quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Zeitgeist e o plágio mitológico de Jesus

Em junho de 2007 foi lançado um vídeo de 122 minutos chamado Zeitgeist e até novembro de 2007, 8 milhões de acessos haviam sido feitas. Esse filme foi ganhador do prêmio de melhor filme no festival de filmes Artivist na Califórnia em 2007 e 2008.1 Na primeira parte de Zeitgeist , que é dividido em três partes principais, é proposto que o Jesus histórico não passa de um plágio das mitologias de povos pagãos antigos. Os apóstolos utilizaram-se de histórias já conhecidas na época e criaram um personagem muito parecido, escrevendo assim quatro evangelhos a respeito deste “outro deus mitológico”.

Em seu site, a equipe do Zeitgeist, liderado principalmente por Peter Joseph e Acharya S., os produtores do filme, colocam o objetivo do movimento:
Pretendemos restaurar as necessidades fundamentais e a consciência ambiental da espécie revogando a maioria das idéias que temos de quem e o que realmente somos, juntamente com a ciência, a natureza e a tecnologia ( em vez de religião , política e dinheiro) são a chave para nosso crescimento pessoal, não só como seres humanos individuais, mas como civilização, estrutural e espiritualmente... Logo, a verdadeira mudança nascerá não só do ajuste de nossas decisões e compreensões pessoais, mas também da mudança das estruturas sociais que influenciam essas decisões e compreensões. Além disso, quando percebermos que são a ciência, a tecnologia e, portanto, a criatividade humana que trazem progresso para nossas vidas, seremos capazes de reconhecer nossas verdadeiras prioridades para crescimento pessoal e social e para o progresso. Posto isso, podemos ver que a Religião, a Política e o sistema de Trabalho baseado em Dinheiro/Competição são modos desatualizados de operação social, e que agora precisam ser abordados e transcendidos. Nossa meta é um sistema social que funciona sem dinheiro ou política, ao mesmo tempo em que permite que as superstições percam terreno à medida que a educação avança. Ninguém tem o direito de dizer ao outro em que acreditar, pois nenhum ser humano tem a compreensão completa de nenhum assunto.2

Este filme entre muitos outros materiais como livrosrevistas e sites da internet recentemente tem abordado a crítica como novidade entre o mundo acadêmico chamando a atenção de multidões e criando discípulos. Porém, como será verificado, a acusação é antiga e refutável.

Neste estudo abordarei brevemente o paralelismo encontrado entre o Jesus dos evangelhos e alguns deuses da mitologia, a história da teoria do plágio e a verificação das evidências. Faremos uma exposição sucinta de argumentos utilizados pelos críticos e somente alguns dos contra-argumentos encontrados. Por ocasião da falta de tempo analisaremos apenas as acusações principais contra a existência do Jesus histórico, a saber, nascimento virginal e ressurreição.

Paralelismo

Veremos a seguir então do que se trata esse intenso debate, apenas mencionaremos alguns dos deuses mitológicos seguidos de suas aparentes semelhanças com Jesus Cristo.

Horus, deus egípcio :

• Nasceu no dia 25 de dezembro de uma virgem
• Nascimento acompanhado de uma estrela no leste
• Adorado por três reis
• Era um mestre aos 12 anos
• Foi batizado com 30 anos
• Tinha 12 discípulos
• Fazia milagres
• Foi traído, crucificado e morto
• Depois de três dias ressuscitou
• Considerado filho de Deus
• Caminhou sobre as águas
• Foi transfigurado numa montanha

Attis, deus frígio :

• Considerado filho de Deus
• Nascido de uma virgem no dia 25 de dezembro
• Considerado um salvador que foi morto pela salvação da humanidade
• Seu “corpo” como pão era comido pelos adoradores
• Ele era tanto o divino Filho como o Pai
• Numa sexta-feira ele foi crucificado numa árvore
• Levantou-se depois de três dias como “Deus todo-poderoso”

Krishna, deus hindu :

