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terça-feira, 25 de outubro de 2011

“Mar Vermelho": A travessia que nunca existiu...


A base para sustentar isso é um arquivo em PPS intitulado “A travessia do Mar Vermelho. Vejamos quem é Wyatt, que lhe serve de apoio: Ronald Eldon Wyatt (1933 - 4 de agosto de 1999) foi um arqueólogo amador contestado por suas supostas descobertas arqueológicas à respeito de localidades bíblicas. Contudo, o único objeto arqueológico aceito ter pertencido ao templo de Salomão, o "Pomo de Marfim", foi encontrado por ele. Entretanto, ele afirmava ter encontrado a verdadeira Arca de Noé, a Rota do Êxodo e as cidades de Sodoma e Gomorra.

Pelo que se vê, faltam-lhe credenciais técnicas para se lançar a uma arqueologia séria; como “amador” não possuía know-how para ser levado em conta, o que, provavelmente, foi um dos motivos pelos quais nunca foi reconhecido pelos especialistas da área.

Quem foi Ron Wyatt?

Ron Wyatt faleceu, infelizmente, em 4 de agosto de 1999 num hospital do Memphis (Estados Unidos) depois de batalhar contra o câncer por vários meses. Esteve rodeado por sua família e amigos durante suas horas finais.

Ron Wyatt era Adventista do Sétimo Dia e ficou famoso por seu descobrimento da Arca de Noé, no sítio do navio encontrado na Região do Monte Ararat da Turquia, a muitos pés acima do nível do mar. Através dos anos, Ron continuou escavando distintos sítios arqueológicos, que atestam que as histórias narradas no Antigo e Novo Testamento da Bíblia são verdadeiras.

Entre seus achados figuram o descobrimento dos restos da Sodoma e Gomorra; o lugar do cruzamento dos israelitas pelo Mar Vermelho durante o êxodo, apoiado com um vídeo que mostra partes de carruagens do exército do Faraó sob o mar, e colunas eretas pelo rei Salomão, 400 anos depois, para comemorar o feito. O verdadeiro Monte Sinai, com a rocha que Moisés partiu para que fluísse a água, quando os israelitas estiveram a ponto de morrer de sede, além de outras 19 referências do monte Sinai, que se nomeiam na Bíblia.

Uma de suas últimas escavações levou Ron Wyatt a descobrir a Arca do Concerto, que está relacionada ao verdadeiro lugar da crucificação de Cristo. Este descobrimento incluía a surpreendente descoberta de sangue seco, que quando foi analisado, resultou ser como nenhum outro sangue encontrado jamais nesta terra... O sangue do próprio Filho de Deus!

Caso fossem verdadeiras essas suas descobertas, ele seria, indubitavelmente, mesmo na sua condição de simples amador, um dos mais consagrados arqueólogos do seu século. Seria interessante que colocássemos alguma coisa sobre o que as recentes descobertas da Arqueologia nos têm desvendado:

[...] seus achados revolucionaram o estudo do antigo Israel e jogaram sérias dúvidas sobre as bases históricas de muitas narrativas bíblicas, como as peregrinações dos patriarcas, o êxodo do Egito e a conquista de Canaã, e o glorioso império de Davi e Salomão. [...] agora é evidente que muitos eventos da história bíblica não aconteceram numa determinada era ou da maneira como foram descritos.

Alguns dos eventos famosos da Bíblia jamais aconteceram inteiramente. (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 14-16.

Essas informações temos de Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, dois dos principais arqueólogos em atividade. Finkelstein é diretor do Instituto de Arqueologia Sonia e Marco Nadler, da Universidade de Tel Aviv, em Israel e Silberman é diretor de interpretação histórica do Centro Ename de Arqueologia Pública e Apresentação do Legado Histórico, na Bélgica, além de contribuir regularmente como editor para a revista Archaeology, conforme podemos ler na capa do livro A Bíblia não tinha razão.

Vejamos os textos que constam de alguns dos slides sobre a “investigação arqueológica” de Wyatt:

Depois de investigar sobre a rota que os israelitas tinham tomado no Êxodo do Egito, Ron Wyatt encontrou que, a descrição bíblica concorda perfeitamente com um barranco profundo chamado Wadi Watir. O livro de Êxodo explica como Deus conduziu os filhos de Israel, “Deus não os guiou pelo caminho dos filisteus, só porque era perto… Deus fez por isso o povo dar volta pelo caminho do ermo do Mar Vermelho”. (Êxodo 13:17,18).

Aqui encontramos uma área extensa, aberta do deserto. Então em Êxodo 14:1,2 Deus disse que deram a volta afastando-se do caminho, na qual encontrou Ron e lhe conduziu a um barranco conhecido hoje como Wadi Watir. A Bíblia registra a reação de Faraó quando lhe informaram que haviam desviado do caminho, (Êxodo 14:3), ”Estão vagueando em confusão pelo país. O ermo os encerrou”, Wadi Watir é um barranco profundo largo que concorda com esta descrição perfeitamente.

Leiamos a transcrição do texto bíblico, para evitar confusão:

Ex 13,17-18: “Quando o Faraó deixou o povo partir, Deus não o guiou pelo caminho da Palestina, que é o mais curto, porque Deus achou que, diante dos ataques, o povo se arrependeria e voltaria para o Egito. Então Deus fez o povo dar uma volta pelo deserto até o Mar Vermelho. Os filhos de Israel saíram do Egito bem armados”.

O primeiro problema que nos surge, conforme já o dissemos alhures, é saber qual foi o verdadeiro motivo pelo qual os hebreus saíram do Egito:

a) foram expulsos (Ex 12,39);

b) o Faraó os deixou partir (Ex 13,17); ou

c) fugiram do Egito (Ex 14,5)?

Se estivéssemos numa prova, para testar nosso conhecimento, certamente que teríamos mais esta opção: “d) todas as alternativas são verdadeiras”, a que deveria ser marcada como correta.

Considerando que o Faraó saiu ao encalço dos hebreus, o mais provável é que ele os estava perseguindo, por terem fugido, e não que ele tenha se arrependido de tê-los deixado sair, como está narrado num dos textos bíblicos.

Temos que: “Fontes arqueológicas e históricas independentes relatam a imigração de semitas de Canaã para o Egito, e os egípcios expulsando-os com o uso da força” (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 86), entretanto, tratam-se dos hicsos, tendo tal fato acontecido por volta de 1570 a.C.

Em História dos Hebreus, obra do historiador Flávio Josefo, encontramos a informação de que os hicsos saíram do Egito após um acordo com Temosis:

[...] Temosis, filho de Alisfragmoutofis, foi atacá-los com quatrocentos e oitenta mil homens, mas perdendo a esperança de vencê-los, fez com eles um acordo, isto é, que eles saíssem do Egito para se retirarem onde quisessem, sem que se lhes fizesse algum mal; e seu número era de duzentos e quarenta mil; eles partiram com todos os seus bens, para fora do Egito, através do deserto da Síria e temendo os assírios que então dominavam em toda a Ásia eles se dirigiram para um país que hoje é chamado de Judéia, onde construíram uma cidade capaz de conter aquela grande multidão de povo e a chamara de Jerusalém. (JOSEFO, 2003, p. 714).

Os que nasciam na Judéia eram, originalmente, designados de judeus e, posteriormente, após o cativeiro da Babilônia, passaram a ser chamados de hebreus. E Josefo estabelece a relação direta entre os hicsos, povos pastores ou cativos, como sendo os seus antepassados (JOSEFO, 2003, p. 715).

O Êxodo pode ser situado em torno de 1440 a.C. (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 86), o que nos coloca diante desta curiosa situação:

Mas não há pistas, nem mesmo uma única palavra, sobre antigos israelitas no Egito: nem nas inscrições monumentais nas paredes dos templos, nem nas inscrições em túmulos, nem em papiros. Israel inexiste como possível inimigo do Egito, como amigo ou como nação escravizada.

