quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Sócrates e a doutrina do Voluntarismo "Poder é direito"




Rm 9:13 -  Como está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a Esaú.
 Essa citação se baseia no trecho de Ml 1:2,3. Os intérpretes se têm esforçado extraordinariamente para enfraquecer o senso de «ódio» que aqui transparece, suavizando-o para «amor menor», ou alguma outra modificação qualquer. Qualquer pessoa que lê o contexto do segundo capítulo da profecia de Malaquias, entretanto, percebe claramente que as palavras «amar» e «aborrecer» devem ser entendidas em seu sentido literal. O trecho de Ml 1:4 fala dos edomitas como «Povo contra quem o Senhor está irado para sempre».

Na exegese ou interpretação, é necessário manter a honestidade a qualquer custo, em que, antes de tudo, se deve determinar o sentido exato de qualquer passagem bíblica dada. Somente quando um sentido é inaceitável é que o intérprete tem o direito de aliviar os elementos inaceitáveis, para que a interpretação resultante se coadune com o resto dos ensinamentos bíblicos, para que tal interpretação possa ser aceita pela consciência humana. Assim é que, nessa passagem de Malaquias, citada por Paulo neste versículo, não pode estar em vista qualquer outra coisa além do ódio literal, em que o Senhor aparece irado contra certo povo «...para sempre».

Realmente, isso parece ser contrário a tudo quanto sabemos sobre Deus, porque parece negar sua misericórdia e seu amor, como algo diametralmente contrário à mensagem do trecho de Jo 3:16. Portanto, na interpretação deste versículo, que oracomentamos, que se pode dizer? Não é honesto tentarmos reduzir o seu sentido a termos como, por exemplo, «amor menor», com a finalidade de aliviar certas passagens do A.T. de sua suposta excessiva severidade, supondo-se que Paulo usou os seus termos do mesmo modo que o fazia o A.T., como também não seria honesto aliviar certas ideias de Paulo de sua suposta excessiva severidade. É muito melhor afirmarmos que os homens, incluindo até mesmo homens bons e piedosos, nem sempre se mostraram coerentes e corretos em suas afirmativas sobre a natureza de Deus; antes, em determinadas ocasiões, tais homens têm injetado seus próprios sentimentos em suas declarações acerca da personalidade divina.

Desse modo, a nação de Israel odiava a nação de Edom, e os israelitas esperavam que seu ódio jamais se abrandasse. Portanto, os israelitas chegaram à suposição de que Deus compartilhava totalmente dos seus sentimentos.

VOLUNTARISMO

O «voluntarismo». Trata-se da noção filosófico-teológica de que a vontade de Deus é suprema, pois Deus agiria principalmente de acordo com a sua «vontade», e não de acordo com sua «razão». Isso significaria, por sua vez, que tudo aquilo que Deus determina por sua vontade é correto, sem importar o que o homem possa pensar sobre a moralidade dos atos divinos. Foi Sócrates quem ventilou a questão crucial, quando perguntou: «Uma coisa é direita porque Deus a determina pela sua vontade, ou Deus determina alguma coisa porque ela é direita?». E a noção do «voluntarismo» retruca: «Algo é direito porque assim Deus determina pela sua vontade». Portanto, se porventura Deus envia alguns homens para matarem e fazerem violência contra outros (conforme algumas passagens do A.T. pintam ao Senhor), isso se torna automaticamente correto, ainda que outras passagens bíblicas indiquem que matar é um pecado. Em outras palavras, segundo essa posição do«voluntarismo», Deus pode fazer aquilo que o próprio Deus disse ao homem ser imoral como prática humana, somente porque o homem tem a capacidade de praticar isto ou aquilo. Foi com base nesse pensamento que se criou a proposição que diz que «Poder é direito». Porém, precisamos confiar em Deus de que ele faz todas as coisas segundo a razão e a justiça, e não meramente de forma caprichosa e arbitrária. Outrossim, precisamos crer que Deus não pratica aquilo que ele mesmo proibiu aos homens fazerem. Por conseguinte, o ponto de vista do «voluntarismo», acerca da personalidade de Deus, dentro ou fora das Escrituras, sob qualquer forma que esse ponto de vista assume, é errôneo, e deve ser peremptoriamente rejeitado.

Considerações Sobre O Voluntarismo

1. O voluntarismo é o âmago mesmo da reprovação ativa, pois, mediante esse fator é que Deus endurece, condena e julga, devido à sua própria vontade soberana, inteiramente à parte do que o homem tenha sido, seja ou possa vir a ser.

2. Não podemos ignorar a mensagem do nono capítulo de Romanos, supondo que se relacione somente a juízos temporais, à eleição de nações, e não de indivíduos, ou que estejam envolvidos apenas princípios religiosos, e não individuais.

3. Se asseverarmos que existem «razões» por detrás da «vontade» divina, então já teremos abandonado a ideia do verdadeirovoluntarismo, o que dá a ideia de mera ação da vontade, levada pelo capricho. Isso será uma verdade, mesmo que cheguemos a supor que as razões são divinas, completamente ocultas da inteligência e da pesquisa humanas. A maioria dos teólogos supõe a existência de motivos, divinos ou humanos, ou mesmo ambos, pelo que não são verdadeiros seguidores da ideia dovoluntarismo.

4. O voluntarismo se relaciona com a «reprovação». Veja sobre esse tema, em Rm 9:10.

5. O trecho de Rm 9:30—10:21, ensina-nos que a vontade e o agir humano entram em cena na questão da salvação, pelo que qualquer forma de voluntarismo é abandonada. Se destacarmos no nono capítulo desta epístola, porém, não poderemos afirmar tal coisa. Será isso, igualmente, um paradoxo? O voluntarismo é uma verdade, por um prisma divino; porém, não é a única verdade, posto existirem considerações humanas. Mas é verdade, seja como for, que estamos manuseando aqui com elevadas doutrinas e profundas realidades espirituais que são essencialmente misteriosas para nós, no presente; e que essa é uma das chaves da interpretação dessas questões complicadas.

«De nada nos vale tentar suavizar essas expressões bíblicas. Malaquias tencionou que elas fossem compreendidas bem literalmente... e elas foram literalmente aceitas pelo apóstolo Paulo. (Porém, não nos devemos olvidar, como também ficará bem claro mais adiante, que Paulo falava, pelo menos até certo ponto, hipoteticamente). O ato divino da seleção de Jacó, pois, foi um ato de pura graça, não estando condicionado aos méritos de Jacó e nem ao fracasso moral de Esaú. Paulo, portanto, poderia ter concluído, como parte de seu argumento, o seguinte: 'Agora, o que impediria Deus de tomar uma decisão posterior, sobre quem pertenceria a Israel que haveria de receber o cumprimento de suas promessas? De fato (conforme ele diz em Rm 4:16), os beneficiários dessa promessa não precisavam ser judeus, sob hipótese alguma'. Em outras palavras, o pacto de Deus com Israel não poderia ser considerado invalidado, mesmo que todos os judeus rejeitassem o evangelho e perdessem o cumprimento da promessa, porque 'Israel' significa não os judeus, por descendência natural, e, sim, os eleitos, sem importar a nação de que vieram». (John Knoxin loc).

«A atitude profana de Esaú foi o motivo paralelo, mas não a causa da seleção divina de Jacó. A razão dessa escolha só pode ser encontrada no profundo do coração de Deus, aquele mundo 'escuro de tanta luz'. Tudo está bem ali, mas nós não conhecemos tudo quanto existe ali.

Assim somos elevados até à porta fechada do santuário da escolha divina. Toquemos nela; ela é adamantina, e estáhermeticamente trancada. Ne­nhum tirano inacessível está assentado em seu interior, brincando com ambos os lados de um jogo da sorte, indiferente aos clamores das almas humanas. O portador da chave, cujo Nome está gravado na porta, é: '...e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves dá morte e do inferno' (Ap 1:18). E se porventura apurarmos os ouvidos, haveremos de ouvir palavras no íntimo semelhantes à suave e profunda voz de muitas águas, mas que procedem do coração eterno: 'Sou o que sou; quero o que quero; confiai em mim'. Não obstante, a porta está trancada, e a voz é misteriosa». (Moulein loc., que salienta aqui um elemento necessário para a nossa interpretação sobre toda esta passagem. Pois as questões relativas à predestinação e à eleição não podem ser explicadas por qualquer raciocínio humano, embora tenhamos algo de significativo para dizer).

Não nos devemos esquecer do ponto principal de toda essa discussão, que retrocede até ao versículo seis deste capítulo e da proposição ali proferida. O propósito de Deus não falhou, embora a maioria da população israelita tenha rejeitado o Messias, já que o acolhimento ao Messias dependia da eleição da graça. Paulo não ventila o outro lado do paradoxo, isto é, qual o papel desempenhado pelo homem. Esta ideia sé evidencia, entretanto, em outras passagens das Escrituras.

