segunda-feira, 29 de março de 2010

O Período Negro da História do Cristianismo

Sem querer agredir a fé cristã dogmática (a qual merece todo o nosso respeito), nem diminuir o valor histórico do cristianismo e da Igreja Católica, mas apenas contribuir para o diálogo inter-religioso, a fim de buscarmos o conhecimento da verdade que nos liberta (“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”), resumo nesta semana alguns dos principais dados da história negra do cristianismo dos cristãos, dados esses que comprovam minha tese de que essa modalidade de cristianismo não pode ter sido fundada pelo verdadeiro Jesus de Nazaré, o qual resumiu toda a sua doutrina religiosa na prática do amor: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (João 13,35). “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros” (João 13,34). “Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu sentimento e com toda a tua força.

Este é o primeiro e mais sublime preceito, porém é igual a este: amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lucas 10,27; Mateus 22,37). Essa foi a verdadeira religião ensinada e vivida por Jesus. Uma religião essencialmente moral, moral religiosa, a qual foi destruída ao longo de dois mil anos pelos cristãos paulinistas. Os dados bárbaros da história negra do cristianismo, que apresentarei abaixo (apoiado em Riboni), contradizem abertamente a religião do amor ensinada e vivida por Jesus. Que o leitor reflita e, ao término da leitura, responda a essa pergunta: É possível conciliar as barbaridades cristãs com a religião do amor autenticamente ensinada e vivida por Jesus?

1) Desde o início da nossa era, os cristãos paulinistas (assim como os judeus) sempre foram superexclusivistas e intolerantes para com os seguidores de outras religiões, uma vez que, para os cristãos paulinistas, Jesus era (e é) o único Deus encarnado, o único salvador e o único Senhor. Logo, o cristianismo paulinista já era considerado, naquela época, a única religião verdadeira. Por causa desse exclusivismo religioso, os cristãos começaram a querer proibir os cultos de deuses que não o seu, o qual eles insistiam ser o “único Deus”. Essa intolerância começou a contrariar a justiça romana, que defendia, nos três primeiros séculos, a liberdade de culto de qualquer religião. Mas, por causa da intolerância de muitos cristãos, a justiça romana começou a puni-los. A propaganda cristã inverte habilmente a situação, declarando “mártires” os condenados pela justiça romana, inventando o mito ou a lenda de que eles foram executados por terem “recusado a renegar a fé”. (Ver RIBONI, “A Página Negra do Cristianismo”, p. 2).

2) No começo do século IV, no ano 312, estourou uma luta enfurecida, entre dois grupos de cristãos, em torno da crença na divindade de Cristo. Ário (padre alexandrino) e seu grupo defendiam a tese de que Cristo não era filho natural de Deus, mas apenas filho adotivo de Deus. Os teólogos romanos se opuseram a esta doutrina, defendendo a tese paulina de que Jesus era uma divindade, o que fez o imperador romano Constantino convocar um Concílio Ecumênico, no ano 325, para dogmatizar a divindade de Cristo. Mas essa luta em torno da divindade de Cristo perdura até hoje, tendo custado muito sangue e provocado um ódio terrível entre os próprios cristãos e, mais ainda, entre cristãos e não-cristãos (ver meu livro Entrevistas com Jesus: reflexões ecumênicas).

3) Indubitavelmente, os maiores conflitos ideológicos entre os cristãos dos primeiros três séculos foram quase todos relacionados com a definição da verdadeira identidade (ou natureza) de Jesus. Houve muita briga entre padres, bispos e papas, o que resultou, finalmente, através de formulações dogmáticas, na excomunhão e condenação de todos aqueles que se opuseram a crer na pessoa mítica de Cristo, como definida pelos que detinham o poder político-religioso da época.

4) No fim do século IV, surgiu a questão em torno da divindade do Espírito Santo, negada por Macedônio, bispo de Constantinopla, fazendo com que o imperador Teodósio convocasse um novo Concílio Ecumênico, no ano 381, para declarar o dogma da divindade do Espírito Santo. Esse novo dogma gerou (e continua gerando) novos ódios e novas perseguições, incluindo muitas mortes em nome da verdadeira fé cristã. Em lugar da caridade, não se viu mais que uma disputa bárbara entre as distintas igrejas cristãs, condenando-se mutuamente.

5) Depois que o cristianismo paulinista se tornou a religião oficial do Império Romano, no final do século IV, todas as outras religiões passaram a ser desprezadas, seus templos destruídos. Somente a religião cristã era a verdadeira religião. Esse exclusivismo da religião cristã deu origem a inúmeros massacres e mortes de não-cristãos, “pagãos”, “infiéis”, “hereges”, “bruxas”, “feiticeiras” etc.

6) No final do século IV (ano 389), Teófilo, hoje Santo Teófilo, apoiado pelo imperador Teodósio, foi nomeado patriarca de Alexandria e inicia uma violenta campanha de destruição de todos os templos e santuários não-cristãos. Deve-se a ele a destruição do templo de Serapis e da famosa Biblioteca de Alexandria, no ano 391 (cf. RIBONI, p. 3).

7) No início do século V (ano 412), “Cirilo, hoje Santo Cirilo, doutor da Igreja, é nomeado bispo de Alexandria e sucede a seu tio Teófilo. Excita os sentimentos anti-semitas difundidos entre os cristãos da cidade e, à frente de uma multidão de cristãos, incendeia as sinagogas da cidade e faz fugir os judeus. Em seguida, encoraja os cristãos a tomar os bens dos fugitivos, deixados para trás” (RIBONI, p. 3).

8) A Igreja Católica tem uma longa história de perseguição aos seus dissidentes, tachados de “hereges”, sobretudo através da chamada “Santa Inquisição” (também denominada de “Tribunal do Santo Ofício), instituição católica responsável pelo extermínio de muita gente ao longo de 600 anos (1226-1826).
A PÁGINA NEGRA DO CRISTIANISMO (Cont.)
9) “As inquisições católicas, em seu todo, mataram centenas de milhares de católicos dissidentes, hereges e supostos bruxos (alguns estudiosos falam em mais de um milhão). Começando na França, no século XIII, as inquisições eram uma rede de tribunais autorizados pelos papas para investigar os acusados de heresia. [...] Os inquisidores eram padres que não tinham escrúpulos de usar tortura para arrancar confissões. A violência e as execuções só chegaram ao fim quando a última vítima foi enforcada em Valência, em 1826” (CORNWELL, John. Quebra da Fé: O Papa, o Povo e o Destino do Catolicismo. Rio de Janeiro: Imago, 2002, p. 213).

10) Durante toda a Idade Média (séculos V a XV), a Igreja impõe o seu domínio sobre a sociedade. No dizer de Riboni, “é também nessa época que se desenvolve o que se tornará uma das mais ricas tradições cristãs: queimar pessoas vivas. Cerca de um milhão de “bruxos” são torrados durante a Idade Média. As cidades concorrerão para tentar bater recordes de quantidade de bruxos queimados por ano. O recorde foi estabelecido pela cidade de Bamberg, sede do episcopado, que conseguiu assar 600 feiticeiros num só ano” (RIBONI, p. 4).

11) A partir do século XII (precisamente em 1184) foi instituída a chamada “Santa Inquisição”, tribunal eclesiástico para preservação e defesa da religião católica, órgão permanente de investigação e combate às heresias, com a pena de morte para quem ousasse discordar de alguma verdade da Igreja Católica. Foi, sem dúvida alguma, a época mais terrível na história do cristianismo mítico. A fé havia que ser mantida pela coerção. As discordâncias religiosas eram abafadas por ameaças de excomunhão, tortura ou até de morte. Quem fosse declarado culpado, além de ter seus bens confiscados, era executado no garrote ou na fogueira em praça pública.

12) O emprego da tortura foi oficialmente sancionado pelo papa Inocêncio IV em 1252. No ano de 1480, a Inquisição se instalou na Espanha e em 1540 em Portugal. Calcula-se que mais de quarenta mil “hereges” foram queimados nestas duas inquisições.

13) No início do século IX (ano 804), “o imperador cristão Carlos Magno converte grande número de cristãos, propondo-lhes a seguinte escolha: converter-se ao catolicismo ou serem decapitados. Vários milhares de cabeças caem, com a bênção da Igreja: os sacerdotes presentes participam da jogada do imperador” (RIBONI, p. 4).

14) Durante seus 46 anos de reinado, o imperador cristão Carlos Magno promove mais de 50 guerras para expandir o cristianismo e impor sua hegemonia ao Ocidente. Conquista a Saxônia, apodera-se da Catalunha, da Baviera, da Lombardia e da Frísia e luta contra árabes na região dos pirineus.

15) No século XI (ano 1054), ocorre, sobretudo por causa de uma pequena divergência teológica com relação à Trindade, a primeira grande divisão do cristianismo, ou seja, o cisma entre o Oriente (com sede em Constantinopla) e o Ocidente (com sede em Roma). As duas sedes se excomungam mutuamente. O cisma provocou mortes por quase mil anos, até aos anos 1990, com as guerras nos Balcãs, ex-Iugoslávia, de católicos contra ortodoxos (cf. RIBONI, p. 4).

16) No final do século XI (1095), a Igreja lança as Cruzadas, guerras santas contra os muçulmanos na Idade Média, que resultaram em milhares de mortes, entre os anos 1095 a 1270, com a finalidade de reconquistar Jerusalém e o túmulo de Cristo sob o poder dos muçulmanos. Segundo Riboni, “estima-se em 70.000 o número de civis massacrados. A última fase do massacre passa-se nas sinagogas e mesquitas da cidade, onde os habitantes aterrorizados se refugiaram: pensam que o caráter religioso dos locais possa inspirar os piedosos cruzados à clemência. Nada disso acontece; os cruzados entram e transformam os locais de culto em vastas carnificinas” (RIBONI, p. 4).

17) No início do século XIII (ano 1209), ocorre, por iniciativa do papa Inocêncio III, a terrível cruzada contra os cátaros e albigenses, membros de uma seita cristã, conhecida por “catarismo”, que discordava de alguns dogmas da Igreja. Toda a população dos cátaros e albigenses (cerca de 30 mil pessoas, incluindo homens, mulheres, crianças e idosos) foi cruelmente exterminada por ordem da Igreja.

18) Em meados do século XIV (anos 1347-1354), reina em toda a Europa os chamados “pogroms” (Movimentos populares de violência contra os judeus). Assim, por exemplo, os judeus foram acusados pelos prelados católicos de envenenar os poços de água que teriam causado uma grande epidemia de peste no continente. Esse boato espalha-se por toda a Europa. Na Alemanha contam-se 350 comunidades judias totalmente destruídas pelos “pogroms” nesse período (cf. RIBONI, p. 5).

19) No final do século XV (ano 1483), o monge dominicano Tomás de Torquemada é nomeado pela Igreja para ser o Grande Inquisidor de Castela. “Esse monge dominicano faz uma ampla uitilização da tortura e da confiscação dos bens das vítimas. Estima-se em 20.000 o número de pessoas queimadas durante o seu mandato” (RIBONI, p. 5).

20) Ainda no final do século XV, com a descoberta da América por Cristóvão Colombo, começa a triste história da trágica cristianização dos índios americanos, “onde os episódios do Paraguai e as perseguições aos índios Pueblo serão alguns dos mais trágicos” (RIBONI, p. 6).

21) No finalzinho desse mesmo século XV (ano 1499), acontece “o maior auto de fé que a História registra. Em um só auto de fé, o inquisidor Diego Rodrigues Lucero queima vivos nada menos que 107 judeus convertidos ao cristianismo, em Córdova” (RIBONI, p. 6).

22) Na primeira metade do século XVI, ocorreu a segunda maior divisão do cristianismo paulinista, com a Reforma Protestante ou Protestantismo na sua tríplice divisão: luteranismo (1517), calvinismo (1536) e anglicanismo (1534), com as múltiplas ramificações que se originaram dessas três alas principais do protestantismo.

A PÁGINA NEGRA DO CRISTIANISMO (Cont.)

23) Martinho Lutero “inaugura o maior cisma da cristandade: durante os séculos seguintes, os cristãos vão se massacrar mutuamente ainda com mais entusiasmo do que quando eles matavam e queimavam os não-cristãos, os hereges, as bruxas, os judeus e muçulmanos convertidos etc. Lutero escreverá e dirá diversas vezes que era necessário queimar as sinagogas e escorraçar os judeus das cidades” (RIBONI, p. 7).

