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terça-feira, 22 de março de 2016

Apócrifos: Analisando as Evidências



O termo apócrifo geralmente se refere a livros polêmicos do Antigo Testamento que os protestantes rejeitam e os católicos romanos e as igrejas ortodoxas aceitam. A palavra apócrifo significa “escondido” ou “duvidoso”. Os que aceitam esses documentos preferem chamá-los “deuterocanônicos”, isto é: livros do “segundo cânon”.

A Posição Católica Romana

Católicos e protestantes concordam quanto à inspiração 27 livros do NT. Diferem em 11 obras de literatura do AT (7 livros e 4 partes de livros). Essas obras polêmicas causaram discórdias na Reforma e, em reação à sua rejeição pelos protestantes, foram "infalivelmente" declaradas parte do cânon inspirado das Escrituras em 1546 pelo Concílio de Trento.

O Concílio afirmou:

“O Sínodo [...] recebe e venera [...] todos os livros [incluindo os apócrifos] tanto do Antigo quanto do Novo Testamento - visto que um só Deus é o Autor de ambos [...] que foram ditados, ou pela própria palavra de Jesus ou pelo Espírito Santo [...] se alguém não aceitar com sagrados e canônicos os livros mencionados integralmente com todas as suas partes, como costumavam ser lidos na Igreja Católica [...] será anátema” (Schaff 2.81).

Outro documento de Trento diz:

“Mas se alguém não aceitar o que está nos livros como sagrados e canônicos, inteiros com todas as partes da Bíblia [...] e se consciente e deliberadamente condenar a tradição mencionada anteriormente, que seja anátema” (Denzinger, Sources, nº 784).

A mesma linguagem afirmando os apócrifos é repetida pelo Concílio Vaticano II. Os apócrifos que Roma aceita incluem 11 ou 12 livros, dependendo de Baruque 1 até 6 ser dividido em duas partes. Baruque 1 até 5 e a carta de Jeremias (Baruque 6). O deuterocânon apócrifos pelos protestantes exceto a Oração de Manassés e 1 e 2 Esdras (chamados 3 e 4 Esdras pelos católicos romanos; Esdras e Neemias eram chamados 1 e 2 Esdras pelos católicos).

Apesar do católico romano ter 11 obras de literatura a mais que a versão protestante, apenas 7 livros a mais, ou um total de 46, aparecem no índice (o AT judeu e o protestante têm 39). Como se vê na tabela seguinte, outras 4 peças de literatura estão incorporadas a Ester e Daniel.

Livros apócrifos 
Livros deuterocanônicos
Sabedoria de Salomão Livro da Sabedoria (c.30 a. C)
Eclesiástico (Siraque) Siraque (132 a. C)
Tobias (c. 200 a. C) Tobias
Judite (c. 200 a. C) Judite
1 Esdras (c. 150-100 a. C) 3 Esdras
1 Macabeus (c. 110 a. C) 1 Macabeus
2 Macabeus (c. 110-70 a. C) 2 Macabeus
Baruque (c. 150-50 a. C) Baruque capítulos 1-5
Carta de Jeremias Baruque 6 (c. 300-100 a. C)
2 Esdras (c. 100 d. C) 4 Esdras
Adição a Ester Ester 10.4-16.24
Oração de Azarias (c. 200-1 a.C) Daniel 3.24-90: “A canção dos três rapazes”
Susana (c. 200-1 a. C) Daniel 13
Bel e o dragão Daniel 14 (c. 100 a. C)
Oração (ou segunda Oração) de Manassés (c. 100 a. C) - -

Argumentos Católicos em favor dos Apócrifos

O cânon maior às vezes é denominado “cânon alexandrino”, em contraposição ao “cânon palestinense”, que não contém os apócrifos, porque supostamente eram parte da tradução grega do AT (a Septuaginta, ou LXX) preparada em Alexandria, Egito. As razões geralmente dadas à essa lista são.

O NT reflete o pensamento dos apócrifos, e até faz referência a eventos neles descritos (Hb 11.35 com 2 Mac 7.12).

O NT cita mais o AT grego com base na LXX, que continha os apócrifos. Isso dá aprovação tácita ao texto inteiro.

Alguns pais da igreja primitiva citaram e usaram os apócrifos como Escritura na adoração pública.

Esses pais da igreja, como Irineu, Tertuliano e Clemente de Alexandria aceitavam todos os apócrifos como canônicos.

Cenários de catacumbas cristãs primitivas retratam episódios dos apócrifos, mostrando-os como parte da vida religiosa cristã primitiva, o que, no mínimo, revela grande apreço pelos apócrifos.

Manuscritos primitivos importantes (Álef, A e B ) intercalam os apócrifos entre os livros do AT como parte do AT greco-judaico.

Concílios da igreja primitiva aceitaram os apócrifos: Roma (382), Hipona (393) e Cartago (397).

A Igreja Ortodoxa aceita os apócrifos. Sua aceitação demonstra que se trata de uma crença cristã comum, não restrita aos católicos romanos.

A Igreja Católica Romana considerou os apócrifos como canônicos no Concílio de Trento (1546), de acordo com os concílios anteriores já mencionados e com o Concílio de Florença, pouco antes da Reforma (1442).

Os livros apócrifos continuaram sendo incluídos em versões bíblicas protestantes até o século XIX. Isso indica que mesmo os protestantes aceitavam os apócrifos até recentemente.

