Adivinhação, feitiçaria, magia e possessão no AT:
O propósito aqui é analisar algumas práticas e perguntas pela relação com o grupo social, a saber, as mulheres que estão por detrás destas ações.
Adivinhação, feitiçaria e augúrio
suspeitas a partir da teologia feminista
Ao discutir as práticas de magia, feitiçaria e adivinhação nos textos bíblicos, estamos perguntando pelos mecanismos e processos de intermediação entre a divindade e o povo. Esta intermediação é legítima ou não de acordo com o contexto e a época, com o grupo ou o lugar social onde esta é praticada. Por exemplo: adivinhação é proibida em Dt 18, mas jogar as sortes através das pedras de adivinhação – Urim e Tumim – não recebe repreensão.
O propósito aqui é analisar algumas práticas e perguntas pela relação com o grupo social, a saber, as mulheres que estão por detrás destas ações.
Adivinhação, feitiçaria e augúrio
Uma tendência corrente nos estudos de magia, adivinhação e feitiçaria no mundo do antigo Oriente Próximo, especialmente a partir dos testemunhos dos textos bíblicos, é definir estas práticas como simbólicas, entendendo este simbolismo, como meramente ilustrativo ou alegórico, ou seja, que não tem cunho político ou religioso. Em relação aos textos bíblicos, ocorre muitas vezes uma harmonização de conflitos, ou uma postura de relegar estas práticas a uma fase anterior da “evolução” da religião a um monoteísmo explícito. Toma-se a religião, em sua manifestação monoteísta, como mais evoluída, mais avançada, pura em sua estruturação e definição, enquanto que as práticas mágicas representam pensamentos primitivos, atrasados, ligados a pessoas ou grupos marginais. Outra postura defendida por alguns estudiosos é vincular as práticas mágicas unicamente à iniciativa humana, diferenciando-as dos atos que vêm da vontade de Javé1.
A proposta adotada aqui será de perguntar pelas práticas mágicas em relação com outras práticas sociais. O objetivo é não tomar cada prática de forma isolada, ou tomar a magia e adivinhação como fenômenos isolados, mas inseri-las na rede de relações sociais, culturais, econômicas, políticas e religiosas. Ou seja, o levantamento dos conceitos não quer identificar as características de cada prática, com o intuito de encontrar uma definição, mas é ver como os usos destes conceitos estão relacionados ao contexto, aos pré-conceitos culturais, às pressuposições dos autores, dos estudiosos e dos tradutores, entre outros fatores. É nesta configuração que é possível localizar e entender por que algumas práticas são condenadas em alguns textos, e acontecem, de forma legitimada, em outras situações, ou outras épocas.
A condenação
A condenação
O texto condenatório em Dt 18.9-14 está inserido num contexto que quer promover o contraste entre o povo escolhido de Deus e o povo cananeu. Observa-se a afinidade lingüística com o texto igualmente denunciador de práticas advindas “dos gentios”, em 2Rs 16.32. Este texto enumera a adivinhação junto com uma série de outras “práticas abomináveis”: sacrifício de crianças, encantamentos, necromancia, consulta aos mortos. Contudo, ficam fora outras práticas como Urim e Tummim, sonhos ou lançar as sortes, que em outros textos, fora do ambiente legal, parecem ser práticas comuns e admitidas em certos círculos.
Chama a atenção que o texto que segue – Dt 18.15-22 – é onde se institucionaliza e legitima Moisés como o único intermediário entre o divino e o humano. Num contexto muito próximo, em Dt 17.8-13, adverte-se que as decisões difíceis devem ser consultadas com sacerdotes e levitas em Jerusalém. O verbo usado para falar desta consulta (darash) aos representantes legitimados pela instituição sacerdotal é o mesmo que irá falar da “consulta” aos adivinhadores. Estas interpelações levantam a hipótese que a condenação ocorre por uma questão de poder. O ideal de um javismo puro, centralizado e a partir das instâncias oficiais, defendido pelo deuteronomista, apresenta-se como um contraponto às práticas populares3.
Uma abordagem semântico-morfológica dos termos que são usados para designar as atividades de adivinhação, feitiçaria, augúrios na lista proibitiva de Dt 18.9-14 auxilia na compreensão e localização social destas práticas. Ali são listados profissionais, cujas práticas não devem mais ser seguidas pelo povo: quem faz passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, o adivinhador, o prognosticador, o agoureiro, o feiticeiro, o necromante, o mágico, o encantador ou quem consulta os mortos. Um cuidado é necessário: ter em conta as diferenças de estilo, forma e gênero dos textos legais e dos textos proféticos. Estas diferenças podem influenciar na escolha por determinadas terminologias, ou uso de determinados conceitos. Os pronunciamentos proféticos, em sua maioria, foram feitos, em primeira instância, em nível oral. Estes, posteriormente foram organizados e estruturados em escritos. Este processo todo influência e determina a opção de terminologias e conceitos, ainda mais, se estes conceitos estão ligados com práticas em que a escrita não é determinante, como no caso da magia, da adivinhação e da feitiçaria/bruxaria4.
