segunda-feira, 16 de março de 2015

Download. Patrística: São João Damasceno: Apologia contra os que condenam as imagens sagradas


São João Damasceno foi um monge árabe cristão e sacerdote que viveu entre no final dos anos 600 até o final dos anos 700 d.C Ele era um homem de muitos talentosfez  trabalhos nas áreas da música, teologia, direito e filosofia. Quando a controvérsia iconoclasta ( heresia que acredita que os ícones se tornaram ídolos e deve ser removido do culto) veio à tona no século VIIISão João defendeu bravamente o uso dos ícones no culto, contrariando o imperador e escreveu esta apologia a qual traduzimos para o público de língua portuguesa, em uma tradução livre.
Esta obra magistral deve ser lida por todos os católicos e aqueles que desejam conhecer a história do uso dos ícones e imagens no culto Cristão, bem como as bases bíblicas, filosóficas e teológicas para tal.
Acesse o Link

Os Pais da Igreja e a doutrina do Inferno.

INTRODUÇÃO

Frequentemente escutamos membros de algumas seitas, como adventistas e testemunhas de Jeová,  negando a existência do inferno. Para os católicos contudo, o inferno é dogma de fé.
A este respeito o ensinamento do Catecismo da Igreja Católica Ensina:
1033 Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós mesmos: “Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu irmão é homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele" (1 Jo 3,14-15). Nosso Senhor adverte-nos de que seremos separados dele se deixarmos de ir ao encontro das necessidades graves dos pobres e dos pequenos que são seus irmãos morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é este estado de autoexclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra "inferno".
Mais adiante continua o catecismo:
1035 O ensinamento da Igreja afirma a existência e a eternidade do inferno. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos, onde sofrem as penas do Inferno, "o fogo eterno". A pena principal do Inferno consiste na separação eterna de Deus, o Único em quem o homem pode ter a vida e a felicidade para as quais foi criado e às quais aspira.”.

FUNDAMENTO BÍBLICO DO INFERNO

Igualmente a doutrina da imortalidade da Alma, a revelação da existência do inferno ao povo de Deus, foi progressiva.
Durante os oito primeiros séculos de redação da bíblia, o termo hebreu Sheol designava a morada das pessoas que morreram, bons e maus igualmente, mas em seus livros mais recentes se encontra uma clara diferença entre o castigo dos ímpios em contraposição a recompensa dos justos, tal como assinala o livro de Daniel em seu capítulo 12.
 E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente.” (Daniel 12,2-3)
E sairão, e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e serão um horror a toda a carne.” (Isaías 66, 24)
Depois disso serão cadáveres sem honra, desterrados entre os mortos, numa eterna ignomínia, porque ele os ferirá, e os precipitará sem voz, abatê-los-á nas suas bases e os mergulhará na última desolação. Eles serão entregues à dor, e a memória deles perecerá. Comparecerão aterrorizados com a lembrança de seus pecados, e suas iniqüidades se levantarão contra eles para os confundir.” (Sabedoria 4,19-20.)
Já na doutrina do Novo Testamento do inferno é muito mais clara, especialmente na pregação de Jesus, que ameaça os pecadores com castigo do inferno usando a figura do Gena.
Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado na Gena.” (Mateus 5,29)
E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mateus 10,28)
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós.” (Mateus 23,15)
Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?”(Mateus 23,33)
E, se o teu pé te escandalizar, corta-o; melhor é para ti entrares coxo na vida do que, tendo dois pés, seres lançado no inferno, no fogo que nunca se apaga, Onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga. E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno, Onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga. Porque cada um será salgado com fogo, e cada sacrifício será salgado com sal.” (Marcos 9,45-49)
É abundante também o uso de expressões como “fogo que não se apaga”, “forno de fogo”, “ Suplício Eterno”, “ser lançados nas trevas”, “ranger de dentes” para referir-se as penas do inferno.
"Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará.” (Mateus 3, 12)
E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.” (Mateus 8, 12)
e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes.” (Mateus 13,42.50)
Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes”(Mateus 22,13)
 Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;” (Mateus 25, 41)
 E, se a tua mão te escandalizar, corta-a; melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o inferno, para o fogo que nunca se apaga,” (Marcos 9, 43)
Se de fato é justo diante de Deus que dê em paga tribulação aos que vos atribulam, E a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder, Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder,” (II Tessalonicenses 1, 6-9)
 Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, Mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários.” (Hebreus 10, 26-27)
Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte.” (Apocalipse 21, 8)
E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.”  (Apocalipse 20, 10)
A parábola de Lázaro e o rico (Lucas 16) ensina como aqueles que foram reprovados sofriam o tormento de forma eterna e irrevogável.
As penas do inferno. Pena de dano e de sentido.
O catecismo da Igreja católica ensina que “a pena principal do inferno consiste na separação eterna de Deus no qual o homem unicamente pode ter a vida e a felicidade para que foi criado e as que aspira”.  Esta separação eterna de Deus ou suplício de privação, que é causada pela separação voluntário de Deus que se realiza pela morte em pecado mortal, se chama “pena de dano”.
É a principal pena do inferno por que implica na perca definitiva da visão beatifica. Os condenados estão irrevogavelmente separados de Deus, e a esta separação é a que fazem referência textos como Mateus 25, 41: “Apartai-vos de mim, malditos...”, ou II Tessalonicenses 1, 9 “Estes sofrerão a pena de uma ruina eterna, diante da presença do Senhor e da glória de seu poder
pena de sentido se refere a mudança do tormento dos condenados causado externamente por meios sensíveis. A este tormento se referem textos bíblicos como Apocalipse 20, 10: “serão atormentados de dia e de noite por todos os séculos dos séculos”. E “ali haverá choro e ranger de dentes”.
A Igreja ensina que este suplício sensível atormenta agora todos os demônios e as almas dos condenados e atormentará também aos corpos dos condenados logo depois da ressurreição dos corpos.
INFERNO NO ENSINAMENTO DOS PAIS DA IGREJA

