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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Rabi Akiva: o maior dos rabinos da história judaica

RABI AKIVA, UMA HISTÓRIA DE CORAGEM E AMOR

É o que se pode chamar de uma verdadeira história de amor. Uma história de coragem, heroísmo e sacrifício que, ao mesmo tempo, aquece o coração e o arrebata; inspira-nos, provocando júbilo e lágrimas. É a história do pastor humilde que se torna o maior dos rabinos da história judaica.

Akiva, filho de José, trabalhava para Kalba Savua, um dos homens mais ricos de Jerusalém, conhecido por sua generosidade. Rachel, sua bela filha, tomou-se de amores por Akiva, prometendo tornar-se mulher dele se ele concordasse em dedicar sua vida ao estudo da Torá. Mas, além de pobre, ele, aos 40 anos, era analfabeto. Certo dia, Akiva percebeu que as gotas d'água que caíam sobre uma pedra conseguiam perfurá-la. E lhe ocorreu um pensamento: "Se a água, que é tão mole, pode furar uma pedra dura, as palavras da Torá - que são tão concretas - certamente poderão deixar sua marca em meu coração sensível". Concorda, então, com a exigência de Rachel e os dois se casam. Kalba Savua, horrorizado com a escolha da filha, a rejeita e faz votos de deserdá-la. E, assim, acompanhado de sua dedicada esposa, que deixara para trás uma vida de luxo para estar a seu lado, Akiva começa a estudar a Torá cercado da mais cruel pobreza. O casal se mantinha juntando toras de madeira que Akiva, em parte, vendia, e ficava com o remanescente para fazer gravetos. Acesos, serviam para iluminar a casa durante suas prolongadas horas de estudo. Apesar de trabalharem, ainda lhes faltava alimento, em casa, e Raquel cortou suas lindas tranças e as vendeu. Com isso, seu marido podia devotar mais tempo a estudar a Lei.

Rabi Akiva deixou sua casa para estudar na Academia de Yavne, que, após a destruição de Jerusalém, tornara-se a sede do Sanhedrin e da erudição judaica. Lá, estudou sob a orientação de dois luminares talmúdicos - Rabi Eliezer e Rabi Yoshua. Após uma ausência de doze anos, voltou à sua cidade natal, acompanhado de 12 mil alunos. Ao se aproximar de casa, ouviu sua mulher que conversava com uma vizinha. Esta lhe perguntava: "Quanto tempo ainda você viverá como viúva?" Ao que ela respondeu que agüentaria outros doze anos de solidão para que seu marido se dedicasse por completo ao estudo da Torá. Ao ouvir aquilo, Rabi Akiva retrocede, voltando à yeshivá. Decorridos mais doze anos, ele finalmente volta a casa, acompanhado, desta vez, de 24 mil doutos estudiosos da Lei de Moisés. Rachel corre até ele, prostrando-se a seus pés. Seus discípulos, desconhecendo de quem se tratava, tentaram afastá-la, mas seu mestre os deteve com as palavras que ficaram imortalizadas: "O que hoje possuo e do qual todos vocês desfrutam, somente pude conquistar graças a ela".

Nesse ínterim, Kalba Savua tendo sabido da chegada à cidade de um notável erudito judeu, decide procurá-lo para conseguir a anulação dos votos que fizera contra a filha. Arrependia-se de ter permitido que Rachel passasse fome durante 24 anos e queria o seu perdão. E o grande erudito não era outro senão seu próprio genro, a quem rejeitara. Os dois se reconciliam e Kalba Savua dá a metade de sua fortuna a Rabi Akiva.

"Quem estuda a Torá na pobreza um dia o fará na riqueza", ensinam nossos Sábios. E foi o que ocorreu a Akiva. O Talmud revela que a partir de então, ele se tornou um homem abastado. Em sua casa havia mesas de ouro e prata. Para sua esposa, que tanto sofrera, que vendera o lindo cabelo para que ele estudasse, Rabi Akiva comprava os mais belos adornos. Um destes era uma reprodução de Jerusalém gravada em ouro.

A Torá de Rabi Akiva

O mestre ensinava que a Torá, por ter sido escrita pelo Criador, é completa, nada lhe faltando e, por outro lado, não contendo sequer uma letra supérflua. Em sua inteireza, é toda conteúdo, sem filigranas retóricas nem palavras vãs. Cada uma de suas letras e de suas pontuações abriga um significado profundo e, com freqüência, misterioso.

Até a época de Rabi Akiva, a Torá Oral, cuja transcrição era proibida, não era classificada nem organizada segundo seu conteúdo. Conseqüentemente, um erudito tinha que possuir tremenda capacidade de memorização para conseguir lembrar-se de todos os seus preceitos e ensinamentos. Para evitar que o povo judeu pudesse, algum dia, esquecer-se da Torá Oral, Rabi Akiva iniciou um trabalho de classificação de cada uma de suas leis de acordo com o teor. Assim, estabelecia as fundações para as compilações da Mishná - núcleo do Talmud - que acabou sendo transcrito e editado, anos mais tarde, pelo Rabi Yehudá HaNassi. Ao assim proceder, o sábio Akiva preservou a Torá Oral, assegurando, destarte, a sobrevivência do judaísmo.

Rabi Akiva dirigia uma academia de Torá em Bnei Brak. Com freqüência, assistia as sessões do Sanhedrin - a Suprema Corte Judaica - na cidade de Yavne. Esta corte jamais adotou uma lei importante de cuja redação ele não tivesse participado. Certa vez, chegando atrasado para uma sessão, permaneceu aguardando do lado de fora. Ouviu-se, então, alguém dizer, no recinto, que "a Torá se encontrava fora"; e enquanto o mestre não entrou, não se tomou interpretação judicial ou decisão qualquer.

Rabi Akiva também era versado em diferentes ciências, como medicina e astronomia. Falava vários idiomas e, a miúde, acompanhava um de seus mestres, Raban Gamliel, a Roma, levados pela causa do povo judeu.


Durante suas palestras, o estudioso mestre moralizava os ouvintes de forma inspiradora. Suas lições eram relatadas em todas as casas judias e todo judeu empenhava-se em regular sua vida segundo os preceitos morais de Rabi Akiva.

Seus professores, seus colegas e seus ensinamentos atestavam ser ele a personificação do amor e da generosidade. O mestre gostava de repetir que tudo o que D'us fizesse, era para o bem, "Gamzu le-tová". Dizia que o mundo deveria ser julgado segundo suas virtudes e o bem que aqui se recebia era apenas uma pequena parcela da recompensa que nos aguardava no Mundo Vindouro. Acreditava que até o mais simplório dos judeus se deveria considerar um aristocrata, por ser filho de Abrahão, Isaac e Jacob. Rabi Akiva também costumava dizer que o povo judeu atestava a grandeza de D'us: o Criador libertara os filhos de Israel do cativeiro para Se redimir juntamente com eles. E Akiva oferecia um ensinamento profético e assustador que acabou sendo aplicável a ele próprio: era em benefício do próprio D'us que Ele escolhera os judeus, entre todas as nações, pois que os outros povos louvavam seus deuses na prosperidade e os amaldiçoavam quando sua sorte lhes dava as costas. Mas os judeus, ensinava o Rabi, sempre louvam a D'us, quer na prosperidade quer na penúria. Não surpreende, pois, que de todos os livros da Torá, Rabi Akiva mais apreciasse o Cântico dos Cânticos. Foi dos primeiros a nele perceber a descrição do amor entre D'us e o povo judeu. E era, de fato, o amor o tema central de sua vida e de seus ensinamentos. Em seu entender, a essência de todo o judaísmo, o todo abrangente mandamento da Torá, pode ser encontrado em um de seus versos: "E amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Levítico, 19:18).