24) Os pontos doutrinários divergentes entre católicos e protestantes (não-liberais) não se restringem, quase que exclusivamente, à interpretação da verdadeira identidade (ou natureza) de Jesus, como ocorreu nos primeiros sete séculos do cristianismo. Católicos e protestantes estão, de modo geral, unidos quanto à natureza essencial do “Cristo da fé”, exceção feita aos protestantes liberais e a vários teólogos cristãos pluralistas, os quais questionam e rejeitam os dogmas essenciais do cristianismo paulinista, como a suposta natureza divina de Jesus e, conseqüentemente, a trindade, o pecado original, o batismo, a redenção pelo sangue de Cristo e outros dogmas menores. As divergências comuns a todos os protestantes, em relação aos católicos, referem-se, sobretudo, à autoridade e ao magistério da Igreja Católica, aos sacramentos, ao culto dos santos, à crença no purgatório etc.

25) Os reformadores protestantes argumentavam que o cristianismo tinha se corrompido e que era necessário que ele voltasse à sua pureza primitiva. Defendiam a tese de que a Bíblia é a única fonte de fé e, por isso, não necessitam da Tradição nem do Magistério da Igreja Católica.

26) A partir da Reforma Protestante, inúmeras foram as brigas e guerras violentas entre católicos e protestantes.

27) Em 1527, ocorreu o saque de Roma, no qual “os soldados protestantes massacraram a totalidade da população de Roma, umas 40.000 almas, e pilham a cidade. O papa é salvo pelos guardas suíços. Ele se fecha com eles no Castelo de Santo Ângelo, enquanto a população é massacrada” (RIBONI, p. 7).

28) Recordemos também a pavorosa matança da Noite de São Bartolomeu, ocorrida em 24 de agosto de 1572, em que, numa única noite, foram mortos por católicos cerca de cinco mil protestantes.

29) O calvinismo também criou um tribunal semelhante ao da Inquisição católica para julgar e condenar os culpados que persistissem no erro doutrinário. De 1541 a 1546, 58 sentenças de morte foram proferidas por esse tribunal. A tortura era aplicada com frequência. Em 1553, o humanista e médico espanhol Miguel Servet foi queimado vivo, por ter negado o dogma da Santíssima Trindade. “Esse é somente um dos 15 hereges que o reformador [Calvino] fez executar durante a sua ditadura sobre Genebra” (RIBONI, p. 7).

30) A Reforma Protestante dividiu quase metade do mundo cristão: Separaram-se: Alemanha, Inglaterra, Suíça, Dinamarca, Noruega, Suécia, grande parte da Holanda e Polônia. Ademais, a maior parte da América do Norte aderiu ao protestantismo.

31) A partir da Reforma Protestante, o único progresso da Igreja Católica foi na América do Sul, onde os pregadores da Cruz impuseram aos índios a religião católica com a espada à mão.

32) A falta de amor se mostrou também no seio de cada um dos povos cristãos, tendo a Igreja ficado do lado dos ricos, contra os pobres, fomentando assim a luta social que caracteriza a história de cada povo, e que hoje constitui o problema mais sério do mundo.

33) A grande falta de amor entre cristãos é exemplificada também nas duas guerras mundiais do século XX, entre povos cristãos, que mataram cerca de 70 milhões de pessoas. Os que lançaram a bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki também acreditavam em Deus e se diziam “cristãos”. Os que exterminaram seis milhões de judeus (e um milhão e meio de ciganos) durante a Segunda Guerra Mundial também tinham “uma religião” (Hitler era católico) e os que atualmente exploram os países do Terceiro Mundo são quase todos “cristãos”, no sentido paulinista do termo. Os que escravizaram e exterminaram milhares de africanos e de índios durante o período da escravatura no Brasil e nas Américas também acreditavam em Deus e diziam-se “cristãos”. De que adianta crer em Deus e vivenciar o desamor, o ódio, as guerras, os preconceitos e a discriminação?

34) Tudo isso ocorreu (e continua ocorrendo) neste planeta porque as pessoas que se dizem “religiosas” ou “cristãs” ainda não entenderam que a “verdadeira religião” não consiste essencialmente em “crenças”, mas na “vivência do amor”.

35) Em 1571, a Igreja criou a lista de livros proibidos para católicos, o chamado Índex (Index Additus Librorum Prohibitorum), cuja última edição foi publicada em 1961. Inúmeros livros fizeram parte dessa lista. O católico que lesse livros dessa lista estaria cometendo pecado grave.

36) Em 1572, o papa Pio V, santo da Igreja Católica, “vangloria-se publicamente diversas vezes de ter, durante a sua carreira de inquisidor, colocado fogo com suas próprias mãos em mais de 100 fogueiras de hereges que ele mesmo acusara, confundira e condenara” (RIBONI, p. 8).

37) Desde o fim do século XVI até o início do século XVIII,“os exploradores espanhóis, sempre acompanhados de monges e padres, entram em contato com a tribo dos Pueblo, no território que hoje pertence ao estado americano do Novo México. [...] Estes pacíficos agricultores logo se tornam objeto de atenção dos padres espanhóis, impacientes por substituir o culto do Pai Céu e da Mãe Terra por aquele de cujo deus se bebe o sangue durante as cerimônias: os pajés índios são acusados de bruxaria e executados. [...] Os padres diziam que a religião dos índios era a das trevas, pois era sempre à noite, enquanto que o cristianismo era a religião da luz, pois se come a carne e se bebe o sangue do deus cristão em pleno dia. Diversas revoltas sangrentas pontuam a cristianização dos Pueblo” (RIBONI, p. 8).
A PÁGINA NEGRA DO CRISTIANISMO (Cont.)

38) No século XVI, Galileu Galilei (1564-1642), um dos fundadores da Ciência Moderna, confirmou, de maneira irrefutável, a tese de Nicolau Copérnico (1473-1543), segundo a qual a Terra não era o centro do Universo, como sustentavam Ptolomeu e as igrejas cristãs. Católicos e protestantes não podiam aceitar a tese revolucionária de Copérnico, comprovada cientificamente por Galileu, porque essa teoria contradizia o que ensinava a Bíblia. Condenado pela Inquisição da Igreja Católica – o maior poder monárquico e absoluto da época – Galileu foi obrigado a negar a verdade do heliocentrismo em favor do erro do geocentrismo, defendido pelas igrejas cristãs. A Igreja Católica levou mais de 300 anos para reconhecer oficialmente seu erro, quando o papa João Paulo II, somente em 1997, decidiu tardiamente perdoar Galileu.

39) Por concordar com a visão copernicana (e também por ser reencarnacionista), o frade Giordano Bruno foi arrastado à Inquisição e, ao não concordar em retratar-se, foi queimado na fogueira em 1600. Também o filósofo natural italiano Lucilio Vanini, que diziam ter ensinado a identidade entre Deus e a natureza, foi queimado em Toulouse, em 1619. Em 1415, Jan Huss também fora condenado à pena de morte pela Igreja e queimado vivo na fogueira, como herege pertinaz.

40) No século XVII, ocorreu, na Alemanha, a guerra religiosa dos 30 anos, que reduziu à metade a população da Alemanha.

41) No século XVIII, no Paraguai, os católicos se massacram e se excomungam entre eles.

42) No século XIX (ano de 1847), a Suíça é dilacerada por uma guerra religiosa entre protestantes e católicos. “Os jesuítas, considerados responsáveis pela guerra, são expulsos da Suíça, e essa expulsão valerá até 1970” (RIBONI, p. 10).

43) No século XX, Hitler declara-se católico em seu livro “Mein Kampf, o livro onde ele anuncia o seu programa político. Também afirma nessa obra que está convencido de ser ele um “instrumento de Deus”. A Igreja Católica nunca colocou no seu Índex o livro “Mein Kampf”, mesmo antes da ascensão de Hitler ao poder. Podemos acreditar que o programa anti-semita do futuro chanceler não desagradava à Igreja. Hitler mostrará o seu reconhecimento tornando obrigatória uma prece a Jesus nas escolas públicas alemãs e reintroduzindo a frase “Gott mit uns” (Deus está conosco) nos uniformes do exército alemão (cf. RIBONI, p. 11).

44) No mesmo século XX, ocorre, na Espanha cristã, uma terrível guerra civil, liderada pelo general Franco. “A guerra faz mais de um milhão de mortos, e Franco fuzila todos os prisioneiros. Franco se mostrará reconhecido por seus aliados, nomeando diversos membros da Opus Dei para o seu governo. A influência da Opus Dei crescerá ao longo da ditadura franquista, ao ponto de se chegar a mais de metade dos ministros serem membros dessa venerável instituição católica” (RIBONI, p. 11).

45) “Durante a 2ª Guerra Mundial, o Vaticano [sob o pontificado do papa Pio XII] estava ciente do extermínio dos judeus pelos nazistas” (RIBONI, p. 11).

46) O catolicismo moderno (séc. XVII-XX) sofreu várias divisões: o Jansenismo, o cisma dos Velhos Católicos, divisões causadas pela Revolução Francesa, conflitos causados pelo Movimento Modernista, a Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB), a Fraternidade São Pio X, os conflitos e divisões entre “católicos conservadores” e “católicos progressistas” etc.

47) A respeito dos conflitos ideológicos e/ou divisões entre “católicos conservadores” e “católicos progressistas”, convém lembrar que o papa progressista João XXIII, com a finalidade de reformar a Igreja Católica, convocou o Concílio Vaticano II (1962-1965), que propôs, de fato, uma série de reformas, as quais escandalizaram (e continuam escandalizando) a ala conservadora da Igreja (os chamados “católicos conservadores”). Por causa da forte reação dos conservadores, a maioria das reformas propostas pelo Vaticano II ficou só no papel, pois, na prática, a Igreja Católica, com os papas Paulo VI e João Paulo II, voltou a ser superconservadora, gerando dolorosos conflitos com os chamados “católicos progressistas”.

48) Em oposição aos católicos conservadores, que rejeitam os princípios básicos da modernidade, como liberalismo, relativismo, pluralismo e ecumenismo, formou-se a ala dos católicos progressitas, que defende esses mesmos valores da sociedade dos tempos modernos e que vive, por conseguinte, a fazer duras críticas ao conservadorismo da Igreja Católica, particularmente ao conservadorismo do papa João Paulo II e do cardeal Joseph Ratzinger (hoje o papa Bento XVI), alegando que eles fizeram retroceder a Instituição em vez de modernizá-la. Os católicos progressistas chegam mesmo a falar de um “colapso” da Igreja Católica.

49) Quase todos os teólogos ou intelectuais progressistas fizeram (ou continuam fazendo) duras críticas à ala conservadora da Igreja. Por isso, alguns dentre eles, como Hans Küng e Leonardo Boff, foram proibidos de ensinar como católicos. Enquanto Hans Küng continua na Igreja como padre, Leonardo Boff, um dos principais líderes da Teologia da Libertação, corrente teológica duramente reprimida (para não dizer extinta) por João Paulo II e Joseph Ratzinger (Bento XVI), deixou o sacerdócio.

50) Para concluir, eu pergunto ao leitor: Diante de tantos crimes, de tanto ódio, de tanto exclusivismo, de tantos preconceitos, de tantos genocídios hediondos cometidos pelos cristãos, e de tantas divisões entre os próprios cristãos, ao longo de dois mil anos de cristianismo, é possível ainda acreditar que o cristianismo dogmático tenha sido, de fato, fundado por Jesus? Essa modalidade de cristianismo é a Religião de Deus, mesmo sabendo, pela História, que ela é a instituição religiosa mais sangrenta do mundo?

quinta-feira, 18 de março de 2010

NVI ou NIV - NOVA INVENÇÃO INTERNACIONAL ?

EXPONDO OS ERROS DA NVI
(Nova Versão Internacional)


A Bíblia é a Palavra de Deus, inspirada, inerrante e infalível. Base de toda a nossa fé e prática (II Tm 3:16). Por isso o diabo tem investido na tentativa de danificá-la. Todo esforço tem sido feito para corroer a fé na sua inspiração, infalibilidade e autoridade, e na divindade de Cristo.
Se olharmos a História, veremos tentativas até de extirpar a Palavra de Deus. Não podendo destruí-la, o diabo tem investido na tentativa de enfraquecer as doutrinas cardeais dela, através das diversas versões, tendo como base fontes não fidedignas. Cabem algumas perguntas: "Por que tantas versões? Qual a origem das novas versões? Por que a Almeida Revista e Atualizada traz textos em colchetes? Por que a NIV suprime versículos inteiros?”

