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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Satanás, de Mensageiro a Inimigo de Deus

Os hebreus em suas origens históricas, vencidas as etapas animistas e totêmicas, cultuavam deuses [elohim] – espíritos – que, em toda Gênesis 1 até o capítulo 2 verso 3, são os responsáveis pelas criações dos céus, da terra e de tudo que neles há, numa síntese criacionista sumero-babilônica. A partir de Gênesis 2:4 um daqueles deuses, o sló Javé, ganha destaques e aos poucos, ao curso da evolução religiosa dos hebreus, suplanta os demais elohim, para se transformar no deus dos deuses [Deuteronômio 10:17], sistema monolátrico [Josué 22:22] que, num futuro viria ser o monoteísmo judaico adotado pelos cristãos, o Deus único das nações [Isaias 45:22].

A partir do momento que Javé se fez [ou foi feito] deus dos deuses, os demais deuses foram excluídos oficialmente dentre os hebreus, e a partir de então demônios passam designar quase que exclusivamente divindades de outros povos, portanto divindades pagãs ou gentias.

Aparentemente fácil identificar demônios na Bíblia, na verdade não os são. Copistas e tradutores bíblicos determinam indistintamente por demônios os anjos decaídos, os espíritos imundos e os diabos, ao lado de outras tantas identificações, dando o mesmo sentido às palavras gregas: pneuma, aggelous, diáblos e daimon, por exemplos, e isto traz confusões até mesmo a muitos dos entendidos.

Demônios não são Diabos, aliás, Diabos não existem na bíblia o que existe é o Diabo [do grego diáblos], no singular, como tradução do hebraico Satan [Xatan] que nos deu Satanás ou simplesmente Satã, este sim, por sinal, único e também nenhum demônio.

Os Demônios nada têm a ver, inicialmente, com espíritos imundos, estes comumente identificados biblicamente pelo grego pneuma, ou os hebraicos eloim e se’irim.

Anjos, do grego aggelous, significa mensageiro [mala’k – hebraico], tanto para os bons quanto para os maus enviados, sem nenhum laço etimológico ou de atributos com os demônios.

O que seria então os demônios bíblicos? Como surgiram?

Comumente, se entende por demônios, aquelas entidades espirituais dotadas de poderes especiais, que se situam entre os humanos e as divindades, com objetivos de zelar lugares ou castigar pessoas. Sua origem provável encontra-se nas lendas e crenças dos povos da Mesopotâmia.

O grego daimon ou daimonium, em Deuteronômio 32:17 é usado para identificação das divindades pagãs, ou seja, aquelas proibidas de serem cultuadas pelos hebreus. Assim, todos os deuses estrangeiros ao povo de Deus, são denominados demônios.

No Salmo 91:6-7, o termo é designativo de praga.

Isaias 13:21, 34:14 e referências, trazem demônios como personagens folclóricos ou quase míticos dos lugares ermos, como os denominados os sátiros [hirsutos], que algumas traduções descrevem-nos seres que se apresentam como horríveis animais peludos. No apócrifo Baruc, 4:35, espíritos imundos, estão postos como habitantes dos desertos.

A tradução portuguesa mais exata para daimon é gênio, aplicado no sentido de inteligência superior, capacidade incomum.

Bíblica e etimologicamente, a princípio, Demônio não teria conotação pejorativa alguma com anjos decaídos, espíritos imundos ou diabos. A sua identificação com espíritos impuros [imundos], ocorreu pela necessidade teocrática dos hebreus manterem-se separados dos demais povos, para evitar contaminações de cultos e com isso a desagregação nacional.

Aos demônios, nas qualidades de espíritos impuros, se devem as doenças internas desconhecidas, como se por eles causadas e que nem precisava estar manifesta no individuo, bastando alguma denuncia de sua participação em cultos estranhos, para os sacerdotes determinarem sua impureza legal, e assim impedir tal enfermo [endemoniado] de participar dos atos religiosos; o interditado era, quase sempre, morto exemplarmente, por apedrejamento, para não contaminar os demais membros da nação hebréia.

Não se pode dizer, todavia, que tais divindades seriam todas maléficas; o próprio Javé, quando irado, não é nada bom e se faz tremendamente exterminador em favor de seu povo [II Reis 19:35, Êxodo 33:2]; incrivelmente, também se volta contra os seus próprios, com a mesma fúria avassaladora, às vezes por simples desleixo [Êxodo 32:34].

