
Numa rápida revisão desde os  primórdios da Mitologia Judáico-Cristã encontramos em um corte longitudinal,  desde Adão, uma constante: a luta entre os irmãos que, movidos pela cobiça,  inveja e pelo ciúme, competem entre si no afã de serem os prediletos, os  queridos do pai e portanto seus únicos herdeiros. Situações comuns, até hoje,  nas famílias, de uma forma geral. Via de regra este lugar pertencia ao  primogênito do sexo masculino, a menos que ele morresse ou fosse assassinado.
Caim por  ciúme, ao ver seu lugar de primogênito e preferido ameaçado, mata seu irmão Abel  ( Gn 5, 32), "pois a oferenda deste, e não a sua, fora aceita por Javé". Javé  estava elegendo Abel, o preferido. 
 Dentre os  filhos de Noé, Cam e Jafé recebem pouca ou nenhuma atenção de Javé, enquanto que  Sem, o mais velho, tido como o tronco dos povos semitas, é o preferido. Na nona  geração dos descendentes de Sem, surge Abrão—Abrahão, como passou a se denominar  após a chamada "aliança ou pacto com Javé" ( Gn 12, 6 e 7 ).
 Que é assim concluído: 
 (Gn 15, 12- 21):
 "À tua  descendência darei este pais, desde a torrente do Egito até o grande rio, o rio  Eufrates: os cineus, os ceneseus, os cedmoneus, os heteus, os fereseus, os  refaim os amorreus, os cananeus, os gergeseus e os gebuseus." 
  
 Estes nomes indicam os  diferentes povos que habitavam os limites mencionados. Isto "era prometido por  Javé", aos descendentes de Abrahão em troca da submissão total a ele, que seria  seu único deus. E o selo desta aliança consistia na "circuncisão de todo o macho  de sua casa e de seus descendentes". ( Gn 17, 9 -15).
 Javé ratifica  essa "doação" em Ex 13, 5 .
 Note-se que  este território, "doado" por Javé a Abrão já tinha donos, sendo habitado pelos  povos citados acima.
 Os deuses  cananeus Moloch e Baal exigiam o sacrifício humano. Este sacrifício era feito  comumente com crianças. Elas eram sangradas e depois queimadas no altar do  sacrifício. As "primícias" eram dedicadas ao deus cruel Moloch, divindade semita  mencionada na Torá ( Lv 18, 21; 20, 2- 5; 1 Rs 11,7; 2 Rs 23, 10). Trata-se da  divindade cananea Milk cultuada desde o século XXIV a.C. em Ur (de onde proveio  Abrão), Mari, Assiria, Ugarit, Canaã e era o deus nacional dos Amonitas. Exigia  dos fieis o sacrifício das "primícias" que tanto eram os primeiros frutos, as  primeiras frutas colhidas, as primeiras crias do gado, em geral, incluindo o  primeiro filho de seus adoradores. A lenda do "quase sacrifício" feito por Abrão  exigido por Javé, nos permite entende-la como a transição da adoração de Moloch  para a adoração de um outro deus único, menos violento. Já não exigia a vida,  somente o prepúcio. Mas esse novo deus, era ainda violento e exterminador com  relação aos estrangeiros, gentios e aos próprios judeus, quando o desobedeciam.  Era a representação externa do chefe do clã. Onipotente como todo o chefe de  clã. 
  Abrahão por se  sentir um filho eleito pelo deus Javé passou a acreditar na promessa ( desejos  seus projetados no deus que agora os devolvia em forma de promessa) e nos seus  direitos, já que o aceitou como único e se submeteu às suas imposições, para  então "ter direito àquelas terras". O pacto com Javé, foi uma transação em que  em troca da fidelidade eterna e exclusiva ao deus-único, Abrão recebia a  promessa de ser aceito, bem como seus herdeiros, como o "filho eleito e único".  Como Abrão procedeu com os outros filhos , Javé fez com os outros povos, filhos  de deus. Baniu-os. 
 A esta altura  cabe um parênteses: o deus dos judeus, JAVÉ (YHWH, o tetragrama), tinha outras  denominações: EL, EL-SHADAI ("O Todo PODEROSO", como o designava Abrão), O  ETERNO, ELOHIM ( ou ELOÁ), JAHU, JO ou JAH e ADONAI. "Adonay" é usado quase que  com exclusividade pelos Sefaradis, em sua Bíblia de Ferrara escrita no dialeto  ladino. Os cristãos, em suas diversas seitas e ramificações, designam esse deus,  SENHOR DEUS, O SENHOR, O DEUS DE ISRAEL, O CRIADOR, JEOVA, O ALTÍSSIMO, PAI  CELESTIAL, ou simplesmente DEUS.
 Os livros  chamados sagrados que anteriormente eram transmitidos de geração em geração por  tradição oral começaram a ser grafados pelos sacerdotes israelitas, na época dos  Reis, aproximadamente entre 1200 e 500 a.C. Variadas fontes existem, segundo o  escriba fosse das linhas Javista (J), Eloista (E), Sacerdotal (P:  "Priesterschrift") ou Deuteronomista (D). As versões, cronologicamente , seguem  a seguinte ordem: J-E-D-P. Daí algumas discrepâncias em seus textos. Um exemplo  disto se vê quando é descrita a venda de José por seus irmãos: nos versículos 27  e 28 de Gênesis 37. Os irmãos vendem o invejado e odiado irmão, por vinte  pratas, ora aos ismaelitas ora aos midianitas. 