Livros apócrifos com texto em hebraico foram encontrados entre os canônicos do AT na comunidade do mar Morto em Qumran, logo faziam parte do cânon hebraico.

Resposta aos Argumentos Católicos

(1) O NT e os apócrifos. Pode haver no NT alusões aos apócrifos, mas não há nenhuma citação definitiva de qualquer livro apócrifo aceito pela Igreja Católica Romana. Há alusões aos livros pseudepigráficos (falsas escrituras) que são rejeitadas por católicos romanos e protestantes, tais como Ascensão de Moisés (Jd 9) e o Livro de Enoque (Jd 14,15). Também há citações de poetas e filósofos pagãos (At 17.28; 1 Co 15.33; Tt 1.12). Nenhuma dessas fontes é citada como Escritura, nem possui autoridade. O Novo Testamento simplesmente faz referência a verdades contidas nesses livros que, por outro lado, podem conter (e realmente contêm) erros. Teólogos católicos romanos concordam com essa avaliação. O NT jamais se refere a qualquer documento fora do cânon como autorizado.

(2) A LXX e os apócrifos. O fato de o NT citar várias vezes outros livros do AT grego não prova de forma alguma que os livros deuterocanônicos que ele contém sejam inspirados. Não é sequer um fato comprovado que a LXX do século I contivesse os apócrifos. Os primeiros manuscritos gregos que os incluem datam do século IV d.C.

Mesmo que esses escritos estivessem na LXX nos tempos apostólicos, Jesus e os apóstolos jamais os citaram, apesar de supostamente estarem incluídos na mesma versão do AT geralmente citada. Até as notas da New American Bible [Nova Bíblia Americana, NAB] admitem de forma reveladora que os apócrifos são "livros religiosos usados por judeus e cristãos que não foram incluídos na coleção de escritos inspirados". Pelo contrário, “...foram introduzidos bem mais tarde na coleção da Bíblia. Os católicos os chamam livros 'deuterocanônicos'” (NAB, p. 413).

(3) Usados pelos pais da igreja. Citações dos pais da igreja para apoiar a canonicidade dos apócrifos são seletivas e enganadoras. Alguns pais pareciam aceitar sua inspiração; outros os usavam para propósitos devocionais e homiléticos (pregação), mas não os aceitavam como canônicos. Um especialista nos apócrifos, Roger Beckwith, observa:

“Quando examinamos as passagens nos primeiros pais que supostamente deveriam estabelecer a canonicidade dos apócrifos, descobrimos que algumas delas são tiradas do grego alternativo de Esdras (1 Esdras) ou de adições ou apêndices de Daniel, Jeremias ou algum outro livro canônico, e que [...] não são muito relevantes; descobrimos ainda que, dentre as que são, muitas não dão qualquer indício de que o livro seja considerado Escritura” (The Old Testament, cânon 387)

Epístola de Barnabé 6.7 e Tertuliano, Contra Marcião 3.22.5, não citam Sabedoria 2.12, e sim Isaías 3.10, e Tertuliano, De anima [Da alma] 15, não cita Sabedoria 1.6, e sim Salmos 139.23, como a comparação entre as passagens demonstra. Da mesma forma, Justino Mártir, Diálogo com Trifão 129, claramente não cita Sabedoria , e sim Provérbios 8.21-25. Chamar Provérbios de "Sabedoria" está de acordo com a nomenclatura comum dos pais [ibid., p. 427].

Geralmente, nas referências, os pais não estavam afirmando a autoridade divina de nenhum dos onze [livros] canonizados "infalivelmente" por Trento. Citavam, apenas, uma obra bem conhecida da literatura hebraica ou um escrito devocional ao qual não davam nenhuma probalidade de inspiração do Espírito Santo.

(4) Os pais e os apócrifos. Alguns indivíduos da igreja primitiva valorizavam muito os apócrifos; outros se opunham com veemência a eles. O comentário de J.D.N.Kelly de que "para a grande maioria [dos pais] [...] as escrituras deuterocanônicas se classificavam como Escritura no sentido completo" está fora de sintonia com os fatos. Atanásio, Cirilo de Jerusalém, Orígenes e o grande teólogo católico romano e tradutor da Vulgata , Jerônimo, todos se opunham à inclusão dos apócrifos. No século II d.C, a versão síriaca (Peshita) não continha os apócrifos (Introdução bíblica, cap. 7 a 9).

(5) Temas apócrifos na arte das catacumbas. Muitos teólogos católicos também admitem que as cenas das catacumbas não provam a canonicidade dos livros cujos eventos retratam. Tais cenas indicam o significado religioso que os eventos retratados tinham para os cristãos primitivos. No máximo, demonstram respeito pelos livros que continham esses eventos, não o reconhecimento de que fossem inspirados.

(6) Livros nos manuscritos gregos. Nenhum dos grandes manuscritos gregos (Álef, A e B ) contém todos os livros apócrifos. Tobias, Judite, Sabedoria e Siraque (i.e, Eclesiástico ) são encontrados em todos eles, e os manuscritos mais antigos (B e Vaticano) excluem totalmente Macabeus. Mas os católicos apelam a esse manuscrito para apoiar sua posição. Além disso, nenhum manuscrito grego contém a mesma lista de apócrifos aceita por Trento (1545-63; Becwith, p. 194,382-3).

