CORRENTES CRISTOLÓGICAS HERÉTICAS DOS PRIMEIROS SÉCULOS
Principais movimentos cristológicos dos quatro primeiros séculos
Arianismo
Apolinarismo
Nestorianismo
Eutiquianismo
Ebionismo, Alogói e Monarquianismo Dinâmico
Docetismo
Calcedônia
Considerações finais
As disputas cristológicas consistiram em uma série histórica de polêmicas sobre a natureza de Jesus Cristo mantidas no seio da igreja cristã durante os primeiros séculos do florescimento do cristianismo. O ano 325 d.C., no Concílio de Nicéia, sob a mão do imperador Constantino, o Grande, assim como no primeiro Concílio de Constantinopla, em 381 d.C., se estabeleceu a doutrina oficial da Igreja Católica, que abrangia todo o território do Império Romano (desde a Espanha até a Síria)1 Atingiu o consenso que Cristo era eterno, segundo o credo, “uma encarnação divina, (chamada de "homoousios"), que significa consubstancial com Deus Pai”2, em uma só pessoa, porém com duas naturezas : completamente divina e completamente humana . A partir desse momento, e até o século VII, sucessivos concílios condenaram doutrinas que diferenciavam com a do credo de Nicéia em matérias de ontologia em torno do Cristo.
Este movimento possui este nome, pois foi liderado por Ário (250-336 d.C.), que fora presbítero de Alexandria entre o fim do século 3 e inicio do século 4 depois de Cristo. Ário não admitia que Jesus era Deus, o Verbo encarnado. Ele acreditava que isso implicaria na aproximação entre o cristianismo e o paganismo, já que as religiões pagãs crêem na existência de diversos deuses. Ário acreditava que Jesus teve um começo, ou seja, que foi criado por Deus. Sua idéia é que houve tempo em que Jesus não existiu, ou seja, que este fora criado por Deus, isso implica que Jesus não é eterno.
O presbítero de Alexandria fez a sua apologia quando disse:
Apolinarianismo
Devido a Apolinário (310-390 d.C.), que fora Bispo de Laodicéia no fim do século 4, defender uma cristologia heterodoxa, esta recebeu seu nome. Enquanto o Arianismo defendia que Cristo não era Deus, o Apolinarianismo ia contra o ensino que Cristo possui a natureza humana, alegando que Cristo era apenas Deus, indo contra a doutrina da encarnação, onde o Verbo se fez carne e habitou entre nós, que está muito evidente no capítulo 1 do Evangelho de João. O ponto crítico desta corrente girava em torno do conceito da mente de Cristo. Segundo Apolinário, Cristo possuía mente (ou espírito) divino, o que o impossibilitaria de passar por tentações genuínas. Segundo Hebreus 2.14-17, Jesus participou de humanidade como a nossa, para que houvesse o completo efeito da expiação. Os ensinos do apolinarianismo também foram declarados heréticos, através do Concílio de Constantinopla (381), onde os teólogos Basílio - “O Grande”, Gregório - Bispo de Constantinopla, e Gregório - Bispo de Nissa, também conhecidos como Pais Capadócios, o rejeitaram de forma veemente. Apesar de Apolinário ter levantado certo grupo de discípulos, seus ensinos não permaneceram e seu movimento se desfez.
Preocupado com a ratificação do credo niceno e com a integridade cristológica, Apolinário formulou sua solução com base na antropologia platônica, que compreendia a pessoa humana como consistindo de três entidades substanciais: corpo, alma e espírito. Sua proposição era de que na encarnação o corpo e a alma de Jesus eram de natureza humana, enquanto que o Logos ocupava o seu espírito.
Esta doutrina está baseada nos ensinos de Nestório, que fora um pregador famoso em Antioquia, e desde 428 d.C., Bispo de Constantinopla. Seus ensinos foram refutados no Concílio de Éfeso, em 431. O Nestorianismo ensinava que a pessoa divina de Cristo e sua pessoa humana estavam divididas e com vontades divididas, mas residindo no mesmo corpo. Cirilo de Alexandria refutou os falsos ensinos do Nestorianismo.
Seu propósito era banir as heresias da área de seu controle. Mas ele mesmo achou-se em dificuldades ao apresentar o que a outros parecia ser uma duvidosa cristologia. Em primeiro lugar, ele objetava aos excessos que tinham surgido como na expressão grega theótokos, “mãe de Deus, aplicada à Virgem Maria. Em segundo lugar, ele procurou modificar a cristologia hipostática da escola alexandrina. Em lugar de “mãe de Deus”, ele preferia “mãe de Cristo” (christótokos).Mas isso só ofendeu a piedade de contemporânea. E, em terceiro lugar, em vez da união hipostática das naturezas divina e humana na pessoa de Cristo Jesus, ele propôs uma nova expressão, “união prosópica”. Esta última palavra vem de prósopon, palavra grega que significa “face”. “Ele expunha a questão como segue: “A humanidade estava na face da deidade, e, a deidade na face da humanidade”.
No fundamento da posição nestoriana jaz outra heresia, a antropologia desenvolvida por Pelágio. Segundo a opinião teológica antagônica de Agostinho, a pessoa humana é dotada por ocasião do nascimento de graça suficiente para reforçar a vontade humana em sua batalha contra o pecado, o qual, por sua vez, não é uma condição do ser mas jaz inteiramente na ação humana. Devido a esse dom, o indivíduo poderia teoricamente atingir a perfeição. Nestória viu essa perfectível substância humana revelada em Jesus. O homem Jesus empregou a 11
dotação natural da graça sem falhar. Este exercício de sua livre vontade efetuou a união voluntária entre Jesus e o Logos.
