu propósito era banir as heresias da área de seu controle. Mas ele mesmo achou-se em dificuldades ao apresentar o que a outros parecia ser uma duvidosa cristologia. Em primeiro lugar, ele objetava aos excessos que tinham surgido como na expressão grega theótokos, “mãe de Deus, aplicada à Virgem Maria. Em segundo lugar, ele procurou modificar a cristologia hipostática da escola alexandrina. Em lugar de “mãe de Deus”, ele preferia “mãe de Cristo” (christótokos).Mas isso só ofendeu a piedade de contemporânea. E, em terceiro lugar, em vez da união hipostática das naturezas divina e humana na pessoa de Cristo Jesus, ele propôs uma nova expressão, “união prosópica”. Esta última palavra vem de prósopon, palavra grega que significa “face”. “Ele expunha a questão como segue: “A humanidade estava na face da deidade, e, a deidade na face da humanidade”.
No fundamento da posição nestoriana jaz outra heresia, a antropologia desenvolvida por Pelágio. Segundo a opinião teológica antagônica de Agostinho, a pessoa humana é dotada por ocasião do nascimento de graça suficiente para reforçar a vontade humana em sua batalha contra o pecado, o qual, por sua vez, não é uma condição do ser mas jaz inteiramente na ação humana. Devido a esse dom, o indivíduo poderia teoricamente atingir a perfeição. Nestória viu essa perfectível substância humana revelada em Jesus. O homem Jesus empregou a 11
dotação natural da graça sem falhar. Este exercício de sua livre vontade efetuou a união voluntária entre Jesus e o Logos.
Eutiquianismo
Também conhecida por Monofisismo, esta concepção de Cristo, formulada por Eutiques (ou Êutico, 378-454 d.C.), que fora líder de um mosteiro em Constantinopla. O Eutiquianismo ensinava que a natureza divina de Jesus havia absorvido a natureza humana, gerando conseqüentemente um ser com uma terceira natureza. Esta doutrina é preocupante pois anula Cristo como verdadeiro Deus e como verdadeiro homem, o único que pode nos trazer salvação. “Trata-se da doutrina cristológica de que, por ocasião da encarnação, a natureza humana de Cristo foi absorvida pela natureza divina, com tudo quanto isso subentende. Ele expôs esse ensino em oposição ao Nestorianismo.
Este falso ensino foi refutado em 451 no Concílio de Calcedônia. Neste concílio reuniram-se 600 bispos, que pelo debate contra o Eutiquianismo formularam uma confissão de fé que elucidou a humanidade e a divindade de Jesus Cristo. Esta confissão cristológica permeia a crença das igrejas Orientais Ortodoxas, Católico Romana e as igrejas oriundas da Reforma Protestante, salvo as correntes pseudocristãs que durante a história trouxeram falsos ensinos que perverteram a cristologia ortodoxa.
A despeito do movimento ter sido desmantelado “As idéias de Eutiques foram retomadas posteriormente na controvérsia monofisita que perturbou a paz do império oriental até meados do século VI. Cerca de 15 milhões de Monofisitas ainda existem nas igrejas coptas do Egito, Líbano, Turquia e Rússia.
Ebionismo, Alogoi e Monarquianismo Dinâmico
Os Ebionitas (ou parte deles) sentiram-se constrangidos, no interesse do monoteísmo, a negar a divindade de Cristo. Eles O consideravam como simples homem, filho de José e Maria, qualificado em seu batismo para ser o messias, pela descida do Espírito Santo sobre Ele. Os ebionitas surgiram pelo século II, na Palestina e eram de orientação judaizante e herética. O significado etimológico de ebionitas é “homens pobres”.
Considerados cristãos gnósticos, sustentavam a veracidade de seu próprio evangelho “Evangelho dos Ebionitas”, além do “Evangelho dos Hebreus”, “Evangelho dos Doze Apóstolos” e um “Evangelho dos Nazarenos” que foram selecionados nos concílios de Nicéia e Laodicéia. Irineu, Orígenes e Eusébio de Cesaréia confirmam que a afirmação de Jesus como sendo apenas um homem é um traço exclusivo do ebionismo.
O alogoi do termo vem da junção do prefixo grego a com os logos gregos da palavra, tal que não significa literalmente "nenhuma palavra."Este movimento cristológico nega que Jesus é a palavra incarnate divine por causa do primeiro capítulo do evangelho de João. Jesus é justo um professor bom, e há um deus expressado em uma pessoa (pai). Esta idéia foi rejeitada pela igreja para as razões óbvias que não aceita o que a Escritura proclama sobre Jesus e o Espírito Santo. O Alogoi ou Alogi era um grupo herético surgido no segundo século. Floresceram ao redor 170 d.C.. O que nós sabemos deles é derivado pela maior parte de seus oponentes, que os suprimiram pela doutrina. Atribuíram o evangelho de João e o Apocalipse de João ao Cerinthus gnostic. Negaram a divindade do Espírito Santo e negaram a doutrina dos logos incarnate . Foram chamados "Alogi" como um título duplo, para sugerir que eram ilógicos e anti-logos. Os alogianos viam em Jesus apenas um homem, embora nascido miraculosamente de uma virgem. Ensinavam que Cristo desceu sobre Jesus, por ocasião do Seu batismo, conferindo-lhe poderes miraculosos. Eles que rejeitavam os escritos de João por que entendiam que a sua autoria do Logos está em conflito com o restante do Novo Testamento.
No essencial, esta era também a posição dos Monarquistas Dinâmicos. Paulo de Samosata, seu principal representante, distinguia entre Jesus e o Logos. “Ele considerava Aquele como um homem igual a todos os demais, nascido de Maria, e Este como razão impessoal divina, que fez Sua habitação em Cristo num sentido preeminente, desde a ocasião do Seu batismo, e assim o qualificou para a Sua grande tarefa”.
Podemos dizer que a primeira tentativa sistemática de conciliar unidade e pluralidade em Deus professava a unidade com detrimento da pluralidade. Chamou-se, por isto, monarquianismo, expressão derivada da exclamação: “Monarchiam tenemus”
Docetismo
A expressão “docetismo” é oriunda do termo grego dokew que pode ser traduzido pelo verbo “aparentar”14. “O docetismo é a “afirmação de que o corpo humano de Cristo era um fantasma e de que o seu sofrimento e morte foram meras aparências. “Se sofreu, não era Deus; se era Deus, não sofreu.
Os docetistas negavam a humanidade de Cristo, mas afirmavam a divindade. Isso é o oposto do arianismo, que afirmava a humanidade de Jesus, mas negava sua divindade. Afirmavam que Jesus Cristo tivera uma imagem aparente e portanto nãocorpórea ou real. A justificação era que a materia é algo intrinsecamente mal, pelo que Jesu Cristo somente poderia ter um corpo aparente.
O docetismo já estava presente na época do Novo Testamento, como é evidente pela exortação de João, o apóstolo, sobre aqueles que negam “que Jesus Cristo veio em carne” (1Jo 4.2)
Calcedônia
O Concílio de Calcedônia, que se reuniu em 451 d.C., é considerado definitivo na história da cristologia. Sendo o ponto culminante da luta contra uma longa fileira de heresias cristológicas, declarou que a fé ortodoxa no Senhor Jesus Cristo focaliza-se nas suas duas naturezas, a divina e a humana, unidas na sua Pessoa única. O Concílio de Calcedônia tem um contexto histórico. A separação das naturezas de Jesus, proposta por Nestório, havia sido repudiada pelo Concílio de Éfeso, em 431 d.C. A harmonização entre as duas naturezas, proposta por Eutiques, foi refutada em Calcedônia.
A Fórmula Dogmática do Concílio de Calcedônia contém a reelaboração das cristologias precedentes do período patrístico, a qual reuniu o que foi elaborado precedentemente em relação aos diversos erros cristológicos do mesmo período, apresentando uma súmula das respostas do Magistério e dos teólogos ortodoxos diante dos mesmos erros, em especial, o nestorianismo, que negava a unidade das naturezas humana e divina em Cristo, e o monofisismo, que negava a plena humanidade de Cristo. A Fórmula de Calcedônia é também o ponto de partida para a Cristologia que lhe é posterior, pois, articulando as cristologias que lhe eram precedentes, e refutando os principais erros cristológicos, oferece as bases seguras para o desenvolvimento da ciência de Cristo. Ela é considerada a definição padrão da ortodoxia do ensino bíblico sobre a pessoa de Cristo desde aquela época por todos os grandes ramos do cristianismo: o catolicismo, o protestantismo e a ortodoxia oriental.
Foi a seguir a este concílio que aconteceu o cisma entre o Catolicismo e a Ortodoxia Oriental e deu origem à Igreja Copta
Fiéis aos santos pais, todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade e perfeito quanto à humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, constando de alma racional e consubstancial [homoousios] ao Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; "em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado", gerado, segundo a divindade antes dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da virgem Maria, mãe de Deus [Theotókos]. Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, conseparáveis e indivisíveis. A distinção de naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e subsistência (hypostasis); não dividido ou separado em duas pessoas, mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus cristo Senhor, conforme os profetas outrora a seu respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos padres nos transmitiu.
Considerações finais
Poderíamos dizer que os movimentos cristológicos pós-apostólicos foram impulsionados por uma espécie de “presunção teológica” ao tencionarem explicar a questão das duas naturezas de Cristo. É evidente que a revelação escriturística neotestamentária nos permite chegar a uma percepção plausível a respeito da questão cristológica, todavia devemos ter em mente que
A união das duas naturezas numa pessoa é um mistério que não podemos compreender (pelo menos integralmente) e que, por essa mesma razão, é frequentemente negado. Às vezes é comparado com a união de corpo e alma no homem; e há mesmo alguns pontos de similaridade. No homem há duas substâncias, matéria e espírito, intimamente unidas e, contudo, não misturadas; assim também o Mediador.

