Nas suas recentes publicações
The Dead Sea Scrolls Uncovered (em parceria com Michael Wise) e The
Dead Sea Scrolls and The First Christians, Rober Eisenman do Institute for
the Study of Judeo-Christian Origens e do Institute For Higher Critical Studies,
tinha ameaçado/prometido redesenhar o mapa das origens cristãs e agora, por
Deus, ele conseguiu. A amplitude e o detalhe da investigação de Eisenman, tanto
quanto suas implicações são de tirar o fôlego. Em James The Brother Of
Jesus, ele nos conta a longa e perdida história da formação do cristianismo
"pré-histórico", tal como ele emerge da atribulada Palestina revolucionária e
das hostilidades mutuamente destrutivas entre os Paulinos e o Cristianismo
Ebionita. Eu, denomino isso de "pré-histórico", porque Eisenman reconstrói os
eventos apresentados diante de nós e por de baixo das histórias canônicas do
cristianismo primitivo que conhecemos. Seu empreendimento é, nesse sentido,
relacionado com aquele de Burton L. Mack, esse outro grande pesquisador das
profundezas subterrâneas do cristianismo pré-histórico. Como Mack, Eisenman
descobre um cristianismo (ou talvez uma protocristianismo ou mesmo um
pré-cristianismo) para as quais Jesus ainda não tinha obtido centralidade.
Apenas, aonde Mack enxerga o germe inicial de uma nova religião como uma
variedade do cinismo, Eisenman rejuvenesce ou mesmo reivindica, a antiga
alegação de Renan de que o cristianismo começou como "um essenismo".
No processo Eisenman reivindica outro dito de Renan,
especificamente, de que para se escrever a história de uma fé, precisamos
ter pertencido a ela, mas não devemos mais pertencer a ela. Enquanto
alguém carrega o fardo de representar o cristianismo, parece ser quase
impossível se livrar de tendências apologéticas. Lidando com Paulo, isso
significa que mesmo especialistas críticos não conseguem se furtar em pressupor,
que a mensagem de Paulo, teológica, ou qualquer outra, deve ser, basicamente,
verdadeira. Mesmo se alguém deve praticar uma pequena cirurgia
crítica, aqui e acolá, e.g, o papel da mulher, Paulo é ainda é o
alicerce da Igreja de cada um. Pelo menos, esta tendência Paulina implícita
resulta no que Bruce Malina e outros denominam de uma abordagem doceta para o
texto.
Para antecipar o núcleo do livro como um todo, digamos
que Eisenman primeiro desenha um retrato das comunidades primitivas de Tiago
como um religioso, nacionalista messiânico e uma seita xenofóbica de devoção
extrema, algo que a maioria de nós consideraria fanatismo. Eisenman mostra como
a "cristandade-judia" era parcela de um ambiente sectário o qual incluía
Essênios, Zelotas, Nazoreus, Naziritas, Ebionitas, Elchasites (um subgrupo dos
Ebionitas), Sabeanos, Mandeanos etc., e que essas categorias, não eram mais do
que tipos ideais, de maneira alguma segregados uns dos outros como bestas
exóticas em jaulas adjacentes, identificadas no zôo teológico. Contra essa
qualidade de "Lubavitcher Christianity", Eisenman
retrata o cristianismo Paulino (e ainda seus primos helenistas, os cristianismos
Joaninos, de Marcos e Lucas) como sendo raiz e ramo, comprometendo e assimilando
uma apostasia herodizante do judaísmo. O cristianismo grego dá a Torá e à
identidade judaica, o surto de crescimento. O Cristo Paulino, um redentor
espiritual com um reino invisível, é consistente com a cristianização de
Vespasiano como messias, por Josefo.
Claro que essas idéias, de maneira alguma são novas.
Eisenman está, simplesmente, preenchendo o quadro de uma maneira exaustiva,
inimaginável por S.G.F. Brandon, Robert Eisler e seus sucessores. A figura de
Jesus nos evangelhos gregos, comendo com coletores de taxas, caçoando das
tradições de seu povo, acolhendo pecadores e ridicularizando a devoção da Torá,
são todas expressões de antijudaísmo gentílico. Somente gentios, totalmente, sem
simpatia com o judaísmo, poderiam professar enxergar Jesus como um nobre
pioneiro de "superior virtuosidade". Da mesma forma, a noção do Novo Testamento
de que Jerusalém caiu porque seu povo havia rejeitado o messias, quando na
verdade eles estavam lutando uma guerra messiânica contra o anticristo romano,
deve ser julgada como uma peça helenista cínica de perseguição judia. O
cristianismo, tal como emerge na missão gentia é um produto da acomodação
cultural, Quinlingismo pró-romano, e assimilação intencional. É uma maneira de
judaísmo sincrético diluído, diferente do culto Sabázio.
Armado com uma hermenêutica de suspeição, Eisenman nos
mostra como quebrar os códigos da desinformação teológica, para ouvir os ecos
amortecidos e longínquos, como encontrar sustentação para o que tem parecido ser
uma escalada inacessível a um cume do qual se possa ver, a até agora inobservada
paisagem do cristianismo primitivo. Quais são as ferramentas para a
escalada?
Primeiro; Eisenman considera uma gama maior de fontes
históricas do que a maioria pensa que ele precisa. Ele examina, como poderíamos
esperar, os Pergaminhos do Mar Morto, bem como os Reconhecimentos e Homilias
Clementinas, as Constituições Apostólicas, Eusébio, os dois Apocalipses de Tiago
de Nag Hammadi e até mesmo o texto Ocidental dos Atos e o Josefo Slavônico.
