No final dos anos 1950, quando o Estado de Israel dava seus primeiros passos no cenário internacional das nações, Teddy Kollek, então diretor geral do gabinete do primeiro-ministro, teve um sonho: a criação de um museu enciclopédico, em Jerusalém, que viesse a ocupar um lugar de destaque entre as grandes instituições das principais capitais do mundo.
Para um país em construção e com tantos desafios pela frente, talvez parecesse, à época, a criação de um museu algo totalmente desnecessário. Ainda assim e mesmo não sendo um planejador, ele começou a trabalhar para transformar sua visão em realidade. Para Kollek, a cultura deveria desempenhar papel tão importante no perfil do moderno Estado de Israel quanto segurança, economia e educação, devendo ser uma prioridade nacional desde seus primórdios.
O Museu de Israel foi oficialmente inaugurado em 11 de maio de 1965, ano em que Kollek foi eleito pela primeira vez prefeito de Jerusalém, função que desempenhou até 1993, consagrando-se como o “eterno prefeito” da cidade. A singular aura modernista e, ao mesmo tempo, universal que irradiava na época de sua abertura ainda se mantém intacta. Construído no ponto mais alto do Monte da Tranquilidade - Neveh Sha’anan, em hebraico –, local escolhido pessoalmente por Kollek, em frente ao Parlamento (Knesset), já nasceu com um acervo inicial capaz de rivalizar com os mais tradicionais museus do mundo. Com projeto do arquiteto Alfred Mansfeld, seguidor da Bauhaus, e Dora Gad, responsável pelo design interno, tornou-se um dos principais símbolos da cultura israelense, sintetizando em suas formas uma mensagem de força arquitetônica e design arrojado.
Contam amigos próximos a Kollek que, nos idos da década de 1950, quando servia como enviado especial em Washington (EUA), reuniu-se com um colecionador de arte nos Estados Unidos. Durante o encontro, perguntou-lhe por que não doava algumas peças ao Estado de Israel e ouviu a seguinte resposta: “Por que eu deveria fazer isto quando não há lugar para guardá-las?” Percebendo que seu interlocutor estava certo, Kollek retornou ao país e fez sua a missão de criar um museu nacional. Encabeçou pessoalmente uma ampla campanha de arrecadação de fundos, organizou uma competição para escolher um projeto arquitetônico, compartilhou suas ideias com artistas renomados como Marc Chagall e Jacques Lipchitz, e foi em busca de colecionadores dentro e fora do país, adulando-os para obter seu a apoio à iniciativa. Assim fez com o empresário Billy Rose para que trouxesse sua coleção de esculturas europeias modernas ao museu, tornando-a peça-chave da exposição permanente nos jardins.
Com um acervo de 500 mil artefatos, a instituição passou por uma ampla reforma que começou em 2008 e terminou em 25 de julho de 2011, quando o complexo – que continuou funcionando com três de suas cinco alas durante as obras, – foi totalmente reaberto. Mantendo as principais características do projeto original e totalmente integrado à paisagem de Jerusalém, o museu teve seu espaço interno praticamente duplicado – passando de 40 mil para 80 mil metros quadrados, com a ampliação e abertura de novas galerias, além do aumento das áreas públicas e de serviços.
Um ano após a reinauguração, o museu bateu recorde de visitantes, um milhão de pessoas, israelenses e estrangeiros, atraídas pela grandiosidade da instituição, tanto pelas suas formas quanto pelo seu acervo que traça uma linha do tempo ao redor de várias partes do mundo. Ainda que renovado, mantém sua personalidade, um local onde a milenar paisagem que o cerca se integra de forma totalmente harmônica às suas formas arquitetônicas.
O projeto de renovação começou a ser delineado em 2005. Trinta meses de planejamento seguidos de 30 meses de trabalho, somados a um orçamento de US$ 100 milhões arrecadados através de uma ampla campanha nacional e internacional, permitiram a realização da visão de um grupo de profissionais e voluntários profundamente envolvidos na iniciativa. Segundo James Snyder, diretor do museu desde 1997, este foi o maior esforço coletivo de filantropia em benefício de uma única instituição cultural de Israel. Cumprir o calendário previsto sem ultrapassar o orçamento foi para os diretores do museu um milagre, mais um que se soma aos tantos já registrados na relativamente curta história do moderno Estado de Israel, consolidando-se como o sonho realizado de Kollek e consagrando-se como o museu das gerações futuras.