«...como está escrito...» Com essas palavras, Paulo introduz os seus principais argumentos neste texto, com a intenção de mostrar que a sua teologia não era criação sua, mas antes, era aquela que concordava perfeitamente com os ensinamentos do A.T. Os versículos sétimo e nono apresentam essa harmonia entre Paulo e o A.T., por meio de citações, sem a fórmula, «está escrito». Essa frase ocorre por dezessete vezes na epístola aos Romanos, assim vinculando as importantes porções da mensagem dessa epístola a ideias já existentes no A.T. Por conseguinte, Paulo defendia o tema da continuação da revelação do Antigo no Novo Testamento. Isso, demonstra que Jesus era o Messias prometido no A.T., porque o N.T. foi escrito para descrever o sentido e a importância de Cristo para os homens. (Quanto à apologia cristã primitiva, que tinha por desígnio demonstrar essa verdade, ver Jo 7:45. Quanto aos diversos trechos onde essa expressão «está escrito», ocorre nesta epístola aos Romanos, ver as seguintes referências: Rm 1:17; 2:24; 3:4,10; 4:17,23; 8:36; 9:13,33; 10:15; 11:8,36; 12:19; 14:11; 15:3,9,21. O trecho de Rm 15:4 contém a mesma ideia, apesar de não estar vazada exatamente nas mesmas palavras; em vários lugares, são citados trechos do A.T., sem a fórmula específica «está escrito», conforme se verifica nos versículos sétimo e nono deste capítulo).



quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Biblioteca Digital Mundial já está disponível na Internet, através do site:


QUE PRESENTE DA UNESCO PARA A HUMANIDADE INTEIRA !!!
Já está disponível na Internet, através do site www.wdl.org http://www.wdl.org>

É uma notícia QUE NÃO SÓ VALE A PENA REENVIAR MAS SIM É UM DEVER ÉTICO, FAZÊ-LO!

Reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos e explica em sete idiomas as jóias e relíquias culturais de todas as bibliotecas do planeta.



Tem, sobretudo, caráter patrimonial" , antecipou em LA NACION Abdelaziz Abid,coordenador do projecto impulsionado pela UNESCO e outras 32 instituições. A BDM não oferecerá documentos correntes, a não ser "com valor de patrimônio, que permitirão apreciar e conhecer melhor as culturas do mundo em idiomas diferentes:árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português. Mas há documentos em linha em mais de 50 idiomas".

Entre os documentos mais antigos há alguns códices precolombianos, graças à contribuição do México, e os primeiros mapas da América, desenhados por Diego Gutiérrez para o rei de Espanha em 1562", explicou Abid.

Os tesouros incluem o Hyakumanto darani , um documento em japonês publicado no ano 764 e considerado o primeiro texto impresso da história; um relato dos azetecas que constitui a primeira menção do Menino Jesus no Novo Mundo; trabalhos de cientistas árabes desvelando o mistério da álgebra; ossos utilizados como oráculos e esteiras chinesas; a Bíblia de Gutenberg; antigas fotos latino-americanas da Biblioteca Nacional do Brasil e a célebre Bíblia do Diabo, do século XIII, da Biblioteca Nacional da Suécia.

Fácil de navegar:

Cada jóia da cultura universal aparece acompanhada de uma breve explicação do seu conteúdo e seu significado.Os documentos foram passados por scanners e incorporados no seu idioma original, mas as explicações aparecem em sete línguas, entre elas o PORTUGUÊS. A biblioteca começa com 1200 documentos, mas foi pensada para receber um número ilimitado de textos, gravados, mapas, fotografias e ilustrações.

Como acessar o sítio global?

Embora seja apresentado oficialmente na sede da UNESCO, em Paris, a Biblioteca Digital Mundial já está disponível na Internet, através do site:



O acesso é gratuito e os usuários podem ingressar diretamente pela Web , sem necessidade de se registrarem.

Permite ao internauta orientar a sua busca por épocas, zonas geográficas, tipo de documento e instituição.O sistema propõe as explicações em sete idiomas ( árabe, chinês, inglês, francês, russo, espanhol e português ), embora os originas existam na sua língua original.

Desse modo, é possível, por exemplo, estudar em detalhe o Evangelho de São Mateus traduzido em aleutiano pelo missionário russo Ioann Veniamiov, em 1840.Com um simples clique, podem-se passar as páginas um livro, aproximar ou afastar os textos e movê-los em todos os sentidos. A excelente definição das imagens permite uma leitura cômoda e minuciosa.

Entre as jóias que contem no momento a BDM está a Declaração de Independência dos Estados Unidos, assim como as Constituições de numerosos países; um texto japonês do século XVI considerado a primeira impressão da história; o jornal de um estudioso veneziano que acompanhou Fernão de Magalhães na sua viagem ao redor do mundo; o original das "Fábulas" de La Fontaine, o primeiro livro publicado nas Filipinas em espanhol e tagalog, a Bíblia de Gutemberg, e umas pinturas rupestres africanas que datam de 8.000 A.C.

Duas regiões do mundo estão particularmente bem representadas:

América Latina e Médio Oriente. Isso deve-se à activa participação da Biblioteca Nacional do Brasil, à biblioteca de Alexandria no Egipto e à Universidade Rei Abdulá da Arábia Saudita.

A estrutura da BDM foi decalcada do projeto de digitalização da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, que começou em 1991 e atualmente contém 11 milhões de documentos em linha.

Os seus responsáveis afirmam que a BDM está sobretudo destinada a investigadores, professores e alunos.Mas a importância que reveste esse site vai muito além da incitação ao estudo das novas gerações que vivem num mundo Áudio-visual.



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Rita Freed e Akhenaton – O Faraó Monoteista


Evolução Histórica do Egito

Por  volta de 5000 antes de Cristo os povos do Egito viviam ao longo do vale do Nilo, organizados em pequenos agrupamentos chamados nomos, cada qual com seu chefe. Os nomos do Norte e os nomos do Sul acabaram formando dois reinos rivais entre si, o do Alto Nilo (vale) e o do Baixo Nilo (delta).
Cerca de 3000 antes de Cristo esses dois reinos foram unificados por um príncipe do Alto Egito, Ménes, intitulado Faraó, tornando-se a suprema autoridade do país, rei e deus ao mesmo tempo.
A partir de Ménes a história do Egito se desenrolou cobrindo aproximadamente 3000 anos, dividida segundo as várias dinastias de reis, em três períodos conhecidos por Antigo Império, Médio Império e Novo Império.
Antigo Império – de 2800 a 2200 antes de Cristo, da I a VI dinastias: teve por capital  Mênfis na abertura do delta. Nesse período os egípcios apenas transpuseram suas fronteiras em busca de matérias-primas que não possuíam, como ouro (Núbia), cobre (Sinai), madeira de cedro (Líbano). O Antigo Império terminou em consequencia do rompimento da unidade política, causado pelo enfraquecimento da autoridade do Faraó, por lutas entre vários nomos em disputa de poder, por agitações  internas.
Segui-se um período intermediário que durou cerca de 150 anos (da VII a X dinastias).
Médio Império – de 2050 a 1750 antes de Cristo, da XI a XII dinastias: príncipes do Alto Egito restauraram a unidade política do Império, transformando Tebas em capital do país  e dando ao mesmo uma administração sólida e grande prosperidade. O Médio Império se dissolveu em conseqüência de novas agitações políticas internas que enfraqueceram o país, permitindo fosse invadido pelos Hicsos, povo semita, nômade de origem asiática. Dominaram facilmente a região do delta, graças ao seu poderio militar, possuindo armas muito eficientes e carros de combate puxados a cavalo. Com a ocupação do Baixo Egito pelos Hicsos começou o segundo período intermediário, que durou aproximadamente 150 anos (da XIII a XVII dinastias).
Novo Império – de 1580 a 1090 antes de Cristo, da XVIII à XX dinastias: mais uma vez príncipes do Tebas, no Alto Egito, restabeleceram a unidade do império. Os Hicsos foram expulsos e os egípcios, sob Tutmósis III e Ramsés II, expandiram-se territorialmente, assegurando com isso ao país uma fase de extraordinária riqueza e prosperidade. Todavia novas agitações internas e novas ondas de povos invasores provocaram o declínio do Império Egípcio, que entrou em decadência e foi conquistado pelos Assírios (670 antes de Cristo). Após breve reerguimento – Renascença Saíta – sob os príncipes da cidade de Saís, que expulsaram os Assírios, o Egito foi conquistado sucessivamente pelos Persas (525 antes de Cristo), pelos Gregos (332 antes de Cristo) e pelos Romanos (30 antes de Cristo).

Faraó

O Faraó para seus súditos era filho de deuses e deus ele próprio. Tinha poder absoluto,  dispensava justiça, era o administrador supremo do país. Com a ajuda de funcionários por ele escolhidos, zelava pela unidade e pela defesa do Império.

Sacerdotes

Formavam a camada mais culta do país; encarregavam-se das cerimônias religiosas e da transmissão da cultura; constituíram uma classe extremamente poderosa e rica, sobretudo durante o Novo Império, quando os templos receberam grandes extensões de terras e parte das riquezas conquistadas a outros povos.