 Dos filhos de  Abrahão, Isaac, filho dele com sua irmã Sarai ( ou Sara) por parte do seu pai  Taré, (Gn 20, 12) é o predileto e, portanto o herdeiro de todos os bens e  bênçãos. 
 Sara que era  estéril, teve Isaac por interferência de Javé . O filho mais velho era Ismael  que Abrão tivera com Agar a egípcia, escrava de Sara. ( Gn 16,11-21 e 25, 5 ).  Sara que temia Ismael como concorrente de seu filho à primogenitura (herança) ,  fez com que Abrão o expulsasse e a sua mãe Agar, de sua casa "para que se  perdessem no deserto de Bersheva" (Gn 21,10 e 14) . 
 Quanto a  Zimrán (Zapram), Ioksan (Jecsam), Medan (Madam), Midian (Madiam), Isbak (Jesboc)  e Suah (Sué), filhos de Abrahão com sua outra mulher, Keturá (Ceturá),  "enviou-os Abrahão para o Oriente, à terra de Kedem, longe de seu filho Isaac"  (Gn 25,1-7). Estes filhos de Abrahão, começando por Ismael que deu origem aos  atuais Ismaelitas, vieram a engrossar as hostes dos deserdados pelo pai Abrahão  (e pelo pai-Javé) e escorraçados para o deserto. Passaram a ser gentios, "gois".  
 O clã de  pastores nômades saindo de Ur, na Caldeia, se deslocou para o noroeste até  Padam-Haram. Chefiados por Abrão, faziam parte da comitiva, Taré, seu pai, Lot,  seu sobrinho, filho de Haran, um de seus irmãos. Viajavam acompanhados de suas  mulheres, escravas, servos e rebanhos. Buscavam pastagens para seu gado. De lá  se dirigiram ao sul rumo ao vale do Jordão onde habitavam todos aqueles povos  citados no "pacto de Abrahão com Javé" (Gn 15,12-21). 
 Perambularam  pela Palestina, Filisteia ou Filistina e Canaã terra dos filisteus, cananeus,  cineus, ceneseus, cedmoneus, heteus, fereseus, refaim, amorreus, gergeseus e  gebuseus. Estes últimos eram os habitantes de Jerusalem que significa: "Jebus el  Salem", ou seja: Salem dos Jebuseus.
 O "pacto com  Javé" pode ser entendido como uma promessa feita por Abrahão a si próprio e aos  seus liderados: "essa terra ainda será nossa". Pois se tratava de praticamente  um oásis cercado pelos desertos inóspitos do médio oriente. Durante este  périplo, que incluiu o Egito, Abrahão e os seus procuravam pastagens para seu  gado. Foram levados pela fome. 
 Ocorrem na  época situações marcantes nas andanças desse clã , como o fato de Abrahão ceder  sua mulher Sara ao Faraó (Parô) com a intenção de tirar proveito. Esta atitude  foi repetida em relação a Abimelech, rei cananeu de Gerar.
 (Gn 12-Lech Lechá-10, 2O e 13,1-  2)
 "1O) E houve fome na terra, e  desceu Abrão ao Egito para morar ali; porque era grande a fome na terra. 11) E  foi quando se aproximou para entrar no Egito, disse a Sarai sua mulher: Eis que  agora sei que és uma mulher formosa à vista. 12) E será que, quando te virem, os  egípcios dirão: sua mulher é esta , e matarão a mim, e a ti deixar-te-ão viver.  13) Dize então que es minha irmã, para que seja bom para mim, por ti , e viverá  minha alma por tua causa. ( O 2° É CHAMADO) 14) E foi ao vir Abrão ao Egito, e  viram os egípcios que a mulher que era muito formosa. 15) E viram-na os  ministros do Faraó (Parô) e gabaram-na ao Faraó. 16) E a Abrão fizeram bem por  causa dela; e teve ele rebanhos e vacas e asnos e servos e servas e jumentas e  camelos. 17) E infligiu o Eterno ao Faraó e à sua casa, grandes pragas por causa  de Sarai mulher de Abrão. 18) E chamou o Faraó a Abrão e disse: "Que é isto que  fizeste a mim? 19) Por que disseste: minha irmã é ela? E tomei-a para mim por  mulher! E agora, aqui está tua mulher, toma-a e vai-te". 2O) E recomendou-o o  Faraó a seus homens, e o acompanharam, e a sua mulher e a tudo que era dele.  Xlll-1) E subiu Abrão do Egito, ele com sua mulher, e o que possuía, e Lot com  ele, para o sul. 2) E Abrão estava muito carregado em gado, em prata e em ouro  "
 E ainda  em Gn 20 (Vaiera)  1-18.