~sq este verbo já foi analisado anteriormente, constatando um significado de adivinhar, conjurar. O rei da Babilônia, conforme Ez 21. 21, se pára nas encruzilhadas, na entrada de dois caminhos para consultar oráculos e adivinhar por meio de flechas, além de interrogar os ídolos do lar (terafins) e examinar o fígado. A história de Balaão, em Nm 22-24, que é um adivinho, conforme Js 13.22, estabelece a função de adivinho dentro das práticas que são utilizadas pelo povo israelita. Ele tem poder de amaldiçoar (22.6) e abençoar (23 e 24). E cobra pelas suas adivinhações (22.7).
Vek;m. que significa feiticeira, deriva da raiz acádica kašāpu ou do substantivo kišpu, quer por sua vez significa, “magia negra”5. O termo mekaššep significa “bruxa, feiticeira”6.
rb,x' rbex significa aquele que amarra encantamentos, encantador. A mesma palavra serve para designar companheiro, amigo, cúmplice, sócio. A raiz verbal significa unir, enlaçar, ligar, aliar7. Mas pode estar se referindo a práticas mágicas de amarrar e desamarrar nós, de enrolar ou desenrolar fios ou faixas em volta de pessoas ou objetos, em práticas simbólicas, mágicas8.
bAa laev significa quem consulta os mortos. O termo bAa significa fantasma, espectro, alma penada, espírito, necromante, ocultista. Pode referir-se a espírito invocado, ou à pessoa que invoca ou consulta os espíritos9. O termo bAa pode se referir a um buraco, uma cavidade no chão, como o texto de Is 29. 4 parece indicar10. No entanto, há várias opiniões acerca do termo. Poderia ser o espírito de um morto que descansa com ele no Sheol, ou no túmulo, que homens ou mulheres podem invocar. Há ainda a possibilidade de ser somente o instrumento utilizado para esconjurar (exorcizar) os defuntos, ou para praticar magia. O mais provável, entretanto, é que o termo sofre um encontro de significados, podendo significar tanto um espírito, como um objeto através do qual o espírito pode ser lembrado, ou ainda, a pessoa capaz de receber, intermediar e interpretar a fala do espírito. Os textos bíblicos que proíbem tais práticas refletem essas interpretações simultâneas: Dt 18.11; Lv 20.27; 2Rs 21.6; 23.24; 2Cr 33.6.
Uma mulher que é dona de um espírito – 1 Sm 28 – a bruxa de Endor
A necromancia é a prática de consulta aos mortos. Em 1 Sm 28 temos um texto paradigmático sobre a consulta aos espíritos dos mortos, que pode ajudar no entendimento da questão, embora o texto seja único em toda a Bíblia Hebraica11. O contexto é de guerra. Os filisteus são uma ameaça concreta para Saul e seu exército. O rei está amedrontado e sem rumo. Já consultou ao Senhor por sonhos, por Urim, e pelos profetas, e o silêncio foi a sua resposta. Parece que sua última alternativa é consultar uma necromante, indo contra suas próprias leis proibitivas, como informa o v.3. A “senhora dos espíritos”, ou “dona dos espíritos” (ba´alat 'ôb). Esta tem uma proximidade semântica com um título que recebe Samaš, a divindade solar, significando “O senhor dos espíritos dos mortos”12. Não há nenhum sinal indicando que ela seja estrangeira, mas sim, israelita.
A mulher tem poder para invocar qualquer espírito, conforme sua pergunta no v. 11: “Quem te farei subir?” ou “Quem queres que eu evoque?” O ritual, com sua performance, não é descrito. No v. 13, ela diz: “Vejo um Deus(es) (elohim) que sobe(m) da terra.”
A inquirição à divindade via sonhos, pessoas, oráculos ou mortos fazia parte da experiência familiar. Grande parte destas atividades registra o envolvimento ou a participação de mulheres, talvez por ser a esfera doméstica o espaço onde elas se moviam13.
A redação deuteronomista deixa suas marcas no texto e na configuração do contexto. As práticas sincréticas levam o rei à ruína. É por causa disso que Saul é desabonado por Deus. O texto, fruto de um trabalho redacional da oficialidade centralizadora, quer deixar claro que a pluralidade religiosa precisa ser controlada, para garantir os interesses e a autodeterminação de Israel. Essa proposta trilha num fino limite onde a palavra profética tem o seu critério de verificação definido a partir da fala/anúncio/denúncia. A palavra, o oráculo do Senhor é o meio legítimo da profecia. Gestos, encantamentos, cheiros, fumaças, jarras, cuidado com os mortos são desabonados.