Religião

Os egípcios eram politeístas, isto é, acreditavam em vários deuses, alguns representados por cabeças de animais. Cada cidade tinha seus deuses particulares e, quando se tornava capital do Império, esses deuses passavam a ser adorados em todo o Egito.
No Antigo Império adorou-se Rá, Deus sol, e seus descendentes Osíris, Deus da morte, com a sua esposa Ísis e seu filho Hórus. Os Faraós intitulavam-se filhos de Rá. Durante o Médio e o Novo Império adorou-se Amon, protetor da cidade de Tebas, que passou a chamar-se Amon-Rá.

Akhenaton

Voltemos à 18ª dinastia.  O Faraó Amenófis III morrera e seu filho adolescente conquistava o poder do Egito. Em pouco tempo elevou Aton, o deus-sol, como o supremo deus criador.
Ele e sua célebre rainha, Nefertiti, investiram contra a arraigada estrutura religiosa do Egito. Esses soberanos, conhecidos como “Faraós do Sol”, desencadearam uma revolução religiosa sem cuidar da continuidade e expôs o Império egípcio à ameaças militares externas.
Desconsideraram antigos deuses venerados por sacerdotes poderosos, deixando-os tão furiosos que ajudaram os Faraós posteriores a destruir as estatuas  e os templos de Aton.
Desse modo, Amenófis IV mudou seu nome para “Akhenaton – o que bem serve a Aton”, e elevou Aton acima de todos os outros deuses do panteão egípcio – até mesmo acima de Amon, que por centenas de anos prevalecera em Tebas como deus soberano. E o Faraó também abandonava Tebas para construir uma nova capital. Em 1348 antes de Cristo, as margens do Nilo, esse Faraó ergueu Akhetaton  “origem de Aton” uma belíssima cidade para “Aton, seu único deus”, hoje conhecida como Amarna.
Akhenaton, Nefertiti e o Faraó-menino Tutankhamon tiveram um reinado breve. Governaram apenas 17 anos e pouco tempo depois da morte de Akhenaton, em 1336 antes de cristo, a velha ortodoxia estava restaurada e os inimigos deles rapidamente despedaçaram suas estátuas, demoliram seus templos e trataram de apagar dos registros históricos do Egito, tudo o que testemunhassem a sua existência.
Segundo Rita Freed, egiptóloga do Boston Museum of Fine Arts, “poderíamos compará-lo ao líder de uma seita religiosa. Os especialistas continuam a debater sobre a possibilidade de ele ter sido o primeiro líder monoteísta do mundo. Akhenaton insistia em um deus supremo, um criador onipotente que se manifestava à luz do Sol. Mais: via a si mesmo e a Nefertiti como extensões desse deus e, portanto, também dignos de veneração”.
Na verdade, esse pensamento de endeusamento havia começado com seu pai, Amenofis III, que reinou por 37 anos numa era de esplendor. Usou ele a riqueza do império para construir um conjunto de monumentos sem precedentes em Karnack e Luxor, centros religiosos do deus Amon, o patrono de Tebas. Depois que essa cidade recuperou o controle do Egito, por volta de 1520 antes de Cristo, Amon tornou-se cada vez mais venerado. Seu nome significa “oculto” e, no seu templo em Karnack, sacerdotes cultuavam sua estátua. Amon logo se fundiu ao antigo deus-sol  Rá, tornando-se Amon-Rá. Em seu reinado, Amenófis III, já havia determinado que ele não só era o filho de Amon, mas também a encarnação de Rá. Começou então a erigir monumentos à sua própria divindade, incluindo um vasto templo funerário, que contemplava Tebas da margem oposta do Nilo.
Talvez, espelhando-se em seu pai, Akhenaton revolucionou a religião antiga. Por um breve período, os egípcios acreditaram que o deus-sol voltara à Terra na forma da família real. Houve um entusiasmo coletivo que se torna tangível na arte e na arquitetura. Todo o país celebrou aquela volta. Foi um dos períodos mais admiráveis da historia egípcia.
Ninguém sabe ao certo ate onde ia a popularidade de Akhenaton. Para alguns estudiosos, Akhenaton pode ter sido um visionário, um profeta cuja modalidade de monoteísmo de alguma forma inspirou Moisés, que viveu um século mais tarde.
Seja pela fé, seja pela força, Akhenaton revolucionou Tebas em seus quatro primeiros anos de reinado, mandando construir quatro novos templos para Aton em Karnack. Como necessitava de rapidez para construir esses edifícios seus engenheiros recorreram a uma nova técnica de construção. Como os templos de Aton não tinham teto, as paredes podiam ser menos resistentes. Por isso, em vez de grandes blocos de pedras, cortavam pequenos blocos de pedras que podiam ser carregados por uma única pessoa, os famosos “talatat” (de talata – em árabe significa três palmos).
Tutankhamon assumiu o poder cerca de quatro anos após a morte de Akhenaton. A maioria dos especialistas imaginam que ele estava com dez anos de idade na época.
Com a morte de Akhenaton, os Faros posteriores expandiram os templos, resgatando a soberania dos antigos deuses.

Conclusão

Akhenaton fracassou ao tentar mudar para sempre a religião egípcia. Mas êxitos menores lhe proporcionaram a imortalidade que reivindicou em vida. Promoveu um vibrante movimento artístico que gerou quadros realistas da vida cotidiana na época. Seus engenheiros criaram blocos de construção que se tornaram materiais úteis para estruturas posteriores, permitindo que as narrativas neles inscritas sobrevivessem por milênios. E, hoje, Amarna, sua capital abandonada, é o único local onde visitantes podem caminhar pelas ruas de uma antiga cidade egípcia.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Peter Kreeft e o chamado "Filho do Homem"


Jesus afirmou ser Deus?


Muitos estão dispostos a aceitar Jesus Cristo como um bom homem ou um grande profeta, mas argumental que Jesus nunca afirmou ser Deus. Os que negam a divindade de Jesus indicam escrituras que suportam sua crença de que Jesus nunca teve a intenção de ser idolatrado como um Deus.
As evidências, contudo, indicam que desde os tempos dos apóstolos Jesus era idolatrado como o Senhor. Após a morte dos apóstolos, vários líderes da igreja do século um e dois escreveram sobre a divindade de Jesus. Por fim, em 325 d. c., a liderança da igreja articulou a crença de que Jesus era totalmente Deus.
Alguns argumentam que a igreja “inventou” a divindade de Jesus ao reescrever os relatos dos evangelhos.  De fato, o livro de ficção mais vendido no mundo, O Código Da Vinci, vendeu mais de 40 milhões de livros ao fazer esta declaração . Apesar de o livro ter tornado seu autor, Dan Brown, rico, seu relato fictício foi refutado pelos estudiosos como historicamente fraco. De fato, o Novo Testamento foi considerado “o mais confiável de todos os documentos da história antiga” .
Neste artigo examinaremos o que Jesus Cristo disse sobre si mesmo. O que Jesus significa com os termos “Filho do homem” e “Filho de Deus”? Se Jesus não fosse Deus, por que seus inimigos o acusaram de “blasfêmia”? Ainda mais importante: se Jesus não fosse Deus, por que ele aceitou idolatria?
Vamos primeiramente ver o que os cristãos acreditavam sobre Jesus Cristo.

De criador a carpinteiro?

No núcleo do cristianismo está a crença de que Deus veio à Terra na Pessoa de seu Filho, Jesus Cristo. A Bíblia ensina que Jesus não é um ser criado como os anjos, mas sim o próprio Criador do universo. Como o teólogo J. I. Packer escreve, “o evangelho nos diz que nosso Criador tornou-se nosso Redentor”.
O Novo Testamento revela que, de acordo com a vontade de seu Pai, Jesus temporariamente deixou de lado seu poder e glória para tornar-se um pequeno bebê indefeso. Conforme crescia, Jesus trabalhou em uma carpintaria, sentiu fome e cansaço, sofreu com a dor e a morte como nós. Aos 30 anos ele começou seu ministério público.

Deus único

A Bíblia descreve Deus como o Criador do universo. Ele é infinito, eterno, onipotente, onisciente, pessoal, honrado, amoroso, justo e sagrado.  Ele nos criou à sua imagem e para sua satisfação. De acordo com a Bíblia, Deus nos criou para termos um relacionamento eterno com Ele.
Quando Deus falou com Moisés na sarça ardente 1500 anos antes de Cristo, Ele reafirmou que ele era o único Deus. Deus disse a Moisés que seu nome era Jeová (EU SOU). (A maioria de nós conhece a tradução como Jeová ou SENHOR.).  Desde aquela época, a Escritura fundamental (Shemá) do Judaísmo foi:
“Ouça, ó Israel: o SENHOR, o nosso Deus, é o único SENHOR”. (Deuteronômio 6:4)
Foi neste mundo de crença monoteísta que Jesus entrou, ministrou e começou a fazer declarações que surpreendiam todos os que ouviam. E de acordo com Ray Stedman, Jesus é o tema central das Escrituras Hebraicas.
“Aqui, na forma de um ser humano vivo, está aquele que satisfaz e cumpre todos os símbolos e profecias desde o Gênesis até Malaquias. Ao percorrermos desde o Velho Testamento até o Novo, descobrimos que essa pessoa única, Jesus de Nazaré, é o ponto focal de ambos os Testamentos”.
Mas de Jesus é o cumprimento do Velho Testamento, suas declarações devem confirmar que “Deus é o único Senhor”, a começar pelo que considerava a si mesmo. Vejamos.