(7) Aceitação pelos primeiros concílios. Esses foram concílios locais e não eram impostos à igreja toda. Concílios locais geralmente erravam nas suas decisões e mais tarde eram anulados pela igreja universal. Alguns apologistas católicos argumentam que, mesmo que um concílio que não seja ecumênico, seus resultados podem ser impostos se forem confirmados. Mas reconhecem que não há maneira de saber quais afirmações dos papas são infalíveis. Na verdade, admitem que outras afirmações dos papas são até heréticas, tais como a heresia monelita do papa Honório I (m.638).

Também é importante lembrar que esses livros não são parte das Escrituras cristãs (período do NT). Encontram-se, assim, sob a jurisdição da comunidade judaica que os compusera e que, séculos antes, os rejeitara como parte do cânon.

Os livros aceitos por esses concílios cristãos podem até não ser os mesmos em cada caso. Portanto, não podem ser usados como prova do cânon exato mais tarde proclamado "infalível" pela Igreja Católica em 1546. Os Concílios locais de Hipona e Cartago no Norte da África foram influenciados por Agostinho, a voz mais importante da antigüidade, que aceitava os livros apócrifos canonizados mais tarde pelo Concílio de Trento. Mas a posição de Agostinho é infundada: 1) O próprio Agostinho reconheceu que os judeus não aceitaram esses livros como parte do cânon ( A cidade de Deus , 19.36-38). 2) Sobre os livros dos Macabeus, Agostinho disse: "...tidos por canônicos pela igreja e por apócrifos por judeus. A igreja assim pensa por causa dos terríveis e admiráveis sofrimentos desses mártires..."(Agostinho, 18.36). Nesse caso, O livro dos mártires , de Foxe, deveria estar no cânon. 3) Agostinho era incoerente, já que rejeitou livros que não foram escritos por profetas, mas aceitou um livro que parece negar ser profético (1 Macabeus 9.27). 4) A aceitação errada dos apócrifos por Agostinho parece estar ligada a sua crença na inspiração da LXX, cujos manuscritos gregos mais recentes os continham. Mais tarde Agostinho reconheceu a superioridade do texto hebraico de Jerônimo comparado ao texto grego da LXX. Isso deveria tê-lo levado a aceitar a superioridade do cânon hebraico de Jerônimo também. Jerônimo rejeitava completamente os apócrifos.

O Concílio de Roma (392) que aceitou os livros apócrifos não incluiu os mesmos livros aceitos por Hipona e Cartago. Ele não inclui Baruque, apenas seis, não sete, dos livros apócrifos declarados canônicos mais tarde. Até Trento o descreve como livro separado (Denzinger, nº 84).

(8) Aceitação pela Igreja Ortodoxa. A igreja grega nem sempre aceitou os apócrifos e sua posição atual não é inequívoca. Nos Sínodos de Constantinopla (1638), Jafa (1642) e Jerusalém (1672) esses livros foram declarados canônicos. Mesmo até 1839, no entanto, seu Catecismo maior omitia expressamente os apócrifos porque não existiam na Bíblia hebraica.

(9) Aceitação nos Concílios de Florença e Trento. No Concílio de Trento (1546) a proclamação infalível foi feita aceitando os apócrifos como parte da Palavra inspirada de Deus. Alguns teólogos católicos afirmam que o Concílio de Florença, anterior a Trento (1442) fez a mesma declaração. Mas esse concílio não afirmou nenhuma infalibilidade, e a decisão do concílio também não tem nenhuma base real na história judaixa, no NT ou na história da igreja primitiva. Infelizmente, a decisão de Trento veio num milênio e meio depois de os livros serem escritos e foi uma polêmica óbvia contra o protestantismo. O Concílio de Florença proclamou que os apócrifos eram inspirados para apoiar a doutrina do purgatório que havia surgido. Mas as manifestações dessa crença na venda de indulgências chegaram ao ponto máximo na época de Martinho Lutero, e a proclamação de Trento sobre os apócrifos era uma contradição clara ao ensino de Lutero. A adição infalível oficial dos livros que apóiam orações pelos mortos é muito suspeita, chegando apenas alguns anos depois de Lutero protestar contra essa doutrina. Ela tem toda a aparência de uma tentativa de dar apoio "infalível" para doutrinas que não têm verdadeira base bíblica.

(10) Livros apócrifos nas versões protestantes. Os livros apócrifos apareceram em versões bíblicas protestantes antes do Concílio de Trento e geralmente eram colocados numa seção separada porque não eram considerados de igual autoridade. Apesar de anglicanos e alguns outros grupos não-católicos terem sempre dado muita importância ao valor inspirativo e histórico dos apócrifos, nunca os consideraram de origem divina e autoridade igual a das Escrituras. Até teólogos católicos durante o período da Reforma distinguiam entre o deuterocânon e o cânon. O cardeal Ximenes fez essa distinção na sua imponente Bíblia, a Poliglota complutense (1514-1517) às vésperas da Reforma. O cardeal Cajetano, que depois se opôs a Lutero em Ausburgo, em 1518, publicou, depois da Reforma ter começado, o Comentário sobre todos os livros históricos autênticos do Antigo Testamento (1532), que não continha os apócrifos. Lutero falou contra os apócrifos em 1543, incluindo tais livros no fim da sua Bíblia (Metzger, p.181ss.).