Eisenman assume Josefo como fonte dos Atos de Lucas, de uma maneira muito mais
séria do que qualquer um jamais tinha considerado antes. Tudo isso, nosso autor
escrutina, cuidadosamente, não deixando nada sem crítica. Onde ele se diferencia
da maioria dos especialistas é em tomar seriamente esses materiais, como novas
fontes de informação, a sugestão estranha, aqui ou acolá, sobre Tiago ou Paulo.
Como Richard Pervo (Profit With Delight) começou a mostrar, o
negligenciamento tradicional de fontes relacionadas com elas (e.g O Apócrifo
Atos dos Apóstolos), por supostamente especialistas críticos é mais um caso de
apologética canônica do que método histórico. Por que os especialistas do Novo
Testamento concordam, que os Atos de Lucas são legendários e fictícios em larga
medida e logo em seguida, assumem a história com o valor de face? Eisenman, por
outro lado, percebe que Lucas e a literatura Pseudoclementinas estão mais ou
menos par a par. Cada uma delas, deve ser tratada com reservas, todavia com um
otimismo que no meio de todo o material, em algum lugar, alguém pode descobrir
um pedaço vital de informação.
Segundo; Eisenman desenvolveu um apurado senso para o
"jogo dos nomes", jogado nas fontes. A maioria de nós, alguma vez, já quebrou a
cabeça com as provocativas confusões latentes na estranha redundância de nomes
similares nas narrativas do Novo Testamento. Como pode Maria ter tido uma irmã
de nome Maria? Existe alguma diferença entre José Barrabás Justo, Judas Barrabás
Justo e Tiago o Justo? Daí todos os Tiagos e Judas? Quem é Simão o Zelote e
Judas o Zelote (o qual aparece em alguns manuscritos do NT e em outros
documentos do cristianismo primitivo)? Seria Coplas o mesmo que Cleofás? O que
acontece com Jesus bem-Ananias, Jesus Barrabás, Elimas bar-Jesus e Jesus Justo?
O que realmente significa Boanerges? Seria Nataniel um apelido para alguém que
conhecemos? E assim por diante e por diante. A maioria de nós, se espanta,
momentaneamente, com essas estranhezas e depois nos movemos adiante. Afinal,
quão importante podem ser elas? Eisenman não segue adiante, antes de
explicá-las.
Sua hipótese de trabalho é que as confusões,
alterações e ofuscações seguem um interesse em encobrir a importância e,
portanto, a identidade dos Desposyni, os herdeiros de Jesus, que, aparentemente,
funcionaram, ao menos para o cristianismo palestino, como um califado dinástico,
similar à sucessão no Islã ou a sucessão dos irmãos hasmoneanos. É lugar comum,
que os textos dos evangelhos tratando a mãe de Jesus, irmãos e irmãs, ora
duramente (Marcos e João), ora delicadamente (Lucas, c.f, o Evangelho de acordo
com os hebreus), são funções das polêmicas eclesiásticas sobre as reivindicações
de suas lideranças em oposição a Pedro e aos Doze (analogamente aos Companheiros
do Profeta no Islã) ou a forasteiros como Paulo. É igualmente bem conhecido, que
as listas dos apóstolos nos Sinóticos diferem entre elas e entre os manuscritos
de cada Evangelho. Por quê? Eisenman conecta esse fenômeno com outro, a confusão
levantada entre teólogos primitivos sobre os parentes de Jesus, à medida que a
doutrina da virgindade perpétua de Maria tornou-se largamente difundida. Eles
tiveram que harmonizá-la com o dogma, assim irmãos e irmãs se tornaram primos,
meio irmãos etc. E personagens, tornaram-se divididos. Maria, subitamente, tinha
uma irmã chamada Maria porque a mãe de Tiago, Joset e Judas, não podia mais
também ser a mãe de Jesus. E assim por diante.
Os evangelhos deram importância a um círculo interior
de três: Pedro, João filho de Zebedeu e João irmão de Tiago. Gálatas tem os três
Pilares em Jerusalém: Pedro, João filho de Zebedeu e Tiago o irmão de Jesus. O
que aconteceu aqui? Certamente, o grupo interior de três é entendido como
preparatório para os Pilares, para provê-los de uma ancestralidade de Jesus.
Mas, então, porque existem dois Tiagos? Não deveriam ser eles, originalmente, os
mesmos? Eisenman diz que eles eram, mas certas facções, que
pretendiam enfatizar a autoridade do sombrio colégio dos Doze, contra a
primitiva autoridade dos herdeiros, consideraram político levantar uma barreira
entre Tiago, o irmão de Jesus, e os Doze, assim Tiago tornou-se, Tiago o Justo,
de um lado e Tiago, o irmão de Jesus, no outro.
Outra tentativa de distanciar
Tiago, o Justo, dos Companheiros de Jesus teria sido a clonagem de Tiago o Justo
com Tiago o filho de “Alfeu“, cujo nome Papias afirma ser intercambiável com
“Cleofás”, que vem a ser o pai de Simão, sucessor de Tiago como bispo de
Jerusalém e também seu irmão. E posteriormente, Tiago o filho de Alfeu e Tiago
o filho de Zebedeu ambos substituíram Tiago o Justo no círculo de discípulos.
