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segunda-feira, 23 de maio de 2011

IGNORÂNCIA: Mãe de Todas as Devoções

1- Como os textos bíblicos chegaram até nós?

Os textos bíblicos do Antigo Testamento começaram a serem escritos por volta do ano mil antes de Cristo. Os judeus sempre mantiveram e ainda mantém até hoje, uma tradição de copiar textos rigorosamente. Quando o Cristianismo surgiu, no século I, os textos bíblicos foram sendo escritos e copiados. Por volta do ano 90 depois de Cristo, os textos do Novo Testamento foram terminados e ao longo dos séculos, foram sendo escritos e copiados.

Vale destacar que, em tempos medievais, os livros eram extremamente caros, tanto pelo altíssimo custo do material para escrever, como pela ausência de imprensa. Depois do colapso do Império Romano, o papiro que era o único material barato de escrita, embora fosse perecível, desapareceu dos mercados da Europa. Ficou o pergaminho, que era produzido com o couro de ovelhas e cabras. Um rebanho de mais de uma centena de ovelhas tinha que ter seu couro extraído, para se produzir uma só Bíblia. Tanto o conhecimento científico, como a literatura antiga, história, leis, peças teatrais e demais coisas da antiguidade só chegaram até nós pelo imenso esforço de monges medievais, que dedicaram as suas vidas a ficarem copiando livros.

No século IX, o papel que havia sido inventado mais de 500 anos antes na China, passou a ser produzido na Espanha muçulmana. Logo a seguir o papel foi mecanizado e melhorado na Europa católica de então. O papel era muito mais barato que o pergaminho e os livros passaram a serem mais baratos. No entanto, somente com a imprensa de tipos móveis de Gutenberg, no século XV é que a Bíblia passou a ser acessível, à maioria das pessoas.

Com a Bíblia impressa chegamos, aos novos tempos, pois uma impressora pode fazer centenas ou milhares de Bíblias sem erros. Ademais, uma Bíblia impressa não somente é mais barata, como também é melhor que uma Bíblia manuscrita. E ainda por cima ela é uniforme.

2-Como foi feito o cânon bíblico?

Ainda no século I, já havia inúmeras formas de Cristianismo. Antes da chegada do ano 100 D.C. já existia Cristianismo na Índia, Egito, Itália, Grécia, Etiópia, Sudão, etc. Por óbvias dificuldades de comunicação, era impossível que tivessem uma única relação de livros inspirados. Os textos que fazem parte do que hoje chamamos de Bíblia, já estavam prontos no ano 100 de nossa era, mas não existia uma Bíblia única cristã. Se alguém procurasse uma Bíblia para comprar na Europa ou qualquer outro lugar do mundo, nos séculos I e II não acharia nenhuma à venda.

Uma proposta de cânon do Novo Testamento apareceu no século IV e supostamente datava do século II. Ela não listava como canônicos os livros Apocalipse, II Pedro, II e III João e Judas. O Cânon Muratori não cita a Epístola aos Hebreus como livro canônico. Por outro lado este mesmo Cânon Muratori cita como canônico, o livro O Pastor de Hermas como canônico. O mesmo Cânon Muratori cita o livro da"Sabedoria" como canônico.

Quando o Cristianismo foi legalizado pelo Imperador Constantino no século III, este mandou que as diferentes correntes do Cristianismo fizessem uma escritura de livros comum. Por meio de um Concílio, os bispos decidiram que o Cânon seria de 76 livros. Este Concílio não teve unanimidade. No caso do livro do Apocalipse, por exemplo, os delegados do Bispo de Roma foram contra a sua inclusão no Cânon bíblico. Somente no Concílio de Cartago de 397 é que o livro do Apocalipse foi colocado no Cânon bíblico.

Esta primeira Bíblia cristã foi chamada de Bíblia de São Dâmaso, nome do Papa sob a qual foi escrita. Evidentemente que os cristãos da Índia, Etiópia, etc. em nada, sequer, puderam saber desta primeira Bíblia cristã. Mesmo na Europa, a esmagadora maioria do povo era analfabeto e ignorante. Uma Bíblia no século IV custava muito mais caro que o patrimônio de mais de 98% da população européia de então.