E simplesmente não existem achados arqueológicos no Egito que possam estar associados de forma direta com a noção de um grupo étnico distinto (em oposição a uma concentração de trabalhadores migrantes de muitos lugares), vivendo numa área específica a leste do delta, como subentendido no relato bíblico sobre os filhos de Israel vivendo juntos na terra de Gessen (Gêneses 47,27). (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 90).

Ou seja, temos o registro dos hicsos no Egito, fato que aconteceu antes da escravidão dos hebreus; e desses, como está afirmado, nada foi encontrado. Em Ex 12,40 se afirma que a estada dos filhos de Israel no Egito, na escravidão, durou quatrocentos e trinta anos, tempo muito longo para que não tenham deixado um só registro de sua permanência. Uma coisa é certa para os entendidos:

A conclusão – de que o Êxodo não aconteceu na época e da forma descrita na Bíblia – parece irrefutável quando examinamos a evidência de sítios específicos, onde os filhos de Israel supostamente acamparam por longos períodos, durante sua caminhada pelo deserto (Números 33), e onde alguma indicação arqueológica – se existente –, é quase certo, seria encontrada. (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 94).

E quanto à fuga em si: [...] não é razoável aceitar a idéia de fuga de um grande grupo de escravos do Egito, através de fronteiras vigiadas por guarnições militares, para o deserto e depois para Canaã, numa época com colossal presença egípcia na região. Qualquer grupo escapando do Egito contra vontade do Faraó teria sido rapidamente capturado, não apenas por um exército egípcio que o perseguiria desde o delta, mas também por soldados egípcios dos fortes no norte do Sinai e em Canaã. De fato, a narrativa bíblica sugere o perigo da experiência de fugir pela estrada da costa. Assim, a única alternativa seria através das terras desérticas e desoladas da península do Sinai; mas a possibilidade de um grande grupo de pessoas caminhando por essa península também é contestada pela arqueologia. (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 91-92).

Por outro lado, na maioria das Bíblias consta, na passagem que citamos imediatamente acima, a expressão Mar Vermelho; entretanto, pela explicação dos tradutores da Bíblia de Jerusalém, a coisa não é bem assim:

A designação de “o mar dos Juncos”, em hebraico yam sûf, é acréscimo. O texto primitivo dava apenas uma indicação geral: os israelitas tomaram o caminho do deserto para o leste ou o sudeste. – O sentido desta designação e localização do “mar de Suf” são incertos. Ele não é mencionado na narrativa de Ex 14, que fala apenas em “mar”. O único texto que menciona o “mar de Suf” ou “mar dos Juncos” (segundo o egípcio como cenário do milagre é Ex 15,4, que é poético.

Então, o segundo problema é que o texto primitivo não falava em mar; nele foi acrescentada a expressão hebraica yam sûf, que também significava mar dos Juncos, conforme podemos ver na Bíblia Sagrada publicada pela Editora Vozes, cujos tradutores esclarecem: Mar Vermelho: lit. 'mar dos Juncos'. A expressão designa tanto o atual Mar Vermelho, como também a região pantanosa e de lagunas, atravessada hoje pelo canal de Suez. É o cenário da passagem dos israelitas pelo 'Mar Vermelho' (13,18)”. (p. 91).

Leiamos a passagem bíblica que trata do assunto:

Ex 14,1-31: 1. Javé falou a Moisés: 2. "Diga aos filhos de Israel que voltem e acampem em Piairot, entre Magdol e o mar, diante de Baal Sefon; aí vocês acamparão, junto ao mar. 3. O Faraó irá pensar que os filhos de Israel andam errantes pelo país e que o deserto os bloqueou.... Quando comunicaram ao rei do Egito que o povo tinha fugido, o Faraó e seus ministros mudaram de opinião sobre o povo e disseram: "O que é que nós fizemos? Deixamos partir nossos escravos israelitas!". O Faraó mandou aprontar seu carro e levou consigo suas tropas: seiscentos carros escolhidos e todos os carros do Egito, com oficiais sobre todos eles... . Perseguindo com todos os cavalos e carros do Faraó, os cavaleiros e o exército os alcançaram quando estavam acampados junto ao mar, em Piairot, diante de Baal Sefon. Quando o Faraó se aproximou, os filhos de Israel levantaram os olhos e viram que os egípcios avançavam atrás deles. Cheios de medo, clamaram a Javé,... . Javé disse a Moisés: "Por que você está clamando por mim? Diga aos filhos de Israel que avancem. Quanto a você, erga a vara, estenda a mão sobre o mar e divida-o pelo meio para que os filhos de Israel possam atravessá-lo a pé enxuto... . Moisés estendeu a mão sobre o mar, e Javé fez o mar se retirar com um forte vento oriental, que soprou a noite inteira: o mar ficou seco e as águas se dividiram em duas. . Os filhos de Israel entraram pelo mar a pé enxuto, e as águas formavam duas muralhas, à direita e à esquerda. Na perseguição, os egípcios entraram atrás deles com todos os cavalos do Faraó, seus carros e cavaleiros, e foram até o meio do mar... . Javé disse a Moisés: "Estenda a mão sobre o mar, e as águas se voltarão contra os egípcios, seus carros e cavaleiros". Moisés estendeu a mão sobre o mar. E, de manhã, este voltou para o seu leito. Os egípcios, ao fugir, foram ao encontro do mar, e Javé atirou-os no meio do mar. As águas voltaram, cobrindo os carros e os cavaleiros de todo o exército do Faraó, que os haviam seguido no mar: nem um só deles escapou...

Sobre essa passagem, explicam-nos, os tradutores da Bíblia Edição Vozes: A descrição da passagem pelo Mar Vermelho corresponde a um fenômeno de ordem natural, como o sugere a menção do “vento forte” (v.21) que põe o mar, isto é, uma região pantanosa, em seco. Tal fenômeno foi providencial para salvar os israelitas (v. 24) e fazer perecer os egípcios (v. 27): de madrugada as condições climáticas foram favoráveis à passagem segura dos israelitas; de manhã mudaram bruscamente e os egípcios pereceram. Nisto Israel viu a mão providencial de Deus (v. 31), expressa pela nuvem e pelo fogo (13,21), pelas águas que formam alas para os israelitas passarem (14,22) e pela vara milagrosa de Moisés (v. 16.21.26). [...] (p. 97).

Aqui o fenômeno da passagem é localizado numa região pantanosa e tido como de ordem natural. Quem não conhece o movimento das marés poderá até achar um milagre que a água do mar, em alguns casos, se recue consideravelmente da praia, de forma que onde havia água se possa andar a pé-enxuto.

Outro ponto que julgo importante é que o texto afirma que “nem um só deles escapou”, o que nos coloca diante do fato de que não há nenhum registro histórico que o Faraó, que governava o Egito na época, seja ela qual for, tenha morrido afogado. Quase ao final do slide, foi dito: “A Bíblia registra a reação de (sic) Faraó quando lhe informaram que haviam desviado do caminho, (Êxodo 14:3), 'Estão vagueando em confusão pelo país. O ermo os encerrou'”, entretanto, pelo texto bíblico o que temos é uma parte da fala de Jeová a Moisés: “Faraó certamente dirá então com respeito aos filhos de Israel: 'Estão vagueando em confusão pelo país. O ermo os encerrou'” (Novo Mundo), ou seja, é um fato completamente diferente daquilo que querem passar, pois não é a reação do Faraó, mas, simplesmente, uma presumível reação deste na suposição de Jeová, conforme se vê de Sua fala a Moisés.