Enquanto isso, Tomé sofreu uma mitose em Judas de Tiago, Tadeu, Lebeu e Judas
Iscariotes. Simão o Zelote é Simão bar-Cleofas, outro irmão de Jesus, o sucessor de Tiago como
líder dos cristãos de Jerusalém, após o martírio de Tiago. Ele foi confundido
também, com Simão Cefas (Simão Pedro).
Eisenman trabalhou uma
complexa e coerente construção gramática desses processos e termina, com um
círculo muito mais reduzido “dos Doze”, a maioria deles sendo “aliases” e
substituições para os irmãos de Jesus. Isso escandalizará alguns, mas outros
leitores acharão que a teoria agrega verdade, em contrapartida ao,
alternativamente, estranho fato de que os Doze, são entidades sombrias e
insignificantes no Novo Testamento.
Terceiro; Eisenman traz, para suportar as narrativas
dos Atos, o modelo de uma técnica redacional, "combina e ajusta", pela qual,
Lucas é visto como tendo composto suas histórias através da recombinação de
características proeminentes de cada história nas suas fontes. Quando Lucas
termina, somente pedaços dos paradigmas ou composição sintática dos originais,
são encontradas, mas existindo suficiente para reconhecer, uma como mutação da
outra. Esse é o procedimento usado, recentemente, com grande resultado, por um
número de especialistas, nada menos do que, John Dominic Crossan (o qual mostra
a narrativa da paixão ter sido, provadamente, construída a partir de vários
textos do Antigo Testamento), Randel (o qual nas ficções do evangelho, mostra
caso após caso uma história do evangelho derivada de uma história similar da
Septuaginta) e Thomas L. Brodie (o qual decifra numerosas narrativas de Lucas em
seus componentes originais Deuteronômicos). A originalidade de Eisenman nesse
ponto, não está na técnica, mas no seu zelo de levar a sério o uso de Josefo
como fonte por Lucas. (Novamente, isso é algo que ninguém, que deseja uma data
mais cedo para Lucas ou uma base histórica para os Atos, gostaria de considerar
seriamente, mas dessa forma temos um caso de apologética, disfarçada como
crítica). E a análise redacional de Eisenman, sobre Lucas em Josefo, é somente
um dos principais avanços de Tiago o irmão de Jesus. Não parece ser demasiado
dizer, que o livro inaugura uma nova era no estudo dos Atos.
Não se quer afirmar, entretanto, que Eisenman limita
seu uso de técnicas ao uso de Josefo por Lucas. Longe disso: ele é capaz de
extrair tradições de várias fontes e identificá-las em seus novos aspectos, nos
Atos-Lucas e em qualquer outra parte do Novo Testamento. Eu proponho agora,
oferecer sumários de algumas reconstruções de Eisenman, mostrando em contornos
amplos o que ele vê em Lucas (ou outros) tendo produzido tradições originais
bastante diferentes.
Várias fontes primitivas cristãs, apresentam Tiago
como sendo eleito pelos apóstolos como bispo de Jerusalém, sob indicação de
Jesus (como no Evangelho de Tomé, logion 12). A agenda helenizante de Lucas o
levou a recontar essa história, não como uma substituição de Jesus por Tiago o
Justo, mas sim a substituição de um vilão Judas Iscariotes, pelo insignificante
"Matias". Tiago, o Justo, foi diminuído bastante, de maneira a se esconder atrás
do candidato à posição, "José Barrabás chamado Justo". O nome Matias, foi
sugerido, através de simples associação de palavras, por Matias o pai de outro
Judas, Judas Macabeu. Assim, quando mais tarde encontramos Tiago, o Justo, como
o chefe da Igreja de Jerusalém, temos a expectativa de saber quem é ele, embora
Lucas tenha eliminado o que poderia ser sua apresentação! Um sinal evidente da
história original, tratando da eleição de Tiago, não como novo 12º apóstolo, mas
como o bispo de Jerusalém, é o texto-prova, "seu episcopado deixa outro homem
tomar" (Atos 1:20/Ps 109:8). Tiago foi, simplesmente, abortado de várias
narrativas dos Atos, nas quais deveríamos esperar ler sobre todos os três
pilares, mas agora lemos somente sobre o duo dinâmico Pedro e
João.
Como Hans-Joachim Schoeps já tinha
conjecturado, o apedrejamento de Estevão suplantou, exatamente, da mesma maneira
o apedrejamento de Tiago (na realidade, uma combinação do
posterior apedrejamento de Tiago sob o comando de Ananus e um anterior
ataque por Saulo nos degraus do templo, preservado em um incidente separado nos
Reconhecimentos). O nome de Estevão foi emprestado de um oficial romano surrado
por insurgentes judeus, o qual Josefo retrata ter sido emboscado fora dos muros
da cidade. Por que esse nome? Por causa de um jogo de palavras: Estevão
significa "coroa" e foi sugerido tanto pelos longos cabelos dos Naziritas (ao
qual Tiago pertencia de acordo com escritores da igreja primitiva) como pela
coroa do martírio. Sobre Estevão, havia sido transferida a declaração de Tiago
sobre o Filho do Homem situado à direita de Deus no paraíso, assim como a oração
de Tiago para seus perseguidores, do mesmo tipo daquelas proferidas por
Cristo. (Eisenman deve ter notado também, que a identidade original do mártir
como Tiago, O justo, é assinalada por Atos 7:52, "Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do
Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas!").
