Mostrando postagens com marcador SOFRIMENTO HUMANO. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador SOFRIMENTO HUMANO. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Os Profetas de Jó



“Por que não morri ao nascer?
Por que não expirei ao sair do ventre?” OS
PROFETAS
DE

Por que dar nome a um texto de “Os profetas de Jó”, quando em parte alguma do livro ele é chamado de profeta? Quais revelações apocalípticas ou proféticas saíram da boca de Jó? O que poderia caracterizar Jó como um profeta?

De fato, em momento algum ele é apresentado como profeta ou se considera como tal, assim como, jamais anunciou um fim catastrófico ou vaticínio vindouro. Tinha apenas a certeza de que era homem justo e que estava sendo punido covardemente. Todavia, Jó poderia ser considerado “Voz profética” contra a injustiça, a miséria, a angústia; “Voz profética” em favor do pobre, do humilhado, do necessitado, do errante e do enfermo; “Voz profética” ao confrontar o insondável, o misterioso, e o ambíguo caráter de Deus. A verdade é que Jó, após o seu martírio, foi o primeiro justo a comprovar que todos os homens estão sujeitos aos caprichos de YHWH.

Uma sincera leitura da Bíblia sobre a criação do Homem, o pecado de Adão, o dilúvio universal, os descendentes de Noé, a maldição dos filhos de Cão e a primeira guerra entre irmãos, o chamado de Abrão, o nascimento de Ismael e Isaque e a segunda guerra entre irmãos, o Êxodo do Egito e a expulsão das nações de suas terras, as leis morais e capitais do Pentateuco, e a evolução da religião de Israel, podem ajudar muito na compreensão do duvidoso caráter do Deus de Israel “olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe”.

Para que haja luz sobre este esboço, adianto que tudo é um terrível equívoco, a começar pela frustrada criação do Homem e a enigmática entrada do Mal no mundo. Só existe uma maneira de compreender a irracionalidade deste mundo nefasto, é compreendendo de que tudo não passa de um grande equívoco. Um ato de criação de um Ser ou vários que num determinado ou prévio momento decidiu criar e promover o caos. Um palco armado com personagens estabelecidos como numa tragicomédia Dantesca. Deus o criador, o Homem a criatura, e o Diabo o destruidor, elementos fundamentais para um cenário de injustiça, medo, catástrofe, morte, miséria. Deus cria o mundo, forma o Homem, e paralelamente surge um ser supostamente criado, de nome incerto: serpente, dragão, diabo, acusador, Satanás, trabalhando em oposição a tudo o que é perfeito. E com esses personagens ativos, o palco para a tragédia humana está formado.

Num primeiro ato Deus cria o Mundo e o Homem e vê que tudo é perfeito, num segundo ato se arrepende e amaldiçoa o mundo e o Homem, e num terceiro ato torna anátema a enigmática serpente. E assim, é dado o pontapé inicial de um quebra-cabeça imperfeito.

O que se desenvolve neste longa-metragem de terror de péssima qualidade é o desejo de um Deus ciumento, vingativo, obsessivo, que a todo custo tenta conseguir adoração e exclusividade da sua criatura. Como não obtém sucesso, então, ataca com violência, atrocidade, e extermínio. Porém, nem enviando peste, fome, seca, praga, guerra, exílio, canibalismo, anjo destruidor, YHWH consegue seu intento.

Quando o mais verdadeiro seria reconhecer o erro da criação do Homem ou admitir prazer e sadismo na destruição. Mas devemos avançar e falar sobre o personagem Jó figura central desta mensagem polêmica. Ele clama contra o que acontece de mais perverso, injusto e, vergonhoso ao Homem. Jó representa o choro de uma mãe que perdeu seu amado filho para o motorista imprudente, para a doença fatal, para os assassinos à espreita, para a bala perdida, para o bêbado ao volante, para o traficante violento, para o médico irresponsável, para os governantes malignos. Jó representa o clamor das crianças aidéticas, desnutridas, apodrecidas, malcheirosas, amaldiçoadas sem causa, da África. Jó representa o pranto sem fim das famílias enlutadas pelas guerras do poder. Jó representa todo o homem íntegro e reto que se desvia do mal, mas que inexplicavelmente torna-se seu alvo das desgraças da vida.