• Nascido de uma virgem no dia 25 de dezembro
• Seu pai terreno era carpinteiro
• Seu nascimento foi assinalado por uma estrela ao leste
• Visitado por pastores que o presentearam
• Foi perseguido por um tirano que ordenou o assassínio de infantes
• Operava milagres e maravilhas
• Usava parábolas para ensinar as pessoas sobre caridade e amor
• Foi transfigurado diante dos discípulos
• Foi crucificado aos 30 anos
• Ressuscitou dos mortos e ascendeu aos céus
• Era a segunda pessoa da trindade
• Deverá retornar para o dia do juízo em um cavalo branco

Dionysus, deus grego:

• Nascido de uma virgem no dia 25 de dezembro
• Era um mestre viajante que operava milagres
• Andou em um burro durante uma procissão
• Transformava a água em vinho
• Era chamado “Rei dos Reis”e “Deus dos deuses”
• Considerado “filho de Deus”, “único filho”, “salvador”, “redimidor”, “ungido”, e o “Alfa e o ômega”
• Foi identificado como um cordeiro
• Pendurado num madeiro

Mitra, deus persa:

• Nascido de uma virgem no dia 25 de dezembro
• Era um mestre viajante
• Tinha 12 discípulos
• Prometia imortalidade aos seus seguidores
• Sacrificou-se pela paz mundial
• Realizava milagres
• Foi enterrado em uma tumba e ressuscitou 3 dias depois
• Instituiu uma ceia santa
• Foi considerado o Logos, redimidor, Messias e “o caminho, a verdade e a vida”

O detalhe primordial para a compreensão dessa teoria é que há evidências históricas de que todos esses deuses eram amplamente conhecidos pelo menos um século antes de Cristo. Diante dos paralelos encontramos acusações como as de Timothy Freke e Peter Gandy, dois dos maiores defensores da teoria do Jesus-Mito pagão:
Por que nós consideramos as histórias de salvadores como Osíris, Dionísio, Adônis, Attis, Mitra e outros deuses pagãos fábulas, porém ao encontrarmos essencialmente a mesma história contada em um contexto judeu, acreditamos ser a biografia de um carpinteiro de Belém?3

Quando percebemos tantas semelhanças entre a mitologia pagã e o Jesus do cristianismo parece difícil, à primeira vista, não chegar à conclusão que “Jesus foi um deus pagão...e o cristianismo foi produto herético do paganismo!”.4 Não somente é um mito, mas uma versão judaica de um mito pagão!

A idéia central é basicamente que o deus principal era Osiris-Dionísio e foi consistentemente assimilado por outras culturas locais, dando origem, portanto, ao deus Dionísio na Grécia, que depois formou Attis na Ásia Menor, Adônis na Síria, Bacco na Itália, Mitra na Pérsia e assim por diante. Suas formas eram muitas, mas essencialmente eles eram apenas diferentes versões do mesmo deus, Osiris-Dionísio.

Para verificar a plausibilidade dos argumentos veremos a seguir a história do surgimento e desenvolvimento da teoria, seguido de uma análise dos fatos.

História da teoria

Ao lermos os livros e artigos a respeito da teoria do “Jesus Mito” percebemos um tom de novidade e de descoberta. Porém, estudando a posição acadêmica deísta do século XVIII e XIX vemos que essa percepção implícita está longe de ser verdadeira. Os antecedentes dessa teoria podem retroceder até aos pensadores da Revolução Francesa, como Constatin-François Volney e Charles François Dupuis, na década de 1790. Em artigos publicados nessa década ambos discutiram os numerosos mitos antigos, incluindo a vida de Jesus, que segundo eles eram baseados no movimento do sol através do zodíaco.