Eutiquianismo
A despeito do movimento ter sido desmantelado “As idéias de Eutiques foram retomadas posteriormente na controvérsia monofisita que perturbou a paz do império oriental até meados do século VI. Cerca de 15 milhões de Monofisitas ainda existem nas igrejas coptas do Egito, Líbano, Turquia e Rússia.
Ebionismo, Alogoi e Monarquianismo Dinâmico
Os Ebionitas (ou parte deles) sentiram-se constrangidos, no interesse do monoteísmo, a negar a divindade de Cristo. Eles O consideravam como simples homem, filho de José e Maria, qualificado em seu batismo para ser o messias, pela descida do Espírito Santo sobre Ele. Os ebionitas surgiram pelo século II, na Palestina e eram de orientação judaizante e herética. O significado etimológico de ebionitas é “homens pobres”.
Considerados cristãos gnósticos, sustentavam a veracidade de seu próprio evangelho “Evangelho dos Ebionitas”, além do “Evangelho dos Hebreus”, “Evangelho dos Doze Apóstolos” e um “Evangelho dos Nazarenos” que foram selecionados nos concílios de Nicéia e Laodicéia. Irineu, Orígenes e Eusébio de Cesaréia confirmam que a afirmação de Jesus como sendo apenas um homem é um traço exclusivo do ebionismo.
O alogoi do termo vem da junção do prefixo grego a com os logos gregos da palavra, tal que não significa literalmente "nenhuma palavra."Este movimento cristológico nega que Jesus é a palavra incarnate divine por causa do primeiro capítulo do evangelho de João. Jesus é justo um professor bom, e há um deus expressado em uma pessoa (pai). Esta idéia foi rejeitada pela igreja para as razões óbvias que não aceita o que a Escritura proclama sobre Jesus e o Espírito Santo. O Alogoi ou Alogi era um grupo herético surgido no segundo século. Floresceram ao redor 170 d.C.. O que nós sabemos deles é derivado pela maior parte de seus oponentes, que os suprimiram pela doutrina. Atribuíram o evangelho de João e o Apocalipse de João ao Cerinthus gnostic. Negaram a divindade do Espírito Santo e negaram a doutrina dos logos incarnate . Foram chamados "Alogi" como um título duplo, para sugerir que eram ilógicos e anti-logos. Os alogianos viam em Jesus apenas um homem, embora nascido miraculosamente de uma virgem. Ensinavam que Cristo desceu sobre Jesus, por ocasião do Seu batismo, conferindo-lhe poderes miraculosos. Eles que rejeitavam os escritos de João por que entendiam que a sua autoria do Logos está em conflito com o restante do Novo Testamento.
Podemos dizer que a primeira tentativa sistemática de conciliar unidade e pluralidade em Deus professava a unidade com detrimento da pluralidade. Chamou-se, por isto, monarquianismo, expressão derivada da exclamação: “Monarchiam tenemus”
Docetismo
O Concílio de Calcedônia, que se reuniu em 451 d.C., é considerado definitivo na história da cristologia. Sendo o ponto culminante da luta contra uma longa fileira de heresias cristológicas, declarou que a fé ortodoxa no Senhor Jesus Cristo focaliza-se nas suas duas naturezas, a divina e a humana, unidas na sua Pessoa única. O Concílio de Calcedônia tem um contexto histórico. A separação das naturezas de Jesus, proposta por Nestório, havia sido repudiada pelo Concílio de Éfeso, em 431 d.C. A harmonização entre as duas naturezas, proposta por Eutiques, foi refutada em Calcedônia.
A Fórmula Dogmática do Concílio de Calcedônia contém a reelaboração das cristologias precedentes do período patrístico, a qual reuniu o que foi elaborado precedentemente em relação aos diversos erros cristológicos do mesmo período, apresentando uma súmula das respostas do Magistério e dos teólogos ortodoxos diante dos mesmos erros, em especial, o nestorianismo, que negava a unidade das naturezas humana e divina em Cristo, e o monofisismo, que negava a plena humanidade de Cristo. A Fórmula de Calcedônia é também o ponto de partida para a Cristologia que lhe é posterior, pois, articulando as cristologias que lhe eram precedentes, e refutando os principais erros cristológicos, oferece as bases seguras para o desenvolvimento da ciência de Cristo. Ela é considerada a definição padrão da ortodoxia do ensino bíblico sobre a pessoa de Cristo desde aquela época por todos os grandes ramos do cristianismo: o catolicismo, o protestantismo e a ortodoxia oriental.
Poderíamos dizer que os movimentos cristológicos pós-apostólicos foram impulsionados por uma espécie de “presunção teológica” ao tencionarem explicar a questão das duas naturezas de Cristo. É evidente que a revelação escriturística neotestamentária nos permite chegar a uma percepção plausível a respeito da questão cristológica, todavia devemos ter em mente que
A união das duas naturezas numa pessoa é um mistério que não podemos compreender (pelo menos integralmente) e que, por essa mesma razão, é frequentemente negado. Às vezes é comparado com a união de corpo e alma no homem; e há mesmo alguns pontos de similaridade. No homem há duas substâncias, matéria e espírito, intimamente unidas e, contudo, não misturadas; assim também o Mediador.