O pobre Jó não entendia seu sofrimento, assim, como milhões e milhões que no momento em que escrevo estão sendo tragadas pela tragédia. Então vem a pergunta: A quem clamar por justiça? Somos doutrinados a reconhecer YHWH como Deus Poderoso, Aquele que livra o aflito, o necessitado, O que faz o morto ressuscitar, que ampara o órfão e a viúva, que alimenta o faminto, que sacia o sedento, O que não toma o culpado por inocente e nem o inocente por culpado, O que abate o soberbo e exalta o humilde, Aquele que julga com retidão. Enfim, poderia ficar horas citando todas as supostas virtudes e bondades de Jeová. Por que então o Mal prevalece? Por que temos de nos contentar com as injustiças e retardar o tempo da justiça para uma época futura e incerta? Por que se conformar com a destruição dos justos e o triunfo dos ímpios? Por que ignorar as promessas de Deus de vida em abundância? Por que se ocultar numa religião para não enxergar as aberrações da vida? Por que eximir Deus da culpa pelo caos da sua criação e culpar o Homem por toda a dor?

Jó homem íntegro e reto que se desviava do Mal e temente a Deus sentiu na própria carne o absurdo de Deus. Clamou por um árbitro, um juiz que fosse colocado para que seu litígio fosse apreciado. Jó tinha convicção, por isso clamou: “Ainda que Ele me mate, eu não negarei a minha justiça”. Ah meus irmãos! Como é fácil dizer que adoramos a Deus, que vivemos para servi-lo, que o amamos de todo o coração, quando tudo vai bem. Ah meus irmãos! Como é fácil ficar quieto sem querer chamar a atenção de Deus quando o problema não é nosso. Ah meus irmãos! Como somos massa de manobra nas mãos de um livro que tem a pretensão de revelar um Deus Soberano que mata, ataca, destrói, extermina, e impede a piedade em favor de crianças e mulheres amamentando.

Alguns dias atrás me perguntaram: Crês em Deus e na Bíblia? E disse: Sim, creio em Deus, porém não creio que a Bíblia possa revelar Deus. Como muito bem disse São Jerônimo em um dos poucos momentos de sobriedade “A verdade não pode existir em coisas que divergem”. Como disse também Norman Champlin “Em algumas passagens da Bíblia, o melhor que se faz é ignorá-las para que não seja envergonhado o nome de Deus”. Como disse o papa Paulo V no séc. XV “Não sabeis como a leitura das Escrituras estraga a religião Católica”. Meus irmãos, este também tem sido o discurso dos protestantes radicais que condenam a Crítica Textual, a Arqueologia, a Ciência, a História do Cristianismo Primitivo, a História das Religiões. Tudo isso por que basta apenas um olhar racional para que toda farsa da Bíblia desapareça.

Mas eu, creio num Deus que um dia irá revelar toda a Verdade; creio num Deus que irá punir aqueles que fraudaram os seus atos e palavras, quer seja apóstolo, discípulo, santo ou pecador; creio num Deus que condenará todos os covardes que duvidando da mentira, ainda assim, resolveram se unir a ela; creio num Deus que isentará de culpa todos os que ousaram questionar levando-o em juízo pelos seus supostos atos e omissões, creio num Deus que tomará como culpado todo aquele que incitou os homens a falarem o que não era reto sobre Ele.

AMÉM!

Quem Irá Julgar os Atos de Deus?


Ah! Quem me dera alguém que me ouvisse!
Eis a minha defesa, que o Todo Poderoso me responda;
que o meu adversário (Deus)escreva a sua acusação. (Jó. 31.35)

Em primeiro lugar, gostaria de enfatizar que meu propósito com este esboço, que na verdade se parece mais com um grito por justiça, não tem a intenção de confundir, desfazer ou inibir a fé de nenhum dos meus destinatários. Tenho alguns projetos, e sei que Deus irá me abençoar, (parece até uma contradição) de escrever futuramente literaturas que abordem o problema do sofrimento humano, pelo menos três livros, o primeiro sobre Jó, o segundo sobre Eclesiastes, e o terceiro sobre “Os Absurdos de Deus e as contradições da Bíblia”.