O poder da mulher, dona de espírito, a médium, faz com que se estabeleça um contato entre um espírito e um inquiridor vivo. E a mensagem que recebe é a verdadeira palavra de Deus. Segundo o texto, sua ação não acaba na intermediação entre a divindade (ou o espírito) e a pessoa angustiada que faz a consulta. Ela estabelece um acompanhamento “pós-consulta”. Como a notícia recebida afeta profundamente o cliente, a mulher trata de restabelecer a saúde, física e emocional da pessoa. Prepara uma farta comida para o rei e seus servos. Seria uma espécie de ritual final do processo de evocação dos espíritos, ou seria nada mais do que atenção a quem está necessitado e angustiado, diante de tão desventurosas notícias?
Outro texto que pode estar se referindo a práticas de necromancia encontra-se em Is 29.4, no qual se diz que a voz sairá do chão, da terra, como a de um fantasma. A idéia de que os espíritos vêm do chão, já é encontrada na terminologia, quando ´ôb pode referir-se também a um buraco no chão. Is 28.7-22 é um texto dirigido contra as profecias ilícitas, onde podem ser encontradas referências a atividades ligadas à necromancia. Especialmente os versículos 15 e 18, nos quais a denúncia se dirige aos que fizeram alianças com a morte. Ainda, em Is 8.19, condena-se explicitamente aqueles que buscam conselhos com necromantes, adivinhos e Is 19.3 imputa aos egípcios a prática de necromancia, feitiçaria e adivinhação14.
Outra observação é a idéia de que cada termo corresponde a uma função específica que uma pessoa irá assumir, ou seja, que está determinando uma função para uma só pessoa. A configuração social do antigo Israel está baseada no modelo familiar, que segue a linhagem de clãs e tribos. Este modelo social implica numa pequena diferenciação entre as pessoas nos diferentes níveis e espaços da estrutura social. Neste sentido, a lógica é que uma pessoa ocupe mais que uma função social. Uma listagem bem variada de funções ligadas ao espaço religioso aparece em vários textos bíblicos, como, visionários, profetas, sacerdotes, homem de Deus, serviçais do templo, levitas, escribas, pessoas consagradas, nazireus, entre outros. Se a diferenciação social segue um modelo rural, familiar, tribal, várias destas funções são assumidas pela mesma pessoa. Assim, um profeta pode ser um visionário, um homem de Deus, e, isso pode implicar em assumir funções de adivinhação, cura, proferir oráculos. Exemplos desta configuração são Jeremias e Ezequiel: assumem funções sacerdotais e proféticas, que, por sua vez, são exercidas de diferentes maneiras ou jeitos, por meio de visões, oráculos, gestos simbólicos, sinais, posturas corporais etc.15.
Esta mescla de funções pode ser comprovada no ambiente da feitiçaria ou bruxaria na Mesopotâmia. Além de ocorrer um intercâmbio de funções, também ocorre um trânsito de espaços.
...a própria feitiçaria pertenceu originalmente ao nível popular de cultura da Mesopotâmia e só eventualmente se tornou parte do domínio do exorcista de templo. Na forma popular, a ‘bruxa’ não é necessariamente um ser mau e que faz atos ilegais, mas na realidade, pode executar vários atos mágicos (ambos feitos de formas normativas e não-normativas de feitiçaria) em nome de outros e até mesmo contra as bruxas ‘más’. Nesta forma popular, a ‘bruxa’ parece exibir associações com tipos de extáticos praticantes. Tais associações podem bem ser significantes, porque elas recordam a junção ocasional de possessão periférica e feitiçaria. Assim, em certas circunstâncias sociais, o mesmo indivíduo pode utilizar possessão de espírito e pode ser empregado como um exorcista, mas então, também ser classificado como uma bruxa.16
A grande diversidade de possibilidades de traduções, com um leque amplo de significados, aponta para um cuidado metodológico que deve ser tomado na análise das práticas aqui estudadas. Muitas vezes o significados deriva do contexto ou de aproximações convencionais, do que propriamente de definições exatas e descritivas das práticas17.
Nesta diversidade de atividades, está uma ampla gama de artes mânticas, como, por exemplo, a interpretação do “curso e da posição dos corpos celestes, eclipses do sol e da lua, o sopro do vento, o vôo dos pássaros, a expressão de animais, bem como dos humanos, sonhos, nascimentos anômalos ou o comportamento dos animais de sacrifício”18.
Magia, bruxaria, feitiçaria e adivinhação são práticas atestadas na antiga Mesopotâmia. O cuidado metodológico consiste numa abordagem que não tome estas como categorias opostas, em conflitos, e que outras categorias sejam analisadas em oposição a partir destas, como politeísmo e monoteísmo, bem e mal, fé e superstição, sacerdócio e pessoas leigas, medicina e charlatania19. Neste sentido, em relação à magia, pode-se afirmar que, tampouco, é possível fazer uma distinção entre magia “branca” e “negra”. As técnicas usadas pelas bruxas eram as mesmas usadas para invocar poderes de cura ou de destruição. A diferença consistia na maneira secreta de atuar, em questões de uso de poderes malignos, enquanto que a defesa, o uso dos poderes para o bem e a cura, era feita abertamente20.