Tradicionalmente crê-se que a travessia do Mar Vermelho ocorreu no Golfo de Suez. Não obstante, ali não há montanhas. A área é totalmente plana, e não concorda com a descrição bíblica. O Golfo de Suez converteu-se em um lugar muito popular porque tradicionalmente acredita-se que o Monte Sinai está na península do Sinai. Outra vez a Bíblia nos diz algo diferente, (Gálatas 4:25), “O Monte Sinai, na ARÁBIA". Depois de várias milhas Wadi Watir desemboca em uma área grande de praia, na costa ocidental do Golfo de Aquaba. A única área de praia ao largo do Golfo de Aquaba, devia ter sido suficientemente grande para acomodar aproximadamente a dois milhões de pessoas e a seus rebanhos. Os Israelitas foram prevenidos de viajar ao norte por causa da presença de uma fortaleza militar egípcia. De fato, ao norte onde Wadi Watir desemboca encontramos uma fortaleza antiga, poderia ser este o lugar mencionado na Bíblia como, Migdol, (Êxodo 14:2). Ao sul, as montanhas se estendem para baixo em direção ao mar, prevenindo assim qualquer outro passo a mais. Certamente não podiam voltar e regressar sobre seus passos pois o exército Egípcio os perseguia. Deus os havia levado a uma ponta onde somente Ele podia livrá-los, “Não tenhais medo. Mantende-vos firmes e vede a salvação da parte de Jeová, que ele realizará hoje para vós. Pois os egípcios que hoje deveras vedes, nunca mais vereis, não, nunca mais ... E Jeová começou a fazer o mar retroceder por meio dum forte vento oriental, durante toda a noite, e a converter o leito do mar em solo seco, e as águas foram partidas. Por fim, os filhos de Israel passaram pelo meio do mar em terra seca, enquanto as águas eram para eles como muralha à sua direita e à sua esquerda.” (Êxodo 14:13, 21, 22).

Vejamos como encontramos o passo Gl 4,24-25, na versão de vários tradutores bíblicos:

Pastoral: Simbolicamente isso quer dizer o seguinte: as duas mulheres representam as duas alianças. Uma, a do monte Sinai, gera para a escravidão e é representada por Agar (pois o monte Sinai está na Arábia, que é o país de Agar). E Agar corresponde à Jerusalém atual, que é escrava junto com seus filhos”.

Vozes: “Nestes fatos há uma alegoria. Estas duas mulheres representam as duas alianças: uma, que procede do monte Sinai, gera para a servidão. Esta é Agar. Omonte Sinai se encontra na Arábia e corresponde à Jerusalém atual, que é escrava com seus filhos”.

Paulus (BJ): “Isto foi dito em alegoria. Elas, com efeito, são as duas alianças; uma, a do monte Sinai, gerando para a escravidão: é Agar (porque o Sinai está na Arábia), e ela corresponde à Jerusalém de agora, que de fato é escrava com seus filhos”.

Mundo Cristão: “Estas cousas são alegóricas: porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Hagar. Ora, Hagar é o monte Sinai na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual que está em escravidão com seus filhos”.

Vida Nova/SBB: “Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus filhos”.

SBB: O que se entende por alegoria: porque estes são os dois concertos: um, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos”.

SBTB: “ que se entende por alegoria; porque estas são duas alianças; uma do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos”.

Paulus (BP): Trata-se de uma alegoria que representa duas alianças. Uma procede do monte Sinai e gera escravos: é Agar. Sinai é uma montanha da Arábia que corresponde à Jerusalém atual, que vive com seus filhos em escravidão”.

Ave Maria: Nestes fatos há uma alegoria, visto que aquelas mulheres representam as duas alianças: uma, a do monte Sinai, que gera para a escravidão: é Agar. (O monte Sinai está na Arábia). Corresponde à Jerusalém atual, que é escrava com os seus filhos”.

Paulinas: “Estas coisas foram ditas por alegoria, porque estas (duas mães) são os dois testamentos. Um do monte Sinai, que gera para a escravidão: Agar, porque o Sinai é um monte da Arábia, o qual corresponde à Jerusalém daqui debaixo, a qual é escrava com seus filhos”.

Santuário: “Isto foi dito por alegoria, pois as duas mulheres representam as duas alianças: uma, a do monte Sinai, que gera filhos para a escravidão, é Agar. Ora, o Sinai é um monte da Arábia e corresponde a Jerusalém atual, que é escrava com seus filhos”.

Novo Mundo: “Estas coisas são como que um drama simbólico; pois estas [mulheres]significam dois pactos, um do monte Sinai, que dá à luz filhos para a escravidão e que é Agar. Ora, esta Agar significa o Sinai, um monte na Arábia, e ela corresponde à Jerusalém atual, pois está em escravidão com os seus filhos”.

Barsa: “as quais coisas foram ditas por alegoria. Porque estes são os dois Testamentos. Um certamente no monte Sinai, que gera para servidão; este é figurado em Agar. Porque o Sinai é um monte da Arábia, que representa a Jerusalém, que é cá debaixo, e que é escrava com seus filhos”.

Champlin: “O que se entende por alegoria: pois essas mulheres são dois pactos; um do monte Sinai, que dá à luz filhos para a servidão, e que é Agar. Ora, esta Agar é o monte Sinai na Arábia e corresponde à Jerusalém atual, pois é escrava com seus filhos”.

Observa-se que variadas são as traduções; talvez isso possa ser explicado tomando-se o que Champlin diz sobre as variantes textuais para Gl 4,25. Leiamos: Um bom número de variações assinala o começo deste versículo. As palavras “...Pois esta Hagar é...” aparecem na maioria dos manuscritos posteriores da tradição bizantina, como também podem ser encontradas na tradição siríaca. Já os mss Aleph, CG, as versões latinas e os escritos de Orígenes omitem a palavra “...Hagar...”, embora a palavra “...Ora...” seja ali preservada. Já o antigo MS P(46), como os escritos de Ambrosiaster, pai da igreja, e a tradição saídica, omitem tanto “Ora” quanto “Hagar”, retendo apenas o termo grego “de”, que talvez possa ser melhor traduzida pela cópula “e”.

De acordo com esses manuscritos, pois, a palavra “Hagar” fica subentendida com base no vigésimo quarto versículo, e o trecho diria: “...e (Hagar) é Sinai...” Todavia, o texto mais correto, no original grego, para ser “...to de Agar...' (ou seja, “...e Hagar...”), conforme se vê nos mss ABD e no Si(hmg). Parece que a palavra “Hagar” foi deixada em branco por acidente, ou talvez tenha sido omitida propositadamente, devido à sua presença na sentença anterior (versículo vinte e quatro). É interessante que o ms Aleph acrescenta o vocábulo grego “on” (“o qual”), dando em resultado: “...e esta é Sinai, a qual é um monte da Arábia...” No entanto, a palavra “...Sinai...” é omitida pelo ms latino d; mas, visto que esse manuscrito é o único que faz isso, não representa autoridade alguma. (CHAMPLIN, 2005, p. 493).

Custou, mas parece que conseguimos desenrolar esse novelo. A principal informação que temos para isso foi obtida nesta explicação, em nota de rodapé: “O Sinai na Arábia: os árabes são tidos como descendentes de Agar. Isso sugere que a aliança no Sinai gerava a escravatura”. (Bíblia Sagrada – Ave Maria, p. 1496). Então temos que a coisa é simbólica, ou seja, estava falando dos árabes e não que o monte Sinai é na Arábia, como entendeu Wyatt, e, certamente, muitos tradutores bíblicos, que dessa forma levam ao erro os seus leitores. Observe que algumas das traduções que citamos trazem essa ideia: Mundo Cristão, Vida Nova e SBB e Champlin, cujo texto é: “... Agar é o monte Sinai na Arábia”.

