Mostrando postagens com marcador Constantino. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Constantino. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 27 de julho de 2011

De pregador itinerante a Filho de Deus

O general romano Hermógenes estava estacionado com seus soldados em frente aos muros de Constantinopla, então a capital do império. Sentia-se preocupado. Fora incumbido pessoalmente pelo imperador Constâncio de prender um líder rebelde local, mas encontrara a cidade tomada por lutas de rua e parcialmente em chamas. Hermógenes decidiu pernoitar fora de Constantinopla para preparar seus próximos movimentos. Durante a noite, porém, a casa em que dormia foi descoberta por populares. Eles a incendiaram e arrastaram o militar para as ruas, onde foi surrado até morrer.

A morte de Hermógenes, ocorrida em 342, mostra o grau de enfrentamento e divisão que varreu o Império Romano durante o ciclo que entrou para a história como a controvérsia ariana. O que começou como um erudito debate teológico sobre Jesus se transformou numa questão de estado que durou cerca de 70 anos, rachou a sociedade da época e quase a arrastou para a guerra civil. O conflito só terminou quando um dos dois lados conseguiu empurrar o outro para a ilegalidade e a lata de lixo da história. A vitória teve um alcance que extrapolou, em muito, o próprio Império Romano. Pois foi durante aquele redemoinho histórico que se estabeleceu, na Igreja antiga, o dogma da identidade entre o carpinteiro Jesus de Nazaré e o Deus a quem ele chamava de Pai.

A controvérsia ariana é um drama, cheio de conspiração e de viradas inesperadas (veja arte ao longo do texto). Mas suas origens estão, na verdade, na pluralidade de pensamento que caracterizou o início do cristianismo, quatro séculos antes.

Após a morte de Jesus, seus seguidores espalharam-se pelo mundo. As primeiras comunidades cristãs surgiriam em cidades da Palestina, da Síria, da Ásia menor, da Grécia e até em Roma. "Devido à própria diversidade geográfica, esse grupos entraram em contato com diferentes idéias religiosas já existentes: alguns sofreram influências do judaísmo, outros do mundo grego".

Na segunda metade do século 1, algumas comunidades escreveram suas memórias da vida e dos ensinos de Jesus, criando os primeiros evangelhos. Os evangelhos atribuídos a Marcos, Mateus, Lucas e João serão depois considerados inspirados, e incorporados à Bíblia, enquanto outros, como o de Tomé, serão rejeitados. Neles já se refletem as diferenças entre as comunidades. "No evangelho de Marcos a narrativa só começa quando Jesus é reconhecido como filho de Deus, no batismo. Um outro grupo, porém, vai descrever sua infância, para afirmar que ele já era especial desde o nascimento. Não é que um texto queira negar o outro, mas sim ir além".

Ele conta que entre as idéias dos primeiros seguidores de Jesus estava a de que ele seria um profeta e libertador escatológico. Ou um enviado de Deus e, portanto, seu filho. "As pessoas exploravam diferentes maneiras de compreendê-lo", diz a americana Elaine Pagels, professora da Universidade Princeton, especialista no cristianismo primitivo e autora de "O Evangelho Desconhecido de Tomé".

Pagels diz que Marcos, Mateus e Lucas consideravam Jesus um ser humano com uma missão especial. "Eles o vêem como um messias, ou um rei enviado por Deus. Mas o rei Davi fora chamado de messias também. Só as cartas de Paulo e o evangelho de João é que falam diretamente sobre a divindade de Jesus", afirma.

Como alguém podia ser um cristão devoto e pensar que Jesus não é Deus? Uma possibilidade vem se revelando por meio da pesquisa dos manuscritos do Mar Morto, descobertos em 1947. No livro "Rei e Messias", o estudioso inglês Cristopher Rowland, de Oxford, explica que muitos viam Jesus como um "mediador angélico". Para esses cristãos Jesus era "aquele que, como o anjo de Deus no Antigo Testamento, foi enviado para revelar e cumprir a vontade de Deus, que está no céu".

O debate sobre a Bíblia

A disputa entre as diferentes visões sobre Jesus se refletiu também na discussão sobre a formação do livro sagrado dos cristãos
• 30 d.C.