O nome sagrado de Deus


Quando Jesus iniciou seu ministério, seus milagres e ensinamentos radicais rapidamente atraíram grandes multidões, criando um frenesi. Ao passo que sua popularidade aumentava com as massas, os líderes Judeus, (Fariseus, Saduceus e Escribas) começaram a ver Jesus como uma ameaça. Eles começaram a procurar uma maneira de prendê-lo.
Um dia Jesus estava debatendo com alguns Fariseus no Templo, quando repentinamente disse que era “a luz do mundo”. É quase bizarro imaginar a cena na qual um carpinteiro viajante das terras baixas da Galileia diz a esse PhD em religião que ele é a “luz do mundo”. Acreditando que Jeová é a luz do mundo, ele respondeu indignado:
“Você está testemunhando a respeito de si próprio. O seu testemunho não é válido!” (João 8:13 NVI).
Jesus disse então que dois mil anos antes Abraão já o havia previsto. Sua resposta foi incrédula:
Disseram-lhe os judeus: “Você ainda não tem cinquenta anos e viu Abraão?” (João 8:57 NVI)
Então Jesus chocou-o ainda mais:
Respondeu Jesus: “Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, EU SOU!”. (João 8:58 NVI)
Vindo do nada, este carpinteiro rebelde sem nenhuma graduação em religião declarou ter existência eterna. Além disso, ele havia usado o título EU SOU (ego eimi), o próprio Nome de Deus para descrever-se! Esses especialistas religiosos viviam e respiravam as Escrituras do Novo Testamento que declaram que somente Jeová é Deus. Eles conheciam a Escritura dita por Isaías:
“Vocês são minhas testemunhas”, declara o Senhor, “e meu servo, a quem escolhi, para que vocês saibam e creiam em mim e entendam que eu sou Deus. Antes de mim nenhum deus se formou, nem haverá algum depois de mim. Eu, eu mesmo, sou o Senhor, e além de mim não há salvador algum”. Isaías 43:10, 11 NVI)
Visto que a pena por blasfêmia era morte por apedrejamento, os líderes judeus ferozmente pegaram pedras para matar Jesus. Eles pensaram que Jesus estava chamando a si mesmo de “Deus”. Neste momento Jesus poderia ter dito “Espere! Vocês entenderam mal—Eu não sou Jeová”. Mas Jesus não mudou sua afirmação, mesmo sob risco de morte.
Lewis explica a ira dos líderes:
“Ele diz… ‘Eu fui gerado pelo Deus Único, antes de Abraão ser, Eu sou’ e lembre-se do que as palavras ‘Eu sou’ significavam em hebraico. Elas significavam o nome de Deus, que não deve ser falado por nenhum ser humano, o nome cuja pronúncia significada morte”.
Alguns argumentam que este foi um momento isolado. Mas Jesus também usou “EU SOU” para descrever-se em diversas outras ocasiões. Vejamos algumas dessas, tentando imaginar nossas reações ao ouvir as declarações radicais de Jesus:
  • “Eu sou a luz do mundo” (João 8:12)
  • “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6)
  • “Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (João 14:6)
  • “Eu sou a ressurreição e a vida” (João 11:25)
  • “Eu sou o bom pastor” (João 10:11)
  • “Eu sou a porta” (João 10:9)
  • “Eu sou o pão vivo que desceu do céu” (João 6:51)
  • “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor” (João 15:1)
  • “Eu sou o Alfa e o Ômega” Apocalipse 1:7,8)
Como Lewis observa, se essas declarações não fossem do próprio Deus, Jesus teria sido considerado um tolo. Mas o que fez com que Jesus fosse crível para os que o ouviam eram os milagres que ele realizava e seus sábios ensinamentos proferidos com autoridade.

Filho do homem


Alguns dizem que Jesus não teve intenção de usar o nome EU SOU para significar que era Deus. Eles dizem que Jesus faz referência a si mesmo como o “Filho do homem”, provando que ele não afirmou ser divino. Qual o contexto do título “Filho do homem” e o que isso significa?
Packer escreve que o nome “Filho do homem” refere-se ao papel de Jesus como Rei e Salvador, cumprindo a profecia messiânica de Isaías 53. Isaías 53 é a passagem profética mais abrangente da vinda do Messias e claramente retrata-o como Salvador sofredor. Isaías também referiu-se ao Messias como “Deus Poderoso” “Pai Eterno” e “Príncipe da Paz” Isaías 9:6).
Além disso, muitos estudiosos dizem que Jesus referia-se a si mesmo como o cumprimento da profecia de Daniel sobre o “filho do homem”. Daniel profetizou que o “filho do homem” teria autoridade sobre a humanidade e seria idolatrado:
“Na minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de um homem, vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião e foi conduzido à sua presença. A ele foram dados autoridade, glória e reino; todos os povos, nações e homens de todas as línguas o adoraram”. (Daniel 7:13, 14)
Quem é este “filho do homem” e por que ele está sendo idolatrado se somente Deus deve ser? Jesus disse aos seus discípulos que quando retornasse para a terra, “Então se verá o Filho do homem vindo numa nuvem com poder e grande glória”.(Lucas 21:27). Jesus está dizendo aqui que cumpriu a profecia de Daniel?

Filho de Deus


Jesus também afirmou ser “Filho de Deus”. Isso não significa que Jesus é o filho biológico de Deus. Nem o termo “filho” implica em inferioridade mais do que um filho humano é em sua essência inferior a seu pai. Um filho compartilha o DNA de seu pai e apesar de serem diferentes, ambos são homens. Os estudiosos dizem que o termo “Filho de Deus” nos idiomas originais quer dizer semelhança ou “da mesma ordem”. Foi isso que Jesus quis dizer quando disse possuir a essência divina ou, em termos do século 21, o “DNA de Deus”. O professor Peter Kreeft explica:
“O que Jesus quis dizer quando se chamou de ‘Filho de Deus’? O filho de um homem é um homem. (Tanto ‘filho’ quanto ‘homem’ no idioma tradicional, significando homens e mulheres igualmente.) O filho de um macaco é um macaco. O filho de um cão é um cão. O filho de um tubarão é um tubarão. E o filho de Deus é Deus. ‘Filho de Deus’ é um título divino”.
Em João 17, Jesus fala sobre a glória que ele e seu Pai compartilharam antes do início do mundo. Mas ao chamar-se de “Filho de Deus” Jesus está declarando que é igual a Deus? Packer responde:
Quando, portanto, a Bíblia proclama Jesus como o Filho de Deus, esta declaração significa uma cofirmação de sua distinta divindade pessoal”.
Assim sendo, os nomes que Jesus usou para descrever-se indicam o fato de que ele declarou que é igual a Deus. Mas será que Jesus falou e agiu com a autoridade de Deus?

Perdão dos pecados


Na religião judaica, o perdão dos pecados é reservado somente a Deus. Perdão não é algo pessoal. Uma pessoa não pode perdoar pela pessoa ofendida, principalmente se esta pessoa ofendida for Deus. Mas em diversas ocasiões Jesus agiu como se fosse Deus ao perdoar pecados. Os raivosos líderes religiosos finalmente explodiram quando Jesus perdoou os pecados de um homem com paralisia diante deles.
“Por que esse homem fala assim? Está blasfemando! Quem pode perdoar pecados, a não ser somente Deus?” (Marcos 2:7)!
Lewis imagina as reações estarrecidas dos que ouviram Jesus:
‘E aí que vem o verdadeiro choque’, diz Lewis: ‘Entre esses judeus, de repente surge um homem que começa a falar como se Ele fosse Deus. Ele diz perdoar os pecados. Ele diz que Ele sempre existiu. Ele diz que Ele está vindo para julgar o mundo no final dos tempos. Vamos esclarecer isso. Entre panteístas, como os indianos, qualquer pessoa poderia dizer que é parte de Deus, ou um com Deus. … Porém este homem, por ser judeu, não poderia dizer que era esse tipo de Deus. Deus, em seu idioma, significava Estar fora do mundo, aquele que criou o mundo e era infinitamente diferente de qualquer outra coisa. Ao entender isso, você verá que o que esse homem disse, de forma muito simples, foi a coisa mais chocante jamais dita por um homem.’
 Afirmação de unidade com Deus

