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terça-feira, 17 de maio de 2011

Flávio Josefo (Flavius Josephus) Iossef / Josefo

Flávio Josefo (Flavius Josephus), em hebraico: Iossef ben Matitiahu ha-Cohen, nasceu em 37 ou 38 E.C., falecendo por volta do ano 100 E.C. Foi político, soldado e historiador.

Nascido em Jerusalém, de família sacerdotal, foi criado na melhor tradição da Judéia e recebeu boa educação geral. Segundo sua autobiografia, de onde procedem todas as informações a seu respeito, o pai ministrou-lhe minuciosa iniciação nos textos tradicionais e legais da Torá; mais tarde, procurou por iniciativa própria abeberar-se nos ensinamentos dos saduceus, fariseus e essênios, decidindo-se, a seu dizer, pelo farisaísmo. Aos 26 anos foi enviado em missão menor a Roma onde logrou o favor da imperatriz Pompéia, fato que posteriormente lhe seria de grande utilidade.

Chegou a ser um dos chefes do heróico e reduzido exército que tentou defender a região contra os invasores romanos. Terminou seus dias em Roma, onde, de 70 até o fim do século, dedicou-se à história e à apologética: história da catástrofe nacional que havia destruído o Segundo Templo e despovoado a Judéia, e a história monumental de uma nação vencida mas altiva, que tem para si a antigüidade, portanto, a nobreza; apologia dessa nação caluniada até em Roma pela ralé alexandrina, e apologia de si mesmo, suspeito tanto aos olhos de seus correligionários, como aos olhos dos cortesãos romanos.

Flávio Josefo. Esse nome híbrido de que a tradição o dotou reflete todas as contradições do personagem, a sina do homem e o destino póstumo do historiador. Josefo (Iossef) é o prenome bíblico que o pai lhe deu ao nascer. Quando, mais tarde, o imperador Vespasiano fez dele um cidadão romano, o prenome tornou-se um cognome associado ao nome de família do benfeitor que o libertou após tê-lo aprisionado.

Soldado, político e traidor

Em 64, Josefo foi a Roma, em missão semi-oficial, para libertar sacerdotes judeus presos por Nero. Esta viagem que Josefo fez a Roma desempenhou um papel importante na sua vida. Ele ficou fascinado pela potência romana e convencido de que os romanos eram invencíveis. Ao regressar, tentou em vão dissuadir seus compatriotas de empreender a guerra contra os romanos. Não obstante, quando irrompeu a revolta, ele aceitou organizar a resistência judaica na Galiléia. Em conseqüência, quando os judeus da Palestina se revoltaram e reconquistaram temporariamente a independência em 66, foi considerado especialista em questões políticas e mandado à Galiléia, como representante do governo revolucionário.

Ao irromper a grande revolta da Judéia, em 66, colocou-se ao lado dos insurretos e foi designado pelo San’hedrin governador militar da Galiléia, assumindo o supremo comando militar. Desaveio-se violentamente com os extremistas patrióticos, acusado de tendência à contemporização. Depois de participar de vários combates, foi aprisionado com uns quarenta homens da sua tropa; e, talvez num acesso de terror, sacrificou-os traiçoeiramente, com exceção de um só, para salvar a própria pele.

De Iossef a Josefo – a traição

Julho de 67 da nossa era. Há 14 meses desencadeia-se a guerra entre judeus e romanos. Depois de 47 dias de cerco, as tropas de Vespasiano conseguem tomar e destruir Jotápata, uma praça forte na Galiléia. Josefo, com 30 anos de idade, defensor da cidade e chefe dos revoltosos da Galiléia, refugia-se numa cisterna profunda junto com 40 companheiros. O esconderijo é descoberto. Vespasiano convida Josefo a se render, prometendo-lhe que sua vida será salva. Diante de seus companheiros, aceitar tal proposta seria uma traição: todos prefeririam morrer a se entregar”. Josefo dissuadiu-os do suicídio e propôs estrangularem-se reciprocamente segundo uma ordem determinada pela sorte. Restaram vivos somente ele e um companheiro, como ele mesmo tenta explicar, constrangido, em Guerra III, 387-391: “Não sei se deveríamos dizer que por efeito do acaso ou da Providência Divina”. Teria havido um truque ao tirar a sorte? Josefo se entrega a Vespasiano e prediz que ele ostentaria em breve a púrpura imperial; quando isto se confirmou, foi liberto, como recompensa por sua previsão. O ex-prisioneiro passou para o lado dos vencedores. Terminada a guerra, tornou-se cidadão romano. De acordo com o costume local, adotou o nome de família de seu protetor, Flávio, de onde resultou o cognome pelo qual ficou conhecido na história e na literatura: Flávio Josefo. A partir daí, tornou-se caudilho romano; depois do esmagamento da revolta, foi contemplado com algumas propriedades confiscadas na Judéia, mas viveu em Roma o resto da vida. Rico e considerado, de agora em diante passaria dias felizes na capital imperial.

Ao que tudo indica, depois de ir com o imperador a Alexandria, retornou à guerra da Palestina, na esteira de Tito, testemunhou o cerco e a queda de Jerusalém, acompanhando o vencedor até Roma. Fixou-se na capital do Império, onde sob o patrocínio de Vespasiano, Tito e Domiciano, escreveu a maior parte de seus trabalhos, dos quais restam quatro.

É difícil determinar com precisão o papel que teve nesses acontecimentos, pois a única fonte disponível são seus próprios escritos, nos quais tentou, simultaneamente, demonstrar sua integridade como líder patriótico e sua devoção à causa de Roma. Contudo, são essas as fontes mais autorizadas da história dos judeus, nos primeiros séculos antes e depois do início da E. C., e da guerra de 66-70.

Remorso em sua obra

A maneira como salvou sua vida deixou, sem a menor dúvida, remorsos na alma de Josefo. Desta dor na consciência nasceu uma obra literária. Aos olhos dos que o acusavam de traição, Josefo quis justificar sua passagem para o campo romano e apresentar sua explicação sobre a guerra judaica. Os judeus destruíram-se a si mesmos por causa de suas divisões sectárias. Deus os castigou e deu aos romanos uma força irresistível. Este é o tema de “A guerra dos Judeus” cuja edição aramaica desapareceu. A versão grega, ampliada, surgiu entre 76 e 79. Josefo relatou os acontecimentos de que foi testemunha; esclareceu-os, porém, remontando ao passado até a revolta dos Macabeus, no século II antes da nossa era.

Não é por acaso que o seu primeiro livro é “A Guerra Judaica”. Além de relatar os acontecimentos em que se viu envolvido e cuja decisão lhe parecia, acertadamente, fazer história na vida de seu povo, tratou-se, para ele, de justificar sua própria atuação, que era alvo de violentas acusações de parte dos zelotas e outras correntes judaicas. Assim, não são de admirar o tom polêmico, os exageros laudatórios e as deformações subjetivas dessa obra que, de outro modo, constitui um documento vivo e compreensivo da luta, uma das poucas fontes sobre as particularidades de seu desenvolvimento e da derradeira resistência de Jerusalém ao gládio romano. Josefo a compôs originalmente em aramaico, sobretudo para os judeus da Babilônia; encorajado a traduzi-lo para o grego, ele próprio o fez com o auxílio de estilistas helênicos, e foi esta versão que chegou até nós. A seguir viu-se instado a expandir o relato numa história do seu povo, desde o começo até o seu tempo. Daí surgiram as Antigüidades Judaicas, em vinte livros. Obra muito desigual na matéria que apresenta, suas narrativas fabulosas, contradições e erros mesclam-se com dados preciosos, que denotam conhecimentos aprofundados da história e das tradições judaicas e que a arqueologia moderna vem comprovando de maneira às vezes surpreendente. Ainda hoje ela é não só um repositório literário, um clássico da historiografia antiga, como um dos principais anais do passado de Israel.