A Bíblia menciona algumas divindades estrangeiras transformadas em demônios para os hebreus, dentre os quais se destacam:

Abaddón: originariamente se tratava de um mensageiro de Deus, como ministro da vingança ou executor da ira divina, conhecido como Anjo Exterminador ou Destruidor [Êxodo 12:23], que muitos estudiosos identificam o Anjo do Senhor, ou mesmo, Teofania do próprio Deus. Ganha status de demônio no Novo Testamento como “pai da perdição” ou simplesmente “perdição”, também conhecido pelo nome grego Apollyon, isto é, “remoção completa” ou “desaparição”, conforme citado no Livro Apocalipse 9:11. Alguns especialistas identificam-no demônio [na qualidade de anjo decaído] desde a rebelião celestial, todavia, permitido por Javé para aqueles atos em Êxodo 12:23.

Adramelec e Amelec: divindades dual, dos Serfavaim [região da Assíria], citadas em II Reis 17:31, que estudiosos entendem como Adar e Ana, divindades nacionais históricas daquelas gentes [transferidas para Samaria pelos assírios], que os hebreus cultuaram inicialmente com o próprio Javé, embora sem unicidade de culto, conforme II Reis 17:41, sendo que os samaritanos continuaram posteriormente a reverencia-los, enquanto os judeus de pura origem transformaram-nos em demônios.

Asera: deusa da Cananéia, citada em Êxodo 34:13, Juízes 3:7 e referencias, assimilada e cultuada pelos hebreus, na forma de um tronco sagrado em forma de coluna ou poste, tratando-se de uma deusa protetora dos bosques e tudo que neles há, em préstimos aos homens. É comumente confundida com a deusa fenícia Astarte e na bíblia é citada no plural [aseras].

Asima: conhecida biblicamente como a deusa Sima, dos arameus de Hamat, mencionada em II Reis 17:30, muitíssima conhecida pelas inscrições helênicas. Na literatura religiosa hebraica, Sima é posta pelos assírios como divindade [demônio protetor] local, inoperante, assim como Javé dos hebreus [II Reis 18:33-34]. Parece tratar-se de divindade protetora dos vales e caminhos de Hamat e Reob, locais citados em Números 13:21.

Asmodeu: trata-se de AsmaDaeva, divindade citada no Avesta [livro sagrado dos persas], como executora do mal [necessário] dentro do principio do dualismo da doutrina de Zoroastro, o bem e o mal. No apócrifo Tobias 3:8 e referências, Asmodeu transforma-se num espírito maligno, denominado destruidor [samad – hebraico].

Astaroth ou Astarte: deusa fenícia que representa a fecundidade da natureza; alguns estudiosos a associam como deusa da lua [Juízes 2:13], de grande popularidade entre os povos do médio oriente e os próprios hebreus. Salomão prestou-lhe honras [I Reis 11:5].

Azazel: citado no livro Levítico 16:8 como “a perdição”, tratando-se de divindade provavelmente da Caldéia, que os hebreus tomaram de empréstimo para torna-lo um demônio, na forma animal de um bode, tido na Bíblia como bode expiatório para os pecados do povo de Deus. O apócrifo Livro de Henoc menciona referida criatura como um dos anjos que se enamorou pelas mulheres da terra. É comumente confundido ou associado com Abaddón, alguns acreditando tratar-se de uma mesma entidade.

Baal: Senhor, principal deus fenício o naturista Melcart, foi absorvido pelos cananeus, como o trovejante Baal [I Reis 16:31], conforme mais conhecido biblicamente, e que se tornou representatividade do mal para os hebreus [II Reis 23:5]; no entanto, Javé toma características do próprio Baal, ao se fazer o tonante Sló do Sinai. Para os cartagineses que também o adotaram, era excelente deus.

Baalim: os baalins citados em Juízes 2:11, deuses menores do panteão fenício, muito próximo dos bíblicos elohim [Gênesis 1:1 e referencias], depois identificados como espíritos protetores, bastante populares e cultuados inclusive pelos hebreus [Juízes 2:12-13].