(11) Livros apócrifos em Qumran. A descoberta dos rolos do mar Morto em Qumran não incluía apenas a Bíblia da comunidade (o AT) mas também sua biblioteca, com fragmentos de centenas de livros. Entre eles se achavam alguns livros apócrifos e apenas livros canônicos serem encontrados em pergaminhos e escritos especiais indica que os apócrifos não eram considerados canônicos pela comunidade de Qumeran. Menahem Mansur alista os seguintes fragmentos dos apócrifos e dos livros pseudepígrafos : Tobias , em hebraico e aramaico; Enoque , em aramaico;Jubileus , em hebraico; Testamento de Levi e Naftali , em aramaico; literatura apócrifa de Daniel , em hebraico e aramaico; e Salmos de Josué (Mansur, p.203). O especialista em manuscritos do mar Morto, Millar Burroughs, concluiu: "Não há motivo para acreditar que algumas dessas obras fosse venerada como Escritura Sagrada" (More light on the Dead Sea Scrolls p. 178).

No máximo, tudo o que os argumentos usados em favor da canonicidade dos livros apócrifos provam é que vários livros receberam níveis variados de aceitação por pessoas diferentes na igreja cristã, geralmente não atingindo a confirmação de sua canonicidade. Só depois de Agostinho e dos concílios locais que ele dominou declararem-nos inspirados é que começaram a ser usados e, por fim, receberam aceitação "infalível" da Igreja Católica Romana em Trento. Isso ainda não atinge o tipo de reconhecimento inicial, contínuo e total entre as igrejas cristãs dos livros canônicos do AT protestante e da Torá judaica (que exclui os apócrifos). Os verdadeiros livros canônicos foram recebidos imediatamente pelo povo de Deus no cânon crescente das Escrituras (Introdução bíblica, cap. 8). Qualquer debate subseqüente foi travado pelos que não estiveram numa posição, assim como sua audiência imediata, de saber se eram de um apóstolo ou profeta autorizado. Eles já estavam no cânon; algumas pessoas em gerações posteriores questionaram se deviam estar ali. Eventualmente, todos os antilegomena (livros questionados mais tarde por algumas pessoas) foram retidos no cânon. Isso não aconteceu com os apócrifos, pois os protestantes rejeitaram todos eles e até os católicos rejeitaram 3 Esdras , 4 Esdras e A oração de Manassés .

Argumentos a favor do cânon protestante

A evidência indica que o cânon protestante, que consiste em 39 livros da Bíblia hebraica e exclui os apócrifos, é o verdadeiro cânon. A única diferença entre o cânon protestante e o palestino está na sua ordem. A Bíblia tem 24 livros. Combinados em uma só estão 1 e 2 Samuel, bem como 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias (o que reduz o número em quatro). Os 12 profetas menores são contados como um único livro (reduzindo o número em 11). Os judeus palestinos representavam a ortodoxia judaica. Portanto, seu cânon era reconhecido por ortodoxo. Foi o cânon de Jesus ( Introdução bíblica , cap. 4), Josefo e Jerônimo. Foi o cânon de muitos pais da igreja primitiva, entre eles Orígenes, Cirilo de Jerusalém e Atanásio.

Os argumentos que apoiam o cânon protestante podem ser divididos em dois grupos: históricos e doutrinários.

1. Argumentos históricos.

a) Teste da canonicidade. Ao contrário do argumento católico com base no uso cristão, o verdadeiro teste da canonicidade é a característica profética. Deus determinou quais livros estariam na Bíblia ao dar sua mensagem a um profeta. Então apenas livros escritos por um profeta ou porta-voz credenciado por Deus são inspirados ou pertencem ao cânon das Escrituras.

É claro que, apesar de Deus ter determinado a canonicidade desta maneira, o povo de Deus teve de descobrirquais desses livros eram proféticos. O povo de Deus a quem o profeta escreveu sabia que os profetas satisfaziam os testes bíblicos para serem representantes de Deus, e eles autenticaram ao aceitar os livros como vindos de Deus. Os livros de Moisés foram aceitos imediatamente e guardados num lugar sagrado (Dt 31.26). O livro de Josué foi aceito imediatamente e preservado com a Lei de Moisés (v. Js 24.26). Samuel foi acrescentado à coleção (v. 1 Sm 10.25). Daniel já tinha uma cópia do seu contemporâneo Jeremias (Dn 9.2) e da Lei (Dn 9.11,13). Apesar da mensagem de Jeremias ter sido rejeitada por grande parte da sua geração, o remanescente deve ter aceitado e espalhado rapidamente sua obra. Paulo encorajou as igrejas a fazer circular suas epístolas inspiradas (v. Cl 4.16). Pedro possuía uma coleção das obras de Paulo, igualando-as ao Antigo Testamento como "Escritura" (2 Pd 3.15,16).