Os que ouviram Jesus, observaram sua perfeição moral e viram-no realizar milagres imaginaram se ele era o Messias prometido há tempos. Por fim, seus oponentes o cercaram no Templo e perguntaram:
“Até quando nos deixará em suspense? Se é você o Cristo, diga-nos abertamente”.
Jesus respondeu: “Eu já lhes disse, mas vocês não creem. As obras que eu realizo em nome de meu Pai falam por mim”. Ele comparou seus seguidores a ovelhas, dizendo: “Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão”. Então ele revelou a eles que “Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai”. A humildade de Jesus deve ter sido desconcertante. Mas então Jesus soltou uma bomba, dizendo: (João 10:25-30)
“Eu e o Pai somos um.”
Se Jesus tivesse significado que ele somente concordava com Deus, não haveria uma forte reação. Mas os judeus tomaram pedras para matá-lo. Mas Jesus lhes disse: “Eu lhes mostrei muitas boas obras da parte do Pai. Por qual delas vocês querem me apedrejar?”
Responderam os judeus: “Não vamos apedrejá-lo por nenhuma boa obra, mas pela blasfêmia, porque você é um simples homem e se apresenta como Deus”. (João 10:33)
Quando Jesus estava preparando seus discípulos para sua morte iminente na cruz e partida, Tomé queria saber onde ele iria e o caminho até lá. Jesus respondeu a Tomás:
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim. Se vocês realmente me conhecessem, conheceriam também o meu Pai. Já agora vocês o conhecem e o têm visto”. (João 14:5-9)
Eles ficaram confusos Filipe então falou, pedindo a Jesus para “mostrar o Pai”. Jesus respondeu a Filipe com essas palavras chocantes:
“Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai”.
De fato, Jesus estava dizendo “Filipe, se quiser ver o Pai, olhe para mim!”
Em João 17, Jesus revela que sua unidade com o Pai existia no passado eterno “antes do início do mundo”. Segundo Jesus, nunca houve um tempo que ele não compartilhasse a glória e essência de Deus.

Autoridade de Deus


Os judeus sempre consideraram Deu a autoridade suprema. Autoridade era um termo muito bem compreendido na Israel ocupada. Nesse tempo, os editos de César poderiam enviar legiões para guerra, condenar ou exonerar criminosos e estabelecer leis e normas do governo. De fato, a autoridade de César era tal que ele mesmo se afirmava uma divindade.
Antes de deixar a terra, Jesus explicou o escopo de sua autoridade:
“Então, Jesus aproximou-se deles e disse: ‘Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra’” (Mateus 28:18, NVI).
Nessas palavras surpreendentes, Jesus afirma ser a autoridade suprema, não somente na terra, mas também no céu. John Piper observa:
“É por isso que os amigos e inimigos de Jesus ficavam espantados constantemente com suas palavras e ações. Ao andar pelas estradas, aparentando ser uma pessoa qualquer, ele virava e dizia coisas como “Antes de Abraão nascer, Eu Sou” ou “Quem me vê, vê o Pai”. Ou, com muita calma, depois de ser acusado de blasfêmia, ele dizia: ‘O Filho do homem tem na terra autoridade para perdoar pecados’. Para os mortos ele simplesmente dizia ‘Apareçam’ ou ‘Ergam-se’. E eles obedeciam. Para as tempestades ele dizia ‘Acalmem-se’. E para um pedaço de pão ele dizia ‘Transforme-se em mil refeições’. E tudo acontecia imediatamente”.
Alguns podem argumentar que visto que a autoridade vem de seu Pai, não significa que Jesus seja Deus. Mas Deus nunca concede Sua autoridade a um ser criado para que este seja idolatrado. Isto seria violar Seu Comando.

Aceitação de idolatria


Nada é mais fundamental nas Escrituras hebraicas do que o fato de que somente Deus deve ser idolatrado. De fato, o primeiro dos Dez Mandamentos é:
“Não terás outros deuses além de mim” (Êxodo 20:3 NVI).
Portanto, o pecado mais terrível que um judeu poderia cometer é idolatrar outra criatura como Deus ou receber idolatria. Então se Jesus não for Deus, seria blasfêmia receber idolatria.
Após a ressurreição de Jesus, os discípulos disseram a Tomé que haviam visto o Senhor vivo (João 20:24-29). Tomé zombou deles, dizendo que acreditaria somente se pudesse colocar seus dedos nos ferimentos das mãos e lateral de Jesus. Oito dias depois, os discípulos estavam reunidos em uma sala trancada quando Jesus repentinamente apareceu perante eles. Jesus olhou para Tomé e disse a ele “coloque seu dedo aqui e veja minhas mãos. Coloque sua mão no ferimento da minha lateral”.
Tomé não precisou de outras provas. Ele acreditou instantaneamente, exclamando para Jesus:
“Meu Senhor e Deus!”
Tomé idolatrou Jesus como Deus! Se Jesus não é Deus, ele certamente teria repreendido Tomé nesse momento. Porém, em vez de repreender Tomé por idolatrá-lo como Deus, Jesus o felicitou, dizendo:
“Você acredita porque me viu. Abençoados aqueles que não me viram e ainda assim acreditam”.
Jesus aceitou idolatria em nove ocasiões registradas. No contexto da crença judaica, a aceitação de Jesus de idolatria diz muito sobre sua afirmação de divindade. Mas não foi até depois de Jesus ter ascendido aos céus que seus discípulos compreenderam totalmente. Antes de Jesus deixar a terra, ele disse a seus apóstolos: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mateus 28:19), colocando ele e o Espírito Santo no mesmo nível do Pai

Alfa e ômega


Enquanto João, o apóstolo estava em exílio na Ilha de Patmos, Jesus revelou a ele em uma visão os eventos que ocorreriam nos últimos dias. Na visão, João descreve as seguintes cenas incríveis:
“Eis que ele vem com as nuvens. Todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram… Eu sou o Alfa e o Ômega”, diz o Senhor Deus. “O que é, o que era e o que há de vir, o Todo-poderoso.”
Quem é essa Pessoa a quem chamam de “Alfa e Ômega”, “Senhor Deus” e “Todo-poderoso”? Nos é dito que ele foi “traspassado”. Isso deixa claro que o Alfa e Ômega é Jesus. Foi ele quem foi traspassado na cruz.
João, que era o discípulo mais próximo de Jesus, vê a imagem da Pessoa falando com ele. Ele escreve:
“E entre os candelabros alguém “semelhante a um filho de homem … Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como a lã, tão brancos quanto a neve. E seus olhos eram como chama de fogo. … Sua face era como o sol quando brilha em todo o seu fulgor (Apocalipse 1:13, 14 e 16b).
É impossível conceber as emoções de João quando ele viu esta Pessoa brilhando como o sol em todo seu fulgor, com os olhos como chamas de fogo. Ele imediatamente caiu como morte perante o que viu. Se esse fosse Jesus, porque João não o reconheceu? Talvez pensasse que fosse um anjo? Vejamos as palavras de João.
“Quando o vi, caí aos seus pés como morto. Então ele colocou sua mão direita sobre mim e disse: ‘Não tenha medo. Eu sou o primeiro e o último. Sou aquele que vive. Estive morto mas agora estou vivo para todo o sempre!’” (Apocalipse 1:17)
Aquele que falou com João se identificou como “o Primeiro e o Último” em uma referência clara à sua eternidade. E como somente Deus é eterno, este deve ser Deus. Porém na mesma frase ele diz a João que ele é ‘aquele que vive”. Portanto, sabemos que este não poderia ser Deus-pai porque o Pai nunca sofreu a morte como um homem.
“Depois vi um grande trono branco e aquele que nele estava assentado. … Disse-me ainda: ‘Está feito… Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim.’” (Apocalipse 20:11; 21:6)
É o Senhor Jesus Cristo que reina do grande trono branco. Jesus já havia dito a seus discípulos que ele seria o juiz final dos homens. Ele prometeu que aqueles que confiarem nele seriam salvos do julgamento do pecado, mas aqueles que o rejeitassem seriam julgados.

Conclusão


Jesus afirmou ser Deus ou foi simplesmente mal compreendido? Vejamos novamente as afirmações de Jesus e perguntar: teria Jesus feito tais afirmações radicais se não fosse Deus?
  • Jesus usou o Nome de Deus para si mesmo
  • Jesus chamou a si mesmo de “Filho do homem”
  • Jesus chamou a si mesmo de “Filho de Deus”
  • Jesus  afirmou perdoar pecados
  • Jesus afirmou ter unidade com Deus
  • Jesus afirmou ter toda a autoridade
  • Jesus aceitou idolatria
  • Jesus chamou a si mesmo de “O Alfa e Ômega”
Alguns podem dizer: “como podemos acreditar nas afirmações de Jesus? Que provas ele deixou?” Três dias após sua crucificação, seus discípulos afirmaram que o viram vivo. Se sua história fosse uma farsa, ela teria perecido quando os romanos os submeteram às torturas mais terríveis conhecidas pelo homem. Mas sua convicção e sinceridade prevaleceram sobre Roma e mudou nosso mundo . Lewis explica a razão de suas convicções:
“O que está além do tempo e do espaço, o que foi descriado e eterno, isto entrou na natureza, desceu em Seu próprio universo e elevou-se novamente”.
Este estudioso brilhante pensava antes que Jesus era um mito como os deuses criados pelo homem da Grécia e Roma antiga. Mas ao começar a ver as evidências de Jesus Cristo, ele percebeu que os relatos do Novo Testamento de Jesus Cristo baseiam-se em fatos históricos sólidos. Este ex-cético concluiu sua investigação sobre as evidências de Jesus Cristo com esses pensamentos:
“Você precisa se decidir. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou é um louco ao algo ainda pior. … Mas não vamos considerar besteiras arrogantes dizendo que Ele era um grande professor moral. Ele não nos deu essa possibilidade”.
Lewis descobriu que um relacionamento pessoal com Jesus concedeu significado, propósito e alegria à sua vida que superou todos seus sonhos. Ele nunca se arrependeu de sua escolha e tornou-se um grande orador por Jesus Cristo. E você? Já fez sua escolha?