A Igreja primitiva e os pais da Igreja acreditavam não só na doutrina da imortalidade da alma, mas também na condenação eterna dos condenados, com exceção de Orígenes e alguns de seus seguidores que erroneamente pensavam que as penas do inferno eram temporárias e de alguns hereges gnósticos que afirmavam que os que não se salvassem seria aniquilados (curiosamente o que hoje creem dos testemunhas de Jeová e Adventistas).
Já os primeiros símbolos de fé afirmavam a existência da condenação eterna, como o símbolo de Atanásio, também chamado Quicumque, no qual disse: “Os que fizeram o bem, irão para a vida eterna, os que fizeram o mal, o fogo eterno”. (Dz 40/76)

Apocalipse de Pedro
Dos textos apócrifos primitivos é um dos mais importantes, por sua antiguidade (foi escrito entre o ano 125 e 150, o que é o mesmo que 25 ou 50 anos após a morte do último apóstolo), e foi tido com grande estima pelos escritores eclesiásticos da antiguidade. Clemente de Alexandria o considerava como um escrito canônico (ver Eusébio de Cesaréa. HE 6, 14, 1). Figura também no fragmento muratoriano (a lista mais antiga do cânon do Novo Testamento), mas com a adição: “Alguns não que seja lido na Igreja”. Outros padres como Eusébio e Jerônimo o rejeitaram.
Um fragmento grego importante do Apocalipse foi encontrado em Akhmin em 1886 – 1887 e seu conteúdo descreve visões que incluem a beleza do céu e o horror do inferno e o castigo aos que são submetidos os condenados:
E havia um grande lago, cheio de lama quente, onde havia alguns homens que haviam se separado da justiça; e os anjos que eram responsáveis por atormentá-los  estavam em cima deles.”
Inácio de Antioquia
Discípulo de Pedro e Paulo, segundo bispo de Antioquia e mártir durante o reinado de Trajano por volta de 107 d.C. Quando ele foi condenado à morte foi ordenado ir da Síria para Roma para ser martirizado. No caminho de Roma escreveu sete epístolas às igrejas de Éfeso, Magnésia, Trália, Filadélfia, Esmirna, Roma e uma carta a São Policarpo. Ao escrever para aos Efésios testemunha como aqueles que morreram na impureza irão ao fogo eterno:
"Não vos iludais, meus irmãos, os corruptores da família não herdarão o Reino de Deus. Pois, se pereceram os que praticavam tais coisas segundo a carne, quanto mais os que perverterem a fé em Deus, ensinando doutrina má, fé pela qual Jesus Cristo foi crucificado? Um tal, tornando-se impuro, marchará para o fogo inextinguível, como também marchará aquele que o escuta. Por isso, recebeu o Senhor unção sobre a cabeça para exalar em favor da Igreja o perfume da incorrupção. Não vos deixeis ungir pelo mau odor da doutrina do príncipe deste mundo, de forma que vos leve cativos para longe da vida que vos espera. Por que não nos tornamos prudentes, aceitando o conhecimento de Deus, isto é, Jesus Cristo? Por que morrermos tolamente, desconhecendo o dom que o Senhor nos enviou de verdade?” (Inácio de Antioquia, Carta aos efésios, 16-17)