O Talmud nos descortina inúmeras revelações sobre o homem Akiva - que ele pedia ajuda para os pobres, que reverenciava os Sábios e rejubilava no cumprimento dos mandamentos da Torá; que visitava pessoalmente um discípulo enfermo e varria seu quarto quando outros não o faziam. Ao orar, perdia-se por completo; o conceito de tempo e espaço deixava de existir para ele, quando se deixava enlevar pelo Divino. E, a despeito de sua grandiosidade, continuava humilde. Sabemos de sua generosidade e do quanto valorizava a vida, tendo declarado, em certa ocasião, que se porventura fosse um magistrado, homem algum jamais seria condenado à pena capital. Rabi Akiva era um homem do mundo - verdadeiro legislador da Torá, preocupavam-no as filigranas da lei - mas, ainda assim, um místico. Foi um dos quatro Sábios que, ainda em vida, adentrou o Pardêss - o Jardim Místico - vivenciando o Mundo Vindouro, ha-Olam Habá. Foi o único a voltar com vida e em paz consigo mesmo, pois fora o único a aprender a harmonizar sua existência física com a espiritual.

É famosa a seguinte história sobre sua pessoa. Seu mestre, Rabi Eliezer ben Hircano, levantou-se de um dia de jejum para entoar a prece pela chuva. Recitou 24 bênçãos, mas nenhum pingo se viu. Rabi Akiva acercou-se, então, do púlpito e exclamou: ""Avinu Malkenu, nosso Pai, nosso Rei: não temos outro rei além de Ti. Nosso Pai, nosso Rei, age por Tua causa e tem misericórdia de nós". De imediato, os pingos de chuva caem sobre eles. Mas a história não termina aí. O povo judeu adotou sua prece e, até os dias de hoje, recitamos o mesmo rogo nos jejuns coletivos, em Rosh Hashaná e durante os Dez Dias de Penitência, que culminam em Yom Kipur.

Rabi Akiva também leva a reputação de ter composto o Kadish - a oração recitada pelas almas dos que partiram deste mundo. Mas, curiosamente, o Kadish não fala em morte - nem uma vez sequer. Pelo contrário, é comprovadamente o texto mais lindo, mais emocionante em toda a liturgia judaica de louvor a D'us. Somente uma alma nobre como Akiva para encontrar significado e conforto mesmo na morte.

Seu sacrifício e morte

Sua vida foi sempre pontilhada pela tragédia, mas ele a superava, vez após vez, com seu amor infinito. Durante a epidemia que terminou em Lag Ba'Omer, 24 mil de seus discípulos pereceram. [O fim dessa peste é uma das razões que fazem do 33º dia de Omer uma data festiva]. Como teria qualquer outro ser humano, professor ou rabino, reagido a uma tal catástrofe? Abandonariam o ofício, afogar-se-iam em depressão, buscariam o exílio; quiçá almejassem a morte. Mas não Rabi Akiva. Armou-se de novas forças e, começou de novo, conquistou novos alunos a quem guiou pelos meandros do judaísmo. Seu amor pelo povo judeu, pela Torá e por D'us não se deixavam vergar pela tragédia. Nunca se desesperava e jamais, durante toda a sua vida - nem mesmo nos momentos mais sombrios - desistiu. Sequer titubeou. Como mérito por sua coragem e perseverança, ele legou ao povo judeu dois de seus maiores Sábios: Rabi Meir Baal HaNess - o Mestre dos Milagres - e Rabi Shimon Bar Yochai, autor do Zohar, o Livro do Esplendor, que sistematizou e começou a divulgar a sabedoria da Cabalá.

Rabi Akiva estava vivo quando o Segundo Templo foi destruído. Testemunhou, também, um dos holocaustos do povo judeu: em Betar, uma cidade em Eretz Israel, um general judeu de nome Shimon Bar Kochba iniciou uma revolta contra Roma. Bar Kochba, a princípio, teve êxito em sua campanha, levando Rabi Akiva a crer - e proclamar - que o grande guerreiro era o Messias. Mas a revolta judaica terminou vencida e os romanos capturaram e deram cabo à vida de Bar Kochba. Após a destruição de Betar, o Imperador romano, Adriano, anti-semita e assassino, decidiu aniquilar todo o povo judeu. Se os romanos capturassem algum judeu importante, este era torturado antes de ser exterminado. A brutalidade imposta a cada judeu de renome era proporcional à sua grandeza e importância.

Após a queda de Betar, Rabi Akiva foi preso e condenado à morte pelos romanos. Foi sentenciado à pena capital por ter violado o decreto romano que proibia o ensino da Torá. Em total desprezo a Roma, Akiva desafiadoramente ensinava a Lei de Moisés em público, agrupando os alunos onde os encontrasse. E por assim agir - e salvar o judaísmo - Roma exigia mais que a sua morte. Teria que ser barbaramente torturado - não na cruz, como o tinham sido outros 250 mil judeus. Para ele, Roma escolhera uma forma mais horripilante ainda de morte: Rabi Akiva seria esfolado vivo com rastelos de ferro. O algoz romano o rasgaria, pedaço por pedaço, até seu último suspiro.

E agora, voltemos ao Talmud e ao Midrash para conhecer seus momentos finais na Terra.

Uma história do Talmud. Nos Céus, Moisés viu um homem e o ouviu interpretar a Torá para seus discípulos. Dirigindo-se ao Eterno, perguntou Moisés: "Senhor de todo o mundo! Tendo tão grande homem na Terra, a mim caberia receber Tua Torá?" Ao que D'us respondeu: "Foi este o Meu desejo". Moisés retrucou, então: "Mostraste-me o homem; agora revela-me o seu fim". E D'us disse a Moisés que se virasse para testemunhar a tortura e morte de Akiva. "Senhor do Universo!", protestou Moisés, "tanto conhecimento da Torá e esta é a recompensa que lhe toca?" E D'us lhe ordena: "Cala-te! Pois é este o Meu desejo".

Há outra história semelhante, também do Talmud. D'us revelou a Adão todo o registro das gerações que o sucederiam - os futuros eruditos e líderes judeus que comporiam a sua descendência. O Criador também fez ver ao primeiro homem a geração de Rabi Akiva. Adão apreciou deveras tais informações, mas ficou profundamente entristecido com a visão da morte que aguardava Rabi Akiva. Tentou, por todas as maneiras, obter uma morte mais suave para o grande rabi, mas viu seu pedido negado.

Os anjos nos Céus também tentaram anular tal decreto. Uma lenda mística do Midrash nos conta que enquanto Akiva estava sendo destroçado pelos romanos, os anjos choravam amargamente e suas lágrimas caíram no grande mar e o fizeram ferver, enquanto o mundo todo era sacudido pela voz angelical que questionava D'us: "É esta a Tua recompensa a um homem que cumpriu tão fielmente a Tua Torá?"