“Os apóstolos acreditavam que Jesus era Deus?”


Se Jesus era Deus, espera-se que seus seguidores mais próximos proclamariam sua divindade em seus testemunhos escritos. O cristianismo baseia sua crença na divindade de Jesus em suas palavras.





quarta-feira, 10 de outubro de 2012

C. H. Dodd e a metodologia de Gerhard von Rad


O entendimento do conteúdo da Bíblia vem principalmente pela leitura do texto. Mas, existem várias maneiras de ler o texto e a questão é: qual é a melhor maneira de ler a Bíblia para chegar a um entendimento adequado do seu conteúdo? A tarefa se complica pela multiplicidade de metodologias, tanto críticas como não-críticas, para descobrir o significado do texto.

Nas últimas décadas, teóricos, críticos e biblicistas de todos os gêneros lidaram com esta questão produzindo várias conclusões. Em termos gerais, duas maneiras de entender o texto se destacam: ou como algo estático e inflexível ou como algo dinâmico e elástico. Considerar o texto como algo estático e inflexível é salientar os seus aspectos históricos. É ver e ler o texto como um objeto principalmente histórico que contém uma coletânea de literatura histórica que sempre tem as mesmas interpretações e aplicações apesar da época. Para aqueles que entendem a Bíblia como um objeto histórico, a melhor maneira de compreender o significado do texto é por meio de metodologias principalmente históricas e gramaticais. Do outro lado, ver o texto como algo dinâmico e elástico é dizer que o processo através do qual o texto foi produzido e transmitido foi dinâmico e que o texto esteve sujeito a releituras e reinterpretações ao longo da sua transmissão. As releituras e reinterpretações serviram para manter a vitalidade dos textos antigos para cada nova geração e para manter a esperança de que cada nova geração tivesse um encontro com o Deus Vivo por meio dessas escrituras.

A manutenção da vitalidade do texto em cada nova geração exige uma metodologia hermenêutica que leve em consideração a natureza dupla da Bíblia. A Bíblia é, ao mesmo tempo, um texto histórico e religioso. Assim, a metodologia tem que ser capaz de lidar com esses dois aspectos. Além da natureza dupla da Bíblia, o intérprete do texto tem que considerar as questões literárias do texto. Quando o texto é o Pentateuco, essa questão é de suma importância.

Não se pode subestimar a importância do Pentateuco para uma boa compreensão da Bíblia. O Pentateuco nos prepara para ler e entender o resto da história bíblica, tanto no Novo Testamento como no Antigo Testamento. Por isso, é necessário que esse material seja interpretado corretamente. Mas, na história da interpretação da Bíblia, não há nenhuma outra parte que tenha apresentado tantas dificuldades aos críticos e intérpretes. A tarefa é especialmente difícil por causa da variedade de material que se encontra no Pentateuco. A busca de uma hermenêutica adequada para esse material gerou várias metodologias nos últimos cem anos. Uma dessas metodologias é chamada a metodologia querigmática, da palavra grega kerygma.
A palavra keygma quer dizer “proclamação” e é normalmente associada com o estudo feito pelo crítico inglês C. H. Dodd da proclamação da igreja primitiva que se encontra no NT. Dodd usou a palavra kerygma para descrever o padrão de proclamação que ele descobriu nas cartas de Paulo e nos sermões registrados no livro de Atos. Aplicado ao Pentateuco, a metodologia querigmática é uma metodologia que procura descobrir a essência da mensagem, okerygma, dos cinco livros do Pentateuco como a chave para sua interpretação. O uso da palavra kerygma no Antigo Testamento foi popularizado principalmente pelo teólogo alemão Gerhard von Rad na sua teologia do Antigo Testamento. Neste artigo, pretendo examinar as contribuições de von Rad à questão da mensagem do Pentateuco e oferecer uma crítica construtiva da metodologia querigmática.

Antecedentes históricos

A metodologia querigmática desenvolvida por von Rad pode ser considerada parte da reação às teorias críticas predominantes nos séculos 18 e 19 dC. Em termos gerais, o estudo crítico do Antigo Testamento dos séculos 18 e 19 foi dominado pelas teorias chamadas “documentárias”. Uma destas teorias, popularizada por Karl Graf e Julius Wellhausen, explicou o Pentateuco como uma coletânea de documentos produzidos em épocas posteriores à época de Moisés. Mas no início do século 20 tornou-se claro que essa metodologia não resolveu todas as perguntas sobre a natureza da literatura do Pentateuco.

O primeiro desafio sério às teorias documentárias veio da arqueologia. As descobertas arqueológicas indicaram que a cultura do povo hebraico antigo refletiu o milieu cultural do oriente médio antigo. Isto significava que a origem da religião dos hebreus começou cedo e não tarde como muitos críticos do século 19 imaginavam. Para traçar adequadamente a história da religião de Israel, outra metodologia teria que ser encontrada.

Uma metodologia alternativa foi sugerida por Hermann Gunkel. Trabalhando a partir das idéias de Johann Herder, Gunkel propôs uma história de transmissão oral para as tradições históricas de Israel. As tradições foram recitadas de geração a geração para explicar a história do povo e “unir” cada nova geração com a geração anterior. Assim, as tradições históricas de Israel preservaram os elementos básicos da sua história e transmitiram esses elementos de uma maneira “viva” para cada nova geração.

O trabalho de Gunkel e outros abriu as portas para uma nova avaliação da natureza da literatura bíblica e, especificamente, o Pentateuco. Em vez de entender essa literatura somente como história antiga, o Pentateuco pode ser lido como as expressões vivas das tradições de Israel. A mensagem das tradições falou a cada nova geração e gerou um laço espiritual entre as gerações. Mas Gunkel limitou-se ao estudo do livro de Gênesis. Se o Pentateuco pudesse ser entendido como kerygma, a metodologia teria que ser ampliada para incluir toda a literatura do Pentateuco. Esse trabalho foi feito principalmente por Gerhard von Rad.
Literaturgeschichte sugerida por Gunkel forneceu uma base melhor para se entender a natureza da literatura bíblica e do Pentateuco. O Antigo Testamento foi visto como um registro vivo de Israel e a sua fé e essa fé teve um papel fundamental na composição da literatura do Pentateuco. Além disso, avanços feitos nas investigações históricas e arqueológicas esclareceram cada vez mais a história dos povos do oriente médio antigo. O resultado foi uma visão mais precisa do mundo do Antigo Testamento.

À luz desses desenvolvimentos os historiadores e teólogos do Antigo Testamento se encontraram num dilema. De um lado os resultados da crítica bíblica do século 19 produziram uma visão “científica” da história do Antigo Testamento. Do outro lado, essa visão da história de Israel não concordou em todos os pontos com a visão bíblica. As tentativas de resolver essa dificuldade formram o elemento mais importante no desenvolvimento da análise querigmática do Pentateuco.

No centro das tentativas de resolver o dilema estão as obras de Gerhard von Rad. Ele foi responsável pela demonstração de como os escritores do Pentateuco utilizaram as tradições históricas antigas de Israel de novas maneiras para produzir um kerygma, isto é, uma mensagem específica para uma época histórica específica. Essa mensagem é chamada a “intenção querigmática específica”. Três obras de von Rad serão examinadas para demonstrar a sua contribuição à análise querigmática do Pentateuco.

“A Questão da Crítica das Formas no Hexateuco”

Nesse ensaio von Rad propôs uma nova maneira de falar da formação do Hexateuco. De acordo com ele, o conteúdo do Hexateuco foi resumido em três “credos” históricos que preservaram os elementos básicos da história de Israel até então: (1) Dt 26:5b-9, (2) Dt 6:20-24, e (3) Js 24:2b-13. Esses credos faziam parte de uma forma literária específica que foi utilizada nos cultos de Israel como “recitações solenes”. Para Von Rad, estes credos foram essencialmente declarações de fé. Os credos resumiram os elementos básicos da fé de Israel: a chamada dos antepassados de Israel, a promessa da terra de Canaã, o Êxodo, a peregrinação no deserto, e a entrada na terra prometida. Atrás dos elementos desses credos estavam as várias tradições históricas de Israel que circularam originalmente no contexto religioso de Israel. Aos poucos essas tradições foram “cortadas” dos seus laços religiosos e faziam parte das tradições históricas gerais do povo de Israel. O trabalho de juntar e organizar essas várias tradições foi feito principalmente por um indivíduo desconhecido mas designado como o “javista.”