Crucificação de Jesus

• Década de 50

Escritos do apóstolo Paulo

• 50-70

Escrita do evangelho de Tomé

• 70-90

Escrita dos evangelhos das comunidades de Marcos, Mateus e Lucas

• 90-100

Escrita do evangelho da comunidade de João

• Século 2

O número de evangelhos escritos por diferentes comunidades cristãs chega às dezenas. Irineu, bispo de Lião, denuncia boa parte desses grupos e seus textos como heréticos

• 144

Marcião, importante líder cristão, propõe um cânone bíblico composto por apenas um evangelho e as cartas de Paulo. Ele é denunciado como herege

• 170

Taciano escreve uma versão condensada dos evangelhos, que é recusada

• Século 3

Intenso debate teológico sobre a figura de Jesus

• 318

Início da controvérsia ariana

• 325

Reunidos no concílio de Nicéia, bispos escolhem uma fórmula que é contrária ao arianismo

• 367

Em seu esforço para combater o arianismo, o bispo Atanásio faz a primeira lista dos textos que compõem o novo testamento

• 381

Concílio de Constantinopla, convocado pelo imperador Teodoro, bane os bispos arianos

• 382

Concílio em Roma confirma a lista de Atanásio

Outros acreditavam que Jesus tivesse se tornado angelical ao ser elevado aos céus. Paulo Nogueira explica que "na tradição apocalíptica judaica, quando um homem subia aos céus, tinha que se transformar em anjo ou seria fulminado". Mas o caso de Jesus é diferente. "Ele seria maior do que os anjos, pois sobe aos céus para morar com Deus e governar o universo com ele, tornando-se um vice-regente ", diz.

E a diversidade de pontos de vista sobre Jesus só aumentaria com o tempo. A região do Mediterrâneo Oriental era um cadinho de povos e idéias. A cultura mais influente era a grega, com sua tradição de racionalismo e filosofia. À medida que o cristianismo penetrava nesse mundo, o encontro entre o pensamento grego e as escrituras da nova religião dava origem a formas mais sofisticadas de teologia cristã. "As discussões especulativas, que eram próprias das escolas filosóficas, foram transferidas para a teologia cristã". As escolas de teologia de certa forma foram sucessoras das academias filosóficas".

No início do século 4, as cidades de Antioquia e de Alexandria haviam se firmado como os dois grandes centros teológicos da cristandade, mas com diferentes tradições intelectuais. Em Antioquia era forte a influência aristotélica, e privilegiava-se uma leitura mais literal da Bíblia. Em Alexandria predominava uma releitura de Platão. E tendia-se a interpretar os textos bíblicos como alegorias.

A polêmica ariana teve início em 312 quando Ário, um popular padre de Alexandria, começou a pregar que Jesus não era igual a Deus, mas sim criado por ele e subordinado a ele. Alexandre, o bispo de Alexandria, considerou essa posição herética e em 318 puniu-o com o exílio. Mas o padre não era propriamente o autor de tais idéias; ele as absorvera em parte durante seus anos como estudante de teologia em Antioquia. E de maneira geral, a doutrina da subordinação de Jesus ao Pai era uma crença forte na parte oriental do Império Romano. "Não estava claro que a doutrina de subordinação fosse herética", explica Richard Rubenstein, autor de "Quando Jesus se Tornou Deus", o livro que inspirou esta reportagem. "Esse foi um dos fatores que fez com que a luta durasse tanto."

Ário partiu para a cidade de Nicomédia para receber o apoio de Eusébio, um antigo colega de estudos em Antioquia que se tornara bispo influente da igreja oriental. Começava a disputa entre arianos e antiarianos.

Uma divisão na Igreja era tudo o que o então imperador Constantino não queria. Ao contrário, seu objetivo era restaurar os dias de paz e grandeza do império, que se ressentia dos momentos difíceis do século anterior.

No início dos anos 220, tribos germânicas e soldados persas haviam invadido as fronteiras da Europa e da Ásia, e imposto aos legionários derrotas sem precedentes. Para sustentar o exército romano, os impostos foram duplicados sucessivas vezes, o preço dos alimentos subiu e a inflação explodiu. Em 70 anos, 17 generais diferentes tomaram o poder. O povo era impelido em massa para a escravidão e o banditismo assolava o império. Por volta de 290, porém, a crise parecia superada, ou superável. O imperador Diocleciano se propõe a trazer de volta a grandeza de Roma, e decreta a partir de 303 uma perseguição ampla, mas malsucedida, aos cristãos.

Diocleciano morre e em 312 o poder vai parar nas mãos de Constantino. Mesmo sem se batizar, Constantino é um cristão convicto. Cessa as perseguições, restitui à Igreja os bens confiscados, e abre a ela os cofres públicos. Constantino queria transformar o cristianismo numa ideologia oficial, capaz de trazer unidade a um império marcado pelo medo da dissolução e pelas diferenças regionais, especialmente entre a porção ocidental, que falava latim, e a oriental, que falava grego.

Buscando conciliação, ele convocou em 325 um concílio de bispos na cidade de Nicéia, o qual presidiu pessoalmente. Os bispos aprovaram uma fórmula conhecida como credo de Nicéia, que afirmava explicitamente que Jesus e Deus compartilhavam a "mesma essência". Foi uma derrota dos arianos.