Os primórdios da Mitologia Judáico-Cristã

Numa rápida revisão desde os primórdios da Mitologia Judáico-Cristã encontramos em um corte longitudinal, desde Adão, uma constante: a luta entre os irmãos que, movidos pela cobiça, inveja e pelo ciúme, competem entre si no afã de serem os prediletos, os queridos do pai e portanto seus únicos herdeiros. Situações comuns, até hoje, nas famílias, de uma forma geral. Via de regra este lugar pertencia ao primogênito do sexo masculino, a menos que ele morresse ou fosse assassinado.

Caim por ciúme, ao ver seu lugar de primogênito e preferido ameaçado, mata seu irmão Abel ( Gn 5, 32), "pois a oferenda deste, e não a sua, fora aceita por Javé". Javé estava elegendo Abel, o preferido.

Dentre os filhos de Noé, Cam e Jafé recebem pouca ou nenhuma atenção de Javé, enquanto que Sem, o mais velho, tido como o tronco dos povos semitas, é o preferido. Na nona geração dos descendentes de Sem, surge Abrão—Abrahão, como passou a se denominar após a chamada "aliança ou pacto com Javé" ( Gn 12, 6 e 7 ).

Que é assim concluído:

(Gn 15, 12- 21):

"À tua descendência darei este pais, desde a torrente do Egito até o grande rio, o rio Eufrates: os cineus, os ceneseus, os cedmoneus, os heteus, os fereseus, os refaim os amorreus, os cananeus, os gergeseus e os gebuseus."

Estes nomes indicam os diferentes povos que habitavam os limites mencionados. Isto "era prometido por Javé", aos descendentes de Abrahão em troca da submissão total a ele, que seria seu único deus. E o selo desta aliança consistia na "circuncisão de todo o macho de sua casa e de seus descendentes". ( Gn 17, 9 -15).

Javé ratifica essa "doação" em Ex 13, 5 .

Note-se que este território, "doado" por Javé a Abrão já tinha donos, sendo habitado pelos povos citados acima.

Os deuses cananeus Moloch e Baal exigiam o sacrifício humano. Este sacrifício era feito comumente com crianças. Elas eram sangradas e depois queimadas no altar do sacrifício. As "primícias" eram dedicadas ao deus cruel Moloch, divindade semita mencionada na Torá ( Lv 18, 21; 20, 2- 5; 1 Rs 11,7; 2 Rs 23, 10). Trata-se da divindade cananea Milk cultuada desde o século XXIV a.C. em Ur (de onde proveio Abrão), Mari, Assiria, Ugarit, Canaã e era o deus nacional dos Amonitas. Exigia dos fieis o sacrifício das "primícias" que tanto eram os primeiros frutos, as primeiras frutas colhidas, as primeiras crias do gado, em geral, incluindo o primeiro filho de seus adoradores. A lenda do "quase sacrifício" feito por Abrão exigido por Javé, nos permite entende-la como a transição da adoração de Moloch para a adoração de um outro deus único, menos violento. Já não exigia a vida, somente o prepúcio. Mas esse novo deus, era ainda violento e exterminador com relação aos estrangeiros, gentios e aos próprios judeus, quando o desobedeciam. Era a representação externa do chefe do clã. Onipotente como todo o chefe de clã.

Abrahão por se sentir um filho eleito pelo deus Javé passou a acreditar na promessa ( desejos seus projetados no deus que agora os devolvia em forma de promessa) e nos seus direitos, já que o aceitou como único e se submeteu às suas imposições, para então "ter direito àquelas terras". O pacto com Javé, foi uma transação em que em troca da fidelidade eterna e exclusiva ao deus-único, Abrão recebia a promessa de ser aceito, bem como seus herdeiros, como o "filho eleito e único". Como Abrão procedeu com os outros filhos , Javé fez com os outros povos, filhos de deus. Baniu-os.

A esta altura cabe um parênteses: o deus dos judeus, JAVÉ (YHWH, o tetragrama), tinha outras denominações: EL, EL-SHADAI ("O Todo PODEROSO", como o designava Abrão), O ETERNO, ELOHIM ( ou ELOÁ), JAHU, JO ou JAH e ADONAI. "Adonay" é usado quase que com exclusividade pelos Sefaradis, em sua Bíblia de Ferrara escrita no dialeto ladino. Os cristãos, em suas diversas seitas e ramificações, designam esse deus, SENHOR DEUS, O SENHOR, O DEUS DE ISRAEL, O CRIADOR, JEOVA, O ALTÍSSIMO, PAI CELESTIAL, ou simplesmente DEUS.

Os livros chamados sagrados que anteriormente eram transmitidos de geração em geração por tradição oral começaram a ser grafados pelos sacerdotes israelitas, na época dos Reis, aproximadamente entre 1200 e 500 a.C. Variadas fontes existem, segundo o escriba fosse das linhas Javista (J), Eloista (E), Sacerdotal (P: "Priesterschrift") ou Deuteronomista (D). As versões, cronologicamente , seguem a seguinte ordem: J-E-D-P. Daí algumas discrepâncias em seus textos. Um exemplo disto se vê quando é descrita a venda de José por seus irmãos: nos versículos 27 e 28 de Gênesis 37. Os irmãos vendem o invejado e odiado irmão, por vinte pratas, ora aos ismaelitas ora aos midianitas.

Dos filhos de Abrahão, Isaac, filho dele com sua irmã Sarai ( ou Sara) por parte do seu pai Taré, (Gn 20, 12) é o predileto e, portanto o herdeiro de todos os bens e bênçãos.

Sara que era estéril, teve Isaac por interferência de Javé . O filho mais velho era Ismael que Abrão tivera com Agar a egípcia, escrava de Sara. ( Gn 16,11-21 e 25, 5 ). Sara que temia Ismael como concorrente de seu filho à primogenitura (herança) , fez com que Abrão o expulsasse e a sua mãe Agar, de sua casa "para que se perdessem no deserto de Bersheva" (Gn 21,10 e 14) .

Quanto a Zimrán (Zapram), Ioksan (Jecsam), Medan (Madam), Midian (Madiam), Isbak (Jesboc) e Suah (Sué), filhos de Abrahão com sua outra mulher, Keturá (Ceturá), "enviou-os Abrahão para o Oriente, à terra de Kedem, longe de seu filho Isaac" (Gn 25,1-7). Estes filhos de Abrahão, começando por Ismael que deu origem aos atuais Ismaelitas, vieram a engrossar as hostes dos deserdados pelo pai Abrahão (e pelo pai-Javé) e escorraçados para o deserto. Passaram a ser gentios, "gois".

O clã de pastores nômades saindo de Ur, na Caldeia, se deslocou para o noroeste até Padam-Haram. Chefiados por Abrão, faziam parte da comitiva, Taré, seu pai, Lot, seu sobrinho, filho de Haran, um de seus irmãos. Viajavam acompanhados de suas mulheres, escravas, servos e rebanhos. Buscavam pastagens para seu gado. De lá se dirigiram ao sul rumo ao vale do Jordão onde habitavam todos aqueles povos citados no "pacto de Abrahão com Javé" (Gn 15,12-21).

Perambularam pela Palestina, Filisteia ou Filistina e Canaã terra dos filisteus, cananeus, cineus, ceneseus, cedmoneus, heteus, fereseus, refaim, amorreus, gergeseus e gebuseus. Estes últimos eram os habitantes de Jerusalem que significa: "Jebus el Salem", ou seja: Salem dos Jebuseus.

O "pacto com Javé" pode ser entendido como uma promessa feita por Abrahão a si próprio e aos seus liderados: "essa terra ainda será nossa". Pois se tratava de praticamente um oásis cercado pelos desertos inóspitos do médio oriente. Durante este périplo, que incluiu o Egito, Abrahão e os seus procuravam pastagens para seu gado. Foram levados pela fome.

Ocorrem na época situações marcantes nas andanças desse clã , como o fato de Abrahão ceder sua mulher Sara ao Faraó (Parô) com a intenção de tirar proveito. Esta atitude foi repetida em relação a Abimelech, rei cananeu de Gerar.

(Gn 12-Lech Lechá-10, 2O e 13,1- 2)

"1O) E houve fome na terra, e desceu Abrão ao Egito para morar ali; porque era grande a fome na terra. 11) E foi quando se aproximou para entrar no Egito, disse a Sarai sua mulher: Eis que agora sei que és uma mulher formosa à vista. 12) E será que, quando te virem, os egípcios dirão: sua mulher é esta , e matarão a mim, e a ti deixar-te-ão viver. 13) Dize então que es minha irmã, para que seja bom para mim, por ti , e viverá minha alma por tua causa. ( O 2° É CHAMADO) 14) E foi ao vir Abrão ao Egito, e viram os egípcios que a mulher que era muito formosa. 15) E viram-na os ministros do Faraó (Parô) e gabaram-na ao Faraó. 16) E a Abrão fizeram bem por causa dela; e teve ele rebanhos e vacas e asnos e servos e servas e jumentas e camelos. 17) E infligiu o Eterno ao Faraó e à sua casa, grandes pragas por causa de Sarai mulher de Abrão. 18) E chamou o Faraó a Abrão e disse: "Que é isto que fizeste a mim? 19) Por que disseste: minha irmã é ela? E tomei-a para mim por mulher! E agora, aqui está tua mulher, toma-a e vai-te". 2O) E recomendou-o o Faraó a seus homens, e o acompanharam, e a sua mulher e a tudo que era dele. Xlll-1) E subiu Abrão do Egito, ele com sua mulher, e o que possuía, e Lot com ele, para o sul. 2) E Abrão estava muito carregado em gado, em prata e em ouro "

E ainda em Gn 20 (Vaiera) 1-18.