Dupuis especialmente identificou rituais pré-Cristãos na Síria, Egito e Pérsia representando o nascimento de um deus por uma virgem. Os trabalhos de Volney e Dupuis rapidamente se espalharam e produziram diversas edições. Porém, sua influência até mesmo na França não passou da primeira metade do século XIX com o desenvolvimento do conhecimento a respeito da mitologia e com as informações corretas sobre o início do cristianismo e seu desenvolvimento. Dupuis destruiu a maior parte de seu material por causa da reação violenta que provocou. De acordo com ele “um grande erro é mais fácil de ser propagado do que uma grande verdade, por que é mais fácil crer do que racionalizar, e por que pessoas preferem as maravilhas dos romances à simplicidade da história”.5

O primeiro defensor acadêmico da teoria do Cristo na mitologia foi o historiador e teólogo do século XIX, Bruno Bauer. Thomas William Doane, em 1882, publicaria “Bible Myths and their Parallels in Other Religions” e Samuel Adrianus Naber, em 1886, escreveria “Verisimilia. Laceram conditionem Novi Testamenti exemplis illustrarunt et ab origine repetierunt”, analisando os mitos gregos “escondidos” na Bíblia. A raiz, porém, do paralelismo de Jesus com deuses pagãos encontra sua origem na escola “História das Religiões”, que se desenvolveu na segunda metade no século XIX. Mais ou menos na metade do século XX, esse ponto de vista havia sido largamente respondido e deixado de lado, até mesmo por acadêmicos que viam o cristianismo como simplesmente uma religião natural.

A teoria que havia uma ampla adoração da morte e ressurreição do deus da fertilidade Tammuz, na Mesopotamia, Adonis, na Síria, Attis, na Ásia Menor, e Osíris, no Egito foi proposto porque colecionou uma grande quantidade de paralelos na quarta parte de seu trabalho monumental The Golden Bough ( 1906, reimpresso em 1961).

Na década de 1930, três acadêmicos franceses, M. Goguel, C. Guignebert, e A. Loisy, interpretaram o cristianismo como uma religião sincretista formada sob a influência das religiões de mistério helenísticas.

Recentemente, Earl Doherty, Robert M. Price e George Albert Wells re-popularizaram a teoria. Também tem sido defendido com afinco por Timothy Freke e Peter Gandy que se popularizaram com a divulgação do livro “The Jesus Mysteries” e “Jesus and the Lost Goddess”. D. M. Murdock (pseudônimo Acharya S.) já publicou três livros em defesa da teoria do Cristo da mitologia. Ela argumenta que os evangelhos foram criados no II Século para competir com outras religiões populares da época.

Acreditamos que uma série de fatores contribuíram para o retorno desta teoria: o interesse pós-moderno em espiritualismo, a crescente falta de embasamento histórico e o acesso pronto à informação não-filtrada através da internet. Analisando a reação de épocas posteriores com respeito à teoria considerada neste trabalho, Edwin Yamauchi provavelmente tem razão em sua afirmação de que “esta visão tem sido adotada por muitos que pouco se dão conta de suas frágeis fundações”.6

A resposta

Finalmente, depois de analisarmos a acusação que sofre a religião Cristã e verificarmos como esta acusação começou e com quem, vamos agora para o exame da mesma e a confirmação de sua confiabilidade.

Por motivo da falta de espaço, iremos analisar detalhadamente apenas os dois aspectos mais importantes dos paralelismos: o nascimento virginal e a ressurreição dos mortos.

Nascimento Virginal

O centro de todo o desentendimento quanto aos paralelos do nascimento virginal dos deuses pagãos com os de Jesus começa já na sua definição. De acordo com o relato de Mateus e Lucas, a definição que encontramos do nascimento de Jesus é de Maria sendo virgem e Jesus sendo fecundado pela operação do Espírito Santo. Porém, não há qualquer relato entre as Religiões de Mistérios que relembre esta situação. A definição dos críticos de nascimento virginal é uma fecundação resultante de um casamento sagrado (entre um casal de deuses) ou fruto do ato sexual entre um deus disfarçado de ser humano e uma mulher mortal (hieros gamos).

Tecnicamente, o que está em questão é a perda ou a preservação da virgindade no processo da concepção. Maria simplesmente “achou-se grávida pelo Espírito Santo” (Mateus 1:18) antes de casar-se e antes de “conhecer” um homem. Portanto, aconteceu sem a interferência de homem ou qualquer forma de conjunção carnal. Se os autores bíblicos tinham qualquer referência anterior, essa seria a citação feita por Mateus de Isaías 7:14.