Após o concílio, o bispo Eusébio de Nicomédia caiu nas graças de Constantino, que também se aproximou de Ário. As idéias de Ário foram declaradas corretas em concílios posteriores, e ele morreu bem no dia em que seria formalmente reintegrado à Igreja por ordem expressa do imperador. Sua morte não terminou o conflito, pois suas idéias eram apoiadas pela maior parte dos bispos da região de fala grega do império, enquanto seus adversários (o bispo Alexandre e seu discípulo e sucessor, Atanásio) tinham o apoio da parte latina da Igreja.

Rubenstein explica que a divisão era um reflexo das diferenças culturais. "A igreja do Oriente ainda se via, em alguma medida, como uma continuação do judaísmo e da cultura grega. Já a visão do grupo niceno era mais radical, e defendia uma ruptura com as heranças grega e judaica."

Na tela, um homem de muitas faces

Durante o século 20 o cinema mostrou várias versões sobre a personalidade do carpinteiro de Nazaré. Inicialmente com uma reverência que parecia beirar o temor. "Nos primeiros filmes Jesus era mostrado só de longe, não se via seu rosto", explica o professor de literatura Antônio Carlos Fester, que dá palestras em que analisa as diferentes formas como Cristo foi retratado na telona. "Isso só acontece, no cinema americano, com o 'Rei dos Reis', em 1927.

"Ex-membro da comissão de justiça e paz de São Paulo - sobre a qual está lançando um livro -, Fester é um católico cinéfilo, e criou, em meio a sua coleção de centenas de DVDs, uma sessão com dúzias de filmes onde Cristo é retratado como personagem principal ou coadjuvante. A partir da coleção, conseguiu detectar alguns padrões. "Existe um Jesus no cinema que é uma figura convencional, quase acadêmica." É o caso de filmes como o "Jesus de Nazaré", de Franco Zefirelli. "Os padres gostam muito desse filme porque é muito completo do ponto de vista biográfico. Embora seja preciso lembrar que os evangelhos não foram escritos como biografias", ressalta. Nestas obras é comum vê-lo como um homem de gestos pausados, bastante sério e com alguma pompa. Ao mesmo tempo há bastante ênfase nos milagres, recriados de forma impactante. É como se a parte divina do personagem fosse a sua totalidade.

Com o tempo, surgiu um Jesus mais pessoal. Em "A Maior História de Todos os Tempos", de George Stevens (onde o papel fica a cargo de Max von Sidow), ressalta-se a sua identidade como judeu praticante. Em "O Evangelho Segundo São Mateus", de Pasolini (que foi elogiado pelo Vaticano), mostra-se um cristo atuante, confrontando as autoridades temporais e religiosas da sua época. "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorsese, mostra uma progressiva descoberta de sua tarefa messiânica, intermeada com sentimentos de paixão amorosa, medo, dúvida. "Essa linha de filmes causa estranhamento e faz pensar sobre quem foi esse homem e qual sua mensagem", diz.

Essas diferenças sobressaíam-se na maneira como viam Jesus. "Os arianos tinham uma visão mais otimista da natureza humana, e viam Jesus como um exemplo moral. Tendiam a ressaltar seus aspectos de Filho, que o mostravam mais como um irmão mais velho do que uma figura paterna." Já os nicenos eram mais pessimistas quanto ao caráter pecador da humanidade, e consideravam que só um Jesus que estivesse no mesmo nível de Deus poderia vencer o pecado e a morte. Também viam a Igreja como o elemento mais importante de salvação, uma instituição que deveria resistir até mesmo ao fim do Império Romano - o que acabou acontecendo.

Por duas vezes, durante a controvérsia, o poder imperial esteve nas mãos dos arianos (um deles o Constâncio que enviou seu general Hermógenes para morrer nas mãos do povo de Constantinopla). Mas o bispo Atanásio de Alexandria revelou-se um adversário à altura. Durante quatro décadas, atazanou sem parar seus inimigos, recorrendo até mesmo à violência. Morreu em 373, pouco antes de a maré virar a seu favor. Em 378, as legiões romanas, sob o comando do imperador ariano Valente, foram arrasadas pelos godos na batalha de Adrianópolis. O império, mais uma vez, estava no fundo do poço. Ambrósio, bispo antiariano de Milão, fez um comentário severo: "Esse é o julgamento de Deus sobre os arianos". Teodósio I, o sucessor de Valente, conseguiu afastar por algum tempo o perigo das invasões . Durante uma viagem à Itália, aproximou-se dos bispos da igreja latina, e em fevereiro de 380 publicou um edito que promulgava a ortodoxia nicena como lei. A seguir, proibiu que os arianos celebrassem cultos em qualquer igreja e removeu-os dos bispados mais importantes.