Episódio semelhante se repetiu com Abrão, Sarai e agora o Rei de Gerar, Abimelech, saindo Abrão mais rico ainda. O Rei, mesmo após dar mil moedas de prata, ovelhas e vacas, servos e servas ao casal, como indenização, foi culpado e castigado por Javé com a esterilidade.

Abrão prepara uma cilada tanto ao Faraó como a Abimelech, que são enganados por ele e extorquidos. Isto ocorre com a conivência, cumplicidade de Javé que ainda castiga as vítimas do logro com pragas e esterilidade.

Isaac, por sua vez, teve dois filhos gêmeos com Rebeca, filha de Betuel, filho de Nacor, irmão de Abrahão.

O predileto de Isaac era Esaú, o "peludo", que nasceu primeiro, também chamado Edom por ter os cabelos ruivos. O segundo, que nasceu segurando o calcanhar do irmão, recebeu o nome de Jacó. Ocorre que Jacó era o predileto da mãe, e com o auxílio dela ludibria Esaú e o velho Isaac tornando-se assim o único herdeiro ( Gn 25,28) . Esaú teve ainda aumentada a má vontade da mãe, Rebeca, por ter se casado com duas heteas: Judith e Basmath. "E estas foram para Isaac e Rebeca, uma amargura de espírito" (Gn 26, 34 e 35). Como os filhos de Abrahão, Esaú, filho rechaçado pelos pais vai dar origem aos edomitas que passaram a ocupar uma região a sudeste do Mar Morto . Mais ao norte se situam as terras ocupadas pelos filhos do incesto de Lot (sobrinho de Abrahão) com suas duas filhas, após fugirem de Sodoma e Gomorra: Os Moabitas ( filhos de Moab) e os Amonitas ( filhos de Ben- Ammi). (Gn 19, 30-38).

Nesta grande família os casamentos endogâmicos eram comuns. E mal aceitos os realizados com gentios, (goyim) estrangeiros.

Jacó, a conselho dos pais vai buscar esposa na família de Labão, o arameu, neto de Nacor, irmão de Abrahão. Trabalha quatorze longos anos por sua preferida Raquel. Leva como esposas as irmãs Lia e Raquel e suas respectivas escravas Zelfa e Bala. É enganado pelo sogro, a certa altura, logra-o mais de uma vez, rouba-lhe o que pode e sai fugido, Gn 29, 31; Gn 30, 37ss- 31, 22ss.

Os ciúmes e a competição pela predileção de Jacó são uma constante em seu clã.

Treze foram os filhos de Jacó:

Sete com Lia: 1° Ruben, 2° Simeão , 3° Levi, 4° Judá, 9° Issacar, 10° Zabulon e 11° Diná.

Dois com Zelfa (escrava de Lia), 7° Gad e 8° Aser.

Dois com Raquel, 12° José e 13° Benjamim.

Dois com Bala (escrava de Raquel), 5° Dan, 6° Neftali.(Gn 29,32 - 35 e 30,1-24).

Jacó, no entanto tem em Raquel sua mais amada esposa e no primeiro de seus filhos com ela, José, seu mais querido por ser, dizia, "o filho de minha velhice". (Gn 37,3).

Afinal, não foi por Raquel que ele trabalhou para seu sogro Labão, quatorze longos anos ? Não foi ela que, ao fugirem de Labão com bens furtados, sentou-se sobre estes, dizendo-se "com o costume das mulheres" (Gn 31, 35) isto é, menstruada e portanto intocável ! Era tabu tocar em uma mulher menstruada. Assim fugiram dos perseguidores, homens de Labão, com o produto do roubo. (Gn 31,19-54).

Raquel também era considerada estéril, só engravidando após Jacó ter tido onze filhos com as outras três mulheres. Tornou-se fértil tomando chá de raiz de mandrágora. Os poderes mágicos conferidos a essa solanácea eram creditados ao formato de sua raiz tuberosa que lembra uma forma humana.

A lenda judaica de José e seus irmãos mostra muito bem aonde os ciúmes e a inveja carregada de ódio, podem levar:

(Gn 37,1-36 ) :

1) E habitou Jacó na terra das peregrinações de seu pai, na terra de Canaã. 2) Estas são as gerações de Jacó: José, da idade de dezessete anos, apascentava, com seus irmãos, as ovelhas—e ele era mocinho—com os filhos de Bala, e com os filhos de Zelfa, mulheres de seu pai. 3) E Israel ( nome adotado por Jacó após haver lutado com o anjo) amava José mais que a todos os seus filhos, porque filho da velhice era para ele; e fez-lhe túnica talar com mangas compridas. 4).. E viram seus irmãos que seu pai amava mais a ele que a todos seus irmãos, e odiaram-no, e não podiam falar-lhe em paz. 5) E teve José um sonho, e anunciou-o a seus irmãos; e passaram a odia-lo mais. 6) E disse a eles: escutai, rogo, o sonho que tive: 7) E eis que nós estávamos atando feixes no meio do campo, e eis que se levantava meu feixe e ficava em pé, e eis que o rodeavam vossos feixes, e prostravam-se diante de meu feixe. 8) E disseram-lhe seus irmãos: Será que reinarás sobre nós ? E passaram a odia-lo ainda mais, por seus sonhos e por suas palavras. 9) E sonhou ainda outro sonho, e o contou a seus irmãos, e disse: Eis que sonhei outro sonho, e eis que o sol e a lua e onze estrelas se prostravam diante de mim. 10) E contou a seu pai e seus irmãos. E repreendeu-lhe seu pai, e disse-lhe: Que sonho é este que tiveste ? Viremos, pois, eu e tua mãe, e teus irmãos, a prostrar-nos na terra, perante ti? 11) E invejaram-no seus irmãos, e seu pai esperou o fato. ( 2° É CHAMADO). 12) E foram seus irmãos apascentar as ovelhas de seu pai em Shechem. 13) E disse Israel a José: por certo teus irmãos estão apascentando em Shechem, anda e te enviarei a eles. E disse: Eis-me. 14). E disse-lhe: Vai, rogo, vê a paz de teus irmãos e a paz do rebanho, e responde-me alguma coisa. E o enviou do vale de Hebron, e chegou a Shechem. 15) E encontrou-o um homem e eis que estava perdido no campo, e perguntou-lhe o homem dizendo: Que buscas? 16) E disse: A meus irmãos eu busco; dize, rogo, a mim, onde eles apascentam? 17) E disse o homem: Partiram daqui; porque escutei-os dizerem: vamos a Dotán. E foi José atrás de seus irmãos, e encontrou-os em Dotán. 18) E viram-no de longe, e antes que se chegasse a eles, tramaram mata-lo. 19) E disse cada um a seu irmão: Eis que aquele dono dos sonhos vem. 20) E agora vinde, o mataremos e o jogaremos num dos poços, e diremos: Um animal mau o comeu. E veremos o que serão seus sonhos. 21) E escutou Rubem, e livrou-o das mãos deles e disse: Não o feriremos de morte. 22) E disse-lhes Rubem: Não derrameis sangue! Jogai-o neste poço que está no deserto, e não ponhais mão nele; ( Isto disse) para livra-lo de suas mãos e devolve-lo a seu pai. ( 3° É CHAMADO) .23) E foi quando veio José a seus irmãos, e tiraram a José a sua túnica, a túnica talar que tinha sobre si. 24) E tomaram-no e jogaram-no ao poço, e o poço estava vazio: não havia água nele. 25) E sentaram-se a comer pão. E levantaram os olhos e viram, e eis que uma caravana de ismaelitas vinha de Guilad, e seus camelos levavam cera, bálsamo e goma odorífera, que iam baixar ao Egito. 26. E disse Judá a seus irmãos: Que proveito teremos matando a nosso irmão e ocultando seu sangue ( morte ) ? 27). Vamos e o venderemos aos ismaelitas, e não poremos nossas mãos nele; pois ele é nosso irmão, nossa carne ele é. E escutaram seus irmãos. 28) E passaram homens midianitas, mercadores; e ( os irmãos ) puxaram e fizeram subir a José do poço; e venderam José aos ismaelitas por vinte pratas. E levaram José ao Egito. 29) E voltou Rubem ao poço e eis que José não estava no poço, e rasgou suas roupas. 30) E voltou a seus irmãos e disse: O menino não está; e eu, onde vou? 31) E tomaram a túnica de José e degolaram um cabrito e molharam a túnica no sangue; 32) E enviaram a túnica talar, e trouxeram-na a seu pai, e disseram: isto encontramos; reconhece, por favor, se a túnica é de teu filho ou não. 33) E a reconheceu e disse: A túnica é de meu filho; algum mau animal o comeu. Devorado foi José ! 34) E rasgou Jacób suas roupas, e pôs um saco na cintura, e enlutou-se por seu filho muitos dias. 35) E levantaram-se todos os seus filhos e todas as suas filhas (noras) para consola-lo; e recusou-se a ser consolado e disse: Descerei enlutado por meu filho, à sepultura ? E o chorou seu pai. 36) E os midianitas o venderam no Egito a Potifar, oficial da corte do Faraó, chefe dos verdugos.

A lenda de José e seus irmão, também é relatada no "Alcorão Sagrado", dos maometanos.

Na XII Surata, Surata de José, versículos 8 e 9, as intenções dos irmãos em suprimir José invejado e odiado aparece com mais clareza:

"8- Eis que os irmãos de José disseram entre si: José e seu irmão Benjamim são mais queridos por nosso pai do que nós, apesar de sermos mais numerosos e mais úteis. Certamente nosso pai está em verdadeiro erro !

9 – Matemos, pois, José ou então desterremo-lo; assim, o carinho de nosso pai se concentrará em nós e, depois de o eliminarmos, seremos virtuosos."