Justino Mártir
Mártir da fé cristã, viveu até o ano 165, quando foi decapitado, é considerado o maior apologista do século II.
"E disse mais: “Não temais aqueles que vos matam e depois disso nada mais podem fazer; temei antes aquele que, depois da morte, pode lançar alma e corpo no inferno”. Deve-se saber que o inferno é o lugar onde serão castigados os que tiverem vivido iniquamente e não acreditaram que acontecerão essas coisas ensinadas por Deus, através de Cristo.” (I Apologia 19, 7)
Quanto a alcançar a imortalidade, nos foi ensinado que só a alcançam aqueles que vivem santa e virtuosamente perto de Deus, assim como cremos que serão castigados com fogo eterno aqueles que viveram injustamente e não se converteram.” (I Apologia 21, 6)
Porque entre nós, o príncipe dos demônios do mal chamado Satanás, diabo, serpente ou caluniador, como você pode saber, se você descobrir, por nossas escrituras, e que ele e todo o seu exército junto com os homens que o seguem serão enviados para o fogo para serem punido por toda a eternidade sem fim, que é o que de antemão foi anunciado por Cristo” (I Apologia 28)
E se também vós ledes como inimigos estas nossas palavras, além de matar-nos, como já dissemos antes, nada podeis fazer. A nós, isso nenhum dano causará; a vós, porém, e a todos os que injustamente nos odeiam e não se convertem, trazer-vos-á castigo de fogo eterno.” (I Apologia 45, 6)
Assim é que os profetas anunciaram duas vindas de Cristo: uma, já cumprida, como homem desonrado e passível; a segunda, quando virá dos céus acompanhado de seu exército de anjos, quando ressuscitará também os corpos de todos os homens que existiram; revestirá de incorruptibilidade os que forem dignos, e enviará os iníquos, com percepção eterna, ao fogo eterno, junto com os perversos demônios. Vamos mostrar como foi profetizado que isso deverá acontecer.” (I Apologia, 52)
O fato é que em todas as partes há gente disposta a nos levar à morte. Exceto os que estão persuadidos de que os iníquos e intemperantes serão castigados com o fogo eterno e que os virtuosos e que viveram de modo semelhante a Cristo, viverão impassíveis com Deus...” (II Apologia 1, 2)
Todavia, logo que conheceu os ensinamentos de Cristo, não só se tornou casta, como procurava também persuadir seu marido à castidade, referindo-lhe os mesmos ensinamentos e anunciando-lhe o castigo do fogo eterno, preparado para os que não vivem castamente e conforme a reta razão.” (II Apologia 2, 2)
No princípio, Deus criou livres tanto os anjos como o gênero humano e, por isso, receberam com justiça o castigo de seus pecados no fogo eterno.” (II Apologia 6, 4)
Eles receberam merecido tormento e castigo, aprisionados no fogo eterno. Se eles agora são vencidos pelos homens em nome de Jesus Cristo, isso é aviso do futuro castigo no fogo eterno que os espera, juntamente com aqueles que os servem. Todos os profetas anunciaram isso de antemão e isso também nos ensinou o nosso mestre Jesus.” (II Apologia 7, 4-5)
"E não se oponham  a que costumam dizer os que se têm por filósofos, que não são mais que apenas ruído e espantalhos o que afirmamos sobre a punição que os ímpios devem sofrer no fogo eterno” (II Apologia 9)
 “...mas Deus poderosamente as tirará de nós, quando ressuscitar a todos, tornando uns incorruptíveis, imortais, isentos de dor e colocando-os em seu reino eterno e indestrutível, e enviando outros para o suplício do fogo eterno.” (Diálogo Com Trifão 117)
Martirio de Policarpo
É uma carta da Igreja de Esmirna a comunidade de Filomenio de onde se narra o martírio de São Policarpo de Esmirna, discípulo direto do apóstolo São João e bispo de Esmirna.
Quem não admiraria a generosidade deles, a perseverança e o amor ao Senhor? Dilacerados pelos flagelos a ponto de ser ver a constituição do corpo até as veias e artérias, permaneciam firmes, enquanto os presentes choravam de compaixão. A sua coragem chegou a tal ponto que nenhum deles disse uma palavra ou emitiu um gemido. Eles mortravam em seus corpos, mas que o Senhor, aí presente, conservava com eles. Atentos à graça de Cristo, eles desprezavam as torturas deste mundo e adquiriram, em uma hora, a vida eterna. O fogo dos torturadores desumanos era frio para eles. De fato, tinham diante dos olhos escapar do (fogo) eterno, que jamais se extingue; com os olhos do coração olhavam os bens reservados à perseverança, bens que o ouvido não ouviu, nem o olho viu, nem o coração do homem sonhou, mostrados pelo Senhor àqueles que não que não eram mais homens, mas que já eram anjos.” (Martirio de Policarpo, 2, 3-4)
Discurso a Diogneto
É um breve tratado apologético dirigido a alguém chamado Diogneto o qual aparentemente havia perguntado algumas coisas que chamaram a atenção sobre as crenças e modo de vida cristãos: É de um autor desconhecido e se estima que foi composto no fim do século II. 
Então, ainda estando na terra, contemplarás porque Deus reina nos céus. Aí começarás a falar dos mistérios de Deus, amarás e admirarás aqueles que são castigados por não querer negar a Deus. Condenarás o engano e o erro do mundo, quando realmente conheceres a vida no céu, quando desprezares esta vida que aqui parece morte e temeres a morte verdadeira, reservada àqueles que estão condenados ao fogo eterno, que atormentará até o fim aqueles que lhe forem entregues. Se conheceres esse fogo, ficarás admirado, e chamarás de felizes aqueles que, pela justiça, suportaram o fogo passageiro.” (Discurso a Diogneto, 10, 7-8)
Atenágoras
Reconhecido como apologista cristão primitivo do século II:
Sei que com o que eu disse estou defendido diante de vós. De fato, superando a todos por vossa inteligência, sabeis que aqueles que tomam a Deus como regra de vida, para que cada um de nós esteja sem culpa e sem mancha em sua presença, não podem ter, em pensamento, o mais leve pecado, e acreditássemos que nada existe além desta vida presente, poder-se-ia suspeitar que pecássemos, submetendo-nos à servidão da carne e do sangue ou sendo dominados pelo lucro e pelo desejo. Sabendo, porém, como sabemos, que Deus vigia nossos pensamentos e nossas palavras, tanto de dia como de noite, e que ele é todo luz e vê até dentro do nosso coração; acreditando, como cremos, que, ao sair desta vida, viveremos outra melhor, contando que permaneçamos com Deus e por Deus inquebrantáveis e superiores às paixões, com alma não carnal, mas com espírito celeste, embora na carne; ou acreditando que, se cairmos como os demais, espera-nos uma vida pior no fogo (porque Deus não nos criou como rebanhos ou bestas de carga, de passagem, só para morrer e desaparecer); crendo nisso, dizíamos, não é lógico que nos entreguemos voluntariamente ao mal e nos joguemos a nós mesmos nas mãos do grande juiz para sermos castigados.” (Atenágoras, Petição a favor dos Cristãos, 31)