Quando se procura a respeito da origem das novas traduções, descobre-se que são grandemente baseadas na edição de um texto grego feita em 1881 por Westcott e Hort. Estes tomaram como base um grupo de manuscritos que representam uma pequena percentagem dos cerca de 4255 manuscritos existentes. Tal pequeno grupo de manuscritos havia sido rejeitado pela maioria dos crentes através dos séculos, porque não os consideravam dignos de confiança. A edição de Westcott e Hort tornou-se predominante nos modernos meios teológicos, trazendo grande prejuízo para as igrejas fieis. Essa edição geralmente é chamada de "Texto Crítico" (T.C.) ou (W.H.).

Antes do surgimento do T.C., as traduções tinham como base o "Textus Receptus" (T.R.). Em inglês a versão Rei Tiago e em português a Almeida Corrigida. (Sendo que, em 1994, foi lançada a Corrigida Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana, que é mais fiel aos originais). O T.R. foi organizado por Erasmo em 1516, representando a maioria esmagadora dos manuscritos, sendo usado pelas igrejas Batistas, evangélicas fiéis a Deus.
Meu propósito neste estudo é mostrar que as versões que têm por base o T.C. procuram enfraquecer diversas doutrinas como: divindade de Cristo, expiação por Cristo, Sua morte vicária, etc. Temos como exemplo os diversos textos em colchetes na versão Atualizada, querendo insinuar que podem ou não ser inspirados por Deus, Jo 7:53-8:11. Isto é um deboche à doutrina da preservação, Sl 119:89,152,160; Is 40:8; Mt 24:35; I Pe 1:23-25; Ap 22:18.19.

No ano 2000, foi lançada no Brasil a NVI (Nova Versão Internacional). Veja o que está no prefácio da New International Version, na sua 5ª impressão (Setembro/ 86):
"O texto em grego usado na tradução do NT foi um texto eclético... Onde os manuscritos existentes diferem. Os tradutores escolheram uma entre as leituras, de acordo com os consagrados princípios da crítica textual do Novo Testamento. Outro detalhe: As notas de rodapé chamam atenção para aqueles locais onde havia incerteza sobre em que consistia o texto original".

Isto é um ataque frontal à doutrina da preservação. Não podemos aceitar versões e/ou traduções que seguem a filosofia de equivalência dinâmica (que violenta o sentido original do texto).

Reparem, agora, o que está escrito na contra capa do Novo Testamento da NVI, em português, que foi lançado em nosso país em 1994. "Em 1991 deparei-me a primeira vez com a NVI. Logo verifiquei tratar-se de uma versão altamente precisa, tendo por princípio na sua tradução, a equivalência dinâmica. Considero-a a mais fiel”.

Vejamos os ataques dessas versões:
Ataques à DIVINDADE DE CRISTO:


Compare a NVI ante a Fiel também em Mc 9:24; Lc 23:42; At 8:37; 1 Co 15:47; Ap 1:11. Ademais, T.C. e NVI extirpam centenas dos títulos divinos: Senhor, Jesus, Cristo, Jesus Cristo, Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, etc.!):
João 3:13 Fiel = "Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, QUE ESTÁ NO CÉU." T.C. e NVI sacam do texto que Cristo "está no céu." Assim, anulam aqui (mesmo que não em toda a Bíblia), que Cristo é onipresente, é Deus! NVI: "Ninguém jamais subiu ao céu, a não ser aquele que veio do céu: o Filho do homem”.
At 9:5,6 "E ele disse: Quem és, Senhor? E disse O SENHOR: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. DURO É PARA TI RECALCITRAR CONTRA OS AGUILHÕES. E ELE, TREMENDO E ATÔNITO, DISSE: SENHOR, QUE QUERES QUE EU FAÇA? E DISSE-LHE O SENHOR: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer." T.C. e NVI omitem aqui que Cristo é "o Senhor", é Deus, devemos-lhe imediata e total obediência! NVI ="Saulo perguntou: 'Quem és tu, Senhor?' Ele respondeu: 'Eu sou Jesus, a quem você persegue. Levante-se, entre na cidade; alguém lhe dirá o que deve fazer”.

Rm 14:10, 12 "Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de CRISTO. De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus" T.C. e NVI, no v. 10, adulteram "Cristo" para "Deus". Ora, como o juiz de v. 10 é o de v.12, T.C. e NVI aqui anulam uma fortíssima prova da divindade de Cristo, e que é a Ele que os crentes darão conta (para fins de galardão)! NVI = “Portanto, você, por que julga seu irmão? Ou por que despreza seu irmão? Pois todos compareceremos diante do tribunal de DEUS. Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus".
1Tm 3:16 "E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: DEUS se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória." T.C. e NVI (em nota de rodapé) põem em dúvida "Deus", trocando-o por "Aquele que", portanto destruindo aqui2 uma das maiores provas da divindade de Cristo! "Note que a NIV americana já trocou "Deus" por "aquele que", no corpo do texto!... NVI = "Não há dúvida de que é grande o mistério da piedade: aquele que foi manifestado em corpo, justificado no Espírito, visto pelos anjos, pregado entre as nações, crido no mundo, recebido na glória."
1 João 4:3 "E todo o espírito que não confessa que Jesus CRISTO VEIO EM CARNE não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo." T.C. e NVI aqui agradam as falsas religiões, pois anulam que Cristo veio em carne, extirpam que Jesus Cristo (mesmo sempre sendo 100% Deus) encarnou literalmente, teve e sempre terá corpo literal e será 100% homem! NVI: "mas todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus. Este é o espírito do anticristo, a cerca do qual vocês ouviram que está vindo, e agora já está no mundo."

ATAQUES À EXPIAÇÃO POR CRISTO ( E SÓ PELO SEU SANGUE):

Cl 1:14 "Em quem temos a redenção PELO SEU SANGUE, a saber, a remissão dos pecados;" T.C. e NVI tiram aqui que foi pelo derramamento do sangue de Cristo que nossos pecados foram expiados, Deus foi propiciado, nossa salvação foi comprada! NVI: "em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados." Nunca esqueçamos: Hb 9:22 "E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão."!

Ataques à MORTE VICÁRIA DE CRISTO (em nosso lugar!):

1 Co 5:7 "Limpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado POR NÓS." T.C. e NVI tiram aqui que Cristo morreu "por nós", recebendo em nosso lugar o castigo que merecemos Is 53:5! NVI: "Livrem-se do fermento velho, para que sejam massa nova sem fermento, como realmente são. Pois Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado."
1Pd 4:1 "Ora, pois, já que Cristo padeceu POR NÓS na carne, armai-vos também vós com este pensamento, que aquele que padeceu na carne já cessou do pecado;" Novamente, é pisado e tirado aqui que Cristo morreu "por nós", recebendo em nosso lugar o castigo que merecemos Is 53:5! NVI: "Portanto, uma vez que Cristo sofreu corporalmente, armem-se também do mesmo pensamento, pois aquele que sofreu em seu corpo rompeu com o pecado."

Ataques à doutrina da TRINDADE:

1 João 5:7-8 "Porque três são os que testificam NO CÉU: O PAI, A PALAVRA, E O ESPÍRITO SANTO; E ESTES TRÊS SÃO UM. E TRÊS SÃO OS QUE TESTIFICAM NA TERRA: o Espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam num." T.C. e NVI arrancam aqui a mais explícita e uma das mais fortes provas da doutrina da Trindade! "Há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três são unânimes." Será que isto não equivale à Bíblia dos Testemunhas de Jeová? "Porque são três os...”

Ataques à inspiração da BÍBLIA:

Lc 4:4 "E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, MAS DE TODA A PALAVRA DE DEUS." T.C. e NVI extirpam aqui que viveremos de cada uma de todas as palavras da Bíblia, e que todas e cada uma delas são inspiradas por Deus! NVI: "Jesus respondeu: Está escrito: 'Nem só de pão viverá o homem".

Ataques à DOUTRINA DA SALVAÇÃO:

Compare a NVI ante a Fiel também em: Mt 9:13; 18:11):Mt 20:16 "Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; PORQUE MUITOS SÃO CHAMADOS, MAS POUCOS ESCOLHIDOS." T.C. e NVI aqui tiram palavras de modo a gravemente enfraquecer a doutrina da salvação (mais especificamente, do chamamento e da eleição). NVI: "Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos”.

Mc 2:17 "E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores AO ARREPENDIMENTO." T.C. e NVI extirpam aqui a indispensabilidade de verdadeiro arrependimento, para salvação! NVI:"Ouvindo isso, Jesus lhes disse: 'Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas pecadores”.

João 3:15 "Para que todo aquele que nele crê NÃO PEREÇA, mas tenha a vida eterna." T.C. e NVI extirpam aqui que quem não crer perecerá (sofrerá eternamente no lago de fogo, esta é a morte eterna)! NVI: "Para que todo o que nele crê tenha vida eterna".
João 6:47 "Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê EM MIM tem a vida eterna." T.C. e NVI suprimem aqui2 "em mim", favorecendo o universalismo, que basta crer em algo ou alguém, seja o que ou quem for, não indispensavelmente em Cristo! NVI: "Asseguro-lhes que aquele que crê tem a vida eterna.”
At 8:37 "E DISSE FILIPE: É LÍCITO, SE CRÊS DE TODO O CORAÇÃO. E, RESPONDENDO ELE, DISSE: CREIO QUE JESUS CRISTO É O FILHO DE DEUS." T.C. e NVI tiram aqui todo o verso do texto principal, anulando que batismo vem depois da salvação, e esta decorre de crer em Cristo e em tudo que Ele disse de Si, inclusive Sua divindade!

At 9:5-6 "E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. DURO É PARA TI RECALCITRAR CONTRA OS AGUILHÕES. E ELE, TREMENDO E ATÔNITO, DISSE: SENHOR, QUE QUERES QUE EU FAÇA? E DISSE-LHE O SENHOR: Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer." T.C. e NVI extirpam aqui, anulando que salvação vem da aceitação de Cristo como Senhor (a quem aceitamos como controlador absoluto) e como Deus!
NVI: "Saulo perguntou: 'Quem és tu, Senhor? ' Ele respondeu: 'Eu sou Jesus, a quem você persegue. Levante-se, entre na cidade; alguém lhe dirá o que deve fazer'."

Rm 8:1 "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, QUE NÃO ANDAM SEGUNDO A CARNE, MAS SEGUNDO O ESPÍRITO." T.C. e NVI extirpam, aqui, que há, sim, condenação (não quanto à salvação, mas sim quanto à comunhão, correção, galardão, o ser usado por Deus) para o salvo que andar segundo a carne: At 5:1-10; 1Co 3:12,15; 5:9-10; Gl 5:16-18; 1Jo 3:20-21; 5:16!1 NVI:"Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus”.

2Pd 2:17 "Estes são fontes sem água, nuvens levadas pela força do vento, para os quais a escuridão das trevas ETERNAMENTE se reserva." T.C. e NVI extirpam aqui que a condenação é eterna! (sem cessar de existir e sofrer)! NVI:"Estes homens são fonte sem água e névoas impelidas pela tempestade. a escuridão das trevas lhes está reservada."

Ataques à importância do JEJUM BÍBLICO:

Compare a NVI ante a Fiel também em: At 10:30-31; 1 Co 7:5):Mt 17:21 "mas esta casta de DEMÔNIOS não se expulsa senão pela oração e pelo jejum." T.C. e NVI (em nota de rodapé) põem séria dúvida sobre todo o verso, enfraquecendo aqui a necessidade da arma oração + jejum. Quem teria interesse nisto, senão o nosso inimigo?! (ver Ef. 6.12).

Mc 9:29 "E disse-lhes: Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração E JEJUM." T.C. e NVI (em nota de rodapé) põem em dúvida "e jejum", enfraquecendo que jejuar é indispensável contra certos demônios.

GRAVÍSSIMAS CONTRADIÇÕES:

(T.C. se contradiz a si próprio! Bíblias – T.C., idem):
Mt 27:34 "Deram-lhe a beber VINAGRE misturado com fel; mas ele, provando-o, não quis beber." T.C. e NVI adulteram "vinagre" para "vinho", contradizendo frontalmente Sl 69:21! NVI: "Ali lhe deram para beber VINHO misturado com fel; mas, depois de prová-lo, recusou-se a beber".

Mc 1:2-3 "Como está escrito NOS PROFETAS: Eis que eu envio o meu anjo ante atua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti. Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas.." T.C. e NVI adulteram "nos profetas" para "no profeta Isaías", criando grave contradição ao citarem de Ml 3:1 (além de Is 40:3)! NVI: "Conforme está escrito no profeta ISAÍAS: 'Enviarei à tua frente o meu mensageiro; ele preparará o teu caminho' “voz do que clama no deserto: preparem o caminho para o Senhor, endireitem as veredas para ele”.
2Ts 2:8 "E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor DESFARÁ pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda;" T.C. e NVI adulteram "desfará" para "matará", contradizendo frontalmente Ap 19:20 ("lançados vivos...")!