Túnicas talares que eram compridas, (atingindo o talão, tornozelo), com mangas longas eram privativas dos adultos. Os jovens usavam túnicas curtas, até os joelhos e com mangas curtas. E, certamente não eram somente as túnicas presenteadas pelo pai, que faziam os demais irmãos invejarem José. Ao sentir um tratamento especial de parte do pai, José humilhava seus familiares através de seus sonhos vaidosos de grandeza que eram interpretados, entendidos, pelo pai e pelos irmãos. (Ver Grinberg em seu ótimo trabalho: "La Rivalidad y los Sueños Legendarios de José.)

A esta altura cria-se uma situação insólita neste desenvolvimento em que um filho, via de regra o primogênito, era o escolhido, o único herdeiro, não só dos bens como da tradição simbolizada pela benção do pai e de Javé. Praticamente todos os filhos de Israel vêm a formar as doze tribos, dando origem ao povo judeu, o "povo eleito e querido de Javé" , em detrimento de todos os demais povos e nações.

Diná, por ser mulher, não entra na composição. José (Safanat-Paneac para os egípcios) é representado por seus dois filhos: Manasses e Efraim que teve com Asonat (Gn 41, 50-52; 41,2O) quando administrador do faraó, no Egito. Eles são perfilhados pelo velho Israel. Ao filho Levi fica a incumbência de formar a classe sacerdotal, que será hereditária. Não lhe caberá território quando da ocupação da terra "prometida". Era a repetição do que vinha ocorrendo na formação deste clã .

. A diferença é que agora não é mais um só o preferido, o eleito. Teremos um povo como o "escolhido" pelo deus-pai. "O povo eleito".

E toda a vez que o povo, agora já composto pelas doze tribos, atacava um outro povo alegava que o ataque eram ordens de Javé. Isto ocorreu na invasão de Jericó quando Jevé "parou o sol " para favorecer seus "eleitos" e nas lutas que se seguiram culminando com a tomada aos Jebuseus de Jerusalem. A ocupação final ocorreu já no reinado de David quando o monte Sion último baluarte, foi tomado dos Jebuseus.

Como se pode ver por estes episódios, e eles são inúmeros na Torá e mesmo na Tanak, como um todo, Javé o todo poderoso deus de Israel está sempre pronto a castigar, submetendo seus próprios e "eleitos" filhos aos mais violentos castigos, quando é desobedecido. Ao constatar a idolatria, quando ainda no Sinai, Moisés executa três mil de seus seguidores judeus. (Ex 32). Em Nm.16, 1-34, Coré, Datan e Abiram , da casa de Levi, tal como Moisés, se insurgiram contra este. Eram acompanhados por suas famílias e mais duzentos e cinqüenta homens. "...fendeu-se a terra debaixo deles: E abriu a terra a sua boca, tragou-os, e as suas casas e a todos os homens de Coré, e a todos os seus bens. E desceram eles, e tudo que era deles, vivos ao abismo, e cobriu-os a terra e desapareceram do meio da congregação." Em nome de Javé, ao que tudo indica, os insurgentes são enterrados vivos. Javé ( Moisés ao falar em seu nome) não perdoa os próprios filhos, que o desobedecem.

O desejo de ser o único querido, encontrado no indivíduo, nas famílias, é também notado nos grupos, religiosos ou não e nas nações, por extensão. Daí "o meu deus" é o melhor, a "minha religião é a única verdadeira". Do "meu time é o maior" até "a minha ‘raça’ é superior à tua" só há uma pequena distância a percorrer.

Javé é a representação externa do superego, exigente, inflexível, ciumento, violento e onipotente do chefe do clã , Abrão, e agora Moisés.

Os faraós se consideravam filhos do deus sol. Os quíchuas também, segundo sua mitologia, eram filhos do deus sol. E por coincidência provinham de uma união incestuosa. Manco Capac e Mama Oclo eram irmãos. Também peregrinaram. Das margens do lago Titicaca, de Tiauanaco, até Cuzco onde se fixaram passando a se imporem aos antigos donos das terras.

Os astecas da mesma forma se consideravam filhos do deus sol.

O imperador do Japão ainda hoje é tido como "o filho do sol".

Os livros tidos como sagrados e que expressariam a palavra de deus, como a Tanak para os judeus, a Bíblia (Tanak com pequenas modificações, acrescida do Novo Testamento ) para os cristãos, reproduz a situação vivida por José e seus irmãos. O predileto ( do deus-pai) pela situação criada, desperta os ciúmes, a inveja carregada de ódio contra o preferido ou que se diz o preferido. "O queridinho, ou supostamente preferido da mamãe ou do papai" é, via de regra, hostilizado pelos irmãos.

O progresso tecnológico, científico ou cultural que bem cedo as novas gerações incorporam, não encontram um paralelo no progresso emocional. Este, partindo do ponto zero, em cada um de nós, avança bem lentamente, isto quando avança, deixando ilhotas não resolvidas no decorrer da vida .

O meu deus é o único e verdadeiro, e o teu, ou os teus são falsos e devem ser destruídos, bem como os que crêem neles.

Na Torah , no Nebiim e no Ketubim (Tanak para os judeus, ou Velho Testamento para os cristãos) estas palavras de ordem são repetidamente proferidas nos mais diferentes livros e pelos profetas do "povo eleito".

TaNaK é apalavra composta pelas iniciais de: Torá (a lei), Nebiim (os profetas) e Ketubim (a sabedoria).

Em 2 Rs 10, 15-27,

Jehu mata os adoradores de Baal, destrói seus templos, fazendo de seus locais latrinas.

Para se ter idéia do que Javé ordena, nos "Sagrados Textos" com respeito às relações com os gentios ( "goyim") é interessante ler o que consta em alguns outros livros da Tanak. Como se poderá notar nestes versículos do Deuteronômio, se trata de uma síntese da Lei de Moises sobre a conduta com respeito à posse do território dos gentios, como proceder com eles, com sua religião, seus deuses, relações de convivência e casamentos mistos. A tônica é colocada no "direito conferido por Javé aos filhos eleitos": tudo lhes é permitido, em nome de serem os "filhos queridos".

Dt 7,1-6). 1) Quando te levar o Eterno, teu Deus, à terra, à qual tu vais para herdá-la, e lançar fora muitas nações de diante de ti: o Hiteu, o Guirgasheu, o Emoreu, o Cananeu, o Periseu, o Hiveu, e o Jebuseu, sete nações numerosas e mais fortes do que tu, 2) e as dará o Eterno, teu Deus, diante de ti, feri-las-ás; destrui-las-ás ; não farás aliança alguma com elas, e não lhes darás pousada na terra. 3) E não te aparentarás com elas: tua filha não darás a seu filho, e sua filha não tomarás para teu filho. 4) Porque desviará teu filho de me seguir, e servirão a outros deuses, e crescerá a ira do Eterno sobre vós, e te destruirá depressa. 5) Mas assim fareis com elas: seus altares derrubareis, e suas "Matzevot" ( altares feitos de uma só pedra) quebrareis, e suas árvores idolatradas cortareis, e seus ídolos queimareis no fogo. 6) Por que tu és um povo santo para o Eterno, teu Deus; a ti escolheu o Eterno, teu Deus, para lhe seres o povo querido acima de todos os povos que há sobre a face da terra. "

E no mesmo capítulo,

Versículo 14:

Bendito serás mais do que todos os povos; não haverá em ti homem ou mulher estéril, nem entre os teus animais. 16) E consumirás todos os povos que o Eterno, teu Deus te entregar; teus olhos não terão piedade deles.

Os gentios eram sempre considerados como idólatras: Am 7, 1- 17; 1 Sm 26, 19. A terra de Israel era considerada poluta quando nas mãos dos gentios: Jr 2, 7; 3, 2: Ez 30, 17; Os 6,10; Esd 9, 11.

O santuário era considerado poluto porque um gentio havia entrado nele, At 21, 28. Toda e qualquer espécie de comida era considerada impura quando procedia dos goyim : Ez 4, 13. Na vida cotidiana evitava-se cada vez mais tudo que provinha dos goyim: At 10, 28; 11, 3, Jo 18, 28. O matrimonio misto, desde sempre foi proibido. Ex. 34, 16; Dt: 7, 3. Sendo, posteriormente, impugnado com redobrada energia. Os profetas ao condenarem os goyim, acusavam-nos mais por sua impiedade que ameaçava influenciar Israel. Por isso seriam castigados. Restava-lhes a conversão ( aceitação das leis mosaicas e da circuncisão) para serem salvos. Aos patriarcas Javé prometera que todas as famílias da terra seriam abençoadas embora acentuassem a posição privilegiada dos israelitas: " é dos judeus que vem a salvação" : Jo 4, 22: Zc 14, 16; Sl. 87.

No Dicionário Judáico de Lendas e Tradições , encontramos no verbete "gentio" ( em hebráico: goi) : ...devido à crença cabalística de que os não- judeus não tinham alma divina. E mais, que o Casamento Misto, com o gentio, leva à assimilação e é considerado equivalente ao abandono da religião. A família , nesse caso, costumava guardar uma semana de luto, como se aquele (a) que casou com o gentio tivesse morrido. Quando se refere às "leis alimentares, para manter a separação entre judeus e gentios, de modo que mesmo certos alimentos kosher, se preparados por um gentio, são proibidos pela lei de bishul nochri; e a imitação dos costumes gentios é expressamente proibida. Como Chukat há-goi. Adiante esclarece que "as atitudes negativas para com os gentios se expressam nos termos a eles aplicados, por exemplo, "nochri"(estrangeiro), "orel" e "orelte" (homem ou mulher não circuncidados [sic]), ), "sheiguets" e "shikse" (homem ou mulher desprezivel) , "iok" e "iekelte" ( inversão onomatopéica de "goi". Ressalta, no entanto que existem "gentios justos" (chassidei umot haolam) e estes são trinta em cada geração.