O projeto foi idealizado e realizado pelo escritório James Carpenter Design Associates, de Nova York, em parceria com Efrat-Kowalsky Architects, de Tel Aviv. Carpenter conquistou reputação internacional pela sua capacidade de trabalhar em conjunto com profissionais de outras empresas e de outros segmentos. Seu nome aparece ao lado de escritórios famosos, como Skidmore, Owings & Merril, designer do Time Warner Center, entre outros. Seu talento para capturar e modelar a luz, além de utilizar criativamente as múltiplas propriedades de materiais como vidro e pedras, é marca registrada do trabalho de Carpenter e estão presentes de forma destacada no renovado Museu de Israel.
Mudanças significativas
Uma nova entrada, galerias mais espaçosas e aumento das áreas de circulação são algumas das mudanças que permitem aos visitantes melhor apreciar o valioso e incomparável acervo da instituição. Para Snyder,
“o objetivo da reforma não era destruir o que existia, mas aperfeiçoar a estrutura existente visando maior otimização e aproveitamento do espaço, além de proporcionar uma vivência mais agradável e inesquecível aos visitantes”.
Entre os pontos fundamentais da renovação, estão a reconstrução e a reinstalação total das três alas que abrigam as coleções permanentes do museu: Arqueologia, Belas Artes e Arte e Vida Judaica. O acesso passou a ser centralizado através do novo pavilhão de entrada, que substituiu a ladeira íngreme a céu aberto que dificultava o movimento dos visitantes. Nada mais de caminhadas sob o sol quente, chuva forte ou vento fustigante, uma nova passarela envidraçada, com temperatura controlada, torna mais agradável a caminhada até o coração do museu. Mesclando uma nova visão de curadoria com um design arrojado, as galerias reformadas permitem aos visitantes navegar através das coleções enciclopédicas seguindo uma linha do tempo cultural, que parte da pré-história no antigo Oriente Próximo à arte contemporânea mundial.
A renovação e expansão do campus do museu não foram apenas um processo de construção e reconstrução, mas também um desafio criativo de várias facetas. O processo de transformação foi documentado por fotógrafos convidados como forma de registrar as várias etapas do trabalho através da ótica singular de diferentes profissionais. Participaram Dani Bauer, Assaf Evron, Elie Posner – que trabalha permanentemente no museu – e Yuval Yairi. “A renovação da arquitetura preexistente permitiu a completa reorganização das coleções. Com menos objetos expostos em quase o dobro do espaço, criou-se um ambiente arejado e mais claro, possibilitando aos visitantes vivenciarem dois capítulos de uma história – jornada e renovação. Um sentimento de beleza organizada e serena invade os visitantes quando adentram as áreas públicas do museu, preparando-os para a experiência cultural que os aguarda”, explica o diretor.
Com o fim das obras, o Museu de Israel solidifica sua posição como a maior instituição cultural do país, sendo considerado um dos mais importantes do mundo em função de seu acervo. Com a redistribuição do espaço interno, as coleções permanentes cobrem a arqueologia desde a pré-história ao período otomano; as práticas religiosas e seculares das comunidades judaicas da Diáspora e, no campo das artes plásticas, os principais movimentos da arte ocidental a partir do Renascimento, além de mostras das culturas da África, Oceania, Ásia e América Pré-Colombiana. Há, também, espaço para Pintura, Fotografia,
Design e Arquitetura. Durante o período de ampliação, cerca de 500 mil pessoas passaram por ali, por ano, para visitar as três alas que permaneceram em funcionamento: o “Santuário do Livro”, no qual estão expostos fragmentos dos Pergaminhos do Mar Morto; a maquete de Jerusalém durante o período do Segundo Templo;
e a Ala da Juventude.