A expressão monte Sinai entra no texto significando a lei de Moisés, o antigo pacto, que escravizava as pessoas e Agar sendo escrava e “mãe” dos árabes passou a representar esse pacto, que é atribuído à cidade de Jerusalém escravizada pelos romanos. Para fugir do que geralmente os fanáticos fazem, é necessário entendermos o texto dentro do seu contexto, pois, à maioria das vezes, o isolamento nos conduz a uma idéia equivocada daquilo que o autor quer dizer. Leiamos, então:

Gl 4,21-31: Dizei-me vós, os que quereis estar sob a lei: acaso, não ouvis a lei? Pois está escrito que Abrão teve dois filhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus filhos. Mas a Jerusalém lá de cima é livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os filhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois filhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segundo a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava será herdeiro com o filho livre. E, assim, irmãos, somos filhos não da escrava, e sim da livre.

Portanto, no texto, a expressão “monte Sinai” significa mesmo a Lei antiga, a que, segundo o pensamento de Paulo, escravizava. Podemos, para maior esclarecimento, colocar o que encontramos em algumas Bíblias sobre o assunto:

Bíblia Shedd: O quarto argumento, montado sobre uma transposição “alegórica” de textos bíblicos, é quase desconcertante para nós, embora fosse válido para intérpretes da Lei da sua época. Ponto de partida é o relato sobre os filhos de Abraão (segundo Gn 16 e 22). O comentarista explora as oposições e relações. Sara, esposa legítima e livre, estéril, milagrosamente dá à luz um filho livre, Isaac. Agar, concubina escrava, dá à luz um filho escravo, Ismael, que é excluído da herança e expulso. Paulo sobrepõe às figuras femininas de Agar e Sara a personificação clássica de Jerusalém como matriarca e esposa de Deus. Só que distingue uma Jerusalém empírica, submetida à escravidão (ou vassalagem política?) e uma Jerusalém transcendente, celeste, destinatária da promessa de Is 54,1-3. (p. 2798).

Bíblia Vozes: As histórias de Agar e Sara (cf. Gn 16,1-16; 21,8-21) servem para Paulo fazer uma alegoria sobre a Antiga e a Nova Aliança. Os filhos de Abraão nascidos de Agar, “segundo a carne”, são todos escravos e simbolizam os que estão sob a Lei. Os nascidos de Sara, “segundo a promessa”, são filhos livres como os nascidos do Espírito pela fé em Jesus. (p. 1383).

Bíblia Peregrino: Uma alegoria (v. 24) significa mais do que uma ilustração. Como um tipo, refere-se às verdades espirituais escondidas nos acontecimentos e personagens históricos. A velha aliança da lei e a circuncisão não passam de escravidão (tipificada por Agar e Ismael); enquanto a nova aliança da promessa (tipificada por Sara e Isaque) liberta e garante a herança da nova Jerusalém, isto é, o Céu, onde Cristo já reina em poder. (p. 1651).

Visando definir a localização do monte Sinai, irei, novamente, recorrer ao historiador Josefo que afirmou que: “... Moisés tendo subido ao monte Sinai, que está entre o Egito e a Arábia, lá ficou oculto durante quarenta dias e depois de ter descido, deu aos judeus as leis que eles ainda observam” (JOSEFO, 2003, p. 727). Assim, temos que “estar entre o Egito e a Arábia” não é localizar na Arábia o monte Sinai, como quer Wyatt para manter a passagem do Mar Vermelho como fato real. Aliás, existe um adágio popular que diz “quem tem um cobertor curto: se cobre a cabeça, descobre os pés; se cobre os pés, descobre a cabeça”. Essa é a síndrome de Wyatt, que, querendo autenticar o milagre do Mar Vermelho, derruba toda a rota do êxodo até o monte Sinai, que é traçada na própria Bíblia; a conseqüência é que nesse ponto a narrativa deixa de ser verdadeira.

Pela narrativa bíblica temos: Ramsés (Ex 12,37) e Sucot (Ex 13,20), pontos iniciais; Etam, à beira do deserto (Ex 13,20); voltaram a Piairot, entre Magdol e o mar, diante de Baal Sefon (Ex 14,2), local onde o Faraó, com seu exército, alcançou os hebreus (Ex 14,9), que é também o lugar da ocorrência da passagem pelo “Mar Vermelho”, que, na verdade, é mar dos Juncos; deserto de Sur (Ex 15,22); Mara (Ex 15,23); Elim (Ex 15,27); deserto de Sin, entre o Elim e o Sinai (Ex 16,1), até este ponto foram gastos 45 dias de caminhada; Rafidim (Ex 17,1) e Sinai (Ex 19,1), ponto ao qual queremos chegar. Os nomes aqui constantes estão grafados conforme a versão da Bíblia de Jerusalém.

Para sustentar sua tese Wyatt altera a posição de alguns locais como: Migdol, Mara, Elim, Rafidim e o Sinai, fazendo os hebreus assumirem uma rota na qual o percurso é quase todo em região de desertos, ou seja, tira-os de uma rota mais próxima da orla marítima, onde, certamente, seria menos inóspita a caminhada.

Uma outra questão, não levada em conta por Wyatt, foi o tempo que se gastou para que os hebreus chegassem ao Mar Vermelho, considerando-se dois fatores importantíssimos: o primeiro, em relação ao total de pessoas envolvidas na caminhada; pela narrativa bíblica temos 600.000 homens a pé, sem contar as crianças (Ex 12,37); disso estimam que eram por volta de 2.000.000 de pessoas, o que, seguramente, tornava a caminhada bem lenta, facilitando os egípcios alcançá-los logo após a saída do Egito; o segundo é que o Faraó, imediatamente, saiu em perseguição alcançando-os próximo ao Mar Vermelho (Ex 14,9); calculamos algo próximo de uns 100 km do ponto de saída, enquanto que, na teoria de Wyatt, esse percurso chegaria a cerca de 270 km, no qual, estimamos, gastariam uns 45 dias para se percorrer, enquanto, pelo texto bíblico, esse tempo foi gasto para se chegar ao monte Sinai; é longo demais para que não fossem alcançados pelo Faraó e seu exército, levando-se em conta o outro trajeto para se chegar a essa nova localização do Mar Vermelho.

Tudo isso nos leva a crer, caso sejam verdadeiros os fatos constantes da narração bíblica, que a rota é a tradicional mesmo, pois na de Wyatt percebemos que ele força as coisas para se chegar a uma idéia pré-determinada. Para corroborar a minha dedução, trago a opinião de R.N. Champlin, grau B.A. em Literatura Bíblica no Immanuel College, os graus M.A. e Ph.D. em Línguas Clássicas na University of Utah e estudos de especialização (no nível de pós-graduação) no Novo Testamento na University of Chicago e J. M. Bentes, tradutor e autodidata de estudos bíblicos:

As águas do êxodo. A comparação entre Êxodo 14 e 15:22, observando-se o paralelismo poético em 15:4, deixa claro que o “mar” atravessado pelos hebreus em Êxodo 14 era o “mar dos juncos”, que corresponde ao egípcio “alagadiços de papiros”, particularmente no nordeste do delta do Nilo. (CHAMPLIN e BENTES, 1995, p. 116).

Fora essa opinião, vemos que em quase todas as Bíblias seus tradutores comungam com essa idéia desses dois estudiosos.

Ron encontrou uma coluna derrubada sobre a costa. No lado Saudita encontrou outra exatamente igual com uma inscrição em hebraico antigo que diz, "MIZRAIM (Egito), SALOMÃO, EDOM, MORTE, FARAÓ, MOISÉS, YAHWEH." Ele crê que foram erigidas por Salomão para comemorar A travessia do Mar Vermelho. As inscrições sobre a coluna que foi encontrada derrubada na costa haviam sido erosionadas. As autoridades firmaram-nas dentro de concreto. As colunas citadas foram encontradas: a do lado egípcio (Nuweiba) em 1978 e em 1984 a do lado árabe (Midiã).