Baal-Meon: o terrível [aos hebreus] Beon, divindade protetora da Palestina, cujo nome era proibido de ser pronunciado pelo povo de Javé, e por isso mudados os nomes de locais a ele consagrados [Números 32:3 e 38]. Alguns entendem esta divindade adotada dos babilônios, provavelmente o deus Sucot-Benot, mudando-se o primeiro designativo Sucot [tendas] para Baal e que Benot transformou-se em Beon, o poderoso.

Baalzebul [Baalzabud ou simplesmente Belzebu]: cultuado pelos filisteus [II Reis 1:2 e referências], e outros povos do médio oriente, foi transformado em príncipe dos demônios para os hebreus, e assim assimilado pelos cristãos [Mateus 10:25, Marcos 3:22 e Lucas 11:15-18 e 19]. Estudos recentes apontam referida divindade como de origem fenícia, muitos lhe dando significado de Senhor das Moscas, todavia tradução mais apropriada a Baal-zabud, seria Dádivas do Senhor, e que se valia daqueles insetos, como vetores de pestilências, para castigar inimigos.

Baltesassar: mais propriamente Beltesassar, trata-se de Balat-su-usur, [Deus Protetor da Vida], divindade acadiana citada em Daniel 1: 7, cujo nome foi dado ao próprio Daniel. Baltesassar é visto como o deus Bel, principal divindade babilônica, que Isaias 46:1 já coloca numa posição inferior a um deus, e nas condições de gênio ou agente do mal em Jeremias 50:2.

Belial: aquele que serve para nada, inútil e sem valor, tornou-se sinônimo de ser abjeto, como homens perversos, em Deuteronômio 13:14. I Samuel 10:27, onde se lê os perversos, algumas traduções como Almeida diz os filhos de Belial, já a tipificar o demônio que o cristianismo viria adotar como o Poderoso Demônio, ou o próprio Diabo [Satanás], vista em II Coríntios 6:15. Alguns identificam Belial também nos livros Daniel e Apocalipse, como o Anticristo, a Besta, o Assolador ou o Dragão, quando não apenas um anjo do mal designado para a desordem mundial.
Besta: para muitos não se trata verdadeiramente de um demônio, apenas a identificação bíblica [Daniel e Apocalipse] profética do próprio Diabo ou Satanás, nos tempos do fim. Na primeira epístola universal de João, alguns estudiosos entendem a Besta como o Anti-Cristo [I João 2:18 e referencias].

Camos: principal divindade moabita [Números 21:29] de grande prestígio entre os hebreus, tanto que o próprio Salomão lhe edificou um altar [I Reis 11:7]. Esta deidade, como todas demais estrangeiras ao povo hebreu, quando se trata de cultos, sacrifícios ou adorações, recebem conotações de consumações aos demônios ou aos ídolos, indistintamente.

Leviatã: dragão ou animal mítico, descrito nos poemas de Ugar [em Ras Shamra ao norte da Fenícia] por volta do século XV a.C, às vezes para indicar algum cetáceo [Salmos 104:26], por outras refere-se a um crocodilo [Jó 40:25]. Em Jó 3:8 é a pré-figuração de poderoso demônio evocado pelos feiticeiros.

Lilith: divindade notívaga babilônica, é demônio feminino bastante comum na cultura religiosa judaica e comumente citada pelos cristãos; embora não mencionada diretamente na Bíblia, alguns estudiosos, entretanto, demonstram-na figuradamente, como o espanto noturno, a seta que voa de dia, a peste que serpeia nas trevas e a morte que grassa à luz meridiana [Salmos 91:5-6], enquanto para outros, trata aquele Salmos e versículos citados, como linguagem figurada, onde o protegido de Deus não temerá assaltos abertos, tramas ocultas, doenças [pestilências da noite, tidas como doenças sexualmente transmissíveis] e mortes de encomenda. Isaias 34:14 traz essa denominação [no singular] com algumas traduções postas como corujas, mais propriamente, criaturas noturnas, que os hebreus posteriormente deram significado de “diaba notívaga” [PIBR].