Teodósio convocou um concílio em Constantinopla, em 381, que reafirmou o credo niceno, com algumas variações. Por fim veio a ordem para queimar os documentos arianos, cuja posse era crime mortal. "Depois de 70 anos de lutas internas que culminaram com o desastre de Adrianópolis, Teodósio apareceu num estágio histórico semelhante a Napoleão ou Stalin: uma figura autoritária cuja missão era consolidar a revolução cristã, preservar e adaptar a religião às realidades sociais existentes e, ao mesmo tempo, incorporá-la à estrutura do poder governamental", escreve Rubenstein.

Mas não foi o fim dos debates sobre a natureza de Cristo. No século 5 começou a impor-se nas igrejas da Síria Ocidental, Armênia, Egito e Etiópia a corrente monofisista, que privilegiava seu aspecto divino. No Ocidente subsistiu uma visão que afirmava a plena humanidade de Jesus. Mas sem torná-lo menos divino, pois o concílio de Constantinopla afirmou a crença num Deus trinitário, composto de três pessoas que partilhavam uma só substância divina. E Jesus, identificado com a segunda pessoa da trindade, foi reconhecido como Deus encarnado.

1 - Em Alexandria, o padre Ário afirma em seus sermões que Jesus é subordinado a Deus, e não o próprio Deus. Bom pregador e poeta, Ário torna-se uma figura popular.
2 - Alexandre, o bispo de Alexandria, convoca Ário para explicar suas idéias, as quais julga incorretas. Ele o excomunga e bane de Alexandria.
3 - Ário foge para Antioquia onde o bispo local, Eusébio, é seu amigo e figura poderosa na região oriental do império. Eusébio convoca um concílio, uma reunião de bispos para debater a doutrina, o qual conclui que as idéias de Ário não são heréticas.
4 - Preocupado com a divisão entre adeptos e adversários de Ário, o imperador Constantino convoca um concílio na cidade de Nicéia. Alexandre comparece levando seu pupilo Atanásio, que será o grande adversário dos arianos. O líder dos arianos é Eusébio. Os participantes criam um credo que condena indiretamente as idéias arianas. Ário se recusa a validar o credo e é expulso. Eusébio pouco depois será exilado.
5 - Numa reviravolta, Constantino chama Eusébio de volta do exílio e o nomeia seu conselheiro particular. Sob o patrocínio de Eusébio é convocado um novo concílio que considera as idéias de Ário corretas. Constantino exige que o bispo Alexandre readmita Ário a sua igreja em Alexandria.
6 - Alexandre se recusa terminantemente a readmitir Ário e morre pouco depois. Atanásio se torna bispo de Alexandria. Ele organiza uma resistência por vezes violenta contra os partidários de Ário.
7 - O imperador funda uma nova capital, Constantinopla. Atanásio é furiosamente perseguido e acusado de organizar o espancamento de cristãos arianos. Ele não nega as acusações, mas vai até Constantinopla falar com o imperador, a quem consegue impressionar favoravelmente.
8 - Ário escreve a Constantino reclamando que ainda não foi reintegrado à sua igreja. Constantino se sente ofendido pelo tom da carta e responde chamando-o de inimigo da religião. Ário vai a Constantinopla e se reaproxima de Constantino, que se dispõe a ajudá-lo diretamente a voltar para Alexandria.
9 - Os arianos organizam um concílio na cidade de Tiro, que condena Atanásio. Mas ele foge do Egito e é exonerado de seu posto e excomungado.
10 - Num concílio em Constantinopla, Ário apresenta sua própria versão do credo que, embora diferente do credo aprovado em Nicena, é julgado ortodoxo. O concílio ordena que ele receba a comunhão na principal igreja de Constantinopla, como forma de abrir o caminho à sua volta para Alexandria. Mas ele morre subitamente poucas horas antes da missa. Constantino também morre e o império é dividido entre seus filhos. Constante, que defende os antiarianos, fica com a Itália, e Constâncio, que protegerá os arianos, com a parte oriental do império.
11 - Ocorrem lutas violentas entre adeptos das duas correntes por todo o Mediterrâneo oriental. Tropas do exército desembarcam em Alexandria para prender Atanásio, mas ele foge para Roma. Eusébio, no auge do poder, se torna bispo de Constantinopla.
12 - Eusébio morre. Os adeptos de Atanásio tentam entronizar como novo bispo um dos seus, Paulo. Isso gera lutas violentas em Constantinopla, inclusive incêndios. Constâncio envia um general para prender Paulo, mas o militar morre espancado por uma multidão. As metades oriental e ocidental do império estão cindidas. Constante ameaça Constâncio com o uso da força para defender Atanásio. Risco de uma guerra civil entre Constante e seu irmão.
13 - Constâncio se torna o único líder do império e vê os adeptos de Atanásio como uma ameaça à estabilidade. Ele força a convocação de um outro concílio que adota um credo para subsitituir o de Nicéia. Mas ele morre pouco depois.
14 - O trono romano passa por vários ocupantes em poucos anos, enquanto o império sofre fortes reveses militares. Um general, Teodósio, consegue estabilizar a situação.
15 - Teodósio se aproxima dos bispos do ocidente e publica um edito defendendo o credo niceno. Ele ordena a perseguição dos arianos e consolida o cristianismo como religião oficial do império. É a vitória dos ortodoxos.
----------------
Para ler:

• "Quando Jesus se tornou Deus", Richard Rubenstein. Fisus Editora, 2001.

