terça-feira, 18 de outubro de 2011

Helmut Koster, Martin Hengel: Cristianismo, Judaísmo e Helenismo nunca formaram blocos monolíticos e imutáveis




Em primeiro lugar, deveremos considerar as categorias “Cristianismo”, “Judaísmo” e “Helenismo” não como blocos monolíticos e absolutamente imutáveis; uma vez que o seu desenvolvimento e dinâmica situam-se no dinamismo e na dialética da história. Segundo André Chevitarese e Gabriele Cornelli “o judaísmo, o cristianismo e o politeísmo grego nunca existiram, enquanto formas culturais autônomas e independentes, fora das simplificações manualísticas ou das identificações ideológicas posteriores”.


Para Chevitarese e Cornelli, “ao nos referirmos às culturas judaicas, cristãs e politeístas, estamos admitindo o uso de um conceito que estabelece a todo o momento, em termos individuais ou coletivos, um diálogo constante entre o presente e o passado...”.


a. Judaísmo

O judaísmo monoteísta se fundamenta na fé em Deus e na obediência às Leis. Nisso consiste sua pertência à Deus e aqui se fundamenta a apologia. A relação fé/Lei torna-se uma peculiaridade para os judeus, por causa de seu caminho de vida. Nessa adesão, os judeus como povo eleitos de Deus, torna-se a base de toda a apologia. A Toráh pode ser identicada com a lei da natureza e da humanidade. Os gentios politeístas eram adoradores da criação mais que do Criador. Adoravam as coisas, matérias do universo. Os judeus respondiam às calunias concernentes às suas origens recitando a história da criação e seu contexto na história do povo; referindo-se às Leis.


Em base na Bíblia, os judeus foram capazes de levar em frente sua cronografia como um contraposto alternativo, que era plausível para eles mesmos e para os demais. A prova da antiguidade dos judeus (cronografia) pode ser determinada assim: ‘Moisés precede Orpheos e a filosofia grega. Moisés era a figura principal, porém outros serão incluídos no argumento, como Abraão, que nos textos apologéticos veio a ser o inventor. A cronologia judaica se dá em três fases: a. Fora da cronologia bíblica; b. Mistura de dados bíblicos com mitologia extra-bíblica; c. os eventos bíblicos como parte da cronologia universal da história do mundo.


O que melhor concerne ao judaísmo, quando eles iniciam sua residência na terra, foi com a instituição cúltica. E a instituição cúltica incluia especialmente o particular caminho judaico para a vida, expressa em termos de doutrina grega de virtudes (Catálogo de virtudes) – como era delineado antes por Moisés.


A relação entre religião e nação na constituição do judaísmo pós-exílico era muito visível e seu desenvolvimento muito dependeria das ações proféticas, fortalecendo assim uma identidade voltada ao nacionalismo e à plena observância aos preceitos religiosos estabelecidos. “Desde sua instalação na Palestina até o cativeiro, e a despeito da pressão de vizinho muitíssimo mais forte, os israelitas haviam conseguido manter uma relativa independência nacional nos limites do reino que fundaram, mais tarde cindido em dois pelo cisma. Com base nesse quadro nacional, cujos marcos geográficos eram formados pelas fronteiras da Palestina, praticavam a religião que desde o início se caracterizava pelo acentuado cunho étnico. Em virtude do pacto do Sinai, que os unira a Deus, os hebreus consideravam-se o povo eleito. Havia perfeita correspondência entre nação e religião.


O esforço dos profetas visou preservar o patrimônio religioso de Israel contra quaisquer influências estrangeiras e defendê-lo de toda contaminação oriunda do substrato cananeu. É suficientemente verdadeira que, a literatura apologética judaica era uma reação ao antisemitismo.


Mas não há evidência de escritos anti-semíticos antes do tempo dos Macabeus. Após o Exílio da Babilônia (587 a.C.), desde as “leis” e o “Templo” (centro da vida religiosa judaica), a constituição da identidade judaica foi se consolidando a partir das diversidades étnicas e socioculturais dos povos mobilizados, com forte acento em uma “nação judaica” restaurada e definida desde “o Projeto do Segundo Templo (Ex 25-40)”, porém acentuando o caráter étnico.


Sendo assim, o movimento de migração das diásporas judaicas no contexto da consolidação do “judaísmo” possibilitou um pluralismo de matizes étnicas e culturais ao interior da construção do mesmo. “No judaísmo helenístico era possível fazer uso de uma mistura de elementos do judaísmo e da sabedoria grega”.


Para Simon e Benoit, “no interior ou fora de sua pátria, os judeus experimentaram contato permanente e direto com diferentes civilizações (egípcia, mesopotâmica, persa e, sobretudo, a grega, em seguida a romana). Mesmo com muitas precauções, entretanto, não chegaram a impedir a atuação das influências externas. À medida que se dava a instalação definitiva do reino da lei, percebe-se que também se formava no judaísmo um corpo de doutrina, parcialmente constituído de elementos estrangeiros tomados de empréstimo, em especial do Irã e da Grécia”.


O judaísmo, em sua mobilização, vai se situar num campo mais complexo com o início da helenização, tanto na Palestina como em outros territórios onde se fará presente; contudo, sem que imaginemos que se tratara de um processo homogêneo para todo o domínio grego e, posteriormente, romano. “Edward Ullendorff diz que, Conti Rossini (1895) já havia sugerido que o judaísmo professado pela guarnição militar divergia consideravelmente das formas judaicas como era preservada na Etiópia”.


No que concerne à constituição da identidade judaica, no contexto da helenização, observa-se enfaticamente seu caráter de conflito, tensão e fluidez.


Entre o período de Antíoco IV Epifânio (175-164.a.C.) e a ascensão dos Asmoneus houve um conglomerado de ocorrências como a imposição de valores culturais e religiosos gregos à Palestina, como também a todo o dominio greco-romano. A respeito da comunidade judaica da Palestina e das diásporas judaicas fez-se necessário o consentimento parcial judaico a respeito da recepção da oferta grega, não obstante a resistência e oponência radical dos Macabeus, conferindo à identidade judaica seu caráter de fluidez, de conflitos, dinamismo entre as fronteiras étnicas e de reconhecimento da demarcação de sua identidade. Segundo Helmut Koster a rebelião dos Macabeus havia começado devido a tentativa de facer de Jerusalém uma cidade helénica. O pensamento mesmo de um pluralismo cultural e religioso era necessariamente inadmisivel a respeito de Jerusalém.


Desde a perspectiva da fé judaica tradicional, a continuidade lógica da rebelião consistía no retorno de todo o país a fé no Dios de Israel. Por isso quase todas as cidades gregas de território palestino foram conquistadas pelos Asmoneos. A população era expulsa ou obrigada a se converter ao judaísmo, e outros foram incorporados ao imperio asmoneo sem seus direitos cívicos. Enquanto que ao princípio das guerras macabeias pela independência predominava o componente ideológico de liberar o templo, a cidade e o país dos horrores pagãos, depois a religião se converteu nas mãos dos asmoneos como um meio para ligar todos os habitantes com Jerusalém, onde o soberano era ao mesmo tempo o sumo sacerdote.


Foi conquistada a capital samaritana, Siquém, se destruiu o templo de Monte Garizim, sendo obrigados os samaritanos a reconhecer a supremacia religiosa de Jerusalém. Porém, torna-se prematuro afirmar uma supremacía judaica desde Jerusalém pelos asmoneus, com incidência a todo judaísmo das diásporas. Na suposição de que Jerusalém tivesse uma autoridade sobre las comunidades da diáspora, esta seria de caráter ideal e não institucional. Em nenhum momento as autoridades de templo tiveram direitos judiciales e poder policial sobre os judeus que viviam fora dos limites políticos dominados por Jerusalém. Por regra geral a diáspora procurava se manter à margem das questões políticas de Palestina, ainda que somente fosse por motivos de subsistência e de obediência à autoridade política correspondente, que teinha poder sobre ela. Esta atitude básica a adotaram mais tarde muitas comunidades cristãs (cf. Rm 13,1ss.; 1 Pe 2,13).