Mas, na Terra, abaixo, um homem - um dos maiores a tocar seu solo, caminhava, com bravura, em direção à morte, sem que um som saísse de sua garganta, em protesto, nem uma lágrima de seus olhos escapasse. Rabi Akiva foi julgado e condenado à morte pelo governador romano na Terra de Israel, o maléfico Tirano Rufo. No dia de Kipur, Akiva foi conduzido ao local da execução. Era cedo, o dia começava; hora de recitar o Shemá. O povo judeu reuniu-se em torno de seu líder, acompanhando-o em seus derradeiros momentos. A execução era pública e presenciada por toda a população.

Mas, para choque e surpresa de todos os presentes, ao começarem a despedaçá-lo, Rabi Akiva tinha um sorriso nos lábios, prestes a desatar em riso. Exasperado, o governador romano grita-lhe: "Mesmo nesta hora, zombas de mim! Deves ser o demônio. Não há como um ser humano agüentar tanto sofrimento físico com tua calma e teu sorriso!". Seus alunos indagavam: "Mestre, o que está ocorrendo? Como podes rir numa hora destas?"

E o que lhes respondeu Akiva? Foi isto o que lhes declarou o maior rabino na história judaica: "Por que sorrio? Pois este é o momento mais glorioso de minha vida! Dia após dia, dia e noite, recitei as palavras do Shemá: 'e amarás o Eterno, Teu D'us, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu vigor'. Entendia as palavras 'com toda a tua alma' como sendo 'mesmo às custas de toda a tua alma', e sempre imaginava se mereceria a oportunidade de cumprir esse mandamento - o de abrir mão de minha própria alma em nome de D'us".

E Rabi Akiva continuou: "Hoje, isto está acontecendo. Hoje estou sendo morto por ser judeu. Hoje estou sendo morto por minha fé em D'us e por tê-la fortalecido entre os outros. Não é, pois, este, o momento supremo de minha vida - em que posso oferecer minha vida a D'us?" A seguir, recitou as palavras: "Shemá Israel, Ad-nai Elo-enu, Ad-nai Echad"- Escuta, ó Israel, o Eterno é nosso D'us, o Eterno é Um". Deteve-se na pronúncia da palavra Echad - "Um", como afirmação da Absoluta Unicidade de D'us - até que sua alma foi recolhida e devolvida ao Criador.

Foi enterrado em Tiberíades, assim como o foram outros grandes Sábios. Seus despojos físicos lá estão, mas sua alma está também em outras partes, talvez em todas as partes onde haja judeus. O Talmud ensina que uma pessoa que perde a vida por ser judeu torna-se santificada e não há quem a ela se iguale, em mérito. Um dos maiores sábios do Talmud, Rabi Yehoshua ben Levi, revelou que o Paraíso tem sete níveis e que a alma de Rabi Akiva está no mais alto deles, ao lado de todos os judeus de todas as gerações que foram mortos por serem judeus.

Sua grandeza e seu legado

Rabi Akiva, pastor pobre e analfabeto que começou a estudar a Torá aos quarenta anos, tornou-se o maior sábio de sua era - um homem que seria chamado de "pai do mundo". Foi odiado e admirado por seus inimigos romanos e reverenciado pelos judeus. Certa vez, debatia com um colega, o sábio Rabi Tarfon, sobre a lei que exigia dos sacerdotes condutores dos serviços no Templo não ter imperfeições físicas. A posição do colega era mais flexível que a de Rabi Akiva. "Lembro-me", disse Rabi Tarfon, "de ter visto meu tio, que era manco, tocar o shofar no pátio do Templo". Rabi Akiva não estava convencido e explicou que Rabi Tarfon presenciara uma assembléia - não um ritual de sacrifício - já que qualquer imperfeição física desqualificaria um sacerdote de realizar os sacrifícios. Ao que Rabi Tarfon retrucou: "Eu estava lá! Vi e ouvi tudo, ao passo que você nem lá esteve! Tudo o que tem é esse seu poder de interpretar a lei da Torá. E mesmo assim, sabe mais do que eu. Akiva, Akiva: afastar-se de você é afastar-se da própria vida!"

Assim como Moisés, Rabi Akiva, morreu aos 120 anos. Os dois - o maior dos profetas e o maior dos rabinos da história judaica - tiveram caminhos semelhantes. Ambos eram pastores. Seus primeiros quarenta anos foram isentos de Torá: Moisés vivia no palácio do Faraó, enquanto Akiva nem sabia ler. Os quarenta anos seguintes foram vividos longe de casa - um vivenciou a Revelação Divina e se tornou o maior profeta da história. O outro encontrou o Divino através do estudo, tornando-se o mais destacado mestre da Torá. E, por último, os derradeiros quarenta anos na vida de ambos foram vividos liderando o povo judeu e lhes transmitindo a Divina Torá.

Como Moisés, que constantemente colocava sua vida e seus méritos na posição de pleitear em nome do povo judeu, Akiva encontrava maneiras de eximir os outros de qualquer culpa por suas falhas ou transgressões. Com sua coragem e brilhantismo, o Rabi servia de inspiração a quem o conhecesse. Onde os demais viam tragédia e desespero, via esperança. Certa vez, enquanto ele e três outros grandes Sábios subiam a Jerusalém, ao Monte do Templo, viu uma raposa que saía do local do Santo Santíssimo, que era a câmara mais sagrada do Templo. Os três Sábios se puseram a chorar e Akiva a rir. Quando lhe perguntaram o motivo do riso, explicou: duas profecias tinham sido feitas acerca do Templo Sagrado - uma por Uriá e a outra por Zechariá. O primeiro previu sua total destruição; o segundo, aludindo à Era Messiânica, prometeu que os anciãos voltariam às ruas de Jerusalém. E explicou que enquanto a profecia de Uriá não se tinha cumprido, ele temia que a de Zechariá não se concretizaria. Mas agora, tendo presenciado a ocorrência do pior, ele estava certo de que haveria de chegar o dia em que o Terceiro Templo - e definitivo - seria erguido. Os Rabinos, aceitando seu raciocínio, disseram-lhe: "Akiva, tu nos confortaste. Akiva, tu nos confortaste".

O sol não se põe sem haver outro nascente, ensinam os Sábios. D'us não deixa este nosso mundo totalmente destituído de luz. O dia em que Rabi Akiva ascendeu aos Céus, naquele dramático Yom Kipur, nascia um grande líder do povo judeu - um homem cuja liderança e erudição em Torá são comparadas, pelo Talmud, com as de Moisés. Esse homem, Rabi Yehudá HaNassi, continuou a obra de Rabi Akiva; compilou e redigiu a Torá Oral, para que o povo judeu nunca a olvidasse, destarte salvaguardando o judaísmo para todo o sempre. Mas isto é uma outra história...