A opção política de Josefo não significou abandono de suas convicções religiosas judaicas. De fato, ele sofria muito por causa da ignorância e do desprezo que o mundo greco-romano alimentava em relação aos judeus e à Bíblia. Por isso, esforçou-se para tornar conhecidas entre os gregos tradições igualmente veneráveis e mais antigas do que as deles nas suas Antigüidades Judaicas (ou História Antiga dos Judeus), que apareceram em 93 ou 94.

Justo de Tiberíades, antigo companheiro de luta e seu rival na Galiléia, contestou o papel de Josefo na guerra; imediatamente, este se justificou, publicando sua Vida (Autobiografia), que ele acrescentou como um apêndice a uma nova edição das Antigüidades, no fim do século I, a qual é, acima de tudo, uma autodefesa política com algumas notícias sobre a vida do autor, no começo e no fim do livro.

Parte do tormento que lhe ia na alma transparece em textos como o discurso que Josefo põe nos lábios de um dos chefes, seu companheiro, que se manteve leal até o fim. Vigorava no mundo greco-romano um considerável anti-semitismo, particularmente entre os intelectuais pagãos que não entendiam a religiosidade obstinada dos judeus.

Gregos de Alexandria, entre eles um certo Apion, questionavam as afirmações de Josefo nas Antigüidades sobre o povo judeu, não atestadas nas fontes gregas. O testemunho da Bíblia não tem valor. O anti-semitismo mascara a realidade dos costumes judaicos. Então Josefo retoma o trabalho, para demonstrar a antigüidade e a tradição bíblica e para defender os valores do judaísmo, num livro que chegou até nós sob o título de Contra Apion. Trata-se de uma de suas melhores realizações literárias. Escrita com grande veemência, é uma peça de defesa apaixonada, mas autêntica. Não obstante o seu tom, contém na segunda parte um esforço compreensivo das concepções de vida e dos costumes religiosos e legais dos judeus que, colocados sob a égide da legislação revelada de Moisés e da polis teocrática, inspirada diretamente nos Mandamentos de Deus, encontraram na sua Torá as noções que são também as dos mais sábios dentre os gregos, com a vantagem de terem sido convertidas em prática preceitual e religiosa, argumenta Flávio Josefo.

O espírito apologético impregna todos esses trabalhos que se propunham também a sustentar a causa judaica ante a freqüente hostilidade do mundo greco-romano. Neste sentido, porém, a sua obra mais representativa é o tratado Contra Ápio ou da Antigüidade do Povo Judeu, onde procede à apologia do mosaísmo diante das investidas do gramático alexandrino, que foi o expoente do anti-semitismo clássico.

O Historiador: sua obra e permanência

Se ele houvesse levado em conta exclusivamente os judeus, com grande possibilidade a obra de Josefo jamais teria chegado até nós. Ele só é citado na literatura judaica a partir do século X. Em contrapartida, seus escritos interessaram vivamente os cristãos, que, desde cedo, começam a citá-lo e a utilizá-lo: Orígenes, Eusébio de Cesaréia, Jerônimo e muitos outros em seguida, que viram em Josefo o complemento das Escrituras, particularmente do Novo Testamento. Como os Evangelhos ou os Atos, Josefo fala de Herodes e de seus descendentes, dos procuradores da Judéia, Pôncio Pilatos, Félix. Ainda fala de João Batista, de Jesus e de Tiago. Aliás, a preocupação de Josefo de mostrar a antigüidade da religião judaica vai ao encontro das próprias preocupações da apologética cristã: Moisés, que os cristãos, tanto quanto os judeus, afirmavam ser anterior aos filósofos gregos. Era a prova da veracidade da revelação bíblica e do cristianismo.


Muitos enfatizaram os limites da obra de Josefo, seu pouco rigor cronológico, seu exagero nos números quando se referem a pessoas, sua vontade constante de se defender ou de se valorizar, seus preconceitos de classe etc. Seu comportamento durante a guerra judaica, o proveito que ele tirou de sua ligação com os vencedores não o tornam muito simpático. É preciso reconhecer, entretanto, que o apego de Josefo ao judaísmo valeu para conservar acontecimentos e ensinamentos que só ele transmite. “Sem Josefo, não saberíamos quase nada a respeito do destino do povo judaico durante os dois últimos séculos de sua existência nacional, nada do meio histórico em que nasceu o cristianismo” (Th. Reinach, em 1930). Sem dúvida alguma, as descobertas de Qumram matizam hoje esta afirmação.

Essa imensa obra transmitida em língua grega, foi lida e relida incessantemente no Ocidente cristão, desde a Renascença até o século XIX. Somente o século XX, esquecido das humanidades, afastou-se dela. Houve um tempo em que, na França, na Holanda, na Inglaterra, cada família cristã possuía seu Flávio Josefo, assim como possuía sua Bíblia, e a guarda de um in-fólio que continha a Guerra ou as Antigüidades tinha tanto direito quanto um Evangelho a receber os nomes dos filhos recém-nascidos. A cristandade via nele menos o “Tito Lívio grego”, como o chamava Jerônimo, do que o único historiador judeu que mencionou a existência de Cristo, num trecho aliás muito curto e controverso. Ele era também um maravilhoso contador da história santa, testemunha do que foi, segundo os cristãos, o seu episódio final: a punição do povo condenado às lagrimas e à errância eternas. É a esse mal-entendido que a obra de Flávio Josefo deve sua sobrevivência.

Traído?

Talvez o fundamento principal da fama duradoura de Josefo como historiador seja o respeito excepcional em que suas obras eram tidas pela Igreja, desde os tempos mais remotos. Este fato devia-se a que ele tinha sido quase contemporâneo de Jesus e dos Apóstolos, na Judéia. Seus relatos (assim consideram muitos modernos eruditos, tanto cristãos quanto judeus) foram textualmente alterados, nos primórdios da era cristã, por ultrazelosos propagandistas da igreja, a fim de obter corroboração histórica para a missão de Jesus, como o Cristo ou Messias, uma vez que não havia outro testemunho histórico contemporâneo e externo que o comprovasse.

No século XVIII, Padre Hardouin, jesuíta francês, irritado com esse autor, popular demais para o seu gosto em país protestante e ainda por cima traduzido para o francês por um jansenista, Robert Arnauld d’Andilly, impôs a ortografia Josefo para distinguir o historiador antigo dos santos de mesmo nome. Esse foi, com certeza, o único legado à posterioridade desse curioso jesuíta, para quem a Eneida não passava de uma alegoria cristã imaginada por um beneditino do século XIII e que professava que Jesus e os apóstolos haviam pregado em latim. Assim criou-se o hábito de reservar o nome Josefo ao historiador judeu, que os ingleses chamam, à maneira latina, de Josephus.

Para o judaísmo, Josefo, embora nunca tenha renegado sua origem e sua fé, passou por filho perdido: por ter sido suspeito de traição; por ter ido viver em Roma, no palácio do vencedor; por ter escrito e difundido sua obra em grego; por ter sido recuperado pelo cristianismo desde os primórdios da Igreja, como um outro judeu, o filósofo Fílon de Alexandria.

Confiscado pelos teólogos, Josefo foi também considerado perdido, em grande medida, para a história romana, à qual, porém, ele dá uma preciosa contribuição. Para abordar a época de que é contemporâneo, os historiadores de Roma sempre se serviram abundantemente dos autores latinos, sobretudo Tácito e Suetônio, restringindo Josefo a um papel de cronista dos assuntos da Judéia. Estes estão tão estreitamente relacionados com os assuntos de Roma, que dois generais vitoriosos da Judéia, Vespasiano e Tito, se sucederam à frente do império. Sobre as circunstâncias da ascensão ao trono, do caráter, do círculo de pessoas, do comportamento em campanha desses dois personagens, o testemunho de Josefo, que, ao contrário dos outros autores, os acompanhou de perto dia a dia, é insubstituível. Mas, enquanto os autores latinos, estudados de maneira incansável no Ocidente, forneciam aos escritores a matéria de inúmeras tragédias, a obra de Josefo, que em praticamente cada página sua podia inspirar uma tragédia, foi deixada de lado pelos dramaturgos.