O judaísmo no período greco-romano vai se desenvolvendo a partir de um caráter pluri-étnico, abrangendo realidades socioculturais distintas, porém sem deixar de considerar no seu processo de interação entre fronteiras étnicas a alteridade presente em suas origens e as diversidades presentes em seu dinamismo histórico.


b. Helenismo

No que se refere ao Helenismo, abre-se um novo período na história do judaísmo, isto é, a “helenização”, que antecede a Antioco IV Epifânio (175-164 a.C.). A história helenista veio a ser uma história universal. Esse foi um esquema que penetrou no judaísmo. O estabelecimento de uma era universalmente válida. Uma universalidade aceitável, datando de eventos que transcenderá os sistemas locais. Assim como o judaísmo vai se definindo por meio do caráter plural do processo de interação com outras culturas e povos, preservando sua autonomia com seus valores étnicos e religiosos, o helenismo também se apresenta como categoria de pensamento na órbita das diversidades, não isento das correntes de resistências, como também de consentimentos, porém com certas especificidades no que se refere à filosofia e às religiões. André Chevitarese e Gabriele Cornelli14, a partir das concepções de Werner Jeager (1991) e L. I. Levine (1998), apresentam duas definições de helenismo: Werner Jeager demonstra que o termo ‘helenismo’ sofreu um processo de interpretações variadas na Antiguidade. De imediato, com Teofrasto no quarto século a.C., esta palavra adquire o sentido do uso gramaticalmente correto da língua grega, o grego livre de barbarismos e solecismos.


Posteriormente, porém, o helenismo vai caracterizar a adoção das maneiras gregas, do modo de vida grego, em especial fora da Hélade, onde a cultura grega tornara-se moda. L. I. Levine define o helenismo como um meio cultural, largamente grego dos períodos helenísticos, romano e uma extensão mais limitada do bizantino, enquanto que, por helenização, Levine chama o processo de adoção e adaptação desta cultura em nível local.


Consideramos que nas duas concepções estão presentes elementos como “maneiras gregas e sua expressão na linguagem”, assim como sua adaptação e assimilação em novos meios locais, onde também se situam as comunidades judaicas e outros povos judaizados. É o caso do Egito, que desde a Alexandria desenvolveu fortemente uma literatura marcada pela cultura helenística. “Cerca de trezentos anos antes de Cristo, o Egito foi conquistado por Alexandre Magno (332 a.C.). O país dos Faraós foi então aberto à intensa colonização dos gregos, chamada helenizaçao (Helenos – Gregos). A língua e a cultura grega não se restringiram aos muitos comerciantes gregos que se estabeleceram em Alexandria e outras cidades, mas foram aceitos praticamente por toda a população urbana”.


O processo de helenização em várias nações não foi motivo para a abdicação da língua nacional e suas representações simbólicas, mesmo que houvesse o consentimento ou aceitação do processo dentro de um consenso coletivo ou parcial, não isentando, porém, as nações onde tal fenômeno de fato ocorreu. Segundo Helmut Köester “na Babilônia e Palestina, a maioria dos judeus falava o arameu, enquanto que na diáspora do Egito, de Ásia Menor e do Ocidente se havia imposto a língua grega”. Essa realidade não nega outras conseqüências menos ou mais drásticas geradas no interior das culturas e dos povos helenizados. Como conseqüência geral da helenização, considera-se que, como processo histórico-cultural, esta afetava a todos os judeus da Palestina e da diáspora.


O processo de romanização que se segue às categorias de pensamento grego vai ampliar, no âmbito universalista que caracterizava o império romano desde Pompeu (65 a.C.) até Constantino (século IV d.C.), as já mencionadas categorias do Judaísmo e Helenismo. Para uma melhor compreensão dessa ampliação e ao mesmo tempo das influências greco-romanas na concepção judaica do mundo, recorremos a James M. Scott.


Este apresenta “o quadro das nações do rei Agripa e a discrição da soberania universal do Império Romano, enquanto Flavio Josefo o coloca como sendo Agripa II, com o início da guerra (Bj 2.345-401). Agripa inclui um impressionado quadro das nações sob o controle romano, isto é, gregos e macedônios, como os miríades de outras nações, incluindo as quinhentas cidades da província da Ásia e outras nações da Ásia Menor, os tracianos, os gauleses, os ibéricos, os germanos, os bretões, os partos, os cirenaicos, numerosas nações do continente africano e Egito.


c. Cristianismo

A construção das identidades dos povos oriundos de diversas nações e geografias irão apresentar uma constituição flexível, não isento os conflitos e tensão no seu processo de interação com outros povos e culturas, porém com autonomia quando se refere ao consenso de identificar seu passado e seu presente na história. Dessa forma, “a pertença étnica não pode ser determinada senão em relação a uma linha de demarcação entre os membros e os não membros. Para que a noção de grupo étnico tenha sentido, é preciso que os atores possam se dar conta das fronteiras que marcam o sistema social ao qual acham que pertencem e para além dos quais eles identificam outros atores implicados em um outro sistema social”.


O cristianismo, procedendo do judaísmo, implantou-se e desenvolveu-se em ambientes greco-romanos, assimilando, integrando, interagindo e reinterpretando muitos elementos socioculturais e categorias de pensamentos neles encontrados, especificamente de cunho religioso, culto de mistérios, hermetismos e gnoses pagãs. Para Martin Hengel “O cristianismo primitivo é uma religião sincrética com várias raízes. O judaísmo não foi o único berço do Cristianismo primitivo, mas havia diversas outras correntes como o gnosticismo, religiões mistéricas gregas e orientais, magias, astrologia, politeísmo pagão, histórias de homens divinos (theioi andres) e seus milagres, filosofia helenista popular com a influência do culto pagão e não judeu, e também influência da imaginação e linguagem religiosa helenista na diáspora”.


O processo de interação étnico-cultural entre os povos e nações, e a constituição do Cristianismo primitivo estão inseridos no movimento das Diásporas e das Sinagogas, como mediações judaicas, helênicas e de inserção cristã. “Enquanto o acesso ao Templo era rigorosamente vedado aos pagãos, o culto sinagogal estava aberto a todos. Por nele se usar normalmente a língua comum, e devido também ao lugar capital que nele se reservava à instrução, esse culto prestou-se com grande eficácia à difusão do judaísmo”. De acordo com os decretos conferidos por César aos judeus, a sinagoga ocupava um “lugar central”, ou seja, um espaço aglutinador dos costumes e das tradições judaicas. A sinagoga garante aos judeus o espaço para as assembléias, para guardar o sábado, a Torá e todas as prescrições que norteiam suas vidas individuais e coletivas; religiosas e culturais. Segundo E. P. Sanders, os decretos em favor dos judeus na Diáspora consistiam nos seguintes pontos: “O direito para assembléia ou para fazer um lugar de assembléia: 5 tempos; o direito para guardar o sábado: 5 tempos; o direito para fazer suas comidas ancestrais: 3 tempos; o direito para resolver seus assuntos pessoais: 2 tempos; o direito para a contribuição monetária: 2 tempos”. Isso tudo era fundamental para a vida judaica.


Porém, no contexto greco-romano essa realidade não era passível de críticas e oposições, uma vez que “os judeus insistiam em reclamar para si um status especial que lhes garantissem a prática de sua religião, o desfrute de alguns privilégios fiscais, o envio a Jerusalém do tributo do templo e, ao mesmo tempo, depreciavam aos deuses dessas cidades”.