No antigo Egito, as fórmulas mágicas são usualmente manifestadas por meio de simbologias, como os ditos, acompanhadas de performances rituais que envolvem certos objetos e ingredientes, que servem como amuletos. A magia, no Egito, tinha preferencialmente um caráter de proteção, ou de profilaxia, advinda dos Deuses21.
O campo de operação, que contém maior quantidade de descrição de rituais mágicos no antigo Egito, pertence à esfera dos ritos funerários. São registradas informações sobre ditos e rituais mágicos nos Textos das Pirâmides do Antigo Império, nos Textos dos Sarcófagos do Médio Império e no Livro dos Mortos, do Novo Império22.
Um propósito dos feitiços era transformar o defunto em outro ser, um espírito (’h), que pertencia ao mundo divino, onde todas as forças da natureza se juntavam. Esta transformação, que acontecia num mundo onde as condições de existência eram completamente diferentes, e até mesmo a comida que o defunto precisava era simbólica, era alcançada por meio de uma vasta gama de feitiços e rituais. Muitos destes eram executados durante cerimônias de enterro, nos quais um vasto número de modos de ser e relações hipotéticas eram evocados.23
Como atestado na antiga Mesopotâmia, de forma análoga no antigo Egito, os campos de atuação dos profissionais envolvidos nas práticas mágicas se misturam. O mágico, o protetor e o sacerdote de Sekhmet poderiam estar associados ao doutor ou aquele que cura. Da mesma forma, menções aos profissionais são encontradas nos espaços públicos, como em espaços domésticos. Mulheres sábias são nomeadas em meio a estes profissionais. Textos bíblicos testemunham a presença de mágicos e adivinhos em serviços ao faraó: Gn 41.8 traz os magos e os sábios convocados para interpretar os sonhos do faraó, que também são mencionados em Ex 7.11 e 22. Os hartummîm, os mágicos do faraó tinham uma ligação com a casa da vida, o centro de estudos teológicos, onde a produção literária em torno da manifestação de Re era composta24.
Segundo Gabriela Frantz-Szabó, no contexto cultural-religioso hitita, podem ser detectadas duas formas de magia e feitiçaria: a assim chamada “magia negra,” que é a que causa dano e a “magia branca,” que tem caráter defensivo ou preventivo. A lei hitita punia àquelas pessoas que se envolviam com práticas mágicas maléficas. O trato da questão da feitiçaria e magia estava sob os cuidados do estado, pois as ações não envolviam somente a indivíduos, mas podiam acarretar em prejuízos sobre grupos e sobre o estado mesmo25.
Uma das profissionais mais conhecidas do mundo mágico hitita é a mulher sábia”, ou a “mulher velha”. Ela era uma espécie de sacerdotisa, não de um templo, mas de rituais mágicos e de oráculos de sorte. Ela podia atuar em equipe, com a ajuda de uma assistente hieródula, um médico, um visionário, ou um que observa os pássaros. Um ritual hitita de purificação da mulher, em período de parto conhecido como papanikri, dura 4 dias e já começa antes de dar à luz. Os pássaros malignos são observados durante este ritual. O quarto onde a mulher dá à luz é purificado, a mulher e a criança são consideradas portadoras de impurezas. A cadeira sobre a qual a mulher se acocora também passa por um ritual de purificação com o sangue de dois pássaros. Também há referência a um ritual no qual óleo é passado sobre a cabeça da parturiente, fazendo a limpeza ritual das mãos e da boca. com lã vermelha. Este ritual é presidido por uma parteira26.
A adivinhação hitita é composta por sonhos, presságios e oráculos, de sorte, ou de exames das vísceras de uma ovelha. Os fenômenos da magia e adivinhação estão espraiados na sociedade hitita. Estes faziam parte do mundo público e do mundo privado, e eram praticados pelo povo em geral, bem como pelo rei e o pessoal ligado ao palácio. Magia e feitiçaria se misturavam com as esferas religiosas e médicas, bem como dialogavam com as sociedades vizinhas, como Mesopotâmia e Ásia Menor27.
Com as informações sobre o contexto circundante mesopotâmico, egípcio e hitita é possível estabelecer parâmetros e analogias com as práticas do antigo Israel. “Adivinhação é uma prática comum no antigo Oriente Próximo e, assim, é natural encontrá-la no mundo fenício-cananeu, bem como num contexto mais amplo.” “Diferente dos mesopotâmicos, os hebreus e os cananeus da Palestina não produziram um corpus especificamente dedicado à adivinhação”28.