Lemos que um jovem de nome Saulo estava verificando
vestes para os executores de Estevão e com seu gosto por sangue imediatamente
estimulado iniciou a fomentar perseguição em Jerusalém e Damasco. Isso tem sido
trazido novamente pelo folclore de Tiago bem como de Josefo. O motivo da roupa
foi sugerido pelo golpe final em Tiago com um bastão, ao mesmo tempo logo após
sua própria narrativa da morte de Tiago, Josefo relata sobre o tumulto iniciado
por um Herodiano de nome Saulo em Jerusalém!
Eisenman observa vários temas envolvendo Tiago
circulando livres para serem conectados de formas inteiramente diferentes nas
escrituras cristãs. Por exemplo, a transfiguração traz Jesus resplandecendo em
glória celestial como Estevão o viu e Tiago o proclamou. E claro Tiago estava lá
na cena. O elemento "branqueador" é repetido na aparência de Jesus
com as roupas brilhantes, mais brancas do que qualquer branqueador as pudesse
alvejar. Novamente, nos Reconhecimentos, Saulo está perseguindo Tiago e os
santos de Jerusalém até Jericó (nas vizinhanças de Qumran "Damasco"), e de
alguma maneira eles são protegidos pelo espetáculo da tumba de dois mártires as
quais, milagrosamente, brilham a cada ano. Existe o elemento branqueador ligado
à perseguição de Saulo. De novo, na tumba vazia (relembrando aquelas tumbas dos
mártires), encontramos um "jovem homem" (o epíteto aplicado a Saulo no
apedrejamento de Estevão em Atos) vestido de branco e sentando à direita, dessa
vez, no local de repouso de Jesus exatamente como Estevão viu Jesus à mão
direita de Deus.
A
visita de Pedro a Cornélio, qualificada, praticamente, como uma paródia da
história de Josefo sobre Simão, um líder piedoso com sua própria assembléia o
qual desejava barrar Herodes Agripa I no templo por conta de suas contaminações
gentias, conseqüentemente Agripa o convidou para inspecionar sua casa em
Cesaréia e então dispensá-lo com presentes. Lucas pegou emprestado o nome
Cornélio de algum local em Josefo aonde Cornélio é o nome de dois soldados
romanos, um envolvido no cerco do Templo sob Pompéia, o outro no cerco de
Jerusalém sob Tito. Os colaboradores dos romanos em Cesaréia, aonde Lucas
estacionou seus piedoso Cornélio, estava entre os mais dispostos à violência da
Palestina. O elemento de conflito entre Herodes Agripa I e Simão Pedro foi
naturalmente transferido para Atos 12, aonde Herodes prende Pedro e Pedro foge,
sendo o mesmo desenvolvimento básico, mas com dramaticidade aumentada.
O que dizer do sempre fascinante personagem Simão
Magno? Eisenman o identifica com um mágico de nome Simão de quem Josefo reconta
que ele ajudou Berenice a convencer sua irmã Drusila a desprezar seu marido Rei
Azizo de Emesa que se circuncisou para esposá-la, para que pudesse se arranjar,
não com ele, mas com o não-circuncisado Felix. O Simão mágico de Josefo é um
Cipriota enquanto O Simão Mago dos Atos é considerado por escritores
posteriores procedente de Gita na Samária, mas na verdade esse fato estressa a
conexão, desde que era natural confundir "Gita" com "Kittim" ou Povo Marítimo de
Cipros. Não só isso, mas Eisenman nota que alguns manuscritos de Josefo
denominam o mágico "Átomos" que Eisenman relaciona com a doutrina do Adão Primal
enxergada por ele como implicada na alegação de Simão ser o uno encarnado muitas
vezes. Mas ainda existe uma relação próxima que Eisenman não teve a oportunidade
de notar. Qualquer um pode ver que Lucas criou o episódio Saulo/Paulo
argumentando contra Elimas o vidente (Atos 13:8 e seguintes) como uma
contrapartida paulina para a competição de Pedro com Simão Mago em Atos 8:9 (na
verdade, o patronímico de Elimas "bar-Jesus", provavelmente, reflete a alegação
que Simão fez de ter aparecido recentemente na Judéia como Jesus). Assim Elimas
é simplesmente Simão Mago. E o que você sabe, o texto ocidental dos Atos dá
nomes como Etoimas ou Etomas ao invés de Elimas! Assim, Simão
Mago=Elimas=Átomos=José de Simão=Simão Mago.
Aonde Lucas encontrou sua matéria prima para a
profecia de Ágabo sobre a grande fome para ocorrer no reinado de Cláudio, para a
viagem de Paulo da Antioquia para levar fundos de ajuda para a fome a Jerusalém
e para a narrativa anterior de Felipe e o eunuco Etíope? Novamente, de Josefo
(embora talvez também de outras fontes de informação associadas). Tudo isso
deriva, de um jeito ou de outro, da história de Helena, rainha de Adiabene, um
reino contíguo e/ou superposto com Edessa, cujo rei Agbaro/Abgaro em algumas
fontes é o marido de Helena. Helena e seu filho Izates convertido ao judaísmo,
embora inicialmente Izates se abstivesse da circuncisão devido ao conselho de um
professor judeu que garantiu a ele que a devoção a Deus era mais importante do
que a circuncisão. Sua mãe, também aconselhou contra isso, uma vez que seus
súditos poderiam se ressentir por ele abraçar tal costume estrangeiro. Mas logo
um professor austero de Jerusalém, um tal de Eliezer, visitou Izates
encontrando-o a meditar sobre a passagem de Gêneses da aliança Abraâmica sobre a
circuncisão. Eliezer indagou se Izates entendia a implicação do que estava
lendo. Se sim, porque então ele não enxergava a importância de ser circunsisado?