Do mesmo modo que os crentes vivos por ocasião do Arrebatamento terão seus corpos transformados em imortais e para a glória eterna, sem experimentarem antes a morte física, o anticristo e o falso profeta terão seus corpos transformados em imortais e para o sofrimento eterno, sem experimentarem antes a morte física. Mas a NVI diz: “Então será revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus MATARÁ com o sopro de sua boca, e destruirá, pela manifestação de sua vinda”.

Contraste a NVI ante a Fiel também em: Mt 5:22 (Jesus irou-se em Mc 3:5, mas com motivo). Lc 4:44 contra Mt 4:23 + Mc 1:39. Mt 19:17 contra Mc 10:18 + Lc 18:9. Mt 10:10 contra Mc 6:8.

OUTROS ERROS:

Mt 1:25 "E não a conheceu até que deu à luz seu filho, O PRIMOGÊNITO; e pôs-lhe por nome Jesus." T.C. e NVI agradam o romanismo, extirpando aqui que Jesus foi o primeiro entre os vários filhos de Maria. NVI: "Mas não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho. E ele lhe pôs o nome de Jesus."

1 Co 6:20 "Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, E NO VOSSO ESPÍRITO, OS QUAIS PERTENCEM A DEUS." T.C. e NVI extirpam aqui algumas das revelações de Deus mais preciosas e confortadoras às nossas almas! NVI: "Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês”.

1Tm 6:5 "Contendas de homens corruptos de entendimento, e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de ganho; APARTA-TE DOS TAIS." T.C. e NVI extirpam aqui que temos ordem de nos SEPARAR de todos "crentes" e "igrejas" que ensinam qualquer coisa que conflite com a Palavra de Deus. Qual texto favorece o Diabo e o erro?! NVI: "e atritos constantes entre homens de mente corrompida, privados da verdade, os quais pensam que a piedade é fonte de lucro.”
Ap. 11:17 "Dizendo: Graças te damos, Senhor Deus Todo-Poderoso, que és, e que eras, E QUE HÁS DE VIR, que tomaste o teu grande poder, e reinaste." T.C. e NVI extirpam aqui a segunda vinda de Cristo! NVI: "dizendo: Graças te damos, Senhor Deus Todo-Poderoso, que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder e começaste a reinar."

OUTRAS AMPUTAÇÕES:

Somente quanto a outros versos inteiros: T.C. e NVI, em notas de rodapé, põem sérias dúvidas (o que, em termos práticos, é idêntico a erradicar da Bíblia!) sobre Mc 16:9-20 e Jo 7:53-8:11 (24 versos!); Mt 12:47; 16:3; 17:21; 18:11; 21:44; 23:14; Mc 7:16; Lc 22:43-44; 23:34. Põem tão mais sérias dúvidas que já chegaram a realmente extirpar do texto principal e difamar dentro de rodapés: Mc 9:44,46 (repetições de Is 66:24); 11:26; Lc 17:36; 23:17; Jo 5:4; At 8:37; 15:34; 24:7; 28:29; Rm 16:24.
Ao todo, T.C. e NVI omitem (ou gravemente questionam, o que dá no mesmo) 55 versos completos, mais 147 versos quase completos.
Lembremos que o T.C., base preponderante da NVI, tem mais de 6000 palavras omitidas, 2000 adicionadas e 2000 adulteradas, totalizando mais de 10.000 (7% !) perversões das cercas de 140.000 santas palavras do Novo Testamento em grego!

CONCLUSÃO:


Tremamos ante Ap 22:18-19 + Pv 30:6 + Dt 4:2 (não adicionar/ subtrair). 2Co 2:17 (não corromper), e Rm 1:25 (não transformar a Bíblia em mentira)!
Minha intenção não é causar brigas e divisões no meio do povo de Deus. O alvo é despertar seminaristas e membros das igrejas, para se aprofundarem mais no assunto da crítica textual, assunto este, que por sinal tem sido ensinado com pouca profundidade em nossos seminários.

Deveríamos admitir que versões baseadas no T.C. não deviam ter entrado no meio “Fundamentalista”. Podemos afirmar que divisores, polarizadores e causadores de contenda são aqueles que, no passado, sutilmente infiltraram essas novas versões. E o nosso povo foi se acostumando gradativamente. Há pessoas sinceras que no passado repudiaram essas versões, mas com o passar do tempo foram aceitando. Não podemos ficar inertes diante de tamanho vilipêndio contra a Santa Palavra de Deus.

O Trabalho da Crítica Textual

A Crítica Textual

Introdução

Existe uma matéria bíblica que se encarrega da tarefa de dar ao leitor e exegeta o texto original da Bíblia. Ela se chama crítica textual. É uma matéria bíblica muito importante e ao mesmo tempo pouco conhecida pelo grande público. Essa é a razão pela qual escrevo esse artigo. Trataremos, neste momento, apenas aspectos teóricos e introdutórios e mencionaremos exemplos somente com o objetivo de mostrar a problemática, sem pretender dar soluções.

Hoje, em nossas casas, temos a Bíblia e poucas vezes nos interrogamos sobre o processo pelo qual passou o texto que lemos. A Bíblia foi escrita não como um único livro, mas é composta por diversos livros, que nasceram independentes um do outro e só mais tarde foram unidos e formaram um único volume. Cada livro tem uma história particular. Além disso, naquele tempo não existiam as editoras que faziam milhares de cópias idênticas do mesmo volume. Existia um original e este era copiado manualmente. Da primeira cópia nasciam outras e dessa forma se multiplicavam e acabaram chegando até nós. Ou seja, nós recebemos o texto graças às cópias transcritas do original, que hoje não existe mais.

Provavelmente você já experimentou copiar textos, com a mão ou digitando. Pode você imaginar quantos erros estamos sujeitos? Transcrevendo podemos confundir um “o” com um “a”, “e” com “l” ou até mesmo pular de uma linha diretamente para outra, deixando para trás algum pedaço do texto. Tudo isso acontecia também com quem copiava os textos bíblicos. E esses erros cresciam na medida em que as cópias aumentavam. Se o primeiro que copiou do original cometeu um erro, esse erro foi reproduzido na cópia seguinte onde provavelmente se acrescentaram outros erros.

Outra coisa que pode acontecer é que quem copia um texto eventualmente não concorda com aquilo que está escrito e resolve fazer uma “correção”. Façamos um exemplo, inventado, para deixar mais claro.

Em João 1 lemos: “O Verbo se fez carne”. Imaginemos que o copista que transcreveu o texto original pensasse: “Essa frase é muito vaga. Vamos acrescentar ‘em Belém’”. Neste caso poderíamos ter em nossas bíblias a seguinte frase: “O Verbo se fez carne em Belém”. Esse texto, contudo, não teria sido aquele escrito por João, mas se trataria de um acréscimo.

É aqui que entra em campo a crítica textual. Temos certeza que o texto que temos nas cópias que chegaram até nós é o texto original? A crítica textual procura desvelar todos os eventuais erros e nos entregar o texto original, aquele escrito pelo autor inspirado.

Algumas dificuldades com o texto bíblico.

Continuamos com exemplos mais concretos. O texto em hebraico do Antigo Testamento inteiro mais antigo que existe foi transcrito por volta do ano 1000 depois de Cristo (Código de Leningrado). Invés a Vulgata, tradução em latim da Bíblia feita por Jerônimo a partir dum texto hebraico do seu tempo, é do IV século. Quando você encontra uma discordância – e existem diversas – entre o texto em hebraico, do ano 1000, e a Vulgata, escrita 600 anos antes, o que fazer?

Outra dificuldade.

O livro do Sirácida (Eclesiástico) – presente somente nas bíblias católicas – chegou até nós através de manuscritos em grego. Todavia, em 1896 foi encontrado um manuscrito hebraico deste livro. Se confrontarmos o Sirácida grego com o Sirácida hebraico a diferença é expressiva. Como comportar-se? Qual texto terá que tomar como verdadeiro o biblista que decide fazer uma tradução para o português, que quer publicar uma Bíblia?

Outro exemplo, sem querer provocar polêmica, está na oração do pai nosso. Uso esse texto por que é bem conhecido e usado muitas vezes nas nossas orações.

Nas Bíblia católica é normal encontrar o seguinte texto em Mateus 6:
Eis como deveis rezar: Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. (Bíblia Ave Maria)

Entre nós evangélicos,lemos:

Portanto, orem assim: "Pai nosso, que estás no céu, que todos reconheçam que o teu nome é santo. Venha o teu Reino. Que a tua vontade seja feita aqui na terra como é feita no céu! Dá-nos hoje o alimento que precisamos. Perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos as pessoas que nos ofenderam. E não deixes que sejamos tentados, mas livra-nos do mal.

[POIS TEU É O REINO, O PODER E A GLÓRIA, PARA SEMPRE. AMÉM!]" (Bíblia Sagrada – (Nova Tradução na Linguagem de Hoje)

Há algumas frases que são diferentes, por questões de escolha do tradutor, e não nos interessam. Quero chamar a atenção para o último versículo da versão da NTLH, que coloquei em letras maiúsculas. Por que esse texto não aparece na versão católica e de onde ele vem?

Os textos mais antigos da Bíblia – Os textos de referência.

As testemunhas do texto bíblico podem ser divididas por material (pergaminho, papiro), formato (rótulo ou código), tipo de escritura (até o século X se usava a escritura em maiúsculo, em seguida se usou a letra minúscula), antigüidade (papiros até o século IV), conteúdo (alguns manuscritos trazem somente o Antigo Testamento, outros só os Evangelhos, outros apenas as cartas dos apóstolos...), língua (hebraico e hebraico ou traduções em latim, siríaco, copta, georgiano, armeno, etc.) e outros critérios.

Durante os séculos, os estudiosos da crítica textual descobriram, reuniram e catalogaram um número enorme de manuscritos bíblicos dos dois testamentos. Para o Novo Testamento, em 2005, existiam 5.745 manuscritos. Destes 118 são papiros, 317 Maiúsculos, 2877 minúsculos e 2433 lecionários. Esses manuscritos podem ser livros com toto o texto da Bíblia ou apenas fragmentos de papiros com poucas palavras de um versículo. Apenas poucos pedaços de textos são próximos ao período em que os textos originais foram escritos. Um dos textos mais antigos que temos do Novo Testamento é o papiro P45 (Chester Beatty Library, Irlanda), do fim do segundo século depois de Cristo, e contém pedaços de textos dos evangelhos.

Em relação ao Antigo Testamento o texto fundamental para nós hoje é o assim chamado Texto Massorético (TM), que é o fruto do trabalho de um grupo de escribas, os massoretas, que colocaram os sinais vocálicos para o texto hebraico. A língua hebraica não tem vogais e como na idade média não era mais falada, escrupulosos escribas se dedicaram a definir como deveria exatamente ser pronunciadas certas as palavras sagradas. Para tanto acrescentaram ao texto original sinais que ajudam na pronúncia das palavras e ajudam na correta interpretação do texto inspirado. Tais sinais são chamados “massoras”. Esse trabalho foi realizado entre os séculos VI e X depois de Cristo.

Na crítica textual é importante estabelecer qual é a relação entre o Texto Massorético e os textos originais, sobre os quais se basearam os massoretas para realizar seu trabalho. Tal objetivo se alcança através do estudo da história do texto do Antigo Testamento. A este propósito, poderíamos dizer, de forma breve, que existem 4 ramos que mostram formas diferentes deste texto: um texto que serviu de base para o trabalho dos massoretas, o “proto-massoretico”; a tradução grega, “Setenta”, realizada no século II antes de Cristo; os documentos encontrados em Qumran, próximo ao Mar Morto; o Pentateuco Samaritano, ou seja a Bíblia da comunidade samaritana, que conservou somente os 5 primeiros livros da Bíblia como escritura inspirada por Deus. De cada uma destas etapas existem manuscritos que ajudam o crítico textual a resolver os problemas que o texto põe.

Cada manuscrito encontrado ganhou um código particular. No início se começou nomeando os manuscritos mais antigos, os Maiúsculos, com letras, primeiro do alfabeto árabe e depois do alfabeto grego. Assim o Código Alexandrino recebeu como identificativo a letra “A” e o Sinaítico a letra alfa. Coma as letras não bastavam, foi decidido identificá-los com números, com um zero na frente. Os manuscritos mais recentes, os minúsculos, invés, foram identificados com números, sem o zero na frente. Os papiros são catalogados com a letra “P” seguida por um número. Para os textos antigos de versões em outras línguas usa-se outros códigos. Por exemplo, o “d” indica a Vetus Latina, enquanto que a Vulgata é indicada com “Vg”.