Lúcifer, o demônio que os cristãos mais temem, o maioral de todos eles, curiosamente, não está na Bíblia. Alguns biblistas de plantão, no entanto, apontam em Isaias 14:12-14, partes d’uma canção hebraica contra o rei babilônico, como alusão a Lúcifer; trata-se na verdade de um comparativo das glórias do grande monarca babilônico, que chegou a reivindicar honras divinas, com o esplendor de uma fulgurante estrela [vista por muitos como a Estrela d’Alva ou planeta Vênus]. Referida canção remete-nos, por analogia, a Ezequiel 28, profecia contra Tiro, onde a ascendência régia é tida como querubim ungido no Éden, depois expulso face sua soberba e outros pecados, inclusive da pretensão de igualar-se ao Criador. Daí seria dizer que Satanás ou que seja Lúcifer, tenha sido um querubim ungido, de rara beleza, etc, ou que os de Tiro [pelo monarca], que são os fenícios [grego phoinos com tradução de vermelho ou homens vindos terra vermelha], tenham sido o Adão bíblico [Adam’is, is=homem, adam do barro vermelho] que Deus um dia colocara no Éden, etc. Já a tal Eva seria. . .

Mamon: mais propriamente Mamona, significa riqueza, que Mateus 6:24 [e referências] personifica como o demônio que põe a perder os filhos de Deus, pela materialidade e luxo que o mundo oferece.

Melkart: II Macabeus 4:18-20, trata-se do mitológico Hércules, muito mais na categoria de semi-deus que de demônio propriamente dito.

Moloc: deus amonita [Levíticos 18:21, 20:2-5, II Reis 23:10 e Ezequiel 20:31], também conhecido como Melcom [I Reis 11:57e 33, II Reis 23:13 e Jeremias 40:1], bastante apreciado pelos hebreus, e que recebeu distinções religiosas até do sábio rei Salomão [I Reis 11:7].

Nergal: deus assírio [II Reis 17:30], maioral do mundo subterrâneo que ganhou conotações cristãs com o Diabo e o Inferno, advindas das assimilações e crenças hebraicas.

Nicaz: divindade de Ava, uma das regiões conquistadas pelos assírios, cuja população foi instalada na ocupada Samaria, e esse deus assimilado pelos hebreus de Samaria. Não há referencias históricas sobre Ava, e, conseqüentemente, sobre seu deus, também conhecido como Nichas. Alguns estudiosos vêem aqueles como “árabes remotos”, enquanto outros acreditam ser os bíblicos heveus [Gênesis 10:15-17] mencionados ainda em Josué [11:3] e Juízes [3:3], mas a citação maior se vê no capítulo 34 de Gênesis, quando um heveu ultrajou a hebréia Diná, filha de Jacó. De qualquer forma, em Samaria, pelo menos, o deus Nichas foi cultuado pelos heveus [II Reis 17:31] e samaritanos, e assim proibido e posto sob a pecha de demônio.

Nesroc: citado em II Reis 19:37, divindade assíria, de significado desconhecido.

Sátiros: do hebraico “se’irim” [peludos como bodes] entendidos como encarnações de espíritos maléficos [Levíticos 17:7] ou gênios que habitavam desertos ou lugares ermos, às vezes em formas animalescas desconhecidas como os citados hirsutos [Isaias 13:21, 34:14 e Baruc 4:35] – animais desconhecidos, peludos, de aparências indefinidas, cultuados [II Crônicas 11:15] o que constituía impiedade [II Reis 23:8].

Sucot-Benot: deus babilônico [II Reis 17:30], também conhecido como Secote [Tendas – Josué 13:27] Beon [Senhor Protetor], assimilado pelos palestinos como Baal-Meon.

Tamuz: Ezequiel 8:14 traz citação desse deus dos babilônios que foi adotado pelos fenícios e também cultuado pelos hebreus, entre outros povos. A tradição mostra-nos Tamuz como um dos muitos Cristos vindo ao mundo para uma obra redentorista, com morte sacrificial. É um poderoso demônio no cristianismo popular.

Tartak: outro deus heveu, também citado em II Reis 17:31, cultuado pelos samaritanos e exacrado pelos hebreus de pura origem. Entendem-se vínculos de Tartak com Tártaro [II Pedro 2: 4], tratando-se portanto de um demônio chefe dos infernos, banido das hostes celestiais conforme aquela epístola, num inequívoco texto referente às citações de Gênesis 6:8.