Rabi Akiva foi o exemplo supremo do Baal Teshuvá - o judeu que "retorna", voltando a abraçar o judaísmo. Sua trajetória até a grandiosidade não foi rápida nem fácil. Praticou a arte do silêncio antes de começar a falar a língua da sabedoria da Torá. Quando começou a aprender e a praticar os seus mandamentos, errava, às vezes, chegando até a ser repreendido por mestres e colegas. Ele nos faz lembrar que nunca é tarde demais, nunca há total desalento, pois que até o mais desinteressado dos judeus pode voltar à sua religião e à sua herança, e até o mais inculto dos judeus pode não apenas estudar a Torá, mas também a dominar e difundir. Rabi Akiva legou ao povo judeu a sua coragem, o seu heroísmo e o seu amor. Sua execução invoca uma imagem, tragicamente exibida muitas vezes na história de nosso povo: inúmeros judeus a caminho da morte certa - da fogueira, das câmaras de gás - rezando, recitando o Shemá, proclamando a unidade de seu Criador; e eis que de súbito irrompem em cantos. Teriam sido inspirados pelo amor de Rabi Akiva? Teria sido a sua coragem que os carregara quando desceram ao vale da morte e ascenderam à Eternidade?

Ele permanece como nosso grande herói. É difícil contar sua história com os olhos secos, ausentes. É difícil ouvir falar dele sem se curvar em humildade e gratidão. Akiva foi um pergaminho vivo da Torá, um ser que caminhava e respirava como nós, mortais. Foi Moisés quem nos trouxe a Torá dos Céus. Mas foi Rabi Akiva quem assegurou que a Lei de Moisés continuaria a imperar, para sempre, na Terra. Como rabino e mestre, ele continua sem paralelo, jamais igualado na história de nosso povo.

Um grande Sábio do Talmud, Rabi Dosa ben Harkinas, assim se referia a Rabi Akiva: "Seu nome ressoa de uma extremidade a outra do mundo". E assim continua a ressoar, reverberando, para sempre, através dos tempos. Seu nome se tornou uma bênção, um cântico, uma prece. Sim, foi Rabi Tarfon quem melhor o colocou em palavras: "Akiva, Akiva, afastar-se de ti é afastar-se da própria vida".

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A familiaridade de Jesus com as ciências da magia. Parte III

Continuando, além da passagem em Sanhedin 43a, Professor Geza Vermes cita algumas outras que provavelmente aludem aos ensinos de Jesus, indiretamente, bem como em curas efetuadas em seu nome por um díscipulo Jacó (Tiago) de Kfar Secaniah:

"Uma máxima do Rabi Abbahu de Cesaréia, contemporâneo do século III de Orígenes, refere-se quase com certeza a Jesus: - Se um homem lhe diz "Eu sou Deus, ele esta mentindo. Eu sou o filho do Homem [um ser humanõ] , no final ele vai lamentar [pois como todo ser humano, vai morrer] . Eu vou subir aos céus, terá, mas não vai cumprir (yTaan 65 b). A segunda citação de Jesus aparece no Talmude Babilônico (b Abodah zara 16b-17a) atribuídas a rabis ou Taanaim da passagem do primeiro ao segundo século. O famoso R. Eliezer ben Hircano recorda que um cristão judeu, chamado Jacó de Kfar Seranaya, interpretou "Não trarás a casa de (...) teu Deus o salário de uma prostituta, no sentido de que tal dinheiro só seria adequado à construção de uma latrina para o Sumo-Sacerdote. Quando Eliezer confessou que era incapaz de compreender a explicação Jacó apresentou-lhe uma exegese atribuida a Jesus que aparentemente vinculou Miquéias 1:7 (já que elas [ todas as suas estátuas] foram ajuntadas com o salário da prostituição, tornar-se-ão de novo salário de prostituição", a Deuterônomio 23:19 para chegar a explicação: "De um lugar de corrupção elas vieram, e ao lugar de corrupção elas retornarão". Eliezer ficou impressionado com o talento interpretativo de Jesus, e, por causa disso, foi acusado de heresia e excomungado pelos outros rabis." [1]

Jacó de Quefar Secania (ou Quefar Sama) foi um carismático curandeiro judeu-cristão citado diversas vezes na literatura rabínica. As personalidades os quais ligado sugere que esse Jacó atuou na virada do século I para o século II DC. Jacó prometia realizar curas em nome de Jesus de Nazaré e transmitia seus ensinamentos. Uma história o liga ao Rabino Eleazar Ben Dama e seu tio Ismael ben Elisha. Jacó, em nome de Jesus, quis curar Eleazar, que tinha sido picado por uma cobra venenosa. O Rabi Ismael vetou a oferta. Eleazar, desejando ser curado, tentou argumentar com seu tio, mas morreu antes de conseguir faze-lo [2]

Além dessas prováveis referências a Jesus, existem algumas outras, mais incertas, citadas pelo Professor Craig Evans, Acadia University (Canadá) [3]:

"Rabi Meir costumava ensinar 'Qual o significado (do verso), "Aquele que for pendurado no madeiro é maldito de Deus" (Dt 21:23)? Havia dois irmaos gêmeos que eram parecidos. Um reinava sobre o mundo todo e outro se tornou um ladrão. Após um tempo, o que era bandido foi pego e então crucificado em um madeiro. Todos que passavam e viam, diziam "parece que o Rei foi crucificado" (bTalmude, Sinédrio 9:7).

Evans acredita, contra a opinião do célebre talmudista Morris Goldstein, que o texto acima possivelmente alude a Jesus, a cena da crucificação e o "Titulus Crucis" ("Jesus Nazareno Rei dos Judeus"). Evans cita Marcos 14:48 ("Disse-lhes Jesus: Saístes com espadas e varapaus para me prender, como a um salteador?), o termo utilizado para ladrão ou salteador nesta passagem do Talmude teria uma conotação de agitação politica e revolucionária ou rebeldia, semelhante a encontrada na descrição de Flavio Josefo "A Judéia estava infestada de salteadores ... qualquer um podia se proclamar Rei" (Antiquidades 17:285). Essa passagem, juntamente a referência de Jesus como próximo ao governo (ou realeza) em Sinédrio 43a, sugere Evans, seriam uma resposta sarcástica a alegada descendência davídica de Jesus [4]

Prof. Mahlon H Smith [5], da Universidade Rutgers (New Jersey State University), apresenta uma possível alusão a Jesus, encontrada no Talmude Babilônico, Tratado Sinédrio, 106 b. Aqui um minim (ou herege, termo frequentemente usado para designar os cristãos) pergunta ao Rabi Hanina Bar Hama (220-260 DC) qual era a idade de Balaão quando ele foi morto. Hanina diz que os registros não mencionavam essa informação, mas que, no entanto, ele achava que ele teria morrido com 33 ou 34 anos de idade pois "homens de sangue e de traição não viverão metade dos seus dias" (Salmos 55:23). O Minin responde que Hanina devia estar certo, pois no relato sobre Balaão estava escrito que "Balaão, o coxo, tinha 33 anos de idade quando foi morto por Finéias, o ladrão" (bTalmude, Sinédrio, 106b). O Professor Smith observa que Balaão, o falso profeta citado no livro de Números que levou Israel a pecar, seria um codinome utilizado por alguns rabis para se referir a Jesus (em virtude da censura exercida pela Igreja). Da mesma forma 33 anos, seria a idade de Jesus, somando os 30 anos que ele tinha quando iniciou seu ministério (Lc 3:23), com as três páscoas mencionadas no evangelho de João. Ainda segundo Smith, Finéias, o Ladrão, seria também o codinome para Pôncio Pilatos, porque ele se apropriou dos fundos do Templo, incidente mencionado por Josefo (Antiguidades 18:60-62).