Edições críticas dos manuscritos – Stuttgartensia e Nestle-Aland
Quando alguém decide traduzir um trecho bíblico a partir do original precisa necessariamente entrar nesse mundo. Esses manuscritos estão espalhados pelo mundo, nos museus e bibliotecas. Obviamente o tradutor não pode visitar cada museu para ver as variantes e comparar um manuscrito com o outro e escolher qual texto tomar para a sua tradução. Esse trabalho já foi feito e é disponível em diversas compilações. Existem duas clássicas, uma para o Antigo e outra para o Novo Testamento. A Bíblia Hebraica Stuttgartensia é a obra de referência para as variantes do Antigo Testamento. Invés, para o Novo Testamento, é o assim chamado Nestle-Aland Novum Testamentum Graece. As duas edições reúnem todas as variantes de textos existentes. O editor escolheu um texto base (Codex Lenigradensis (L) para a Biblia Hebraica), mas na nota de rodapé e nas margens coloca todas as outras opções que existem, usando os códigos típicos dos manuscritos. Os tradutores das bíblias, invés de visitarem museus e bibliotecas atrás de manuscritos, usam essas edições a partir das quais realizam suas traduções.

O método da Crítica Textual

Como descobrir qual é o texto original, aquele escrito pelo autor inspirado? Para alcançar tal meta, a critíca textual realiza um trabalho crítico que segue critérios determinados, usando sobretudo uma metodologia baseada em comparações. As comparações são feitas entre os diferentes manuscritos que trazem a mesma citação. No processo de comparação existe um critério elementar e simples, mas ele é fundamental: o texto que explica melhor a origem das outras variantes tem boas chances de ser considerado o texto original.

Voltando ao exemplo fictício dado acima, se tivéssemos duas variações:

A - O Verbo se fez carne

B - O Verbo se fez carne em Belém

Como explicar “em Belém” na variante B e a ausência dessa indicação geográfica na variante A. Qual explica melhor a outra? Dificilmente a B consegue explicar a A, pois por que motivo teria o escriba deixado fora “em Belém”? Normalmente se acrescenta algo e não se tira. Todavia a variante A pode muito bem explicar a B. Um copista pode ter ficado insatisfeito com a frase e ter querido precisar o lugar onde o Verbo se encarnou. Por isso ele acrescentou “em Belém”. Portanto, neste caso, a variante A seria original, pois graças a ela se pode explicar por que surgiu a variante B.

Obviamente esse julgamento é auxiliado por outros critérios científicos. O exegeta precisa, em primeiro lugar, analisar o valor de cada testemunha, de cada manuscrito. Por exemplo, um texto presente em um manuscrito do III século tem muito mais valor do que um do X século.
Feito este passo, é necessário utilizar os critérios “internos”, ou seja, aquilo que tem a ver com a transcrição do texto, ou seja, aquilo que é provável que o copista tenha feito quando transcreveu. Nesse sentido existem diversos erros clássicos que foram cometidos: aplografia (uma palavra ou sílaba que ocorre duas vezes é escrita uma única), ditografia (uma palavra ou sílaba que ocorre uma única vez é repetida), parablepsis (quando uma palavra ou frase é repetida na mesma folha e o olho salta de um lugar para o outro, deixando para trás um pedaço do texto) e outros erros inconscientes. Existem ainda os erros deliberados, tais como o acréscimo, como no caso “em Belém”, a explicação de um texto teologicamente difícil onde o copista, com palavras suas, tenta elucidar o conteúdo.

Existem 4 regras clássicas para julgar o valor de uma variante:
1. Lectio difficilior – A variante mais improvável é aquela que pode ser original;
2. Lectio brevior – A frase mais breve tende a ser a original;
3. Lectio difformis – Dentro de um mesmo contexto, se uma frase é diferente e inovador, pode ser a original;
4. Ceterarum originem explicat – O princípio explicado acima: a variante que consegue explicar a gênesis das outras é a original.

Essa é a estrada pela qual passaram muitas das traduções que temos em nossas mãos, sem que seja percebida pelo leitor final. Conhecer esse processo certamente nos ajuda a valorizar o empenho dos tradutores e nos dá parâmetros para a escolha de uma versão para a nossa leitura pessoal. Além, obviamente, de permitir que interpretemos o texto de forma coerente com a intenção do autor.

O Silêncio de Deus - 400 anos

Quatrocentos Anos de Silêncio

Entre o final do Antigo Testamento e o início do Novo Testamento há uma lacuna de 400 anos sem a manifestação de um profeta de Deus. Durante esse longo período ocorreram eventos marcantes, guerras e o surgimento de diversos grupos que estão presentes nas páginas do Novo Testamento. Qual a característica desses grupos? O que idealizavam? Nesse artigo procuramos destacar, no formato esboço, uma coletânea de eventos ocorridos entre o Período Persa e o Período Romano, os quais envolveram a nação de Israel.

Entre os Testamentos

Definição: Trata do período de eventos que ocorreram entre o fim do AT e o início do NT. As datas são de 424 a.C até 5 a.C.

Por Que Estudar?

"Razões Históricas" que explicam os acontecimentos "de fundo" do NT.;
"Razões Culturais" que explicam a origem e desenvolvimento dos costumes, instituições e vida espiritual do povo judaico do período do NT;
"Razões Messiânicas" que demonstram como Deus preparou o mundo para o Seu Advento.

As Divisões do Período Interbíblico

Entre as datas marcadas para nosso estudo muitos eventos passaram que não teremos oportunidade de reconhecer. Nós daremos atenção especial ao fim do AT, os tempos de Alexandre, as "Guerras dos Macabeus" e Herodes. São eles:

1. Período Persa (536-331)

2. Período Grego (331-167):

2.1. Período Grego Próprio (331-323)

2.2. Período Egípcio (323-198)

2.3. Período Sírio (198-167)

3. Período Macabeu (167-63)

4. Período Romano (63-5)

Fim do Período Antigo - Início do Período Persa

a) Os cativeiros
Depois de um longo período de apostasia, o Reino do Norte foi conquistado e levado para o cativeiro pelos assírios em 721 a.C.
O Reino do Sul recebeu tratamento semelhante ás mãos dos babilônios sob Nabucodonozor em 586 a.C.

b) As restaurações:
Cerca de 50.000 exílios cerca do ano 536 foram permitidos por Ciro voltar a Palestina com Zorobabel (Esdras 1:6);
Os eventos do livro de Ester passaram na Pérsia cerca do ano 483;
Esdras, um escriba, chegou em Jerusalém cerca do ano 457, promoveu várias reformas civis e religiosas (Esdras 7:10);
Neemias e seus companheiros chegaram na Palestina cerca de 445 a.C;
Malaquias dirigiu seus ministério num período de decadência espiritual cerca de 432-424, ele marcou o fim do AT.

O Período Pérsico

Ao encerrar-se o A.T, por volta de 430 a.C, a Judéia era uma província da Pérsia. Esta havia sido potência mundial por uns 100 anos. Continuou a ser por outros 100 anos, durante os quais não se conhece muito acerca da história judaica. O domínio pérsico, na sua maior parte, foi brando e tolerante, gozando os judeus de considerável liberdade.

Os reis persas desse período foram:

Artaxerxes I (464–423) - Sob seu governo Neemias reconstruiu Jerusalém.
Xerxes II (423)
Dario II (423-404)
Artaxerxes II [ Mnemom ] (404–359)
Dario III [ Codomano ] (335-331). Sob o governo deste o "Império Pérsico" caiu.

Características do Período Persa

Decadência espiritual vista em Ageu e Malaquias.
Desenvolvimento do poder do sumo sacerdote. Após Neemias, a Judéia foi incluída na província da Síria, assim, o Sumo Sacerdote se tornou governador da Judéia e autoridade da Síria.
Os inícios do escribismo com um interesse exagerado na Letra da Lei.

O Período Grego

A história do AT se encerrou com o cativeiro que a Assíria impôs ao "Reino do Norte" (Israel); com o subseqüente cativeiro babilônico do "Reino do Sul" (Judá); e com o regresso à Palestina de parte dos exilados, quando da hegemonia persa nos séculos VI e V a.C. Os quatro séculos antes do início da história do NT compreendem o período intertestamentário, também conhecido como “Os Quatrocentos Anos de Silêncio” devido ao hiato, nos registros bíblicos, e ao silenciamento da voz profética. Durante esse hiato é que Alexandre, o Grande, se tornou senhor do antigo Oriente Médio, ao infligir sucessivas derrotas aos persas.

Os Tempos e Significância de Alexandre, O Grande

a) A origem de Alexandre

Felipe de Macedom uniu os estados gregos para expulsar os persas da Ásia Menor. Morreu assassinado durante uma festa (337 a.C);
Alexandre seu filho, de grande capacidade de liderança, educado sob o famoso Aristóteles, era devotado a cultura grega. Tirou sua inspiração da ilíada de Homero.

b) As conquistas de Alexandre

-Após o domínio da Grécia, adentrou a Pérsia, império 50 vezes maior, com população 20 vezes a da Grécia;
-Em 334 adentrou na Ásia Menor vencendo o exército persa no Rio Grânico, perto de Trôade;
-Em pouco tempo, com apenas a idade de 22 anos, conquistou a Sardo, Mileto, Éfeso e Halicarnaso, estabelecendo em cada cidade a democracia grega;
-Em 333 a.C foi ao encontro de Dario na Batalha de Isso, a qual ganhou;
-Daí foi sem grande resistência até o Egito que também o dominou;
-Em 332 cercou a Tiro, que tomou antes de descer ao Egito;
-Venceu Dario decisivamente na batalha de Arbela em 331 a.C pondo fim ao grande império Persa;
-Continuou suas conquistas até o Rio Indo;
-Morreu com apenas 33 anos (323 a.C) com suas forças dissipadas pelo álcool e malária;
-Fundou 70 cidades, moldando-as conforme o estilo grego. Ele e os seus soldados contraíram matrimônio com mulheres orientais e misturaram, desta forma, as culturas grega e oriental;
-Antes do falecimento de Alexandre (323 a.C) seus principais generais dividiram o império em quatro porções, duas das quais são importante no pano-defundo do desenvolvimento histórico do NT, que são a porção do Ptolomeus e a dos Selêucidas. O "Império dos Ptolomeus" centralizava-se no Egito, tendo Alexandria por capital. A dinastia governante naquela fatia do império veio a ser conhecida como "Os Ptolomeus". Cleópatra, que morreu no ano 30 a.C, foi o último membro da dinastias dos Ptolomeus. O "Império Selêucida" tinha por centro a centro a Síria, e Antioquia era a sua capital. Alguns, dentre a casa ali reinante, receberam o apelido de "Seleuco", mas diversos outros foram chamados "Antioco". Quando Pompeu tornou a Síria em província romana (64 a.C), findou o "Império Selêucida";

-A Palestina tornou-se vítima das rivalidades entre os Ptolomeus e os Selêucidas. A princípio, os Ptolomeus dominaram a Palestina por cento e vinte dois anos (320-198 a.C). O judeus gozaram de boas condições durante este período. De acordo com um antiga tradição, foi sob Ptolomeu Filadelfo (285-246 a.C) que setenta e dois eruditos judeus começaram a tradução do AT hebraico para o grego, versão essa que se chamou Septuaginta.

c) A influência de Alexandre

-Sua influência foi muito grande por causa de sua extensão e permanência;
-Estabeleceu centro de comércio e cultura em toda a extensão do seu império;
-Com a imposição da cultura grega, a superstição oriental cedeu a liberdade do pensamento grego na filosofia, arquitetura, deuses, religiosidade, atletismo (primeira olímpiada em 776 a.C). Surgiram bibliotecas e universidades em Alexandria e Tarso como em outros lugares. Preparou-se assim o campo para religião universal;
-De grande importância foi a disseminação da língua grega, criando a possibilidade de pregação do evangelho fazendo uso de uma língua universal e a criação de uma Bíblia legível em toda a extensão da bacia do Mediterrâneo.

Antíoco Epifânio e a "Revolta do Macabeus"

Antíoco significa "Opositor" (gr.). Foi este o nome de treze reis da "Dinastia Selêucida". Estabeleceram-se após a morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C.

Os reis:
-Antíoco I [ Soter ] - (324 a 261);
-Antíoco II [ Theos ] - (286 a 246);
-Antíoco III [ O Grande ] - (242 a 187);
-Antíoco IV [ Epifânio ] - (170 a 169);
-Antíoco V [ Eupator ] - (173 a 162).