Embora Demônios tenham significação bíblica para divindades pagãs que se tornaram espíritos impuros para os hebreus, a citação II Pedro 2:4 numa passagem obscura e não respaldada diretamente pelo Antigo Testamento, no ato subentendido, trata dos demônios como sendo os bíblicos anjos rebeldes. Também Judas 1:6, se refere aos demônios como anjos que foram indignos, deixaram os céus e que para eles foram reservadas escuridão e cadeias eternas, até o juízo do grande dia, num texto interpolado e confuso, com correspondente apenas em Apocalipse 20:10.

Ainda assim, para os cristãos e certos exegetas, não perdem, contudo, aqueles significados de espíritos impuros ou entidades do mal.

Claro está que para o cristianismo já distinto do credo judaico, os demônios ganham status de anjos decaídos, inferiores aos anjos de Deus, conforme fazem entender o apócrifo Tobias 8:3 [recorrência] e Apocalipse 12:7-10.

Para os cristãos, os Demônios como seres malignos, são incorpóreos, portanto espirituais, deixando, contudo, antever incapacidade da plenitude de seus atos se não estiverem de posse de algum corpo humano, por isso, continuamente procurando apossar-se dos homens, conforme Mateus 12:43-44, através de incorporações diretas ou por inspirações, a fim do empregá-los para seus próprios fins.

Suas possessões podem ser momentâneas [Lucas 9:39], mais ou menos prolongadas [I Samuel 16:4] ou prolongadas [Marcos 5:2], quase sempre caracterizadas por enfermidades internas, idiotias, deformidades físicas e perturbações mentais. Exorcismos e curas, praticados por Jesus, tem sentido messiânico bastante claro, quando vistos sob o ângulo das possessões demoníacas, ou, das doenças psicossomáticas.

Os Demônios podem estar numa pessoa ou num intermediário e causarem transtornos, a pedido ou mando, em terceiros, como traumas psicológicos, ruínas sociais, problemas financeiros, ruína familiar e mais as citações anteriores e outras não mencionadas. São exemplos os famosos e ditos trabalhos de macumbaria. Na Bíblia, muitas vezes, são os espíritos maléficos que se apossam de alguém com a permissão divina [I Samuel 16:14] ou um bom espírito [???] que Deus permitia incorporar no homem [I Samuel 11-6 e 18:10] ou causar dissensões [Juízes 9:23, Isaias 19:14] e indutor ao erro [I Reis 22:22]. Passagens como estas constrangem os cristãos.

Alguns dos maus espíritos têm diferentes missões e métodos, com possessões mais duradouras [tecnicamente imperceptíveis] ou mesmo fazendo-se entrantes, para altas realizações mundiais através de líderes políticos, cientistas e homens de notório saber, como aquelas que apontam para indivíduos praticamente nulos e que de repente se transformam numa outra personalidade, às vezes até animal, a exemplo do rei Nabucodonozor, conforme Daniel 4:23 ao 28 e 33 – versão Almeida.

Os demônios, como espíritos perturbadores, promovem, em suas ações [mas não necessariamente], fenômenos psicológicos e de efeitos físicos, alguns aterradores, muito dos quais vistos e estudados pela Metapsíquica, Parapsicologia e Espiritismo Científico.

Para o Cristianismo, independente de confusões de copistas ou enganos de tradutores bíblicos, os demônios têm sua existência reconhecida pelo próprio Jesus, conforme Mateus 12:27-28, e Lhe são inferiores.

Os setenta discípulos que Jesus enviou para certa missiologia reconhecem que os demônios a eles se submetiam, em nome d’Ele, Jesus.

Todos os apóstolos reconhecem a existência dos demônios, os expulsam e fazem advertência aos crentes a respeito das ações e intenções demoníacas; os demônios são uma constante preocupação aos pais da Igreja dos primeiros séculos.

Muitos convertidos certamente não desprezaram de todo suas antigas crenças, não abominaram totalmente os seus deuses, daí a necessidade dos apóstolos e responsáveis fazerem sempre o alerta contra o demonismo. A insistência dos pais da Igreja em colocar para os fiéis, o nome de Jesus sempre superior sobre demais divindades ou demônios, demonstra claramente isso.

I Corintios 10:14 ao 21, traz sérias advertências a idolatria e demonologia entre os corintios. Os demônios ali estão postos como divindades dos gentios, portanto, de culto proibido entre os cristãos, posto Cristo ser superior aos demônios.