Um pouco mais hesitante que Mahlon D Smith, Travis Herford acredita que o codinome Balaão se aplicava a Jesus. Evans é cético quando a essa identificação, assim como Bruce Chilton, Morris Goldstein e Joseph Klausner. Chilton observa que dificilmente os rabinos dariam um nome tão respeitável a alguém como Pôncio Pilatos [6] Entretanto, poderíamos objetar que independente da identificação com Pilatos, o Talmude já usa o termo Finéias, o Ladrão, que é no mínimo estranho se o objetivo era se referir ao venerável sacerdote Finéias, neto de Arão.

Por fim, Jonh.P. Meier cita Klausner, e o julgamento deste quanto as tradições encontradas no Talmude:

Klausner (Jesus of Nazareth, 46) faz o seguinte resumo das afirmações confiáveis na tradição rabínica (1) Yeshu de Nazaré praticava a feitiçaria, istoé, fazia milagres e desencaminhava Israel; (2) Ele zombou das palavras dos sábios (istoé, dos mestres reverenciados de Israel). (3) Interpretava as escrituras da mesma forma que os fariseus (4) Tinha cinco discípulos (5) Dizia que não viera para tirar nada da Lei ou acrescentar algo (6) Foi enforcado (ou seja, crucificado) como falso mestre. Como é facil de ver temos aqui apenas uma imagem invertida e polêmica de várias afirmações dos quatro evangelhos [7]

Assim, o Talmude conteria tradições que compartilhariam a perspectivas básicas das atividades de Jesus, milagres, crítica a religião tradicional, o compartilhamento das crenças básicas dos fariseus, como anjos e ressureição dos mortos, seu relacionamento com Lei, ter discípulos e sua morte violenta. Geza Vermes [8] observa que, provavelmente, os rabinos reinterpretaram antigas tradições populares de Jesus como homem sábio e realizador de milagres, correntes na Palestina, atribuindo esses feitos a prática de feitiçaria. Assim, a imagem popular de Jesus retratada nos evangelhos e reavaliada sob um prisma negativo.

"Quando essas duas acusações são examinadas, elas se tornam uma representação pejorativa do retrato Josefano de Jesus. Pois desencaminhador/falso profeta e "feitiçeiro" são equivalentes deturpados de "homem sábio" e "milagreiro" [8]

O ponto levantado por Vermes, da reinterpretação de antigas tradições sobre Jesus é relevante, principalmente quando comparamos a parte reputada autêntica do polêmico "Testimonium Flavianum", escrita por Flavio Josefo no século I. Josefo diz que Jesus fazia feitos paradoxais ou incríveis, sendo a palavra paradoxa ambigua, isto pode significar tanto maravilhoso quanto controverso. O Talmude (e Celso) diz que Yeshu praticava feitiçaria (o que torna implícito que praticava feitos "controversos", explicados pela suposta prática de magia). Josefo diz que Jesus "era mestre de homens que recebem a verdade com prazer. Ele atraiu muitos judeus e muitos gentios". Os rabis dizem que Yeshu era uma ameaça, pois "levou Israel a pecar" e "o fez apóstata", dando a entender uma popularidade razoável , aliciando e desencaminhando um grande número de díscipulos. Dizem também que um processo foi iniciado, e um arauto saiu a covocar as testemunhas de defesa. Josefo afirma que "os principais homens entre nós o denunciaram". Por fim, no Talmude Jesus é executado e "levantado" (no madeiro), talvez por ordem de "Fineias, o Ladrão" (codinome para Pôncio Pilatos), enquanto Josefo diz que Pilatos o crucificou. É ainda possível que haja uma recordação dos motivos que levaram a execução (algo que Josefo não declara abertamente), de que Jesus foi acusado de ser um insurgente que ameaçava a ordem estabelecida, "O Rei dos Judeus".

Graham Stanton também compatilha da percepção de Geza Vermes ao observar que as acusações imputadas a Jesus nessa passagem do Talmude - que ele praticou feitiçaria e levou Israel a pecar - também são encontradas em Dialogo com Trifo, de Justino, já mencionado.Para Stanton essa tradição rabínica é de dificil interpretação, e mais complicado ainda é data-la com segurança. No entanto, acrescenta que não fora a grande correspondência com a acusação que circulava em circulos judaicos, na metade do século II, de que "Jesus era um mágico e enganador do povo" (Dialogo com Trifo 69:7), seria tentador descartar essa passagem do Talmude como resultado de polêmicas do terceiro século, ou mesmo posteriores, entre judeus e cristãos.Entranto, a terminologia semi-técnica encontrada no grego de Dialogo com Trifo é muito próxima do hebreu das tradições rabínicas. Assim, conclui Stanton, essas tradições teriam raízes profundas.[9]

Em resumo, quais são as informações que podemos obter do Talmude (se é que alguma informação pode ser obtida)?

Além de Johannes Maier, Edgard Leite é bastante cético em relação ao Talmude, "que não parece conter referências claras ao Jesus histórico" [10]

Por outro lado, Professor R. T. France, de Oxford, conclui que, pelo menos a partir do início do segundo século, Jesus era conhecido e abominado como alguém que realizava feitos incríveis e que tinha conquistado tão grande número de seguidores que foi devidamente executado como "aquele que levou Israel a pecar". Embora depreciativo, pelo menos é, de uma maneira distorcida, evidência para o impacto razoável dos milagres de Jesus e de seus ensinos. A conclusão de que isto é inteiramente dependente da pregação cristã, e que "judeus do segundo século adotaram de forma acrítica o pressuposto de que ele realmente existiu " é certamente resultado do ceticismo dogmático. Tal polêmica, frequentemente utilizando "fatos" completamente distintos do que os cristãos acreditavam, muito dificilmente teria surgido em menos de um século em torno de uma figura inexistente." [11]

Também Geza Vermes, observa que histórias como a de Jacó de Kfar Secaniah "indicam que um judeu cristão palestino no final do século I DC estava se dedicando, como os apóstolos e seus seguidores imediatos nos Atos dos Apostolos, a curar e pregar em nome de Jesus. Ainda, os textos rabínicos mostram que o mundo oficial rejeitava essas práticas, mas que judeus e até mesmo rabinos não necessariamente se opunham a elas na sociedade judaica palestina do fim do século I" [12]

Da mesma forma, Max Wilcox, Professor da Universidade de North Wales, avalia que o Talmude e outros escritos da literatura rabínica embora mencionem Jesus de forma muito esporádica, e devam ser utilizados pelo historiador de forma muito cautelosa e criteriosa, acabam por endossar as afirmações evangélicas de que Jesus curava e operava milagres, ainda que atribuindo esses feitos a feitiçaria. Além disso, preservam uma memória de que ele era um mestre, tinha discipulos, e de que pelo menos no início do período rabínico nem todos os rabinos tinham se convencido totalmente de que ele era um herege e enganador. [13]

Assim, em vista do exposto, podemos dizer que passagens sobre Jesus no Talmude devem ser avaliadas com cautela, reconhecendo que mais provavelmente trazem um "eco" de informações e tradições antigas, frequentemente de forma âmbigua, não devendo ser tomadas ao "pé-da-letra". Analisando em conjunto com o Dialogo com Trifo (69:7), e Celso, podemos dizer que o Talmude reforça a percepção de alguns fatos da vida de Jesus, encontrados nessas e em outras fontes, sua execução violenta em conflito com as autoridades, sua fama de realizador de milagres e feitos extraordinários (atribuidos por alguns rabinos a atos de feitiçaria), de que ele conseguiu alcançar um grupo razoavel de discipulos ("pois levou Israel a pecar e fez apóstata"), ainda que, por vezes, apareçam alguns sinais de que a hostilidade não é completa, de que, como já disse Geza Vermes, judeus e até mesmo rabinos não necessariamente se opunham a elas na sociedade judaica palestina do fim do século I .