O Cânon ou a relação dos livros bíblicos foi estabelecido por Concílios. Tudo por decisão humana. Nenhum livro bíblico diz quais livros devem ser parte do Cânon. Por outro lado, a história mostra que homens é que decidiram que livros fariam parte do Cânon. Basta lembrar que o livro Macabeus 4 está escrito no Códice Sinaiticus e não faz parte nem da Bíblia Católica e nem da Bíblia Protestante.

Na Europa católica, o Concílio de Florença em 1442 manteve esta mesma bíblia, com 76 livros. O Concílio de Trento, no século seguinte, reduziu a bíblia católica a 73 livros, decisão ainda mantida até hoje, pela Igreja Católica. No Concílio de Jerusalém em 1672, a Igreja Ortodoxa Grega reduziu a sua Bíblia para 70 livros.

No século XVIII, as várias denominações Protestantes concordaram que a Bíblia deveria ter 66 livros. Todas estas decisões quanto ao Cânon bíblico foram tomadas por pessoas, em Concílios. Tudo por decisão humana. Nem preciso dizer que os cristãos etíopes têm, desde o século I, seus próprios escritos sagrados.

3-Por que alguns livros não foram aceitos entre os oficiais?

Tanto a aceitação, como a rejeição de um dado texto para o Cânon foi influenciada por decisão humana. Isto vem desde que os Concílios existem e acontece até os dias de hoje. No século XIX apareceu o famoso "Livro de Mórmon”, que só foi aceito por um ramo do Protestantismo e foi e ainda é ignorado ou criticado, por todos os demais. Isto vem de longe.

O Cânon aceitou por exemplo, a Epístola aos Hebreus, que todos os entendidos sabem há mais de mil anos, não foi escrito por Paulo. Uma forjadura óbvia e de autor desconhecido, mas esta obra de autor desconhecido está em todas as Bíblias. Todos os entendidos sabem que Mateus não escreveu o Evangelho a ele atribuído, pois ele morrera há muito, mas ainda assim, existe o Evangelho segundo Mateus. Todos os entendidos sabem que os quatro Evangelhos são relatos de segunda ou terceira mão. João não escreveu o seu Evangelho.

O livro do Apocalipse teve a feroz oposição dos Papas em Roma, que sempre pressionaram para a sua retirada do Cnon. Ele chegou a ser retirado, mas o Concílio de Cartago, em 397, o recolocou de volta ao Cânon. Sim, o livro do Apocalipse foi colocado, depois retirado e depois recolocado na Bíblia.

O livro "Pastor de Hermas" foi considerado por Clemente de Alexandria, Tertuliano, Santo Irineu e Orígenes como inspirado. Os entendidos acham que Hermas é o homem citado por S. Paulo na Epístola aos Romanos, no seu final. Este livro era largamente lido nas igrejas cristãs da Grécia. No século V, o Papa Gelásio coloca tal livro entre os apócrifos. Uma decisão que ainda perdura.

No século XVI, Martinho Lutero exigiu a retirada da "Epístola de São Tiago", do Cânon bíblico. Lutero chamou tal livro de "Carta de palha". Também no século XVI, João Calvino exigiu a retirada do livro do Apocalipse do Cânon bíblico. Ao contrário da decisão do Papa Gelásio, estas exigências tanto de Lutero, como de Calvino deram em nada. A colocação de um texto na Bíblia, de um dado ramo do Cristianismo depende, da tradição e das necessidades terrenas.

4-Por que as Bíblias Protestantes têm menos livros que as Bíblias Católicas?

O citado Concílio de Florença em 1442 manteve a decisão já do século IV, no Concílio de Cartago, em 397 D.C. de ter uma Bíblia católica com 76 livros. Com a chamada Reforma Protestante, no século XVI, a Igreja Católica através do Concílio de Trento reduziu a Bíblia católica para 73 livros, decisão ainda em vigor nos dias de hoje.