Narrador de uma terrível tragédia, Josefo também evoca a sociedade judaica que existia antes desta, e, embora o nascimento do cristianismo não o tenha atingido particularmente, ele nos faz penetrar em seu meio de origem. Não há um autor moderno de uma história da Palestina no tempo de Jesus ou de uma história dos judeus no império romano que não o tenha plagiado despudoradamente. Alguns não hesitaram em atacar sua preciosa fonte para melhor realçar uma hipotética contribuição original.

Caluniado ou pelo menos suspeito de parcialidade – que historiador não o é quando narra fatos vividos? – Josefo tem direito ao lugar que reivindicava para si mesmo com justo orgulho: “O historiador digno de louvores”, escreve em seu prefácio ao relato da guerra, “é aquele que registra fatos cuja história nunca foi escrita e que faz a crônica de seu tempo para as gerações futuras”.

Conclusão: o Tribunal da História

Em sua vida póstuma milenar, Flávio Josefo assumiu os rostos mais diversos. Cristão sem saber, mago, matemático, defensor da fé ou semeador de dúvida, foi assim que ele foi apresentado desde a Antigüidade até os Tempos Modernos. Há um século, aproximadamente, os historiadores que o utilizam com gratidão como fonte principal para o período que ele cobre em seus textos, sentem-se como que obrigados a fazer por Josefo o que não lhes ocorreria fazer por nenhum outro historiador antigo: julgar o homem. A parcialidade evidente do autor da Guerra os leva a isso. Não só o ardente F. de Saulcy, mas também o austero Emil Schürer, emitem sua opinião indignada ou severa: “Ninguém se sente inclinado a justificá-lo”, escreve este último. “A vaidade e a presunção são os principais componentes de seu caráter. Mesmo que ele não fosse o traidor vil e desprezível que confessa mais tarde ser em sua Autobiografia, pelo menos transferiu para os romanos sua obediência e para a família dos Flavianos sua fidelidade, com mais rapidez e tranqüilidade de alma do que convinha a um israelita fingindo lamentar-se sobre a destruição de seu povo”. Théodore Reinach escreve que Josefo não é “nem um grande espírito, nem um grande caráter, mas um composto singular de patriotismo judaico, da cultura helênica e de vaidade”. Recentemente, Pierre Vidal-Naquet acentuou “a vaidade, o feroz espírito de classe, o cinismo” de sua personalidade, e, confrontando as traições de Tibério Júlio Alexander, do apóstolo Paulo e de Josefo, dava a palma do traidor a este último.

Paralelamente, nos círculos sionistas redescobria-se Josefo com um certo constrangimento. Ter-se-ia preferido um herói para contar a história de Massada. Em vez disso, tratava-se de um adversário ferrenho dos heróis cuja coragem se admirava. Em 1937, um grupo de estudantes de Direito reabriu o Dossiê de Flávio Josefo e pronunciou a condenação do traidor. Em 1941, em plena guerra, um grupo de jovens resistentes, de inspiração sionista, reagindo como patriotas franceses e judeus, decretou a condenação de Flávio Josefo por colaboração. No Estado de Israel, não foi sem hesitação que deram seu nome a uma rua, o que é uma forma de apreciar a dívida histórica contraída em relação a ele, o que quer que se pense de sua personalidade.

A história narrada por Josefo está presente no espírito de jornalistas e de escritores, que se referem a ela sempre que as divisões políticas internas se tornam violentas demais, graças ao contra-senso que pode facilmente ser feito sob o título habitual de sua obra, a Guerra dos Judeus, que preferimos chamar de a Guerra da Judéia. Sem realmente reabilitar Josefo, a esquerda militante assimila de bom grado os zelotes, partidários do Grande Israel.

A longa história póstuma de Flávio Josefo deve tornar-nos desconfiados em relação a todas as utilizações que podem ser feitas de seu destino e de sua obra, mais particularmente da Guerra. Basta lembrar que Saulcy não via nada mais semelhante a ela do que o terror sob a Revolução, que Reinach a via como uma imagem antecipada do cerco de Paris e da Comuna, e que até a comparação com a Revolução Russa foi feita. Poder-se-ia igualmente, nos dias de hoje, mencionar a situação libanesa. A verdade é que toda guerra civil, todo confronto fratricida pode lembrar a obra de Josefo para aqueles que a leram.

Não é de causar espanto que foi um judeu alemão, Lion Feuchtwanger, convencido pela Primeira Guerra Mundial do horror dos conflitos armados, da ascensão do nazismo e do horror do nacionalismo, que tenha empreendido a reabilitação de Josefo. Em sua trilogia, Josefo torna-se um personagem atormentado por todos os problemas de identidade e pelas aflições dos judeus da Diáspora, aspirando a ser um verdadeiro cidadão do mundo. Segundo um crítico, seria Stefan Zweig que foi descrito através dele. Observemos apenas que costuma-se referir a Zweig (autor em 1916 de um drama intitulado Jeremias) e a Flávio Josefo, como o profeta Jeremias.

Esbocemos um retrato de Josefo: um rapaz brilhante, confiante em sua estrela; um intelectual eloqüente, que não gosta de derramamento de sangue; um ambicioso que não quer morrer aos trinta anos; um espírito mais político do que guerreiro; um racionalista que odeia a exaltação mística; um cortesão por senso de compromisso; e, com tudo isso, um judeu profundamente fiel.

Para ser um herói, era preciso que ele tivesse morrido em Jotapata, sem ter escrito nada, mas deste fato a posteridade jamais teria tido consciência. Devemos lamentar que ele não tenha sido um herói?

Em síntese, suas obras são as seguintes:

A Guerra dos Judeus, 7 tomos, escrita nos últimos anos do reinado de Vespasiano;

A Antigüidade dos Judeus, 20 tomos, a história dos judeus desde o começo até a deflagração da guerra contra Roma, escrita em 93;

Autobiografia, defendendo-se das acusações de um historiador rival, Justo de Tiberíades, de que teria sido responsável pela guerra judaica; o relato que aí faz da própria participação nos acontecimentos de 66-70 difere, em muitos aspectos, do relato consignado no primeiro desses trabalhos;Contra Apion, 2 tomos, defendendo o povo judeu das acusações do sofista alexandrino Apion.





quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

General Tito Vespasiano, o homem que levou Jesus às lágrimas( Lucas 21:23)

Tito Flávio Vespasiano Augusto (em latim Titus Flavius Vespasianus Augustus) (Roma, 30 de Dezembro de 39 — Aquae Cutiliae, Sabina, 13 de Setembro de 81) foi imperador romano entre os anos de 79 e 81. Foi o filho mais velho e sucessor de Vespasiano.

Antes de ser proclamado imperador alcançou renome como comandante militar ao servir sob as ordens do seu pai na Judeia, durante o conflito conhecido como a Primeira Rebelião Judaica (67 — 70). Esta campanha sofreu uma breve pausa após a morte do imperador Nero (9 de junho de 68), quando o seu pai foi proclamado imperador pelas suas tropas (21 de dezembro de 69). Neste ponto, Vespasiano iniciou a sua participação no conflito civil que assolou o Império durante o ano da sua nomeação como imperador, conhecido como o ano dos quatro imperadores. Após essa nomeação, recaiu sobre Tito a responsabilidade de acabar com os judeus sediciosos, tarefa realizada satisfatoriamente após sitiar e destruir Jerusalém (70), cujo templo foi demolido no incêndio. A sua vitória foi recompensada com um triunfo e comemorada com a construção do Arco de Tito. Seu pai o associou, a partir de 71, ao poder tribunício.

Sob o reinado do seu pai, Tito coletou receios entre os cidadãos de Roma devido ao seu serviço como prefeito do corpo de guarda-costas do imperador, conhecido como a Guarda Pretoriana, bem como devido à sua intolerável relação com a rainha Berenice de Cilícia. Apesar destas faltas à moral romana, Tito governou com grande popularidade após a morte de Vespasiano a 23 de junho de 79 d.C. e é considerado como um bom imperador por Suetônio e outros historiadores coetâneos.