Desta Forma, em vista das observações de Klausner, Vermes e Wilcox, acima, concluimos que as tradições populares sobre Jesus na Palestina, (provavelmente) teriam sido conservadas pelos rabinos por várias gerações, e não eram necessariamente hostis. Com o tempo, a medida que os caminhos de cristãos e judeus foram se afastando, essa memória foi sendo reinterpretada de forma cada vez mais polêmica e hostil.
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Referências bibliograficas:

[1] Geza Vermes, O Autêntico Evangelho de Jesus , fl.19, nota 33[2] Geza Vermes, Quem é quem na época de Jesus, fls. 152-153[3] Craig Evans; Jesus in Non Christians Sources in Bruce Chilton & Craig Evans; Studying the Historical Jesus, fl. 447[4]Craig Evans; Jesus in Non Christians Sources in Bruce Chilton & Craig Evans; Studying the Historical Jesus, fl. 449[5] Mahlon H. Smith, Into His Own, Jesus and Christians in non Christians sources, 191http://virtualreligion.net/iho/jesus.html, acessado em 23.12.2009[6] Craig Evans; Jesus in Non Christians Sources in Bruce Chilton & Craig Evans; Studying the Historical Jesus, fl. 449, nota 16[7] John P. Meier, Um Judeu Marginal, Vol. I fl. 115, nota 62[8] Geza Vermes, Jesus in His Jewish Context fl. 98[9] Graham Stanton, Gospel Thuth?New Light on Jesus and the Gospels, fl. 157[10] Edgard Leite, Yeshu Ha Notzri e sua viagem ao Egito: Uma Parábola Talmudica in Chevitarese, Corneli & Selvatici; Jesus de Nazaré, Uma outra História, fl. 291.[11] R T France The Evidence for Jesus, fl. 39[12] Geza Vermes, Quem é quem na época de Jesus, fls. 154[13] Edwin Yamaguchi, Jesus Outside the New Testament: What is the Evidence, in Wilkins & Moreland; Jesus Under Fire, fls. 214)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Talmud

O Talmud define e dá forma ao judaísmo, alicerçando todas as leis e rituais judaicos. Enquanto o Chumash (o Pentateuco, ou os cinco livros de Moisés) apenas alude aos Mandamentos, o Talmud os explica, discute e esclarece. Não fosse este, não entenderíamos e muito menos cumpriríamos a maioria das leis e tradições da Torá e o judaísmo não existiria. Historicamente, os judeus que, individualmente ou em grupo, negaram sua validade, acabaram por se assimilar ou desaparecer. E, como outras religiões adotaram o texto da Torá Escrita - Torá she-bichtav, mesmo a tendo traduzido de forma errada, adicionando ou removendo partes da mesma e a interpretando de forma proibida pelo judaísmo, é o Talmud o verdadeiro divisor de águas, o texto sagrado que diferencia os judeus das outras nações do mundo.

Nós, judeus, sempre tivemos consciência de que nossa sobrevivência como grupo dependia do estudo deste trabalho. Os inimigos históricos de nosso povo, que devido a interesses teológicos ou nacionais quiseram converter ou destruir o judaísmo, também estavam cientes dessa realidade. No passado, quem se aventurava a declarar guerra à religião judaica, começava por proibir o estudo do Talmud, sob risco de pena de morte. Através do curso da história, em diferentes países e períodos, esta magna obra foi queimada, em praça pública. Muitos de seus trechos foram removidos por aqueles que se sentiam ameaçados por sua genuína interpretação da Torá, pela elucidação clara e inequívoca que dava aos Mandamentos Divinos e por seu repúdio absoluto a qualquer forma de idolatria ou imoralidade.

Mas, o que vem a ser esta obra monumental? Pode-se dizer, com segurança, que a maioria dos judeus de nossos dias já ouviu menção ao mesmo, mas apenas uma pequena minoria o estudou. Sua definição formal é a de ser a compilação da Lei Oral, que foi transmitida por D’us a Moisés, no Monte Sinai, tendo sido estudada e dissecada, através dos séculos, pelos sábios que viviam em Israel e na Babilônia, até o início da Idade Média. O Talmud tem dois componentes principais: a Mishná, um livro sobre a lei judaica, escrito em hebraico, e a Guemará, comentário e elucidação do primeiro, escrita no jargão hebraico-aramaico.

Um olhar superficial sobre a Guemará pode induzir alguém a pensar que se trate apenas de explicações e elaborações sobre as leis e ensinamentos da Mishná. Mas, na realidade, trata-se de algo muito mais abrangente um conglomerado de milhares de anos de sabedoria, história, legislação, lendas e filosofia judaica. Sua santidade e autoridade, como veículos para a Revelação Divina, em nada são inferiores à da Torá Escrita. Ademais, mistura - entre outras áreas do conhecimento - as ciências à lógica, aconselhamento prático, lições e relatos extraordinários, palavras de perspicácia e inspiração e, até mesmo, ocasionais toques de humor. O Talmud é uma mescla de arte e ciências: é o livro da legislação judaica - técnico e preciso - mas é também uma enciclopédia e uma obra magistral de sabedoria, jamais igualada na história da humanidade.

Para um iniciante no estudo do Talmud, a Guemará pode parecer que foi escrita com total liberdade de pensamento. Geralmente envereda por apartes tangenciais ao assunto em pauta, daí partindo para a discussão de um mandamento, o relato de uma história ou simplesmente oferecendo pérolas de sabedoria que, de uma maneira ou de outra, têm alguma relação com o assunto tratado. No entanto, a bem da verdade, todo o seu arcabouço é extraordinariamente bem ordenado e lógico. Cada uma de suas palavras foi submetida à meticulosa revisão antes de ser transcrita.

É irônico que esta fonte básica e fundamental da lei judaica sirva muito raramente como autoridade final e definitiva para as discussões sobre o que a Torá nos ordena. Seguimos este Pentateuco de acordo com os ditames do Shulchan Aruch (o Código da Lei Judaica) e dos sábios contemporâneos que interpretam as aplicações de suas leis. Mas o Talmud permanece sendo o alicerce imutável para praticamente todas as leis que emanam da Torá.