• "Além de Toda Crença - O Evangelho Desconhecido de Tomé", Elaine Pagels. Objetiva, 2003.

• "História do Movimento Cristão Mundial", Dale Irvin. Paulus, 2004.

• "Rei e Messias", John Day (org.). Paulinas, 2005

• "O Nascimento do Cristianismo", John Dominic Crossan. Paulinas, 2005

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Constantino, um Imperador a serviço do deus Sol

Constantino e o Império Romano no 4º século
Uma descrição do mundo romano após a Tetrarquia.


Depois da morte de Galério em 311, quatro imperadores disputam o poder: Constantino, Maximino Daia, Maxêncio e Licínio. A guerra entre eles torna-se inevitável. Licínio e Maximino se enfrentavam no Oriente, enquanto Constantino e Maxêncio, no Ocidente. Em um primeiro momento, Licínio e Maximino fizeram um acordo. Em 313, Licínio casa-se com a meia-irmã de Constantino, Flávia Júlia Constantina, com quem teve um filho, Licínio II. Por razões políticas, volta-se contra Maximino Daia, derrotando-o no mesmo ano. Maximino foi condenado à morte. Desse modo, o Oriente voltou a ter um único senhor.

Com a derrota e morte de Maxêncio em 312, na ponte Mílvia, uma nova aliança é estabelecida entre Constantino e Licínio. Após alguns enfrentamentos iniciais, firmaram a paz em Sérdica, no ano de 317. Durante esse período, ambos nomearam novos césares, segundo as suas conveniências, membros da sua família, independentemente da idade.

O próprio Senado Romano, por causa do aumento dos impostos, pediu a Constantino que invadisse Roma, expulsando Maxêncio. Essa passagem foi ricamente descrita por Eusébio de Cesareia e Lactâncio. Na realidade, o exército de Constantino era bem inferior ao de Maxêncio, mas, como comandante militar, Constantino era superior ao rival. Napoleão Bonaparte, imperador francês, já dizia no século XIX: “é melhor um exército de coelhos comandados por um leão, do que um exército de leões comandados por um coelho”. Em 313, já como senhor do Ocidente, Constantino assina o Edito de Milão, com Licínio, senhor do Oriente.

Reunidos em Milão, em 313, Constantino e Licínio assinam o Edito de Milão. Em resumo, o documento declarava que o Império Romano seria neutro em relação ao credo religioso, acabando oficialmente com toda perseguição sancionada oficialmente, especialmente ao Cristianismo. A aplicação do Edito fez devolver os lugares de culto e as propriedades que tinham sido confiscadas dos cristãos e vendidas em praça pública. O Edito deu ao Cristianismo (e a todas as outras religiões) o estatuto de legitimidade, comparável com o paganismo e, com efeito, desestabeleceu o paganismo como a religião oficial do Império Romano e dos seus exércitos.

Na tentativa de consolidar a totalidade do Império Romano sob o seu domínio, Licínio em breve armou seu exército contra Constantino I. Como parte do seu esforço de ganhar a lealdade dos seus soldados, Licínio dispensou o exército e o serviço civil da política de tolerância do Edito de Milão, permitindo-lhes a expulsão dos cristãos. Em resumo, Licínio torna-se um perseguidor. Depois de novos enfrentamentos, em 324, Constantino reunifica o império.

Constantino, além de mandar executar Licínio, seu cunhado, e o filho dele, Licínio II, em 325, depois de prometer publicamente não fazê-lo (Eusébio de Cesareia cita em seus escritos que Licínio estava à frente de uma série de intrigas), meses depois mandou executar Crispo, seu filho mais velho (seu César e vencedor de Licínio na batalha naval de Crisópolis, em 324), o que lhe permitiu o acesso ao Bósforo e às províncias orientais de Licínio.

As razões dessa execução ainda são um tanto obscuras. Alguns historiadores como Zósimo, no século V, e João Zonaras, no século XII, relatam um envolvimento amoroso entre a madrasta, Fausta (293-326), filha de Maximiano, também condenada à morte, por adultério, e Crispo (305-326).