Jó e Eclesiastes são dois livros do Antigo Testamento que em minha opinião são Universais, ou seja, servem de manuais para a vida prática. Representam as vicissitudes da vida e fazem eco ao grito por justiça dado por Asafe: Sl. 73; Habacuque: 1:2; Jeremias: 12.1:6, e tantos outros profetas e homens que se sentiram enganados, humilhados, injustiçados por Deus.

O grande conflito entre teólogos e cristãos leigos reside justamente na fé cega. Costumo dizer que “a ignorância é a mãe da devoção”. E um aspecto interessante acontece quando as ciências: arqueologia, física, biologia, antropologia, corroboram com algumas afirmações da Bíblia, e aí, os cristãos de plantão se apressam em dizer: Estão vendo! A Bíblia sempre precede a Ciência, a Bíblia nunca falha! Porém, quando as próprias ciências acadêmicas que compõem o estudo das Escrituras se opõem a Inerrância bíblica; negam a cronologia dos acontecimentos; desfazem afirmações bíblicas sobre ciência, biologia, física, antropologia, dinastias; desacreditam a autoria dos escritos, jogam por terra a infalibilidade da Escrituras, confirmam a interpolação e supressão de textos, revelam que muitas profecias foram escritas posteriormente aos acontecimentos, caracterizam alguns textos como espúrios. Aí, a coisa já muda de figura, e todos que não comungam da “Inerrância das Escrituras” estes são chamados de filhos do diabo, não convertidos, inimigos de Deus, agentes de Satanás.

Agora, falando em particular, acredito e sempre acreditarei na existência de Deus “Pois os atributos invisíveis de Deus, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que foram criadas, de modo que eles são inescusáveis. Pois tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças antes seus raciocínios se tornaram fúteis, e seus corações insensatos se obscureceram”. Romanos 1. 20.21. Como disse o apóstolo Paulo somente a dureza do coração do homem pode negar a existência de um Ser Criador de todas essas coisas.

Agora, o outro lado do problema.

Desde que ingressei no seminário e passei a estudar a Bíblia, eu disse estudar e não apenas ler e fazer de contas que tudo aquilo soaria como verdades universais, comecei a verificar que muitas coisas não se encaixavam, porém como era um recém convertido e um aluno novo no seminário, creditei tudo como sendo minha falta de conhecimento ou a falta de “revelação do Espírito Santo”, á propósito um jargão muito usado contra todos que se mostram críticos (estudiosos) das Escrituras Sagradas.

E, embora, nunca tendo sido um cristão ortodoxo, ou seja, um cristão tradicional que aceita tudo como sendo inspirado por Deus, ainda assim, hoje me arrependo de ter acreditado em dogmas, doutrinas, arranjos teológicos, profecias incompatíveis, que tinham apenas a intenção de dar sentido a um macabro enredo de mortes, assassinatos, traições, homicídios, infanticídios, incestos, invasões, estupros, ciúmes, violência, racismo, acepções, discriminações, pragas, maldições, invejas, aberrações e mentiras, tudo em nome do Deus Santo de Israel.

Ditados populares são criados dentro de suas respectivas “culturas” e a maioria deles longe de representarem verdades incontestáveis apresentam certa coerência. Entre os ditados populares existe um que acho pertinente com o assunto proposto: “O pior cego é aquele que não quer enxergar”. Digo isto porque, sempre me destaquei nos seminários onde estudei não que fosse o mais competente, mas por ser o mais ousado, praticamente o único a me levantar contra as incoerências, absurdos, injustiças e atrocidades cometidas por Deus ao longo das narrativas da Bíblia. Não é por acaso que Jó se constitui no Antigo Testamento o meu “herói preferido”, ele é um justo que foi, injustiçado, violentado, alijado, ultrajado, desmoralizado, escarnecido, por capricho do Deus de Israel que travava uma batalha de vaidades contra Satanás e, diga-se de passagem, Satanás venceu, pois nada do que Deus acrescentou a Jó poderia curá-lo de seus traumas e terrores.

Qualquer homem sensato, provido de razão ou humanidade, livre de uma religiosidade que escraviza consegue tranquilamente identificar o absurdo cometido contra Jó, homem que era integro e reto; temia a Deus e se desviava do mal. Com certeza depois da experiência infernal que Jó teve com Deus o seu “temor” antes, com uma conotação de respeito, passou a ser de medo, vulnerabilidade, inconstância e pavor, pois se o próprio Deus que testemunhou em favor dele o castigou impiedosamente o que não faria adiante.