A Torá Oral

O Talmud cobre uma ampla variedade de assuntos, seguindo, no entanto, um plano coerente e muito bem estruturado a dizer, a Mishná, pilar central da Lei Oral. Comparada à Guemará, é concisa e objetiva. Compõe-se de uma série de declarações, organizadas por assunto e tópico, que ensinam as leis, a tradição e a história judaica. Apesar de seu conteúdo se originar do Monte Sinai, algumas de suas declarações são atribuídas ao mestre ou à escola de pensamento que as elucidou e difundiu. Os sábios talmúdicos foram mais do que a simples “cadeia de transmissão” que remonta a Moshé Rabeinu. Pois está escrito que cada um deles tinha atingido tão elevado nível espiritual que conseguia até mesmo ressuscitar os mortos. Esses mestres da Torá personificavam a Vontade de D’us e, assim sendo, cada aspecto de sua conduta e cada uma de suas palavras foram marcadas por absoluta precisão e orientação Divina.

É a Mishná que provê a Guemará de sua base organizacional e factual. Cada uma das leis talmúdicas precisa ter uma fonte e esta é encontrada na Mishná. A Guemará pode dissecar e divagar sobre os ditames da Mishná, estabelecer conexões entre seus diferentes assuntos e esclarecer aparentes contradições, mas não pode abertamente discordar da mesma. A Mishná surge como o árbitro final em qualquer litígio talmúdico.

Há outras coletâneas de diretrizes e ensinamentos, que são parte integrante da Torá Oral: Sifra e Sifri, Tosefta e Bareitot, além dos Midrashim, que também foram preservados por escrito, muitos dos quais dentro da própria Guemará. No entanto, a Mishná tem precedência sobre os demais ensinamentos da Torá Oral. Isto significa que sempre que houver uma aparente contradição entre um ditado da Mishná e qualquer outro ensinamento da Lei Oral, caberá à Guemará buscar a verdade na qual se fundamenta o tema, com base na própria Mishná.

É importante mencionar que quando as pessoas falam no Talmud, geralmente estão-se referindo ao Babilônico. No entanto, há outro que foi escrito em Israel. Conhecido como o de Jerusalém o Talmud Yerushalmi foi revisado pelo Rabi Yochanan 300 anos após a destruição do Segundo Templo. É bem mais conciso que o Talmud Bavli, o Babilônico, pois, de fato, trata principalmente das leis referentes à Terra de Israel. Via de regra, os judeus que viviam na diáspora negligenciavam a obra compilada em Jerusalém, mas, nos últimos anos, vimos renascer o interesse por essa obra, devido grandemente ao retorno de milhões de judeus à Terra de Israel.

Desde o Monte Sinai, a Torá Oral - ou Torá she-be’alpê - como seu nome bem o indica, só foi transmitida oralmente. Por razões várias, nossos sábios nunca permitiram que fosse escrita. Mas, uma vez destruído o Segundo Templo, os líderes judeus começaram a se preocupar que a Torá Oral, sendo tão maciça e complexa, cairia no esquecimento em virtude da opressão romana e a conseqüente dispersão do povo judeu. No ano de 188 a.E.C., o Rabi Yehudá ha-Nassi, sábio cuja inigualável liderança e vastidão de conhecimentos sobre a Torá lhe valeram o título de o “Rabi (do Talmud)”, finalmente terminou de compilar a Mishná. Centenas de anos mais tarde, já no final do séc. IV da E.C., Rav Ashi, importante sábio babilônico, iniciou a compilação de todo o Talmud. Seus discípulos e os alunos destes deram continuidade à gigantesca obra de redigi-lo. No entanto, diferentemente da Mishná, o Talmud foi oficialmente completado por nenhum erudito em particular; daí dizer-se que “ainda está por ser terminado”. Através dos séculos, suas palavras e ensinamentos foram meticulosamente analisados, interpretados e explicados por incontáveis sábios, estudiosos e mestres. É geralmente comparado ao oceano sua vastidão é tremenda, mas sua profundidade é incomensuravelmente maior. De fato, é um fiel testamento da Infinita Torá de D’us.

O estudo do Talmud

Em hebraico, esta palavra significa literalmente “estudo” ou “aprendizado”. É a incorporação do fundamental mandamento judaico de “estudar a Torá” - Talmud Torá. Ao contrário de quase todos os outros campos do saber, o estudo do Pentateuco tem propósitos que vão muito além da simples aquisição de conhecimentos. É um meio e um fim, por si só; seu objetivo é o próprio aprendizado. Portanto, o grau de importância e aplicação prática da matéria em discussão tem importância secundária. Isto não significa que não tenha relevância. Pois como aprendemos com nossos mestres, o estudo da Torá é o maior de todos os mandamentos judaicos, uma vez que faz com que se evitem os pecados e se pratiquem atos positivos e boas ações que beneficiem nossos semelhantes. É óbvio que para aprender as leis do judaísmo - e os princípios e detalhamentos necessários para cumpri-las - é imprescindível estudar a Torá. Segundo esta perspectiva, este estudo tem um propósito prático. No entanto, o simples fato de a estudar - mesmo que não haja nenhuma aplicação prática ou razão para fazê-lo - é extraordinariamente precioso aos olhos dos Céus. Alguns de nossos mestres foram ainda mais longe, ao dizer que o estudo da Torá, apenas, é mais importante do que o cumprimento dos outros mandamentos, apesar de nenhum deles ter o poder de substituir o outro. Pois como está escrito nas preces matinais que recitamos todos os dias,...”Elu devarim…São estes os mandamentos que, se os praticar, o homem colherá os frutos neste mundo, enquanto que a sua recompensa final o esperará na vida futura: honrar pai e mãe, praticar atos de bondade, ...promover a paz entre os homens; mas, acima de tudo, reina soberano o estudo da Torá, cujo valor a todos eles se equipara” (Mishná: Peá 1:1).

A raiz da palavra hebraica Torá é hora’á - ensinamento. O Pentateuco ensina ao homem o caminho que terá que seguir se optar por viver de acordo com os desejos e diretrizes de D’us. Aquele que estuda a Torá precisa viver de uma forma que honre e eleve o judaísmo e o povo judeu. Sua vida e conduta devem refletir a sabedoria, piedade, compaixão e todos os outros ideais incorporados pela Torá. Pois, caso contrário, diziam nossos sábios, “melhor seria nunca ter vindo a este mundo”. Afirmavam, também, categoricamente, que aquele que alega ter adquirido a sabedoria da Torá, mas não cumpre os seus mandamentos nem pratica boas ações, não a incorporou, de fato, dentro de si.

Existe uma concepção errônea generalizada de que a Torá é simplesmente um livro de lei e história judaica-divina, mas, ainda assim, apenas isto. A verdade é que representa a Vontade e a Sabedoria do Criador. O Talmud discute uma grande variedade de assuntos - uns sublimes, outros mundanos - mas todos, de alguma forma, refletem o relacionamento e envolvimento de D’us com este Seu mundo. Diferentemente das obras da Cabalá, preocupa-se, sobretudo, com o terreno e o mundano. Discute o que há de mais intrincado e, às vezes, o que aparenta ser totalmente irrelevante na lei judaica. Porém, oculto em suas lições e ditames, escondem-se profundos segredos e ensinamentos espirituais e místicos.