Havia várias maneiras de contemporâneos confirmarem se alguém era profeta de Deus. Alguns foram confirmados de forma sobrenatural (v. Êx 3.4; At 2.22; 2 Co 12.12; Hb 2.3,4). Às vezes isso acontecia por meio da confirmação imediata da autoridade sobre a natureza ou da precisão da profecia preditiva. Na verdade, falsos profetas eram eliminados se suas previsões não se realizassem (Dt 18.20-22). Supostas revelações que contradiziam verdades reveladas anteriormente também eram rejeitadas (cf. Dt 13.1-3).Evidências de que os contemporâneos de cada profeta autenticaram e acrescentaram seus livros ao cânon crescente vêm das citações de obras posteriores. As obras de Moisés são citadas em todo o AT, começando com seu sucessor imediato Josué (Js 1.7; 1 Rs 2.3; 2 Rs 14.6; 2 Cr 17.9; Ed 6.18; Ne 13.3; Jr 8.8; Ml 4.4). Profetas posteriores citam os anteriores (e.g., Jr 26.18; Ez 14.14,20; Dn 9.2; Jn 2.2-9; Mq 4.1-3). No NT, Paulo cita Lucas (1 Tm 5.18); Pedro reconhece as epístolas de Paulo (2 Pd 3.15,16), e Judas (4-12) cita 2 Pedro. O Apocalipse está cheio de imagens e idéias de Escrituras anteriores, especialmente Daniel (v., e.g., Ap 13).

Todo o AT judaico/protestante foi considerado profético. Moisés, que escreveu os cinco primeiros livros, foi um profeta (Dt 18.15). O restante dos livros do AT foi conhecido durante séculos pela designação de "Profetas"(Mt 5.17; Lc 24.27). Posteriormente esses livros foram divididos em "Profetas" e "Escritos". Alguns acreditam que essa divisão foi baseada no fato do autor ser um profeta por ofício ou por dom. Outros acreditam que a separação foi estabelecida para uso tópico em festivais judaicos, ou que os livros foram colocados em seqüência cronológica, por ordem de tamanho decrescente ( Introdução bíblica , cap. 7). Seja qual for a razão, é evidente que a maneira original (cf. 7.12) e contínua de referir-se ao AT como um todo até a época de Cristo era a divisão dupla: "a Lei e os Profetas". Os "apóstolos e profetas"(Ef 3.5) compunham o NT. Então, toda a Bíblia é um livro profético, incluindo o último livro (e.g., Ap 20); isso não se aplica aos apócrifos.

b) Profecia não-autenticada. Há forte evidência de que os livros apócrifos não são proféticos, e já que a profecia é o teste da canonicidade, só esse fato os elimina do cânon. Nenhum livro apócrifo afirma ser escrito por um profeta. Na verdade, o livro de Macabeus afirma não ser profético (1 Macabeus 9.27). E não há confirmação sobrenatural de qualquer um dos escritores dos livros apócrifos, como há para os profetas que escreveram livros canônicos. Não há profecia que preveja o futuro nos apócrifos, como há em alguns livros canônicos (e.g., Is 53; Dn 9; Mq 5.2). Não há nova verdade messiânica nos apócrifos. Até a comunidade judaica, a quem os livros pertenciam, reconheceu que os dons proféticos haviam cessado em Israel antes de os apócrifos serem escritos (v. citações anteriores). Os livros apócrifos jamais foram alistados na Bíblia judaica com os profetas ou qualquer outra seção. Os livros apócrifos não são citados nenhuma vez com autoridade por nenhum livro profético escrito depois deles. Levando em conta tudo isso, temos evidências mais que suficientes de que os apócrifos não eram proféticos e, portanto, não deveriam ser parte do cânon das Escrituras.

c) Rejeição judaica. Além das evidências da característica profética apontarem apenas para os livros do AT judaico e protestante, há uma rejeição contínua dos apócrifos como cânon por mestres judeus e cristãos.

Filo, um mestre judeu alexandrino (20 a.C.- 40 d.C.), citava o AT prolificamente, utilizando quase todos os livros canônicos, mas nunca citou os apócrifos como inspirados.

Josefo (30-100 d.C.), um historiador judeu, exclui explicitamente os apócrifos, numerando os livros do AT em 22 (= 39 livros no Antigo Testamento protestante). Ele também nunca citou um livro apócrifo como Escritura, apesar de conhecê-los bem. Em Contra Ápion (1.8), ele escreveu:

"Pois não temos uma multidão incontável de livros entre nós, discordando dos outros e contradizendo uns aos outros [como os gregos têm], mas apenas 22 livros, cinco pertencem a Moisés, contêm sua lei e as tradições da origem da humanidade até a morte dele. Esse intervalo de tempo foi pouco menor que três mil anos; mas quanto ao tempo da morte de Moisés até o reinado de Artaxerxes, rei da Pérsia, que reinou em Xerxes, os profetas , que vieram depois de Moisés, escreveram o que foi feito nas respectivas épocas em treze livros . Os outros quatro livros contêm hinos a Deus e preceitos para a conduta humana" (Josefo, 1.8, grifo do autor).

Esses correspondem exatamente ao AT judaico e protestante, que exclui os apócrifos.

Os mestres judeus reconheceram que sua linhagem profética terminou no séc.VI a.C. Mas, como até os católicos [romanos] reconhecem, todos os livros apócrifos foram escritos depois dessa época. Josefo escreveu: "De Artaxerxes até nossa época tudo foi registrado, mas não foi considerado digno do mesmo reconhecimento do que o que o precedeu, porque a sucessão exata dos profetas cessou" (Josefo). Outras afirmações rabínicas sobre o término da profecia apóiam esse argumento (v. Becwith, p. 370). O Seder olam rabbah 30 declara: "Até então [a vinda de Alexandre, o Grande] os profetas profetizavam por meio do Espírito Santo. Daí em diante: 'Incline seu ouvido e ouça as palavras dos sábios'". Baba batra 12 b declara: "Desde a época em que o templo foi destruído, a profecia foi tirada dos profetas e dada aos sábios". O rabino Samuel bar Inia disse: "O segundo Templo não tinha cinco coisas que o primeiro Templo possuía: a saber, o fogo, a arca, o Urim e o Tumim, o óleo da unção e o Espírito Santo [da profecia]". Então, os mestres judeus (rabinos) reconheceram que o período de tempo durante o qual os apócrifos foram escritos não foi um período em que Deus estava transmitindo escrituras inspiradas.