Eventos Relacionados com Alexandre e com Antíoco

-Após a morte de Alexandre, começou a luta para o controle do império;
-Em 301 a.C, na batalha de Ipso, a divisão efetuou-se em quatro partes;
-Egito e Palestina ficaram com Ptolomeu Soter (Lagos) e a Síria do Norte e Ásia Menor com Seleuco;
-Os Ptolomeus dominaram a Palestina até 198 quando os sírios com Seleuco anexaram a Terra Santa ao seu domínio;
-Antíoco III, o Grande, que conquistou a Palestina, morreu e cedeu lugar a seu filho, Seleuco Filopater (187–175) que foi envenenado, abrindo caminho para a sucessão de seu irmão Antíoco Epifânio (IV).

Os Atos de Antíoco Epifânio (175–164)

-Epifânio (nome que deu a si mesmo) significa “deus manifesto”;
-O sumo sacerdote, Onias III, liderou os nacionalistas; Jasom, seu irmão dirigiu os helenistas. Jasom ofereceu grande soma de dinheiro a Antíoco por ser apontado sumo sacerdote no lugar do seu irmão. Prometeu também helenizar Jerusalém. Quando assim foi apontado, tornou o povo cidadãos da capital da Síria (Antioquia), erigiu um ginásio grego logo em baixo o Templo e os jovens judeus começaram tomar parte nos jogos gregos. Jasom criou um altar, até mandou ofertas às festas de Hércules, em Tiro. Os nacionalistas são os antecedentes dos Fariseus, helenistas dos Saduceus;

-Antíoco fez várias expedições para o Egito. Numa delas surgiram rumores de sua morte, algo que provocou grande regozijo entre os judeus. Ao ouvir isto, Antíoco massacrou 40.000 judeus num só dia. Muitos judeus foram escravizados e o Templo roubado;

-Numa campanha seguinte, os romanos forçaram sua desistência no Egito. Em face desta derrota, derramou sua grande ira sobre Jerusalém. No Sábado matou muitos, escravizou outros e destruiu partes da cidade. Mandou erradicar a religião judaica. Quem possuia cópia da Lei (Torah), ou tivesse circuncidado a criança, seria morto. Finalmente converteu o Templo em "templo de Zeus". Profanou o Templo, em cujo altar, ofereceu uma porca em sacrifício. Destruiu cópias das Escrituras, vendeu milhares de judias para o cativeiro e recorreu a toda espécie imaginável de tortura para forçar os judeus a renunciar sua religião. Isso deu ocasião à "Revolta dos Macabeus", umas das mais heróicas façanhas da história.

A Revolta dos Macabeus (167–63)

-A revolta começou com Matatias, sacerdote em Modim (167) . Período de Independência, também chamado de Hasmoneano. Matatias, era sacerdote patriota e de imensa coragem, furioso com a tentativa de Antioco Epifânio de destruir os judeus e sua religião, reuniu um bando de leais compatriotas e defraudou a bandeira da revolta. Essa revolta teve inicio quando Matatias, sendo obrigado por um agente de Antioco a oferecer um sacrifício pagão, este recusou matando-o, e fugiu na companhia dos cinco filhos, para uma Região Montanhosa. Seus filhos eram: Judas, Jônatas, Simão, João e Eleazar. Essa familia era chamada de "Hasmoneanos", por causa de Hasmom, bisavô de Matatias, e também de "Macabeus", devido ao apelido Macabeu (Martelo) conferido a Judas, um dos filhos de Matatias;
-Judas Macabeu encabeçou uma campanha de guerrilhas de extraordinário sucesso, até que os judeus se viram capazes de derrotar os sírios em campo de batalha regular. A revolta dos Macabeus, entretanto , foi também uma guerra civil deflagrada entre os judeus pró-helenistas e anti–helenistas;
-Judas entrou em Jerusalém e reedificou o Templo. Os judeus recuperaram a liberdade religiosa, sendo esta a origem da Festa da Dedicação (João 10:22), entre 165 e 164 a.C;
-Significância da opressão síria e revolta dos macabeus: Restaurou a nação da decadência política e religiosa; Criou um espiríto nacionalista, uniu a nação e suscitou virilidade; Deu um novo impulso ao judaismo, novo zelo pela lei e esperança messiânica.
-Intensificou o desenvolvimentos dos dois movimentos que se tornaram os Fariseus e os Saduceus: Os Fariseus surgiram do grupo purista e nacionalista; Os Saduceus surgiram do grupo que se aliou com os helenistas.
-Deu maior ímpeto ao movimento da Dispersão, com muitos judeus querendo se ausentar durante as terríveis perseguições de Antíoco.

Período Romano (63)

1. Eventos que relacionaram os dias dos Macabeus com o tempo de Herodes

-Os irmãos de Judas, Jônatas e Simão sucessivamente lideraram o povo após a morte de Judas;
-Os descendentes dos Macabeus continuaram no poder até o ano 63 a.C, quando os romanos tomaram o poder;
-A junção do poder civil com sumo sacerdócio provocou uma decadência espiritual. A luta pelo poder tirou a devoção a Jeovah.

2. Antecedentes na vida de Herodes

-Antipater, um Idumeu (descendente de Edom, nome dado a Esaú, conseguiu lugar de destaque com os romanos;
-Como procurador judeu, colocou seu filho Herodes como tetrarca de Galiléia;
Herodes mostrou grande zelo no seu governo, erradicando os bandidos que tinham infiltrado a Galiléia;
-Com a morte de Antipater (40 a.C) conseguiu de Cesar ser apontado rei de Judeia;
-Com a invasão de Jerusalém e a morte de Antigono, ultimo descendente dos Macabeus, Herodes começou a reinar no ano 37 a.C;

3. Três períodos no reinado de Herodes

-Os primeiros 12 anos (37-25) foram gastos na luta pelo poder;
-Os segundos 12 anos (25–13) foram seus melhores anos;
-Os últimos 9 anos (13 –4) se caracterizaram pela crueldade e amargura (assassinou duas de suas esposas e pelo menos três de seus próprios filhos. Foi este Herodes que governava Judá quando Jesus nasceu, e que trucidou os meninos de Belém. Herodes morreu de hidropsia e câncer nos intestinos, em 4 a.C;

4. Os sucessos de Herodes

-Uso de muito tato na sua tentativa de helenizar os judeus, que Antíoco Epifania;
-Com espetáculos, jogos, entre outras coisas, ganhou a lealdade dos jovens judeus que se tornaram os herodianos;
-Aumentou a fortaleza de Jerusalém, denominada “Antonia”;
-Edificou a Cesaréia.

Entre seus muitos projetos de edificação, sua maior contribuição para os judeus foi o embelezamento do Templo de Jerusalém. Tal fato não expressava sua participação na fé judaica (ele não acreditava nela), mas foi uma tentativa de conciliar seus súditos. O Templo de Jerusalém, decorado com mármore branco, ouro e pedras preciosas, tornou-se proverbial devido ao seu esplendor: "Quem jamais viu o templo de Herodes, nunca viu o belo!”.

5. Herodes e a vinda de Cristo

-Ele foi parte do governo romano que preparou o contexto da vinda de Cristo;
-Foi rei governante quando Cristo nasceu.

As Seitas Judaicas

1. Os Fariseus
-
Seus antecedentes eram os reformadores dos tempos de Esdras e Neemias;
-Quando Matatias revoltou-se contra os esforços de Antíoco, os Hasidim (“Os Piedosos”), o apoiaram e se ligaram a ele;
-Mais tarde os Hasidim foram denominados Perushim (“Os Separados”).

2. Os Saduceus
-O nome possivelmente vem de Zadoque, o sumo sacerdote dos tempos de Davi (II Sm 8:17 e 15:24);
-Eles aparecem na história na mesma época que os Fariseus;
-Enquanto os Fariseus eram nacionalistas, a tendência dos saduceus era na direção da filosofia grega com a cultura grega;
-Sendo eles um partido político de tendências sacerdotais e aristocráticas, tinham pouca influência com o povo comum.

3. Uma comparação entre Fariseus e Saduceus

Fariseus
-Constituíram o núcleo da aristocracia religiosa e acadêmica;
-Ensinavam que a alma era imortal, que havia uma ressurreição corporal e julgamento futuro com galardão ou castigo;
-Acreditavam na existência de anjos e espíritos bons e maus;
-Predestinatários, mas aceitaram que o homem tinha livre arbítrio e responsável moralmente;
-Coordenaram a tradição e a Lei escrita numa massa de regras de fé e a prática evoluindo com os tempos.

Saduceus
-Constituíram o núcleo da aristocracia sacerdotal, política e social;
-Ensinaram que não há nem galardão nem castigo;
-Negaram a existência de espíritos e anjos;
-Enfatizaram a liberdade da vontade humana, rejeitando o determinismo e o azar;
-Mantinham que a Torah era única fonte infalível de fé e prática.

4. Os Essênios
-Não mencionados no N.T. mas Filo disse que havia 4.000 ou mais;
-Eram uma seita ascética com sede na beira ocidental do mar morto;
-Pensa-se que houve muitos deles nas vilas e cidades da Palestina;
-Seguiram, o conceito de comunidade de bens, abstinência , meditação, trabalho zeloso e o celibato.

5. Os Herodianos
-Eram partido político não religioso;
-Esperaram que Herodes cumprisse a realização da esperança da nação.

6. Os Zelotes
-Legalistas;
-Pietistas;
-Messianistas nacionalistas
-Intolerantes dos judeus impiedosos e de Israel na subjugação aos romanos.

A Esperânça Messiânica dos Judeus

1. No surgimento no Período Interbíblico

Na época da restauração, e com o desaparecimento dos profetas, houve pouca ênfase na esperança messiânica. O interesse do povo era a observação da Lei (Ne 8:1-3 e 9:13-16).

2. Na época dos Macabeus
A perseguição intensa inspirou a esperança dum líder super-humano. Especialmente após a tomada de Jerusalém pelos romanos (63 a.C), encontramos o ressurgimento da esperança messiânica.

3. Na época do nascimento de Cristo
É fato conhecido que quando Cristo veio houve uma larga expectativa da vinda do Messias, especialmente com a morte de Herodes, o Grande. Mesmo pensadores gentios como Tácito e Suetonio manifestam esta esperança de alguém surgir dentre os judeus.

4. A idéia básica
-Os judeus esperavam que fossem resgatados por um Rei que levantaria um reino eterno e julgaria os maus;
-Esperavam a salvação de Israel, não dos gentios;
-Esperavam alguém mais do que mero homem denominando-o de “O santo e Poderoso”, “Messias “, entre outros títulos. Pode ser que pensavam nele com um anjo poderoso que viesse agir sobrenaturalmente.

5. Uma opinião de minoria
-Poucos judeus esperavam um messias sofredor;
-Eram homens espirituais que procuravam nas Escrituras a verdade;
-Destacam-se pessoas como Simeão, Natanael, João Batista e Ana.

O Advento de Cristo

1. "Período de Silêncio"

O mundo foi preparado para a vinda de Cristo através de vários povos. O Apóstolo Paulo escreveu:
“Mas vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu filho” (Gl 4:4).

Marcos afirmou o mesmo, dizendo :
“O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo” (Mc 1:15).

É interessante notar a preparação do mundo para a primeira vinda de Cristo e as contribuições dos três grande povos daquela época. Verdadeiramente, Cristo veio na plenitude dos tempos.

2. Elementos Judaicos na preparação para a vinda de Cristo

-Um povo divinamente preparado;
-Um povo escolhido para ser testemunha entre as nações;
-Escrituras proféticas predizendo a vinda do Messias;
-A dispersão dos judeus em todo o mundo conhecido;
-Sinagoga onde se estudava as Escrituras que forneceriam local para a pregação do evangelho;
-Proselitismo que trouxe muitos gentios para o judaísmo;
-Era o povo do Livro, Interessado na prática da religião e na busca da salvação.

Uma esperança da vinda do Messias foi oferecida pelos judeus a um mundo de religiões pagãs. Também o judaísmo ofereceu, pela parte moral da Lei Judaica, o sistema de ética mais puro do mundo. Mas o mais importante é que os judeus prepararam o caminho para vinda de Cristo pelo fornecimento de um Livro Sagrado, o Velho Testamento.

3. Elementos Gregos

A filosofia grega que se aproximava do monoteísmo, tendência para a imortalidade, ênfase sobre a consciência e dignidade humana e liberalismo de pensamento.

A língua grega, tradução do AT, para a pregação do evangelho e a escrita do N.T junto com os termos adotados por Paulo e outro pregadores do Novo Testamento para explicar o evangelho.