A Torá abarca todos os assuntos e a estudamos para entender como nos relacionar e agir diante de cada um destes. Nas palavras do Rabino Steinsaltz: “Os mandamentos e as aplicações práticas das leis da Torá estão subordinados à busca pela verdade que se esconde por trás de todas as coisas. O propósito sublime do Talmud não é utilitário, de forma alguma - mas unicamente a busca da verdade”. É por esta razão, como vimos acima, que a aplicação prática de qualquer tema nele discutido é de importância secundária. O que esta obra busca é a verdade e a visão da Torá sobre qualquer assunto ou matéria, quer seja legal, histórico ou filosófico. Portanto, uma prova ou declaração que possa dar a impressão de ser auto-evidenciada poderá ser questionada ou mesmo rejeitada pelo Talmud - pois pode conter alguma falha sutil, quase imperceptível em sua lógica ou argumentação. Este apenas aceita a argumentação mais convincente. Simboliza a busca do judaísmo pela verdade absoluta. Não há dogmas na religião judaica: quase tudo pode e deve ser questionado, apesar de que a pessoa conscienciosa deve entender que a alma humana ainda não está preparada e, portanto, não pode pretender compreender, em toda a sua plenitude, a Vontade e a Sabedoria do Criador.

Como o objetivo primordial do Talmud é essa busca da verdade, esta obra é praticamente toda estruturada em perguntas e respostas. E mesmo quando as perguntas não são explicitamente articuladas, encontram-se por trás de cada afirmação e ensinamento. Talvez seja o único livro sagrado, no mundo, que não apenas permite, mas estimula os que o estudam a questioná-lo. A Sabedoria de D’us está oculta em suas palavras, cabendo a cada um dos que o estudam, seja este sábio ou iniciante, tentar desenterrá-la. No entanto, é preciso lembrar-se que a Torá, em sua plenitude, originou-se de D’us; cada um de seus ensinamentos que já foi ou venha a ser praticado, foi transmitido a Moisés no Monte Sinai. Assim sendo, quando um sábio Talmudista faz uma afirmação, ele não está agregando ou opinando sobre algo, mas sim revelando um assunto da lei ou da sabedoria Divina. Aquele que domina as matérias acerca da lei judaica precisa ser um verdadeiro mestre em Torá. E deve entender que carrega consigo a tremenda responsabilidade de discernir e transmitir a Vontade de D’us ao povo judeu. Seus ensinamentos devem ser firmemente arraigados no Talmud e no Código da Lei Judaica, devendo ser uma extensão viva da Torá, originalmente entregue a Moisés.

É bem verdade que há diferenças de opinião no Talmud e isto, infelizmente, tem sido usado como desculpa para interpretações pessoais e aplicações impróprias ou tentativas de “reformular” as leis da Torá. Estas concepções errôneas geralmente são oriundas da falta de entendimento da dimensão espiritual da lei judaica. Diferentemente dos campos de conhecimento secular, pontos de vista diferentes sobre a Torá não constituem imprecisão ou erro. Pelo contrário, os mandamentos aparentemente contraditórios - que na prática, são raros - refletem as diferentes maneiras pelas quais D’us se relaciona com o mundo: por vezes com flexibilidade e condescendência, por vezes, com maior severidade. Uma das maiores polêmicas históricas no Talmud ocorre entre as escolas de dois grandes sábios: Hillel e Shammai. Suas disputas acabaram sendo resolvidas por uma voz que emanou dos Céus, afirmando: “Ambos transmitem as palavras do D’us Vivo, mas a decisão está alinhada com a escola de Hillel”. O fato de um método ser preferível ao outro não invalida o outro nem significa que seja impreciso, de forma alguma. Os místicos judeus ensinaram que Hillel personificava o atributo Divino da flexibilidade e condescendência, enquanto que Shammai incorporava as qualidades Divinas da precisão e do rigor. Explicam que como vivemos em um mundo imperfeito, necessitando constantemente de misericórdia, seguimos, quase que sem exceção, os mandamentos da Torá de acordo com os ditames da escola de Hillel. Na era messiânica, no entanto, quando o mundo atingir um estado de perfeição, iremos seguir a Torá como a ensinava Shammai. Por isso, devemos sempre lembrar que não há ensinamento alheio, não pertinente, no Talmud. Ainda que não sejam seguidos os ensinamentos de um determinado sábio - qualquer que seja a razão para tal - não podem, de forma alguma, ser depreciados, pois também esses preceitos são oriundos do Monte Sinai. Há uma história sobre um sábio que afirmou que um certo ensinamento não era de seu agrado, sendo repreendido por seus colegas que lhe disseram ser errado afirmar que “isto é bom e isto não é”, em se tratando da Torá.

O Pentateuco, em sua totalidade, é perfeito e aquele que o estuda com o espírito preparado - e com todo o respeito que merece - conecta-se de imediato com D’us. Pois o Senhor de Tudo, cujo Saber é Infinito, “condensou” Sua Sabedoria em Sua Torá, para que o homem possa entender o pouco sobre Ele que pode ser compreendido pela mente humana. O mérito no estudo da Lei de Moisés, por si só - não com o intuito de conquistar honras e louvores - tem inestimável valor para os Céus. Sobre o estudo do Talmud, especificamente, declarou o Rabi Yehudá ha-Nassi: “Não há medida maior de recompensa do que esta”.

Através dos séculos, o povo judeu fez muitos sacrifício, para poder estudar e ensinar e, desta forma, preservar o Talmud. Entenderam - da mesma forma, como, infelizmente, o fizeram seus inimigos - que, de fato, era o que os preservava. Não há antídoto maior contra a assimilação judaica do que o estudo da Torá. E esta é uma das razões pelas quais, juntamente com a prática da caridade, constitui o maior dos mandamentos Divinos. Mas este estudo serve como uma confirmação disso, ainda maior do que a sobrevivência coletiva do povo judeu. Ensinam os nossos sábios que o estudo adequado da Torá “salva e protege” e é fonte de bênçãos para uma vida longa, com fartura e benesses. Pois está escrito: “O alongar-se da vida está na sua mão direita; na sua esquerda, riquezas e honra” (Provérbios, 3:16). Mesmo se apenas um único indivíduo estudar a Torá, são tantos e tão grandes os seus méritos, que têm o poder de acarretar bênçãos para o mundo inteiro. O judaísmo ensina que toda a existência física é sustentada pela força da oração, pelo estudo da Torá e pela prática de atos de bondade e justiça. Aquele que estuda a Lei de Moisés, torna-se, portanto, parceiro d’Aquele que sustenta o Universo por Ele criado.

Os sábios talmúdicos e mestres da Cabalá revelam que o estudo da Torá serve como escudo para a alma humana, protegendo-a após a vida. E, como “não há esquecimento diante do Trono de Glória do Senhor”, mesmo se uma pessoa esquecer parte da sabedoria da Torá que adquiriu, sua alma a recorda e a transporta para a eternidade. Contanto que a pessoa se mantenha fiel a seus preceitos, aprofundando-se nos mesmos e andando por seus caminhos, esta mesma Torá sempre implorará diante da Corte Celestial por essa pessoa e por todo o povo judeu. Por isso, afirmamos na prece que celebra o término de um tratado do Talmud: “A ti voltaremos e tu retornarás a nós; nossos pensamentos estão fixos em ti, assim como os teus estão fixos em nós; não te esqueceremos assim como tu não nos esquecerás - nem neste mundo, nem no Mundo Vindouro!”