 Episódio semelhante se  repetiu com Abrão, Sarai e agora o Rei de Gerar, Abimelech, saindo Abrão mais  rico ainda. O Rei, mesmo após dar mil moedas de prata, ovelhas e vacas, servos e  servas ao casal, como indenização, foi culpado e castigado por Javé com a  esterilidade. 
  Abrão prepara  uma cilada tanto ao Faraó como a Abimelech, que são enganados por ele e  extorquidos. Isto ocorre com a conivência, cumplicidade de Javé que ainda  castiga as vítimas do logro com pragas e esterilidade. 
 Isaac, por sua  vez, teve dois filhos gêmeos com Rebeca, filha de Betuel, filho de Nacor, irmão  de Abrahão. 
 O predileto de  Isaac era Esaú, o "peludo", que nasceu primeiro, também chamado Edom por ter os  cabelos ruivos. O segundo, que nasceu segurando o calcanhar do irmão, recebeu o  nome de Jacó. Ocorre que Jacó era o predileto da mãe, e com o auxílio dela  ludibria Esaú e o velho Isaac tornando-se assim o único herdeiro ( Gn 25,28) .  Esaú teve ainda aumentada a má vontade da mãe, Rebeca, por ter se casado com  duas heteas: Judith e Basmath. "E estas foram para Isaac e Rebeca, uma amargura  de espírito" (Gn 26, 34 e 35). Como os filhos de Abrahão, Esaú, filho rechaçado  pelos pais vai dar origem aos edomitas que passaram a ocupar uma região a  sudeste do Mar Morto . Mais ao norte se situam as terras ocupadas pelos filhos  do incesto de Lot (sobrinho de Abrahão) com suas duas filhas, após fugirem de  Sodoma e Gomorra: Os Moabitas ( filhos de Moab) e os Amonitas ( filhos de Ben-  Ammi). (Gn 19, 30-38).
 Nesta grande  família os casamentos endogâmicos eram comuns. E mal aceitos os realizados com  gentios, (goyim) estrangeiros. 
 Jacó, a  conselho dos pais vai buscar esposa na família de Labão, o arameu, neto de  Nacor, irmão de Abrahão. Trabalha quatorze longos anos por sua preferida Raquel.  Leva como esposas as irmãs Lia e Raquel e suas respectivas escravas Zelfa e  Bala. É enganado pelo sogro, a certa altura, logra-o mais de uma vez, rouba-lhe  o que pode e sai fugido, Gn 29, 31; Gn 30, 37ss- 31, 22ss. 
 Os ciúmes e a  competição pela predileção de Jacó são uma constante em seu clã. 
 Treze foram os  filhos de Jacó: 
 Sete com Lia:  1° Ruben, 2° Simeão , 3° Levi, 4° Judá, 9° Issacar, 10° Zabulon e 11° Diná.  
 Dois com Zelfa  (escrava de Lia), 7° Gad e 8° Aser. 
 Dois com  Raquel, 12° José e 13° Benjamim. 
 Dois com Bala  (escrava de Raquel), 5° Dan, 6° Neftali.(Gn 29,32 - 35 e 30,1-24).
 Jacó, no  entanto tem em Raquel sua mais amada esposa e no primeiro de seus filhos com  ela, José, seu mais querido por ser, dizia, "o filho de minha velhice". (Gn  37,3). 
 Afinal, não  foi por Raquel que ele trabalhou para seu sogro Labão, quatorze longos anos ?  Não foi ela que, ao fugirem de Labão com bens furtados, sentou-se sobre estes,  dizendo-se "com o costume das mulheres" (Gn 31, 35) isto é, menstruada e  portanto intocável ! Era tabu tocar em uma mulher menstruada. Assim fugiram dos  perseguidores, homens de Labão, com o produto do roubo. (Gn  31,19-54).
 Raquel também  era considerada estéril, só engravidando após Jacó ter tido onze filhos com as  outras três mulheres. Tornou-se fértil tomando chá de raiz de mandrágora. Os  poderes mágicos conferidos a essa solanácea eram creditados ao formato de sua  raiz tuberosa que lembra uma forma humana. 