De acordo com von Rad, quando o javista começou a trabalhar, as tradições históricas que ele recebeu já tinham sido separadas do seu Sitz em Leben, isto é, as situações históricas que produziriam as tradições. Assim, as tradições já levaram sentidos diferentes dos seus propósitos originais. Essas tradições receberam um significado “espiritual” quando foram separadas das suas raízes históricas. Um vestígio do seu significado original permaneceu mas as tradições já foram modificadas para a nova situação histórica.

A contribuição do javista, de acordo com von Rad, não foi a criação das narrativas do Pentateuco, mas sim, a maneira pela qual ele organizou o material histórico que já existia. Ele organizou uma variedade de material de diversas fontes em uma forma coerente. Começando com as narrativas da conquista de Canaã, ele acrescentou as narrativas sobre Sinai, os patriarcas, e a criação. Von Rad não explicou como o javista recebeu esta informação mas só disse que foi o primeiro que usou as antigas tradições históricas de uma maneira diferente do seu propósito original.

Essa posição gerou o que von Rad chamou “o problema teológico do javista.” O problema surgiu quando as antigas histórias e tradições de Israel foram cortadas dos seus laços históricos originais e “depositadas” num outro contexto histórico. Von Rad questionou a capacidade do javista de fazer essa “transformação” de material e concluiu que o escritor J foi certamente um colecionador, e como tal tinha interesse na preservação dos propósitos religiosos antigos do seu material. Mas, não há dúvida de que o Jawista fala aos seus contemporâneos, interessado na fé real e viva, e não somente como um contador desligado de histórias.

Von Rad entendeu o trabalho do javista como alguém encarregado com a tarefa de restaurar a vitalidade das tradições históricas antigas que, até então, tinham sido preservadas principalmente pelos círculos sacerdotais. De acordo com von Rad, o javista aumentou o alcance do material cultual para incluir uma porção maior da sociedade hebraica. O javista tornou-se, também, o indivíduo principalmente responsável pela forma final do Pentateuco. Os demais redatores do Pentateuco, disse von Rad, seguiram o padrão estabelecido pelo javista que seguiu o padrão que ele descobriu nos credos históricos antigos.

Nesse ensaio, von Rad estabeleceu o padrão básico das suas investigações sobre o Pentateuco. Primeiro, ele identificou os credos históricos que serviram como a estrutura sobre a qual o Pentateuco foi construído. Segundo, von Rad reconheceu a ausência de algumas narrativas nesses credos, como, por exemplo, os eventos do Sinai. Essas narrativas foram acrescentadas mais tarde para completar o retrato histórico de Israel. Terceiro, ele disse que foi o javista quem recebeu e organizou as várias tradições na seqüência que se encontra no Pentateuco hoje. O propósito do javista foi restaurar a vitalidade dessas tradições históricas antigas e criar uma declaração de fé que servisse às necessidades do povo da sua época. Para o javista, essa reorganização das tradições de Israel se tornou seu kerygma.

Gênesis: O Comentário

As idéias que von Rad apresentou no ensaio “A Questão da Crítica das Formas no Hexateuco” foram ampliadas no seu comentário sobre o livro de Gênesis. Nesta obra von Rad juntou as suas idéias sobre a crítica literária e a crítica das formas para expor o conteúdo do texto bíblico. Sua metodologia enfatizou a unidade do Pentateuco e o papel do livro de Gênesis nesta unidade.

Mas esta metodologia levou von Rad a um caminho novo no que diz respeito ao texto bíblico. Ele foi além das metodologias críticas tradicionais que só tentaram analisar as fontes da literatura e suas formas originais. Ele começou a procurar a dimensão teológica da literatura bíblica. Von Rad disse: “Uma obra deste tipo . . . deve ser investigada cuidadosamente considerando o seu propósito e natureza teológica.”

Von Rad reconheceu que, apesar da origem das tradições históricas do material de Gênesis, todas as histórias levaram o “carimbo da fé”, isto é, todas as tradições transmitidas de geração a geração foram modificadas e reestruturadas para destacar os aspectos teológicos das tradições. Assim, o Sitz em Leben original das tradições se escureceu. Para von Rad a chave para a interpretação da literatura bíblica não se encontrou na situação original em que a literatura foi produzida mas na reflexão teológica que “reformou” as histórias antigas para uma nova geração de ouvintes e leitores.
Mas esta maneira de entender as narrativas de Gênesis apresentou problemas para intérpretes modernos no tocante à veracidade histórica das narrativas. À luz desta dificuldade, von Rad disse que foi mais importante entender como as narrativas individuais foram utilizadas do que tentar determinar o núcleo histórico por trás da narrativa. Assim, na questão da historicidade das narrativas de Gênesis, von Rad optou pela questão teológica em vez da questão histórica.

Von Rad não se interessou pela historicidade no sentido moderno. Assim, ele abandonou a idéia de que as narrativas de Gênesis apresentaram história no sentido moderno. A sua explicação foi que essas narrativas foram formadas e estruturadas pela fé ao longo da história de Israel. Então, em vez de investigar a história da literatura como os críticos do século 19 fizeram, von Rad achou melhor investigar o texto na sua forma atual, isto é, “devemos fazer a pergunta do significado que veio a ser associado às narrativas” e não da história que está por trás das narrativas. Em outras palavras, von Rad se interessou principalmente pelo significado teológico das narrativas e não pelos eventos históricos de que as narrativas falam. Von Rad disse que, se fosse obrigado a escolher entre a metodologia crítica ou teológica, escolheria a metodologia teológica. Somente esta metodologia seria capaz de descobrir a intenção querigmática do texto bíblico. Von Rad investigou esta intenção querigmática na sua Teologia do Antigo Testamento.

A Teologia do Antigo Testamento

Para von Rad a tarefa principal do teólogo do Antigo Testamento é descobrir a “intenção querigmática” dos documentos do AT. Ele disse: “O teólogo deve ocupar-se, antes de tudo, dos testemunhos imediatos sobre o que o próprio Israel pensava de Deus, começando por aprender colocar, melhor do que no passado, a questão da intenção querigmática de cada um dos documentos.” Esta intenção querigmática específica se encontrou, disse von Rad, nas declarações que Israel fez sobre Deus e seu relacionamento com seu povo e se expressou historicamente. Ele escreveu:
Observamos até, nesse particular, que a gama teológica das expressões religiosas de Israel é extremamente reduzida, em relação às dos outros povos, pois os testemunhos israelitas limitam-se a descrever a relação entre Javé, Israel e o mundo unicamente do ponto de vista de uma ação divina contínua através da história. A fé de Israel está inteiramente baseada numa teologia da história, tem consciência de que seus fundamentos são os fatos da história e da que os acontecimentos nos quais vê a mão de Javé é que a modelam e a transformam.

Von Rad entendeu a história de Israel como a história da salvação, isto é, o registro dos atos de Deus para beneficiar o seu povo. Ele entendeu esses “atos de Deus” como os atos que Israel reconheceu pela sua fé, por exemplo, a chamada dos patriarcas, o Êxodo, e a conquista de Canaã. De acordo com von Rad, estes “atos de Deus” não podiam ser reconstruídos pela investigação científica empregada pelos críticos literários porque esta metodologia foi incapaz de investigar adequadamente declarações de fé. Mas, esta posição criou um dilema para von Rad porque ele aceitou as conclusões da crítica bíblica. O dilema foi produzido pelos dois retratos da história de Israel, um retrato científico feito pelos críticos históricos e literários modernos e um retrato “querigmático” produzido pela fé de Israel. Para von Rad, o Pentateuco nos apresenta um retrato da história de Israel escrita pela fé e não pela metodologia histórica do século 19.

A posição de von Rad gerou uma segunda pergunta: Como “desdobrar” o significado querigmático do Antigo Testamento e, especificamente, do Pentateuco? Se a metodologia histórica não é adequada, qual é a metodologia mais apropriada? Para ele a melhor maneira de descobrir o significado das narrativas do Pentateuco foi tentar desdobrar as narrativas como Israel as preservou originalmente. De acordo com von Rad a metodologia que Israel usou para reconstruir a sua história foi “converter” as várias narrativas históricas num kerygma unificado. Essa “conversão” envolveu um processo de reflexão teológica contínua sobre o significado das narrativas para cada nova geração de israelitas. Essa reflexão foi dirigida para um alvo só: a manutenção da unidade do povo de Israel. Von Rad disse: “Cada geração reencontrava diante da tarefa sempre idêntica e sempre nova de se compreender como Israel. Num certo sentido, cada geração devia tornar-se Israel.” De acordo com von Rad os escritores do Pentateuco tinha esse alvo em mente quando “proclamaram” seu kerygma. Os escritores, todos escrevendo de um ponto específico na história de Israel, reconheceram a necessidade de cada geração de israelitas se sentir parte da historia das gerações anteriores.

