
Este livro mostra todo o processo de construção da trindade cristã, desde os  primeiros momentos do cristianismo até o Concílio de Nicéia. Como o autor é um  judeu que queria entender como se deu essa área do Cristianismo que marcou  definitivamente a cisão do Judaísmo este livro pode ser considerado neutro no  ponto de vista religioso.
De Jesus a Cristo
 A divindade de Cristo foi afirmada no Concílio de Nicéia, em 325 d.C., e que a  igreja cristã ocidental defendia uma ruptura com a herança judaica.
De  fato, o imperador Constantino, que convocou o Concílio de Nicéia e se dizia  convertido ao cristianismo, ajudou a introduzir muitos dogmas antibíblicos na  Igreja, como a observância do domingo como dia sagrado (321 d.C.) em oposição ao  sábado bíblico (Êxodo 20:8-11). Mas a divindade de Jesus certamente não é um  desses dogmas e pode ser detectada mesmo no Antigo Testamento.
Textos  veterotestamentários como Miquéias 5:2, Isaías 9:6, sem contar a profecia das  2.300 tardes e manhãs de Daniel 8 e 9 e inúmeros outros textos messiânicos, não  só estabelecem a preexistência de Jesus, como reafirmam Sua divindade. 
A base bíblica da doutrina da Trindade e,  conseqüentemente, da divindade de Jesus, antecede ao Concílio de Nicéia. E faz  isso recorrendo aos escritos dos primeiros cristãos que viveram entre os séculos  II e III, isto é, imediatamente depois do período apostólico e antes do Concílio  de Nicéia. 
A lógica é simples: “Se o argumento  antitrinitário estiver certo, ou seja, se a Trindade é mesmo uma doutrina  forjada por Constantino, não encontraremos nesse período inicial nenhuma defesa  à idéia de um Deus triúno. Ao contrário, o ensinamento da época deverá ser bem  diferente, afirmando que Cristo é apenas um segundo ser gerado do Pai e o  Espírito uma emanação impessoal de ambos.”
Antes de citar os chamados  “Pais da Igreja”, faz-se necessário uma ressalva: “O proposito deste artigo não é  endossar indiscriminadamente toda a doutrina dos Pais da Igreja, mas verificar,  pelo seu testemunho, se a Trindade era crida na igreja primitiva ou se, como  dizem alguns, seria fruto apenas do Concílio de Nicéia.“
Uma rápida verificação no index geral das obras Ante-Nicene Fathers e  da Sources Chrétiennes, que formam a coleção de todos os escritores  cristãos mais antigos (inclusive os anteriores a Nicéia), nos mostra que, muito  antes do concílio, a crença na Trindade já havia sido sistematizada entre os  cristãos. Aliás, o próprio termo “Trindade” foi usado em 212 d.C. por  Tertuliano, ou seja, 113 anos antes de Nicéia! Falando da Igreja de Deus, ele  menciona o Espírito “no qual está a Trindade de uma Divindade: Pai, Filho e  Espírito Santo” (Tertuliano, Sobre a Modéstia, XXI).
“Inácio, o  segundo sucessor de Pedro como pastor em Antioquia, também acreditava na  doutrina da Trindade”. “Pelo que se sabe, foi martirizado no  reinado de Trajano, em 105 d.C. Nessa época de perseguição à Igreja, ele  escreveu uma epístola aos cristãos da Trália, dizendo-lhes que, a despeito do  sofrimento, continuassem ‘em íntima união com Jesus Cristo, o nosso Deus’  (Inácio, Epístola aos Tralianos, VII [recensão curta]). Em outro  manuscrito, onde uma versão mais longa é preservada, o mesmo autor adverte os  irmãos contra aqueles que ensinavam doutrinas contrárias à fé dos apóstolos.  Entre seus ensinos equivocados, estaria a idéia de que ‘o Espírito Santo não  existe’ e que ‘o Pai, o Filho e o Espírito Santo seriam a mesma pessoa’  (Ibidem [recensão longa]).
Justino, cognominado “o Mártir”, foi  outro que escreveu várias apologias em favor do Cristianismo e contra a  filosofia grega. Num de seus textos, escrito por volta de 160 d.C., ele diz: “Já  que somos considerados ateus, admitimos nosso ateísmo em relação a esses  [vários] tipos de deuses [do politeísmo]. Mas, no que diz respeito ao verdadeiro  Deus, o Pai da justiça e temperança ..., ao Filho, ... e ao Espírito Profético,  [saibam que] nós os adoramos e reverenciamos” (Justino, I Apologia,  VI).
Atenágoras, também respondendo à acusação de serem os cristãos chamados de ateus por não  aceitarem o politeísmo pagão, ele escreveu em 175 d.C.: “Ora, quem não ficaria  perplexo em ouvir chamar de ateus pessoas que pregam de Deus o Pai, de Deus o  Filho e do Espírito Santo e que declaram serem um no poder, mas distintos na  ordem?” (Atenágoras, Súplica pelos Cristãos, X). Continuando com  Atenágoras, temos esta elucidativa declaração: “Os cristãos reconhecem a Deus e  a Seu Logos. Eles também reconhecem o tipo de unicidade que o Filho tem com o  Pai e que tipo de comunhão o Pai tem com o Filho. Ademais, eles sabem o que é o  Espírito e que a unidade é [formada] destes três: o Espírito, o Filho e o Pai”  (Ibidem, XI). “Nós reconhecemos um Deus, um Filho e um Espírito Santo, os quais  são unidos na essência” (Ibidem, XXIII).