Por tais razões, tantos textos bíblicos e referências dizem das repreensões e expulsões de demônios dos corpos de pessoas, de curas de doenças provocadas por aqueles seres, além das diversas citações em que os próprios crêem [Tiago 2:19] temem e tremem diante de Jesus ou apenas do ouvir falar Seu nome, a exemplo de conhecida passagem em Marcos 5:1 ao 20.

Para aqueles que se fundamentam no Novo Testamento, os demônios são seres espirituais reputados idênticos aos espíritos imundos e aos anjos decaídos, com características e ações próprias de personalidade e racionalidade. Mateus 8:29 ao 31 mostra até uma certa sagacidade dos demônios, que questionam a ação de Jesus importuna-los antes do tempo ou acordo previsto e assim, para não se verem desalojados de algum corpo físico, rogam e lhes são permitidos, entrar em animais irracionais.

Dos feitos demoníacos, o maior sem dúvidas é o sempre despertar de milhões e milhões de pessoas para lhes dar sustentações através de possessões, além de alimentar suas existências, também pela negação a Deus.

SATANÁS OU O GRANDE SATÃ

Num texto bíblico confuso, I Crônicas 21:1, Satanás surge na Bíblia, pela primeira vez com essa denominação, conforme disposição canônica dos livros, ao se levantar contra Israel e incitar o rei Davi a recensear Israel. Referido texto é de difícil entendimento por ser o mesmo assunto visto em II Samuel 24:1 que, todavia, diz ser a ira do Senhor a acender contra Israel e incitar Davi a numerar Israel, e não Satanás.

Pela cronologia dos livros bíblicos, Satanás surge realmente pela primeira vez, em Jó 1:6, na qualidade de mensageiro, igualmente aos anjos, cuja identificação significa Acusador, mais como qualificação, ou seja, posto de autoridade. O livro Jó, que certos estudiosos apontam como escrito por volta de 1473 a.C, assim a anteceder em mais mil anos o livro II Crônicas [surgido por volta de 460 a.C]. Outros especialistas, não menos credenciados, atestam que o livro Jó, na cultura hebraica, remonta ao ano de 1653 a.C, anterior a própria Gênesis [esta escrita provavelmente em 1512 a.C], tratando-se Jó de uma ficção literária oriental, de mais ou menos seis mil anos, compilada pelos hebreus, interpolada, adaptada e acrescida de valores culturais próprios.

Gênesis 3, no quadro da tentação, menciona a Serpente como Demônio, na visão de alguns estudiosos. O verso 5 daquele capítulo subentende o tentador [serpente] a acusar o Criador, e nisto se apegam diversos especialistas em evidenciar a presença de Satanás como o caluniador. O hebraico nâhâsch significa feiticeiro ou praticante de culto ofilátrico, poderia ter sido erroneamente traduzido, como se fosse nâhàsch [ou naha^s], serpente.Infelizmente nenhum manuscrito original do episódio chegou até os dias atuais, e assim prevalece o estabelecido, ou seja, a serpente.

Sendo Satanás filho de Deus igualmente aos anjos, sem dúvidas trata-se de um ser criado, para aquele determinado objetivo que o próprio nome identifica.

A tradução grega do hebraico Xatan [Satan] é Diáblos [palavra no singular], com idêntico significado e que somente muito mais tarde, por volta dos séculos II e III AD, ambos se tornariam entidades distintas na tradição religiosa cristã, Satanás e Diabo, inclusive com acréscimos de outras conotações como Caluniador e Inimigo, depois, Serpente e Dragão.

Tendo por base as Escrituras, pode-se dizer seguramente que Satã é um anjo, criado por Deus, como os anjos o foram, e que no princípio foi bom.

Mas Apocalipse 12:9 identifica Satanás [Diabo] como sedutor de todo o orbe habitado [céus – paraíso celeste –, terra e sabe-se lá onde mais], e que foi precipitado sobre a terra e seus anjos juntamente com ele. O versículo 4 do mesmo capítulo 12, diz que a terça parte das estrelas dos céus veio com ele [Satanás] que as atirou sobre a terra; Jó 38:7 e Apocalipse 1:20 são bastante claros que estrelas dos céus, biblicamente, podem se referir a anjos.