Jesus e os autores do Novo Testamento nunca citaram os apócrifos como Escritura, apesar de estarem cientes dessas obras e fazerem alusão a elas ocasionalmente (e.g., Hb 11.35 pode fazer alusão a 2 Macabeus 7,12, ou pode fazer uma referência a 1 Rs 17.22). Mas centenas de citações no NT mencionam o cânon do Antigo Testamento. A autoridade com que foram citadas indica que os autores do NT as consideravam parte da "Lei e dos Profetas"[i.e, o AT inteiro], que era considerada Palavra de Deus inspirada e infalível (Mt 5.17,18; cf. Jo 10.35). Jesus citou partes de todas as divisões da "Lei" e do "Profetas" do AT, que ele denominava de "todas as Escrituras"(Lc 24.27).

Os eruditos judeus em Jâmia (c. 90 d.C.) não aceitaram os apócrifos como parte do cânon judaico divinamente inspirado (v. Beckwith, p. 276-7). Já que o NT afirma explicitamente que a Israel foram confiadas as "palavras de Deus" e que a nação fora destinatária das alianças e da Lei (Rm 3.2), os judeus foram considerados guardiões dos limites do próprio cânon. Como tal, sempre rejeitavam os apócrifos.

d) A rejeição dos concílios da igreja primitiva. Nenhuma lista canônica ou concílio da igreja cristã considerou os apócrifos inspirados durante os quase quatro primeiros séculos. Isso é importante, já que todas as listas disponíveis e a maioria dos mestres desse período omitem os apócrifos. Os primeiros concílios a aceitar os apócrifos eram apenas locais, sem força ecumênica. A alegação católica de que o Concílio de Roma (392), apesar de não ser um concílio ecumênico, tinha força ecumênica porque o papa Dâmaso (304-394) o ratificou é sem fundamento. É uma alegação forçada, que supõe que Dâmaso era um papa com autoridade infalível. E até mesmo os católicos reconhecem que esse concílio não era um grupo ecumênico. Nem todos os teólogos católicos concordam que tais afirmações dos papas são infalíveis. Não há listas infalíveis de afirmações infalíveis dos Papas. Nem há um critério universalmente aprovado para desenvolver tais listas. No máximo, apelar ao papa para tornar infalível a afirmação de um concílio local é uma faca de dois gumes. Mesmo teólogos católicos admitem que alguns papas ensinaram erros e foram até heréticos.

e) Rejeição por parte dos primeiros pais da igreja. Alguns dos primeiros pais da igreja declararam-se contrários aos [livros] apócrifos. Entre esses figuravam Orígenes, Cirilo de Jerusalém, Atanásio e o grande tradutor católico das Escrituras, Jerônimo.

f) Rejeição por Jerônimo. Jerônimo (340-420), o grande teólogo bíblico do período medieval e tradutor da Vulgatalatina, rejeitou explicitamente os apócrifos como parte do cânon. Ele disse que a igreja os lê "para exemplo e instrução de costumes", mas não "os aplica para estabelecer nenhuma doutrina"(Prefácio do Livro de Salomão daVulgata , citado em Beckwith, p. 343). Na verdade, ele criticou a aceitação injustificada desses livros por Agostinho. A princípio, Jerônimo até recusou-se a traduzir os apócrifos para o latim, mas depois fez uma tradução rápida de alguns livros. Depois de descrever os livros exatos do AT judaico [e protestante], Jerônimo conclui:

"E então no total há 22 livros da Lei antiga [conforme as letras do alfabeto judaico], isto é, 5 de Moisés, 8 dos Profetas e 9 hagiógrafos. Apesar de alguns incluírem [...] Rute e Lamentações no hagiógrafo, e acharem que esses livros devem ser contados (separadamente) e que há então 24 livros da antiga Lei, aos quais Apocalipse de João representa por meio do número de 24 anciâos [...] Esse prólogo pode servir perfeitamente como elmo (i.e., equipado com elmo, contra atacantes) de introdução a todos os livros bíblicos que traduzimos do hebraico para o latim, para que saibamos que os que não estão incluídos nesses devem ser incluídos nos apócrifos " (ibid., grifo do autor)

No prefácio de Daniel, Jerônimo rejeitou claramente as adições apócrifas a Daniel ( Bel e o Dragão e Susana ) e defendeu apenas a canonicidade dos livros encontrados na Bíblia hebraica, escrevendo:

“As histórias de Susana e de Bel e o Dragão não estão contidas no hebraico [...] Por isso, quando traduzia Daniel muitos anos atrás, anotei essas visões com um símbolo crítico, demonstrando que não estavam incluídas no hebraico [...] Afinal, Orígenes, Eusébio e Apolinário e outros clérigos e mestres distintos da Grécia reconhecem que, como eu disse, essas visões não se encontram no hebraico, e portanto não são obrigados a refutar Porfírio quanto a essas porções que não exibem autoridade de Escrituras Sagradas” (ibid., grifo do autor).