 Ireneu de Lião
Santo Irineu (bispo e Mártir). Foi discípulo de São Policarpo que por sua vez foi discípulo do apóstolo São João. Conhecido por seu tratado “Contra as Heresias” onde combate as heresias de seu tempo, em especial a dos gnósticos.
No Novo Testamento, [1062] cresceufé dos homensemDeus, ao receberemo Filho de Deuscomo um bemadicionadoa fim de que os homens tivessem a participação de Deus.Da mesma formaaumentoua perfeiçãodo comportamento humano, pois somos instruídos aabster-senão só demás ações, mas tambémdos maus pensamentos(Mt 15,19)depalavras ociosas, expressões vãs (Mt 1236elicenciososdiscursos (Ef 5, 04):deste modotambém ampliou apunição daquelesque não acreditamna Palavrade Deus,que desprezamsua vindaerecusamporque não vaiser mais temporária, maseterna.Paratais pessoas,o Senhordirá: ‘Apartai-vos de mim, malditospara o fogo eterno’ (Mateus 25:41), e serápara semprecondenado.Mas aos outros vaidizer:Vinde, benditos de meu Pai, recebam por herança o reinopreparado para vós desdesempre’(Mt 25, 34),ereceberão o reinoonde eles terãoumprogressoperpétuo.Isso mostra queum e o mesmoDeus, o Paie que a SuaPalavra estásempre do ladoda humanidade,comeconomias diferentes, realizando vários trabalhos, poupando aqueles queforam salvosdesde o inícioisto é, paraaquelesque amam a Deuse de acordo coma sua capacidade deseguir a suapalavrae, a julgaraqueles que estãocondenadosou quese esquecem de Deus,blasfemame violama sua palavra.” (Santo Ireneu, contra as heresias IV, 28,2)
 Tertuliano
Estritamente falando, Tertuliano não é considerado um pai da Igreja, mas um apologista e escritor eclesiástico, já que no final de sua vida cai em heresia abraçando o montanismo. Porém foi lido antes de seu abandono da Igreja Católica. Tanto em seu período ortodoxo quanto em seu período herético temos em Tertuliano um testemunho sem igual que nos informa sobre a prática primitiva da penitência na Igreja.
Quando escreve De Paenitentia (aproximadamente no ano de 203 d.C. sendo todavia católico), fala aqui de uma segunda penitência que Deus ‘há colocado no vestíbulo para abrir a porta aos que chamam, mas somente uma vez, por que esta já é a segunda’, mas para quem rejeita esta penitência descreve a condenação eterna do inferno, castigo de quem não quis se arrepender e confessar seus pecados.
Se recusas a penitência pública, medita em teu coração acerca da gena que para ti há de ser extinguida mediante a penitência. Imagina-te antes de tudo a gravidade da pena, a fim de que não vaciles em assumir o remédio. Como devemos considerar esta caverna do fogo eterno, quando através de algumas suas lareiras se produzem tais erupções  de vigorosas chamas, que fizeram desaparecer as cidades próximas ou estão a espera de que isto lhes ocorra a qualquer dia? Montes altíssimos saltam feito pedaços por causa do fogo que encontram, e como resultado para nós um indício da perpetuidade deste fogo o fato de que, por mais que estas erupções quebrem e destruam as montanhas, nunca cessa esta atividade. Quem diante dos choques dos montes poderá deixar de considerá-los como um sinal de iminente juízo? Quem poderá pensar que tais chamas não sejam uma espécie de armas de arremesso que provém de um fogo colossal e indescritível?" (Tertuliano, De la penitencia, 12: PL 1,1247)
 Cipriano de Cartago
São Cipriano nasceu em torno do ano 200, provavelmente em Cartago, de família rica e culta. Dedicou-se, em sua juventude, à retórica. O desgosto que sentia diante da imoralidade dos ambientes pagãos contrastados com a pureza de costumes dos cristãos o induziu a abraçar o Cristianismo por volta do ano 246. Pouco depois, em 248, foi eleito bispo de Cartago. Durante a perseguição de Décio, em 250, julgou melhor afastar-se para outro lugar, para continuar a se ocupar com seu rebanho de fiéis. Dele conservamos uma dezena de opúsculos sobre diversos temas de então e, particularmente, uma coleção de 81 cartas.
Que glória para os fiéis haverá então, que castigo para os não crentes, que dor para os infiéis por não haver querido crer em outro tempo neste mundo e não poder agora voltar atrás e crer. A gena sempre em chamas e um fogo devorador abrasará aos que ali irem, e não terão descanso seus tormentos nem fim em nenhum momento. Serão conservadas as almas com os corpos para sofrer com inacabáveis suplícios. Ali veremos sempre ao que aqui não olhamos por um tempo, e o breve prazer que tiveram os olhos cruéis nas perseguições será contrapesado pelo espetáculo sem fim, segundo o testemunho da Sagrada Escritura, quando disse “Seu verme não morrerá, e seu fogo não se extinguirá, e servirão de espetáculo a todos os homens... Então será em vazio o arrependimento, vãos os gemidos e sem eficácia os rogos. Tarde crêem na pena eterna os que não quiseram crer na vida eterna.” (Cipriano, A Demetriano, 24)
 Basilio de Cesárea
Nasceu por volta do ano 330, do seio de uma família profundamente cristã. No ano 364 foi ordenado sacerdote e, 6 anos depois, sucedeu a Eusébio, bispo de Cesaréia, metropolita da Capadócia e exarca da diocese do Ponto. Faleceu no ano 379.
É evidente que as obras são a causa de que alguém acabe por ser condenado ao suplício, uma vez que somos nós mesmos os que não nos dispomos para ser merecedores do queimamento, de modo que os vícios da alma são como faíscas de fogo que produzimos para acender as chamas da gena, como no caso daquele rico que se queimava no fogo de seus próprios prazeres que o abrasavam. Contudo, a intensidade do fogo devorador será maior ou menor, segundo sejam os dardos lançados sobre cada um pelo maligno.” (Basílio de Cesárea, Comentário sobre Isaías 1,64)
“... não está presente no inferno quem louva, nem no sepulcro quem se lembra de Deus, porque tampouco está presente o auxílio do Espírito Santo. Como se pode, pois, pensar que o juízo se efetua sem o Espírito Santo, enquanto que a Palavra mostra que Ele mesmo será também a recompensa dos justos, em vez do penhor, entregue a todos, e que será a primeira condenação dos pecadores quando se lhes despojar a mesma coisa que pareciam ter?” (Basílio de Cesárea, O Espírito Santo, 16,40)
 Gregorio Nazianzeno