É notória a presença de antigas sinagogas no contexto das Diásporas, e essa realidade é testemunhada por fontes literárias como também pela arqueologia. O prefácio da obra editada por Steven Fine apresenta um mapeamento das sinagogas na Palestina e nas diásporas. Aponta a localização das mesmas nas geografias de Egito, África e Gaza. “Na região do Egito (entre Alexandria, Atribes e Crocodilopolis) encontramos, pelas fontes literárias três sinagogas. Em Naro (território africano) encontramos, pelas evidências arqueológicas, uma sinagoga. Em Gaza, situada mais ou menos a 100 km ao sudoeste de Jerusalém, encontramos, pelas evidências arqueológicas, uma sinagoga”.


Porém, qual seria a concepção de sinagoga, a partir da prática judaica da Palestina e das diásporas no contexto do Cristianismo do primeiro século? Tratar-se-ia de espaços informais e comuns de encontros e assembléias, mas não de estruturas já consolidadas. Paulo, em Antioquia, participa de uma sunagwgh/j (“assembléia, reunião”) de judeus e prosélitos (At 13,43).


Para Pieter W. van der Horst, “apenas depois da queda do Templo, para resistir, numa atitude de solidariedade fundamental para a preservação da identidade judaica, que sinagoga veio a ser um termo para a casa da assembléia de adoração. Nas fontes judaicas, porém, até o terceiro século d.C., a palavra sinagoga é usada apenas como ‘assembléia’ ou ‘congregação’, em concordância com o significado original da palavra e com o uso grego, e não para um lugar de assembléia ou a construção. Para o lugar da assembléia, as fontes primitivas sempre usam proseuchê, literalmente (lugar de) oração. Os lugares de reuniões eram meramente partes privadas da casa. Isto se aplica igualmente para Palestina e para a Diáspora. Nas passagens do Novo Testamento; nos Evangelhos e no livro de Atos, sinagoga refere-se à congregação judaica ou à reunião informal de crenças judaicas.


Como considerações provisórias Alguns conflitos e desafios inerentes ao processo da construção da identidade do Cristianismo primitivo


O processo da construção da identidade do Cristianismo primitivo não esteve isento de conflitos e tensão. Como vimos anteriormente, o seu processo interacional entre fronteiras étnicas e geográficas está impregnado de fatores de diferenciação e aproximação que irá construir um tecido identitário plural e diversificado. Segundo Martim Hengel, no tempo de Antíoco IV, o judaísmo helenístico tinha ameaçado a exclusividade do judaísmo monoteísta com seu esforço pela secularização do templo e integração entre a nação do mundo (O templo, o culto, a famosa Jerusalém das perigrinações teve a marca da cultura helenista no tempo dos asmoneus e Herodes; diferentemente do helenismo de Alexandria e de outras geografias helenizadas).


Porém, isso não era tão problemático para o judaísmo quanto à eminência da vinda do Reinado de Deus e a proclamação da escatologia realizada da profecia do A. T. O significado do templo e da Toráh foi diretamente colocado em questão. Da fé e obediência à Lei, como foi dado para Israel no Sinai, passa para uma pessoa messiânica, um mediador, com quem a oração de Isaias (64,1) era certamente atualizada: Deus vem para seu povo em forma de ser humano. Há um verdadeiro Deus, chamado Deus de Israel que em breve envia um Salvador. Cristo é o fim da lei e a luz de todos os que creem26. Aqui reside um conflito entre o judaísmo normativo e o novo movimento messiânico. Já não é Moisés e a Lei os intermediários entre Deus e a humanidade, mas sim o Messias, o que traz o novo pacto. Para Hengel é o começo de uma nova religião tanto para Israel como para o mundo. A eminente chegada do Reinado de Deus e a parusia de Jesus de Nazaré, o Messias crucificado de Israel, o Filho de Deus.


No desenvolvimento do Cristianismo primitivo, estão presentes outros acontecimentos históricos como a Guerra Judaica (64 d.C.), a morte de Pedro, Paulo, João (43 a.C.), a iliminação de vários grupos sociais e religiosos, a expulsão dos cristãos da sinagoga, a formação das diásporas cristãs helênicas e a consolidação do judaísmo rabínico. Aqui reside um outro conflito entre o judaísmo normativo e o movimento cristão.


A partir desses conflitos apresentam-se os desafios para dar passos na direção da separação. Martins Hengel afirma que segundo o descrito por Lucas no contexto da missão de Paulo, foi o fato de que os judeus messiânicos e seus pagãos, seguindo entre os tementes a Deus, foram expelidos das ordenadas sinagogas/comunidades, que foram finalmente distinguidos pelo termino ekklesia. Como uma nova seita escatológica, uma nova assembléia sinagogal, muito familiar, onde se lia a antiga Escritura, mas com novo entusiasmo; com uma oração confiante, mas também no “nome de Cristo”. Com hinos cristológicos, uma vivência segundo a ordem ética das escrituras e no amor (agape); contra a idolatria e vicios dos pagãos. O domingo, a liturgia, a eucaristia, as leituras litúrgicas eram formas dos cristãos se distinguirem da tradição mosaica. Assim como os judeus-cristãos, predominantementes comunidades cristãs gentílicas da Diáspora no Império romano, na segunda metade do primeiro século, não observavam a circuncisão, sábado, leis de dietas, dias de festas e festas anuais.


No contexto do desenvolvimento do Cristianismo predominantemente vemos a carta que Plínio descreve a respeito do cristianismo, em uma carta à Trajano, como degenerado e extravagante. Sutônio chama o movimento cristão como uma nova e maléfica superstição e magia. Tácito descreve o Cristianismo como detestável superstição, assim como em Atos dos Apóstolos 24,5; 24,15; 26,28; 26,5; 28,22.


Sendo assim, o Cristianismo primitivo abre-se às diversidades e às múltiplas experiências na construção de sua identidade. É nesse contexto de mobilidade dos povos e culturas, no horizonte de suas fronteiras étnicas e geográficas, no seu processo de interação e assimilação, conflitos e desafios, nos espaços das sinagogas ou sobre as influências das mesmas, que o Cristianismo vai se desenvolver.


O Logotipos se faz carne (Lógos-sarx); e o homem é assumido pelo Logotipos (Lógos-ánthropos).


O Cristianismo nasceu em um entorno presidido pela diversidade. Tratava-se de uma seita judaica sem qualquer unicidade: havia cristãos mais rigorosos com respeito à observância da Lei Mosaica, enquanto havia outros mais permissivos, chamados de "cristãos helenistas", que viam a observância da Lei como um peso, e aceitavam novos batizados de origem pagã.

Porém, os problemas de divergência doutrinária e de ideologia foram aumentando com os séculos, à medida que a seita crescia e se formava a Igreja. Foi nesse contexto histórico que as vozes discordantes em relação a ortodoxia – a qual se proclamava a herdeira da tradição apostólica - foram cada vez mais estridentes, até provocar grandes cismas e heresias. A seguir oferecemos um catálogo das principais heresias da Antigüidade, até o século VI, com a condenação do Orígenes por parte do imperador Justiniano.

Nas primeiras décadas de existência do cristianismo, o próprio apóstolo Paulo teve que lutar com cristãos que não viam com bons olhos o batismo e aceitação, nas primeiras comunidades cristãs, de pagãos que não seguiam os ritos próprios da Lei mosaica, e em especial da circuncisão. Existia, pois, desde o início e sobretudo em Jerusalém, uma corrente que representava a vertente mais tradicionalmente judia, matriz de que procedia a nova comunidade espiritual. Existiram vários tipos de cristãos judaizantes no século II, como os Ebionitas, os Nazarenos, e correntes que tinham sua origem em idéias judaizantes, como o Milenarismo e os Elcasaítas.

Os Ebionitas foram a facção mais radical, partidários de uma estrita observância da Lei mosaica, que consideravam Jesus como um homem que chegou a ser "Cristo" (o Messias ou o Ungido, o que era sinônimo do Rei do Israel) por sua fidelidade à Lei. Os Ebionitas dispunham de um próprio Evangelho, que tinha ao Evangelho de Mateus como referência. Entretanto, omitia o relato da infância do Jesus, pois os Ebionitas negavam o nascimento virginal, sendo que, para eles, a união de Jesus com o Espírito se produziu no batismo. O Evangelho dos Ebionitas foi composto na primeira metade do século II.