A sugestão de que Jerônimo realmente favorecia os apócrifos, mas só estava argumentando o que os judeus os rejeitavam, é infundada. Ele disse claramente na citação acima que: " não exibem autoridade de Escrituras Sagradas ", e jamais retirou sua rejeição dos apócrifos. Ele afirmou na obra Contra Rufino , 33, que havia " seguido o julgamento das igrejas " nesse assunto. E sua afirmação: " Não estava seguindo minhas convicções " parece referir-se às " afirmações que eles [os inimigos do Cristianismo] estão acostumados a fazer contra nós ". De qualquer forma, ele não retirou em lugar algum suas afirmações contra os apócrifos. Finalmente, o fato de que Jerônimo tenha citado os livros apócrifos não é prova de que os aceitava. Ele afirmou que a igreja os lê "para exemplo e instrução de costumes" mas não " os aplica para estabelecer qualquer doutrina ".

g) A Rejeição dos teólogos. Até teólogos católicos romanos notáveis durante o período da Reforma rejeitaram os apócrifos, tal como o cardeal Cajetano, que se opôs a Lutero. Como já foi citado, ele escreveu o livro "Comentário sobre todos os livros históricos autênticos do Antigo Testamento" (1532), que excluía os apócrifos. Luteranos e anglicanos usam-nos apenas para assuntos éticos e devocionais, mas não os consideram oficiais em questões de fé. Igrejas Reformadas seguiram A Confissão de Fé de Westminster (1647), que afirma:

“Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do Cânon da Escritura; não são, portanto, de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como escritos humanos” (Da Sagrada Escritura, 1.III)

Em resumo, a igreja cristã (incluindo anglicanos, luteranos e reformados) rejeitou os livros deuterocanônicos como parte do cãnon. Eles fazem isto porque lhes falta o fator determinante primário da canonicidade: os livros apócrifos não têm evidência de que foram escritos por profetas credenciados por Deus. Outra evidência é encontrada no fato de que os livros apócrifos jamais foram citados como autoridade nas Escrituras do NT, nem foram parte do cânon judaico, e a igreja primitiva nunca os aceitou como inspirados.

h) O erro de Trento. O pronunciamento infalível de que os livros apócrifos são parte da Palavra inspirada de Deus revela quão falível uma afirmação supostamente infalível pode ser. Esse artigo demonstrou que a afirmação é historicamente infundada. Foi um exagero polêmico e uma decisão arbitrária envolvendo uma exclusão dogmática.

O pronunciamento [do Concílio] de Trento sobre os apócrifos foi parte de uma ação polêmica contra Lutero. Seus defensores consideravam que a aceitação dos apócrifos como inspirados era necessária para justificar ensinamentos que Lutero havia atacado, principalmente as orações pelos mortos. O texto de 2 Macabeus 12.46 diz: "... mandou fazer o sacrifício expiatório pelos falecidos, a fim de que fossem absolvidos do seu pecado"(CNBB). Já que havia uma obrigação de aceitar certos livros, as decisões foram um tanto arbitrárias. Trento aceitou 2 Macabeus, que apontava as orações pelos mortos e rejeitou 2 Esdras (4 Esdras pela avaliação católica), que tinha uma afirmação que não apoiava a prática (cf. 7.105).

A própria história dessa seção de 2 (4) Esdras revela a arbitrariedade da decisão de Trento. Ele foi escrito em aramaico por um judeu desconhecido (c. 100 d.C.) e circulou nas antigas versões latinas (c. 200). A Vulgata o incluiu como apêndice do NT (c.400). Desapareceu da Bíblia até que protestantes, começando por Johann Haug (1726-1752), começaram a imprimi-lo nos apócrifos com base nos textos aramaicos, já que não constava nos manuscritos em latim da época. Mas, em 1874 uma longa seção em latim (70 versículos do capítulo 7) foi encontrada por Robert Bently numa biblioteca em Amiens, França. Bruce Metzger comentou:

“É provável que a seção perdida tenha sido deliberadamente arrancada por um ancestral da maioria dos manuscritos latinos sobreviventes, por razões dogmáticas, pois a passagem contém uma negação enfática do valor das orações pelos mortos”.

Alguns católicos argumentam que essa exclusão não é arbitrária porque essa obra não fazia parte das listas deuterocanônicas antigas, foi escrita depois da época de Jesus Cristo, foi relegada a uma posição inferior naVulgata e só foi incluída nos apócrifos por protestantes no século XVII. Por outro lado, 2 (4) Esdras fez parte de listas antigas de livros não considerados completamente canônicos. Segundo o critério católico, a data da obra não diz respeito à possibilidade de ter ela constado dos apócrifos judaicos, mas com o fato de ter sito usada por cristãos primitivos; ela foi usada, juntamente com outros livros apócrifos. Não deveria ter sido rejeitada porque tinha posição inferior na Vulgata . Jerônimo relegou todas essas obras a uma posição inferior. Ela não reapareceu no latim até o século XVIII porque aparentemente algum monge católico arrancou a seção de orações pelos mortos.

Orações pelos mortos eram preocupação constante dos clérigos de Trento, que convocaram seu concílio apenas 29 anos depois de Lutero ter publicado suas teses contra a venda de indulgências. As doutrinas de indulgências, purgatório e orações pelos mortos permanecem ou caem juntas.