Basta ler e querer enxergar, e não querer se enganar ou tentar representar o advogado de Deus ou do Diabo. Se ainda assim, persistir alguma dúvida sobre a injustiça praticada por Deus, leia-se as palavras do pobre Jó:

“Quando penso que a minha cama me consolará, e o meu leito aliviará a minha queixa, (leia-se dor excruciante) então me espantas (Deus) com sonhos, e com visões me assombras”. 7.13:14;

“Não existe árbitro entre nós que ponha a mão sobre nós ambos, alguém que tire a sua vara (Deus) de cima de mim, para que não me amedronte o seu terror”. 9.33:34;
“Se fosse uma questão de forças, ele é poderoso! “Se fosse uma questão de justiça, quem o citará? Se eu me justificar, a minha boca me condenará, (medo) se reto me disser, então ele me declarará perverso. Embora eu seja inocente, não levo em conta a minha alma, desprezo a minha vida. Tudo é o mesmo, portanto digo: Ele consome ao reto e ao ímpio. “Quando o açoite mata de repente, ele ri do desespero dos inocentes”. 9.19:23.

Poucos dias atrás conversava ao telefone um irmão em Cristo, este com certeza cristão de verdade, homem de muita fé, que não tenta contender com Deus e, falava que o palco da tragédia humana se iniciou no Éden evoluindo, para um contexto de guerras, vejamos: Por quais motivos os descendentes de Sem (Gn. 10.12) da árvore genealógica de Abraão, pai de todos os hebreus, foi escolhido para habitar nas terras dos cananeus, descendentes de Cão, erradamente amaldiçoado por Noé, logo após, uma embriagues de vinho. A partir dessa “apartheid racial” entre irmãos promovidos pelo Deus de Israel, o que se desenrola a seguir, é uma série de barbáries, mortes, homicídios, usurpações, estupros, violência sem fim, etc. Muita coisa ainda deveria ser comentada, isso representa apenas, a ponta de um Iceberg de erros, contradições, maldições.

Lembro-me quando certa vez no curso de Mestrado Bíblico indaguei o professor com duas “pedradas”: “Será que Deus é realmente bom? Deus sempre fez acepções de pessoas e sempre utilizou de critérios diferentes para atitudes semelhantes e citei nomes de alguns personagens da Bíblia que foram favorecidos enquanto outros preteridos: Saul (coitado do Saul esperou os dias necessários, três dias, pelo profeta Samuel e mesmo assim foi punido por oferecer sacrifício) Davi e Salomão (não eram sacerdotes e cansaram de oferecer sacrifícios sem terem autoridade para tal coisa, e nem por isso foram punidos); Moisés (coitado do Moisés, segurou uma responsabilidade que não era sua, bem que ele tentou devolver para Javé, mas este disse: Segura Moisés que esse povo é teu. E covardemente foi impedido de entrar em Canaã. Que coisa!) e Raabe (grande mulher trabalhadora e de grande fé); Isaque e a filha de Jefté (coitada da menina, pagou pela loucura de seu pai, e Deus não interveio. Sorte do Isaque), Pedro (Se safou em Pedrão, pois a bola da vez era você) e Judas (o Judas, coitado, entrou de bucha); e muitos outros.

Queridos irmãos, analisem e sejam honestos consigo mesmo.

Alguns dos autores bíblicos acreditavam que o sofrimento tinha um fim redentor, e é verdade que com freqüência pode haver benefícios nas dificuldades que encontramos. Mas eu simplesmente não vejo nada de redentor quando bebês etíopes morrem de subnutrição, quando milhares de pessoas morrem de epidemias ou quando um jovem, um pai de família, uma criança é brutalmente assassinado por violentos assassinos.

Alguns pensam no sofrimento como um teste de fé. Mas eu me recuso a acreditar que Deus assassinou (ou permitiu que Satanás assassinasse) os dez filhos de Jó para ver se Jó iria amaldiçoá-lo, e perdeu, porque Jó o xingou de tudo de ruim: algoz, covarde, injusto, insensível, opressor, zombador,etc., pena que no final, quando Deus aparece bancando o ofendido, Jó botou a viola no saco e disse “Eu sei que tudo podes, nenhum dos teus planos pode ser impedido (sentiu na carne). Certamente falei do que não entendia, coisas maravilhosas demais para mim, (só desgraça) e que eu não compreendia. Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza.
Coitado do Jó, quando Deus apareceu a sua frente, Jó devia ter pensado “Já era. Agora o que de pior poderá Ele me fazer ainda. Acho melhor dizer que eu estava errado”.