Nesta redução da Bíblia, a Igreja Católica pelas mãos de seu clero, mostrou que o mundo é quem decide o Cânon. Assim, saiu da Bíblia Católica o livro 2 Esdras, que condena fortemente a reza pelos mortos ou o pedido de coisas vindas dos mortos. Uma clara condenação do culto aos santos e reza pelos mortos no purgatório. Por outro lado, o mesmo Concílio de Trento manteve no Cânon da Bíblia Católica, o livro 2 Macabeus, que claramente fala em rezas e sacrifícios pelos mortos. Não tem o menor sentido a idéia, que o Concílio de Trento tenha colocado livros na Bíblia Católica. Livros como 1 e 2 Macabeus já estavam na Bíblia Católica, muito antes do Concílio de Trento. Há mais de mil Bíblias do século XV hoje em museus e que foram impressas e elas todas tem Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, por exemplo.

Quanto aos Protestantes, apenas no século XVIII é que eles passaram a ter um relativo entendimento, sobre qual Bíblia afinal defendiam. Eles cortaram a sua Bíblia para 66 livros. No caso do Novo Testamento, eles mantiveram a mesma lista de livros estabelecida no Concílio de Cartago em 397. Os Protestantes ignoraram as sugestões de Lutero e Calvino e simplesmente seguiram o mesmo Cânon, que a Igreja Católica usava desde 397.

Quanto ao Antigo Testamento, as denominações Protestantes decidiram adotar o mesmo Cânon estabelecido pelo Sínodo judaico de Jamnia em 100 D.C. Este Sínodo judaico não teve a presença de nenhum cristão das várias correntes de Cristianismo, que já existiam no ano 100 D.C. Tal sínodo rejeitou como apócrifos todos os livros escritos após o ano 300 A.C. ou que não tivessem sido escritos originalmente em hebraico ou que não tivessem sido fora da Palestina. Na verdade, os judeus até o citado Sínodo de Jamnia usavam uma variedade de textos canônicos.

Nas cavernas de Cunrãm há escritos do livro de Tobias, que é canônico segundo a Bíblia Católica. Nas mesmas cavernas de Cunrãm encontraram-se fragmentos dos livros Enoque e Testamento de Levi, que jamais fizeram parte do Cânon, quer Católico quer Protestante. Não tem sentido se dizer, que os judeus nos tempos de Jesus rejeitavam Macabeus, Judite, Enoque. Isto só aconteceu no citado Sínodo Judaico de Jamnia, que só foi realizado no ano 100 D.C.; quando o Cristianismo não só estava já consolidado, como também já dividido.

A rejeição de 1 Macabeus e Judite também foi influenciada pela política mundana. Ambos os livros citados colocam a rebelião armada, contra um opressor, como sagrada e abençoada por Deus. No século XVIII, as nações Protestantes queriam seus povos dominados quietos. É notório que na luta pela independência americana, os Católicos tiveram uma participação na luta, muito maior que a sua participação na população americana. As sucessivas rebeliões na Irlanda tinham sempre católicos, que diziam seguir o dito nos livros 1 e 2 Macabeus. Tanto uma necessidade de ter uma sanção dos judeus, como necessidades políticas mundanas levaram ao fato das bíblias protestantes, desde a segunda metade do século XVIII terem 66 livros.

Em suma, a primeira Bíblia cristã tinha 76 livros. Isto foi estabelecido por um Concílio. O Concílio de Trento reduziu a bíblia católica para 73 livros, retirando do Cânon livros que condenassem explicitamente orações para os mortos. Ao mesmo tempo o mesmo Concílio manteve 2 Macabeus que apóia rezas pelos mortos.

Os Protestantes não tinham uma Bíblia única que seguir. Levou mais de 300 anos, para os Protestantes terem uma Bíblia única. A redução tanto se deveu a fatores políticos, como uma busca de sanção judaica, como a rejeição de orações pelos mortos que são apoiadas por 2 Macabeus.

Pouco ou nada houve de busca por verdade em tal redução. Os entendidos sabem que a Epístola aos Hebreus é uma farsa, pois não foi escrita pelo apóstolo Paulo. Ela segue no Cânon Católico e Protestante. No mesmo Novo Testamento foi excluído "Pastor de Hermas", que não foi uma forjadura e foi de fato escrito por Hermas.