Então, biblicamente, Satanás é o principal [maioral / chefe] dos anjos decaídos, porque foi ele o causador da rebelião celestial, e que se fez Chefe dos demônios quando estes se tornaram criaturas do mal para os hebreus e, posteriormente, também dos espíritos maléficos encarnados [os sátiros].

Satã como filho de Deus, traz evidentemente certo constrangimento à cristandade; se ele é o pai da mentira [João 8:44], Deus seria. . .

Satanás, a considerar modernas concepções teológicas, a exemplo dos anjos divinos [afinal ele também seria um anjo, inclusive Jó identifica-o igualmente como filho de Deus], atua através de contínuas e delicadas operações nas esferas da metafísica e da psique humana, cujas atuações e eficácias apontam para determinados acontecimentos importantes na vida espiritual ou física, pessoal ou coletiva de todos nós.

Antítese de Deus, Satanás é, portanto, o centro único de todos os problemas da humanidade: corrupção, discórdia, crimes hediondos, banditismo, abominações, apostasia, prostituição, ateísmo, heretismo e tantas outras conseqüências ou causas primárias, de tudo aquilo quanto a Bíblia venha considerar ruim ou os cristãos assim possam acreditar como nocivo e pernicioso.
Satanás às vezes confunde-se com Javé, em algumas características, e os cristãos, sem oi saber, acrescentam-lhes outras:

O Anjo de Yahweh é a própria personificação do Deus hebreu, conseqüentemente, o Deus cristão. Em seus contatos terrenos, das teofanias, Deus sempre surgiu em forma de anjo, às vezes Anjo Vingador ou Ira Divina [II Samuel 24:1] que I Crônicas designa Satanás.

O Anjo de Javé ou o próprio é chamado Destruidor / Exterminador, em Êxodo 12:23, o que não o faz Hebreus 11:28. Satanás é o Destruidor identificado em I Corintios 10:10.

Algumas ações de Javé, além de contraditórias são bastante pertinentes a um deus ruim, tendo paralelo com AsmaDaeva, o pior dos demônios persas, chamado igualmente de Destruidor, que a cultura hebraica absorveu como Asmodeu, com igual significado de destruidor [Apócrifo Tobias 3:8].

Satanás, conforme vista, é uma palavra vinda do hebraico (Satan) que significa acusador, como função diante de Deus, pelo Livro de Jó, enquanto para os biblistas Satã é aquele cuja ação produz adversidade e acusação infundada; logicamente que infundada é esta posição.
Diabo (do grego diábolos) é a tradução de Satã, mas na visão de alguns entendidos bíblicos, ele é um outro agente do mal que, juntamente com Satanás, provoca dúvida e divisão.
Demônios que na Bíblia se refere [originalmente] às divindades pagãs, para os cristãos são anjos decaídos, espíritos malignos, diabos, incumbidos de fazer pecar o ser humano, com objetivos de leva-los ao inferno.

Teologicamente Deus e Satanás, ou as forças do bem e do mal, não se tratam de nenhum drama de caráter subjetivo, ou de ficção, mas sim de um histórico processo de expansão e revelação de forças espirituais antagônicas que, pela visão humana, não tem paralelos na história do universo, algo, portanto, concreto e bastante vívido, a anteceder as origens do homem, ou até mesmo o surgimento do próprio planeta.

Para os cristãos, Satanás seria, assim, o condutor das forças do mal, com poder e astúcia, e que de forma sedutora atacou o reino de Deus e nele semeou a discórdia, com isso a exigir pronta ação divina para expulsa-lo juntamente com os seus e precipita-los sobre a terra.

No planeta, Satanás mostrou-se adversário à altura do Criador, ao destruir sua obra máxima criativa, ou seja, fazer-se perder o homem do sentido original para o qual foi criado: amor, adoração e vida eterna, situações estas invertidas e modificadas pelo Adversário, numa dramática altercação de tal magnitude que, ninguém menos que o próprio Deus, se fez enviado necessário para resgatar a humanidade das garras do maligno. A Bíblia diz que Satanás não apenas será vencido, como já se encontra derrotado e ciente de seu triste destino; os cristãos exultam esta verdade e ninguém nem ao menos cogita como serão as coisas se Satanás vencer.