O Equívoco de Jesus Sobre Sua Volta
A Bíblia é a fonte original de informações sobre a vida de Jesus, nela encontram-se narrativas que exaltam seus feitos e doutrinas, porém esta mesma Bíblia, venerada por milhões de cristãos, revela uma realidade que poucos querem ver e torna vã toda a fé cristã: O equívoco de Jesus sobre sua volta.
I – JESUS ACREDITAVA QUE IRIA VOLTAR ANTES QUE OS APÓSTOLOS EVANGELIZASSEM TODAS AS CIDADES DE ISRAEL
Mateus refere-se a uma orientação sobre evangelização que Jesus fez diretamente aos 12 apóstolos onde afirma que viria antes que eles terminassem de evangelizar todas as cidades de Israel:
Ora, os nomes dos doze apóstolos são estes: primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Felipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão Cananeu, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu. A estes doze enviou Jesus, e ordenou-lhes, dizendo: Não ireis aos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos (...) Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem. (Mateus 10:2-5,23).
Os apologistas cristãos tentam explicar esta situação de três formas:
(1) Que a vinda de Jesus e o sítio à Jerusalém pelas tropas romanas comandadas pelo general Tito no ano 70 d.C. são o mesmo fato.
(2) Que Jesus sabia que os apóstolos iriam morrer antes de conseguirem evangelizar todas as cidades de Israel, mas procurou poupar-lhes da informação que iriam ser martirizados e, ao mesmo tempo, incentivá-los a evangelizar como se fosse voltar logo.
(3) Que Jesus falava não só aos apóstolos, mas a todos os pregadores de todos os tempos.
Talvez porque alguns textos bíblicos se refiram à “visita” de Deus através de catástrofes e guerras, alguns pensam que Jesus veio da mesma forma. O problema é que em sua volta Jesus diz que levaria os escolhidos e todo olho o veria vir nos céus, mas não há registro histórico desse acontecimento, e se o fato ocorreu, mas não foi registrado, então não há sentido para a existência do cristianismo atual. O sítio à cidade de Jerusalém foi apenas mais uma conquista do Império Romano em ascensão, marcada por terror e fome onde, dentro dos muros de Jerusalém, mães matavam os próprios filhos para se alimentar. Quanto a Jesus ter alterado o motivo que faria os apóstolos não evangelizarem todas as cidades de Israel (de motivo “morte” para motivo “retorno redentor”), a fim de poupar-lhes que seriam martirizados e incentiva-los à evangelização, não faz sentido, pois muitas vezes Jesus disse abertamente que eles corriam riscos de morte. Quanto à alegação que Jesus se referia aos pregadores do futuro, e não somente aos apóstolos, é violentar um texto exclusivamente literal. Observe que a Bíblia cita o nome dos doze apóstolos que estavam ouvindo as palavras de Jesus, logo ele não falava a evangelistas de hoje, como alguns acreditam, mas especificamente aos apóstolos: “A estes doze enviou Jesus, e ordenou-lhes, dizendo:...”. Depois das instruções, finaliza: “Não acabareis de percorrer as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem”.
O fato é que o Filho do Homem, como Jesus se autodenominava, não voltou conforme prometido.
II – JESUS AFIRMA QUE ALGUNS DE SEUS OUVINTES ESTARIAM VIVOS NA SUA VOLTA
Porque o Filho do homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então retribuirá a cada um segundo as suas obras. Em verdade vos digo, alguns dos que aqui estão de modo nenhum provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino (Mt 16.27,28).
Essas palavras foram direcionadas às pessoas que estavam fisicamente presentes no discurso de Jesus. Nesta oportunidade ele foi mais claro que na ocasião onde disse que os apóstolos ainda estariam evangelizando, pois agora afirma diretamente que alguns de seus ouvintes não provariam a morte sem vê-lo voltar.
Apologistas cristãos dizem que Jesus se referia à transfiguração ocorrida poucos dias depois, acerca da qual alguns apóstolos foram testemunhas, porém na transfiguração apareceram apenas Elias e Moisés, e Jesus não havia sido levado aos céus para depois voltar. Portanto ele não se referia à transfiguração, mas sobre uma volta triunfante acompanhado de anjos para julgar cada um segundo as suas obras (Mt 16.27,28). Na verdade todos morreram e Jesus não voltou como previu.
III – JESUS ACREDITAVA QUE VOLTARIA NA GERAÇÃO EM QUE VIVIA
Depois de ter afirmado que os apóstolos ainda estariam evangelizando e pessoas que lhe ouviam ainda estariam vivas no seu retorno redentor, embora admitisse não saber o dia nem a hora de sua volta, Jesus faz uma terceira declaração: Voltaria naquela geração.
Certa ocasião Jesus chama os apóstolos, lhes faz revelações sobre um futuro próximo aterrador, que culminaria com sua volta de forma visível a todos, e finaliza com a seguinte afirmação: Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas essas coisas se cumpram (Mateus 24: 34).