E isso o príncipe concordou em fazer. Helena e Izates provaram sinceridade na
sua conversão, através de entre outras filantropias, ao enviar agentes ao Egito
e Cerne para comprar grãos durante a fome no tempo de Cláudio e distribuí-los
entre os pobres de Jerusalém.
Esses eventos deixaram sua marca no Novo Testamento da
maneira que se segue: Eisenman nota (como naturalmente todos os comentaristas
fazem) que não existe espaço para a visita de ajuda da fome no itinerário
Galatiano da visita de Paulo a Jerusalém, mas ele tenta colocar o evento durante
a jornada na "Arábia" o qual, no idioma da época, poderia incluir
Edessa/Adiabene. Os Atos conhecem duas Antioquias, aquela na Pisídia e Síria,
mas havia outras incluindo Edessa! Eisenman identifica Paulo como o primeiro
professor judeu que diz a Izates que ele não precisa se circuncisar na sua fé em
Deus. (Esse episódio também está na base do episódio de Antioquia recontado em
Gálatas, quando certo homem de Tiago chega a Antioquia para dizer aos
convertidos por Paulo que eles afinal precisam ser cincuncisados.) Paulo é um
dos agentes de Helena para trazer ajuda para a fome em Jerusalém, o qual ele diz
em Atos 11 fazer "de Antioquia".
Mas, peguemos novamente a história de Helena no
capítulo 8, com Filipe substituindo Paulo, aonde Filipe aborda o agente
financeiro de um rei estrangeiro indo de Jerusalém para o Egito via Gaza. Esse é
claro o eunuco etíope. Porque Lucas transformou Helena a rainha de Adiabene em
Candace a rainha da Etiópia? Ele reverteu um padrão do antigo do Antigo
Testamento, fazendo Helena, convertida ao judaísmo, em uma Rainha de Sabá do
Novo Testamento que viera a Jerusalém para ouvir a sabedoria de Salomão. Existe
também um jogo de palavras na raiz saba, denotando batismo no estilo dos
Essênios, Sampsaeans, Sabeanos, Masbutheans e Mandeanos, o tipo de
judaísmo que Helena havia se convertido (dado o posterior envolvimento Zelote de
seus filhos e sua própria reputação de 21 anos de ascetismo Nazirita). Henry
Cadbury anotou muito tempo atrás que Lucas caiu na mesma armadilha que um número
de literatos contemporâneos foi pego ao assumir como nome próprio, Candace, o
título de todas as antigas rainhas Etíopes, kandake, mas Eisenman também vê um
jogo de palavras no nome do filho de Helena, Kenedaeos. Que deu sua vida para o
adotado povo na Guerra Romana. De qualquer maneira não havia rainhas etíopes
naquele tempo.
Quando o profeta Ágabo previu a fome, Lucas derivou
seu nome daquele do marido de Helena, Agbaro. Quando o eunuco convida Filipe
para entrar em sua carruagem, temos um eco de Jeú recebendo Jonadab em sua
carruagem. Quando Filipe pergunta ao etíope se ele entendia o que lia, Lucas
estava emprestando isso da história de Izates e Eliezer, aonde a questão também
pressagia um ritual de conversão, apenas que dessa vez é a profecia de Isaias
sobre Jesus, e o ritual do batismo. A circuncisão original sobrevive na forma de
paródia crua (relembrando Gálatas 5:12) com o Etíope sendo totalmente castrado.
Até mesmo a localização do episódio dos Atos é ditado pela história de Helena,
pois o etíope viaja para o Egito via Gaza porque o agente de Helena precisa
estar em posição de comprar grão. A motivação substituída por Lucas para o
objeto da a viagem é absurda: um eunuco não poderia ter ido a Jerusalém para
adorar uma vez que eunucos eram barrados no Templo!
O suicídio de Judas Iscariotes (originalmente "O
Sicário") representa uma mistura de elementos que fazem mais sentido no seu
presumível ambiente mais cedo na vida de Tiago e Judas. Os elementos do suicídio
(bem como o lançamento de sorte no contexto adjacente de Atos 1) provêm do
lançamento de sorte para iniciar os suicídios dos Sicários em Massada. A queda
abrupta vem de Tiago sendo empurrado do pináculo do templo, enquanto as
entranhas derramadas refletem o esmagamento dos miolos de Tiago pelo diabólico
lavador. Como Tiago, Judas nos Atos é enterrado aonde cai.
Eisenman enxerga Tiago estando envolvido,
integralmente, em alguns dos episódios que Josefo reconta no mesmo período, tal
como a construção de um muro para cortar a vista da sala de jantar de Herodes
Agripa do altar sacrifical do templo, que aconteceu logo antes do martírio de
Tiago e a profecia de Jesus-ben-Ananias sobre a destruição final de Jerusalém,
que aconteceu exatamente depois. Tiago tinha sido a fortaleza impedindo o
julgamento de Deus. E com ele fora do caminho, o destino da cidade estava
selado. (Orígenes leu uma versão de Josefo na qual ele diz que o povo atribuía a
queda da cidade como punição pela morte de Tiago o Justo). Essa profecia de
Jesus bem-Ananias é a base tanto para o oráculo mencionado por Eusébio que
alertava aos cristãos de Jerusalém para fugirem como para Ágabo alertando Paulo
para não continuar em Jerusalém (atos 21).