O mais importante do seu reinado foi o seu programa de construção de edifícios públicos em Roma (Tito finalizou o anfiteatro Flávio, conhecido habitualmente como o Coliseu). A enorme popularidade de Tito também foi devida à sua grande generosidade com as vítimas dos desastres que sofreu o Império durante o seu breve reinado, a erupção do Vesúvio em 79 d.C. e o incêndio de Roma de 80 d.C. Após dois anos no cargo, Tito faleceu sofrendo de febre, a 13 de setembro de 81 d.C. A grande popularidade de Tito fez com que o Senado o deificasse.

Prometia ser um imperador à altura do seu pai, mas o seu breve reinado foi marcado por catástrofes. Em 24 de Agosto de 79, o vulcão Vesúvio destruiu as cidades de Pompeia e Herculano e, em 80, Roma foi de novo consumida por um incêndio.

Estabeleceu um governo indulgente, respeitando os privilégios do Senado e realizando grandes obras públicas. Umas das mais importantes que fez como imperador foi inaugurar, em 80 d.C., a obra que seu pai, Vespasiano, iniciara, o anfiteatro Coliseu, embora este ainda estivesse incompleto.

Tito foi sucedido pelo seu irmão menor, Domiciano.

Juventude

Tito nasceu em Roma, filho primogénito de Tito Flávio Vespasiano e Domitilla a Maior. Tito teve uma irmã chamada Domitila a Menor e um irmão, chamado Tito Flávio Domiciano, embora conhecido habitualmente com o nome de Domiciano.

As décadas de guerra civil durante o século I a.C. contribuíram enormemente para o decaimento da velha aristocracia de Roma, que fora gradualmente substituída no poder por uma nova nobreza provincial durante a primeira parte do século I. A família Flávia surgiu da obscuridade na Dinastia Júlio-Claudiana, adquirindo a riqueza e influência necessárias para chegar ao poder. O bisavô de Tito, Tito Flávio Petro, serviu como centurião sob Cneu Pompeu Magno durante a Segunda Guerra Civil da República de Roma. A sua carreira militar terminou quando Pompeu sofreu uma derrota esmagadora às mãos de Júlio César na Batalha de Farsália (48 a.C.).Contudo, Petro conseguiu melhorar a sua situação casando-se com uma tértula sumamente rica, cuja fortuna garantiu a ascensão do filho de ambos, Tito Flávio Sabino I, o avô de Tito. O mesmo Sabino amassou uma grande riqueza como arrecadador de impostos na Ásia e como banqueiro na Helvécia. Casando-se com Vespásia Polião aliou-se com uma das famílias patrícias de maior ascendência aristocrática. A riqueza e a linhagem de Vespásia Polião e Tito Flávio Sabino I garantiram a ascensão dos seus filhos, Vespasiano e Tito Flávio Sabino II, à classe senatorial.

A carreira política de Vespasiano incluiu os cargos de questor, edil, pretor, e culminou em um consulado em 51 d.C., o ano em que nasceu Domiciano. O pouco conhecido da juventude de Tito chegou através dos escritos de Suetônio. O historiador relata que o futuro imperador foi criado na corte imperial junto a Britânico, o filho do imperador Cláudio, que seria assassinado por Nero em 55 d.C. Poucos detalhes chegaram sobre a sua educação, mas aparentemente mostrou pronto uma grande inclinação pelas artes militares, era um poeta experto e um grande orador tanto em grego quanto em latim.

Carreira militar

Tito serviu como tribuno militar na Germânia entre 57 d.C. e o 59 d.C. e na Britânia (60 d.C.) chegando com os reforços necessários após a revolta de Boudica. Em 63 d.C. regressou para Roma e casou-se com Arrecina Tértula, filha de um antigo prefeito da Guarda Pretoriana. A mulher de Tito faleceria em 65 d.C. e este tomou uma nova mulher chamada Márcia Funila que pertencia a uma família aristocrática. Porém, esta família era disposta a unir-se à oposição ao Imperador Nero. O seu tio Quinto Márcio Barea Sorano e a sua filha Servília faleceram após a fracassada conspiração de Caio Calpúrnio Pisão em 65 d.C. Alguns historiadores modernos teorizam que Tito se divorciou da sua esposa devido à conexão da sua família com a conspiração. Não voltou a casar-se de novo. Tito parece ter tido muitas filhas, sendo ao menos uma delas de Márcia Furnila. A única que chegou à idade adulta foi Júlia Flávia, que pôde ser filha de Arrecina, pois a mãe desta também se chamava Júlia.[13] Durante este período Tito dedicou-se à justiça, sendo questor.

Campanha da Judéia

Em 66 d.C. os judeus da Província de Judeia rebelaram-se contra o Império Romano. Céstio Galo, o governador da Síria, foi derrotado na batalha de Beth-Horon e forçado a se retirar de Jerusalém. O rei pró-romano Herodes Agripa II e a sua irmã Berenice fugiram para a cidade de Galileia. Nero designou a Vespasiano para esmagar a rebelião, este marchou imediatamente à região com a V e X legiões. Vespasiano uniu-se a Tito e à XV legião em Acre. Com uma força de 60.000 soldados profissionais, os romanos dispuseram-se a varrer a rebelião através de Galileia e marchar sobre Jerusalém.

A Guerra foi coberta pelo historiador judeu-romano Flávio Josefo no seu trabalho A guerra dos judeus. Josefo serviu como comandante na defesa da cidade de Jotapata quando o exército romano invadiu Galileia em 67 d.C. Após um duro sítio de 47 dias, a cidade caiu, tomando uns 40.000 prisioneiros, que foram assassinados, enquanto o restante dos resistentes se suicidaram. O próprio Josefo rendeu-se a Vespasiano, que o liberou ao observar a sua inteligência. Durante 68 d.C. toda a costa e o norte da Judeia caiu sob o controle romano. Esta expedição serviu para que Tito se distinguisse como um general experto.

Ano dos quatro imperadores

A última e importante fortaleza que resistia era a cidade judaica de Jerusalém. Contudo, a campanha sofreu uma pausa quando chegaram notícias de Roma da morte do imperador Nero e da nomeação de Galba pelo Senado como sucessor. Vespasiano decidiu enviar Tito a apresentar os seus respeitos ao novo imperador. Contudo, quando Tito se aproximava à cidade, recebeu notícias da morte de Galba e da nomeação de Otão como sucessor, além da marcha para Roma desde a Germânia de Vitélio. Não querendo arriscar-se a ser capturado por nenhum dos dois bandos, Tito cancelou a viagem e voltou a unir-se ao seu pai na Judeia.Enquanto isso, Otão fora derrotado na batalha de Bedriacum e suicidara-se tão nobremente que emocionara Roma. Quando chegaram notícias aos exércitos de Judeia e Egito, estes decidiram nomear Vespasiano como imperador a a 1 de julho de 69 d.C. Vespasiano aceitou, e mediante intensas negociações levadas por Tito, uniu-se ao governador da Síria, Caio Licínio Muciano, formando uma força muito importante no Oriente . Esta força mudou-se para Roma liderada por Muciano, enquanto Vespasiano marchou para Alexandria, ficando Tito ao comando para que acabasse com a rebelião. No fim de 69 d.C. as tropas de Vitélio foram derrotadas e o Senado declarou Vespasiano como imperador a 21 de dezembro, finalizando deste jeito o Ano dos quatro imperadores.

Sítio de Jerusalém

Enquanto isso, os judeus encontravam-se num conflito civil entre eles, dividindo a resistência entre os sicários, liderados por Simão Bar Giora e os fanáticos conduzidos por João de Giscala. Tito aproveitou então a oportunidade de começar o assalto sobre Jerusalém. Ao exército romano uniu-se a XII Legião, que fora derrotada sob o comando de Céstio Galo. Desde Alexandria, Vespasiano enviou Tibério Júlio Alexandre para que agisse como segundo de Tito. Tito rodeou a cidade no comando de três legiões (V, XII e XV) sobre o lado oeste e enviou a (X) sobre o Monte das Oliveiras a leste. Tito cortou os alimentos e a água à cidade, depois permitiu a entrada de alguns judeus para celebrar a Páscoa negando depois a saída. O exército romano era acossado continuamente pelos judeus e numa ocasião estes quase capturaram Tito.