 A lenda  judaica de José e seus irmãos mostra muito bem aonde os ciúmes e a inveja  carregada de ódio, podem levar: 
 (Gn 37,1-36 ) :
 1) E habitou Jacó na terra  das peregrinações de seu pai, na terra de Canaã. 2) Estas são as gerações de  Jacó: José, da idade de dezessete anos, apascentava, com seus irmãos, as  ovelhas—e ele era mocinho—com os filhos de Bala, e com os filhos de Zelfa,  mulheres de seu pai. 3) E Israel ( nome adotado por Jacó após haver lutado com o  anjo) amava José mais que a todos os seus filhos, porque filho da velhice era  para ele; e fez-lhe túnica talar com mangas compridas. 4).. E viram seus irmãos  que seu pai amava mais a ele que a todos seus irmãos, e odiaram-no, e não podiam  falar-lhe em paz. 5) E teve José um sonho, e anunciou-o a seus irmãos; e  passaram a odia-lo mais. 6) E disse a eles: escutai, rogo, o sonho que tive: 7)  E eis que nós estávamos atando feixes no meio do campo, e eis que se levantava  meu feixe e ficava em pé, e eis que o rodeavam vossos feixes, e prostravam-se  diante de meu feixe. 8) E disseram-lhe seus irmãos: Será que reinarás sobre nós  ? E passaram a odia-lo ainda mais, por seus sonhos e por suas palavras. 9) E  sonhou ainda outro sonho, e o contou a seus irmãos, e disse: Eis que sonhei  outro sonho, e eis que o sol e a lua e onze estrelas se prostravam diante de  mim. 10) E contou a seu pai e seus irmãos. E repreendeu-lhe seu pai, e  disse-lhe: Que sonho é este que tiveste ? Viremos, pois, eu e tua mãe, e teus  irmãos, a prostrar-nos na terra, perante ti? 11) E invejaram-no seus irmãos, e  seu pai esperou o fato. ( 2° É CHAMADO). 12) E foram seus irmãos apascentar as  ovelhas de seu pai em Shechem. 13) E disse Israel a José: por certo teus irmãos  estão apascentando em Shechem, anda e te enviarei a eles. E disse: Eis-me. 14).  E disse-lhe: Vai, rogo, vê a paz de teus irmãos e a paz do rebanho, e  responde-me alguma coisa. E o enviou do vale de Hebron, e chegou a Shechem. 15)  E encontrou-o um homem e eis que estava perdido no campo, e perguntou-lhe o  homem dizendo: Que buscas? 16) E disse: A meus irmãos eu busco; dize, rogo, a  mim, onde eles apascentam? 17) E disse o homem: Partiram daqui; porque  escutei-os dizerem: vamos a Dotán. E foi José atrás de seus irmãos, e  encontrou-os em Dotán. 18) E viram-no de longe, e antes que se chegasse a eles,  tramaram mata-lo. 19) E disse cada um a seu irmão: Eis que aquele dono dos  sonhos vem. 20) E agora vinde, o mataremos e o jogaremos num dos poços, e  diremos: Um animal mau o comeu. E veremos o que serão seus sonhos. 21) E escutou  Rubem, e livrou-o das mãos deles e disse: Não o feriremos de morte. 22) E  disse-lhes Rubem: Não derrameis sangue! Jogai-o neste poço que está no deserto,  e não ponhais mão nele; ( Isto disse) para livra-lo de suas mãos e devolve-lo a  seu pai. ( 3° É CHAMADO) .23) E foi quando veio José a seus irmãos, e tiraram a  José a sua túnica, a túnica talar que tinha sobre si. 24) E tomaram-no e  jogaram-no ao poço, e o poço estava vazio: não havia água nele. 25) E  sentaram-se a comer pão. E levantaram os olhos e viram, e eis que uma caravana  de ismaelitas vinha de Guilad, e seus camelos levavam cera, bálsamo e goma  odorífera, que iam baixar ao Egito. 26. E disse Judá a seus irmãos: Que proveito  teremos matando a nosso irmão e ocultando seu sangue ( morte ) ? 27). Vamos e o  venderemos aos ismaelitas, e não poremos nossas mãos nele; pois ele é nosso  irmão, nossa carne ele é. E escutaram seus irmãos. 28) E passaram homens  midianitas, mercadores; e ( os irmãos ) puxaram e fizeram subir a José do poço;  e venderam José aos ismaelitas por vinte pratas. E levaram José ao Egito. 29) E  voltou Rubem ao poço e eis que José não estava no poço, e rasgou suas roupas.  30) E voltou a seus irmãos e disse: O menino não está; e eu, onde vou? 31) E  tomaram a túnica de José e degolaram um cabrito e molharam a túnica no sangue;  32) E enviaram a túnica talar, e trouxeram-na a seu pai, e disseram: isto  encontramos; reconhece, por favor, se a túnica é de teu filho ou não. 33) E a  reconheceu e disse: A túnica é de meu filho; algum mau animal o comeu. Devorado  foi José ! 34) E rasgou Jacób suas roupas, e pôs um saco na cintura, e  enlutou-se por seu filho muitos dias. 35) E levantaram-se todos os seus filhos e  todas as suas filhas (noras) para consola-lo; e recusou-se a ser consolado e  disse: Descerei enlutado por meu filho, à sepultura ? E o chorou seu pai. 36) E  os midianitas o venderam no Egito a Potifar, oficial da corte do Faraó, chefe  dos verdugos.
 A lenda de  José e seus irmão, também é relatada no "Alcorão Sagrado", dos  maometanos.
 Na XII Surata,  Surata de José, versículos 8 e 9, as intenções dos irmãos em suprimir José  invejado e odiado aparece com mais clareza:
 "8- Eis que os irmãos de José  disseram entre si: José e seu irmão Benjamim são mais queridos por nosso pai do  que nós, apesar de sermos mais numerosos e mais úteis. Certamente nosso pai está  em verdadeiro erro ! 
 9 – Matemos, pois, José ou então  desterremo-lo; assim, o carinho de nosso pai se concentrará em nós e, depois de  o eliminarmos, seremos virtuosos."