Em que pesem as proibições, Abrahão teve Agar, egípcia e Keturá, como esposas. José casou com Asenath, filha de um sacerdote egípcio. Moisés casou-se com Zipporah (Séfora), filha do sacerdote midianita Jetro (Ex. III-1). Samsão, nazireu, herói judeu era casado com uma filistéia. A mãe do rei Davíd era moabita. Betsabéia, uma hitita, era mãe de Salomão filho de David.

Ao que parece a proibição era respeitada, (ou castigada) pelos mais humildes e levada pouco em conta pelos poderosos. Mas era cobrada pelos chefes religiosos. O profeta Natan acusa David pelo crime de enviar seu general Urias, o heteu, para que morresse em uma frente de combate, contra os amonitas, que lhe seria com certeza, fatal, para se apossar de sua esposa Betsabéia, tendo já muitas esposas e concubinas. ( 2 Sm 12, 1-25).

Um episódio ocorrido com a filha de Jacó e o filho do príncipe de Sichem, um heveu, relatado em Gn 34, 1-24, nos mostra uma atitude dos filhos de Jacó de intransigência e traição que o pai censurou com veemência:

O filho do príncipe e Diná se enamoraram e fornicam. O jovem acompanhado de seu pai Hemor procuraram Jacó e pedem que consentisse que casassem. Jacó acede com a condição de que todos os machos de Sichem fossem circuncidados para que se tornassem um só povo. O príncipe, seu filho e todo o povo aceitaram a imposição,sendo circuncidados. ( Gn 34, 25-31). "E aconteceu que, no terceiro dia, quando estavam com a mais violenta dor, os filhos de Jacó, Simeão e Levi, tomando cada um de sua espada entraram na cidade de Sichem e mataram todo o macho. Saquearam todo o gado levando todas as mulheres e crianças prisioneiras.

O proselitismo religioso ficava difícil. Mas houve no decorrer dos séculos várias conversões ao judaísmo. No século VII, quando Carlos Magno reinava como imperador do Oeste europeu e os maometanos dominavam o médio oriente, um povo de origem turca que vivia entre o Cáucaso e o Volga, os Khazars, adotou a religião mosaica. Tornaram-se judeus formando um estado tampão entre os cristãos ao oeste e os maometanos ao leste. Este estado, durou até o século X, aproximadamente. Os Falashas da Abissinia, os chineses judeus de Kai-Feng, os judeus Yemenitas, os judeus Berberes, são outros exemplos de conversão de gentios.

Os adeptos do rabino Yhosua ben Yosef, ( Jesus Cristo para os cismáticos judeus) na sua dissidência judaica, substituíram a afirmação de que "é dos judeus que vem a salvação" pela de que "somente através de Cristo" a salvação se daria.

Yhosua entrou em choque com dirigentes religiosos da época, ( fariseus e saduceus ) e passou a ser perseguido, sendo morto, bem como vários de seus seguidores.

Na época de Cristo, os partidos judeus, formados pelos saduceus e fariseus, eram os dois maiores, e disputavam o poder religioso e político. Os essênios que se refugiavam nos desertos estudavam os textos sacros, e oravam. Os zelotes eram minoria, mas ativos terroristas contra os ocupantes romanos.

Um dos perseguidores mais ferrenhos dos judeus partidários de Yhosua foi Saulo de Tarso. Diz-se ter sido um dos fanáticos apedrejadores de Estevão, judeu cristão que se tornou santo da religião católica por esse fato: foi lapidado por seu algozes.

Saulo era judeu, nascido em Tarso (na atual Turquia). Mais tarde, trocou de partido, latinizou o nome, passando a se denominar Paulo e veio a se tornar o codificador do cristianismo. Foi um grande catequista. São famosas suas, aproximadamente vinte, cartas aos judeus e aos gentios ( gôyim ou "gois").

Paulo substituiu o batismo judaico (circuncisão) pelo batismo com água. Chamava esse batismo a "circuncisão do coração". Assim fora batizado Yhosua por seu primo João Batista nas águas do Jordão.

Com esta abertura incruenta atraiu inúmeros gentios para a nova seita judaica. Isto já após a morte de Yhosua, a quem não chegou a conhecer. Yhosua dizia "que viera, não para combater a Lei de Moisés, mas para fazer com que ela fosse cumprida".

Os seguidores do rabino dissidente ben Yosef antes perseguidos pelos judeus e pelos romanos, passam a ser os donos do poder. Sentem-se, agora "os eleitos". Isto ocorreu após o Édito de Milão, no ano de 213, quando Constantino, imperador romano, tornou o cristianismo a religião do estado.

Não tarda que passem a perseguir e matar os que antes se autodenominavam "os eleitos" , isto é, os judeus. Alguns anos após, os maometanos, religião criada pelo profeta Maomé, um mercador árabe, também passaram a disputar a propriedade da "verdadeira fé" e do " único e verdadeiro deus". Aí antigos eleitos foram alvo da fúria vingativa e invejosa, como José nas mãos de seus irmãos.

E aqui podemos citar o pensamento, com respeito aos judeus, de Freud, judeu confesso e portanto insuspeito, encontrada em seu trabalho "Moises y la Religion Monoteista" : ( Vol. IX, pg. 3304/5 Obras Completas Biblioteca Nueva )

"Têm ( os judeus) uma opinião particularmente elevada de si próprios; consideram-se mais eminentes, de posição mais alta, superiores aos outros povos, o que os leva a se isolarem dos outros. São inspirados por uma confiança peculiar na vida, derivada de se saberem donos de uma posse secreta, de algum bem precioso, uma espécie de otimismo que as pessoas piedosas chamariam confiança em Deus. Conhecemos a razão desse comportamento e qual é seu tesouro secreto. Eles se consideram, realmente o povo escolhido de Deus, acreditam que estão especialmente próximos dele, e isto os torna orgulhosos e confiantes. Relatos dignos de fé, dizem-nos que se comportavam, nos tempos helenísticos, tal como se comportam hoje."

"Em função das relações particularmente íntimas com seu Deus, os judeus se fizeram partícipes de sua magnificência. "

E mais:

"quando se é o favorito declarado do pai temido, não se precisa ficar surpreso com o ciúme dos irmãos e as conseqüências que esses possam ter, nos mostra a lenda judia de José e seus irmãos."

E acrescenta:

" Foi Moisés quem imprimiu ao povo judeu seu caráter ao dar-lhe uma religião que aumentou sua auto-estima a tal ponto que chegou a considerar-se superior a todos os outros povos".

A parte dos judeus neste jogo sado-masoquista é a afirmação imutável na crença de que são "o povo eleito" feita reiteradamente, através de seus textos sagrados.

Por outro lado, é imprescindível, a meu ver indispensável mesmo, que o não judeu acredite no "texto sagrado" dos judeus, como a palavra de um deus que os prefere acima de quaisquer outros povos ou nações. E o desejo de ser ele "o eleito", o preferido do deus-pai.

Os cristãos e maometanos, ao acreditarem nos "livros sagrados, passam a acreditar na predileção do "deus-pai-Javé" pelos filhos eleitos judeus. E, à semelhança dos filhos de Jacó, a nutrir ódio invejoso aos "eleitos do pai".

Muitas vezes ainda encontramos no judeu a atitude de se colocar como José fazia, na posição especial, impar, frente aos outros povos, mesmo que seja na posição de vítima. Isto leva os gentios a procederem como os irmãos de José frente a ele. Com inveja carregada de ódio. Com hostilidade.

Vejamos o que nos diz Simon Wiesenthal, o judeu conhecido como "caçador de nazistas": "Israel e o sionismo limitam o holocausto apenas ao povo judeu, prejudicando assim a frente de combate contra o ressurgimento do nazismo." E acrescenta: "Temos dito e repetido até a exaustão que, nos campos de concentração, os judeus eram apenas uma minoria. Esta é uma realidade que eu mesmo vivi em Dachau e em Mauthausen. Entretanto, depois da guerra, temos chamado sobre nós toda a atenção do mundo, o que foi um erro".

Isto foi publicado no semanário israelense de idioma francês "Realidades de Israel e do Oriente Médio" e reproduzido, parcialmente, pela Zero Hora de Porto Alegre, RS. Brasil, em edição de 2 de janeiro de 1981, página 3.

Lembremos novamente Freud: que, em seu trabalho sobre a Neurose de Destino escrito em

(1920) em "Alem do Princípio do Prazer" , nos diz:

"A impressão que dão é de serem perseguidos por um destino maligno, por algum poder demoníaco: a psicanálise, porém, sempre foi de opinião de que seu destino é, na maior parte arranjado por elas e determinado por influências infantis primitivas."

Penso que o anti-semitismo só deixará de existir quando os judeus, seus derivados cristãos e maometanos, deixarem de encarar seus livros "santos" como "a palavra revelada do deus único e verdadeiro" que os tem como "os eleitos", os filhos preferidos. Quando virem esses livros como belas páginas com lendas, poesias, salmos, relatos históricos, e plenas de ensinamentos. Quando, como os gregos e os egípcios, por exemplo, passaram a encarar hoje, a história de seus deuses. Como mitologia. Bem sei que isto é uma utopia. E ao que tudo indica o problema continuara sem solução.

Para o narcisísmo de um povo que se julgava e se julga o "povo-filho-único-querido" de um "deus-pai-único" todo poderoso e onipotente e que traz a logomarca (circuncisão) do contrato que celebrou com ele, seria um golpe insuportável.

Para os cristãos e maometanos que queriam e querem ser eles "os filhos queridos-eleitos" desse deus todo poderoso , seria também uma renúncia demasiado dolorosa e traumática.

Abrir mão de uma ilusão (ser o predileto, o único querido) é por demais sofrido, mesmo que para isso se pague um preço exorbitante.

Mas muitos ainda acham que vale a pena.

O SAGRADO


EM BUSCA DA TRANSCENDÊNCIA

O QUE É RELIGIÃO? QUAL A DIFERENÇA DE SEITA?