No esquema de von Rad, a atualização das tradições de cada geração foi feito pelos escritores dos documentos. Toda geração apresentou demandas teológicas novas e todo escritor sentiu a necessidade de reformar as tradições anteriores para suprir as necessidades da sua geração sem mexer com os documentos dos seus predecessores. Assim, cada escritor colocou o seu documento ao lado do documento anterior, criando uma base de tradições históricas cada vez maior.

Uma Avaliação

O trabalho de von Rad representa uma mudança básica na maneira pela qual a análise do Pentateuco era feita anteriormente. Utilizando os resultados críticos dos séculos 19 e 20, ele entendeu as narrativas do Pentateuco como expressões “contextualizadas” da fé de Israel.

Mas, ainda existem questões que precisam ser levantadas sobre a validade do método querigmático como meio de ler e interpretar o Pentateuco.

A primeira é a questão da própria metodologia de von Rad. Ela é adequada para o material investigado? Segunda, existe a questão de historicidade. Como é que von Rad entendeu a questão da historicidade das narrativas do Pentateuco? Terceira, existe a questão do kerygma. Existe um kerygma no Pentateuco e, se existe, é possível isolar e descrever esse kerygma? Nesta última parte, todas essas perguntas serão examinadas uma por uma e uma avaliação da metodologia será feita.

A Questão da Metodologia

Quando C. H. Dodd propôs a identificação do kerygma da igreja primitiva, ele identificou frases que se repetem nos evangelhos, como “pregando o Reino de Deus” nos evangelhos e “pregando Cristo” nas cartas de Paulo. No livro de Atos as duas formas são usadas. Ele concluiu que a pregação da igreja primitiva envolveu a proclamação do Reino de Deus e de Jesus. Mas, para descobrir o conteúdo da pregação, foi necessário examinar os documentos do Novo Testamento com mais profundidade. Começando com as cartas de Paulo Dodd identificou “esboços” da pregação do apóstolo. Conforme Dodd, um exemplo se encontra em 1Co 15.3,4. Ele concluiu nesta base que o kerygma do apóstolo foi a proclamação dos fatos da morte e ressurreição de Cristo. Dodd admitiu que o kerygma que ele identificou nas cartas de Paulo era de natureza fragmentária mas ele “restaurou” o esboço à luz das passagens onde os fragmentos se encontram. De acordo com Dodd, esse esboço se tornou a base da mensagem do evangelho de Marcos.
Da mesma maneira, von Rad descobriu passagens no Antigo Testamento que, conforme ele, contêm o esboço do conteúdo do Pentateuco. Ele chamou estas passagens os “credos” históricos do Antigo Testamento. Esses “credos” serviram como um esboço do Pentateuco assim como o kerygma do Novo Testamento se tornou o esboço dos evangelhos. Mas, esses esboços são incompletos porque não fazem referências a algumas das narrativas chave do Pentateuco, como por exemplo, a aliança feita no deserto de Sinai. Para von Rad esse fato não apresentou um problema insuperável porque ele concluiu que o escritor responsável pela forma final do Pentateuco, o javista, acrescentou as demais narrativas ao Pentateuco. Von Rad tentou demonstrar como o próprio texto bíblico forneceu o critério da análise para o Pentateuco. Ele disse qual ponto de início podemos usar além da estrutura teológica enorme que Israel construiu no fundamento da sua confissão de Javé mais antiga? Primeiramente, então, nós temos que tentar esboçar as caraterísticas básicas de uma teologia do Hexateuco.

Podemos ver que, mesmo tentando explicar a formação e a mensagem do Pentateuco de maneira querigmática, von Rad ainda dependia dos resultados das hipóteses documentarias do século 19. Hoje, não existe mais o mesmo consenso sobre a natureza documentária do Pentateuco. Vários problemas ainda existem. Por exemplo, a própria existência dos chamados “documentos” é questionada. Muitos reconhecem a variedade de literatura que se encontra no Pentateuco e a dificuldade de reconstruir completamente a história da transmissão e preservação das tradições históricas dos hebreus. Então, insistir na primazia da teoria documentária sem admitir a possibilidade da existência de outras respostas melhores é perigoso e arrogante, especialmente quando a própria existência dos documentos é questionada. Até mesmo os críticos que aceitam tal reconstrução não concordam quanto à extensão dos documentos.

A Questão da Historicidade

A questão da historicidade das narrativas do Pentateuco é a seguinte: o significado da fé de Israel se encontra nos eventos históricos registrados no Pentateuco ou nas declarações dos escritores do texto sobre o significado dos eventos? Outra maneira de fazer a mesma pergunta é esta: o leitor do texto pode entender o significado de um evento sem uma interpretação fornecida pelo escritor do texto que relata o evento? Quando von Rad desenvolveu a sua metodologia teológica, ele reconheceu a necessidade de tratar da questão da história na formação do kerygma de Israel. Ele disse: “A imagem ‘querigmática’, mesmo quando está muito distante da imagem critico-histórica, baseia-se numa história concreta e não é nunca simplesmente inventada.” Mas, ao mesmo tempo ele reconheceu as divergências entre o retrato “científico” oferecido pelos críticos literários e históricos modernos e o retrato histórico bíblico.

A metodologia de von Rad, mesmo tentando afirmar a questão da historicidade dos eventos de que o texto dá testemunha, menospreza as tentativas legítimas de investigar a história bíblica por meio de arqueologia e outras disciplinas históricas legítimas porque ele achou que o significado “verdadeiro” do texto não pode ser encontrado em investigações históricas. A questão da historicidade é: onde se encontra o significado do texto bíblico e especialmente, o Pentateuco? A posição aceita neste artigo é que deve haver uma convergência entre as investigações históricas legítimas e o retrato teológico que se encontra no texto bíblico. O significado e a mensagem do Pentateuco não devem ser entendidos como proclamações sem um referencial histórico. As verdades sobre Deus e seu relacionamento com o seu povo devem ter um firme fundamento na história verdadeira e não somente num “desejo santo” por parte de um proclamador-esritor histórico. Tem que existir uma relação entre a verdade e a experiência que vá além de formulações existenciais.

A Questão do Kerygma

A tarefa de identificar o kerygma talvez seja o problema mais sério desta metodologia. Esta questão se divide em duas partes. Primeiro: existe no Pentateuco um kerygma? Segundo: se existe, como descobrir esse kerygma? A pressuposição de von Rad é que o kerygma existe e pode ser demonstrado. Na sua exposição teológica, von Rad explicou a sua metodologia querigmática como a maneira mais adequada para entender a Bíblia teologicamente. Ele identificou o que ele chamou “o centro de gravidade das ações divinas” que se destacam nas várias épocas históricas de Israel. No Hexateuco o “centro de gravidadel” mais claro são as alianças feitas por Javé. Dentro desse “centro” maior existe a promessa aos patriarcas que tem um conteúdo duplo: (1) a promessa da possessão da terra e (2) a promessa de posteridade inumerável. Para von Rad o item mais evidente nas alianças foi a promessa da terra. Mas, von Rad não chamou esses “centros de gravidade” o kerygma de Israel. Ele preferiu expor somente o conteúdo do texto de uma maneira querigmática.

Talvez a crítica mais importante seja a possibilidade de usar a palavrakerygma para descrever a natureza do conteúdo do Pentateuco. A palavra se encontra na LXX, principalmente na descrição da pregação dos profetas mas não se refere à função da literatura do Antigo Testamento. Até que ponto a literatura do Pentateuco deve ser considerada uma proclamação? Sem dúvida, o livro de Deuteronômio pode ser entendido como uma série de “sermões” proferidos por Moisés, mas, além desse livro e as passagens que são especificamente proclamações, o Pentateuco inteiro deve ser chamado de kerygma? Do ponto de vista do autor deste artigo, identificar o Pentateuco como kerygma é aplicar a palavra de maneira incorreta.

Conclusão

É impossível negar a contribuição de Gerhard Von Rad à história da Teologia do Antigo Testamento. As suas obras são leituras obrigatórias para todos que desejam entender bem esta disciplina. Em descreve o Pentateuco como kerygma ele trouxe nova vitalidade para o estudo do Antigo Testamento pelas comunidades que o usam e estimam.

A posição apresentada neste artigo é que será difícil identificar o Pentateuco como kerygma. Mas, dizer que o Pentateuco não é kerygmanão é dizer, ao mesmo tempo, que o conteúdo do Pentateuco não deve ser proclamado ou que a igreja não deve ouvi-lo como a palavra de Deus. Identificar o Pentateuco como kerygma é destacar a necessidade de ouvi-lo como a palavra de Deus. Chamar o Pentateuco de kerygma é chamar a atenção para a mensagem vital dos documentos antigos, não somente para Israel, mas, também, para a igreja. A igreja em nossos dias precisa ouvir claramente a Bíblia como a palavra de Deus e aceitar o compromisso que ela nos apresenta. Somente assim será capaz de cumprir a sua missão.