Mergulhando no fundo do mar, em 1978, Ron Wyatt e seus dois filhos encontraram e fotografaram numerosas peças de carruagens incrustados de coral. Desde então, várias incursões de mergulho tem revelado mais e mais evidência. Um de seus achados incluiu uma roda de carruagem de oito raios, a qual levou Ron ao diretor de antiguidades Egípcias, o Dr. Nassif Mohammed Hassan. Depois de examina-lo imediatamente disse que pertenceu à décima oitava dinastia, datando o êxodo no ano 1446 A.E.C. Quando lhe perguntaram como sabia, o Dr. Hassan explicou que a roda de oito raios foi utilizada unicamente durante este período, a época de Ramses II e Tutmoses (Moisés). Caixas de carruagens, esqueletos humanos, esqueletos de cavalos, rodas com quatro, seis e oito raios, tudo permanece como um testemunho, como um testemunho silencioso ao milagre da divisão do Mar Vermelho.

O texto bíblico narra que o Faraó levou consigo “seiscentos carros escolhidos e todos os carros do Egito, com oficiais sobre todos eles” (Ex 14,7); então o lógico seria de se esperar, caso tenham morrido afogados pela volta das águas ao estado normal, era que achassem boa parte dos carros – observe, caro leitor, que se diz “todos os carros” -, das ossadas dos cavalos que puxavam esses carros, e, obviamente, das de seus condutores para que se possa definitivamente relacioná-los aos egípcios, tomando-se como base critérios estritamente científicos e não religiosos. E apresento uma nova questão: por que não há registro disso na história dos egípcios?

Finkelstein e Silberman, autores já mencionados, nos informam que: […] A identificação de Ramsés II como o Faraó do Êxodo resulta de suposições eruditas modernas, baseadas na identificação do nome do lugar Pi-Ramsés com Ramsés (Êxodo 1,11; 12,37). Mas existem alguns elos indiscutíveis com o século VII a.C. Além da vaga referência ao medo dos israelitas de seguir pela estrada da costa, não há menção dos fortes egípcios ao norte do Sinai ou das suas guarnições em Canaã. A Bíblia pode refletir a realidade do Novo Império, mas também pode refletir as condições posteriores na Idade do Ferro, mais próximas da época em que a narrativa do Êxodo foi escrita. (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 97-98).

A Meu ver, merece mais crédito a opinião desses dois estudiosos que a de Wyatt. Mas quem quiser pensar o contrário, é livre para isso.

Possivelmente o mais assombroso de tudo, é a presença de uma ponte natural abaixo da água. Ao largo do Golfo de Aquaba, as profundidades alcançam cerca de 5.000 pés e a costa Egípcia vai descendo a essa profundidade em um declive de cerca de 45 graus. Se os Israelitas tivessem tentado cruzar em qualquer outro lugar ao largo do Golfo de Aquaba teriam que enfrentar uma ladeira muito inclinada de aproximadamente 5.000 pés. Com todos seus animais e carros, a tarefa seria praticamente impossível. Somente aqui, nas margens de Nuweiba, há um "caminho" descendente em um degrau gradual de 6 graus, a uma profundidade de somente 100 metros. A Bíblia a descreve como, “Aquele que faz um caminho através do próprio mar e uma senda mesmo através de fortes águas." (Isaías 43:16, 17) A distância de Nuweiba a Arábia Saudita é de cerca de oito milhas. E a largura da ponte natural abaixo da água, estima-se que é de 900 metros.

O fato de existir uma “ponte natural debaixo d'água” não quer dizer muita coisa, pois ainda restaria a necessidade de se fazer um milagre para que ela pudesse dar passagem aos hebreus; além disso, há que se ter mais sólidas evidências de que os hebreus passaram mesmo por lá. Apelar para milagres é uma coisa pouco científica; portanto, somente o fato de se crer nele não faz disso uma realidade, muito menos uma prova científica. A descrição de Isaías (43,16-17) se refere a Jeová e não a um caminho, sobre o qual se procurava localizá-lo em alguma região específica.

Aarón Sen mergulhou em numerosas ocasiões neste lugar, e pôde atestar a veracidade do descobrimento. Em março de 1998, fotografou os restos de uma roda de carruagem de quatro raios, e retirou ossos humanos dos quais há "dúzias" dispersadas no leito do mar. Um osso foi levado ao departamento de Osteologia na Universidade de Estocolmo, para ser analisado, demonstrando que se trata de um fêmur direito humano, masculino. Porém não pôde ser datado, evidentemente procede de épocas antigas. A altura do homem se estima que era dentre 1,65 e 1,70cm, e os ossos haviam sido substituídos por minerais.

Pequenas quantidades de coral cresceram sobre eles substituindo ao mineral. Aarón viu a ladeira ao sul da ponte natural abaixo da água. Também viu um caminho que os israelitas haviam limpado para cruzar o Mar Vermelho, conduzindo desde a margem, descendo dentro do mar. Os israelitas tiveram que apartar as pedras e rochas aos lados para permitir o acesso para seus carros. Conforme já citei anteriormente, a quantidade de carros, cavalos e homens que acompanhavam o Faraó, e que presumidamente foram “enterrados” pelas águas do Mar Vermelho, deve ser levada em conta para se ter dados suficientes a fim de se atestar se são mesmo de egípcios. Observe a informação de que não se conseguiu “datar”, em análise laboratorial, um dos ossos encontrados e encaminhado à análise laboratorial.

Para se ter uma boa ideia do fanatismo de Wyatt, vejamos a lista completa do que se diz ter ele descoberto:

· a verdadeira Arca de Noé (o sítio Durupinar, perto, mas não no Monte Ararat);

· âncoras de Pedra (ou saco de pedras?) usadas por Noé na Arca;

· a casa pós-dilúvio e tumbas usadas por Noé e sua esposa;

· a localização de Sodoma e Gomorra;

· a Torre de Babel na Turquia Central;

· bolas de enxofre da queima de Sodoma e Gomorra;

· o lugar da travessia do Mar Vermelho pelos Israelitas (que Wyatt localizou no

Golfo of Aqaba);

· rodas das carruagens e outras relíquias do exército perseguidor do Faraó no

fundo do mar;

· o verdadeiro lugar do Monte Sinai bíblico (localizado por Wyatt na Arabia

Saudita em Jabal al Lawz);

· uma câmara no final de um labirinto de túneis sob Jerusalém contendo

artefatos do Templo de Salomão;

· a Arca da Aliança;

· as pedras originais dos Dez Mandamentos;

· o verdadeiro lugar da Crucificação;

· o sangue de Jesus, respingado sobre o Propiciatório da Arca da Aliança,

diretamente abaixo da Crucificação;

Com uma lista de feitos dessa ordem, como ele não é citado, por exemplo, pelos autores: Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman (A Bíblia não tinha razão); Werner Keller (e a Bíblia tinha razão...) e Robin Lane Fox (Bíblia: verdade e ficção)?

Interessante é que, fora o que citamos logo no início, temos textos sobre assuntos relacionados a essa lista de Wyatt: “A arca de Noé”, “E aconteceu no Sinai”, “Sodoma e Gomorra” e “Torre de Babel: o carro na frente dos bois”.

O que percebemos nisso tudo é apenas um fundamentalismo exacerbado que torna as pessoas cegas para a verdade, preferindo acreditar somente no que está escrito na Bíblia, por mais absurdo que se apresente. Quando uma pessoa chega a esse ponto ela não enxerga o óbvio; seus olhos voltam-se apenas para aquilo em que acredita.

Para corroborar que esses fatos citados na Bíblia podem não ser tão verdadeiros assim, irei encerrar citando mais essas opiniões:

No final do século XX, a arqueologia havia mostrado, de maneira simples, que existiam muitas correspondências materiais entre os achados em Israel e em todo o Oriente Próximo e no mundo descrito na Bíblia, para sugerir que toda essa história seja apenas uma literatura sacerdotal posterior e fantasiosa, escrita sem qualquer base histórica. (FINKESLTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 36).