Responda amados irmãos, se alguém matasse seus dez filhos, você não teria o direito de amaldiçoá-lo? E pensar Deus que podia compensar Jó dando a ele outros dez filhos é desonesto, imoral, indigno, indecoroso.

Alguns acham que o sofrimento no mundo é provocado por forças que se opõem a Deus, forças que oprimem seu povo quando tenta obedecer a Ele. Essa visão pelo menos leva a sério o fato de que o mal existe e é disseminado. Mas no fim ela é baseada em visões mitológicas deste mundo (um universo de três andares, demônios). Também fica baseada em uma fé cega, levando a acreditar que no final tudo o que está errado será consertado.

Certos autores sustentam que o mal é um mistério. Eu encontro eco nessa visão, mas não tenho grande apreço por ela uma vez que não podemos pedir uma resposta para o mistério do sofrimento (Jó), pois Deus é o Todo Poderoso e não temos base para chamá-lo às falas pelo que fez: assassinatos de bebês, crianças, mulheres amamentando, mulheres grávidas, velhos, jovens.

Meus amados irmãos: Se Deus nos fez, se somos feitos a sua imagem e semelhança (Gn. 1.27 ), então supostamente nossa noção de certo e errado vem Dele. Se este é o caso, não há outra noção de certo e errado que não a Dele. Se Ele fez algo errado, então é culpado pelos seus próprios princípios de julgamento que Ele nos deu como seres humanos conscientes. E assassinar bebês, matar multidões de fome causando canibalismo e permitir ou causar genocídio é errado.
Observem as duras palavras de Rubem Alves “A teologia cristã ortodoxa, católica e protestante – excetuada a dos místicos e hereges – é uma descrição dos complicados mecanismos inventados por Deus para salvar alguns do inferno, o mais extraordinário desses mecanismos sendo o ato de um Pai implacável que, incapaz de simplesmente perdoar gratuitamente (como todo pai humano que ama sabe fazer), mata o seu próprio Filho na cruz para satisfazer o equilíbrio de sua contabilidade cósmica. É claro que quem imaginou isso nunca foi pai. Na ordem do amor são sempre os pais que morrem para que o filho viva”.

Irmãos, não é por causa de Rubem Alves, Karl Barth, Paul Tillich, Karl Rahner, Rudolf Bultmann, Platão, Hegel, Espinoza, Kierkegaard ,Immanuel Kant, David Hume, Bart D. Ehrman, Elaine Pagels, não é por nenhum desses homens, é simplesmente por mim. Não posso mais acreditar em tudo o que está escrito na Bíblia.

Tempos atrás, não conseguiria me ver como um adepto Parcial do Deísmo que se caracteriza pela crença na existência de Deus, porém acreditando que Deus não intervém nos eventos desse mundo.

Acredito que posso afirmar que Deus existe, porém Ele não é mais ou o mesmo Deus que acreditava. Um Deus de batalhas, muitas vezes cruéis e sem finalidades no Antigo Testamento, mas um Deus de vitórias, provimentos e livramentos, Um Deus pessoal que tinha o poder final sobre este mundo e interferia nos assuntos humanos de modo a impor sua vontade sobre o seu povo.

Velhas dúvidas que remetem a velhos tempos, e velhas perguntas feitas como fez Epicuro e que ainda e nunca serão respondidas:

Deus quer impedir o mal, mas não consegue? Então ele é impotente.
Ele é capaz, mas não quer? Então ele é malévolo.
Ele é capaz e quer? Donde, então, provêm o mal?

E colocar a culpa no livre-arbítrio dado por Deus ao Homem, além de não ter base bíblica, também, não responde em nada as questões do mal. Por que juntamente do livre-arbítrio Deus não concedeu sabedoria ao Homem para fazer uso?