No Antigo Testamento, a mesma coisa se repete. Os Protestantes alegam rejeitar 1 Macabeus por ele ser supostamente falso. No entanto 1 Macabeus tem indiscutível base histórica. O evento descrito no livro, a invasão de Israel de fato aconteceu. Judas Macabeus de fato existiu. Nem por ser pelo menos em parte verdade, 1 Macabeus faz parte das Bíblias Protestantes. Por outro lado, nessa mesma Bíblia protestante, há o livro de Gênesis que tem figuras como Adão, Eva, Caim, Abel, Noé; todas tão “verdadeiras” quanto os heróis de ficção científica.

A invasão de Israel descrita em 1 Macabeus de fato aconteceu, mas ela não faz parte das Bíblias Protestantes. O Dilúvio universal e sua arca de Noé com mais de 1.000.000 de espécies de plantas cuidadas apenas pela pequena família de Noé nunca aconteceu, mas mesmo assim, Gênesis está tanto nas Bíblias Protestantes, como nas Bíblias Católicas. Na Bíblia, Jonas, fica por 3 dias vivo dentro de um peixe, mas Judas Macabeus que de fato existiu não aparece nas Bíblias Protestantes.

Aonde há busca pela verdade?

Como escrevi antes, o cânon depende da tradição e das necessidades terrenas. A Igreja Católica manteve 2 Macabeus na Bíblia pois ele mantém a base bíblica para o purgatório e as missas pelos mortos. A mesma Igreja Católica excluiu do cânon o livros 2 Esdras, pois ele condenava rezas pelos mortos. Os Protestantes excluíram 1 Macabeus pois ele supostamente apoiava rebeliões, mas mantiveram as cartas de Paulo com seu apoio à escravidão e submissão de mulheres e fizeram o mesmo com uma farsa, como a Epístola aos Hebreus.

O Cânon tanto Católico, como Protestante é de origem e necessidade humana. Ambos os cânones foram feitos pensando neste mundo. Os Protestantes simplesmente não precisavam de uma Bíblia que tivesse livros apoiando rebeliões, como 1 Macabeus ou apoiando rezas pelos mortos, como 2 Macabeus. Por outro lado, os Católicos não precisavam de livros que condenassem orações pelos mortos, como 2 Esdras. Por isto, a Bíblia Católica saiu de 76 para 73 livros e a Bíblia protestante caiu ainda mais, para 66 livros.

Conclusão:

No momento em que pastores protestantes aparecem na TV garantindo que doenças mentais e físicas se devem à ação de demônios ou eufemisticamente "encostos", não se pode deixar de notar o quanto a Bíblia pode ser mal usada. A Bíblia é trabalho humano e como tal, não está isenta de críticas. Como livro de ciência, a Bíblia é absurda e falha, mesmo considerando o tempo em que foi escrita. Como livro de história, a Bíblia mistura fatos com fantasias, não sendo nem de longe infalível. Como livro religioso, a Bíblia tem sido a fonte suposta ou real de dezenas de milhares de seitas, que não raro são apenas negócios fantasiados de religião. Devemos sim ler a Bíblia, mas nunca com fé cega e falta de espírito crítico.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Cânon do AT


Definição:

O termo cânon (kanwn) ou qoneh (hnq) vem da língua semítica, ou sumérica (assírio-babilônica) e significa vara de medir ou régua, especialmente usada para manter algo em linha reta. Entretanto no grego, dá a idéia de vara, nível, esquadro, isto é, a meta a ser atingida, a medida infalível, chegando dessa forma ao criterion (krithrion). No hebraico a raiz da palavra é junco ou cana, isto é, uma vara. Estes eram utilizados como instrumentos para medir.

Em cronologia significava uma tabela de datas e em literatura, uma lista de obras que podiam ser atribuídas a um certo autor. Os cânones literários são importantes porque só as obras genuínas de um autor podem revelar o seu pensamento.

Os clássicos gregos usavam o cânon como sentido figurado de regra, norma ou padrão. Aristóteles chama o homem de bom cânon ou metron (metron) da verdade. A Estátua do Lanceiro, por Policleitos, era considerada cânon ou padrão de beleza física. Os clássicos eram chamados cânones ou modelos de excelência. Na gramática era aplicada às regras da declinação, conjugação e sintaxe. No calendário os cânones eram as datas mestras, certas e firmes, das quais se partia para o cálculo dos períodos intermediários.