Em princípios do século II também foi composto o Evangelho dos Nazarenos, que fora escrito em aramaico ou siríaco, muito próximo a escrita do Evangelho de Mateus. Este evangelho era utilizado por uma comunidade judaizante de fala aramaica, na região da Ásia. Desta época é o Evangelho dos Hebreus, que também tinha conotações judaizantes, mas de uma comunidade egípcia.

Entre as idéias judaizantes dos dois primeiros séculos do Cristianismo, encontramos o Milenarismo ou Quiliasta, baseado no Apocalipse. Muitos cristãos acreditavam na iminente restauração messiânica do Reino dos mil anos, que Cristo presidiria, com o correspondente julgamento final. Estas idéias se plasmaram no Apocalipse sírio do Baruc e no livro de IV Esdras, mas também aparecem com mais ou menos intensidade entre muitos autores e escritos mais ortodoxos, como por exemplo, na Epístola do Barnabé, ou nas obras de Justino ou Irineu.

Uma seita milenarista que se estendeu a Roma nos princípios do século II foi a dos Elcasaítas, seguidores do Alcibíades da Apaméia, que pregava a mensagem contida no Livro do Elcasai, um profeta palestino que propunha um batismo muito complexo e certas penitências, que lhe tinha sido revelado através de uma visão. O Elcasítismo tinha também alguns componentes pagãos, de tipo fundamentalmente ritual.

Desde o começo, o Cristianismo carecia de uma opinião unânime sobre a natureza do Jesus, pois a idéia de sua divindade se associava com dificuldade com as idéias mais judaizantes sobre o Deus único, ainda que fosse de mais fácil aceitação pelos pagãos conversos. Já nos próprios Evangelhos não se encontra uma unidade clara de critério sobre a divindade de Jesus.

O Evangelho de João e o de Marcos não nos falam da infância do Jesus, e tudo parece indicar que foi partir do batismo que se produziu a união entre o Espírito e o homem Jesus. Esta última tese é a que aceitavam os Adocionistas, corrente que mantinha que no batismo, Deus tinha adotado Jesus como seu Filho. Outra corrente, conhecida como Docetismo, considerava que o corpo do Jesus não era real, mas somente aparente. Essa seita foi rebatida nas Epístolas de João, que afirma: "quem não confessa que Jesus veio em carne é o espírito do anticristo". Esta corrente considerava que Jesus gozava de um corpo aparente, pois sua divindade lhe impedia de mesclar-se com o perecível.

No século II apareceram vários autores que defenderam teses docetistas, subordinacionistas e adocionistas, como Noeto da Esmirna, que não podia aceitar que o Pai e o Filho fossem pessoas diferentes, e por isso em Cristo se encarnava o próprio Deus, mas só como projeção. Práxeas defendeu uma tese conhecida como Monarquianismo, pois Deus é monarca único, e é quem se encarnou no Filho. Desse modo, foi o próprio Deus quem sofreu paixão e morte na cruz. Uma idéia oposta, mas apoiada igualmente na unidade de Deus, é o Adocionismo de Teódoto e Artemón, que mantinham que Jesus foi um homem adotado por Deus como instrumento de salvação, já que Deus não podia relacionar-se com a carne. Sabélio foi o continuador de Noeto em Roma, pois para ele Pai e Filho não são mais que modos ou aspectos de uma mesma personalidade, pois Deus se manifesta como Pai na Criação e como Filho em seu papel de salvador. O bispo de Roma condenou a Sabélio e a seus seguidores, chamados de "Modalistas", como hereges. A disputa não fou resolvida até a implantação de uma fórmula intermédia: o Concílio de Nicéia determinou que o Pai, o Filho e o Espírito Santo eram uma única substância e três pessoas (um homoousion e três hipóstasis).

Havia na Samaria um profeta ao que chamavam "Simão o Mago", de que falam os Atos dos Apóstolos 8.9-24, e de que dizia que tinha redimido a sua companheira, uma ex-prostituta, encarnação da Sophia. Os Simonianos e os Bardesianos, seguidores do Bardesanes, filósofo aramaico, aproximam-se da grande heresia do século II, o Gnosticismo.

O Gnosticismo se trata de um complexo vigamento de mitos e crenças, de que participaram distintas Escolas, e que tinham como comum denominador uma Gnosis. Os Gnósticos se opunha radicalmente à entidade divina do Antigo Testamento, e por isso representam o pólo oposto ao cristianismo judaizante, sendo que representavam uma opção culta e helenizada dentro do Cristianismo. Tal tipo de Cristianismo se aproxima dos Mistérios pagãos e, sobretudo, do sincretismo filosófico da época. Simonianos, Bardesianos e Fibionitas foram três seitas, próximas ao Gnosticismo, que mantiveram complexas cosmologias e certo componente gnostico, como via de salvação.

O Maniqueísmo, por sua vez, foi criado pelo profeta persa Mani no século III. Esse autor escreveu seus próprios textos, e teve grande difusão desde a Pérsia ao Extremo Oriente, e também ao Ocidente, chegando até a Espanha e a Gália. De forte influência zoroástrica, Mani falava de dois princípios antagônicos, a Luz e as Trevas; no Cosmos se mesclam ambos os princípios, que também se encontram no homem, e por isso este deve despertar à Luz, por meio de uma certa gnosis e um determinado comportamento de vida.

O Montanismo é a última grande heresia dos séculos II e III; Montano, de origem frigia, fundou junto a duas profetisas, Prisca e Maximilla, um movimento profético, que se propõe a realizar uma renovação no Cristianismo frente ao iminente fim do mundo. Propunha uma vida ascética apoiada em jejuns e abstinência sexual, convidando seus ouvintes a uma resignada disposição para o martírio. O Montanismo se estendeu por todo o Norte da África, e conquistou para suas filas a Tertuliano, um dos grandes Pais da Igreja. Sua rigorosidade terminou por gerar uma importante disputa sobre a impossibilidade de redenção dos pecados depois do batismo, que terminou afastando o Montanismo do cristianismo ortodoxo.

O século IV começa com a grande disputa trinitária, quando surgiram grandes heresias orientais sobre a questão cristológica. Ário foi o promotor da primeira grande disputa. Desenvolveu uma teologia trinitária subordinacionista, segundo a qual, Deus, único e indivisível, não pode compartilhar sua essência (ousía) com outra pessoa, e por isso o Filho não pode ser da mesma substância que o Pai. Para Ário, Deus é princípio (arché) e Cristo, o Logotipos, sendo engendrado, a primeira e superior das criaturas, criado fora do tempo, de absoluta perfeição, mas não compartilhando nem da eternidade nem da essência do Pai. O Espírito é a primeira criatura engendrada pelo Filho. Desse modo, essa vertente discordava da ordem de hierarquia entre as três entidades divinas, que formam a Trindade.

As teses de Ário foram condenadas no primeiro Concílio Ecumênico, celebrado em Nicéia no ano 325, sob a presidência do Imperador Constantino. Em dito Concílio se estabelece o Símbolo da Nicéia, que ainda se reza como o Credo católico, no que se afirma que há um só Deus, Pai, e o Filho, da mesma natureza que o Pai (homooúsios).

O Arianismo teve uma grande difusão, e não desapareceu depois do Concílio da Nicéia, pois o Imperador Constâncio favoreceu a esse segmento, tendo inclusive nomeando a um deles, Eusébio da Nicomédia, Patriarca de Constantinopla. O problema era a aceitação do termo homooúsios, o qual foi o responsável por uma disputa que ainda durou alguns anos. Ainda assim, o Arianismo conseguiu estender-se entre as monarquias góticas européias. Foram os três grandes teólogos capadócios: Basílio de Cesárea, Gregório Nacianceno e Gregório de Nisa, quem pôs fim a essa disputa, e conseguiram impor a formula "uma natureza, três pessoas" (una ousía treîs hypostáseis). Teodésio o Grande convocou o I Concilio Ecumênico de Constantinopla, onde se confirmou o credo da Nicéia, condenando definitivamente o Arianismo e as heresias afins.