No primeiro século os romanos cultos conheciam grego e também latim. O dialeto grego usado no quinto século a.C, na época da glória de Atenas, tornou-se o dialeto “Koiné” (comum) do primeiro século. O dialeto da literatura clássica de Atenas foi modificado e enriquecido pelas mudanças que sofreu nas conquistas de Alexandre Magno no período entre 338 e 146 a.C. O NT. Foi escrito nesse dialeto "comum".

A cultura helenística em geral com seu espírito cosmopolita, transcendendo as barreiras, o judeu helenizado que serviria como ponte entre o judeu e gentio e a busca da salvação do mundo romano.

Por um lado a filosofia grega deu uma contribuição positiva, mostrando o melhor que o homem pode fazer na busca de Deus pelo intelecto, por outro lado contribuiu negativamente, pois, nunca deu uma satisfação aos corações e nunca conduziu o homem a um Deus pessoal.

4. Elementos Romanos – A Contribuição Política

Cristo veio ao mundo época do Império Romano. Todo o mundo ficou sob um governo único, uma lei universal. Era possível obter cidadania romana, ainda que a pessoa não fosse romana. O Império Romano mostrou as tendência de unificar os povos de raças diferentes numa organização política.

Havia paz na terra quando Cristo nasceu. Os soldados romanos asseguravam a paz nas estradas da Ásia, África e Europa.

Construíram excelentes estradas ligando Roma a todas as partes do Império. As estradas principais foram construídas de concreto. As estradas romanas e as cidades estratégicas localizadas nos caminhos eram indispensáveis a evangelização do mundo no primeiro século.

5. Resumo dos Elementos

Na plenitude dos tempos, quando a maior parte do mundo ficou sob uma lei e um governo, e todo o mundo falou a mesma língua diariamente, Cristo veio, cumprindo as profecias. Jerusalém, em especial, localizava-se onde as estradas se cruzavam, ligando os continentes da Ásia e África com Europa.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Grécia, Roma, Israel e a Plenitude dos Tempos

A Plenitude dos Tempos: Em Gálatas 4.4, Paulo chama a atenção para a era histórica da preparação providencial que antecedeu a vinda de Cristo a terra em forma humana: “Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho...”. Marcos também indica que a vinda de Cristo aconteceu quando estava tudo já preparado na terra (Mc 1.15). O estudo dos eventos que antecederam o aparecimento de Cristo sobre esta terra faz com que o estudante equilibrado reconheça a verdade das afirmações de Paulo e Marcos.

Na maioria das discussões sobre este assunto, esquece-se que não apenas os judeus, mas os gregos e os romanos também, contribuíram para a preparação religiosa para a aparição de Cristo. A contribuição grega e romana foi, na realidade, negativa, mas em muito contribuiu para levar o desenvolvimento histórico até o ponto em que Cristo pudesse exercer o impacto máximo sobre a história de uma forma até então impossível.

01 – O Ambiente
A – Contribuições Políticas dos Romanos

A contribuição política anterior à vinda de Cristo foi basicamente obra dos romanos. Este povo, seguidor do caminho da idolatria, dos cultos de mistérios e do culto ao imperador, foi então usado por Deus, a quem ignoravam, para cumprir a sua vontade.

1 – Os romanos, como nenhum outro povo até então, desenvolveram um sentido de unidade da espécie sob uma lei universal. Este sentido da solidariedade do homem no Império criou um ambiente favorável à aceitação do Evangelho que proclamava a unidade de raça humana, baseada no fato de que todos os homens estavam sob pena do pecado e no fato de que a todos era oferecida a salvação que os integra num organismo universal, a Igreja Cristã, o Corpo de Cristo.

Nenhum Império do antigo Oriente Próximo, nem mesmo o império de Alexandre, tinha conseguido dar aos homens um sentido de unidade numa organização política. A unidade política seria contribuição particular de Roma. A aplicação da lei romana aos cidadãos de todo o Império era imposta diariamente a todos os cidadãos e súditos do Império pela justiça imparcial das cortes romanas. Esta lei romana se originava da lei consuetudinária da antiga monarquia. Durante a primeira república no quinto século, antes de Cristo, esta lei foi codificada nas Doze Tábuas, que eram parte essencial na educação de toda criança romana. A compreensão de que os grandes princípios da lei romana eram também parte das leis de todas as nações sob o domínio dos romanos como praetor peregrinus, que era encarregado da tarefa de tratar com as cortes em que estrangeiros estivessem sendo julgados, tornou-se realidade para todos os sistemas jurídicos desses estrangeiros. Assim, o código das Doze Tábuas, baseado no costume romano, foi enriquecido pelas leis de outras nações. Os romanos de inclinação filosófica explicavam essas semelhanças pelo uso de conceito grego de uma lei universal cujos princípios foram escritos na natureza do homem e seriam descobertos por um processo racional.

Um passo adicional no estabelecimento da idéia de unidade foi a garantia de cidadania romana aos não romanos. Este processo foi principiado no período anterior ao nascimento de Cristo e foi completado quando Caracala concedeu , em 212, a todos os homens livres do Império Romano a cidadania romana. O Império Romano reunia todo o mundo mediterrâneo que contava na história de então; desse modo para todos os propósitos práticos, todos os homens estavam debaixo de um sistema jurídico, como cidadãos de um só reino.

A lei romana, com sua ênfase sobre a dignidade do indivíduo, e no direito deste à justiça e à cidadania romana, além de sua tendência a agrupar homens de raças diferentes numa só organização política, antecipou um Evangelho que proclamava a unidade da raça ao anunciar a pena do pecado e o Salvador do pecado. Paulo lembrou aos da igreja filipense que eles eram membros de uma comunidade celestial (Fp 3.20).

2 – A movimentação livre em torno do mundo mediterrâneo teria sido mais difícil para os mensageiros do Evangelho antes de César Augusto (27 a.C. – 14 d.C.). A divisão do mundo antigo em grupos, cidades-estados ou tribos, pequenos e enciumados um do outro, impedia a circulação e a propagação de idéias. Com o aumento do poderio imperial romano no período da expansão imperial, uma era de desenvolvimento pacífico ocorreu nos países ao redor do Mediterrâneo. Pompeu tinha varrido os piratas do Mediterrâneo e os soldados romanos mantinham a paz nas estradas da Ásia, África e Europa. Este mundo relativamente pacífico tornou mais fácil a movimentação dos primeiros cristãos nas cidades onde pregavam o Evangelho a todos os homens.

3 – Os romanos criaram um ótimo sistema de estradas que iam do marco áureo no fórum a todas as regiões do Império. As estradas principais eram de concreto e duraram séculos. Elas passavam por montes e vales até chegarem aos pontos mais distantes do Império; algumas delas são usadas até hoje. Um estudo das viagens de Paulo indica que ele se serviu muito deste ótimo sistema viário para atingir os centros estratégicos do Império Romano. As estradas romanas e as cidades estrategicamente localizadas às margens dessas estradas foram uma ajuda indispensável na concretização da missão de Paulo.

4 – O papel do exército romano no desenvolvimento do ideal de uma organização universal e na propagação do Evangelho não pode ser ignorado. Os romanos adotavam a prática de usar habitantes das províncias no exército como forma de suprir a falta de cidadãos romanos atingidos pelas guerras e pelo conforto da vida. Os provincianos entravam em contato com a cultura romana e ajudavam a divulgar suas idéias através do mundo antigo. Em muitos casos, alguns destes homens converteram-se ao cristianismo e levaram o Evangelho às regiões para onde eram designados. É provável que a introdução do cristianismo na Bretanha seja um resultado dos esforços de soldados cristãos que acantonaram por lá.

5 – As conquistas romanas levaram muitos povos à falta de fé em seus deuses, uma vez que eles não foram capazes de protegê-los dos romanos. Tais povos foram deixados num vácuo espiritual que não estava sendo satisfeito pelas religiões de então.

Além disso, os substitutos que Roma tinha a oferecer em lugar das religiões perdidas nada mais podiam fazer além de levar os povos a compreenderem sua necessidade de uma religião mais espiritual. O culto ao imperador romano, que surgiu cedo na Era Cristã. Fazia um apelo ao povo somente como um meio de tornar tangível o conceito de Império Romano.

As várias religiões de mistério pareciam oferecer muito mais que isso como um meio de auxílio espiritual e emocional, e nelas o Cristianismo achou seu maior rival. A adoração de Cibele, a grande mãe terra, foi trazida da Frigia para Roma. A adoração desta deusa da fertilidade tinha ritos tais como o drama da morte e ressurreição do consorte de Cibele, Átis, o que parecia suprir as necessidades emocionais dos homens. O culto à Ísis, importado do Egito, era semelhante ao de Cibele, com sua ênfase sobre a morte e ressurreição. O Mitraísmo, importado da Pérsia, teve aceitação especial entre os soldados romanos. Tinha um festival em dezembro, um Maligno, um Salvador nascido miraculosamente – Mitra, um deus-salvador – além de capelas e cultos de adoração.

Todas essas religiões enfatizam o deus-salvador. O culto de Cibele conclamava seus adoradores ao sacrifício de um touro e o batismo de seus seguidores com o sangue desse touro. O mitraísmo possuía, além de outras coisas, refeições sacrificiais. Por causa da influência dessas religiões, elas pareciam algo esquisitas frente ao Cristianismo e suas demandas sobre o indivíduo. Quando muitos descobriram que os sacrifícios de sangue dessas religiões nada podiam fazer por eles, foram guiados pelo Espírito Santo a aceitar a realidade oferecida a eles no Cristianismo.

A consideração destes fatores permite concluir que o Império Romano criou um ambiente político favorável para a propagação do cristianismo nos primórdios da sua existência. Mesmo a Igreja da Idade Média não conseguiu se desfazer da glória da Roma imperial, acabando por perpetuar seus ideais num sistema eclesiástico.

B – Contribuições Intelectuais dos Gregos

Embora importante para a preparação para a vinda de Cristo, a contribuição romana foi ofuscada pelo ambiente intelectual criado pela mente grega. A cidade de Roma pode ser identificada com o ambiente político do cristianismo, mas foi Atenas que ajudou a criar um ambiente intelectual propício à propagação do Evangelho. Os romanos podem ter sido os conquistadores dos gregos, mas como indicou Horácio (65 a.C. – 8 d.C.) em sua poesia, os gregos conquistaram os romanos culturalmente. A mente prática dos romanos pode ter construído boas estradas, pontes fortes e belos edifícios, mas a grega erigiu os grandiosos edifícios da mente. Foi graças à influência grega que a cultura basicamente rural da antiga República deu lugar à cultura intelectual do Império.

1 – O Evangelho universal precisava de uma língua universal para poder exercer um impacto real sobre o mundo. Os homens têm procurado desde a Torre de Babel criar uma língua universal para que possam comunicar suas idéias uns aos outros sem problemas. Assim como o inglês no mundo moderno e o latim no mundo medieval erudito, o grego tornou-se no mundo antigo, ao tempo em que o Império Romano apareceu, a língua universal. Os romanos mais ilustres sabiam grego e latim.

O processo pelo qual o grego se tornou o vernáculo do mundo é interessante. O dialeto ático usado pelos atenienses começou a ser usado amplamente no quinto século antes de Cristo com a solidificação do Império Ateniense. Mesmo depois de o Império ser destruído ao final do quinto século, o dialeto de Atenas, que se originara da literatura grega clássica, tornou-se a língua que Alexandre, seus soldados e os comerciantes do mundo helenístico, entre 338 e 146 a.C., modificaram, enriqueceram e espalharam através do mundo mediterrâneo.

Foi através deste dialeto de homem comum, conhecido como Koinê e diferente do grego clássico, que os cristãos foram capazes de se comunicar com os povos do mundo antigo, usando-o inclusive para escrever o seu Novo Testamento, o mesmo fazendo os judeus de Alexandria para escrever seu Velho Testamento, a Septuaginta. Só recentemente se soube que o grego do Novo Testamento era o grego do homem comum dos dias de Jesus Cristo, o que o diferencia do grego dos clássicos. Um teólogo alemão chegou mesmo a dizer que o grego do Novo Testamento era um grego especial criado pelo Espírito Santo para a produção do Novo Testamento.

Adolf Deissman (1866-1937) descobriu, no final do século passado, que o grego do Novo Testamento era o mesmo usado pelo homem comum do primeiro século nos relatos deixados em papiros sobre seus negócios e em documentos fundamentais de sua vida diária. Desde então, eruditos como James Hope Moulton (1863-1917) e George Millgan (1860-1934) deram uma base científica à descoberta de Deissman ao estudarem comparativamente o vocabulário dos papiros e o do Novo Testamento. Esta descoberta deu origem ao surgimento de inúmeras traduções modernas. Se o Evangelho foi escrito na língua do povo comum à época de sua produção, raciocinam os tradutores, deve ser colocado então na língua do homem comum de nossos dias.