Vários museus em um
Esta é uma maneira de se definir o Museu de Israel, no qual cada uma das alas é um museu completo interligado aos demais. Este foi o sentimento despertado no diretor da instituição quando a visitou pela primeira vez, sentimento que mencionou durante os eventos de reinauguração: “Logo percebi que estava não em um museu, mas em vários sob o mesmo teto, e pensei, na ocasião, que força o lugar teria se pudesse transformar-se em uma contínua linha do tempo da cultura da humanidade, em um único teto. Acredito que esta visão finalmente realizou-se. É gratificante perceber que, 45 anos após a sua fundação, conseguimos tornar realidade a visão de Kollek. Para nós, que somos apenas os que têm a custódia deste lugar, é um grande privilégio”.
Arqueologia
O setor de arqueologia conta a história da Antiga Terra de Israel, lar de povos de diferentes cultura e fé. A coleção dessa ala é considerada uma das mais valiosas e singulares do mundo. Organizada cronologicamente da pré-história até o Império Otomano, está dividida em sete capítulos, mostrando, lado a lado, eventos históricos, realizações culturais e avanços tecnológicos de cada período, ao mesmo tempo em que permite visualizar o dia a dia dos povos da região. Esta narrativa é complementada pela organização temática de aspectos singulares da arqueologia antiga da história da região, como a escrita hebraica, vidros e moedas. Em outras galerias da mesma ala, os visitantes têm a oportunidade de ver tesouros de outras culturas regionais que também tiveram impacto sobre a Terra de Israel, entre as quais, a egípcia, a grega, a italiana e a islâmica. Há um espaço especial para exposições temporárias e exibição das mais recentes descobertas.
Belas Artes
A ala dedicada às Belas Artes reflete a ampla natureza multidisciplinar das coleções do museu, abrangendo trabalhos artísticos através dos tempos nas culturais ocidentais e não ocidentais. A ala foi reorganizada de tal maneira a ressaltar as conexões entre obras de diversas coleções, incluindo arte europeia, moderna, contemporânea, israelense, africana, asiática, da Oceania, das Américas, além de fotografia, design, arquitetura, desenho e gravura. As instalações foram montadas visando destacar afinidades visuais e compartilhar temas, além de inspirar uma nova visão em relação às artes de diferentes épocas e lugares. Nesta mesma ala foi criada a primeira galeria permanente para arte israelense, além de uma área de 2.200 metros quadrados para a coleção de arte contemporânea.
Arte e Vida Judaica
Uma mostra da cultura das comunidades judaicas da Diáspora desde a Idade Média aos dias de hoje pode ser apreciada nessa ala. Concebida para dar uma visão da integração dos aspectos religiosos e seculares na vida das comunidades, exibe os valores estéticos dos objetos ao lado de seu significado histórico e social. Através de cinco temas, delineia o individual e o comunitário, o sagrado e o mundano, a herança do passado e a inovação criativa do presente.
A ala restaurada inclui um novo espaço – “O Caminho das Sinagogas: santidade e beleza”, encontrado apenas no Museu de Israel, ao longo do qual foram reconstruídos os interiores de sinagogas da Itália, Alemanha, Índia e uma recém-restaurada do Suriname, datada do século 18. Há, também, painéis sobre o ciclo da vida judaica e uma série de objetos importantes usados nos rituais do nascimento, casamento e morte. Há, ainda, uma nova galeria com iluminuras manuscritas raras, entre outros tesouros da arte contemporânea e judaica.
O “Santuário do Livro”
Uma das paradas obrigatórias durante a visita ao Museu de Israel é o “Santuário do Livro”, anexo no qual estão expostos a maioria dos 800 fragmentos dos Pergaminhos do Mar Morto encontrados nas cavernas de Qumran. Os documentos, alguns completos outros não, foram encontrados dentro de jarros por dois pastores e contêm informações sobre os essênios que viveram em Israel durante o período do Segundo Templo. O “Santuário do Livro” é o único lugar do mundo especialmente construído para abrigar os documentos.
A arquitetura do prédio foi inspirada nos jarros onde os documentos foram encontrados. A iluminação interna e a utilização das cores branca e preta nos locais onde estão expostos os fragmentos foram idealizadas a partir do conceito mencionado nos textos dos Pergaminhos sobre a guerra entre os Filhos da Luz e das Trevas.