Então, se Deus pode curar o câncer, porque milhões de pessoas morrem dessa doença? Se Deus alimenta os famintos, por que há pessoas com fome? Se Deus cuida dos seus filhos, por que milhares de crianças morrem de epidemias? Se Deus cuida de seus filhos, por que há milhares de pessoas destruídas? Se Deus cuida dos seus filhos, por que milhares de pessoas morrem por catástrofes naturais todo ano? Se Deus cuida dos seus filhos, por que muitos cristãos são alvo de balas perdidas, estupros, roubos, assassinatos, acidentes e muitas vezes a caminho ou voltando de um culto oferecido a Ele?

Se a resposta é que isso é um mistério é o mesmo que dizer que não sabemos o que Deus faz ou como ele age. Então, por que fingir que sabemos?

Não posso mais acreditar num Deus que se envolve ativamente com os problemas deste mundo. E o que eu poderia fazer, a não ser continuar fingindo, quando fui confrontado com os fatos que contradizem a minha antiga fé?

E se fosse solicitado para resumir a Bíblia, diria: Antigo Testamento um amontoado de guerras e atrocidades sem razão e por nada. Novo Testamento a presença Maravilhosa de Jesus, O Cristo, mas que em nada modificou a malignidade do coração do homem nem melhorou a vida dos seus filhos, dos pobres e dos oprimidos.

Devo admitir que hoje, compreendo, ou melhor, sempre compreendi a confusão na mente de Marcião, pois conciliar as ações do Deus do Antigo Testamento e as ações de Jesus no Novo Testamento é impossível, mas isso é outro assunto polêmico.

Devo admitir que no final das contas, ainda tenho uma visão bíblica sobre o sofrimento. É a visão apresentada nos livros de Eclesiastes e Jó: “Existem muitas coisas que não podemos saber sobre este mundo. Muitas situações desse mundo não fazem sentido. E na maioria das vezes não existe justiça”. E a síntese de tudo isso!

Queridos do meu coração fiquem com A Paz, A Consolação, A Humildade, A Mansidão, O Amor de Pai, O Amor de Irmão, do Nosso Mestre, Senhor e Salvador Jesus Cristo, O Justo.



O Senhor de Todas as Vontades: Agradecendo ou Disfarçando nossa Decepção com Deus?

Estava com o assunto já selecionado abordaria Romanos 9.11:23 que trata da Soberania de Deus em preparar os vasos de honra e de desonra e em se compadecer e endurecer o coração de quem Ele quer. Contudo, decidi abordar um tema que há muito tempo vem chamando minha atenção e de contínuo me incomoda “As Ações Do Senhor De Todas As Vontades (Agradecendo Ou Disfarçando Nossa Decepção Com Deus?)”.

Todos os dias, alguns, se antecipando ao romper do sol, acordam em suas camas espaçosas, caminham até o banheiro e despertam com uma maravilhosa ducha de água fria, ou morna, seguem, após isso, para uma mesa já posta onde encontram o que lhes servirá de sustento para o período matinal, depois se acomodam em seus veículos e tranquilamente se dirigem para as salas de aula ou escritórios. E este círculo se completa com a tarde e noite.

Temos o pão, a água, a cama, o emprego, o veículo, a saúde, nossos pais, os filhos que nos rodeiam, e por tudo isto agradecemos a Deus pela sua misericórdia. Mas, é quase impossível que, em algum momento recebamos essas benesses concedidas por Deus como um ato de Sua injustiça. É óbvio que não! Afinal de contas, achamo-nos Bem-Aventurados e que a Graça de Deus (favor imerecido) está sobre nossas vidas. Aleluia!