Após as tentativas de Josefo de negociar uma rendição, os romanos retomaram as hostilidades e destroçaram depressa as primeiras fases da muralha. Para intimidar a resistência, Tito crucificou os desertores judeus em torno das muralhas. Neste ponto os judeus estavam a ponto de se renderem por causa da fome e os romanos aproveitaram a debilidade para irrompir na cidade após quebrar a última fase da muralha. Os romanos penetraram na cidade, capturaram a fortificação Antônia e iniciaram um assalto frontal sobre o Templo. Segundo Josefo, Tito ordenara que o Templo não fosse destruído, porém, durante a batalha pela cidade, um soldado lançou uma antorcha para o interior do Templo e este ardeu depressa. O cronista Sulpício Severo, no entanto, afirma que Tito ordenou a destruição do Templo. Fosse o que for, o Templo foi totalmente destruído e a cidade saqueada, após o qual os soldados proclamaram-no Imperator no campo de batalha. Segundo Josefo 1.100.000 pessoas foram assassinadas durante o sítio, destes a maioria eram judeus. Fontes antigas informam de que 97.000 pessoas foram capturadas e escravizadas, incluindo Simon Bar Giora e João de Giscala. Muitos escaparam a locais próximos do Mediterrâneo. Aparentemente Tito recusou aceitar uma Coroa de erva (condecoração militar romana) alegando que "não há mérito em vencer umas gentes abandonadas pelo seu próprio Deus".

Herdeiro de Vespasiano

Incapaz de navegar para a Itália durante o Inverno, Tito celebrou uns esplendorosos jogos na Cesareia Marítima e Berytus, depois viajou para Zeugma do Eufrates, onde se apresentou com uma coroa a Vologases II de Partia. Visitando Antioquia confirmou os direitos tradicionais dos judeus naquela cidade. No seu caminho para Alexandria, deteve-se em Mênfis onde consagrou o touro sagrado de Ápis portando uma diadema. Esta diadema era para os romanos um símbolo de realeza. Segundo Suetônio estes fatos causaram uma grande consternação em Roma, onde se temia que se rebelasse contra Vespasiano. Segundo Suetônio Tito viajou imediatamente para Roma com o fim de dissipar os rumores sobre a sua conduta.

Após a sua chegada à cidade em 71 d.C. recompensou-o com um triunfo. Acompanhado por Vespasiano e o seu irmão Domiciano, desfilou a cavalo pela cidade sendo saudado de maneira entusiasta pela população e acompanhado pelos seus tesouros e prisioneiros de guerra. Josefo descreve-o como uma procissão com ingentes quantidades de ouro e prata. A procissão incluía os prisioneiros de guerra e os tesouros do Templo de Jerusalém. Simão Bar Giora foi executado no Fórum Romano, depois disso, a procissão ufanou-se em realizar os requeridos sacrifícios religiosos no Templo de Júpiter. O Arco do Triunfo de Tito, que fica na entrada do Fórum, comemora a vitória de Tito.

Com Vespasiano declarado imperador, Tito e o seu irmão Domiciano receberam o título de César em nome do Senado. Além de compartir o poder tribunício com o seu pai, Tito foi designado cônsul em sete ocasiões durante o reinado do seu pai e atuou como o seu secretário comparecendo em certas ocasiões no Senado no seu nome. Tito foi designado comandante da Guarda Pretoriana, fazendo mais sólida a posição de Vespasiano como monarca legítimo. Contudo Tito tornou-se infelizmente famoso entre a população devido às suas violentas ações ordenando a execução de pessoas suspeitosas de traição. Quando em 79 d.C., foi destapado um complô dirigido por Aulo Cecina Alieno e Éprio Marcelo para derrocar a Vespasiano. Alieno foi convidado a uma ceia, na que foi assassinado por punhaladas no coração.

Durante as revoltas judaicas, Tito iniciou uma relação com Berenice de Cilícia, irmã de Herodes Agripa II, que colaborara com os romanos durante a campanha e depois/(portanto)logo apoiara a Vespasiano no seu caminho para o trono. No 75 d.C., ela voltou junto a Tito e viveu abertamente com ele no palácio como a sua prometida. Os romanos eram cépticos sobre/(acerca_de:)em_relação) esta relação e a desaprovavam. A pressão do (gentes:)povo/(localidade:)povoação fez com que Tito separara-se dela, porém a sua reputação sofreu muito por causa desta relação.

Imperador

Vespasiano faleceu o 23 de Júnio do 79 d.C. por causa de uma infecção e foi sucedido pelo seu filho Tito. Os romanos, por causa dos seus supostos vícios, temiam que Tito tornara-se em outro Nero. Contra todos os prognósticos Tito demonstrou ao povo que era um imperador eficaz e foi muito querido por todos os romanos. Um dos seus primeiros atos como imperador foi ordenar publicamente suspender os juízos baseados em traição. A lei de traição, ou a lei de maestas, a princípio foi usada para processar os que corruptoramente tinham prejudicado as pessoas e a majestade de Roma por qualquer ação revolucionária. Contudo, sob o reinado de César Augusto, esta lei também fora aplicada para condenar os escritos difamatórios. Sob o reinado de Tibério, Calígula e Nero utilizou-se para justificar as execuções, criando uma rede de informadores que fez tremar a administração romana durante décadas. Tito acabou com esta prática, declarando:

É impossível que eu seja insultado ou ultrajado. Eu nada faço que mereça ser censurado, e não me importam as falsidades que sobre mim sejam escritas. E, quanto aos imperadores que já estão mortos e enterrados, já se vingarão por si mesmos caso alguém lhes fazer algum mal, se em verdade são semideuses e possuem algum poder."

Portanto, nenhum dos senadores foi assassinado durante o seu reinado; Tito manteve assim a sua promessa de que assumiria o cargo de Pontifex Maximus" com o objetivo de manter as mãos limpas". Os informadores públicos foram castigados e desterrados da cidade. Como imperador, Tito ficou conhecido pela sua generosidade, e Suetônio declara que para compreender que ele não tirara nenhuma benefício de ninguém durante um dia inteiro ele comentou, "Amigos, perdi um dia".

Desafios

Embora o seu reinado ficasse livre de conflitos militares ou políticos, Tito teve de afrontar um grande número de desastres. A 24 de agosto de 79 d.C., apenas dois meses depois da sua ascensão ao trono, o Monte Vesúvio entrou em erupção, causando a quase completa destruição das cidades da Baía de Nápoles. As cidades de Pompeia e Herculano foram sepultadas sob toneladas de pedra e lava causando a morte de um grande número de pessoas. Tito designou dois ex-cônsules para dirigir as tarefas de reconstrução e doou uma grande quantidade de dinheiro do Tesoro Imperial a fim de ajudar as vítimas do vulcão. O próprio Tito visitou Pompeia após a erupção e depois outra vez mais no ano seguinte.

Durante a segunda visita, um incêndio que durou três dias estourou em Roma. Embora o grau de destruição não fosse tão desastroso quanto o do grande incêndio do 64 d.C., Dião Cássio registrou uma longa lista de edifícios públicos danificados parcialmente ou consumidos totalmente pelo fogo. Entre eles, estavam o Panteão de Agripa, o Templo de Júpiter, o Diribitorium, o Teatro de Pompeu e a Saepta Júlia, entre outros. De novo Tito pagou do seu bolso os danos ocasionados pelo fogo. Aparentemente houve uma praga durante o incêndio, embora se desconheça a natureza da doença e o número de falecidos.