O termo cânon aparece no NT apenas em II Coríntios 10.13,15 e em Gálatas 6.16. Este conceito de regra ou padrão que a palavra cânon tem, dá um caráter de norma e era considerado, até mesmo, em outras escrituras. O Direito Canônico e a Literatura utilizaram-no como uma medida diretiva ordenadora.

Com o passar dos tempos o termo cânon passou a designar o corpo de escritos que dá autoridade normativa para a fé cristã, tendo em contraste os escritos que não o são, mesmo sendo contemporâneos. Somente no século IV é que o conceito cânon foi aplicado à Bíblia pelo Concílio de Laodicéia (360) e por Atanásio referindo-se aos livros que a Igreja reconhecia serem, oficialmente, o padrão de conduta e fé.

Sendo assim, cânon são os livros aceitos pela igreja primitiva como Escrituras divinamente inspiradas. O termo cânon deixou, então, de ser a vara de medir para se tornar o padrão. Se cânon significa isto, canonização significa ser oficialmente reconhecido como guia ou regra autorizada em matéria de fé e prática.

A Canonização do AT

O aparecimento do cânon constitui, antes, um longo processo histórico no qual se pode distinguir três estágios: a tradição oral que é resultante da revelação como seu pressuposto, o trabalho de compilação dos escritos sagrados como uma espécie de pré-história e a formação propriamente dita do cânon.

A formação do cânon do AT foi o resultado de uma decisão dogmática que fixou o conjunto das Sagradas Escrituras, determinando-lhe o número e os limites, razão pela qual se postulava um período definido da revelação (de Moisés até Artaxerxes I). As razões para isto estão ligadas à situação histórica. Em certa época surgiu um movimento apocalíptico com a pretensão de possuir o dom da inspiração e misturava, de novo, idéias de crenças estranhas com as próprias, fazendo assim, reviver novamente o perigo do sincretismo religioso.

Para que tivessem valores, os seus escritos, tinham que suplantar a própria Lei. Por isso eram atribuídos as personalidades que viveram antes de Moisés (Adão, Henoc, Noé, os patriarcas), para parecerem mais antigos do que a Lei de Moisés. Outro que era considerado um perigo eram os escritos de Qumran, mas o cristianismo, que se sentiu ameaçado principalmente por haver adotado a tradução grega dos LXX, começou a fazer uma concorrência com as Escrituras Hebraicas. Visando não haver um esvaziamento ou uma desagregação interna ou externa para o judaísmo fiel à Lei.

Os fariseus definiram e impuseram o conceito de cânon, apesar da resistência dos saduceus que só reconheciam a Torá. Esta corrente distinguia entre a literatura sagrada e a profana, e incluíram na primeira 24 escritos.

Nas Escrituras Hebraicas há 39 livros que os judeus aceitaram como canônicos. Estes são os mesmos que foram aceitos pela Igreja Apostólica e Protestante desde os dias da Reforma. A estes a Igreja Romana adicionou 14 outros livros, ou porções de livros que são os apócrifos e os considera como tendo igual autoridade aos demais.

O Cânon Hebraico

A divisão que consta nas escrituras hebraicas encontra-se em três partes:

- Lei (Pentateuco): Gênesis (no princípio - tyvarB); Êxodo (estes são os nomes - tAmv hLaw); Levítico (e chamou - arqYw); Números (no deserto - rBdyw); Deuteronômio (estas são as palavras - ~yrbDh hLa); sempre designados pelas primeiras palavras dos textos.
- Profetas (Nebiûm - ~ayBn):
1) anteriores: Josué; Juízes; Samuel; Reis; em ambos os 1ºs e 2ºs estão reunidos num só.
2) posteriores: Isaías; Jeremias; Ezequiel; os doze profetas, na ordem retomada pela Vulgata: Oséias; Joel; Amós; Obadias; Jonas; Miquéias; Naum; Habacuque; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias.
- Escritos (Kethûbbîm - ~ybWtK, ou Hagiógrafos): Salmos; Jó; Provérbios; Rute; Cantares; Eclesiastes (Coélet); Lamentações; Ester; (estes cinco últimos são conhecidos como cinco rolos ou Megillath - tLgm) Daniel; Edras-Neemias; Crônicas.
A princípio esta coleção continha apenas 24 livros, mas para debater os apologistas cristãos, que apelavam ao AT na sua polêmica contra o judaísmo, mudou para esta ordem.
Os Megillath ou cinco rolos, eram destinados a serem lidos nas principais festas do ano. Desta forma: Cantares para a Festa da Páscoa; Rute para a Festa das Semanas ou da Colheita; Lamentações para a Festa da Celebração do Jejum em memória da Destruição de Jerusalém; Eclesiastespara a Festa dos Tabernáculos (cabana de folhagem); Ester para a Festa dos Purim.

A LXX

- Legislação e História: Gênesis; Êxodo; Levítico; Números; Deuteronômio; Josué; Juízes; Rute; quatro "livros dos Reinos" I, II (Sm), III, IV (Rs); I, II Paralipômenos - paraleipomhna - coisas omitidas - (Cr); I, II Esdras (1º é apócrifo e o 2º é Ed e Ne juntos); Ester, com fragmentos próprios do grego; Judite; I, II, III, IV Macabeus (3º e 4º são apócrifos);
- Poetas e Profetas: Salmos; Odes (apócrifo); Provérbios de Salomão; Eclesiastes; Cântico dos cânticos; Jó; Livro da Sabedoria (Sabedoria de Salomão - apócrifo); Eclesiástico (Sabedoria de Sirac - apócrifo); Salmos de Salomão (apócrifo); Doze profetas menores (Dódeka profeton - dwdeka profhton) na seguinte ordem: Oséias; Amós; Miquéias; Joel; Obadias; Jonas; Naum; Habacuque; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias; e ainda, Isaías; Jeeremias; Baruc (apócrifo); Lamentações; Carta de Jeremias (ou Baruc 6 - apócrifo); Ezequiel; Susana (que é Dn 13 - apócrifo); Daniel 1-12 (3:24-90 é próprio do grego); Bel e o Dragão (que é Dn 14 - apócrifo).
A edição massorética do AT é diferente em algumas particularidades da ordem dos livros seguida na LXX e também da ordem das Igrejas Protestantes. Os compiladores da LXX seguiram um arranjo quase tópico.
A única diferença na Vulgata para a LXX é que I e II Esdras são iguais a Esdras e Neemias, e as partes apócrifas III e IV Esdras são colocadas depois dos livros do NT, como também a Oração de Manassés. E ainda, os profetas maiores vêm antes dos profetas menores. Já na Bíblia Protestante segue-se a mesma ordem tópica de arranjo da Vulgata, omitindo apenas as partes apócrifas, mas o conteúdo segue o Texto Massorético.

Os Antilegômenos

Antilegômenos são os livros contra os quais se fala. No decorrer do 2º século d.C. em certos círculos judaicos alguns livros exprimiram dúvidas quanto à sua canonicidade. São eles:
- Eclesiastes: a crítica baseava-se no seu pessimismo, epicurismo (doutrina de Epicuro, filósofo materialista grego (341-270 a.C.), e de seus seguidores, entre os quais se distingue Lucrécio, poeta latino (98-55 a.C.), caracterizada, na física, pelo atomismo, e na moral, pela identificação do bem soberano com o prazer, o qual, concretamente, há de ser encontrado na prática da virtude e na cultura do espírito. É errôneo identificar o epicurismo com o hedonismo) e na sua negação da vida no porvir;
- Cânticos dos Cânticos: a crítica baseava-se nas passagens que falam da atração física em expressões idiomáticas fortes e entusiásticas que chegam à beira do erótico. Entretanto o rabino Hillel identificou Salomão com Iavé e Sulamita com Israel, mudando assim toda a interpretação através desta grotesca alegoria;
- Ester: a crítica baseava-se no não aparecimento do nome de Iavé no livro;
- Ezequiel: a crítica baseava-se nas diferenças existentes nos detalhes entre o Templo e o ritual dos últimos dias, descritos nos 10 capítulos finais, e àqueles do Tabernáculo Mosaico e do Templo de Salomão;
- Provérbios: a crítica baseava-se em alguns preceitos que parecem ser contraditórios como em 26.4,5 "Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia, para que também não te faças semelhante a ele. Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que ele não seja sábio aos seus próprios olhos".