Tiago foi executado por blasfêmia por conta de sua
atuação (como os antigos escritores da Igreja nos contam) como Sumo Sacerdote
opositor entrando no Santo do Santos no dia do perdão. Como um essênio (como
mostrado por suas práticas ascéticas, suas vestes de linho brancas etc.) ele
celebraria o Yom Kippur em um dia diferente, que seria a maneira de não esbarrar
com Ananus fazendo a mesma coisa que é a razão pela qual por irregularidades
ritualísticas ele teria sido executado, como o Mishnah exigia para infrações
como essa.
A maneira como Eisenman descreve o papel de Tiago tem
muito pouco a ver com Jesus (tão pouco quanto a Epístola de Tiago). Até mesmo a
famosa história de Tiago sendo convidado pelo Sumo Sacerdote para se dirigir ao
povo na Páscoa, para dissuadi-los de sua crescente fé em Jesus e recebendo sua
surpresa confissão, "Porque vocês me perguntam sobre o Filho do
Homem...?" deve ser lido, pelo que parece Eisenman sugerir, como uma
cristianização de um original na qual Tiago foi solicitado a acalmar a excitação
da multidão na Páscoa (uma fonte anual de dores de cabeça escatológicas para o
Templo e para o "establishment" romano) com nenhuma referência a Jesus como o
messias esperado. E a resposta de Tiago teria sido um incitamento da expectativa
messiânica novamente sem referência a Jesus como o Filho do Homem. Igualmente o
voto de Tiago prometendo não comer ou beber até que o Filho do Homem tenha se
elevado, pode ser uma redação cristã do voto de Tiago para observar o ascetismo
nazirita até a vinda do messias, não necessariamente a ressurreição de Jesus.
Assim o Tiago de Eisenman faria muito mais sentido como uma figura religiosa em
seu próprio mérito, não se apoiando na sombra de Jesus. Essa é, de qualquer
forma, a impressão que ganhamos de Hegésipo e de outros: Como poderiam as
autoridades do Templo sequer solicitado a Tiago para acalmar o entusiasmo
popular sobre Jesus se eles soubessem que ele mesmo era um líder cristão? Eles o
conheciam como um judeu piedoso assim como Josefo.
A figura de Tiago como importante por seu próprio
mérito, encerra duas outras hipóteses distintas de Eisenman. O primeiro é a
identificação de Tiago o Justo como o Mestre da Retidão de Qumran, uma situação
que ele argumenta extensivamente em seu livro anterior The Dead Sea Scrolls and the First
Christians. Ele alude
à possibilidade dessa identificação várias vezes em James the Brother of
Jesus. Claro que, mesmo nas leituras de Eisenman dos textos dos Manuscritos
do Mar Morto, muito pouco é dito sobre Jesus. Suas leituras nas fontes originais
de Tiago faz sentido com isso. Jesus não tinha ocupado uma centralidade
criptológica no contexto original do "Essenismo" o qual posteriormente se
fragmentou ao longo das linhas faccionais leais a Jesus (Cristianismo Ebionita),
João Batista (Mandeanos) e Tiago o Justo (seita em Qumran). Para um cenário
similar em solo gentio veja 1 Co 1:12.
A
segunda audaciosa hipótese de Eisenman, relevante para este quadro de um Tiago
mais ou menos independente, é que o nosso quadro nos evangelhos gregos parece
largamente ser uma amálgama Paulino anti-halaka e episódios emprestados de
várias figuras messiânicas e proféticas encontradas em Josefo.
Na entrada triunfal de Jesus em
Jerusalém para "limpar" o Templo que se tornara um "antro de ladrões", como não
reconhecer a entrada do messias Simão bar-Giora na cidade sob convite dos
sacerdotes para "limpar" o Templo de agitadores subversivos rivais? E (como
Eisenman e John Dominic Crossan ambos notaram) não seria a muda flagelação de
Jesus pelos sacerdotes e pelo Procurador Romano para prever a destruição do
Templo suspeitamente similar àquela de Jesus bem-Ananias? A humilhação de Jesus
como um rei durante a visita a um "soberano" herodiano soa marcadamente como o
incidente de Carabas reportado por Philo em Contra Flaco (Adversus
Flaccus - novamente Crossan também notou isso), o qual também ecoa Barrabas.
A tentativa pela multidão de forçar Pilatos a condenar Jesus através da ameaça
de relatar sua delinqüência a César lembra a verdadeira alegação feita contra
Pilatos feita por Samaritanos após ele liquidar partidários do Samaritano Taheb
no Monte Gerizim, um feito que na verdade resultou numa chamada de Pilatos Roma.
A execução de Jesus como Rei dos Judeus nos relembra a de Simão bar-Giora em
Roma.
A espetada de lança para confirmar sua
morte lembra aquela que se seguiu ao pacto de suicídio do rei revolucionário
fugitivo espartano Cleomenes e seus colaboradores em Vidas, de Plutarco.
Igualmente, os prodígios na crucificação de Jesus são exatamente aqueles da
crucificação de Cleomenes os quais deixaram as mulheres espectadoras a aclamar o
rei rebelde assassinado como filho dos deuses e a visitarem o local para
adorá-lo. E como Eisenman mostra, mesmo as aparições de Jesus depois de três
dias de luto de seus discípulos se encaixa nas do herói Niger em na Guerra
Romana, o qual foi considerado morto por amigos e adversários, mas estava
realmente se escondendo numa caverna por três dias enquanto seus enlutados
discípulos procuravam por seu corpo, somente para serem "surpreendidos pela
alegria" quando ele reaparece vivo de sua caverna!