Enquanto isso, a guerra continuara na Britânia, onde Cneu Júlio Agrícola se internou na Caledônia e dirigiu o estabelecimento de várias fortificações. Como consequência das suas ações, Tito foi aclamado Imperator por decimo-quinta vez.

O seu reinado também sofreu a rebelião de Terêncio Máximo, um de vários Neros falsos que continuaram aparecendo ao longo dos anos 70. Embora Nero seja conhecido nomeadamente como um tirano, chegaram escritos que informam que foi enormemente popular nas províncias orientais durante o seu reinado.

Segundo Dião Cássio, Terêncio Máximo seria parecido com Nero na voz e no aspecto e, como ele, tocava a lira. Terêncio estabeleceu-se na Ásia Menor, mas pronto foi forçado a escapar para além de Eufrates, tomando refúgio entre os Partos. Além disso, as fontes antigas declaram que Tito descobriu que o seu irmão Domiciano conspirava contra ele, mas recusou a opção de assassiná-lo ou desterrá-lo.

Obras Públicas

A construção de Anfiteatro Flávio, conhecido habitualmente como o Coliseu de Roma, começou na década de 70 sob o reinado de Vespasiano e finalizou sob o reinado de Tito nos anos 80. Além das espetaculosas dimensões do Coliseu, que ofereciam um grande entretenimento para a população romana, o Coliseu representava também os sucessos militares dos Flávios durante as guerras judaicas. Os jogos inaugurais duraram cem dias, e foram sumamente elaborados, incluindo combates de gladiadores, pelejas de animais selvagens, representações de batalhas navais (para as que foi inundado o teatro), corridas de cavalos e de carros. Durante os jogos, passaram entre o público umas bolas de madeira, inscritas com vários prêmios com os que os ganhadores eram obsequiados.

Junto ao anfiteatro, dentro do recinto da Domus Aurea de Nero, Tito ordenara a construção de uns novos banhos públicos públicos, que deviam levar o seu nome. A construção deste edifício terminou de pressa para que coincidisse com a finalização das obras do Anfiteatro Flávio.

A prática do culto imperial foi ressuscitada por Tito, embora aparentemente isto encontrou algumas dificuldades, pois Vespasiano não foi deificado senão seis meses depois da sua morte. Para honra e glória da dinastia dos Flávios, começaram as obras do Templo de Tito e Vespasiano que finalizaria durante o governo de Domiciano.

Morte

Ao finalizar os jogos, Tito dedicou oficialmente ao povo a construção do anfiteatro e os banhos, o que deveu ser o seu último ato como imperador. Tito partiu para os territórios dos sabinos mas caiu enfermo e faleceu por causa de umas febres, aparentemente no mesmo imóvel que o seu pai. Segundo parece, as últimas palavras que pronunciou Tito foram "somente cometi um erro". Tito governara o Império Romano durante dois anos, da morte do seu pai em 79 d.C. até a sua morte a 13 de setembro do 81 d.C. Tito foi sucedido por Domiciano cujo primeiro ato foi deificar o seu irmão.

Os historiadores especularam muito sobre a morte de Tito e do erro ao qual se refere nas suas últimas palavras, Filóstrato defende que foi envenenado por Domiciano e que a sua morte fora prognosticada por Apolônio de Tiana. Suetônio e Dião Cássio sustêm que faleceu de causas naturais, mas acusam Domiciano de abandonar o seu irmão enfermo e segundo Dião, o erro ao que Tito refere é o de não ter executado o seu irmão que descobriu a sua participação no complô contra ele.

Legado

Os relatos sobre Tito escritos por historiadores antigos são mais exemplares que sobre qualquer outro imperador. Os escritos que sobreviveram, a maioria de autores contemporâneos a Tito, oferecem uma visão estremadamente favorável para o imperador, sobretudo comparado com o tirânico governo do seu irmão Domiciano.

A obra de Josefo A guerra dos judeus oferece uma visão de primeira mão sobre ,o caráter de Tito durante a rebelião judaica. Contudo a neutralidade do escrito de Josefo foi questionado, pois Josefo estava em dívida com o imperador. Quando Tito chegou a Roma em 71 d.C. Josefo acompanhava-o como parte do seu séquito, e depois o historiador naturalizaria-se cidadão romano e tomaria o nome e o praenomen dos seus padroeiros. Josefo recebeu uma pensão anual e viveu em palácio. Sob o patrocínio do imperador, Josefo escreveu muitas das suas obras mais conhecidas. A obra conhecida como A Guerra dos Judeus inclina-se contra os líderes da rebelião, apresentando o levantamento como uma operação mal organizada e culpando aos judeus de causar a guerra.

Outro contemporâneo de Tito, Públio Cornélio Tácito, que começou a sua carreira pública em 80 d.C. ou 81 d.C. e que deve a sua ascensão à dinastia Flávia, oferece uma visão sobre o imperador Tito. As suas Histórias foram escritas neste período, e publicadas durante o reinado de Trajano. Porém, os cinco primeiros livros deste texto, que abrangem os reinados de Tito e Domiciano não foram preservados.

Suetônio oferece um relato curto mas muito favorável sobre o reinado de Tito na sua obra As vidas dos doze césares. Suetônio ressalta os seus sucessos militares e a sua generosidade; assim, a sua descrição de Tito diz:

"Tito, chamado do mesmo jeito que o seu pai, foi querido por todo o povo romano, coisa muito difícil. Era tão superior que era um prazer para a raça humana, foram estas características o que lhe fizeram ganhar o afeto da população."

Outro autor, Dião Cássio, escreveu a sua História de Roma uns cem anos depois da morte de Tito; Cássio tem uma visão muito similar à de Suetônio, e é muito provável que utilizara a este como a sua fonte principal:

"O fato de as fontes falarem muito bem de ele é devido a que esteve pouco tempo no trono, e apenas teve oportunidade de fazer o mal. Desde a data em que o nomearam imperador transcorreram somente dois anos, dois meses e vinte e nove dias -além dos vinte e nove anos, cinco meses e vinte e cinco dias que vivera até então. Certamente, por isso é acreditado que igualou o longo reinado de Augusto, pois Augusto nunca teria sido amado caso viver menos, nem Tito caso viver mais. Augusto, embora se mostrasse irascível pelas guerras e outros contratempos, foi muito capaz, com o tempo, de conseguir uma brilhante reputação pelos seus generosos atos; Tito, pelo contrário, governou com temperança e faleceu no apogeu da sua glória. De ter vivido muito mais, ficaria demonstrado que deve mais a sua fama atual à fortuna do que aos seus próprios méritos."

Plínio o Velho, que faleceu após a erupção do Vesúvio, dedicou a sua obra Naturalis Historiæ ao imperador.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ouvindo o lado Histórico

Quem é que nunca ouviu falar de jesus de Nazaré? É claro que todo mundo ouviu falar de Jesus. A Bíblia nos diz que sua fama se espalhou por toda a Palestina e Síria. Ele é o homem-deus/salvador do mundo que realizou milagres que só um deus poderia realizar. Transformou água em vinho, alimentou milhares de pessoas com apenas alguns pedaços de pão e peixe, andou sobre as águas, acalmou tempestades, curou cegos, surdos e enfermos, recuperou mãos atrofiadas, expulsou demônios e ressuscitou os mortos. Seus ensinamentos morais são considerados superiores a tudo o que já foi ensinado.

Ele foi rejeitado por seu próprio povo, os judeus, e brutalmente crucificado pelos romanos. Mas isto não deteve jesus. A Bíblia nos diz que, ao ser crucificado, céus e terra confirmaram sua divindade, causando um eclipse do sol de 3 horas em toda a terra, um terremoto que fez com que a cortina do templo em Jerusalém se rasgasse ao meio e que túmulos se abrissem e homens santos ressuscitassem e aparecessem s pessoas em Jerusalém. Três dias depois, o Filho de deus derrotou o Diabo, o príncipe das trevas, ressuscitou dos mortos, apareceu a seus discípulos e então subiu aos céus. Como é possível alguém não gostar desta história nem desejar acreditar nela?