Outras teorias acrescentam que Fausta estava com medo de que o filho do primeiro casamento fosse o sucessor de Constantino; e Crispo, filho de Constantino com Minervina (pouco sabemos dessa união), educado por Lactâncio, já havia demonstrado sua competência como militar e administrador sendo considerado como o neto favorito de Helena (mãe de Constantino). Influenciado pela mãe e atormentado após descobrir a inocência do filho (causa principal da condenação de Fausta), Constantino teria aceito o batismo, que segundo Eusébio de Cesareia, perdoaria seus pecados. O compositor italiano Donizetti, em 1831, escreveu a ópera Fausta, que narra boa parte dos acontecimentos.

Durante todo o seu reinado, dedicou-se a reformar profundamente o Império. Modificou a composição do Senado, cujo conselho estava composto por 600 membros, aumentando para 2.000 magistrados. Outra inovação foi a reforma da prefeitura do pretório: os comandantes da guarda imperial se converteram em altos funcionários provinciais, dotados de amplos poderes civis, responsáveis por manter a ordem pública e as finanças.

Apesar de não retornar à antiga forma de governo de que seu pai fez parte, Constantino limitou-se, dois anos antes de sua morte, a dividir o governo dos territórios em cinco partes: três partes, as maiores, seriam entregues a seus três filhos; as outras duas, a três de seus sobrinhos. Ou seja: coube ao filho mais velho, Constantino II, a Bretanha, a Gália e a Espanha; Constâncio II ficou com a rica parte oriental do Império, que desde 333 governava como César em Antioquia; o mais jovem, Constante, ficou com a Itália, a África e a Panônia. Os primos Flávio Júlio, Dalmácio e Anibaliano ficaram, respectivamente, com os Bálcãs e a Ásia Menor.

A ascensão de Constantino esteve ligada à transformação do Cristianismo. Os relatos de Eusébio de Cesareia, seu biógrafo, retratam o sonho de Constantino, à tarde, antes da batalha da ponte Mílvia. Ordenou pintar nos escudos de suas tropas o monograma cristão (☧). Assim venceu o usurpador Maxêncio. Essa passagem é citada por Lactâncio e Eusébio de Cesareia, este último a cita duas vezes: na História Eclesiástica e De Vita Constantini. A tradição cristã diz que pouco antes de entrar em combate contra Maxêncio, o imperador “rezava e fazia frequentes súplicas”, segundo o seu amigo e biógrafo Eusébio de Cesareia, quando surgiu um sinal divino no céu: as iniciais da palavra Cristo em grego (ΧΡ), acompanhada da inscrição in hoc signus vinces (com esse sinal vencerás). Constantino teria mandado pintar o sinal nos escudos dos soldados, vencendo, assim, a batalha. Segundo o retórico cristão Lactâncio, contemporâneo de Eusébio de Cesareia, a visão de Constantino ocorreu durante o sono, pouco antes do combate. Lembramos, ainda, que Eusébio escreveu a sua obra em grego, e Lactâncio, em latim.

O símbolo (☧), ΧΡ, as iniciais da palavra Cristo em grego, pode ser encontrado na bandeira do Estado do Vaticano, na estola dos bispos católicos e na sacristia das igrejas, entre outros lugares. A data do Natal, 25 de dezembro, foi oficializada por Constantino. Era o dia do culto ao Deus Sol, Apolo. Antes disso, o Natal era comemorado no dia 6 de janeiro (hoje dia de Reis). Na época, para popularizar a religião, trocavam as datas festivas.

Constantino tinha inicialmente uma religião solar, de tendência monoteísta, culto ao Sol ou sol invictus. Ele se considerava inspirado por um Deus Único, mas mal definido, e mantinha as funções de pontifex maximus (Sumo Pontífice, sacerdote do Colégio dos Pontífices, mais alto cargo religioso em Roma, desde o século VII a.C.) e mestre do paganismo.

O historiador paulista Pedro Paulo Funari define essa suposta conversão de Constantino como um jogo político. Segundo o autor:

Assim o imperador Constantino concedeu aos cristãos, por meio do chamado Edito de Milão, em 313, liberdade de culto. Em seguida, esse mesmo imperador procurou tirar vantagem e interveio nas questões internas que dividiam os próprios cristãos e convocou um concílio, uma assembléia da qual participavam os principais padres cristãos. Nos Concílios foram discutidas as diretrizes básicas da doutrina cristã. Depois, Constantino cuidou pessoalmente para que as determinações do concílio fossem respeitadas, ou seja, passou a ter um controle muito maior dos cristãos e suas idéias. Antes de morrer, o imperador resolveu batizar-se também (FUNARI, 2002, p. 143).

No campo econômico, com o intuito de controlar a inflação, Constantino criou uma nova moeda de ouro, o solidus, diminuindo o peso do aureus (antiga moeda de ouro). Essa moeda teve a primeira cunhagem em 310 e conseguiu estabilizar rapidamente o sistema monetário. O solidus circulava só entre a elite político-econômica, e não entre as classes mais baixas, que continuavam utilizando moedas de bronze, cobre ou prata, que eventualmente sofriam as devidas desvalorizações.