2. Argumentos doutrinários.

a) Canonicidade. As posições falsas e verdadeiras que determinam a canonicidade podem ser comparadas da seguinte forma ( Introdução bíblica, p. 62).

Posição incorreta sobre o cânon 
Posição correta sobre o cânon
A igreja determina o cânon A igreja descobre o cânon
A igreja é a mãe do cânon A igreja é filha do cânon
A igreja é magistrada do cânon A igreja é ministra do cânon
A igreja regula o cânon A igreja reconhece o cânon
A igreja é juíza do cânon A igreja é testemunha do cânon
A igreja é mestra do cânon A igreja é serva do cânon

Fontes católicas podem ser citadas para apoiar a doutrina de canonicidade que se parece muito com a “posição correta”. O problema é que apologistas católicos geralmente se equivocam nesse assunto. Peter Kreeft, por exemplo, argumentou que a igreja deve ser infalível se a Bíblia é, já que o efeito não pode ser maior que a causa e a igreja causou o cânon. Mas se a igreja é regulada pelo cânon, em vez de governá-los, então a igreja não é a causa do cânon. Outros defensores do catolicismo cometem o mesmo erro, afirmando que faz a igreja definidora do cânon. Eles negligenciam o fato de que foi Deus (por inspiração) quem causou as Escrituras canônicas, não a igreja .

Essa má interpretação às vezes é evidente no uso equivocado da palavra testemunha . Quando falamos sobre a igreja como "testemunha" do cânon depois da época em que foi escrito não queremos dizer no sentido de ser uma testemunha ocular (i.e., relatando evidência de primeira mão). O papel adequado da igreja cristã no descobrimento de quais livros pertencem ao cânon pode ser reduzido a vários preceitos.

Somente o povo de Deus contemporâneo à autoria dos livros bíblicos foi verdadeira testemunha da evidência. Só eles foram testemunhas do cânon durante seu desenvolvimento. Só eles poderiam atestar a evidência da característica profética dos livros bíblicos, que é o fator determinante da canonicidade.

A igreja posterior não é testemunha da evidência do cânon . Ela não cria nem constitui evidência para o cânon. É apenas descobridora e observadora da evidência que resta para a confirmação original da qualidade profética dos livros canônicos. A suposição da igreja de que a evidência subsiste em si mesma é o erro por trás da posição católica.

Nem a igreja primitiva nem a recente é juíza do cânon . A igreja não é o árbitro final quanto aos critérios do que será admitido como evidência. Somente Deus pode determinar os critérios para nosso descobrimento do que seja sua Palavra. O que é de Deus terá suas "impressões digitais"; só Deus o determina como são suas "impressões digitais".

Tanto a igreja primitiva quanto a recente são mais juradas que juízas . Os jurados ouvem as evidências, avaliam as evidências e apresentam um veredicto de acordo com as evidências . A igreja contemporânea (século I) testemunhou evidências de primeira mão da atividade profética (tais como milagres), e a igreja posterior examinou as evidências da autenticidade desses livros proféticos, que foram confirmados diretamente por Deus quando foram escritos.

De certa forma, a igreja “julga” o cânon. Ela é chamada, como todos os jurados são, a realizar a seleção e a avaliação das evidências para chegar ao veredicto. Mas não é isso que a igreja romana praticou no seu papel magisterial de determinação do cânon. Afinal, é isso que se quer dizer com o “magistério” da igreja. A hierarquia católica não é apenas ministerial; tem papel judicial, não apenas administrativo. Não é apenas o júri observando a evidência, mas é o juiz determinando o que se classifica como evidência.

Aí está o problema. Ao exercer o papel magisterial, a Igreja Católica escolheu o curso errado para apresentar sua decisão sobre os apócrifos. Inicialmente, decidiu seguir o critério errado, uso cristão em vez de qualidade profética . Em segundo lugar, uso evidência de segunda mão de escritores posteriores em vez de apenas evidência de primeira mão para a canonicidade (confirmação divina da atuação profética do autor). Em terceiro lugar, não usou confirmação imediata dos contemporâneos, mas afirmações posteriores de pessoas nascidas séculos depois dos eventos. Todos esses erros surgiram da interpretação incorreta do papel da igreja como juíza em vez de jurada, como magistrada em vez de ministra, soberana em vez de serva do cânon. Por outro lado, a rejeição protestante dos apócrifos foi baseada na compreensão do papel das primeiras testemunhas para as características proféticas e da igreja como guardiã dessa evidência da autenticidade.

Conclusão

As disputas sobre os apócrifos do AT têm um papel importante nas disputas católicas e protestantes sobre ensinamentos como purgatório e oração pelos mortos. Não há evidências de que os livros apócrifos sejam inspirados e, portanto, devam fazer parte do cânon das Escrituras inspiradas. Eles não afirmam ser inspirados, e a inspiração não lhes é atribuída pela comunidade judaica que os produziu. Não são citados nenhuma vez como Escritura no NT. Muitos pais da igreja primitiva, incluindo Jerônimo, os rejeitavam categoricamente. Acrescentá-los à Bíblia pelo decreto “infalível” no Concílio de Trento evidencia um pronunciamento dogmático e polêmico criado para sustentar doutrinas que não são apoiadas claramente em nenhum dos livros canônicos.