2– A filosofia grega preparou o caminho para a vinda do Cristianismo por ter levado à destruição as antigas religiões. Qualquer um que chegasse a conhecer seus princípios, fosse grego ou romano, logo perceberia que sua disciplina intelectual tornou a religião tão ininteligível que a acabava abandonando em favor da filosofia. A filosofia falhou, porém, na satisfação das necessidades espirituais do homem, que se via obrigado então a tornar-se um cético ou a procurar conforto nas religiões de mistério do Império Romano. À época do advento de Cristo, a filosofia descera do ponto elevado que alcançara com Platão para um sistema de pensamento individualista egoísta, como é o caso do Estoicismo ou do Epicurismo. Na maioria dos casos, a filosofia apenas aspirava por Deus, fazendo dEle uma abstração; jamais revelava um Deus pessoal de amor. Este fracasso da filosofia do tempo da vinda de Cristo tornou as mentes humanas prontas para entender uma apresentação mais espiritual da vida. Só o cristianismo pode preencher o vazio na vida espiritual de então.

A outra forma pela qual os grandes filósofos gregos ajudaram o cristianismo está ligada ao fato de chamarem a atenção dos gregos para uma realidade que transcendia o mundo temporal e visível em que viviam, Tanto Sócrates quanto Platão ensinaram, cinco séculos antes de Cristo, que este presente mundo temporal dos sentidos é apenas uma sombra do mundo real em que os ideais supremos são ao mesmo tempo abstrações intelectuais, o bem, a beleza e a verdade. Insistiam que a realidade não era temporal e material, mas espiritual e eterna. Sua busca da verdade jamais lhes conduziram a um Deus pessoal, mas evidenciou que o melhor que o homem deve fazer é buscar a Deus através do intelecto. O cristianismo ofereceu a este povo que aceitava a filosofia de Sócrates e Platão, a revelação histórica do Bem, da Beleza e da Verdade na pessoa do Deus-homem, Cristo. Os gregos aceitavam a imortalidade da alma, mas não tinham lugar para ressurreição do corpo.

A literatura e história grega evidenciam claramente que os gregos estavam preocupados com os problemas do certo e do errado e com o futuro eterno do homem. Ésquilo (525-456 a.C.) em sua peça Agamenon, aproxima-se da afirmação bíblica (“Estai certos de que o vosso pecado vos há de atingir” – Nm 32.23), ao propor que os problemas de Agamenon eram conseqüência de seu mau procedimento. Os gregos, entretanto, viam o pecado como um problema mecânico e contratual; não o viam como um problema pessoal que afrontava a Deus e prejudicava os homens.

À época da vinda de Cristo, os homens tinham compreendido finalmente a insuficiência da razão humana e do politeísmo. As filosofias individualistas de Epicuro (341-270 a.C.) e Zenão e as religiões de mistério testemunham do desejo humano por um relacionamento mais pessoal com Deus. O cristianismo, com sua oferta de um relacionamento pessoal, forneceu aquilo para o que a cultura grega, em função de sua própria inadequação, tinha produzido muitos corações famintos.

3 – O povo grego também contribuiu no campo da religião para preparar o mundo a aceitar a nova religião cristã quando ela surgisse. O advento da filosofia grega materialista no sexto século antes de Cristo destruiu a fé das pessoas no velho culto politeísta como descrito na Ilíada e na Odisséia de Homero. Embora os elementos deste culto se baseassem no culto mecânico oficial, logo perderiam a sua vitalidade.

O povo voltou, então, à filosofia. Esta também, entretanto, perdeu o seu vigor. A filosofia tornou-se um sistema de individualismo pragmático, dirigido pelos sucessores dos sofistas ou um sistema de individualismo subjetivista, como se apresentava nos escritos de Zenão, o estóico, e Epicuro. Lucrécio (I século a.C.), o expoente poético da filosofia epicurista, fundamentava seus ensinos de recusa ao sobrenatural numa metafísica materialista que considerava até o espírito do homem um tipo desenvolvido de átomo. O estoicismo ainda considerava o sobrenatural, mas seu deus era de tal modo identificado com a criação que acabava caindo num panteísmo. Embora ensinasse a paternidade de Deus e a fraternidade do homem e sustentasse um elevado código de ética, o estoicismo deixava que o homem, por um processo racional, praticasse sua própria obediência às leis naturais que deveriam ser descobertas apenas pela razão.

Desse modo, os sistemas gregos e romanos de filosofia e religião contribuíram negativamente para avinda do cristianismo, ao destruírem as velhas religiões politeístas e demonstrarem a incapacidade da razão para alcançar Deus. As religiões de mistério, para onde muitos foram, familiarizaram o povo a pensar em termos de pecado e redenção. Então, quando o cristianismo apareceu, as pessoas do Império Romano estavam bem receptivas a uma religião que parecia oferecer uma perspectiva espiritual para a vida.

02 – Contribuições Religiosas dos Judeus

As contribuições religiosas para a “plenitude do tempo” incluem tanto a dos gregos e romanos como a dos judeus. Todavia, por mais importantes que as contribuições de Atenas e Roma, como pano-de-fundo histórico, tenham sido par o cristianismo, as contribuições dos judeus formam a Herança do Cristianismo. O cristianismo pode ter se desenvolvido no sistema político de Roma e pode ter encontrado o ambiente intelectual criado pela mente grega, mas seu relacionamento com o Judaísmo foi muito mais íntimo. O Judaísmo pode ser considerado como o botão do qual a rosa do cristianismo abriu-se em flor.

Ao contrário dos gregos, os judeus não intentavam encontrar a Deus pelos processos da razão humana. Eles pressupunham Sua existência e lhe prestavam o culto que sentiam lhe dever. O povo judeu foi muito influenciado a estas atitudes pelo fato de que Deus o procurou e Se revelou a ele na história por Suas aparições a Abraão e a outros grandes líderes da raça. Jerusalém tornou-se o símbolo de uma preparação religiosa positiva para a vinda do cristianismo. A salvação viria, pois “dos judeus”, como Cristo diria à mulher no poço (Jo 4.22). Desta pequenina nação cativa, situada no caminho da Ásia, África e Europa, viria um Salvador. O judaísmo tornou-se o berço do cristianismo e, ao mesmo tempo, forneceu o abrigo inicial da nova religião.

A – Monoteísmo

O Judaísmo contrastava flagrantemente com a maioria das religiões pagãs, ao fundamentar-se num sólido monoteísmo espiritual. Nunca, depois da sua volta do cativeiro babilônico, os judeus caíram em idolatria. A mensagem de Deus para eles através de Moisés ligava-os ao único Deus verdadeiro de toda a terra. Os deuses dos pagãos eram apenas ídolos que os profetas judeus condenavam em termos muito claros. Este sublime monoteísmo foi espalhado por numerosas sinagogas localizadas em volta da área mediterrânea durante os três últimos séculos anteriores à vinda de Cristo.

B – Esperança Messiânica

Os judeus ofereceram ao mundo a esperança de um Messias que estabeleceria a justiça na Terra. Esta esperança messiânica estava em claro antagonismo com as aspirações nacionalistas pintadas por Horácio (65-68 a.C.) no poema em que descrevia um rei romano ideal que haveria de vir – o filho que nasceria a Augusto. A esperança de um Messias tinha sido popularizada no mundo romano a partir desta firme proclamação pelos judeus. Até mesmo os discípulos depois da morte e ressurreição de Cristo ainda esperavam por um reino messiânico sobre a terra (At 1.6). Certamente, os homens instruídos que viveram em Jerusalém na época imediatamente anterior ao nascimento de Cristo tiveram contato com esta esperança. A expectativa de muitos cristãos hoje em torno da vinda de Cristo ajuda-nos a compreender a atmosfera da expectação no mundo judeu acerca da vinda do Messias.

C – Sistema Ético

Na parte moral da lei judaica, o judaísmo também ofereceu ao mundo o mais puro sistema ético de então. O elevado padrão proposto nos Dez Mandamentos se chocava com os sistemas éticos prevalecentes e com as práticas por demais corruptas dos sistemas morais pelos quais se pautavam. Para os judeus, o pecado não era o fracasso externo, mecânico e contratual dos gregos e romanos, mas era uma violação da vontade de Deus, violação esta que se expressava num coração impuro e, mais ainda, em atos pecaminosos, externos e visíveis. Esta perspectiva moral e espiritual do Velho Testamento favoreceu uma doutrina de pecado e redenção que realmente resolvesse o problema do pecado. A salvação vinha de Deus e não seria encontrada em sistemas racionalistas de ética ou nas subjetivas religiões de mistério.

D – O Antigo Testamento

O povo judeu, ademais, preparou o caminho para a vinda do cristianismo ao legar à Igreja em formação um livro sagrado, o Velho Testamento. Mesmo um estudo superficial do Novo Testamento revela a profunda dívida de Cristo e dos apóstolos para com o Velho Testamento e sua reverência por ele como a palavra de Deus para o homem. Muitos gentios também o leram e se familiarizaram com os fundamentos da fé judaica. Este fato é indicado pelos relatos de vários prosélitos judeus. Muitos desses prosélitos foram capazes de passar do judaísmo ao cristianismo por causa do Velho Testamento, o livro sagrado da nova Igreja. Muitas religiões, o Islamismo por exemplo, confiam em seu fundador por causa do seu Livro sagrado, mas Cristo não deixou textos sagrados para a Igreja. Os livros do Velho Testamento e os do Novo Testamento, produzidos sob a inspiração do Espírito Santo, seriam a literatura viva da Igreja.

E – Filosofia da História

Os judeus tornaram possível uma filosofia da história por insistirem que a história tem significado. Eles se opuseram a toda e qualquer visão que deixasse a história sem significado, como uma série de círculos ou como um processo de evolução linear. Eles sustentavam uma visão linear e cataclísmica da história, na qual o Deus soberano, que criou a história, iria triunfar sobre a falha do homem na história para trazer uma era dourada.

F – A Sinagoga

Os judeus também forneceram uma instituição da qual muitos cristãos esqueceram a utilidade, no surgimento e desenvolvimento do cristianismo primitivo. Esta instituição era a sinagoga judia. Nascida da necessidade decorrente da ausência dos judeus do templo de Jerusalém durante o cativeiro babilônico, a sinagoga se tornou parte integrante da vida judaica. Através dela, os judeus e também muitos gentios se familiarizaram com uma forma superior de viver. Foi também o lugar em que Paulo primeiro pregou em todas as cidades por onde passou no itinerário de suas viagens missionárias. Foi ela a casa de pregação do cristianismo primitivo. Há algo de convincente na idéia de que o sistema de governo praticado na Igreja primitiva tenha sido apropriado de antecedentes judaicos na sinagoga. O judaísmo foi, pois, o paidagogos para conduzir os homens a Cristo (Gl 3.23-25).

Os assuntos que têm sido discutidos demonstram o quão beneficiado foi o cristianismo, tanto quanto à época como quanto à região, no período de sua formação. Em nenhum outro lugar na história do mundo antes da vinda de Cristo houve uma região tão grande sob uma mesma lei e um mesmo governo. O mundo mediterrâneo tinha seu centro cultural em Roma. Uma língua comum tornou possível levar o Evangelho à maioria das pessoas do Império numa língua comum a elas e ao pregador. A Palestina, o berço da nova religião, estava estrategicamente neste mundo. Paulo estava certo ao mostrar que o cristianismo “não se fez em qualquer canto” (At 26.26), porque a Palestina era um importante cruzamento que ligava os continentes da Ásia e da África com a Europa por via terrestre. Muitas das batalhas importantes da historiai antiga foram travadas por causa da posse desta estratégica região. Nunca nas épocas antiga e medieval, as condições para a propagação do cristianismo através do mundo mediterrâneo foram tão favoráveis como no período de sua formação e durante os seus três primeiros séculos de existência. Esta é também a opinião do principal erudito do mundo em missões.

Negativamente, através da contribuição do mundo grego e romano, e positivamente, através do judaísmo, o mundo foi preparado para a “plenitude dos tempos” quando Deus enviou Seu Filho para levar a redenção a uma humanidade partida pelas guerras e fatigada pelo pecado. É significativo que, de todas as religiões praticadas no Império Romano ao tempo do nascimento de Cristo, apenas o judaísmo e o cristianismo tenham conseguido sobreviver ao curso dinâmico da história humana.