MITOLOGIA É RELIGIÃO? O QUE É HERESIA?

RELIGIÃO deriva do termo latino "Re-Ligare", que significa "religação" com o divino. Essa definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo Metafísico, ou seja, de além do mundo físico.

Sendo assim o hábito, geralmente por parte de grupos religiosos de taxarem tal ou qual grupo religioso rival de seita, não têm apoio na definição do termo. SEITA, derivado da palavra latina "Secta", nada mais é do que um segmento minoritário que se diferencia das crenças majoritárias, mas como tal também é religião.

HERESIA é outro termo mal compreendido. Significa simplesmente um conteúdo que vai contra a estrutura teórica de uma religião dominante. Sendo assim o Cristianismo foi uma Heresia Judáica assim como o Protestantismo uma Heresia Católica, ou o Budismo uma Heresia Hinduísta.

A MITOLOGIA é uma coleção de contos e lendas com uma concepção mística em comum, sendo parte integrante da maioria das religiões, mas suas formas variam grandemente dependendo da estrutura fundamental da crença religiosa. Não há religião sem mitos, mas podem existir mitos que não participem de uma religião.

MÍSTICA pode ser entendida como qualquer coisa que diga respeito a um plano sobre material. Um "Mistério".

PRESENÇA DA RELIGIÃO EM TODA A CULTURA HUMANA

Não há registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia, Sociologia ou qualquer outra "ciência" social, de um grupamento humano em qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa. As religiões são então um fenômeno inerente a cultura humana, assim como as artes e técnicas.

Grande parte de todos os movimentos humanos significativos tiveram a religião como impulsor, diversas guerras, geralmente as mais terríveis, tiveram legitimação religiosa, estruturas sociais foram definidas com base em religiões e grande parte do conhecimento científico, "filosófico" e artístico tiveram como vetores os grupos religiosos, que durante a maior parte da história da humanidade estiveram vinculados ao poder político e social.

Hoje em dia, apesar de todo o avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive e cresce, desafiando previsões que anteveram seu fim. A grande maioria da humanidade professa alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a Religião continua a promover diversos movimentos humanos, e mantendo estatutos políticos e sociais.

Tal como a Ciência, a Arte e a Filosofia, a Religião é parte integrante e inseparável da cultura humana, é muito provavelmente sempre continuará sendo.


TIPOS DE RELIGIÕES

Há várias formas de religião, e são muitos os modos que vários estudiosos utilizam para classificá-las. Porém há características comuns às religiões que aparecem com maior ou menor destaque em praticamente todas as divisões.

A primeira destas características e cronológica, pois as formas religiosas predominantes evoluem através dos tempos nos sucessivos estágios culturais de qualquer sociedade.

Outro modo é classificá-las de acordo com sua solidez de princípios e sua profundidade filosófica, o que irá separá-las em religiões com e sem Livros Sagrados.

Pessoalmente como um estudioso do assunto, prefiro uma classificação que leva em conta essas duas características, e divide as religiões nos seguintes 4 grandes grupos distintos.


PANTEÍSTAS

POLITEÍSTAS

MONOTEÍSTAS

ATEÍSTAS

Nessa divisão há uma ordem cronológica. As Religiões PANTEÍSTAS são as mais antigas, dominando em sociedades menores e mais "primitivas". Tanto nos primórdios da civilização mesopotâmica, européia e asiática, quanto nas culturas das Américas, África e Oceania.

As Religiões POLITEÍSTAS por vezes se confundem com as Panteístas, mas surgem num estágio posterior do desenvolvimento de uma cultura. Quanto mais a sociedade se torna complexa, mais o Panteísmo vai se tornando Politeísmo.

Já as MONOTEÍSTAS são mais recentes, e atualmente as mais disseminadas, o Monoteísmo quantitativamente ainda domina mais de metade da humanidade.

E embora possa parecer estranho, existem religiões ATEÍSTAS, que negam a existência de um ser supremo central, embora possam admitir a existência de entidades espirituais diversas. Essas religiões geralmente surgem como um reação a um sistema religioso Monoteísta ou pelo menos Politeísta, e em muitos aspectos se confunde com o Panteísmo embora possua características exclusivas.

Essa divisão também traça uma hierarquia de rebuscamento filosófico nas religiões. As Panteístas por serem as mais antigas, não têm Livros Sagrados ou qualquer estabelecimento mais sólido do que a tradição oral, embora na atualidade o renascimento panteísta esteja mudando isso. Já as politeístas muitas vezes possuem registros de suas lendas e mitos em versão escrita, mas Nenhuma possui uma REVELAÇÃO propriamente dita. Isto é um privilégio do Monoteísmo. TODAS as grandes religiões monoteístas possuem sua Revelação Divina em forma de Livro Sagrado. As Ateístas também possuem seus livros guias, mas por não acreditarem num Deus pessoal, não tem o peso dogmático de uma revelação divina, sendo vistas em geral como tratados filosóficos.

Vejamos alguns quadros comparativos.


ÉPOCAS DE SURGIMENTO E PREDOMÍNIO.

PANTEÍSMO:

As mais antigas, remontando a pré-história onde tinham predominância absoluta, e também presentes em muitos dos povos silvícolas das Américas, África e Oceania.

POLITEÍSMO:

Surgem num estágio posterior de desenvolvimento social, tendo sido predominantes na Idade Antiga em todo o velho mundo, e mesmo nas civilizações mais avançadas das Américas pré-colombianas.

MONOTEÍSMO:

Mais recentes, surgindo a partir do último milênio aC e predominando da Idade Média até a atualidade.

ATEÍSMO:

Surgem a partir do século V aC, tendo vingado somente no Oriente e no Ocidente ressurgindo somente após a renascença numa forma mais filosófica que religiosa.

Neo PANTEÍSMO:

Embora possuam representantes em todos os períodos históricos, popularizam-se ou surgem a partir do século XVIII.





BASE LITERÁRIA

PANTEÍSMO:

Próprias de culturas ágrafas, não possuem em geral qualquer forma de base escrita, sendo transmitidas por tradição oral.

POLITEÍSMO:

Nas sociedades letradas possuem frequentemente registros literários sobre seus mitos, e mesmo nas ágrafas possuem tradições icônicas mais elaboradas.

MONOTEÍSMO:

Possuem Livros Sagrados definidos e que padronizam as formas de crença, servindo como referência obrigatória e trazendo códigos de leis. São tidos como detentores de verdades absolutas.

ATEÍSMO:

Possuem textos básicos de conteúdo predominantemente filosófico, não possuindo entretanto força dogmática arbitrária ainda que sendo também revelados por sábios ou seres iluminados.

Neo PANTEÍSMO:

Seus textos são em geral filosóficos, embora possuam mais força doutrinária, não incorrendo porém em dogmas arbitrários.





MITOLOGIA

PANTEÍSMO:

Deus é o próprio mundo, tudo está interligado num equilíbrio ecossistêmico e místico. Crê-se em espíritos e geralmente em reencarnação, é comum também o culto aos antepassados. Procura-se manter a harmonia com a natureza, e o mundo comummente é tido como eterno.

POLITEÍSMO:

Diversos deuses criaram, regem e destroem o mundo. Se relacionam de forma tensa com os seres humanos, não raro hostil. As lendas dos deuses se assemelham a dramas humanos, havendo contos dos mais diversos tipos.

MONOTEÍSMO:

Um Ser transcendente criou o mundo e o ser humano, há uma relação paternal entre criador e criaturas. Na maioria dos casos um semi-deus se rebela contra o criador trazendo males sobre todos os seres. Messias são enviados para conduzir os povos, profetiza-se um evento renovador violento no final dos tempos, onde a ordem será restaurada pela divindade.

ATEÍSMO:

O Universo é uma emanação de um princípio primordial "vazio", um Não-Ser. Crê-se na possibilidade de evolução espiritual através de um trabalho íntimo, crê-se em diversos seres conscientes dos mais variados níveis, e geralmente em reencarnação.

Neo PANTEÍSMO:

Acredita-se em geral no Monismo, um substância única que permeia todo o Universo num Ser único. São em geral reencarnacionistas e evolutivas. A desatribuição de qualidades do Ser supremo por vezes as confunde com o Ateísmo.





SÍMBOLOS

PANTEÍSMO:

Utilizam no máximo totens e alguns outros fetiches, é comum o uso de vegetais, ossos, ou animais vivos ou mortos.

POLITEÍSMO:

Surgem os ídolos zoo ou antropomórficos na forma de pinturas e esculturas em larga escala. A simbologia icônica se torna complexa em alguns casos resultando em formas de escrita ideográfica.

MONOTEÍSMO:

O Deus supremo geralmente não possui representação visual, mas os secundários sim. Utilizam símbolos mais abstratos e de significados complexos.

ATEÍSMO:

O Não-Ser supremo não pode ser representado, mas há muitas retratações dos seres iluminados. Há vários símbolos representativos da natureza e metafísica do Universo.

Neo PANTEÍSMO:

Diversos símbolos e mitos de diversas outras religiões são resgatados e reinterpretados, também não há representação específica do Ser Supremo mas pode haver de outros seres elevados.





RITUAIS

PANTEÍSMO:

Geralmente ligados a natureza e ocorrendo em contato com esta. É comum o uso de infusões de ervas, danças, oráculos e cerimônias ao ar livre.

POLITEÍSMO:

Passam a surgir os templos, embora em geral não abandonem totalmente os rituais ao ar livre. Em muitos casos ocorrem os sacrifícios humanos, oráculos e as feitiçarias de controle ambiental.

MONOTEÍSMO:

Geralmente restritas ao templos, as hierarquias ritualistas são mais rígidas, não há oráculos pessoais mas sim profecias generalizadas com base no livro sagrado. Não há rituais de controle ambiental.