Hipólito (c. 205 d.C.),  autor do mais antigo comentário de Daniel de que dispomos em nosso tempo, disse  que “a Terra é movida por estes três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo”  (Hipólito: Fragmentos de Comentários, 10 [ANF, vol. 5, pág. 174]).  Noutra passagem, depois de citar a fórmula batismal em nome do Pai, do Filho e  do Espírito, ele demonstra que já no seu tempo havia os que negavam essa  doutrina, pois diz: “Qualquer um que omitir um destes três, falha em glorificar  a Deus de um modo perfeito. Pois é através desta triunidade que o Pai é  glorificado” (Hipólito, Contra Noeto, 14). 
Esses são apenas alguns exemplos de muitos que poderiam ter sido  citados. Orígenes, Cipriano, Firmiliano e Dionísio de Alexandria são outros  autores que também criam na Trindade muito antes da chegada de Constantino. Ao  contrário do que muitos pensam, o próprio imperador não tinha interesse algum em  ‘promulgar’ uma doutrina trinitária para a Igreja. Se este fosse o seu intento,  ele não precisaria convocar um concílio. Bastava repetir o ato de quatro anos  antes, quando promulgou o decreto dominical, e assinar um edito ordenando a  todos que adorassem ao Deus triúno. Se quisermos ser honestos com a verdade dos  fatos, devemos lembrar que Constantino nem possuía conhecimento bíblico  suficiente para se posicionar diante daquela controvérsia. Aliás, a carta por  ele enviada através do bispo Hósio de Córdova, dizia que o problema que estavam  discutindo acerca da natureza de Cristo era ‘uma questão sem proveito’ (uma  reprodução da carta de Constantino pode ser encontrada em Eusébio de Cesaréia,  Vida de Constantino, II, 64-72.)”.
Foram os bispos que o  convenceram a convocar o Concílio para resolver a questão. "Mas o que poucos sabem é que o partido de Alexandre, o partido trinitariano, era o  mais fraco em termos políticos. Foi um verdadeiro milagre que o texto de Nicéia  não favorecesse o arianismo. Tanto é que, embora os arianos tivessem sido  derrotados no Concílio, os partidários de Eusébio de Nicomédia empreenderam uma  verdadeira campanha, após Nicéia, para derrotar Atanásio e restaurar Ário ao  poder.”
O mais surpreendente, é que, protegido pelo  imperador, Ário começou aos poucos a reconquistar seu poder e a exercer  influência em assuntos políticos. Eusébio, por sua vez, convenceu Constantino a  enviar Atanásio para o desterro e a recolocar Ário no posto de líder da Igreja –  o que, de fato, quase aconteceu, se não fosse o falecimento de Ário na noite  anterior à da cerimônia de investidura, em 336 d.C. Assim, o plano era que o  imperador convocasse um novo Concílio e desse ganho de causa aos arianos. 
Sob tais circunstâncias, a fé trinitária parecia, se não oficialmente  renegada, praticamente condenada, principalmente depois que Constantino declarou  seu desejo de ser batizado por Eusébio, em um ritual antitrinitariano,  evidentemente. A chamada fé nicena só não chegou ao fim porque Constantino  acabou morrendo em 22 de maio de 337, poucos dias depois de ser  batizado.
“Portanto, vê-se como infundada a declaração de que Constantino  seria o pai da doutrina trinitariana usada para atrair o politeísmo para a  Igreja”, arremata Rodrigo. “Pelo contrário, Ário e Eusébio é que traziam uma  doutrina politeísta, pois apresentavam a Cristo como um ‘segundo’ deus, menor  que o Pai, mas igualmente divino e que se assemelhava muito ao chamado  ‘Demiurgo’, ou seja, um deus menor que, segundo o gnosticismo do Egito, fora  usado pelo deus maior para trazer o mundo à existência. Isto, sim, pode ser  classificado de politeísmo. Pena que muitos insistam em não entender!”
JESUS: HOMEM OU ANJO
A idéia  de Elaine Pagels, autora de O Evangelho Desconhecido de Tomé, segundo a  qual Marcos, Mateus e Lucas consideravam Jesus um ser humano. Mas basta uma  consulta a esses evangelhos para se perceber exatamente o contrário. (Lembre-se,  por exemplo, que quando Jesus Se apresenta a Tomé, este O chama de “meu Senhor e  meu Deus”, e nenhum dos discípulos repreende o colega pela aparente  “blasfêmia”.) Ademais, se os discípulos soubessem que Jesus Se tratava apenas de  um ser humano, teriam dado a vida por essa ilusão – a de que Jesus era de fato  Deus?
Uma coisa é certa: no fim das contas, ou se aceita Jesus como Deus  ou como lunático, uma vez que Ele mesmo reclamava para Si a divindade. Com base  na Bíblia, não existe outra possibilidade senão a de que “o Verbo era Deus”  (João 1:1).