O Êxodo

Não há registro histórico da existência de Moisés ou dos fatos descritos no Êxodo. A libertação dos hebreus, escravizados por um faraó egípcio, foi incluída na Torá provavelmente no século VII a.C., por obra dos escribas do Templo de Jerusalém, em uma reforma social e religiosa. Para combater o politeísmo e o culto de imagens, que cresciam entre os judeus, os rabinos inventaram um novo código de leis e histórias de patriarcas heróicos que recebiam ensinamentos diretamente de Jeová. Tais invenções acabaram batizadas de “ideologia deuteronômica”, porque estão mais evidentes no livro Deuteronômio.

A prova de que esses textos são lendas estaria nas inúmeras incongruências culturais e geográficas entre o texto e a realidade. Muitos reinos e locais citados na jornada de Moisés pelo deserto não existiam no século XIII a.C., quando o Êxodo teria ocorrido. Esses locais só viriam a existir 500 anos depois, justamente no período dos escribas deuteronômicos. Também não havia um local chamado Monte Sinai, onde Moisés teria recebido os Dez Mandamentos. Sua localização atual, no Egito, foi escolhida entre os séculos IV e VI d.C., por monges cristãos bizantinos, porque ele oferecia uma bela vista. […] (ROMANINI, 2002, p. 43).

Sei que estudos como esse, que apresento, causam indignação a certas pessoas; entretanto, pelo fato de estarmos em busca da verdade, pouco me importa se os fundamentalistas ainda insistem em pensar de outra forma.


terça-feira, 17 de maio de 2011

Flávio Josefo (Flavius Josephus) Iossef / Josefo

Flávio Josefo (Flavius Josephus), em hebraico: Iossef ben Matitiahu ha-Cohen, nasceu em 37 ou 38 E.C., falecendo por volta do ano 100 E.C. Foi político, soldado e historiador.

Nascido em Jerusalém, de família sacerdotal, foi criado na melhor tradição da Judéia e recebeu boa educação geral. Segundo sua autobiografia, de onde procedem todas as informações a seu respeito, o pai ministrou-lhe minuciosa iniciação nos textos tradicionais e legais da Torá; mais tarde, procurou por iniciativa própria abeberar-se nos ensinamentos dos saduceus, fariseus e essênios, decidindo-se, a seu dizer, pelo farisaísmo. Aos 26 anos foi enviado em missão menor a Roma onde logrou o favor da imperatriz Pompéia, fato que posteriormente lhe seria de grande utilidade.

Chegou a ser um dos chefes do heróico e reduzido exército que tentou defender a região contra os invasores romanos. Terminou seus dias em Roma, onde, de 70 até o fim do século, dedicou-se à história e à apologética: história da catástrofe nacional que havia destruído o Segundo Templo e despovoado a Judéia, e a história monumental de uma nação vencida mas altiva, que tem para si a antigüidade, portanto, a nobreza; apologia dessa nação caluniada até em Roma pela ralé alexandrina, e apologia de si mesmo, suspeito tanto aos olhos de seus correligionários, como aos olhos dos cortesãos romanos.

Flávio Josefo. Esse nome híbrido de que a tradição o dotou reflete todas as contradições do personagem, a sina do homem e o destino póstumo do historiador. Josefo (Iossef) é o prenome bíblico que o pai lhe deu ao nascer. Quando, mais tarde, o imperador Vespasiano fez dele um cidadão romano, o prenome tornou-se um cognome associado ao nome de família do benfeitor que o libertou após tê-lo aprisionado.

Soldado, político e traidor

Em 64, Josefo foi a Roma, em missão semi-oficial, para libertar sacerdotes judeus presos por Nero. Esta viagem que Josefo fez a Roma desempenhou um papel importante na sua vida. Ele ficou fascinado pela potência romana e convencido de que os romanos eram invencíveis. Ao regressar, tentou em vão dissuadir seus compatriotas de empreender a guerra contra os romanos. Não obstante, quando irrompeu a revolta, ele aceitou organizar a resistência judaica na Galiléia. Em conseqüência, quando os judeus da Palestina se revoltaram e reconquistaram temporariamente a independência em 66, foi considerado especialista em questões políticas e mandado à Galiléia, como representante do governo revolucionário.

Ao irromper a grande revolta da Judéia, em 66, colocou-se ao lado dos insurretos e foi designado pelo San’hedrin governador militar da Galiléia, assumindo o supremo comando militar. Desaveio-se violentamente com os extremistas patrióticos, acusado de tendência à contemporização. Depois de participar de vários combates, foi aprisionado com uns quarenta homens da sua tropa; e, talvez num acesso de terror, sacrificou-os traiçoeiramente, com exceção de um só, para salvar a própria pele.

De Iossef a Josefo – a traição

Julho de 67 da nossa era. Há 14 meses desencadeia-se a guerra entre judeus e romanos. Depois de 47 dias de cerco, as tropas de Vespasiano conseguem tomar e destruir Jotápata, uma praça forte na Galiléia. Josefo, com 30 anos de idade, defensor da cidade e chefe dos revoltosos da Galiléia, refugia-se numa cisterna profunda junto com 40 companheiros. O esconderijo é descoberto. Vespasiano convida Josefo a se render, prometendo-lhe que sua vida será salva. Diante de seus companheiros, aceitar tal proposta seria uma traição: todos prefeririam morrer a se entregar”. Josefo dissuadiu-os do suicídio e propôs estrangularem-se reciprocamente segundo uma ordem determinada pela sorte. Restaram vivos somente ele e um companheiro, como ele mesmo tenta explicar, constrangido, em Guerra III, 387-391: “Não sei se deveríamos dizer que por efeito do acaso ou da Providência Divina”. Teria havido um truque ao tirar a sorte? Josefo se entrega a Vespasiano e prediz que ele ostentaria em breve a púrpura imperial; quando isto se confirmou, foi liberto, como recompensa por sua previsão. O ex-prisioneiro passou para o lado dos vencedores. Terminada a guerra, tornou-se cidadão romano. De acordo com o costume local, adotou o nome de família de seu protetor, Flávio, de onde resultou o cognome pelo qual ficou conhecido na história e na literatura: Flávio Josefo. A partir daí, tornou-se caudilho romano; depois do esmagamento da revolta, foi contemplado com algumas propriedades confiscadas na Judéia, mas viveu em Roma o resto da vida. Rico e considerado, de agora em diante passaria dias felizes na capital imperial.

Ao que tudo indica, depois de ir com o imperador a Alexandria, retornou à guerra da Palestina, na esteira de Tito, testemunhou o cerco e a queda de Jerusalém, acompanhando o vencedor até Roma. Fixou-se na capital do Império, onde sob o patrocínio de Vespasiano, Tito e Domiciano, escreveu a maior parte de seus trabalhos, dos quais restam quatro.

É difícil determinar com precisão o papel que teve nesses acontecimentos, pois a única fonte disponível são seus próprios escritos, nos quais tentou, simultaneamente, demonstrar sua integridade como líder patriótico e sua devoção à causa de Roma. Contudo, são essas as fontes mais autorizadas da história dos judeus, nos primeiros séculos antes e depois do início da E. C., e da guerra de 66-70.

Remorso em sua obra

A maneira como salvou sua vida deixou, sem a menor dúvida, remorsos na alma de Josefo. Desta dor na consciência nasceu uma obra literária. Aos olhos dos que o acusavam de traição, Josefo quis justificar sua passagem para o campo romano e apresentar sua explicação sobre a guerra judaica. Os judeus destruíram-se a si mesmos por causa de suas divisões sectárias. Deus os castigou e deu aos romanos uma força irresistível. Este é o tema de “A guerra dos Judeus” cuja edição aramaica desapareceu. A versão grega, ampliada, surgiu entre 76 e 79. Josefo relatou os acontecimentos de que foi testemunha; esclareceu-os, porém, remontando ao passado até a revolta dos Macabeus, no século II antes da nossa era.