Arcebispo de Constantinopla e doutor da Igreja, nascido em Nazianzo, Capadócia no ano de 329 d.C, e morreu em 389. Celebre por sua eloquência e por sua luta em sua colaboração na luta contra o arianismo, junto com são Basílio e são Gregório de Nissa. É conhecido com um dos 4 grande doutores da Igreja Grega.
Conheço o temor, a agitação, a inquietude e o quebramento do coração, a vacilação dos joelhos e outras penas semelhantes com que são castigados os ímpios. Vou dizer, todavia, que os ímpios são entregues aos tribunais da outra vida pela justiça parcimoniosa deste mundo, de modo que se mostra preferível ser castigados e purificados agora, que ser encaminhados aos suplícios da vida após a morte, quando já será o tempo de castigo e não da purificação.” (Gregório Nazianzeno, Discursos, 16,7)
Gregório de Nissa
Nasceu entre os anos 331 e 335. Era irmão de São Basílio Magno, que o consagrou bispo de Nissa em 371. Faleceu no ano 394. Gregório de Nissa também fala repetidas vezes do “fogo inextinguível” e da imortalidade do “verme” de uma pena eterna e ameaça o pecador com sofrimentos eternos e eterno castigo, no entanto, igualmente a Orígenes cai no erro de pensar que as penas do inferno não eram eternas.
E a vida dolorosa dos pecadores não são comparáveis com as sensações dos que sofrem aqui. Mas ainda neste caso de que se aplique algum castigo além do nome com que se lhe conhece aqui, a diferença não é pequena. Efetivamente, ao escutar a palavra fogo, aprendi a pensar algo distinto do fogo daqui, porque nele se encontra uma qualidade que não há neste: aquele, de fato, não se extingue, enquanto que este daqui pode ser extinguido por múltiplos meios que ensina a experiência e a diferença é grande entre um fogo que se extingue e outro que é inextinguível. Portanto, é outro, e não o mesmo que o daqui. E também quando um ouve a palavra verme, que por a semelhança do nome não se deixe levado a pensar que este animalito terrestre, porque o acréscimo da qualidade “eterno” supõe que se deve pensar em outra natureza diferente da que conhecemos.” (Gregorio de Nissa, A grande Catequese, 40, 7-8)
 Jerônimo
Reconhecido como um dos quatro doutores originais da Igreja Latina. Padre das ciências bíblicas e tradutor da Bíblia em Latim. Presbítero, homem de vida ascética, eminente literato. Nasceu no ano de 347 d.C e morreu em 420.
São muitos os que dizem que no futuro não haverá suplício pelos pecados nem se lhes aplicará castigos que venham do exterior, mas que a penas consistirá no pecado mesmo, e em ter consciência do delito, não morrendo o verme no coração e ardendo o fogo na alam de um modo semelhante a febre, que não atormenta o enfermo por fora, mas que, apoderando-se dos corpos, castiga sem usar qualquer instrumento externo de tortura. Estas persuasões são laços fraudulentos, palavras vazias e sem valor, que deleitam como flores aos pecadores, mas que lhes infundem uma confiança que lhes conduz aos suplícios eternos” (Jerônimo, Comentário a Carta a los Efésios, 3,5,6)
 João Crisóstomo
São João Crisóstomo é o representante mais importante da Escola de Antioquia e um dos quatro grandes Padres da Igreja no Oriente. Nascido por volta do ano 350, talvez antes, foi ordenado sacerdote no ano 386 e em 397 foi consagrado bispo de Constantinopla. Morreu em 407.
São João Crisóstomo da uma explicação detalhada da diferença entre a pena de dando e de sentido, e de como a primeira é a principal pela do inferno por implicar a separação definitiva de Deus.
 A dupla pena do inferno: o fogo e a privação de Deus. Aparentemente não há aqui mais que um só castigo, que é o ser queimado pelo fogo, porém, se cuidadosamente o examinamos, veremos que são dois, pois o que é queimado é ao mesmo tempo banido para sempre do reino de Deus. E este castigo é mais grave que o primeiro. Já sei que muitos só temem o fogo do inferno, mas eu não vacilo em afirmar que a perda da glória eterna é mais amarga que o próprio fogo. Agora que eu não possa expressar com palavras, não há o que se estranhar, pois tampouco sabemos a natureza dos bens eternos para podermos se dar conta da desgraça que é nos vermos privados deles... Certo é que insuportável é o inferno e o castigo que ali se padece. Contudo, ainda quando me ponha mil infernos diante de mim, nada me dirás comparável com a perda da glória da bem-aventurança, com a desgraça de ser odiado por Cristo, de ter que ouvir por sua boca “não te conheço”. De que nos acuse de que lhe vimos faminto e não o demos de comer. Mais valerá que mil raios nos abrasem do que não ver aquele manso rosto que nos rejeita e aqueles olhos serenos que não podem suportar nos olhar. ” (João Crisóstomo, Homilías sobre Mateus 23,8)
Agostinho de Hipona
Doutor da Igreja nascido em Tagaste (África) no ano 354, filho de Santa Mônica. Após uma vida ímpia, converteu-se no ano 387 e, posteriormente, foi eleito bispo de Hipona, ministério que exerceu durante 34 anos. É considerado um dos Padres mais influentes do Ocidente e seus escritos são de grande atualidade. Morreu no ano 430.
Tens, ouvido, pois, no Evangelho que há duas vidas: uma presente, outra futura. A presente a possuímos: na futura cremos. Encontramo-nos na presente; a futura ainda não temos chegado. Enquanto vivemos a presente realizamos méritos para adquirir a futura, pois ainda não estamos mortos. Acaso se lê o Evangelho nos infernos? Se de fato fosse assim, em vão lhe ouviria o rico aquele, porque não poderia haver penitência frutuosa. A nós se nos é lido aqui e aqui o ouvimos, donde, enquanto vivemos, podemos ser corrigidos, para não chegar naqueles tormentos.” (Agostinho de Hipona, Sermão, 113-A, 3)
Por isto o que sucede aqui, o entendimento humano poderia ter uma ideia do que nos está reservado no que há de vir. No entanto, que grande desproporção! Vive, não quer morrer; daqui o amor a vida inacabável, ao querer viver, ao não querer morrer nunca. Com tudo isso, os que irão as tortuosas penas do inferno desejarão morrer e não poderão.” (Agostinho de Hipona, Sermón 127, 2)
Gregorio Magno
Papa e doutor da Igreja, é o quarto e último dos originais Doutores da Igreja latina. Defendeu a supremacia do Papa e trabalhou pela reforma do clero e da vida monástica. Nasceu em Roma por volta do ano 540 e faleceu em 604.
 Se aos bons lhes ocorre mal e aos maus bem, talvez se deva por os bons, se pecaram em algo, recebem aqui o castigo para ser plenamente livres da condenação eterna, enquanto que os maus encontram aqui a recompensa pelo bem feito nesta vida afim de que na futura só sofram tormentos.” (Gregório Magno, Moral em Jó, V)
 DEFINIÇÕES DO MAGISTÉRIO DA IGREJA