Em 324, é cunhado o miliarense, moeda de prata que poderia chegar ao valor de 1/12 do solidus aureus. Quanto à massa em circulação, era constituída por espécies de cobre e bronze, de peso variável.

Constantino apoderou-se dos tesouros do antigo rival Licínio, mas dois anos mais tarde, a maior parte das casas monetárias, fundadas por Diocleciano, era fechada. Em 332, graças ao confisco dos bens dos templos pagãos, foi possível reabri-las.

Na administração, ocorreram alterações significativas nas funções. O ministro do tesouro real, o rationalis, cedeu lugar ao conde das liberalidades sagradas; e o procurator rei privatae passou a ser chamado conde dos bens privados, na organização dos bens e da fortuna do príncipe para que revertessem as rendas do ager publicus, dos domínios confiscados, das terras municipais e os recursos dos templos.

De fato, a política constantiniana de grandes despesas não conseguiu deter a inflação. Um fato importante que gerava o aumento dos preços era a prática do fornecimento de pão, que a princípio era gratuito, passando, em seguida, a um preço reduzido, bem como as distribuições de azeite e de carne de porco, que aumentaram à medida que eram ampliadas as fronteiras imperiais.

Com a morte de Constantino em 337, teve início um período de lutas internas pelo poder. Os numerosos meios-irmãos e sobrinhos de Constantino foram assassinados por políticos poderosos. Constâncio II defendia uma sucessão dinástica ordenada, livre da disputa entre os diversos ramos da família. Essa idéia, assassinato dos membros da família, foi defendida por Helena (futura Santa Helena), mãe de Constantino, sendo provável que Constâncio II, o homem-forte do novo regime, tenha ordenado o massacre. Deixou vivos, por razões sucessórias (também como refém) os jovens primos Constâncio Galo e Juliano. Mais tarde, ambos assumiram a função de César, primeiro Galo, depois Juliano.

Depois da morte de Constantino em 337, o massacre de seus familiares, a morte de Constantino II (317-340) e Constante (320-350), o Império retorna às mãos de um único senhor, Constâncio II (317-361), responsável pelo reinado mais longo do século IV, após a morte do pai.

Os problemas administrativos e a questão sucessória levam Constâncio a nomear seu primo, Constâncio Galo como César. As intrigas palacianas e a instabilidade de Galo levam-no a ser executado sob a acusação de traição. Seu irmão Juliano é chamado à presença de Constâncio em Mediolanum (Milão). Em 355, foi nomeado César da parte ocidental do Império e casou com a irmã do imperador. Nos anos seguintes, lutou contra as tribos germânicas que tentavam entrar em território do Império. Nesta luta, distinguiu-se como estrategista, administrador e legislador. Recuperou Colônia Agripina (Colônia, Alemanha) em 356, derrotando os alamanos (em Argentoratum, na Batalha de Estrasburgo, França / Alemanha) assegurando a fronteira do Reno por outros cinquenta anos.

Em 360, Constâncio lhe ordenou transferir suas tropas da Gália, comandadas por Juliano, para o exército do leste. Tanto Juliano quanto seus soldados não gostaram da atitude de Constâncio, o que provocou uma insurreição que fez com que as tropas da Gália proclamassem Juliano, Augustus e novo imperador. Não houve uma luta propriamente dita entre Constâncio e Juliano. Constâncio II morreu de peste (peste bubônica, muito comum na época) quando se deslocava para a Gália. As próprias legiões de Constâncio reconheceram Juliano como único imperador.

Como profundo conhecedor da lei, Juliano elaborou um corpo legislativo e restabeleceu a posição dos senadores municipais e recuperou o estado lastimável em que se encontravam as cúrias. É bom lembrar que a aplicação de suas leis ocorreu em todo o território romano, ocidental e oriental. Influenciado pelos fundamentos aristotélicos sobre a lei, tentou associar essa teoria com a sua prática legislativa.

Durante a luta contra os persas sassânidas, Juliano sofreu um ferimento mortal por uma flecha ou lança. Libânio, filósofo e amigo pessoal do imperador, escreveu que Juliano foi assassinado por um soldado cristão de seu próprio exército, embora essa acusação não fosse corroborada por Amiano Marcelino nem por nenhum outro historiador contemporâneo. Joviano, seu sucessor, governou apenas oito meses.

Valentiniano e Teodósio: uma nova dinastia?

Valentiniano I (321-375), antigo comandante militar durante o governo de Juliano e Joviano, foi proclamado imperador pelo exército de Niceia. Instalou-se em Mediolanum (Milão) e associou-se ao seu irmão Valente. Conseguiu expulsar os alamanos da Gália e estabeleceu a paz na Bretanha, sufocando uma série de revoltas.