O Cânon de Alexandria

Era formado por um grupo de judeus que falava o grego e vivia na Alexandria e nas proximidades do Egito. Tinha um Templo e produzia literatura religiosa, seleções com tratados gregos e hebraicos. Apesar de considerar sagrados todos os livros da Bíblia Hebraica, incluíam também os livros apócrifos.

O Cânon Palestinense

Na Palestina a maioria dos livros já era aceita pelos judeus.
Depois da destruição de Jerusalém e do Templo em 70 d.C., os eruditos judeus mudaram-se para Jâmnia, para o estudo e o ensino das Escrituras. Em 90 d.C., um concílio de líderes judeus, Concílio de Jâmnia, discutiu quais os livros que deveriam ser inclusos no cânon do AT e reconheceu oficialmente os 24 do AT hebraico.

Alguns foram contra porque diziam que o concílio não representava o judaísmo oficialmente, mas este foi o cânon que constituiu a Bíblia Hebraica e conseqüentemente a evangélica no século XVI.
O cânon alexandrino, também chamado de deuterocanon (deuterokanwn), possui 24 livros; o palestinense, protocanon (protokanwn), possui 22 livros. Os concílios Florentino e de Trento tomaram este como obrigatório. Sabe-se que o palestinense, através da versão dos LXX, tornou-se a base da Vulgata.

O Concílio de Trento enumerou 21 livros históricos, 7 didáticos, 17 proféticos, sendo que 8 destes são chamados pela Igreja católica de deuterocanônicos (apokrufoj), isto é, segundo cânon; os biblistas protestantes os chamam de escritos apócrifos. Para os católicos estes são escritos apocalípticos do judaísmo tardio, os quais por sua vez, são chamados pelos teólogos protestantes de pseudo-epígrafos (yeudw epigrafw), já que seus autores se apresentam sob pseudônimo (yeudwnumoj).

Outras formas de Cânon
O Cânon de IV Esdras

Há uma teoria do cânon de IV Esdras datada de 30 anos após a destruição de Jerusalém no ano 557 a.C., onde diz que Esdras foi inspirado pelo Espírito e ditou aos seus cinco escribas num espaço de 40 dias os escritos do AT destruídos pelo fogo.

Foram publicados 24 dos escritos compostos por Esdras, enquanto que os outros 70 podiam ser somente acessíveis aos sábios de Israel. Este último grupo designa a literatura apocalíptica, extracanônica, do judaísmo tardio. Segundo esta teoria os escritos foram compostos num simples espaço de tempo, dando ênfase à inspiração divina e conseqüentemente, uma santidade particular nos textos (2º século). Esta teoria de inspiração foi adotada pelo cristianismo, Igreja da Idade Média e da Moderna, da mesma forma como pelos exegetas judeus e protestantes até o iluminismo. Com o iluminismo o que era místico tornou-se racional e passou a se fazer justiça à realidade histórica.

O Cânon Samaritano

Os samaritanos aceitavam apenas os 5 livros da Torá, Pentateuco, como canônicos.
De caráter não canônico há uma exposição histórica que vai de Josué até à Idade Média, passando pelos imperadores romanos e traz, para o período bíblico, partes consideráveis dos livros históricos do AT. Este é mais conhecido como livro de Josué. Outro livro não canônico e importante é a versão samaritana da história de Moisés, que se encontra na Doutrina de Marqã - Memar Marqã, que apareceu nos primeiros séculos do cristianismo.

O Cânon Judaísmo Helenístico

É o cânon alexandrino da versão dos LXX.

O Cânon do Cristianismo

A princípio não aceitou a teoria dos fariseus e nem se prendeu a nenhum cânon, se prendia mais à LXX do que ao cânon hebraico.