 Túnicas  talares que eram compridas, (atingindo o talão, tornozelo), com mangas longas  eram privativas dos adultos. Os jovens usavam túnicas curtas, até os joelhos e  com mangas curtas. E, certamente não eram somente as túnicas presenteadas pelo  pai, que faziam os demais irmãos invejarem José. Ao sentir um tratamento  especial de parte do pai, José humilhava seus familiares através de seus sonhos  vaidosos de grandeza que eram interpretados, entendidos, pelo pai e pelos  irmãos. (Ver Grinberg em seu ótimo trabalho: "La Rivalidad y los Sueños  Legendarios de José.) 
 A esta altura  cria-se uma situação insólita neste desenvolvimento em que um filho, via de  regra o primogênito, era o escolhido, o único herdeiro, não só dos bens como da  tradição simbolizada pela benção do pai e de Javé. Praticamente todos os filhos  de Israel vêm a formar as doze tribos, dando origem ao povo judeu, o "povo  eleito e querido de Javé" , em detrimento de todos os demais povos e nações.  
 Diná, por ser  mulher, não entra na composição. José (Safanat-Paneac para os egípcios) é  representado por seus dois filhos: Manasses e Efraim que teve com Asonat (Gn 41,  50-52; 41,2O) quando administrador do faraó, no Egito. Eles são perfilhados pelo  velho Israel. Ao filho Levi fica a incumbência de formar a classe sacerdotal,  que será hereditária. Não lhe caberá território quando da ocupação da terra  "prometida". Era a repetição do que vinha ocorrendo na formação deste clã  .
 . A diferença  é que agora não é mais um só o preferido, o eleito. Teremos um povo como o  "escolhido" pelo deus-pai. "O povo eleito".
 E toda a vez  que o povo, agora já composto pelas doze tribos, atacava um outro povo alegava  que o ataque eram ordens de Javé. Isto ocorreu na invasão de Jericó quando Jevé  "parou o sol " para favorecer seus "eleitos" e nas lutas que se seguiram  culminando com a tomada aos Jebuseus de Jerusalem. A ocupação final ocorreu já  no reinado de David quando o monte Sion último baluarte, foi tomado dos  Jebuseus. 
 Como se pode  ver por estes episódios, e eles são inúmeros na Torá e mesmo na Tanak, como um  todo, Javé o todo poderoso deus de Israel está sempre pronto a castigar,  submetendo seus próprios e "eleitos" filhos aos mais violentos castigos, quando  é desobedecido. Ao constatar a idolatria, quando ainda no Sinai, Moisés executa  três mil de seus seguidores judeus. (Ex 32). Em Nm.16, 1-34, Coré, Datan e  Abiram , da casa de Levi, tal como Moisés, se insurgiram contra este. Eram  acompanhados por suas famílias e mais duzentos e cinqüenta homens. "...fendeu-se  a terra debaixo deles: E abriu a terra a sua boca, tragou-os, e as suas casas e  a todos os homens de Coré, e a todos os seus bens. E desceram eles, e tudo que  era deles, vivos ao abismo, e cobriu-os a terra e desapareceram do meio da  congregação." Em nome de Javé, ao que tudo indica, os insurgentes são enterrados  vivos. Javé ( Moisés ao falar em seu nome) não perdoa os próprios filhos, que o  desobedecem.
 O desejo de  ser o único querido, encontrado no indivíduo, nas famílias, é também notado nos  grupos, religiosos ou não e nas nações, por extensão. Daí "o meu deus" é o  melhor, a "minha religião é a única verdadeira". Do "meu time é o maior" até "a  minha ‘raça’ é superior à tua" só há uma pequena distância a percorrer.  
 Javé é a  representação externa do superego, exigente, inflexível, ciumento, violento e  onipotente do chefe do clã , Abrão, e agora Moisés.
 Os faraós se  consideravam filhos do deus sol. Os quíchuas também, segundo sua mitologia, eram  filhos do deus sol. E por coincidência provinham de uma união incestuosa. Manco  Capac e Mama Oclo eram irmãos. Também peregrinaram. Das margens do lago  Titicaca, de Tiauanaco, até Cuzco onde se fixaram passando a se imporem aos  antigos donos das terras. 
 Os astecas da  mesma forma se consideravam filhos do deus sol. 
 O imperador do  Japão ainda hoje é tido como "o filho do sol". 
 Os livros  tidos como sagrados e que expressariam a palavra de deus, como a Tanak para os  judeus, a Bíblia (Tanak com pequenas modificações, acrescida do Novo Testamento  ) para os cristãos, reproduz a situação vivida por José e seus irmãos. O  predileto ( do deus-pai) pela situação criada, desperta os ciúmes, a inveja  carregada de ódio contra o preferido ou que se diz o preferido. "O queridinho,  ou supostamente preferido da mamãe ou do papai" é, via de regra, hostilizado  pelos irmãos.
 O progresso  tecnológico, científico ou cultural que bem cedo as novas gerações incorporam,  não encontram um paralelo no progresso emocional. Este, partindo do ponto zero,  em cada um de nós, avança bem lentamente, isto quando avança, deixando ilhotas  não resolvidas no decorrer da vida .
 O meu deus é o  único e verdadeiro, e o teu, ou os teus são falsos e devem ser destruídos, bem  como os que crêem neles. 