Jerusalém do Segundo Templo
Como era Jerusalém durante o período do Segundo Templo? A resposta para esta pergunta está, desde 2006, no Museu de Israel, onde se encontra uma maquete que retrata fielmente, com base nos relatos históricos e escavações arqueológicas, a Jerusalém dos tempos do rei Herodes e do historiador Flávio Josefo, uma reconstituição das características topográficas e arquitetônicas da cidade antes da sua destruição pelos romanos no ano 70 da Era Comum. Construída em uma escala de 1:50 e instalada, em 1967, no Hotel Holyland, a maquete fazia parte do sonho de Hans Kroch, proprietário do hotel, que conseguiu realizá-lo através da dedicação e do empenho do arqueólogo Michael Avi-Yonah, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém (UHJ). O projeto começou a ser desenvolvido em 1964. Em 1974, a maquete passou por um processo de renovação, adaptando-se às novas descobertas arqueológicas, o que vem sendo feito periodicamente. Construída com pedras originais de Jerusalém, mármore e aço, confirma a descrição feita por Flávio Josefo sempre que se referia à cidade: “Como uma montanha de neve brilhando ao sol”.
Jardim de Arte
Criado pelo escultor japonês norte-americano Isamu Noguchi, o jardim está localizado no declive ocidental do campus do museu. Dividido em alas amplas com arcos sustentados por muros altos em pedra rústica, é considerado um dos mais originais museus de esculturas a céu aberto do mundo. Como em um jardim japonês, o chão é coberto por pedregulhos, os caminhos desenhados com plantas locais e árvores interligam as diferentes seções. Vários materiais foram incorporados ao design do jardim: pedras de diferentes tipos e tamanhos, concreto e água.
Em suas alamedas estão expostas obras de grandes escultores do final do século 19, entre os quais, Auguste Rodin, Émile-Antoine Bourdelle e Aristide Maillol, ao lado de renomados artistas do século 20, como por exemplo, Pablo Picasso, Alexander Archipenko, Jacques Lipchitz, Henry Moore, David Smith, Sol LeWitt, Donald Judd, Claes Oldenburg, Magdalena Abakanowicz, Richard Serra, Joel Shapiro e James Turrell, além do próprio Noguchi. Menashe Kadishman, Igael Tumarkin, Ezra Orion e Benni Efrat são alguns dos artistas israelenses representados.
Ala para a Juventude
Esse setor do museu é responsável pela elaboração e coordenação dos programas de educação e cultura, desenvolvendo uma série de atividades voltadas aos estudantes árabes e israelenses. Possui sala de estudos, biblioteca e galerias próprias. É um dos maiores e mais destacados departamentos de educação em arte do gênero no mundo. Contando com cerca de 80 instrutores, professores, palestrantes e funcionários administrativos, a Ala para a Juventude é um espaço no qual aprendizado, jogos e diversão se integram de tal forma a fazer da educação um momento de prazer e inspiração para a criação.
Casa Ticho
Apesar de fazer parte do complexo do Museu de Israel, a Casa Ticho está localizada no centro de Jerusalém. Totalmente envolvida pela atmosfera da velha Jerusalém, pela arte da famosa pintora Anna Ticho (1894 -1980) e pela música tocada por artistas que lá fazem concertos todas às sextas-feiras de manhã, o local não pode deixar de ser visitado. No jardim funciona um restaurante, que serve refeições leves e saudáveis a quem decide absorver um pouco do charme e da magia da cidade. A Casa mantém um acervo das obras de Anna Ticho e uma coleção de chanuquiot antigas, abrigando, também, exposições temporárias.
Museu Rockefeller de Arqueologia
Situado em uma suntuosa construção branca de pedra
calcária em Jerusalém Oriental, próximo à Cidade Velha, mais especificamente, ao Portão de Herodes, o Museu Rockefeller de Arqueologia foi incorporado ao Museu de Israel. Abriga uma coleção extraordinária de antiguidades encontradas ao longo de escavações realizadas principalmente durante o Mandato Britânico (1919-1948) na região. Inaugurado em 1938, tem seu acervo organizado em ordem cronológica – indo da pré-história ao período Otomano. Destaca-se uma estátua de 9 mil anos encontrada em Jericó, joias de ouro da Idade do Bronze e muito mais.