No concílio Lateranense IV (ano 1215) se define a existência do inferno e a eternidade das penas. O mesmo nos concílio de Lião II (ano de 1274), e Florença (ano de 1439) onde se declara que a condenação eterna começa imediatamente depois da morte.
Na Bula Benedictus Deus o papa Bento XVI (ano de 1336) lemos:

Definimos que, segundo a disposição geral de Deus, as almas dos que morreram no pecado mortal atual descendem, depois de sua morte, ao inferno, onde são atormentados com penas infernais”. (Dz 531; cf. Dz 429, 464, 693, 835, 840)
O magistério recente confirma a doutrina da Igreja sobre o inferno expressamente no concílio Vaticano II em suaConstituição Dogmática sobre a Igreja, nos exorta a velar para entrar na vida e apartamos do castigo eterno:

E como não sabemos nem o dia nem a hora, por aviso do senhor, devemos vigiar constantemente para que, terminado o único prazo de nossa vida eterna (cf. Hb 9, 27), se queremos entrar com Ele nas núpcias mereçamos ser contados entre os escolhidos (cf. Mt 25, 31-46); não seja como aqueles servos maus e preguiçosos (cf. Mateus 25, 26), sejamos jogados ao fogo eterno (cf. Mateus 25, 41), as trevas exteriores onde ‘haverá pranto e ranger de dentes’ (Mateus 22, 13-25, 30).
O mesmo o papa Paulo VI:
Os que os rejeitaram (o amor e a piedade de Deus) até o final, serão destinados ao fogo que nunca cessará” (Paulo VI, Profissão de fé, AAS 60 (1968) 444.)