Outras duas grandes controvérsias trinitárias foram: o Macedonismo, promovida por Macedônio, bispo de Constantinopla, que negava a divindade do Espírito Santo de forma subordinacionista. Foi condenada no Concílio de Constantinopla, onde foi confirmada a divindade do Espírito Santo; e o Apolinarismo, que seguia as tese de Apolinário de Laodicéia, teólogo inimigo das teses arianas e defensor da divindade de Cristo; esta heresia introduz a questão cristológica, que será debatida nos próximos Concílios Ecumênicos, contra o Nestorianismo e o Monofisismo. Para Apolinário, o Logotipos se encarna em um corpo e uma alma humana, mas sem a parte racional, sendo que no homem Jesus haveria uma inteligência e vontade divina; esta tese foi defendida pela Escola da Alexandria, representada por Cirilo e mais tarde pelos Monofisistas. Teodoro da Mopsuéstia e João Crisóstomo, representantes da Escola de Antioquia, opuseram-se ao Apolinarismo, no I Concílio de Constantinopla. Aqui começava a batalha entre as duas grandes Escolas Catequéticas da Alexandria e Antioquia.

A disputa sobre a natureza do Cristo enfrentava duas visões distintas sobre a alma humana, uma visão platônica sobre as três classes de almas encerradas em um corpo, e uma visão aristotélica segundo a qual a alma é a substância do corpo. Estes dois pontos de vista permitiam interpretar a encarnação do Logotipos de duas maneiras distintas: a primeira uma cristologia descendente, em que o Logotipos se faz carne (Lógos-sarx); e a segunda uma cristologia ascendente, onde o homem é assumido pelo Logotipos (Lógos-ánthropos). A Escola da Alexandria assumiu a cristologia descendente, que finalmente acabou se impondo, enquanto que a Escola da Antioquia, com o Teodoro da Mopsuéstia à cabeça, mantinha que a união entre o Logotipos e homem é uma conjunção (sináfeia), o que deixava claro que não havia mescla de naturezas. No ano 428, o imperador Teodosio II nomeia ao Nestório Patriarca de Constantinopla. Nestório, orador ardente, combateu do púlpito a popular concepção da Maria como "mãe de Deus" (theotocos); da teologia antioquena, Maria só podia ser mãe de Cristo, não do Logotipos que lhe é anterior. Cirilo de Alexandria, apoiando-se em teses próximas ao apolinarismo, mantinha que Cristo tinha uma única natureza, porém também tendo corpo e alma humanos - tese que conseguiu se impor e predominar no Concílio de Éfeso do ano 431, o que custou a condenação e deposição de Nestório.
A polêmica continuou uma geração mais tarde, mas dessa vez a ameaça de heterodoxia provinha da Alexandria, que tinha aceito a interpretação radical do Eutiques das fórmulas do Cirilo, e afirmava que em Cristo só havia uma única natureza, e que da união do Logotipos e o homem, fundiam-se e mesclavam as duas naturezas em uma só. Eutiques foi condenado pelo Patriarca Flaviano de Constantinopla.

No ano 451 se celebrou o Concílio da Calcedônia, que pretendia pôr paz entre as duas tendências radicais: o nestorianismo antioqueno e o monofisismo alexandrino, confirmando o Símbolo da Nicéia, e estabelecendo que em Cristo havia duas naturezas completas, sem confusão, sem mescla, e sem que a diferença de naturezas desaparecesse pela união. A Fórmula da Calcedônia foi aceita como dogma oficial, e o Nestorianismo e Monofisismo foram condenados. Entretanto, nem todos os imperadores foram partidários das teses da Calcedônia, o que permitiu uma certa expansão sobretudo do Monofisismo. Os Nestorianos se transladaram a Pérsia, onde constituíram uma igreja independente.

O imperador Hereclio I (610-641) interessou-se pela unidade da Igreja, e tentou encontrar uma fórmula que pudesse ser aceita por calcedonianos e monofisistas, fórmula que se denominou "Monotelismo", reconhecendo que em Cristo houve uma só vontade. Essa doutrina, que se impôs durante algum tempo, foi retificada pelo III Concílio de Constantinopla, ainda que, durante o reinado do imperador Constantino IV Pogonato, tenha se condenado o Monotelismo, declarando que em Cristo havia duas naturezas e duas vontades, sempre concordantes, no sentido de que a vontade humana seguia à divina.

Enquanto no Oriente se debatiam as questões trinitárias e cristológicas, no Ocidente se suscitavam também outras importantes disputa contra duas grandes heresias: o Pelagianismo e o Donatismo, combatidas por Agostinho de Hipona. Cabe citar também a heresia Priscilianista, que se baseava nos ensinamentos do primeiro mártir da heterodoxia: Prisciliano. Pelágio, natural da Britânia, pregou suas doutrinas pelo Norte da África, no feudo de Agostinho da Hipona, opondo-se às doutrinas deste, especialmente a aquelas que se referiam ao pecado original, que tanto preocupava ao Agostinho. Pelágio e Agostinho mantiveram uma polêmica sobre o pecado original, em duas obras: Sobre a Natureza, de Pelágio, e Sobre a Natureza e a Graça, do Agostinho. O juiz dessa polêmica foi um Papa, que resolveu excomungar ao Pelágio, e Agostinho venceu a disputa.

O Donatismo, por sua vez, foi um movimento de renovação cismático, que mantinha uma estrita e austera concepção do pecado e sua impossibilidade de redenção depois do batismo. Donato foi bispo de Cartago, onde combateu todos os cristãos que tinham apostatado da fé para evitar o martírio, e mantinha a impossibilidade de que estes repartissem sacramentos. Nesse contexto, Agostinho da Hipona criou a fórmula que se impôs de modo predominante no pensamento cristão da época: o sacramento tem valor "ex opere operato" (pela ação mesma), e não "ex opere operantis" (pela ação de quem o reparte).

O Priscilianismo é também um movimento de reforma, que basicamente propunha o retiro da vida mundana, para uma vida mais ascética e contemplativa; tratava-se de voltar para um cristianismo original, incluindo práticas como continência, jejum e pobreza. O Priscilianismo foi visto como uma ameaça para a Igreja predominante, pois pregava a perda do poder, sobretudo eclesiástico, que na época era enorme. Com falsas acusações e por razões de oportunidade política, Prisciliano foi acusado de herege e julgado, sendo o primeiro mártir da heterodoxia cristã.

Por fim, é curioso salientar a condenação, no ano 543, de Orígenes e de seu Origenismo. Foi o imperador Justiniano, que tinha fechado a Academia de Atenas e tinha proibido aos pagãos ensinar filosofia, promulgando um decreto em que enumerava os enganos do grande teólogo cristão Orígenes, para pôr fim a certas disputas e especulações de alguns monges ilustrados.

John P. Meier, Geza Vermes e John Dominic Crossan: Por que Jesus foi detido? Do que foi acusado? Como o condenaram? Quem o matou?


A Acusação: Blasfêmia

A Galiléia da época de Jesus vivia um período de extrema pobreza. “A região, ao norte da Judéia, sempre havia sido pobre. Mas não miserável, como durante a dominação romana”, escreveu John Dominic Crossan, professor da DePaul University, de Chicago, Estados Unidos e autor de O Jesus Histórico, a Vida de um Camponês no Mediterrâneo. Segundo ele, os camponeses tinham de pagar impostos ao Império Romano, que havia tomado Jerusalém em 63 a.C., aos sacerdotes do Templo em Jerusalém, e ao rei Herodes Antipas. Isso deveria consumir pelo menos dois terços de toda a produção, segundo os cálculos de Crossan. Como resultado de tripla tributação, a população empobrecia e perdia a esperança em tempos melhores.