A defesa dos apologistas acerca desta passagem é a seguinte: “Jesus estava falando sobre a geração na qual os fatos ocorreriam, uma geração posterior a dos Apóstolos”. Mas a gramática não permite tal interpretação. A palavra “esta” indica espaço de tempo no qual se inclui o momento em que se fala e “geração”, neste contexto, significa o conjunto dos indivíduos nascidos pela mesma época. Se Jesus estivesse se referindo a uma geração futura, ele usaria a palavra “essa” ou “aquela”. Em todas as traduções, versões e revisões católicas e protestantes da Bíblia para o português, a palavra encontrada é “esta”, pois seria infidelidade ao texto original utilizar-se outra palavra. Jesus usou a expressão “esta geração” porque acreditava que iria voltar na geração em que viveu, confirmando outras duas afirmações sobre sua vinda enquanto alguns de seus ouvintes ainda estivessem vivos.
IV – OS CRISTÃOS CONTEMPORÂNEOS DOS APÓSTOLOS ACREDITAVAM QUE ERA NECESSÁRIO ESTAR VIVO PARA SER SALVO E ALGUNS DEMONSTRAVAM IMPACIÊNCIA
Na cidade de Tessalônica os cristãos estavam tristes com a morte de alguns por acharem que não seriam salvos por terem morrido. Era evidente pensar assim porque o testemunho dos apóstolos dizia que Jesus voltaria (1) enquanto estivessem evangelizando, (2) durante a vida de alguns dos ouvintes de Jesus e (3) naquela geração. Então o apóstolo Paulo precisou consolá-los com as seguintes palavras:
Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais (...), os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor. (Parte de I Tessalonissenses 4: 13-18).
Conforme o texto acima Paulo acreditava na hipótese que alguns leitores de sua carta e ele mesmo ainda estariam vivos na volta de Jesus de acordo com informações dos apóstolos, e os que tivessem morrido ressuscitariam para serem salvos juntamente com eles. Observe que Paulo não cria uma ilusão de salvação futura, milênios depois, como os cristãos atuais esperam.
Em outra ocasião, na segunda carta universal de Pedro, ele faz referência a impaciênca de alguns acerca da volta de Jesus e tenta explicar dizendo que Jesus não estava retardando a sua volta, mas aguardava a conversão de todos que deveriam ser salvos sem deixar de cumprir a promessa (II Pe 3.9), qual promessa? Que voltaria logo, enquanto os apóstolos estivessem vivos, não 50 anos, 2 mil anos ou 4 mil anos depois.
V – REGISTRO TARDIO SOBRE A VIDA DE JESUS DEMONSTRA A CRENÇA NA VOLTA IMINENTE
O registro mais antigo sobre Jesus é provavelmente datado entre os anos 55 e 70 d.C., quando Marcos resolveu escrever o evangelho que leva o seu nome. Jesus morreu provavelmente entre 30 e 35 d.C., ou seja, levou-se entre 20 e 40 anos para que alguém percebesse a necessidade de escrever sobre ele. O restante do Novo Testamento foi escrito entre 70 e 99 d.C. pelos apóstolos e colaboradores como Lucas e Tiago.
Qual o motivo desta demora na compilação dos Evangelhos e de todo o Novo Testamento? A resposta está na convicção que os apóstolos tinham que ainda estariam vivos e evangelizando no evento da volta de Cristo conforme palavras dele mesmo, não havendo necessidade de registros escritos, bastando as pessoas crerem no testemunho deles e aguardar a salvação que não iria tardar.
VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se Jesus tinha a personalidade e o caráter apresentados na Bíblia, é pouco provável que tenha mentido para incentivar os apóstolos à evangelização, que tenha olhado cinicamente nos seus olhos e os tenha enganado dizendo que alguns presentes estariam vivos no seu retorno. É difícil acreditar que 12 pessoas tenham entendido mal as orientações de alguém que conheciam e mantinham grande amizade durante anos, passando a pregar, por engano, que seu mestre viria naquela geração. Os dois principais motivos que trouxeram à existência textos bíblicos sobre uma volta de Jesus em um futuro distante são: (1) A inconformação dos apóstolos e colaboradores que, depois de décadas de dedicação, não aceitaram o erro de tais previsões e passaram a procurar alternativas para explicar, para si e seus ouvintes, o não cumprimento daquilo que haviam pregado. E (2) as adulterações sofridas pelo Novo Testamento durante os 4 primeiros séculos da era cristã, cessadas tardiamente somente após o concílio de Cartago III no ano de 397 d.C. Esta esperança ilusória de salvação que, segundo Jesus, era somente para os israelitas de sua época (Isaías 65.9; Mateus 10.5,6; 16.27,28 e 24.31), foi estendida pelos apóstolos ou por adulteradores do Novo Testamento a todos os povos e postergada para um futuro incerto, mergulhando grande parte do mundo ocidental na era das trevas como registra a História, um caos só controlado recentemente pela ciência, pelo direito e pela democracia. É razoável pensar que os mitos, muito bem aceitos como verdade no mundo antigo, moldaram o nome Jesus, adicionando-lhe e amplificando seus feitos, mas, apesar de sua convicção, ele foi humano como todos nós, capaz de cometer equívocos por um ideal como registra a Bíblia. Isso deveria ser motivo de reflexão para aqueles que hoje investem suas vidas, tempo e dinheiro no cristianismo, cujas esperanças estão sepultadas com Jesus e suas testemunhas oculares há quase 2.000 anos.
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