ATEÍSMO:

Embora ainda comuns nos templos são também frequentes fora destes. Desenvolvem-se técnicas de concentração, meditação e purificação mais específicas, baseadas antes de tudo no controle dos impulsos e emoções.

Neo PANTEÍSMO:

Em geral baseados no uso de "energias" da natureza. Não mais têm influência nos processos civis, sendo restritos a curas, proteção contra ameaças físicas e extrafísicas.





EXEMPLOS

PANTEÍSMO:

Religiões silvícolas, xamanismo, religiões célticas, druidismo, amazônicas, indígenas norte americanas, africanas e etc.

POLITEÍSMO:

Religião Grega, Egípcia, Xintoísmo, Mitologia Nórdica, Religião Azteca, Maia etc.

MONOTEÍSMO:

Bhramanismo, Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Sikhismo.

ATEÍSMO:

Orientais: Taoísmo, Confucionismo, Budismo, Jainismo.
Ocidentais: Filosofias NeoPlantônicas, Ateísmo Filosófico (Não Religioso)

Neo PANTEÍSMO:

Espiritsmo Kardecista*, Racionalismo Cristão, Neo-Gnosticismo, Teosofia, Wicca, "Esotéricas", etc.


*Apesar do Kardecismo não se considerar Panteísta e sim antes Monoteísta.

PANTEÍSMO

As religiões primitivas são PANTEÍSTAS, acredita-se num grande "Deus-Natureza". Todos os elementos naturais são divinizados, se atribuí "inteligências" espirituais ao vento, a água, fogo, populações animais e etc.

Há uma clara noção de equilíbrio ecossistêmico, onde é comum ritos de agradecimento pelas dádivas naturais e pedidos às divindades da natureza, em alguns casos requisitando autorização mesmo para o consumo da caça que embora tenha sido obtida pelo esforço humano, seria na verdade permitida, se não ofertada, pelos entes espirituais.

A relação de dependência do ser humano com o ecossistema é clara, assim como a de parentesco e de submissão. As entidades elementais da natureza estão presentes em toda a parte, conferindo a onisciência do espírito divino. Embora haja a tendência da predominância de um presença mística feminina, a "mãe-terra", o elemento masculino também é notável a partir do momento que os seres humanos passam a compreender o papel do macho na reprodução. Ocorre então a presença de dois elementos divinos básicos, o Feminino e Masculino universal.

É um domínio de pensamento transcendente, mais compatível com a subjetividade e a síntese, não sendo então casual que este seja o tipo religioso onde as mulheres mais tenham influência. A presença de sacerdotisas, bruxas e feiticeiras é em muitos casos, muito mais significativa que a de seus equivalentes masculinos.

Todas essas religiões são ágrafas, sem escrita, com exceção é claro dos NeoPanteísmos contemporâneos. Portanto são as mais envoltas em obscuridade e mistérios, não tendo deixado nenhum registro além da tradição oral e de vestígios arqueológicos.

POLITEÍSMO

Com o tempo e o desenvolvimento as necessidades humanas passam a se tornar mais complexas. A sobrevivência assume contornos mais específicos, o crescimento populacional hipertrofiado graças a tecnologia que garante maior sucesso na preservação da prole e da longevidade, gera um série de atividades competitivas e estruturalistas nas sociedades, que se tornam cada vez mais estratificadas.

Nesse meio tempo a influência racional em franca ascensão tenta decifrar as transcendentes essências espirituais da natureza. Surge então o POLITEÍSMO, onde os elementos divinos são então personificados com qualidades cada vez mais humanas. O que era antes apenas a Água, um ser de essência espiritual metafísica e sagrada, agora passa a ser representada por uma entidade antropomórfica ou zoomórfica relacionada a água.

No princípio as características dessas divindades não são muito afetadas, mas com o tempo, a imaginação humana ou a tentativa de se adequar as religiões às estruturas sociais, elas ficam cada vez mais parecidas com os seres humanos comuns, surgindo então entre os deuses relacionamentos similares aos humanos inclusive com conflitos, ciúmes, traições, romances e etc. E cada vez mais os deuses perdem características transcendentes até que a "degeneração" chegue a ponto destes se relacionarem sexualmente com seres humanos, o que significa a perda da natureza metafísica, da característica invisível, ou mais, de haver relações físicas e pessoais de violência entre humanos e divindades, sem qualquer caráter transcendente.

Em muitos casos é difícil distinguir com clareza se determinadas religiões são Pan ou Politeístas. Mesmo no estágio Panteísta por vezes pode-se identificar com muita evidência algumas personificações das entidades divinas, mas algumas características como as citadas no parágrafo anterior são exclusivas do politeísmo. É possível que os elementos que contribuam ou realizem essa transição sejam o Animismo, Fetichismo e Totemismo.

Ocorre também uma relativa equivalência entre deidades femininas e masculinas, embora as masculinas mostrem sinais de predominância a medida que o sistema de crenças se torne mais mundano, características de uma fase mais racional e técnica onde muitas vezes a religião politeísta caminha junto com filosofias da natureza.

É sempre nesse estágio também que as sociedades desenvolvem escrita, ou pelo menos passa a utilizar símbolos abstratos e códigos visuais mais elaborados, no caso do politeísmo asiático, egípcio e europeu por exemplo, evoluiu para um sistema de escrita complexo.

Muitas destas religiões têm então, narrativas de seus mitos em forma escrita, mas tais não possuem o valor e a significância de uma Revelação propriamente dita.

Num estágio final tende a ocorrer o fenômeno da Monolatria, onde a adoração se concentra numa única divindade, o que pode ser o ponto de partida para o Monoteísmo.

MONOTEÍSMO

Chega um momento onde o Politeísmo está tão confuso, que parece forçar o "inconsciente coletivo", ou a "intuição global" a buscar uma nova forma de crença. Alguém precisa pôr ordem na casa, surge então um poderoso Deus que acaba com a confusão e se proclama como o Único soberano. Acabam-se as adorações isoladas e hierarquiza-se rigidamente as deidades, de modo a se submeter toda a autoridade do universo a um ente máximo.

O MONOTEÍSMO não é a crença em uma única divindade, mas sim a soberania absoluta de uma. A própria teologia judáico-cristã-islâmica adota hierarquias angélicas que são inclusive encarregadas de reger elementos específicos da natureza.

Um elemento que caracteriza mais claramente o MONOTEÍSMO mais específico, Zoroastrista, Judáico, Cristão, Islâmico e Sikh, é antes de tudo a ausência ou escassez de representações icônicas do Deus supremo, e sua desatribuição parcial de qualidades humanas, nem sempre bem sucedida. Já as entidades secundárias são comumente retratadas artisticamente.

A própria mitologia grega através da Monolatria, já estaria a dar sinais de se dirigir a um monoteísmo similar ao que chegou a religião Hindu, ou a egípcia com a instituição do deus único Akhenaton, embora ainda impregnadas fortemente de Politeísmo a até de reminiscências Panteístas no caso do Bhramanismo. Zeus assomava-se cada vez mais como o regente absoluto do universo. Entretanto um certo obstáculo teológico impedia que tal mitologia atingisse um estágio sequer semi-Monoteísta. Zeus é filho de Chronos, neto de Urano, essa descendência evidencia sua natureza subordinada ao tempo, ele não é eterno ou sequer o princípio em si próprio, que é uma característica obrigatória de um Deus Uno e absoluto como Bhraman ou Jeová.

Um fator complicador é que todas essas religiões apesar de seu princípio Uno, são também Dualistas, pois contrapõem um deus do Bem contra um do Mal. Entretanto não se presta "Sob Hipótese Alguma!", qualquer culto ao deus maligno, como ocorre nas Politeístas. Saber se o deus maligno está ou não sujeito afinal ao deus supremo é uma discussão que vem rendendo há mais de 3.000 anos.

Diferente do estado Panteísta original não ocorre harmonia entre os opostos, e um deles passa a ser privilegiado em detrimento do outro. Sendo assim onde antes ocorria a divinização dos aspectos Masculinos e Femininos do Universo, e a sacralidade da união, aqui ocorre a associação de um com o maligno, fatalmente do elemento Feminino uma vez que todas as religiões monoteístas surgiram na fase patriarcal da humanidade.

O Bhramanismo sendo o mais antigo, ainda conserva qualidades tais como veneração a manifestações femininas da divindade, não condena a relação sexual e ainda detém a crença reencarnacionista que é uma quase constante no Panteísmo. Do Politeísmo guarda toda um miríade de deuses personificados, com estórias bastante humanas que envolvem conflitos e paixões. Mas a subordinação a um Uno supremo, no caso representado pela trindade Bhrama-Vinshu-Shiva, é clara. O panteão anterior Hindu foi completamente absorvido pelo monoteísmo Bhraman, e conservou até mesmo a deusa Aditi, que outrora fora a divindade suprema.

Já os monoteísmos posteriores, mais afastados do fenômeno panteísta, entram em choque mais evidente com o Politeísmo que geralmente está em estado caótico. Ocorre um abafamento da religião anterior pela nova e seu caráter patriarcal e associado a violência, especialmente a partir do Judaísmo, se impõe de forma opressiva. As divindades femininas são erradicadas ou demonizadas, sendo então obrigatoriamente associadas ao elemento maligno do universo. Esse fenômeno acompanha a queda da condição social feminina na sociedade.

Embora as teologias monoteístas, especialmente na atualidade, se esforcem para afirmar o contrário, o deus único Hebreu, Cristão e Islâmico, basicamente o mesmo, assim como o do anterior Zoroastrismo e posterior Sikhismo, são nitidamente masculinos, aparentemente renegando o aspecto feminino divino do universo, mas na verdade o absorvendo, uma vez que ao contrário de deuses "supremos" Politeístas como Zeus, Osíris e Odin, eles são carregados de atribuições de amor e compaixão, embora ainda conservem sua Ira divina e seus atributos violentos, o que resulta em entidades complexas, que possuem aspectos paternos e maternos simultâneamente.