Também havia uma crescente desconfiança em relação aos sacerdotes do templo. “Em várias passagens dos evangelhos, Jesus critica duramente os sacerdotes por desprezarem os pobres e darem importância excessiva ao ouro”, diz o teólogo Fernando Altemeyer, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Esse descontentamento geral explodiria na guerra dos judeus contra Roma, que durou do ano 66 ao 70. Uma das primeiras ações dos rebeldes foi invadir o templo e rasgar todas as listas de devedores, os maus pagadores de impostos, que ficavam guardadas no local. Roma acabaria vencendo, e o templo foi destruído. “Mas o fato mostra que a revolta contra a cobrança de impostos e a política da elite sacerdotal era imensa”, diz André Chevitarese.

Era o cenário propício para que líderes como Jesus fossem ouvidos. A visão mais aceita hoje em dia é que Jesus, que vinha da parte mais afastada do Império Romano, era mais um entre tantos pregadores. Essa interpretação é sustentada por estudiosos como o padre católico John P. Meier, autor de Um Judeu Marginal, Repensando o Jesus Histórico, e professor da Universidade Católica da América, em Washington, Estados Unidos. “É um fato que na época de Jesus devia haver pelo menos outras cinco ou seis pessoas que se diziam o Messias”, afirma Antônio Manzatto.

O poder local, formado por uma aliança entre a elite judaica e os romanos, via esse movimento de líderes messiânicos com desconfiança. “O discurso era revolucionário, o que poderia abalar as estruturas do poder”, diz André. O de Jesus era seguramente bombástico. Ele pregava a igualdade, o respeito aos pobres, o amor.

Mas se Jesus era apenas um dentre tantos pregadores messiânicos, tudo mudou quando ele chegou a Jerusalém, pouco antes da Páscoa judaica, por volta do ano 30. Naquela época, Jerusalém triplicava de tamanho. Apesar de não ser a capital romana do território ocupado (os romanos preferiam governar de Haifa, de frente para o mar Mediterrãneo), lá ficava o Sinédrio, instituição judaica que funcionava como tribunal e poder legislativo, além do palácio de Pôncio Pilatos, a casa de Herodes Antipas, o rei e, é claro, o Templo Sagrado.

Segundo os evangelhos, Jesus já era conhecido na Galiléia por suas pregações, seus milagres e pela cura de enfermos quando chegou a Jerusalém. De acordo com as leis e tradições judaicas, isso bastava para ser considerado um blasfemo. A cura, na época, era um monopólio divino. No entanto, sua chegada a Jerusalém foi ainda mais recheada de provocações à ordem. Ao entrar na cidade a uma semana da Páscoa, sentado em um jumento, ele comparou-se ao Messias, invocando deliberadamente a profecia do livro de Zacarias sobre a sua chegada (“Aí vem o teu rei, justo e salvador, montado num burrinho”). A ofensa final, no entanto, foi invadir o templo e expulsar fariseus e saduceus. Se isso tiver ocorrido como dizem os evangelhos, ele acabava de comprar uma briga e tanto.

Os juízes: Judeus ou Romanos?

Segundo a Bíblia, Jesus estava reunido com seus seguidores no Monte das Oliveiras, em Jerusalém, quando foi preso, à noite, depois de ser traído por Judas. Jesus teria sido detido pelos guardas do templo, por ordem do Sinédrio – o conselho formado pela elite judaica que controlava o santuário. Mas há controvérsias. Segundo o próprio evangelho de Mateus, a população da cidade estranhou uma patrulha àquela hora na rua. De fato, isso seria pouco comum. “Para operar além das paredes do templo, os guardas devem ter contado com o apoio de soldados romanos”, diz a historiadora Norma Musgo Mendes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Os evangelistas discordam quando relatam os fatos após a prisão de Jesus. Em comum, eles trazem a versão de que os sacerdotes do templo decidem não condená-lo à pena capital. Se fosse sentenciado à morte pelo Sinédrio, provavelmente seria apedrejado. O prisioneiro é então enviado para a autoridade suprema local, o procurador romano na Palestina, Pôncio Pilatos, a quem cabia julgar questões de interesse do Império.

Aqui, começa outra grande polêmica sobre a narração bíblica. Não haveria nenhuma razão para Jesus não ser condenado sumariamente por Pilatos, mas os evangelhos, única fonte escrita do processo, contam que o governador teria hesitado em sentenciar Jesus e tentado libertá-lo pelo menos duas vezes. Numa, após interrogar Jesus e, tendo-o considerado inocente, resolveu soltá-lo, mas voltou atrás quando foi vaiado pelo povo que acompanhava o julgamento. Em outra, teria pedido que o povo escolhesse entre Jesus e Barrabás, um criminoso conhecido, para que ele soltasse um deles, em um perdão especial devido à Páscoa. O povo teria escolhido Barrabás para ser salvo. No fim, Pilatos teria lavado as mãos, para simbolizar sua inocência em relação ao veredicto. Segundo um dos evangelhos, o de Lucas, o governador ainda teria mandado Jesus para o rei Herodes, mas esse não aceitou julgá-lo e o enviou de volta.

Para alguns historiadores, todo o julgamento é inverossímil, distante das práticas das autoridades romanas na Palestina. “Jesus não era uma pessoa importante na época, era mais um pregador que vinha da distante Galiléia. O mais provável é que ele nem sequer tenha sido julgado, mas, em vez disso, condenado sumariamente à morte”, afirma Gabriele Cornelli. Segundo ele, a passagem do julgamento no Novo Testamento foi escrita com o propósito de orientar os primeiros cristãos a como se portar diante dos sacerdotes e dos romanos.

André Chevitarese concorda. “Os evangelhos devem ser lidos não como uma reportagem, mas como um programa teológico com fundo histórico”, diz. Ele defende que os autores dos evangelhos, que foram escritos entre 40 e 80 anos após a morte de Jesus (e, portanto, depois que os romanos destruíram Jerusalém), utilizaram a narração do julgamento de Jesus para reforçar a cisão entre cristãos e judeus. “Isso era fundamental para afirmar os preceitos da nova religião, e, ao mesmo tempo, não cutucar o Império Romano, com o qual o cristianismo teria de conviver”, afirma André.

Essa análise dos relatos explicaria porque Pilatos é retratado de modo tão brando nos quatro evangelhos. “Até a mulher dele, Cláudia, tenta influenciar o julgamento, a favor de Jesus. Tudo para construir a imagem de um Pilatos bonzinho e não o típico governante romano que estava lá para fazer valer a lei e a ordem”, diz André. No entanto, Filão, o Judeu, historiador que viveu entre 20 a.C e o ano 50 menciona a crueldade de Pilatos e seu autoritarismo em centenas de casos de julgamentos de rebeldes e escravos (aliás, Filão também não se refere a Jesus).

O teólogo Paul Winter, autor de Sobre o Processo de Jesus, aponta outras passagens conflitantes. Para ele, a cena em que o povo escolhe Jesus para morrer no lugar de Barrabás não faz sentido do ponto de vista histórico. Primeiro, havia quatro prisioneiros para serem julgados, incluindo os dois ladrões que morreram na cruz ao lado de Jesus. Nesse caso, de acordo com Winter, não faria sentido o povo escolher um entre dois prisioneiros, e não entre quatro. Em segundo lugar, o hábito de se libertar um preso na Páscoa era raro, e não um fato comum como fazem crer os textos bíblicos.