A imagética no cristianismo primitivo


Após a morte de Jesus Cristo, a pregação do cristianismo, recaiu sobre os ombros dos apóstolos, logo, quando finalmente se expandiu por diversas áreas principalmente por Roma e pelos territórios dominados por ela. Com o passar do tempo, a ação dos apóstolos se mostrou mais eficaz, então o cristianismo se tornou para os dirigentes romanos, uma afronta aos valores e interesses do império. A crença monoteísta era contrária ao panteão de divindades romanas, entre as quais se destacava o próprio culto ao imperador de Roma. Ao mesmo tempo, o conceito de liberdade fazia com que vários escravos não se submetessem à imposição governamental que legitimava a posição subalterna dos mesmos.
 Dessa forma, os cristãos passaram a ser perseguidos das mais variadas formas. Eram torturados publicamente, lançados ao furor de animais violentos, empalados, crucificados e, até mesmo, queimados vivos. Para redimir e orar pelos seus mártires, os cristãos passaram a enterrá-lo nas chamadas catacumbas. Estas funcionavam como túmulos subterrâneos onde os cristãos poderiam fugir dos soldados romanos, entoarem cantos e pintar imagens que manifestavam sua fé. As primeiras catacumbas encontradas são datadas do século II d.C
 A pintura elaborada no interior das catacumbas era rodeada de uma simbologia que indicava a forte discrição do culto cristão naquele momento. O que mostra que desde o cristianismo primitivo as imagens eram utilizadas pra expressão de fé e devoção. As imagens mais freqüentes eram o crucifixo, que lembrava o sacrifício de Jesus. A âncora que significava o ideal de salvação. O peixe era bastante comum, pois peixe em grego é ICTUS que é eram as mesmas iniciais de: “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador” e diversas passagens bíblicas.  
 As catacumbas e os pais da Igreja
Entre o final do quarto e do início do século quinto, os Padres da Igreja descreveu as catacumbas. São Jerônimo foi o primeiro a contar como ele quando ainda era estudante ia aos domingos visitar os túmulos dos apóstolos e dos mártires, juntamente com seus companheiros de estudo: “Gostaríamos de entrar as galerias escavadas das entranhas da terra... luzes raras vindas de cima da terra atenuam a escuridão um pouco... Nós avançamos lentamente, um passo de cada vez, completamente envoltos em trevas”. O poeta ibérico, Prudêncio, também lembra que, nos primeiros anos do século quinto, que muitos peregrinos para Roma e até mesmo de regiões vizinhas para venerar o túmulo do mártir Hipólito que foi enterrado nas catacumbas da Via Tiburtina.
 Abaixo fizemos uma seleção de imagens das catacumbas que nos ajudam entender como desde os apóstolos as imagens eram utilizadas:
Fotos da Catacumba de Priscila em Roma.
Imagem que retrata a história dos 3 jovens na fornalha cantada pelo livro de Daniel, nas paredes da Catacumba de Priscila em Roma
Retratação de Jonas sendo vomitado pela baleia – Catacumba de São Marcelino e Pedro em Roma.
Noé na Arca - Catacumba de São Marcelino e Pedro em Roma.
Inscrições funerárias com símbolos – Catacumba de São Sebastião em Roma
Maria e o Profeta – Catacumba de Priscila em Roma (Século III)
Essa é a imagem mais antiga preservada de Maria, que é retratada em uma pintura no cemitério de Priscila na Via Salaria. O afresco, é datado da primeira metade do século III, mostra a Virgem com o Menino de joelhos na frente de um profeta (talvez Balaão ou Isaías), que aponta para uma estrela para se referir a previsão messiânica. Nas catacumbas outros episódios com Nossa Senhora também são representados, como a Adoração dos Magos e cenas do presépio de Natal, acredita-se que antes do Concílio de Éfeso, todas essas representações tiveram um significado cristológico.
O bom pastor -Catacumba de Priscila em Roma (Século III)
 Inscrições devocionais – Catacumba de São Sebastião em Roma 
 
Peixe Eucarístico (Representação de Jesus) – Crípita de São Gaio e Eusébio

GALERIA DA CATACUMBA DE SÃO CALISTO

 
Lóculos (nichos de inumação) - Catacumba de São Calisto.
Chi-Rho e o símbolo do peixe - Catacumba de São Calisto 

Cristo como bom pastor - Catacumba de São Calisto
Cristo como bom pastor – Catacumba de Domitila.
Afresco do Pão e Peixe Eucarísticos - Catacumba de São Calisto
Afresco com Cristo de barba - Catacumba de Comodila.
Epitáfio na Catacumba de São Sebastião
Pyxis Retratando mulheres no sepulcro de Cristo (Século IV)
Narrativa cenas como essa, feita visível as palavras dos Evangelhos.De um lado da Pyxis, em uma cena baseada no Evangelho de Lucas (24, 1-10), três mulheres, a Virgem Maria, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, ficarem com as mãos levantadas no orant (oração) pose. Do outro lado da caixa, duas das Maria’s balançar turíbulos medida que se aproximam um espaço abobadado onde as cortinas amarradas para trás revelam um altar iluminado por uma lâmpada suspensa.A iconografia da área do altar é familiar a partir do quinto século Pola Marfim (Museo Archeologico, Veneza), uma representação da área do antigo santuário de São Pedro em Roma.