Os meios de adivinhação encontram analogias nas diferentes culturas, no antigo Oriente Próximo. O diferencial é que há pouco registro escrito destas práticas no antigo Israel. Os meios legítimos, exercidos pelos sacerdotes, foram a adivinhação por meio de sorte, o efod (peça do vestuário sacerdotal), e o Urim e Tummim. Os escritores sacerdotais e deuteronomistas vão fazer a redução necessária destas práticas, condenando as que não foram incorporadas, e legitimando outras que recebem o aval do corpo especializado. Não dá para estabelecer um critério único, para dizer porque determinadas práticas foram incorporadas e legitimadas, e outras relegadas ao proibitivo. Mas, a partir dos textos bíblicos, é possível estabelecer uma ligação entre práticas mágicas e adivinhação com parte do mundo e das concepções religiosas no antigo Israel. É um dos meios de acesso ao mundo sobrenatural, ao mundo do transcendente, do divino.
Como meio de acesso, o ponto que deve ser discutido em estreita relação com as proibições e condenações é a questão do controle destes meios de acesso. Ou seja, em que medida as proibições, negações e deslegitimações não respondem a questões de poder. A polêmica se encerra num contexto de definição de identidade, onde o conflito reside em determinar quem são os atores sociais legítimos, empoderados para exercer determinadas práticas. Ou, dizendo de forma mais concreta, o problema não são as práticas, mas quem as faz, onde elas acontecem e, conseqüentemente, a quem elas se dirigem.
Parece que em épocas pré-exílicas algumas práticas ou profissões poderiam ser consideradas compatíveis com o javismo daquela época. Já em épocas tardias, com a preocupação crescente pela manutenção da identidade em contexto de ameaça de misturas culturais e religiosas, que se apresentam no exílio, estas são condenadas. “Quando elas aparecem, mais tarde, em textos do dtr, ou nos textos influenciados pela ideologia do dtr, elas são retratadas como práticas ilícitas e proscritas”29.
Pode-se conjecturar que práticas do âmbito da magia e da adivinhação são elementos constitutivos da sociedade do antigo Israel. Há um movimento de relegar estas práticas ao mundo assim chamado “pagão” ou “cananeu”, enfim, aos outros, aos estrangeiros. Ao impelir estas práticas para fora do contexto cultural-religioso de Israel, preserva-se uma retórica de afirmação e construção da identidade isolada do ambiente cultural circundante. Neste sentido, ao abordar a temática da magia e da adivinhação na Bíblia Hebraica, deve-se ter em conta que a forma de apresentar o tema no próprio texto, leva a uma direção que quer estabelecer categorias de controle em assuntos de pureza e contaminação30.
As evidências textuais apontam para uma probabilidade da existência e aceitação de práticas de adivinhação em certos círculos no antigo Israel. O propósito do controle é mais percebido em textos cujas composições sofreram interferências deuteronomísticas. Os objetivos da profecia e da adivinhação são semelhantes, pois querem facilitar e agilizar a comunicação entre Javé, a divindade e seu povo. Mas para o escritor deuteronomista, a adivinhação não pode ser um meio legítimo, pois os canais fidedignos estão centralizados nos profetas de linha mosaica, ou ainda faz-se uma associação da adivinhação com práticas estrangeiras31.
A intermediação religiosa pode ser definida como “um processo de comunicação entre as esferas divina e humana na qual mensagens são canalizadas em ambas as direções, através de um ou mais indivíduos que são reconhecidos pela sociedade para exercer tal função”32. Esta definição correlaciona os profetas e adivinhadores em relação ao exercício de seu papel ou funções sociais. Ambos exercem a intermediação, apesar de o fazerem com suas especificidades, de acordo com os aspectos culturais que são relevantes em determinadas épocas e contextos.
Os textos condenatórios trazem uma característica em comum. Todos os intermediários são especialistas aos quais se recorre em busca de intermediação entre o reino sobrenatural e o terreno. Neste sentido, condenação se insere na pergunta de quais os meios são legítimos. Quais os mecanismos reconhecidos de comunicação com Deus? O Dt promete que serão fornecidos os intermediários legitimados e reconhecidos: o profeta de tradição mosaica. Este será o único intermediário reconhecido e os textos atestam isso. (Nm 12.6-8 )33.
Possessão no AT
A idéia de possessão no AT pode ser aproximada da profecia. Textos indicam que a experiência profética pode ser descrita como uma espécie de ocupação de copo e de identidade por parte de um espírito. O marco para a profecia é a possessão do espírito de Deus. A “mão do Senhor” cai sobre o profeta e este é possuído pelo poder de profetizar – 1 Rs 18.46; 2 Rs 3.15, Jr 15.17; Ez 1.30. O espírito ainda pode “pairar sobre” , Nm 11.25-26; ou “revestir” alguém, Jz 6.34; Am 3.8.
Há poucas referências a possessão demoníaca no AT: Ex 22.17 –18 e Lv 19.26 proíbem; no v. 31 há referência a necromancia, ou a consulta a um espírito familiar. Outros textos: 1 Sm 15.23; 2 Rs 17.17; 21.6; 23.24; 2 Cr 33.6. Há diferentes concepções, significados e formas de descrever o que se pode chamar de possessão: uma delas é que é associado com doença (epilepsia); outra é com horror e arrepios – Jó 4.12-16 – o espírito faz arrepiar o cabelo e ouve-se uma voz. O espírito pode ser manifesto como ciúme de marido que pensa que está sendo traído, em Nm 5.14-15; ou como espírito mentiroso que entra na boca dos profetas de Acab – 1 Rs 22.19-24.