Mas, segundo uma organização conhecida como Global Walter há no mundo mais de 1bilhão de homens, mulheres e crianças (algo como um em cada cinco seres humanos vivos) que não têm água potável para beber. A situação que essas pessoas enfrentam é terrível. Para começar, muitas delas são subnutridas, e a água contaminada que bebem é infestada de parasitas que continuam a se multiplicar nos seus corpos enfraquecidos, tirando delas os nutrientes e a energia de que necessitam para manter a saúde. O Global Walter diz que 80% das doenças infantis fatais em todo o mundo são causadas não por falta de alimentos e remédios, mas pelo consumo de água contaminada. Algo como 40 mil homens, mulheres e crianças morrem todos os dias de doenças diretamente relacionadas à falta de água potável. Outro dado assustador é sobre a malária, uma doença horrível com efeitos devastadores e disseminados, e que teoricamente pode ser prevenida. Segundo os médicos, o grau de infelicidade que ela produz é de tirar o fôlego. O Instituto Nacional de Alergia e doenças Infecciosas dos Estados Unidos estima que entre 400 e 900 milhões de crianças, quase que todas da África, contraem um caso agudo de malária todos os anos. Em média 2,7 milhões de pessoas morrem da doença todos os anos. São mais de 7 mil por dia, trezentas pessoas por hora, cinco a cada minuto. Algo que a maioria de nós nunca deu um segundo de atenção. Quase todos os mortos são crianças. Faltam ainda os registros diários dos óbitos por escassez de alimentos, saneamento básico, falta de vacinas, remédios, infecções, guerras, suicídios, homicídios, rituais de magia, e muitas outras mais.

Os teólogos judeus sempre procuraram entender o motivo de haver sofrimento no mundo. A teologia judaica se baseou primeiramente no Êxodo do Egito sob a liderança de Moisés, conforme relatado na Bíblia. Ela demonstrava em termos gerais que Deus havia escolhido Israel para ser seu povo e que interviria em seu favor quando Israel estivesse em dificuldades. E de fato foi o que aconteceu.

Porém, o que deveriam pensar os teólogos, quando em tempos posteriores o povo de Israel sofreu, sem a interferência de Deus? Muito da Bíblia hebraica tem a ver com essa questão.

A resposta padrão vem de escritos dos profetas hebreus, como Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oséias e Amós. Para esses escritores, Israel sofre reveses militares, políticos, econômicos e sociais porque o povo pecou contra Deus e está sendo punido por isso. Quando, porém, eles retornassem aos caminhos de Deus teriam novamente uma vida próspera e feliz.

Mas o que acontece quando as pessoas realmente se voltam a Deus, tentando verdadeiramente seguir seu caminho e, mesmo assim, ainda sofrem? A grande dificuldade da clássica visão profética do sofrimento é que ela não explica por que os perversos prosperam e os justos sofrem. Essa falha resultou em algumas teologias variantes em Israel na Antiguidade, incluindo as dos livros de Jó e Eclesiastes (ambos direcionados contra essa visão profética) e a de um grupo de pensadores judeus que os estudiosos modernos chamam de “apocalípticos”. O termo vem da palavra latina apocalypsis, que significa “desvendamento” ou “revelação”, e é usado para definir essas pessoas, porque elas acreditavam que Deus lhes havia “revelado” os derradeiros segredos do mundo, o que explicava por que o mundo contém tanto mal e sofrimento.

Então, deveria haver alguma outra razão para o sofrimento, e assim, algum outro agente responsável por ele. Apocalípticos judeus desenvolveram, então, a idéia de que Deus tinha um adversário pessoal, o Diabo e, este de fato, era o responsável pelo sofrimento. Além disso, havia forças cósmicas no mundo, forças malignas com o Diabo à frente, que estavam afligindo o povo de Deus. De acordo com essa perspectiva, Deus ainda era o Criador deste mundo e seria seu Redentor final. Mas, no momento, as forças do mal haviam sido libertadas (por quem?) e estavam lançando a devastação sobre o povo de Deus.

Os apocalípticos judaicos, porém, sustentavam que Deus logo interviria e derrotaria essas forças do mal em uma demonstração cataclísmica de poder, destruindo todos os que se lhe opusessem, incluindo os reinos que estavam causando o sofrimento de seu povo. Mas, quando seria esse “logo”? “Em verdade vos digo que, dos que aqui estão alguns há que não provarão a morte sem que vejam chegando o Reino de Deus com poder”. Essas são palavras de Jesus (Mc 9.11), provavelmente o apocalíptico judeu mais famoso da Antiguidade. Ou, como ele diz mais tarde: “Em verdade vos digo, não passará esta geração sem que todas essas coisas aconteçam” (Mc 13.30).