Sobre o altar é o livro do Evangelho.No início da igreja, o altar passou a ser entendido como o símbolo da tumba de Cristo, essa fusão é parcialmente baseado no fato de que os elementos da Eucaristia foram colocadas no altar durante a liturgia, e especialmente preservadas porções depositada no altar para uso em emergências.recipientes do Marfim, como neste exemplo finamente esculpida trabalhou a partir de uma seção transversal de presa de um elefante, pode ter sido usado para transportar o pão da Eucaristia com os demais doentes ou idosos para participar do serviço.
 Jesus, Pedro e Paulo (Século IV)
 
Catacumba dos Santos Marcelino e Pedro na Via Labicana . Cristo
entre Pedro e Paulo. Para os lados são os mártires Gorgonius,
Pedro Marcelino , Tiburtius. Este cemitério está no terceiro marco na Via Labicana, perto de uma vila imperial pertencente a Constantino.
 
Rosto de Cristo da Foto anterior mais de Perto.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Salmo 2: um texto ideologicamente maligno?


Os textos bíblicos, como quaisquer textos, são usados por seus leitores para diferentes finalidades. Não é difícil encontrar leitores empregando a Bíblia para legitimar suas próprias ideias. Mas apesar dessa autonomia interpretativa exercida pelo leitor, a maioria deles encontram nas páginas da Bíblia conteúdos que incentivam o amor ao próximo, a caridade, a religiosidade... O Salmo 2 me surpreendeu justamente porque não lida com esses conteúdos mais habituais; antes, é um texto ideologicamente maligno. Noutras palavras, é um texto ditatorial, que justifica a violência e a opressão, e eu nunca tinha notado isso.
No estudo que farei empregarei a versão de João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida (ARA), e isso simplesmente porque estou mais acostumado a ler o Salmo nessa versão. Farei ainda alguns comentários sobre as questões técnicas, conjeturas sobre o contexto social e histórico, mas com brevidade, para que a análise não se desvie de seus objetivos iniciais.
Façamos a leitura dos primeiros versículos:
Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs?
Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo:
3 “Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas”.
As primeiras palavras nos colocam em contato com o narrador, sujeito anônimo como geralmente acontece na Bíblia. Ele nos fala de eventos e personagens bem específicos, que parecem nos remeter ao período monárquico em Judá, também chamado de Reino do Sul (em oposição a Israel, Reino do Norte), antes da invasão babilônica e do exílio. Não cheguei a empreender pesquisas extra-textuais que me permitissem apontar com maior precisão se esse texto condiz com algum momento histórico vivido por aquele reino, mas o que importa é que o mundo do texto, o cenário criado, nos remete à monarquia judaíta em dias de apogeu.
Segundo o narrador, os gentios, que são todos os que não são de Judá, planejam inutilmente se libertar do domínio político que este exercia sobre eles. Os gentios supostamente clamavam por liberdade e planejavam um motim contra Judá, o dominador. O versículo 3 deixa isso muito claro: Judá e os hebreus, que na maior parte de sua história estiveram sujeitos a reinos e impérios, surpreendentemente estão por cima. Daí minha estranheza frente ao contexto sugerido pelo texto; estamos ouvindo a voz do opressor, e não do oprimido como quase sempre acontece.
Peço licença para falar do que o texto não diz: Normalmente, o domínio de um reino sobre o outro era expresso de forma violenta, num controle militar rigoroso, na expropriação de terras, na escravização das pessoas, na cobrança de taxas... Imagino, portanto, que era desse tipo o domínio que Judá poderia estar exercendo sobre algumas nações vizinhas, domínio sempre ditatorial que o texto figurativiza através de expressões como laços e algemas.
Vale destacar que o plano de liberdade dos gentios, dos reis da terra, é considerado inútil por esse narrador porque ele acredita que o domínio de Judá é um estado que o próprio Deus estabeleceu. Por isso, no versículo 2 ele diz que se levantar contra Judá é lutar contra Deus. Também diz que o rei de Judá é o “Ungido”, isto é, aquele que Deus elegeu e capacitou para exercer uma missão especial.
A prova de que sua confiança na manutenção do domínio judaíta está em Deus aparece nos próximos versículos:
Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles.
Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá.
“Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião”.
Os versículos 4 e 5 falam de Deus. Como é comum nos textos bíblicos, um narrador onisciente e anônimo fala como quem conhece Deus, como quem entende seus planos, ouve sua voz. A suposta rebelião dos gentios seria dissipada pela ira de Deus, que é tão superior, são poderoso, que ri dos rebeldes e de seus projetos libertários.
Sugiro que o meu leitor atente para o versículo 6, e para o fato de que eu o coloquei entre aspas. Fiz isso porque entendo que nesse ponto o narrador cita o próprio Deus. Entenda: o narrador continua falando, mas usa a voz de Deus, seu personagem, como um recurso literário, com propósitos estilísticos e retóricos. O problema é que isso não está indicado no texto por nenhum sinal gráfico nem por palavras; cabe ao leitor atento descobrir de quem é as palavras. Essa é uma das questões técnicas às quais me referi no começo: os salmos não costumam marcar para o leitor as transições da voz narrativa; não costumam anunciar quem está se expressando com a clareza que vemos, por exemplo, nos evangelhos.
Seja como for, o conteúdo que as supostas palavras divinas querem transmitir é simples: Foi Deus quem instituiu o rei de Judá, que habita provavelmente num palácio localizado no Monte Sião, que é Jerusalém. Isso, como vimos, já fora dito pelo narrador, mas agora é Deus quem fala, e isso torna qualquer asserção mais confiável para o leitor.
Seguindo como a leitura, eu acredito que há uma nova transição não anunciada pelo narrador. Eu diria que a partir do versículo 7 quem fala não é nem o narrador, nem Deus, mas o próprio rei, também chamado de Ungido. Todavia, o tal Ungido também faz como o narrador e cita supostas palavras de Deus:
7“Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse:
‘Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei.
Pede-me, e eu te darei as nações por herança
e as extremidades da terra por tua possessão.
Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro’”.
O objetivo dessas linhas é anunciar um decreto divino, que elegeu este tal rei para exercer o cargo de governante de Judá e, por meio desse cargo, das nações das redondezas. O decreto deixa claro que ele tem o direito de dominar toda a terra, isto é, de fundar um verdadeiro império.
O rei ganha um novo epíteto, o de Filho de Deus, e isso tem conduzido muitos leitores a ignorar os problemas desse texto em nome de uma leitura cristológica. Sua proximidade para com Deus é, portanto, fator determinante para que se aceite seu domínio como um domínio divinamente fundamentado.
Para os leitores mais devotos, ofereço dois argumentos para defender a posição de que esse rei não é Jesus: Primeiro, sabemos que esse império israelita ou judaíta nunca existiu. Embora não saibamos com exatidão de que período histórico esse texto está falando (se é que fala de algum), é fato que Judá não exerceu um domínio tão extenso e duradouro quanto o que autor acredita que exerceria. Segundo, o versículo 9 nos mostra que o projeto imperialista desse Ungido é violento, ditatorial, maligno... Ele quer que Judá despedace seus dominados, e não sei como isso pode ser lido como um projeto divino.
Enfim, discordo do projeto ideológico do salmo; discordo de sua teologia, de sua política, e conhecendo um pouco da história fico feliz por saber que esse judeu não realizou seus objetivos. Mas passemos às últimas estrofes dessa poesia ditatorial que por algum motivo desconhecido ganhou um lugar privilegiado no cânon bíblico:
10 Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra.
11 Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor.
12 Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira.
Bem-aventurados todos os que nele se refugiam.
O narrador retoma o controle e cala seus personagens. Depois de várias linhas empenhado em nos fazer acreditar que esse reino é divinamente fundamentado, e que seu governante é uma espécie de líder messiânico, ele passa ao que realmente queria. O narrador coloca os imperativos, dá ao leitor as ordens que queria transmitir desde o começo.
Ele pede aos narratários, os reis da terra, que sejam prudentes, que se deixem advertir pelo salmo, que sirvam ao Senhor com alegria e respeito, e que se submetam ao domínio exercido pelo rei que habita em Jerusalém. Na verdade, o salmo nada mais é que uma tentativa de suprimir a revolta dos gentios, anunciada nos primeiros versos. Para convencer seus narratários, para levá-los finalmente a aceitar o contrasto proposto, ele usa de vários recursos: 1) ele usa principalmente de intimidação; ameaça-os com a ira de Deus, que segundo ele está prestes a se irritar com os rebeldes que não aceitam servi-lo (isto é, submeter-se ao governo de Judá); 2) ao mesmo tempo lhes oferece segurança, refúgio àqueles que atendem a seus pedidos, que beijam o filho e passivamente se deixam dominar; 3) e ainda provoca dizendo que seu modo de agir é imprudente, já que seria prudente deixar-se advertir.
Lido o texto, passo a propor algumas poucas reflexões de caráter mais pragmático.
·       O texto que lemos nos mostra que a Bíblia não é unânime, não apresenta apenas um tipo de religiosidade, não defende apenas um projeto político ou social e, portanto, não é um simples guia para a vida cristã como muitos acreditam. A Bíblia deve ser lida como um registro de diferentes pontos de vista, de diferentes momentos históricos, e que não podem ser recebidos sem a devida reflexão. A Bíblia é apenas um ponto de partida para nossas próprias experiências, uma inspiração, cheia de bons e maus exemplos que ao cabo sempre podem nos instruir. Assim, uma leitura fundamentalista, que pretende “viver”, obedecer cada imperativo contido em suas páginas, só pode resultar em confusão.
·       Se o leitor concordou comigo e chegou à conclusão de que esse texto defende um projeto ditatorial, será obrigado a admitir que o relacionamento do cristão com a Bíblia deve ser bem mais sério do que geralmente se pratica. Os versículo 8, por exemplo, costuma legitimar o cristianismo e ser usado por teólogos da prosperidade, mas do meu ponto de vista ambos estão errados, estão se aproveitando do texto ao isolar esse versículo dos demais. O versículo 9 nos revela que não há nada do Cristo no tal Filho Ungido que o Salmo 2 nos apresenta, e que o verso não é uma promessa universal de prosperidade, não autoriza qualquer um a pedir, determinar e receber dádivas de Deus. Na verdade, o que vimos é que só o tal Ungido se achava nesse direito, e mesmo assim, a história de Israel nos prova que esse homem, se existiu, nunca recebeu as nações por herança. Essas são questões que geralmente surgem nas aulas de exegese.
·       Na leitura que fiz mostrei que a realidade histórica por traz do texto pode iluminar nossa compreensão, mas não é determinante. Procurei mostrar como a ideologia está sendo defendida, e não sabemos se as afirmações correspondem a qualquer realidade histórica passada. Ou seja, a Bíblia pode ser lida como ficção, útil para quem a recebe, independente de dizer a verdade ou não. Vale dizer que não estou dizendo que as histórias bíblicas são falsas, mas que elas podem ser e nem Sempre seremos capazes de avaliar isso; todavia, isso não é tão importante quanto se julga por aí. O que vale numa narrativa lida não é sua historicidade, e sim, sua mensagem.
·       Também gostaria de dizer que esse texto, se ele realmente preserva a memória de um opressor, pode servir para desencadear uma reflexão sobre a religiosidade humana: Os homens usam Deus, falam em seu nome, e sempre acham que estão fazendo a coisa certa. Todo vilão é herói desde seu ponto de vista, e julga ter Deus a seu lado, contar com sua bênção, e espera ir para o céu um dia. Nem o mais abusivo dos ditadores admitiria servir ao Diabo, e por isso nós temos que ser cuidadosos quando as pessoas falam em nome Deus. Como aconteceu nesse salmo, isso pode ser apenas um truque para manipular os outros. Os líderes religiosos, em especial, usam das mesmas estratégias que o salmista: apoiam-se num suposto “chamado” ou “eleição”, num título religiosamente fundamentado, ameaçam os seguidores com o inferno, e prometem que Deus vai recompensar os que fazem o que eles querem. Pois é, a história sempre se repete.

Enfim, certamente há mais lições para extrair desse texto e da nossa leitura, mas penso que as acima apontadas são suficientes. Como sempre, desejo que o leitor concorde comigo e aprenda a ler a Bíblia de um modo que considero mais maduro; contudo, se o leitor discorda (e ele tem todo o direito), ele pode seguir lendo como desejar, enquanto minha esperança é a de que ele tenha sido aperfeiçoado de algum modo pelo meu trabalho. Então, sigamos refletindo, discutindo, compartilhando, discordando... Mas resistamos aos opressores; mesmo quando eles são bíblicos.