O veredicto: Cupaldo de Sedição

Outro dedo a apontar para Pilatos e os romanos, quando se procura um culpado pela morte de Jesus, é o debate sobre por qual crime, afinal, ele foi condenado. Vimos que, segundo os evangelhos, os judeus do templo de Jerusalém o acusaram de blasfêmia, mas o historiador Geza Vermes, da Universidade de Oxford, Inglaterra, duvida disso. “Casos de pessoas que se autoproclamavam messias eram comuns naquela época e não espantavam mais ninguém”, afirma. “Jesus foi levado à morte por crime de sedição, de rebeldia política contra os interesses romanos. Só isso justificaria o fato de ter sido julgado por Pilatos e condenado à crucificação.”

Para a historiadora Norma Mendes, é possível que tenha havido uma aliança entre os sacerdotes judeus e os romanos para que Jesus fosse condenado à morte. Aí faria sentido que o Sinédrio o acusasse de blasfêmia e o apresentasse a Pilatos como agitador político, para que fosse morto sem a participação direta da elite judaica.

A pena: Crucificação

“Uma vez que Jesus foi condenado por Pilatos, como aparece na Bíblia, a pena podia ser uma só: crucificação, precedida de açoitamento”, diz o historiador e arqueólogo Pedro Paulo Funari, da Universidade Estadual de Campinas, no interior de São Paulo. Essa era uma pena bastante comum nos territórios ocupados pelos romanos. No ano que Jesus nasceu, por exemplo, mais de 2 mil condenados foram mortos dessa forma. A crucificação era considerada a mais degradante e brutal pena capital. Primeiro, o condenado era violentamente espancado, chicoteado e flagelado. Depois disso, uma pesada tora de madeira era colocada sobre suas costas e seus braços presos às extremidades. Assim ele carregava sua cruz até o local onde seria erguida. O condenado podia ter o calcanhar preso com pregos à madeira, ou as mãos, se não fossem amarradas com cordas.

O teólogo Antônio Manzatto acredita que o sofrimento de Jesus descrito na Bíblia seja fiel ao que realmente ocorria em casos de crucificação. Para ele, não haveria interesse dos evengelistas de exagerar na narrativa dos sofrimentos de Jesus. “O mais importante naquele momento era ressaltar a mensagem do fundador da nova religião. Jesus deve ter sofrido como todos que eram crucificados. Nem mais, nem menos”, afirma.

Segundo Pedro Paulo Funari, a morte na cruz advinha da sede e da asfixia causada pela posição em que o corpo ficava pendurado. O suplício poderia levar dias. No caso de Jesus que, segundo os evangelhos, morreu em poucas horas, isso poderia ser explicado pela perda excessiva de sangue, já que ele teve as mãos pregadas à cruz. Guardas romanos tomavam conta o tempo todo do lugar, não permitindo que dessem água ao condenado ou o tirassem da cruz. A agonia era assistida por familiares e a população em geral.

A falta de sepulturas para os milhares de crucificados daquela época levou os historiadores e arqueólogos a uma conclusão surpreendente: os corpos crucificados não eram retirados da cruz, mas deixados expostos aos elementos até serem devorados pelos abutres e cães. “É a única explicação plausível. O que teria sido feito dos restos mortais dos condenados crucificados que jamais foram encontrados?”, diz o historiador Gabriele Cornelli. Segundo ele, fazia parte da pena a humilhação pública, mesmo depois da morte.

No caso dos familiares de Jesus, é possível que tenham obtido autorização para levar seu corpo. “Os romanos concediam essas autorizações às vezes”, afirma Norma Mendes. Três dias depois que Maria recolheu os restos mortais de seu filho, tem início o maior relato de fé até então conhecido, a ressureição. Está para nascer não só o Cristo (o ungido, em grego), mas uma religião que abraçaria todo o mundo ocidental a ponto de hoje, dois milênios após os fatos analisados nesta reportagem, o cristianismo ser o credo de mais de 2 bilhões de pessoas e influenciar o modo de pensar e agir de grande parte da humanidade. “Direitos humanos, amor ao próximo, perdão, são todos preceitos morais que regem a vida da maioria das pessoas, sejam elas cristãs ou não”, diz o teólogo Antônio Manzatto. “Faz todo o sentido que sua vida seja objeto de tantos estudos e polêmicas.”


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

"Heresias" uma verdade suplantada, ou "Ortodoxia" uma mentira adotada

"Não se opor ao erro é aprová-lo, e não defender a verdade é suprimi-la; e a nossa negligência em defender a verdade, quando podemos fazê-lo, é tão pecado quanto incentivar o erro.” Papa São Félix III.

"Jesus respondeu (a Pilatos): 'Tu o dizes: eu sou rei, para isso eu nasci e para isso eu vim ao mundo; para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta a minha voz'. Disse Pilatos: 'Que é a verdade?'" (Jo 18,37-38).

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Anabaptistas - iniciado no ano 225 dc, influenciaram ainda atualmente outras denominações religiosas, como os Quakers; Batistas; Dunkers.

Re-batizavam todos os que já tivessem sido batizados em criança, crendo que o verdadeiro batismo só tem valor quando as pessoas se convertem conscientemente a Cristo.

Paulicianos - 650 e 872 na Armênia,expressava o ato de batizarem por imersão e rebatizarem indivíduos provindos do catolicismo, pois rejeitavam a submissão à Igreja Romana,que professavam que Jesus nasceu humano, tornando-se posteriormente divino por ocasião do seu batismo, ponto em que foi adotado como filho de Deus

Montanismo - fundado por Montano por volta de 156-157,caracterizou-se como uma volta ao profetismo,negavam a absolvição aos réus de pecados graves

Ofismo - é um nome genérico para várias seitas gnósticas da Síria e do Egito que se desenvolveram por volta do ano 100 D.C,membros das seitas ofitas passavam por cerimônias de iniciação que incluíam símbolos de purificação, vida, espírito e fogo

Marcionismo - estabelecida por Marcião de Sinope (110-160),com características gnósticas,com interdição ao casamento.

Adocionismo - que professa que Jesus nasceu humano, tornando-se posteriormente divino por ocasião do seu batismo, ponto em que foi adotado como filho de Deus

Adamismo - dos século II e século III,consideravam-se livres do pecado original, proclamavam a promiscuidade entre homens e mulheres

Monarquianismo - enfatizam a Unidade Absoluta de Deus,a crença conflita com a doutrina da Trindade derivação mais conhecida do monarquianismo dinâmico foi o adocionismo

Gnosticismo - é a visão de mundo baseada na experiência de Gnose,tem como base elementos das filosofias pagãs que floresciam na Babilônia, Antigo Egito, Síria e Grécia Antiga, combinando elementos da Astrologia e mistérios das religiões gregas como os do Elêusis, do Zoroastrismo, do Hermetismo, do Sufismo, do Judaísmo e do Cristianismo.

Cristo se "esgueirou" através dos poderes das trevas para transmitir o conhecimento secreto (gnosis) e libertar os espíritos da luz, acreditam que Cristo não veio em carne e nunca assumiu um corpo físico, nem foi sujeito à fraqueza e às emoções humanas, embora parecesse ser um homem.