No ocidente, Valentiniano I foi sucedido por seus filhos Graciano e Valentiniano II, que na ocasião estavam com 16 e 4 anos. Ambos foram controlados, reciprocamente, por seus conselheiros. Esses governos não foram suficientemente fortes, e o usurpador Magno Máximo assassinou Graciano em Lion (França) e instalou sua corte em Trèveres (Trier, Alemanha), esperando o reconhecimento de seu poder por parte de Teodósio, que governava o oriente desde 379.

Teodósio I (346-395), filho de Flávio Teodósio, um general de Valentiniano I, condenado à morte por Valentiniano I, recebeu de Graciano a parte oriental do Império em janeiro de 379. Seus primeiros anos de governo estiveram ligados aos problemas com os invasores godos. Em 382, firmou um tratado com eles, por meio do qual poderiam se estabelecer em território romano, porém deveriam integrar-se ao exército como federados. Mais tarde, Teodósio assina um acordo com os persas sassânidas, poderoso império rival de Roma no século IV.

Durante o ano de 387, Máximo invade a Itália, destronando Valentiniano II, que consegue refúgio no Oriente com Teodósio. Em resposta, o Imperador do Oriente marchou contra Máximo em 388, vencendo o usurpador, que morreu em combate. Restabeleceu assim, Valentinano II como Imperador do Ocidente.

Um ano depois, Valentiniano aparece morto, supostamente por suicídio. Arbogasto, general franco, escolhe Flávio Eugênio como Imperador. Eugênio, pagão, tenta restaurar o culto aos deuses, sendo derrotado e morto pelas tropas de Teodósio em Aquileia. O Império é unificado pela última vez. Toda a corte é assentada em Milão, nova capital.

Teodósio morreu na cidade de Milão em janeiro de 395. Foi o último imperador que, graças à sua habilidade pessoal e sua força de caráter, exerceu um controle sobre o Império Romano. Deixou o poder nas mãos de seus filhos Arcádio (377 ou 378-408), em Constantinopla, e Honório (387-423), em Milão. Apesar de nenhum dos dois ter a personalidade ou o carisma do pai, a sucessão transcorreu sem resistência.

Considerações Finais

Arcádio morreu em 408, e seu filho Teodósio II, coimperador desde 402, com um ano de idade, o sucedeu. Em 423, morre Honório, depois de um reinado de atividade nula. Em 425, Valentiniano III, filho de Gala Placídia, irmã de Honório, é instituído Imperador do Ocidente. Com apenas seis anos de idade, a regência coube à sua mãe, e a partir de 433, o poder passou para o magister militum (mestre dos soldados) Flávio Aécio. Nesse período, os Vândalos instalaram-se no império, e os hunos cruzam as fronteiras.

A continuidade dinástica não impediu as rivalidades políticas entre os partidários de um ou outro imperador. Mas, apesar da pouca idade dos governantes, a influência dos seus generais e ministros foi de suma importância para uma efêmera estabilidade política nesses tempos extremamente difíceis para o Império Romano.

Nesse período ocorreram menos desordens do que nos anteriores. Efetivamente após ter conhecido uma dinastia constantiniana e uma valentiniana, o século V conhece uma dinastia teodosiana, ambas interligadas entre si pelo casamento dos seus membros.

Começa a surgir um sentimento de lealdade monárquica, apesar de uma série de transtornos. A melhor prova disso é que, apesar de toda a carência militar e política, os filhos de Teodósio I morreram de morte natural.

A idéia familiar foi suficientemente forte para que, de uma dinastia a outra, se procurasse criar um laço por meio do matrimônio. Valentiniano casa o filho Graciano, então como dezesseis anos, com a neta de Constantino, de treze anos. E Teodósio, por sua vez, desposou a filha de Valentiniano.

Lentamente, vai-se instalando nas vastas regiões imperiais um respeito ao imperador como governante supremo. Por este motivo, não podemos considerar completamente ineficazes os esforços das dinastias do Baixo Império para regularizar a transmissão de poder, uma herança que os reis medievais vão aproveitar muito bem, para legitimar e consolidar seus reinos.

Uma nova capital é efetivada, Constantinopla, antiga colônia grega de Bizâncio. A sua vida política, econômica e social, aos poucos vai se fortalecendo, rivalizando com a própria Roma. A idéia de Constantino era enfraquecer o incontrolável Senado Romano, estabelecer um eixo político-econômico mais próximo aos Bálcãs, protegendo a área contra uma futura invasão persa.

As bases das reformas de Constantino foram mantidas pelos seus sucessores. A aliança com a Igreja, legítima herdeira de Cristo e do Império, tornou-se cada vez mais forte. Com isso, está formado uma das bases do pensamento político medieval. O Sumo Pontífice, bispo de Roma, e as dinastias germânicas.
-----------------------
Agradecimentos ao meu grande amigo
Pedro Paulo Funari - historiador