Jesus e seus primeiros seguidores eram judeus apocalípticos, esperavam a iminente intervenção de Deus para derrotar as forças do mal. Jesus parecia pensar que Deus logo enviaria do céu o Filho do Homem como um juiz contra todos aqueles que se aliam contra Ele. No entanto, após a morte de Jesus, seus seguidores começaram a pensar que era o próprio Jesus que logo retornaria do céu sobre as nuvens como um juiz cósmico da terra. O apóstolo Paulo acreditava que ainda em vida veria Jesus retornar para o julgamento (1 Ts 4.14-18; 1 Cor 15.51-52). Mas os dias de espera se transformaram em semanas, depois em meses, em anos, e então em décadas. E o fim não chegou. E agora! O que aconteceria a uma crença que é radicalmente desmentida pelos acontecimentos da história?

Como o fim não veio do modo esperado, alguns dos seguidores de Jesus transformaram este dualismo temporal em um dualismo espacial, entre o mundo abaixo e o mundo acima. Os cristãos começaram a pensar que o julgamento era algo que não se daria aqui, neste plano terreno, em algum futuro evento cataclísmico. Aconteceria na vida após a morte, depois que cada um morre. O dia do juízo não seria algo que aconteceria daqui a pouco. É algo que acontece o tempo todo. Na morte, aqueles que se aliaram ao Diabo irão receber sua recompensa eterna sendo enviados para viver para sempre com o Diabo, nas chamas do inferno. Aqueles que se aliaram a Deus terão sua recompensa eterna com a garantia de vida eterna com Deus, para sempre desfrutando das bem-aventuranças do céu.
Nessa visão transformada, o Reino de Deus já não é imaginado como um Reino futuro aqui na terra; é, agora, o Reino que Deus já comanda, no céu.

Sei que este é um pensamento reconfortante para muitas pessoas, uma espécie de reafirmação de que Deus realmente está no controle e sabe o que está fazendo. Contudo, não me convence!

Além do que tenho uma convicção de que, o sofrimento de crianças inocentes não pode ser explicado. Para mim, se torna difícil, porém, não impossível, que possa haver uma solução divina que torne todo o sofrimento destes infantes “merecido”, uma resposta que justificará a crueldade feita às crianças. Acredito que, se todos devem sofrer de modo a comprar a Vida Eterna com seu sofrimento, o que as crianças têm a ver com isso? E repito: Que mesmo uma resposta de Deus seria difícil fazer compreender por que as crianças sofrem?

Há alguns anos atrás li um livro chamado Quando coisas ruins acontecem a pessoas boas, escrito pelo rabino Harold Kushner. Para Kushner, não é Deus que causa nossas tragédias pessoais. Nem mesmo ele as “permite”. Simplesmente há algumas coisas que Deus não pode fazer. Ele não pode interferir para impedir que soframos. Mas o que ele pode fazer é igualmente importante. Ele pode nos dar força para lidar com o nosso sofrimento quando passamos por ele. Deus é um pai amoroso que está aqui por causa de seu povo; não para garantir miraculosamente que nunca terá dificuldades, mas para dar a ele a paz e a força necessárias para enfrentar a adversidade.

Mas, a afirmação do rabino Kushner revela um sério problema. Para a maioria dos autores da Bíblia, o poder de Deus é ilimitado. Além do que, acreditar que um Deus Todo-Poderoso se comporta ao lado dos que sofrem como um mero espectador impotente é totalmente cruel.

Alguns dos autores bíblicos acreditavam que o sofrimento tinha um fim redentor, e é verdade que com freqüência pode haver benefícios nas dificuldades que encontramos. Mas eu simplesmente não vejo nada de redentor quando bebês etíopes, indianos, ou africanos morrem de subnutrição, quando milhares de pessoas morrem hoje (e ontem, e no dia anterior) de malária, ou quando toda uma família é brutalizada por marginais drogados que invadem sua casa no meio da noite, ou quando um tiro põe fim à vida de pessoas honestas.

Devo admitir considerar uma única visão bíblica do sofrimento, é a visão apresentada nos livros de Jó e Eclesiastes “Existem muitas coisas que não podemos saber sobre este mundo. Existem muitas coisas que não acontecem como o planejado ou como deveriam. Existem muitas coisas que atribuímos a Deus, todavia, não passam de simples casualidade”.

Pense! Pense com sinceridade todas as noites a respeito de tudo o que você têm, e veja se é “Justo” diante dos que nada possuem, e depois, responda se estamos Agradecendo ou disfarçando nossa decepção com Deus? O Senhor de todas as vontades.