Há uma diferença notável que levanta uma suspeita que pode ser aprofundada nas experiências de mulheres possuídas nos textos do AT e NT. No AT, não há referência explícita de mulheres possessas que são exorcizadas. Ao contrário, a partir de 1 Sm 28 pode-se dizer que a mulher é dona, controla ou tem o poder e conhecimento de como manejar, fazer subir o espírito. Nos textos do NT as referências a mulheres e possessão acontece sempre onde elas são possuídas e devem ser exorcizadas. De Madalena se diz que foram expulsos 7 demônios (Lc 8.2-3) ou a mulher que estava presa/amarrada por Satanás há 18 anos ficando encurvada (Lc13.16); ou a menina que tem um espírito de adivinhação (At 16.16ss).
Como problematizar esta situação dada no NT, em relação às mulheres e os espíritos demoníacos?
Estudos comparativos culturais mostram que a possessão demoníaca é usualmente um significado pelo qual um indivíduo num papel social subordinado pode responder para e lidar com circunstâncias que não podem ser efetivamente manejadas de outra forma. Muitas vezes estas circunstâncias emergem de conflitos intrafamiliares. Por isso, a possessão demoníaca ocorre, na maioria das vezes, nos indivíduos mais subordinados da estrutura familiar: mulheres e crianças34.
Então, poderia-se dizer que a situação das mulheres no contexto cultural do NT é mais difícil, mais subordinado? Por outro lado, o argumento do silêncio – não há menção a exorcismo de mulheres no AT – não pode significar de que não exista. Mas, exorcismos de homens sim, são mencionados: Davi exorcisa o espírito mau e violento de Saul, com música, conforme relato em 1 Sm 16.14-23; 18.10-12.
O que, sim, se pode afirmar é de que quanto mais se institucionaliza o culto e as práticas religiosas tanto mais as mulheres são afastadas do manejo com o sagrado. Tanto mais as práticas das mulheres são relegadas ao espaço do proibido, do ilícito, e que no linguajar do AT pode ser também, impuro, abominação, idolatria. A questão é então, quem tem o poder de nomear. De dar nome e legitimidade às suas práticas. Quem pode incorporar e oficializar as práticas e quem deve fazer o que sabe, na cozinha, atrás das cortinas, no fundo das roças, nas encostas e beiras de rios. Longe do templo, do sacerdote e de seu deus.
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1 Joanne Kay KUEMMERLIN-MCLEAN, Divination and magic in the religion of Ancient Israel , p. 2.
2 Brian B. SCHMIDT, Canaanite Magic vs. Israelite Religion: Deuteronomy 18 and the Taxonomy of Taboo. In. MIRECKI, Paul and MEYER, Marvin. (Ed.) Magic and ritual in the Ancient World. Leiden : Brill, 2002, p. 242-259, p. 242.
3 Thomas W. OVERHOLT, Cultural anthropology and the Old Testament, Minneapolis : Fortress, 1996, p. 69-73.
4 Joanne Kay KUEMMERLIN-MCLEAN, Divination and magic in the religion of Ancient Israel , p. 84.
5 Frederick CRYER, Divination in Ancient Israel and its Near Eastern Environment , p. 258.
6 Richard A. HENSHAW, Female and Male. The cultic personnel, p. 174.
7 Luis Alonso SCHÖKEL, Dicionário bíblico hebraico-português. P. 202-203.
8 Richard A. HENSHAW, Female and Male. The cultic personnel, p. 171; Joanne Kay KUEMMERLIN-MCLEAN, Divination and magic in the religion of Ancient Israel , p . 83.
9 Luis Alonso SCHÖKEL, Dicionário bíblico hebraico português, p. 32.
10 Harry A. HOFFNER, bAa , p. 140-142.
11 A análise deste texto está baseada, principalmente, nos seguintes comentários: Luiz José DIETRICH, Shigeyuki NAKANOSE, Francisco OROFINO. Primeiro livro de Samuel: Pedir um rei foi nosso maior pecado; Athalya BRENNER, A mulher israelita; José Luís SICRE. Profetismo em Israel ; Diana Vikander EDELMAN, King Saul in the Historiography of Judah, p. 238-251.
12 David Toshio TSUMURA, The interpretation of the Ugarit Funerary Text, p. 55.
13 Patrik MILLER, The Religion of Ancient Israel , p. 72.
14 Jean-Michel de TARRAGÓN, Witchcraft, magic, and divination in Canaan and ancient Israel , p. 2075.
15 Frederick CRYER, Divination in Ancient Israel and its Near Eastern Environment , p. 247-248.
16 Tzvi ABUSCH, Some reflections on Mesopotamian Witchcraft, p. 22 “... witchcraft itself originally belonged to the popular level of Mesopotamian culture and only eventually became part of the domain of the temple exorcist. In the popular form, the ‘witch’ is not of necessity an evil being and doer of illegal acts but may in fact perform various magical acts (both normative and non-normative forms of witchcraft) on behalf of others and even against ‘evil’ witches. In this popular form, the ‘witch’ seems to exhibit associations with ecstatic types of practioners. Such associations may well be significant, for they recall the occasional coalesce of peripheral possession and witchcraft. In certain social circumstances, thus the same individual may both utilize spirit possession and be employed as an exorcist but then also be labeled as a witch.