O problema que pesquisadores sinceros e com mentes objetivas têm com esta história espantosa é: por que os registros históricos de escritores gregos, romanos e judeus não cristãos praticamente não dizem nada sobre jesus de Nazaré? Certamente que notícias sobre acontecimentos como esses, se fossem verdadeiras, teriam se espalhado por todo o mundo mediterrâneo. E, no entanto, os escritos que sobreviveram, de uns 35 a 40 observadores independentes durante os primeiros 100 anos que se seguiram suposta crucificação e ressurreição de jesus, praticamente não confirmam nada. Estes autores eram respeitados, viajados, sabiam se expressar, observavam e analisavam os fatos, eram os filósofos, poetas, moralistas e historiadores daquela época. Entre as mais destacadas personalidades que não mencionam jesus, temos:

Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) — Um dos mais famosos autores romanos sobre ética, filosofia e moral e um cientista que registrou eclipses e terremotos. As cartas que teria trocado com Paulo se revelaram uma fraude, mais tarde.

Plínio, o velho (23 d.C. – 79 d.C.) — História natural. Escreveu 37 livros sobre eventos como terremotos, eclipses e tratamentos médicos.

Quintiliano (39 d.C. – 96 d.C.) — Escreveu “Instituio Oratio”, 12 livros sobre moral e virtude.

Epitectus (55 d.C. – 135 d.C.) — Ex-escravo que se tornou renomado moralista e filósofo e escreveu sobre a “irmandade dos homens” e a importância de se ajudarem os pobres e oprimidos.

Marcial (38 d.C. – 103 d.C.) — Escreveu poemas épicos sobre as loucuras humanas e as várias personalidades do império romano.

Juvenal (55 d.C. – 127 d.C.) — Um dos maiores poetas satíricos de Roma. Escreveu sobre injustiça e tragédia no governo romano.

Plutarco (46 d.C. – 119 d.C.) — Escritor grego que viajou de Roma a Alexandria. Escreveu “Moralia”, sobre moral e ética.

Três romanos cujos escritos contêm referências mínimas a Cristo, Cresto ou cristãos:

Plínio, o jovem (61 d.C. – 113 d.C.) — Foi proconsul da Bitínia (atual Turquia). Numa carta ao imperador Trajano, em 112 d.C., pergunta o que fazer quanto aos cristãos que “se reúnem regularmente antes da aurora, em dias determinados, para cantar louvores a Cristo como se ele fosse um deus”. Uns oitenta anos depois da morte de jesus, alguém estava adorando a um Cristo (messias, em hebraico)! Entretanto, nada se diz sobre se este Cristo era jesus, o mestre milagreiro que foi crucificado e ressuscitou na Judéia ou se um Cristo mitológico das religiões pagãs de mistério. O próprio jesus teria dito que haveria muitos falsos Cristos, portanto a afirmação de Plínio não contribui em muito para demonstrar que o jesus de Nazaré existiu.

Suetônio (69 d.C. – 122 d.C.) — Em “A vida dos imperadores”, com a história de 11 imperadores, ele conta, em 120 d.C., sobre o imperador Cláudio (41 d.C. – 54 d.C.), que ele “expulsou de Roma os judeus que, sob a influência de Cresto, viviam causando tumultos”. Quem é Cresto? Não há menção a jesus. Seria este Cresto um agitador judeu, um dos muitos falsos messias, ou um Cristo mítico? Este trecho não prova nada sobre a historicidade de um jesus de Nazaré.

Tácito (56 d.C. – 120 d.C.) — Famoso historiador romano. Seu “Annuals”, referente ao período 14-68 d.C., Livro 15, capítulo 44, escrito por volta de 115 d.C., contém a primeira referência a Cristo como um homem executado na Judéia por Pôncio Pilatos. Tácito declara que “Cristo, o fundador, sofreu a pena de morte no reino de Tibério, por ordem do procurador Pôncio Pilatos”. Os estudiosos apontam várias razões para se suspeitar de que este trecho não seja de Tácito nem de registros romanos, e sim uma inserção posterior na obra de Tácito:

1. A referência a Pilatos como procurador seria apropriada na época de Tácito, mas, na época de Pilatos, o título correto era “prefeito”.

2. Se Tácito escreveu este trecho no início do segundo século, por que os Pais da Igreja, como Tertuliano, Clemente, Orígenes e até Eusébio, que tanto procuraram por provas da historicidade de jesus, não o citam?

3. Tácito só passa a ser citado por escritores cristãos a partir do século 15.

O que é claro e indiscutível é que um período de 80 a 100 anos sem nenhum registro histórico confiável, depois de fatos de tal magnitude, é longo o bastante para levantar suspeitas. Além do mais, é insuficiente citar três relatos tão curtos e tão pouco informativos para provar que existiu um messias judeu milagreiro chamado jesus que seria deus em forma humana, foi crucificado e ressuscitou.

Há três autores judeus importantes do primeiro século:

Philo-Judaeus (15 a.C. – 50 d.C.) — de Alexandria, era um teólogo-filósofo judeu que falava grego. Ele conhecia bem Jerusalém porque sua família morava lá. Escreveu muita coisa sobre história e religião judaica do ponto de vista grego e ensinou alguns conceitos que também aparecem no evangelho de João e nas epístolas de Paulo. Por exemplo: deus e sua Palavra são um só; a Palavra é o filho primogênito de deus; deus criou o mundo através de sua palavra; deus unifica todas as coisas através de sua Palavra; a Palavra é fonte de vida eterna; a Palavra habita em nós e entre nós; todo julgamento cabe Palavra; a Palavra é imutável.

Philo também ensinou sobre deus ser um espírito, sobre a Trindade, sobre virgens que dão luz, judeus que pecam e irão para o inferno, pagãos que aceitam a deus e irão para o céu e um deus que é amor e perdoa. Entretanto, Philo, um judeu que viveu na vizinha Alexandria e que teria sido contemporâneo a jesus, nunca menciona alguém com este nome nem nenhum milagreiro que teria sido crucificado e depois ressuscitou em Jerusalém, sem falar em eclipses, terremotos e santos judeus saindo dos túmulos e andando pela cidade. Por que? O completo silêncio de Philo é ensurdecedor!

Flavius Josephus (37 d.C. – 103 d.C.) — era um fariseu que nasceu em Jerusalém, vivia em Roma e escreveu “História dos judeus” (79 d.C.) e “Antiguidades dos judeus” (93 d.C.). Apologistas cristãos (defensores da fé) consideram o testemunho de Josephus sobre jesus a única evidência garantida da historicidade de jesus. O testemunho citado se encontra em “Antiguidades dos judeus”. Ao contrário dos apologistas, entretanto, muitos estudiosos, inclusive os autores da Encyclopedia Britannica, consideram o trecho “uma inserção posterior feita por copistas cristãos”. Ele diz que:

“Naquele tempo, nasceu jesus, homem sábio, se é que se pode chamar homem, realizando coisas admiráveis e ensinando a todos os que quisessem inspirar-se na verdade. Não foi só seguido por muitos hebreus, como por alguns gregos, Era o Cristo. Sendo acusado por nossos chefes, do nosso país ante Pilatos, este o fez sacrificar. Seus seguidores não o abandonaram nem mesmo após sua morte. Vivo e ressuscitado, reapareceu ao terceiro dia após sua morte, como o haviam predito os santos profetas, quando realiza outras mil coisas milagrosas. A sociedade cristã que ainda hoje subsiste, tomou dele o nome que usa.

”Por que este trecho é considerado uma inserção posterior?

1. Josephus era um fariseu. Só um cristão diria que jesus era o Cristo. Josephus teria tido que renunciar s suas crenças para dizer isto, e Josephus morreu ainda um fariseu.
2. Josephus costumava escrever capítulos e mais capítulos sobre gente insignificante e eventos obscuros. Como é possível que ele tenha despachado jesus, uma pessoa tão importante, com apenas algumas frases?