GRUPOS INFLUENCIADOS PELO GNOSTICISMO

  • Simão Mago e Marcião de Sinope: ambos tinham tendências gnósticas, mas as ideias que eles apresentaram estavam ainda em formação. Cerinto (c. 100 dC), o fundador de uma escola herética com elementos gnósticos. Como gnóstico, Cerinto mostrou Cristo como um espírito celeste separado do homem Jesus e citou o demiurgo ( antagonista de Deus, ou demonio), como criador do mundo material.
  • Os Ofitas, assim chamados por reverenciarem a serpente do Gênesis como um fonte de conhecimento.
  • Os Cainitas, que como o nome implica, veneravam Caim, assim como Esaú, Korah e os sodomitas. Eles acreditavam que indulgência no pecado era a chave para a salvação, pois dado que o corpo é intrinsecamente mau, é preciso denegri-lo com atitudes imorais (libertinismo).
  • Os Carpocracianos, uma seita libertina que acreditava unicamente no Evangelho dos Hebreus.
  • Os Borboritas, uma seita libertina gnóstica, que acredita-se ser uma derivação dos Nicolaítas
  • Os Paulicianos, um grupo adocionista, também acusado por fontes medievais como sendo gnóstica e maniqueísta.
  • Os Bogomilos, a síntese (no sentido do sincretismo) entre o Paulicianismo Armênio e o movimento reformista da Igreja Ortodoxa Búlgara, que emergiu durante o Primeiro império búlgaro entre 927 e 970, e se espalhou pela Europa.
  • Os Cátaros (Cathari, Albigenses ou Albigensianos) são tipicamente vistos como imitadores do Gnosticismo. Embora as concepções básicas da cosmologia gnóstica possam ser encontradas nas crenças cátaras (principalmente a noção de um deus criador inferior, satânico). Catarismo é a religião do Espírito (do Paracleto). Eles se separaram dos outros gnósticos deixando de lado os éons, os arcontes, os diagramas e os números cabalísticos.
  • Na Idade Média, o gnosticismo manifestou-se na Ordem dos Templários, foi revivificada pela Rosa-cruz ,pelas mãos de Johannes Valentinus Andreae, mantiveram ligações com a Maçonaria, com a Teosofia e com o Martinismo. Algumas afirmações gnósticas
  • Somente o batismo não liberta mas sim, a gnosis, o conhecimento interior de quem somos, o que nos tornamos, onde estamos, para onde vamos.
  • Acredita na existência de um deus interno, centelha divina ou divina essência
  • Consideram que o estado do homem neste mundo é "anti-natural.
  • Acreditam que o universo manifestado principia com emanações do Absoluto em forma de seres finitos chamados de Æons que se reúnem no Pleroma(plano imaginário), um desses eons deu origem ao demonio que criou o mundo material.
  • Sabelianismo - é a crença estabelecida no Século III de que a Trindade não se configura em três pessoas, mas em modos, ou atributos de Deus.
  • Maniqueísmo - é uma filosofia religiosa sincrética que prega que a matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom.Para os maniqueus, havia duas divindades supremas a presidir o universo: o princípio do Bem e o do Mal – a luz e as trevas. Como consequência moral, afirmavam ter o homem duas almas. Cada uma presidida por um desses dois princípios. Logo, o mal é metafísico e ontológico. A pessoa não é livre nem responsável pelo mal que faz. Este lhe é imposto.
  • Donatismo -Iniciou-se no início do século IV e foi extinta no final do século VII,e sustentavam que a Igreja não devia perdoar e admitir pecadores.
  • Arianismo - Por volta de 319 Ário começou a propagar que só existia um Deus verdadeiro, o "Pai Eterno", negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus, que os igualasse, fazendo do Cristo pré-existente uma criatura, embora a primeira e mais excelsa de todas, que encarnara em Jesus de Nazaré. Jesus então, seria subordinado a Deus, e não o próprio Deus. Séculos mais tarde, o nome "Arianos" foi usado na Polónia para referir uma seita Cristã Unitária, a irmandade polaca (Frater Polonorum). Eles inventaram teorias sociais radicais e foram precursores do Iluminismo. A doutrina espírita ou kardecista compreende em Jesus o ser humano mais iluminado, que serve de guia e modelo à humanidade.
  • Apolinarianismo - Apolinário de Laodicéia (310 - 390 d.C.), quem tentou criar um modo de explicar a natureza de Jesus, sua humanidade e divindade, segundo o qual Jesus Cristo teria um corpo humano, porém dotado de uma mente divina.
  • Monotelismo - afirmava haver em Jesus Cristo duas pessoas, a divina e a humana, o que foi condenado pelo Concílio de Éfeso, em 431.
  • Nestorianismo - nascida no século V, segundo a qual há em Jesus Cristo duas pessoas distintas, uma humana e outra divina, completas de tal forma que constituem dois entes independentes. A doutrina surgiu em Antioquia e manteve forte influência na Síria, e é sustentada ainda hoje pela Rosa cruz e outras doutrinas ligadas à gnose.
  • Pelagianismo - atribuída a Pelágio da Bretanha. Sustenta basicamente que todo homem é totalmente responsável pela sua própria salvação e portanto, não necessita da graça divina.
  • Monofisismo - o monge Eutiques no seculo V proclamava a união quase completa das duas naturezas em Cristo, praticamente negando o caráter humano do Filho e, portanto, vendo-o como uma só natureza, a divina.
  • Catarismo - final do século XI até meados do séculos XIV cujas ideias tem fortes paralelos com o gnosticismo
  • Socianismo - doutrina sociniana é antitrinitária e considera que em Deus há uma única pessoa e que Jesus de Nazaré é um homem,rejeição da doutrina do pecado original e celebração do batismo e da santa ceia como símbolos memorativos.
  • Jansenismo - nos séculos XVII e XVIII apresenta um nítido parentesco com as doutrinas protestantes, sobretudo as calvinistas, sobre a graça, a natureza humana e a predestinação.
  • Quietismo - doutrina espiritual do século XVII, fiel alcançaria a Deus através da oração contemplativa e da passividade da alma. Assim ficaria reduzida toda responsabilidade moral.
  • Pietismo - surgido no final do século XVII dentro do Luteranismo, influenciou o surgimento de movimentos religiosos independentes de inspiração protestante tais como o pentecostalismo, o neo-pentecostalismo e o carismatismo, todos de caráter Anabatista. O Pietismo combinava o Luteranismo do tempo da reforma (como o Calvinismo) e o Puritanismo, enfatizando a piedade do indivíduo e uma vigorosa vida cristã.
  • Puritanismo - desenvolvida na Inglaterra por uma comunidade de protestantes radicais depois da Reforma,no século XVI, de confissão calvinista, que rejeitava tanto a Igreja Romana como a Igreja Anglicana.
  • Americanismo - início do século XX,os princípios estavam estreitamente associados às correntes modernistas (o modernismo já foi condenado pela Igreja), nomeadamente ao subjetivismo, ao relativismo, ao indeferentismo religioso e à desobediência ao Magistério da Igreja Católica.
  • Hermetismo - é o estudo e prática da filosofia oculta e da magia associados a escritos atribuídos a Hermes Trismegisto, escritos herméticos são uma coleção de 18 obras gregas relacionados a astrologia, magia e Alquimia
  • Cabala - é uma filosofia esotérica que promover o dualismo,atribuem todos os males de uma força sobrenatural conhecido como o "outro lado" que emana de Deus.
  • Mormonismo -iniciado no século XIX nos Estados Unidos da América e liderado inicialmente por Joseph Smith Jr., que recebeu uma visão e criou a igreja.
  • Adventismo -iniciado no século XIX,surgiu após a interpretação bíblica de Guilherme Miller de que as profecias da Bíblia se cumpririam na década de 1840
  • Testemunhas de Jeová - cristã não-trinitária,a partir da década de 1870 do Século XIX, quando Charles Taze Russell e alguns amigos formaram um pequeno grupo de estudo não sectário da Bíblia,ligada a sociedade Watch Tower.
  • Pentecostalismo -movimento de renovação carismática de dentro do cristianismo, que coloca ênfase especial em uma experiência direta e pessoal de Deus através do Batismo no Espírito Santo, no Brasil é comum os pentecostais se auto-identificarem com termo evangélico.
  • Pentecostalismo clássico é o que começou em 1901 entre cristãos que se reuníam na rua Azusa em Los Angeles, EUA e simultaneamente em vários outros lugares na América do Norte.
  • Neo-Pentecostalismo é uma vertente do evangelicalismo que congrega denominações oriundas do pentecostalismo clássico ou mesmo das igrejas cristãs tradicionais (batistas, presbiterianos), se baseiam em uma doutrina conhecida como "confissão positiva", também chamada Teologia da Prosperidade. O Neo-Pentecostalismo é a corrente doutrinária que ensina que uma vida medíocre do cristão indica falta de fé, contrário ao exemplo da Vida de Cristo.