Não é por acaso que o seu primeiro livro é “A Guerra Judaica”. Além de relatar os acontecimentos em que se viu envolvido e cuja decisão lhe parecia, acertadamente, fazer história na vida de seu povo, tratou-se, para ele, de justificar sua própria atuação, que era alvo de violentas acusações de parte dos zelotas e outras correntes judaicas. Assim, não são de admirar o tom polêmico, os exageros laudatórios e as deformações subjetivas dessa obra que, de outro modo, constitui um documento vivo e compreensivo da luta, uma das poucas fontes sobre as particularidades de seu desenvolvimento e da derradeira resistência de Jerusalém ao gládio romano. Josefo a compôs originalmente em aramaico, sobretudo para os judeus da Babilônia; encorajado a traduzi-lo para o grego, ele próprio o fez com o auxílio de estilistas helênicos, e foi esta versão que chegou até nós. A seguir viu-se instado a expandir o relato numa história do seu povo, desde o começo até o seu tempo. Daí surgiram as Antigüidades Judaicas, em vinte livros. Obra muito desigual na matéria que apresenta, suas narrativas fabulosas, contradições e erros mesclam-se com dados preciosos, que denotam conhecimentos aprofundados da história e das tradições judaicas e que a arqueologia moderna vem comprovando de maneira às vezes surpreendente. Ainda hoje ela é não só um repositório literário, um clássico da historiografia antiga, como um dos principais anais do passado de Israel.

A opção política de Josefo não significou abandono de suas convicções religiosas judaicas. De fato, ele sofria muito por causa da ignorância e do desprezo que o mundo greco-romano alimentava em relação aos judeus e à Bíblia. Por isso, esforçou-se para tornar conhecidas entre os gregos tradições igualmente veneráveis e mais antigas do que as deles nas suas Antigüidades Judaicas (ou História Antiga dos Judeus), que apareceram em 93 ou 94.

Justo de Tiberíades, antigo companheiro de luta e seu rival na Galiléia, contestou o papel de Josefo na guerra; imediatamente, este se justificou, publicando sua Vida (Autobiografia), que ele acrescentou como um apêndice a uma nova edição das Antigüidades, no fim do século I, a qual é, acima de tudo, uma autodefesa política com algumas notícias sobre a vida do autor, no começo e no fim do livro.

Parte do tormento que lhe ia na alma transparece em textos como o discurso que Josefo põe nos lábios de um dos chefes, seu companheiro, que se manteve leal até o fim. Vigorava no mundo greco-romano um considerável anti-semitismo, particularmente entre os intelectuais pagãos que não entendiam a religiosidade obstinada dos judeus.

Gregos de Alexandria, entre eles um certo Apion, questionavam as afirmações de Josefo nas Antigüidades sobre o povo judeu, não atestadas nas fontes gregas. O testemunho da Bíblia não tem valor. O anti-semitismo mascara a realidade dos costumes judaicos. Então Josefo retoma o trabalho, para demonstrar a antigüidade e a tradição bíblica e para defender os valores do judaísmo, num livro que chegou até nós sob o título de Contra Apion. Trata-se de uma de suas melhores realizações literárias. Escrita com grande veemência, é uma peça de defesa apaixonada, mas autêntica. Não obstante o seu tom, contém na segunda parte um esforço compreensivo das concepções de vida e dos costumes religiosos e legais dos judeus que, colocados sob a égide da legislação revelada de Moisés e da polis teocrática, inspirada diretamente nos Mandamentos de Deus, encontraram na sua Torá as noções que são também as dos mais sábios dentre os gregos, com a vantagem de terem sido convertidas em prática preceitual e religiosa, argumenta Flávio Josefo.

O espírito apologético impregna todos esses trabalhos que se propunham também a sustentar a causa judaica ante a freqüente hostilidade do mundo greco-romano. Neste sentido, porém, a sua obra mais representativa é o tratado Contra Ápio ou da Antigüidade do Povo Judeu, onde procede à apologia do mosaísmo diante das investidas do gramático alexandrino, que foi o expoente do anti-semitismo clássico.

O Historiador: sua obra e permanência

Se ele houvesse levado em conta exclusivamente os judeus, com grande possibilidade a obra de Josefo jamais teria chegado até nós. Ele só é citado na literatura judaica a partir do século X. Em contrapartida, seus escritos interessaram vivamente os cristãos, que, desde cedo, começam a citá-lo e a utilizá-lo: Orígenes, Eusébio de Cesaréia, Jerônimo e muitos outros em seguida, que viram em Josefo o complemento das Escrituras, particularmente do Novo Testamento. Como os Evangelhos ou os Atos, Josefo fala de Herodes e de seus descendentes, dos procuradores da Judéia, Pôncio Pilatos, Félix. Ainda fala de João Batista, de Jesus e de Tiago. Aliás, a preocupação de Josefo de mostrar a antigüidade da religião judaica vai ao encontro das próprias preocupações da apologética cristã: Moisés, que os cristãos, tanto quanto os judeus, afirmavam ser anterior aos filósofos gregos. Era a prova da veracidade da revelação bíblica e do cristianismo.


Muitos enfatizaram os limites da obra de Josefo, seu pouco rigor cronológico, seu exagero nos números quando se referem a pessoas, sua vontade constante de se defender ou de se valorizar, seus preconceitos de classe etc. Seu comportamento durante a guerra judaica, o proveito que ele tirou de sua ligação com os vencedores não o tornam muito simpático. É preciso reconhecer, entretanto, que o apego de Josefo ao judaísmo valeu para conservar acontecimentos e ensinamentos que só ele transmite. “Sem Josefo, não saberíamos quase nada a respeito do destino do povo judaico durante os dois últimos séculos de sua existência nacional, nada do meio histórico em que nasceu o cristianismo” (Th. Reinach, em 1930). Sem dúvida alguma, as descobertas de Qumram matizam hoje esta afirmação.

Essa imensa obra transmitida em língua grega, foi lida e relida incessantemente no Ocidente cristão, desde a Renascença até o século XIX. Somente o século XX, esquecido das humanidades, afastou-se dela. Houve um tempo em que, na França, na Holanda, na Inglaterra, cada família cristã possuía seu Flávio Josefo, assim como possuía sua Bíblia, e a guarda de um in-fólio que continha a Guerra ou as Antigüidades tinha tanto direito quanto um Evangelho a receber os nomes dos filhos recém-nascidos. A cristandade via nele menos o “Tito Lívio grego”, como o chamava Jerônimo, do que o único historiador judeu que mencionou a existência de Cristo, num trecho aliás muito curto e controverso. Ele era também um maravilhoso contador da história santa, testemunha do que foi, segundo os cristãos, o seu episódio final: a punição do povo condenado às lagrimas e à errância eternas. É a esse mal-entendido que a obra de Flávio Josefo deve sua sobrevivência.

Traído?

Talvez o fundamento principal da fama duradoura de Josefo como historiador seja o respeito excepcional em que suas obras eram tidas pela Igreja, desde os tempos mais remotos. Este fato devia-se a que ele tinha sido quase contemporâneo de Jesus e dos Apóstolos, na Judéia. Seus relatos (assim consideram muitos modernos eruditos, tanto cristãos quanto judeus) foram textualmente alterados, nos primórdios da era cristã, por ultrazelosos propagandistas da igreja, a fim de obter corroboração histórica para a missão de Jesus, como o Cristo ou Messias, uma vez que não havia outro testemunho histórico contemporâneo e externo que o comprovasse.

No século XVIII, Padre Hardouin, jesuíta francês, irritado com esse autor, popular demais para o seu gosto em país protestante e ainda por cima traduzido para o francês por um jansenista, Robert Arnauld d’Andilly, impôs a ortografia Josefo para distinguir o historiador antigo dos santos de mesmo nome. Esse foi, com certeza, o único legado à posterioridade desse curioso jesuíta, para quem a Eneida não passava de uma alegoria cristã imaginada por um beneditino do século XIII e que professava que Jesus e os apóstolos haviam pregado em latim. Assim criou-se o hábito de reservar o nome Josefo ao historiador judeu, que os ingleses chamam, à maneira latina, de Josephus.