 Na Torah , no  Nebiim e no Ketubim (Tanak para os judeus, ou Velho Testamento para os cristãos)  estas palavras de ordem são repetidamente proferidas nos mais diferentes livros  e pelos profetas do "povo eleito".
 TaNaK é  apalavra composta pelas iniciais de: Torá (a lei), Nebiim (os profetas) e  Ketubim (a sabedoria). 
 Em 2 Rs 10, 15-27,
 Jehu mata os adoradores de Baal,  destrói seus templos, fazendo de seus locais latrinas. 
 Para se ter  idéia do que Javé ordena, nos "Sagrados Textos" com respeito às relações com os  gentios ( "goyim") é interessante ler o que consta em alguns outros livros da  Tanak. Como se poderá notar nestes versículos do Deuteronômio, se trata de uma  síntese da Lei de Moises sobre a conduta com respeito à posse do território dos  gentios, como proceder com eles, com sua religião, seus deuses, relações de  convivência e casamentos mistos. A tônica é colocada no "direito conferido por  Javé aos filhos eleitos": tudo lhes é permitido, em nome de serem os "filhos  queridos".
 Dt 7,1-6).  1) Quando te levar o Eterno, teu Deus, à terra, à qual tu vais para herdá-la, e  lançar fora muitas nações de diante de ti: o Hiteu, o Guirgasheu, o Emoreu, o  Cananeu, o Periseu, o Hiveu, e o Jebuseu, sete nações numerosas e mais fortes do  que tu, 2) e as dará o Eterno, teu Deus, diante de ti, feri-las-ás;  destrui-las-ás ; não farás aliança alguma com elas, e não lhes darás pousada na  terra. 3) E não te aparentarás com elas: tua filha não darás a seu filho, e sua  filha não tomarás para teu filho. 4) Porque desviará teu filho de me seguir, e  servirão a outros deuses, e crescerá a ira do Eterno sobre vós, e te destruirá  depressa. 5) Mas assim fareis com elas: seus altares derrubareis, e suas  "Matzevot" ( altares feitos de uma só pedra) quebrareis, e suas árvores  idolatradas cortareis, e seus ídolos queimareis no fogo. 6) Por que tu és um  povo santo para o Eterno, teu Deus; a ti escolheu o Eterno, teu Deus, para lhe  seres o povo querido acima de todos os povos que há sobre a face da terra. "  
 E no mesmo capítulo, 
 Versículo 14: 
 Bendito serás mais do que todos os  povos; não haverá em ti homem ou mulher estéril, nem entre os teus animais. 16)  E consumirás todos os povos que o Eterno, teu Deus te entregar; teus olhos não  terão piedade deles. 
 Os gentios  eram sempre considerados como idólatras: Am 7, 1- 17; 1 Sm 26, 19. A terra de  Israel era considerada poluta quando nas mãos dos gentios: Jr 2, 7; 3, 2: Ez 30,  17; Os 6,10; Esd 9, 11. 
 O santuário  era considerado poluto porque um gentio havia entrado nele, At 21, 28. Toda e  qualquer espécie de comida era considerada impura quando procedia dos goyim : Ez  4, 13. Na vida cotidiana evitava-se cada vez mais tudo que provinha dos goyim:  At 10, 28; 11, 3, Jo 18, 28. O matrimonio misto, desde sempre foi proibido. Ex.  34, 16; Dt: 7, 3. Sendo, posteriormente, impugnado com redobrada energia. Os  profetas ao condenarem os goyim, acusavam-nos mais por sua impiedade que  ameaçava influenciar Israel. Por isso seriam castigados. Restava-lhes a  conversão ( aceitação das leis mosaicas e da circuncisão) para serem salvos. Aos  patriarcas Javé prometera que todas as famílias da terra seriam abençoadas  embora acentuassem a posição privilegiada dos israelitas: " é dos judeus que vem  a salvação" : Jo 4, 22: Zc 14, 16; Sl. 87. 
 No Dicionário  Judáico de Lendas e Tradições , encontramos no verbete "gentio" ( em hebráico:  goi) : ...devido à crença cabalística de que os não- judeus não tinham alma  divina. E mais, que o Casamento Misto, com o gentio, leva à assimilação e é  considerado equivalente ao abandono da religião. A família , nesse caso,  costumava guardar uma semana de luto, como se aquele (a) que casou com o gentio  tivesse morrido. Quando se refere às "leis alimentares, para manter a separação  entre judeus e gentios, de modo que mesmo certos alimentos kosher, se preparados  por um gentio, são proibidos pela lei de bishul nochri; e a imitação dos  costumes gentios é expressamente proibida. Como Chukat há-goi. Adiante esclarece  que "as atitudes negativas para com os gentios se expressam nos termos a eles  aplicados, por exemplo, "nochri"(estrangeiro), "orel" e "orelte" (homem ou  mulher não circuncidados [sic]), ), "sheiguets" e "shikse" (homem ou mulher  desprezivel) , "iok" e "iekelte" ( inversão onomatopéica de "goi". Ressalta, no  entanto que existem "gentios justos" (chassidei umot haolam) e estes são trinta  em cada geração. 