3. Os parágrafos antes e depois deste trecho descrevem como os romanos reprimiram violentamente as sucessivas rebeliões judaicas. O parágrafo anterior começa com “por aquela época, mais uma triste calamidade desorientou os judeus”. Será que “triste calamidade” se refere vinda do “realizador de mil coisas milagrosas” ou aos romanos matando judeus? Esta suposta referência a jesus não tem nada a ver com o parágrafo anterior. Parece mais uma inclusão posterior, fora de contexto.

4. Finalmente, e o que é ainda mais convincente, se Josephus realmente tivesse feito esta referência a jesus, os Pais da Igreja pelos 200 anos seguintes certamente o teriam usado para se defender das acusações de que jesus seria apenas mais um mito. Contudo, Justino, Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes nunca citam este trecho. Sabemos que Orígenes leu Josephus porque ele deixou textos criticando Josephus por este atribuir a destruição de Jerusalém morte de Tiago. Aliás, Orígenes declara expressamente que Josephus, que falava de João Batista, nunca reconheceu jesus como o Messias (”Contra Celsum”, I, 47).

Não somente a referência de Josephus a jesus parece fraudulenta como outras menções a fatos históricos em seus livros contradizem e omitem histórias do Novo Testamento:

1. A Bíblia diz que João Batista foi morto por volta de 30 d.C., no início da vida pública de jesus. Josephus, contudo, diz que Herodes matou João durante sua guerra contra o rei Aertus da Arábia, em 34 – 37 d.C.

2. Josephus não menciona a celebração de Pentecostes em Jerusalém, quando, supostamente: judeus devotos de todas as nações se reuniram e receberam o Espírito Santo, sendo capazes de entender os apóstolos cada qual em sua própria língua; Pedro, um pescador judeu, se torna o líder da nova igreja; um colega fariseu de Josephus, Saulo de Tarso, se torna o apóstolo Paulo; a nova igreja passa por um crescimento explosivo na Palestina, Alexandria, Grécia e Roma, onde morava Josephus. O suposto martírio de Pedro e Paulo em Roma, por volta de 60 d.C., não é mencionado por Josephus. Os apologistas cristãos, que depositam tanta confiança na veracidade do testemunho de Josephus sobre jesus, parecem não se importar com suas omissões posteriores.

A Encyclopedia Britannica afirma que os cristãos distorceram os fatos ao enxertar o trecho sobre jesus. Isto é verdade? Eusébio (265-339 d.C.), reconhecido como o “Pai da história da Igreja” e nomeado supervisor da doutrina pelo imperador Constantino, escreve em seu “Preparação do evangelho”, ainda hoje publicado por editoras cristãs como a Baker House, que “ s vezes é necessário mentir para beneficiar queles que requerem tal tratamento”. Eusébio, um dos cristãos que mais influenciou a história da Igreja, aprovou a fraude como meio de promover o cristianismo! A probabilidade de o cristianismo de Constantino ser uma fraude está diretamente relacionada desesperada necessidade de encontrar evidências a favor da historicidade de jesus. Sem o suposto testemunho de Josephus, não resta nehuma evidência confiável de origem não cristã.

Justus de Tiberíades é o terceiro escritor judeu do primeiro século. Seus escritos foram perdidos, mas Photius, patriarca de Constantinopla (878-886 d.C.), escreveu “Bibleotheca”, onde ele comenta a obra de Justus. Photius diz que “do advento de Cristo, das coisas que lhe aconteceram ou dos milagres que ele realizou, não há absolutamente nenhuma menção (em Justus)”. Justus vivia em Tiberíades, na Galiléia (João 6:23). Seus escritos são anteriores s “Antiguidades” de Josephus, de 93 d.C., portanto é provável que ele tenha vivido durante ou imediatamente após a suposta época de jesus, mas é notável que nada tenha mencionado sobre ele.

A literatura rabínica seria logicamente o outro lugar para se pesquisar a historicidade de jesus de Nazaré. O Novo Testamento alega que jesus é o cumprimento da profecia judaica sobre o messias, crucificado no dia da Páscoa. Naquele dia, supostamente houve um terremoto em Jerusalém, a cortina de seu templo se rasgou de alto a baixo, houve um eclipse do sol, santos judeus ressuscitaram e andaram pela cidade. Três dias depois, jesus ressuscitou e depois subiu aos céus diante de todos. Algum tempo depois, no dia de Pentecostes, os judeus de várias nações se reuniram e viram o Espírito Santo descer na forma de línguas de fogo; a igreja cristã se expandiu de forma explosiva entre judeus e pagãos, com sinais e milagres acontecendo por toda a parte. Em 70 d.C., Jerusalém foi cercada pelos romanos, que destruíram Israel como nação e dispersaram os judeus.

Ainda que os rabinos não aceitassem jesus como o Messias, o impacto dos acontecimentos volta de jesus logicamente teria sido registrado nos comentários ao Talmud (os midrash). A história e a tradição oral dos judeus registradas nos midrash foram atualizadas e receberam sua forma final pelo rabino Jehudah ha-Qadosh por volta de 220 d.C. Em seu livro “O jesus que os judeus nunca conheceram”, Frank Zindler diz que não há uma única fonte rabínica da época que fale da vida de um falso messias do primeiro século, dos acontecimentos envolvendo a crucificação e ressurreição de jesus ou de qualquer pessoa que lembre o jesus do cristianismo.

Não há locais históricos na Terra Santa que confirmem a historicidade de jesus de Nazaré. Monges, padres e guias turísticos que levam peregrinos cristãos (aceitam-se doações) aos locais dos acontecimentos descritos na Bíblia dificilmente podem ser considerados pessoas isentas. Ainda citando Zindler, “Não há confirmação não tendenciosa desses locais.” Nazaré não é mencionada nem uma vez no Antigo Testamento. O Talmud cita 63 cidades da Galiléia, mas não Nazaré. Josephus menciona 45 cidades ou vilarejos da Galiléia, mas nem uma vez cita Nazaré. Josephus menciona Japha, que é um subúrbio da Nazaré de hoje. Lucas 4:28-30 diz que Nazaré tinha uma sinagoga e que a borda da colina sobre a qual ela tinha sido construída era alta o suficiente para que jesus morresse se o tivessem realmente jogado lá de cima. Contudo, a Nazeré de nossos dias ocupa o fundo de um vale e a parte de baixo de uma colina. Não há “topo de colina”. Além disso, não há nenhum vestígio de sinagogas do primeiro século. Orígenes (182-254 d.C.), que viveu em Cesaréia, a umas 30 milhas da atual Nazaré, também não fala em Nazaré. A primeira referência cidade surge em Eusébio, no século 4. O melhor que podemos imaginar é que Nazaré só surgiu depois do século 2. Esta falta de evidência histórica parece ser a explicação para o fato de não haver nenhuma menção a Nazaré em nenhum registro, de nenhuma origem não cristã. Ou seja, Nazaré não existia no primeiro século.

Não há tempo nem espaço para se falar de outras cidades significativas citadas no Novo Testamento, mas as evidências históricas e arqueológicas quanto a Cafarnaum (mencionada 16 vezes no N.T.) e Betânia, ou o Calvário, são, assim como no caso de Nazaré, igualmente fracas e até mesmo desmentem as Escrituras.

Mentes críticas e objetivas se destacam por procurar confirmação imparcial dos supostos fatos. Quando a única evidência disponível de um acontecimento ou de seus resultados é, não apenas questionável e suspeita, mas também aquilo que os divulgadores do acontecimento ou resultado querem que você acredite, convém desconfiar. O fato é que os escritores judeus não-cristãos, gregos e romanos das décadas que se seguiram suposta crucificação e ressurreição de jesus nada dizem sobre ninguém chamado jesus de Nazaré. Uma pessoa justa sempre estará disposta a analisar novas evidências, mas, 2 mil anos depois, o cristianismo continua tendo tantas evidências imparciais sobre jesus quanto sobre o Mágico de Oz, Zeus ou qualquer um dos muitos deuses-redentores daquela época.