Eisenman
também nos lembra que sabemos menos do que supomos sobre a cronologia de Jesus.
De acordo com evidências em Josefo devemos posicionar a execução de João Batista
o mais tardar em 35-36 CE. E Epifânio afirma que o espiscopado de Tiago durou 24
anos após a partida de Jesus; partindo da data informada por Josefo para a morte
de Tiago, a morte de Jesus seria colocada cerca de 38 CE. E os Atos de
Pilatos, substituído pelo Evangelho Cristão de Nicodemus, datou a
execução de Jesus em 21 CE. Irineu imagina Jesus morrendo aos 50 anos, sob
Cláudio, enquanto o Talmude o tem crucificado sob Alexandre Janeau! E teria o
Credo se importado em afirmar que Pilatos executou Jesus a não ser que alguém
estivesse negando isso?
Igualmente chocante para muitos será a
sugestão de Eisenman que o Saulo Herodiano de Josefo, ativo durante o cerco de
Jerusalém, não era outro senão Saulo de Tarso! Como Hyam Maccoby, recentemente,
nos lembrou (No The Mythmaker). Nossa assunção convencional de que Paulo morreu
sob ordem de Nero permanece apenas no manifestadamente imperfeito legendário
material em Clemente 1 (um resumo anônimo de peças exortatórias de datas
desconhecidas) e nos Atos de Paulo. Nós realmente não sabemos o que pode
ter acontecido a ele. Igualmente, Eisenman chega perto de identificar Simão
Pedro com Simão bar-Cleofas, que é dito, como Simão Pedro, ter sido crucificado,
mas bem depois do reinado de Nero. (Na verdade, Eisenman pensa que sem dúvida
existia um Pedro distinto do Pilar Cefas, que a tradição referente aos dois tem
sido confundida devido à similaridade entre os nomes).
Outro ponto no qual Maccoby e Eisenman coincidem é sua
disposição de assumir seriamente a acusação Ebionita de que Paulo nunca foi,
para início de conversa, realmente um judeu. Maccoby mostra quase extensivamente
em seu Paul and Hellenism que as espístolas paulinas dão pouca
evidência séria de que sejam escritas por um judeu, por suas explosões
antisemitas, suas afinidades religiosas misteriosas, suas exegeses gnósticas e
suas visões definitivamente não-judias do Torá como ônus.
Eisenman afirma a evidência
da influência Herodiana, alguma coisa que realmente não precisamos ler nas
entrelinhas para ver, dado sua cidadania romana, seu parentesco com um dos
Herodes e à casa de Aristóbulo. Se isso é o que os Ebionitas querem significar,
que Paulo era tão judeu como Herodes o Grande a despeito de suas pretensões,
então temos um cenário mais natural do que aquele que os Ebionitas acusam o que
de outra forma implica: a idéia de Paulo como um tipo de Grego pagão entrando
superficialmente e por fora no judaísmo. Como Eisenman observa, Paulo protesta
de que é Hebreu, um Israelita, mesmo um Benjaminita, mas ele evita chamar-se de
judeu! E Eisenman sugere que, dado o estranho fato que "Bela" aparece tanto como
chefe do clã dos Benjamins como o primeiro rei Edomita. "Benjaminita" pode ter
siso um tipo de eufemismo Herodiano para a sua oblíqua relação com o
judaísmo.
Eisenman cita a nota do Talmude que os Rechabitas
(=Naziritas) costumavam casar com as filhas do Sumo Sacerdote. Embora ela não
faça a particular conexão Eu vou fazê-la, pois essa nota talmúdica me sugere uma
nova e mais natural maneira de entender a acusação Ebionita de que Paulo se
converteu ao judaísmo porque estava fascinado pela filha do Sumo Sacerdote e
desejava bajular seu pai para ganhar sua mão. Agora, pense na narrativa dos Atos
sobre o estratagema infeliz de Paulo, fingindo uma aliança Nazirita pagando para
a purificação de quatro dos ativistas de Tiago (Atos 21:23-26) o quais se
voltaram contra ele o que acabou conduzindo a desordens por "ativistas da Torá"
de Tiago (não alguns judeus da Ásia Menor, como Lucas reportou) devido à
tentativa de Paulo de profanar o Templo (atos 21:27-30). Como o uso de dinheiro
para endossar o rito de purificação dos quatro homens parece ser uma variante da
apresentação e rejeição da Coleta (Romanos 15:31), podemos suspeitar que a
repulsa a Paulo como um pretenso Nazirita, essa decisiva rejeição da tentativa
de Paulo de bajular o partido de Tiago tem sido figurativamente interpretada na
propaganda posterior Tiaguista (i.e., Ebionita) como uma tentativa frustrada de
Paulo fazer o que os Naziritas faziam, "esposar a filha do Sumo Sacerdote!"
Porque escolher essa metáfora em particular para Paulo como um falso profeta?
Devido às ressonâncias do "cortejador" como sedutor (de Israel), um enganador e
falso profeta (cf., 2 Co 11:1-5 aonde Paulo redireciona precisamente a mesma
acusação de volta aos "super-apóstolos" de Jerusalém).
