“Por que não morri ao nascer?
Por que não expirei ao sair do ventre?”
OS
PROFETAS
DE
JÓ
PROFETAS
DE
JÓ
Por que dar nome a um texto de “Os profetas de Jó”, quando em parte alguma do livro ele é chamado de profeta? Quais revelações apocalípticas ou proféticas saíram da boca de Jó? O que poderia caracterizar Jó como um profeta?
De fato, em momento algum ele é apresentado como profeta ou se considera como tal, assim como, jamais anunciou um fim catastrófico ou vaticínio vindouro. Tinha apenas a certeza de que era homem justo e que estava sendo punido covardemente. Todavia, Jó poderia ser considerado “Voz profética” contra a injustiça, a miséria, a angústia; “Voz profética” em favor do pobre, do humilhado, do necessitado, do errante e do enfermo; “Voz profética” ao confrontar o insondável, o misterioso, e o ambíguo caráter de Deus. A verdade é que Jó, após o seu martírio, foi o primeiro justo a comprovar que todos os homens estão sujeitos aos caprichos de YHWH.
Uma sincera leitura da Bíblia sobre a criação do Homem, o pecado de Adão, o dilúvio universal, os descendentes de Noé, a maldição dos filhos de Cão e a primeira guerra entre irmãos, o chamado de Abrão, o nascimento de Ismael e Isaque e a segunda guerra entre irmãos, o Êxodo do Egito e a expulsão das nações de suas terras, as leis morais e capitais do Pentateuco, e a evolução da religião de Israel, podem ajudar muito na compreensão do duvidoso caráter do Deus de Israel “olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe”.
Para que haja luz sobre este esboço, adianto que tudo é um terrível equívoco, a começar pela frustrada criação do Homem e a enigmática entrada do Mal no mundo. Só existe uma maneira de compreender a irracionalidade deste mundo nefasto, é compreendendo de que tudo não passa de um grande equívoco. Um ato de criação de um Ser ou vários que num determinado ou prévio momento decidiu criar e promover o caos. Um palco armado com personagens estabelecidos como numa tragicomédia Dantesca. Deus o criador, o Homem a criatura, e o Diabo o destruidor, elementos fundamentais para um cenário de injustiça, medo, catástrofe, morte, miséria. Deus cria o mundo, forma o Homem, e paralelamente surge um ser supostamente criado, de nome incerto: serpente, dragão, diabo, acusador, Satanás, trabalhando em oposição a tudo o que é perfeito. E com esses personagens ativos, o palco para a tragédia humana está formado.
Num primeiro ato Deus cria o Mundo e o Homem e vê que tudo é perfeito, num segundo ato se arrepende e amaldiçoa o mundo e o Homem, e num terceiro ato torna anátema a enigmática serpente. E assim, é dado o pontapé inicial de um quebra-cabeça imperfeito.
O que se desenvolve neste longa-metragem de terror de péssima qualidade é o desejo de um Deus ciumento, vingativo, obsessivo, que a todo custo tenta conseguir adoração e exclusividade da sua criatura. Como não obtém sucesso, então, ataca com violência, atrocidade, e extermínio. Porém, nem enviando peste, fome, seca, praga, guerra, exílio, canibalismo, anjo destruidor, YHWH consegue seu intento.
Quando o mais verdadeiro seria reconhecer o erro da criação do Homem ou admitir prazer e sadismo na destruição. Mas devemos avançar e falar sobre o personagem Jó figura central desta mensagem polêmica. Ele clama contra o que acontece de mais perverso, injusto e, vergonhoso ao Homem. Jó representa o choro de uma mãe que perdeu seu amado filho para o motorista imprudente, para a doença fatal, para os assassinos à espreita, para a bala perdida, para o bêbado ao volante, para o traficante violento, para o médico irresponsável, para os governantes malignos. Jó representa o clamor das crianças aidéticas, desnutridas, apodrecidas, malcheirosas, amaldiçoadas sem causa, da África. Jó representa o pranto sem fim das famílias enlutadas pelas guerras do poder. Jó representa todo o homem íntegro e reto que se desvia do mal, mas que inexplicavelmente torna-se seu alvo das desgraças da vida.
O pobre Jó não entendia seu sofrimento, assim, como milhões e milhões que no momento em que escrevo estão sendo tragadas pela tragédia. Então vem a pergunta: A quem clamar por justiça? Somos doutrinados a reconhecer YHWH como Deus Poderoso, Aquele que livra o aflito, o necessitado, O que faz o morto ressuscitar, que ampara o órfão e a viúva, que alimenta o faminto, que sacia o sedento, O que não toma o culpado por inocente e nem o inocente por culpado, O que abate o soberbo e exalta o humilde, Aquele que julga com retidão. Enfim, poderia ficar horas citando todas as supostas virtudes e bondades de Jeová. Por que então o Mal prevalece? Por que temos de nos contentar com as injustiças e retardar o tempo da justiça para uma época futura e incerta? Por que se conformar com a destruição dos justos e o triunfo dos ímpios? Por que ignorar as promessas de Deus de vida em abundância? Por que se ocultar numa religião para não enxergar as aberrações da vida? Por que eximir Deus da culpa pelo caos da sua criação e culpar o Homem por toda a dor?
Jó homem íntegro e reto que se desviava do Mal e temente a Deus sentiu na própria carne o absurdo de Deus. Clamou por um árbitro, um juiz que fosse colocado para que seu litígio fosse apreciado. Jó tinha convicção, por isso clamou: “Ainda que Ele me mate, eu não negarei a minha justiça”. Ah meus irmãos! Como é fácil dizer que adoramos a Deus, que vivemos para servi-lo, que o amamos de todo o coração, quando tudo vai bem. Ah meus irmãos! Como é fácil ficar quieto sem querer chamar a atenção de Deus quando o problema não é nosso. Ah meus irmãos! Como somos massa de manobra nas mãos de um livro que tem a pretensão de revelar um Deus Soberano que mata, ataca, destrói, extermina, e impede a piedade em favor de crianças e mulheres amamentando.
Alguns dias atrás me perguntaram: Crês em Deus e na Bíblia? E disse: Sim, creio em Deus, porém não creio que a Bíblia possa revelar Deus. Como muito bem disse São Jerônimo em um dos poucos momentos de sobriedade “A verdade não pode existir em coisas que divergem”. Como disse também Norman Champlin “Em algumas passagens da Bíblia, o melhor que se faz é ignorá-las para que não seja envergonhado o nome de Deus”. Como disse o papa Paulo V no séc. XV “Não sabeis como a leitura das Escrituras estraga a religião Católica”. Meus irmãos, este também tem sido o discurso dos protestantes radicais que condenam a Crítica Textual, a Arqueologia, a Ciência, a História do Cristianismo Primitivo, a História das Religiões. Tudo isso por que basta apenas um olhar racional para que toda farsa da Bíblia desapareça.
Mas eu, creio num Deus que um dia irá revelar toda a Verdade; creio num Deus que irá punir aqueles que fraudaram os seus atos e palavras, quer seja apóstolo, discípulo, santo ou pecador; creio num Deus que condenará todos os covardes que duvidando da mentira, ainda assim, resolveram se unir a ela; creio num Deus que isentará de culpa todos os que ousaram questionar levando-o em juízo pelos seus supostos atos e omissões, creio num Deus que tomará como culpado todo aquele que incitou os homens a falarem o que não era reto sobre Ele.
AMÉM!
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