 Em que pesem  as proibições, Abrahão teve Agar, egípcia e Keturá, como esposas. José casou com  Asenath, filha de um sacerdote egípcio. Moisés casou-se com Zipporah (Séfora),  filha do sacerdote midianita Jetro (Ex. III-1). Samsão, nazireu, herói judeu era  casado com uma filistéia. A mãe do rei Davíd era moabita. Betsabéia, uma hitita,  era mãe de Salomão filho de David.
 Ao que parece  a proibição era respeitada, (ou castigada) pelos mais humildes e levada pouco em  conta pelos poderosos. Mas era cobrada pelos chefes religiosos. O profeta Natan  acusa David pelo crime de enviar seu general Urias, o heteu, para que morresse  em uma frente de combate, contra os amonitas, que lhe seria com certeza, fatal,  para se apossar de sua esposa Betsabéia, tendo já muitas esposas e concubinas. (  2 Sm 12, 1-25). 
 Um episódio  ocorrido com a filha de Jacó e o filho do príncipe de Sichem, um heveu, relatado  em Gn 34, 1-24, nos mostra uma atitude dos filhos de Jacó de intransigência e  traição que o pai censurou com veemência: 
 O filho do  príncipe e Diná se enamoraram e fornicam. O jovem acompanhado de seu pai Hemor  procuraram Jacó e pedem que consentisse que casassem. Jacó acede com a condição  de que todos os machos de Sichem fossem circuncidados para que se tornassem um  só povo. O príncipe, seu filho e todo o povo aceitaram a imposição,sendo  circuncidados. ( Gn 34, 25-31). "E aconteceu que, no terceiro dia, quando  estavam com a mais violenta dor, os filhos de Jacó, Simeão e Levi, tomando cada  um de sua espada entraram na cidade de Sichem e mataram todo o macho. Saquearam  todo o gado levando todas as mulheres e crianças prisioneiras. 
 O proselitismo  religioso ficava difícil. Mas houve no decorrer dos séculos várias conversões ao  judaísmo. No século VII, quando Carlos Magno reinava como imperador do Oeste  europeu e os maometanos dominavam o médio oriente, um povo de origem turca que  vivia entre o Cáucaso e o Volga, os Khazars, adotou a religião mosaica.  Tornaram-se judeus formando um estado tampão entre os cristãos ao oeste e os  maometanos ao leste. Este estado, durou até o século X, aproximadamente. Os  Falashas da Abissinia, os chineses judeus de Kai-Feng, os judeus Yemenitas, os  judeus Berberes, são outros exemplos de conversão de gentios.
 Os adeptos do  rabino Yhosua ben Yosef, ( Jesus Cristo para os cismáticos judeus) na sua  dissidência judaica, substituíram a afirmação de que "é dos judeus que vem a  salvação" pela de que "somente através de Cristo" a salvação se  daria.
 Yhosua entrou  em choque com dirigentes religiosos da época, ( fariseus e saduceus ) e passou a  ser perseguido, sendo morto, bem como vários de seus seguidores. 
 Na época de  Cristo, os partidos judeus, formados pelos saduceus e fariseus, eram os dois  maiores, e disputavam o poder religioso e político. Os essênios que se  refugiavam nos desertos estudavam os textos sacros, e oravam. Os zelotes eram  minoria, mas ativos terroristas contra os ocupantes romanos. 
 Um dos  perseguidores mais ferrenhos dos judeus partidários de Yhosua foi Saulo de  Tarso. Diz-se ter sido um dos fanáticos apedrejadores de Estevão, judeu cristão  que se tornou santo da religião católica por esse fato: foi lapidado por seu  algozes. 
 Saulo era  judeu, nascido em Tarso (na atual Turquia). Mais tarde, trocou de partido,  latinizou o nome, passando a se denominar Paulo e veio a se tornar o codificador  do cristianismo. Foi um grande catequista. São famosas suas, aproximadamente  vinte, cartas aos judeus e aos gentios ( gôyim ou "gois"). 
 Paulo  substituiu o batismo judaico (circuncisão) pelo batismo com água. Chamava esse  batismo a "circuncisão do coração". Assim fora batizado Yhosua por seu primo  João Batista nas águas do Jordão. 
 Com esta  abertura incruenta atraiu inúmeros gentios para a nova seita judaica. Isto já  após a morte de Yhosua, a quem não chegou a conhecer. Yhosua dizia "que viera,  não para combater a Lei de Moisés, mas para fazer com que ela fosse cumprida".  
 Os seguidores  do rabino dissidente ben Yosef antes perseguidos pelos judeus e pelos romanos,  passam a ser os donos do poder. Sentem-se, agora "os eleitos". Isto ocorreu após  o Édito de Milão, no ano de 213, quando Constantino, imperador romano, tornou o  cristianismo a religião do estado.
 Não tarda que  passem a perseguir e matar os que antes se autodenominavam "os eleitos" , isto  é, os judeus. Alguns anos após, os maometanos, religião criada pelo profeta  Maomé, um mercador árabe, também passaram a disputar a propriedade da  "verdadeira fé" e do " único e verdadeiro deus". Aí antigos eleitos foram alvo  da fúria vingativa e invejosa, como José nas mãos de seus irmãos. 