Em uma das histórias de Dionísio, Zeus foi a Perséfone em forma de serpente e a engravidou, portanto sua virgindade foi tecnicamente perdida. Na versão mais conhecida, Zeus se apaixonou por Semele, princesa da casa de Times. Zeus veio a ela disfarçado de homem mortal e logo Semele estava grávida. Hera, rainha de Zeus, inflamada de ciúmes, se disfarçou como uma mulher idosa e foi até a casa de Semele. Quando Semele revelou seu caso com Zeus, Hera sugeriu que a história de que Zeus era o rei dos deuses poderia ser uma mentira e que talvez ele fosse um mero mortal que inventou a história para que ela dormisse com ele. Quando Zeus foi visitá-la novamente, ela pediu por apenas uma coisa. Zeus jurou que daria a ela o que quisesse. “Apareça a mim como você aparece a Hera”. Relutantemente, mas verdadeiro à sua palavra, Zeus apareceu em toda sua glória, queimando Semele às cinzas. Hermes salvou o feto e levou até Zeus que o costurou a sua coxa e três meses depois deu a luz a Dionísio.7 A história claramente não é comparável ao relato bíblico e, além disso, só existem relatos pós-cristãos. Os deuses e deusas antigos eram típica e muito explicitamente sexuais e ativos, até por que, para o mundo antigo, grandeza era comumente associada com a geração física de um deus. Esse elemento está completamente ausente do relato da concepção virginal de Jesus.

No mito de Horus, o engano continua. De acordo com The Encyclopedia of Mythica , depois de Osíris (pai de Horus) ser assassinado e mutilado em catorze pedaços por seu irmão Set, a esposa de Osíris, a deusa Iris ,a reaveu e remontou o corpo, e em conexão pegou o papel da deusa da morte e dos direitos funerais. Isis engravidou-se pelo corpo de Osíris e deu a luz a Horus nos rios de Khemnis, no Delta do Nilo.8

O relato está muito distante da realidade bíblica, apesar de uma concepção necrofílica ser miraculosa. Mesmo na imagem encontrada em Luxor com Thoth anunciando a Isis que ela conceberia a Horus, a ordem é a concepção e depois o anúncio, enquanto que os evangelhos declaram o anúncio e depois a concepção.

Na pesquisa de Raymond Brown a respeito das narrativas a respeito do nascimento de Jesus ele avalia os exemplos de “nascimentos virginais” não-cristãos e sua conclusão é: Em suma, não há nenhum exemplo claro de concepção virginal no mundo ou nas religiões pagãs que plausivelmente poderia ter dado aos judeus cristãos do primeiro século a idéia da concepção virginal de Jesus.9

Ressurreição

Segundo Paulo, o maior fundamento da fé cristã é a crença na morte e ressurreição de Jesus (I Cor. 15:13, 14). Ainda no início do capítulo de 1 Coríntios 15, os exegetas do Novo Testamento encontram fortes evidências para defender a realidade do fato da ressurreição. E foi justamente nesta pedra fundamental que os críticos aproveitam para divulgar os paralelismos com personagens das religiões de mistério e das deidades que experimentaram morte e ressurreição.

A idéia do paralelo entre os deuses que morrem e ressuscitam e o conceito cristão da morte e ressurreição de Jesus foi popularizada pelo livro de James Frazer, The Golden Bough , primeiro publicado em 1906. Segundo ele e muitos outros críticos da modernidade, não há qualquer diferença entre a ressurreição de Jesus e daquelas deidades que eram conhecidas pela mitologia.