17 Joanne Kay KUEMMERLIN-MCLEAN, Divination and magic in the religion of Ancient Israel , p. 34.
18 Gabriella FRANTZ-SZABÓ, Hittite witchcraft, magic, and divination, p. 2007. “ … the course and position of heavenly bodies, eclipses of the sun and the moon, the blowing of the wind, the flight of the birds, the utterances of animals as well as of humans, dreams, monstrous births, or the behavior of sacrificial animals.”
19 Walter FARBER, Witchcraft, magic, and divination in ancient Mesopotamian, p. 1895.
20 Walter FARBER, Witchcraft, magic, and divination in ancient Mesopotamian, p. 1898.
21 J. F. BORGHOUTS, Witchcraft, magic, and Divination in ancient Egypt , p. 1775-1779.
22 J. F. BORGHOUTS, Witchcraft, magic, and Divination in ancient Egypt , p. 1779.
23 J. F. BORGHOUTS, Witchcraft, magic, and Divination in ancient Egypt , p. 1779. “One purpose of the spells was to turn the deceased into another being, a spirit (’h), who belonged to the world of the divine where all forces of nature came together. This transformation, which took place in a world where the conditions of existence were completely different and even the food the deceased needed was symbolic, was achieved by means of a vast range of spells and rituals. Many of these were performed during burial ceremonies, in which vast numbers of hypothetical modes of being and relationships were evoked.”
24 J. F. BORGHOUTS, Witchcraft, magic, and Divination in ancient Egypt , p. 1784.
25 Gabriella FRANTZ-SZABÓ. Hittite witchcraft, magic, and medicine, p. 2008.
26 James Carrol MOYER, The concept of ritual purity among the Hitites, p.70-72; Gabriela Frantz-SZABÓ. Hittite witchcraft, magic, and medicine, p. 2011.
27 Gabriella FRANTZ-SZABÓ. Hittite witchcraft, magic, and medicine, p. 2018.
28 Jean-Michel de TARRAGON, Witchcraft, magic and divination in Canaan and Israel , p. 2071.Divination is a common practice in the ancient Near east, and so it is natural to find it in the Phoenician-Canaanite world as well as in the broader context.” “Unlike the Mesopotamian, the Hebrews and the Canaanites of Palestine produced no corpus specifically dedicated to divination.”
29 Brian B. SCHMIDT, Canaanite Magic vs. Israelite Religion, p. 253. “The remaining four, soothsaying, sorcery, divining, and charming, were not attested in pre-exilic texts. This might indicate that while the professions were compatible with earlier forms of Yahwism (admittedly the text are silent on this point), they came to pose a threat to dtr ideology only by the exilic period or thereafter. When they do show up in later dtr texts or texts influenced by dtr ideology, they are depicted as illicit practices and outlawed.”
30 Brian B. SCHMIDT, Canaanite Magic vs. Israelite Religion, p. 259.
31 Thomas H. OVERHOT, Prophecy and divination, p. 126.
32 Thomas H. OVERHOT, Prophecy and divination, p. 141.
33 Robert R. Wilson. Profecia e sociedade no antigo Israel. São Paulo : Paulinas, 1993, p 152.
34 Stevan DAVIES L. Jesus, the healer. Possession, trance, and the origins of Christianity. New York : Continium, 1995. p. 81
2 Brian B. SCHMIDT, Canaanite Magic vs. Israelite Religion: Deuteronomy 18 and the Taxonomy of Taboo. In. MIRECKI, Paul and MEYER, Marvin. (Ed.) Magic and ritual in the Ancient World. Leiden : Brill, 2002, p. 242-259, p. 242.
3 Thomas W. OVERHOLT, Cultural anthropology and the Old Testament, Minneapolis : Fortress, 1996, p. 69-73.
4 Joanne Kay KUEMMERLIN-MCLEAN, Divination and magic in the religion of Ancient Israel , p. 84.
5 Frederick CRYER, Divination in Ancient Israel and its Near Eastern Environment , p. 258.
6 Richard A. HENSHAW, Female and Male. The cultic personnel, p. 174.
7 Luis Alonso SCHÖKEL, Dicionário bíblico hebraico-português. P. 202-203.
8 Richard A. HENSHAW, Female and Male. The cultic personnel, p. 171; Joanne Kay KUEMMERLIN-MCLEAN, Divination and magic in the religion of Ancient Israel , p . 83.