Tal como a própria emocionalidade, esse é o período mais contraditório da evolução do pensamento Teológico. Apesar de estar sob o domínio de uma característica de predominância subjetiva, é o momento onde as sociedades se mostraram paradoxalmente mais androcráticas. Os elementos femininos são absorvidos pelo Deus Único dando a ele o poder de atrair e seduzir as massas pela sua bondade, mostrando sua face benevolente, mas por outro lado a espada da masculinidade está sempre pronta a desferir o golpe fatal em quem se opuser a sua soberania.

Tal união, confere aos deuses monoteístas um poder supremo inigualável, e tal contradição, tal desarmonia intrínseca, resultou não por acaso no período religiosamente mais violento da história. As religiões monoteístas, especialmente o trio Judaísmo-Cristianismo-Islamismo, são as mais intolerantes e sanguinárias da história.

ATEÍSMO

As religiões aqui caracterizadas como Ateístas negam simplesmente a existência de um Ser Supremo central, que tudo tenha criado e a tudo controle, e talvez seja nesse grupo que se sinta mais radicalmente a ruptura entre Ocidente e Oriente, mas basicamente o Ateísmo religioso tende a funcionar da seguinte forma.

Se o Monoteísmo tenta acabar com o "pandemonium" Politeísta e estabelecer uma nova ordem por algum tempo, acaba por também se mundanizar. As autoridades religiosas interferindo fortemente na política e na estruturação social, enfraquecem como símbolos transcendentes. A inflexibilidade fundamentalista do sistema se revela injustificável ante a problemática social e as conquistas e descobertas filosóficas e científicas e num dado momento o sentimento de descrença é tal que deixa-se de acreditar num deus. Surge o ATEÍSMO.

Esse é o ponto crucial, a razão pela qual de fato não acredito que existam Ateus no sentido mais profundo do termo, no máximo "agnósticos".

Geralmente o ateu não é aquele que desacredita do "invisível", de qualquer forma de Téos, mas sim o que descrê dos deuses personificados e corrompidos. Afinal até o mais materialista e cético dos cientistas trabalha com forças invisíveis! Fenômenos da natureza ainda inexplicáveis.

Gravitação Universal, Lei de Entropia, Mecânica Quântica e etc. não podem ser vistas! Apenas seus efeitos. Tal como sempre se alegou com relação aos deuses.

No que se refere a uma visão do Princípio, não creio fazer diferença acreditar que um corpo é atraído para o centro da Terra por uma força invisível da natureza ou pela vontade de um deus também invisível. Há apenas uma maior compreensão racional do fenômeno, com maiores resultado práticos, mas de um modo ou de outro, a explicação possui um certo caráter de fé, tão racionalmente satisfatório para o cientista quanto para o religioso, capaz de explicar com clareza o funcionamento do mundo e mesmo quando isso não ocorre, admiti-se como mistérios divinos, ou causas científicas ainda desconhecidas.

No caso do Oriente, o Ateísmo religioso surge principalmente na Índia, sob a forma do Budismo e do Jainísmo, e na China, sob o Taoísmo e o Confucionismo. Todas essas religiões possuem textos base com certo grau de respeitabilidade mística ou filosófica, mas o grau de liberdade com que se pode reinterpretar ou mesmo discordar destes textos é incomparável em relação aos livros sagrados Monoteístas.

E nesse nível que muitas posturas passam a ser desconsideradas como religiões, sendo tidas em geral como filosofias. No Ocidente, tal movimento ocorreu também na Grécia Antiga, através de Filósofos da Natureza que estabeleciam como princípio primário universal alguma "substância" completamente impessoal. Mais especificamente, Aristóteles colocava o MOTOR IMÓVEL como o princípio primário, e PLOTINO, estabelecia o UNO. Porém essa breve ascensão do Ateísmo filosófico e científico ocidental foi logo minada pelo sucesso do Monoteísmo cristão.

O Ateísmo no Ocidente só surgiu novamente após a renascença, no Iluminismo, onde outras formas filosóficas se desenvolveram, mas a mistura destas com os Neo Panteísmos e o avanço científico em geral resulta num quadro difícil de se diferenciar.

Mas o ponto mais complexo na verdade, e que Ateísmo e Panteísmo se confundem.

Religiões ATEÍSTAS e NEO-PANTEÍSTAS

As religiões Ateístas não crêem numa entidade suprema central, mas pregam a interdependência harmônica do Universo, da mesma forma que o Panteísmo.

Pregam a harmonia dos opostos como Yin e Yang, da mesma forma que a harmonia entre a Deusa e o Deus no Panteísmo, e constantemente adotam um posição de neutralidade em relação aos eventos.

Provavelmente não por acaso TAOÍSMO e BUDISMO são as mais avançadas das grandes religiões num sentido metafísico, racional e mesmo científico. São imunes a contestação racional pois seus conceitos trabalham num plano mais abstrato mas ao mesmo tempo capaz de explicar a realidade, e fartos de paradoxos escapistas, sendo extremamente mais flexíveis que as religiões monoteístas por exemplo. Não há casos significativos de atrocidades cometidas em nome destas religiões em larga escala como as monoteístas ou nas politeístas monolátricas.

Porém, barreiras intransponíveis impedem que essas religiões sejam nesse esquema de divisão, classificadas como Panteístas. TAOÍSMO e CONFUCIONISMO que são chinesas equanto o BUDISMO e o JAINISMO Indianos, são religiões letradas. Possuem seus escritos fundamentais como os Sutras Budistas, o Tao Te-King Taoísta e os Anacletos Confucianos e os textos dos Tirthankaras Jainistas. Todas possuem seus mentores, Buda, Lao-Tsé, Confúcio e Mahavira. E todas são muito desenvolvidas filosoficamente, por vezes sendo consideradas não religiões, mas filosofia. Todas essas características inexistem no Panteísmo primitivo.

Portanto isso me leva a classificá-las como RELIGIÕES ATEÍSTAS, por declararem a inexistência de um Ser Supremo. Pelo contrário, o TAO ou o NIRVANA, o centro de todo o Universo segundo o Taoísmo e Confucionismo, e o Budismo, são uma espécie de Vazio, um Não-Ser.

Já o Neo-Panteísmo possui sim seus textos. É o caso do Espiritismo Kardecista, do Bahaísmo, do Racionalismo Cristão e etc. Embora muitos insistam em negar-se como Panteístas se inclinando para o Monoteísmo, porém uma série de fatores a distanciam muito deste grupo. Tais como:

A ênfase atenuada dada ao livro base da doutrina, que embora seja uma revelação, não tem o mesmo peso dogmático e em geral se apresenta de forma predominantemente racional. A postura passiva e não proselitista, e muito menos violenta, do Monoteísmo tradicional. A caraterização de seu fundador que mesmo sendo dotado de dons supra-naturais, não reivindica deificação e nem mesmo reverência especial. E o mais importante, diferenciando-as principalmente do Monoteísmo "Ocidental", o tratamento totalmente diferenciado dado a questão da existência do "Mal". Esses são alguns exemplos que tendem a afastar essas novas religiões, que prefiro agrupar na categoria Neo-Panteísmo, do grupo das Monoteístas.

PANTEÍSMO

=>

Deus é Tudo

POLITEÍSMO

=>

Deus é Plural

MONOTEÍSMO

=>

Deus é Um

ATEÍSMO

=>

Deus é Nada


Evidentemente, afirmar que DEUS é TUDO é muito similar a afirmar que é NADA. O ZERO é tão imensurável e incalculável quanto o INFINITO. Eles não podem ser medidos ou divididos, assim como não se divide por eles.

Vale lembrar que não se pode também rotular tal ou qual religião como meramente Pan, Poli ou Monoteísta. Muitas passaram pelas várias fases nem sempre de maneira perceptível e consensual. O próprio Budismo tem várias escolas bastante diferentes entre si, e mesmo o Cristianismo tem suas variantes com direito a reencarnação e sexo tântrico, e cujas atribuições de Deus o afastam das características monoteístas. Mas o processo macro, inconsciente, me parece ser esse! O de fases "psicohistóricas" que vão na forma:

?-PANTEÍSMO-POLITEÍSMO-MONOTEÍSMO-ATEÍSMO-?PANTEÍSMO

Outro ponto importante é que jamais uma dessas formas religiosas deixou de existir totalmente, principalmente na atualidade onde a intolerância religiosa não é mais "tolerada" na maior parte do mundo. Esses tipos de religiões se misturam e se confundem, o que explica porque qualquer tentativa de se classificar as religiões é tão complexa.

Até mesmo essa divisão esquemática apresenta problemas, como a notável diferença entre o Monoteísmo "Ocidental", Judaísmo-Cristianismo-Islamismo, fortemente interligadas, o Monoteísmo Oriental, Hindu, Bhramanismo e Sikhismo, e o sempre complexo Zoroastrismo, de características fortemente Maniqueistas, o que viria por vezes a suscintar a questão de se o Maniqueísmo, que tem forte influência sobre o Gnosticismo e o Catolicismo, poderia ser considerado Monoteísta.

SÍMBOLOS

O mantra sagrado "OM" ou "AUM" Hindu. Representa o "Som" primordial.

A Roda do DHARMA budista, ou "Roda da Vida".

O Tei-Gi do Taoísmo. Simbolizando a interdependência dos princípios universais Yin e Yang.

A estrela de Davi. Um dos símbolos do Judaísmo e do estado de Israel.

A cruz do Cristianismo. Encruzilhada entre o material e o espiritual.

A Lua e Estrela Muçulmana, oriunda de um dos mais antigos estados a adotar o Islã.

Nenhuma religião em especial mas algumas igrejas protestantes costumam usar um livro como símbolo.