Em relação à associação de Eisenman entre Paulo e o
Pregador da Mentira que repudiava a Lei e traia a nova aliança, o inimigo do
Mestre da Retidão de Qumran, uma tese que permeia inteiramente o livro, eu
observarei apenas que as coincidências entre a retórica de Qumran e os vestígios
de anti-paulinismo no Novo Testamento são no mínimo tão convincentes como
aquelas convencionalmente aceitas como prova de Mateus alvejando Paulo em vários
pontos de seu evangelho. Eisenman ameaça obscurecer seu próprio caso exagerando,
referenciando muitas terminologias compartilhadas por Paulo e Qumran, algumas
vezes utilizadas com sentidos diferentes, e insistindo que elas refletem
mutuamente refutação e ridículo, mas os principais exemplos são impressionantes.
E certamente a rotulação de Paulo, Tiago e Ananus nos Pergaminhos é muito mais
natural que os palpites desordenados através dos quais especialistas
convencionais em Qumran procuram identificar os principais personagens dos
Pergaminhos com essa ou aquela figura Hasmoniana. (Admitidamente existem raras
referências aqui e acolá para denominar figuras do primeiro século da EC, mas
Eisenman não sustenta que cada simples pergaminho seja um produto do primeiro
século da EC. Como poderia ele, quando seu argumento é que o "cristianismo" de
Tiago foi um crescimento evolucionário a partir de uma espécie pré-existente
"Essênia").
Uma questão que Eisenman deixa aberta é a verdadeira
identidade existente atrás do fictício João "filho de Zebedeu". Quem poderia ter
sido ele? Eu penso que temos um par de palpites. (E penso que vale a pena
persegui-las dessa maneira demonstrando que a tese de Eisenman não se fia
meramente sobre suas próprias impressões subjetivas, mas também em um método que
pode ser assumido por outros obtendo seus próprios resultados. Uma vez que
alguém absorve o talento, seu método se prova tão científico como qualquer um
empregado sobre a forma e crítica redacional).
Primeiro, desde que Tomé/Tadeu é também chamado
"Lebeu", uma aparente variante do título de Tiago "Oblias" (o Bastião = O
Pilar), devemos supor que os herdeiros de Jesus e os Pilares eram sinônimos, o
que de certa maneira torna o Pilar João um irmão de Jesus. (Eisenman supõe que
deve ter existido um Pilar de nome João; é sua conexão com o Zé Ninguém "Tiago
filho de Zebedeu" é que apresenta a dificuldade). Assim não há problemas em se
aceitar o Pilar João como irmão real de Tiago, o Justo, de Judas Tomé e de Simão
bar-Cleofas. Todos eram contados como Pilares ou Bastiões cuja presença em
Jerusalém mantinha a cidade segura. E lembremos a curiosa questão com Tiago e
João sendo cristianizados "Boanerges", que significa "filhos do
trovão".
Mas porque João não aparece na lista de parentes em
Marcos 6:3? Eu suspeito que seu lugar foi tomado por "Joset". A posição original
de João como irmão de Jesus tem sido transferida para outro João, João Batista!
Lucas torna o Batista tanto um sacerdote popular hereditário por linhagem como
um "primo" de Jesus, da mesma maneira como uma tradição posterior faz Os irmão
de Jesus Simão e Tiago seus primos. E um apocalipse anterior preservado no
Chrysostom's Encomium
on John the Baptist (ver E. A Wallace Budge's Coptic
Apocrypha in the Dialect of Upper Egypt) é atribuído a "João o irmão
do Senhor", implicando que talvez alguém, em algum lugar, lembrou-se da conexão
original.
Mas e sobre o Joset de Marcos?
Eisenman sugere que esse nome é simplesmente um disfarce substituindo ninguém
mais do que Jesus, o que não é inconcebível. Mas eu sugeriria que Joset é uma
reserve para João. O nome propriamente é um vestígio de uma lista que
originalmente se leria, "Não é o carpinteiro, o filho de Maria e José, e irmão
de Tiago, João, Judas e Simão"? Quando a vemos em Marcos 6 ela já foi misturada,
Joset se tornando um dos irmãos e o pai de Jesus sendo retirado da lista.
Mateus, aparentemente, pensou isso, assim ele tomou de Jesus o epíteto "o
carpinteiro" e colocou-o sobre o pai de Jesus.
O livro de Eisenman James the
Brother of Jesus frequentemente parece muito redundante e
repetitivo, mas isso é o resultado dele ter mantido uma série de bolas no ar ao
mesmo tempo. Ele tem que começar a explicar algo aqui, coloca aquilo em espera,
vai para outra material que você precisa ligar ma primeira explicação, então
retorna, vai para outra e outra então vota aos primeiros itens, relembra o
leitor deles e finalmente monta todo o complexo mecanismo. Eisenman é como os
cientistas da Renascença que tem que construir à mão todas as partes intricadas
de uma invenção planejada. O livro é um oceano de teorias e abordagens
instrutivas, uma maciça e profunda realização que deve abrir novas linhas na
pesquisa do Novo Testamento.
Independente de acharmos que o retrato
de Tiago apresentado por Eisenman seja convincente ou não deveríamos ficar
gratos pela enchente de novas luzes que ele espalha em muitos assuntos incluindo
as fontes dos Atos e seu método de redação.
Nota:
Agradecimento pela colaboração na autoria da
tradução da resenha de Robert Price por Mário Porto: (http://mphp.org).
Nota:
Agradecimento pela colaboração na autoria da
tradução da resenha de Robert Price por Mário Porto: (http://mphp.org).
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