 E aqui podemos  citar o pensamento, com respeito aos judeus, de Freud, judeu confesso e portanto  insuspeito, encontrada em seu trabalho "Moises y la Religion Monoteista" : (  Vol. IX, pg. 3304/5 Obras Completas Biblioteca Nueva ) 
 "Têm ( os judeus) uma opinião  particularmente elevada de si próprios; consideram-se mais eminentes, de posição  mais alta, superiores aos outros povos, o que os leva a se isolarem dos outros.  São inspirados por uma confiança peculiar na vida, derivada de se saberem donos  de uma posse secreta, de algum bem precioso, uma espécie de otimismo que as  pessoas piedosas chamariam confiança em Deus. Conhecemos a razão desse  comportamento e qual é seu tesouro secreto. Eles se consideram, realmente o povo  escolhido de Deus, acreditam que estão especialmente próximos dele, e isto os  torna orgulhosos e confiantes. Relatos dignos de fé, dizem-nos que se  comportavam, nos tempos helenísticos, tal como se comportam hoje."  
 "Em função das relações  particularmente íntimas com seu Deus, os judeus se fizeram partícipes de sua  magnificência. "
 E  mais:
 "quando se é o favorito declarado  do pai temido, não se precisa ficar surpreso com o ciúme dos irmãos e as  conseqüências que esses possam ter, nos mostra a lenda judia de José e seus  irmãos." 
 E  acrescenta:
 " Foi Moisés quem imprimiu ao povo  judeu seu caráter ao dar-lhe uma religião que aumentou sua auto-estima a tal  ponto que chegou a considerar-se superior a todos os outros  povos".
 A parte dos  judeus neste jogo sado-masoquista é a afirmação imutável na crença de que são "o  povo eleito" feita reiteradamente, através de seus textos sagrados.  
 Por outro  lado, é imprescindível, a meu ver indispensável mesmo, que o não judeu acredite  no "texto sagrado" dos judeus, como a palavra de um deus que os prefere acima de  quaisquer outros povos ou nações. E o desejo de ser ele "o eleito", o preferido  do deus-pai. 
 Os cristãos e  maometanos, ao acreditarem nos "livros sagrados, passam a acreditar na  predileção do "deus-pai-Javé" pelos filhos eleitos judeus. E, à semelhança dos  filhos de Jacó, a nutrir ódio invejoso aos "eleitos do pai". 
 Muitas vezes  ainda encontramos no judeu a atitude de se colocar como José fazia, na posição  especial, impar, frente aos outros povos, mesmo que seja na posição de vítima.  Isto leva os gentios a procederem como os irmãos de José frente a ele. Com  inveja carregada de ódio. Com hostilidade.
 Vejamos o que  nos diz Simon Wiesenthal, o judeu conhecido como "caçador de nazistas":  "Israel e o sionismo limitam o holocausto apenas ao povo judeu, prejudicando  assim a frente de combate contra o ressurgimento do nazismo." E acrescenta:  "Temos dito e repetido até a exaustão que, nos campos de concentração, os judeus  eram apenas uma minoria. Esta é uma realidade que eu mesmo vivi em Dachau e em  Mauthausen. Entretanto, depois da guerra, temos chamado sobre nós toda a atenção  do mundo, o que foi um erro".
 Isto foi  publicado no semanário israelense de idioma francês "Realidades de Israel e do  Oriente Médio" e reproduzido, parcialmente, pela Zero Hora de Porto Alegre, RS.  Brasil, em edição de 2 de janeiro de 1981, página 3. 
 Lembremos  novamente Freud: que, em seu trabalho sobre a Neurose de Destino escrito  em
 (1920) em "Alem do Princípio do Prazer"  , nos diz:
 "A impressão que dão é de serem  perseguidos por um destino maligno, por algum poder demoníaco: a psicanálise,  porém, sempre foi de opinião de que seu destino é, na maior parte arranjado por  elas e determinado por influências infantis primitivas." 
 Penso que o  anti-semitismo só deixará de existir quando os judeus, seus derivados cristãos e  maometanos, deixarem de encarar seus livros "santos" como "a palavra revelada do  deus único e verdadeiro" que os tem como "os eleitos", os filhos preferidos.  Quando virem esses livros como belas páginas com lendas, poesias, salmos,  relatos históricos, e plenas de ensinamentos. Quando, como os gregos e os  egípcios, por exemplo, passaram a encarar hoje, a história de seus deuses. Como  mitologia. Bem sei que isto é uma utopia. E ao que tudo indica o problema  continuara sem solução.
 Para o  narcisísmo de um povo que se julgava e se julga o "povo-filho-único-querido" de  um "deus-pai-único" todo poderoso e onipotente e que traz a logomarca  (circuncisão) do contrato que celebrou com ele, seria um golpe insuportável.  
 Para os  cristãos e maometanos que queriam e querem ser eles "os filhos queridos-eleitos"  desse deus todo poderoso , seria também uma renúncia demasiado dolorosa e  traumática. 
 Abrir mão de  uma ilusão (ser o predileto, o único querido) é por demais sofrido, mesmo que  para isso se pague um preço exorbitante. 
 Mas muitos  ainda acham que vale a pena.