Para o judaísmo, Josefo, embora nunca tenha renegado sua origem e sua fé, passou por filho perdido: por ter sido suspeito de traição; por ter ido viver em Roma, no palácio do vencedor; por ter escrito e difundido sua obra em grego; por ter sido recuperado pelo cristianismo desde os primórdios da Igreja, como um outro judeu, o filósofo Fílon de Alexandria.

Confiscado pelos teólogos, Josefo foi também considerado perdido, em grande medida, para a história romana, à qual, porém, ele dá uma preciosa contribuição. Para abordar a época de que é contemporâneo, os historiadores de Roma sempre se serviram abundantemente dos autores latinos, sobretudo Tácito e Suetônio, restringindo Josefo a um papel de cronista dos assuntos da Judéia. Estes estão tão estreitamente relacionados com os assuntos de Roma, que dois generais vitoriosos da Judéia, Vespasiano e Tito, se sucederam à frente do império. Sobre as circunstâncias da ascensão ao trono, do caráter, do círculo de pessoas, do comportamento em campanha desses dois personagens, o testemunho de Josefo, que, ao contrário dos outros autores, os acompanhou de perto dia a dia, é insubstituível. Mas, enquanto os autores latinos, estudados de maneira incansável no Ocidente, forneciam aos escritores a matéria de inúmeras tragédias, a obra de Josefo, que em praticamente cada página sua podia inspirar uma tragédia, foi deixada de lado pelos dramaturgos.

Narrador de uma terrível tragédia, Josefo também evoca a sociedade judaica que existia antes desta, e, embora o nascimento do cristianismo não o tenha atingido particularmente, ele nos faz penetrar em seu meio de origem. Não há um autor moderno de uma história da Palestina no tempo de Jesus ou de uma história dos judeus no império romano que não o tenha plagiado despudoradamente. Alguns não hesitaram em atacar sua preciosa fonte para melhor realçar uma hipotética contribuição original.

Caluniado ou pelo menos suspeito de parcialidade – que historiador não o é quando narra fatos vividos? – Josefo tem direito ao lugar que reivindicava para si mesmo com justo orgulho: “O historiador digno de louvores”, escreve em seu prefácio ao relato da guerra, “é aquele que registra fatos cuja história nunca foi escrita e que faz a crônica de seu tempo para as gerações futuras”.

Conclusão: o Tribunal da História

Em sua vida póstuma milenar, Flávio Josefo assumiu os rostos mais diversos. Cristão sem saber, mago, matemático, defensor da fé ou semeador de dúvida, foi assim que ele foi apresentado desde a Antigüidade até os Tempos Modernos. Há um século, aproximadamente, os historiadores que o utilizam com gratidão como fonte principal para o período que ele cobre em seus textos, sentem-se como que obrigados a fazer por Josefo o que não lhes ocorreria fazer por nenhum outro historiador antigo: julgar o homem. A parcialidade evidente do autor da Guerra os leva a isso. Não só o ardente F. de Saulcy, mas também o austero Emil Schürer, emitem sua opinião indignada ou severa: “Ninguém se sente inclinado a justificá-lo”, escreve este último. “A vaidade e a presunção são os principais componentes de seu caráter. Mesmo que ele não fosse o traidor vil e desprezível que confessa mais tarde ser em sua Autobiografia, pelo menos transferiu para os romanos sua obediência e para a família dos Flavianos sua fidelidade, com mais rapidez e tranqüilidade de alma do que convinha a um israelita fingindo lamentar-se sobre a destruição de seu povo”. Théodore Reinach escreve que Josefo não é “nem um grande espírito, nem um grande caráter, mas um composto singular de patriotismo judaico, da cultura helênica e de vaidade”. Recentemente, Pierre Vidal-Naquet acentuou “a vaidade, o feroz espírito de classe, o cinismo” de sua personalidade, e, confrontando as traições de Tibério Júlio Alexander, do apóstolo Paulo e de Josefo, dava a palma do traidor a este último.

Paralelamente, nos círculos sionistas redescobria-se Josefo com um certo constrangimento. Ter-se-ia preferido um herói para contar a história de Massada. Em vez disso, tratava-se de um adversário ferrenho dos heróis cuja coragem se admirava. Em 1937, um grupo de estudantes de Direito reabriu o Dossiê de Flávio Josefo e pronunciou a condenação do traidor. Em 1941, em plena guerra, um grupo de jovens resistentes, de inspiração sionista, reagindo como patriotas franceses e judeus, decretou a condenação de Flávio Josefo por colaboração. No Estado de Israel, não foi sem hesitação que deram seu nome a uma rua, o que é uma forma de apreciar a dívida histórica contraída em relação a ele, o que quer que se pense de sua personalidade.

A história narrada por Josefo está presente no espírito de jornalistas e de escritores, que se referem a ela sempre que as divisões políticas internas se tornam violentas demais, graças ao contra-senso que pode facilmente ser feito sob o título habitual de sua obra, a Guerra dos Judeus, que preferimos chamar de a Guerra da Judéia. Sem realmente reabilitar Josefo, a esquerda militante assimila de bom grado os zelotes, partidários do Grande Israel.

A longa história póstuma de Flávio Josefo deve tornar-nos desconfiados em relação a todas as utilizações que podem ser feitas de seu destino e de sua obra, mais particularmente da Guerra. Basta lembrar que Saulcy não via nada mais semelhante a ela do que o terror sob a Revolução, que Reinach a via como uma imagem antecipada do cerco de Paris e da Comuna, e que até a comparação com a Revolução Russa foi feita. Poder-se-ia igualmente, nos dias de hoje, mencionar a situação libanesa. A verdade é que toda guerra civil, todo confronto fratricida pode lembrar a obra de Josefo para aqueles que a leram.

Não é de causar espanto que foi um judeu alemão, Lion Feuchtwanger, convencido pela Primeira Guerra Mundial do horror dos conflitos armados, da ascensão do nazismo e do horror do nacionalismo, que tenha empreendido a reabilitação de Josefo. Em sua trilogia, Josefo torna-se um personagem atormentado por todos os problemas de identidade e pelas aflições dos judeus da Diáspora, aspirando a ser um verdadeiro cidadão do mundo. Segundo um crítico, seria Stefan Zweig que foi descrito através dele. Observemos apenas que costuma-se referir a Zweig (autor em 1916 de um drama intitulado Jeremias) e a Flávio Josefo, como o profeta Jeremias.

Esbocemos um retrato de Josefo: um rapaz brilhante, confiante em sua estrela; um intelectual eloqüente, que não gosta de derramamento de sangue; um ambicioso que não quer morrer aos trinta anos; um espírito mais político do que guerreiro; um racionalista que odeia a exaltação mística; um cortesão por senso de compromisso; e, com tudo isso, um judeu profundamente fiel.

Para ser um herói, era preciso que ele tivesse morrido em Jotapata, sem ter escrito nada, mas deste fato a posteridade jamais teria tido consciência. Devemos lamentar que ele não tenha sido um herói?

Em síntese, suas obras são as seguintes:

A Guerra dos Judeus, 7 tomos, escrita nos últimos anos do reinado de Vespasiano;

A Antigüidade dos Judeus, 20 tomos, a história dos judeus desde o começo até a deflagração da guerra contra Roma, escrita em 93;

Autobiografia, defendendo-se das acusações de um historiador rival, Justo de Tiberíades, de que teria sido responsável pela guerra judaica; o relato que aí faz da própria participação nos acontecimentos de 66-70 difere, em muitos aspectos, do relato consignado no primeiro desses trabalhos;Contra Apion, 2 tomos, defendendo o povo judeu das acusações do sofista alexandrino Apion.