9 Luis Alonso SCHÖKEL, Dicionário bíblico hebraico português, p. 32.
10 Harry A. HOFFNER, bAa , p. 140-142.
11 A análise deste texto está baseada, principalmente, nos seguintes comentários: Luiz José DIETRICH, Shigeyuki NAKANOSE, Francisco OROFINO. Primeiro livro de Samuel: Pedir um rei foi nosso maior pecado; Athalya BRENNER, A mulher israelita; José Luís SICRE. Profetismo em Israel ; Diana Vikander EDELMAN, King Saul in the Historiography of Judah, p. 238-251.
12 David Toshio TSUMURA, The interpretation of the Ugarit Funerary Text, p. 55.
13 Patrik MILLER, The Religion of Ancient Israel , p. 72.
14 Jean-Michel de TARRAGÓN, Witchcraft, magic, and divination in Canaan and ancient Israel , p. 2075.
15 Frederick CRYER, Divination in Ancient Israel and its Near Eastern Environment , p. 247-248.
16 Tzvi ABUSCH, Some reflections on Mesopotamian Witchcraft, p. 22 “... witchcraft itself originally belonged to the popular level of Mesopotamian culture and only eventually became part of the domain of the temple exorcist. In the popular form, the ‘witch’ is not of necessity an evil being and doer of illegal acts but may in fact perform various magical acts (both normative and non-normative forms of witchcraft) on behalf of others and even against ‘evil’ witches. In this popular form, the ‘witch’ seems to exhibit associations with ecstatic types of practioners. Such associations may well be significant, for they recall the occasional coalesce of peripheral possession and witchcraft. In certain social circumstances, thus the same individual may both utilize spirit possession and be employed as an exorcist but then also be labeled as a witch.
17 Joanne Kay KUEMMERLIN-MCLEAN, Divination and magic in the religion of Ancient Israel , p. 34.
18 Gabriella FRANTZ-SZABÓ, Hittite witchcraft, magic, and divination, p. 2007. “ … the course and position of heavenly bodies, eclipses of the sun and the moon, the blowing of the wind, the flight of the birds, the utterances of animals as well as of humans, dreams, monstrous births, or the behavior of sacrificial animals.”
19 Walter FARBER, Witchcraft, magic, and divination in ancient Mesopotamian, p. 1895.
20 Walter FARBER, Witchcraft, magic, and divination in ancient Mesopotamian, p. 1898.
21 J. F. BORGHOUTS, Witchcraft, magic, and Divination in ancient Egypt , p. 1775-1779.
22 J. F. BORGHOUTS, Witchcraft, magic, and Divination in ancient Egypt , p. 1779.
23 J. F. BORGHOUTS, Witchcraft, magic, and Divination in ancient Egypt , p. 1779. “One purpose of the spells was to turn the deceased into another being, a spirit (’h), who belonged to the world of the divine where all forces of nature came together. This transformation, which took place in a world where the conditions of existence were completely different and even the food the deceased needed was symbolic, was achieved by means of a vast range of spells and rituals. Many of these were performed during burial ceremonies, in which vast numbers of hypothetical modes of being and relationships were evoked.”
24 J. F. BORGHOUTS, Witchcraft, magic, and Divination in ancient Egypt , p. 1784.
25 Gabriella FRANTZ-SZABÓ. Hittite witchcraft, magic, and medicine, p. 2008.
26 James Carrol MOYER, The concept of ritual purity among the Hitites, p.70-72; Gabriela Frantz-SZABÓ. Hittite witchcraft, magic, and medicine, p. 2011.
27 Gabriella FRANTZ-SZABÓ. Hittite witchcraft, magic, and medicine, p. 2018.
28 Jean-Michel de TARRAGON, Witchcraft, magic and divination in Canaan and Israel , p. 2071.Divination is a common practice in the ancient Near east, and so it is natural to find it in the Phoenician-Canaanite world as well as in the broader context.” “Unlike the Mesopotamian, the Hebrews and the Canaanites of Palestine produced no corpus specifically dedicated to divination.”
29 Brian B. SCHMIDT, Canaanite Magic vs. Israelite Religion, p. 253. “The remaining four, soothsaying, sorcery, divining, and charming, were not attested in pre-exilic texts. This might indicate that while the professions were compatible with earlier forms of Yahwism (admittedly the text are silent on this point), they came to pose a threat to dtr ideology only by the exilic period or thereafter. When they do show up in later dtr texts or texts influenced by dtr ideology, they are depicted as illicit practices and outlawed.”
30 Brian B. SCHMIDT, Canaanite Magic vs. Israelite Religion, p. 259.
31 Thomas H. OVERHOT, Prophecy and divination, p. 126.
32 Thomas H. OVERHOT, Prophecy and divination, p. 141.
33 Robert R. Wilson. Profecia e sociedade no antigo Israel. São Paulo : Paulinas, 1993, p 152.
34 Stevan DAVIES L. Jesus, the healer. Possession, trance, and the origins of Christianity. New York : Continium, 1995. p. 81
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