Não é senão a partir do III século A.D. que encontramos suficiente material a respeito das religiões de mistério que permitam uma relativa reconstrução de seu conteúdo. Muitos escritores utilizam-se deste material (depois de 200 A.D) para formular reconstruções das religiões de mistério dos séculos anteriores. Essa prática, porém, é extremamente anti-acadêmica e não pode permanecer sem desafios.10

Na realidade, segundo Pierre Lambrechts, os textos que referem-se à ressurreição são muito tardios, do segundo ao quarto século A.D.11 A aparente ressurreição de Adonis, por exemplo, não tem sequer uma evidência, nem nos textos antigos nem nas representações pictográficas. Quanto à ressurreição de Attis, não há qualquer sugestão que ele foi um deus ressurreto senão até depois de 150 A.D.12

Há ainda o famoso caso da ressurreição do deus Osíris. Nossa versão mais completa do mito de sua morte e ressurgimento é encontrada em Plutarco, que escreveu no segundo século A.D. De acordo com a versão mais comum do mito, Osíris foi assassinado por seu irmão que então o afundou em um caixão no rio Nilo. Ísis descobriu o corpo e o levou de volta ao Egito. Mas seu cunhado mais uma vez ganhou acesso ao corpo, dessa vez o desmembrando em catorze pedaços, os quais ele jogou longe. Depois de muita procura, Ísis recuperou cada pedaço do corpo. É nesse ponto que a linguagem utilizada para descrever o que se seguiu é crucial. Algumas vezes aqueles que contam a história se contentam em dizer que Osíris voltou à vida, mesmo que isso passe longe daquilo que o mito permite dizer. Alguns escritores ainda vão mais longe ao falar sobre a “ressurreição” de Osíris. Ísis restaura o corpo de Osíris e ele é colocado como um deus do mundo dos mortos. Roland de Vaux complementa dizendo:
O que significa Osíris ter “levantado para a vida”? Simplesmente que, graças à ministração de Ísis, ele pode levar uma vida além da tumba que é quase uma perfeita réplica da existência terrestre. Mas ele nunca mais voltará a habitar entre os viventes e reinará apenas sobre os mortos... Este deus revivido é, na realidade, um deus “múmia”.13

Em outras palavras, Osíris é uma deidade que morre, mas não um que ressuscita. Ele é sempre retratado em forma mumificada. Além disso, de acordo com Wilbur Smith, uma das maiores autoridades em religiões antigas, “não há nada nos textos que justifiquem a presunção que Osíris sabia que iria levantar dos mortos, e que se tornaria rei e juiz dos mortos, ou que os Egípcios acreditavam que Osíris morreu em seu favor e que retornou a vida para que eles pudessem levantar da morte também”.14

Vale à pena lembrar também que durante o estágio posterior da religião de mistérios, a deidade masculina do culto a Ísis não era mais Osíris, mas Serapis. Serapis é freqüentemente figurado como um deus do Sol, e fica muito claro que ele não era um deus morto e, conseqüentemente, não ressuscitou. Essa foi a versão em circulação a partir de 300 a.C. até os séculos do início do cristianismo. Portanto, não tinha absolutamente nada parecido com um deus-salvador que morre e ressuscita na era cristã.15 Portanto, como escreveram os autores do livro “Reinventing Jesus”, Komoszewski, Sawyer e Wallace , a “ressurreição” de Osíris está mais parecido com a história de Frankenstein do que a de Jesus.

Mudando de deidade, outro muito mencionado por sua suposta história de reaparição dos mortos é o de Cybele e Áttis. Cybele era uma figura muito adorada no mundo helenístico; o rito para ela antigamente incluía um frenesi nos adoradores homens que os levava a se castrarem.

Encontramos especialmente três mitos diferentes com respeito à vida de Áttis. De acordo com um dos mitos, Cybele amava um pastor de ovelhas chamado Áttis. Por Áttis ter sido infiel, ela o levou a loucura. Tomado de loucura, Áttis castrou-se e morreu. Isso encaminhou Cybele a um luto muito forte e introduziu a morte ao mundo natural. Mas então Cybele restaura Áttis à vida, um evento que também trouxe o mundo da natureza à vida. As pressuposições do intérprete tendem a determinar a linguagem usada para descrever o que se segue à morte de Áttis. Referem-se a ela descuidadamente como “ressurreição de Áttis.” Não há nada que se pareça uma ressurreição corpórea no mito, que sugira que Cybele só podia preservar o corpo morto de Áttis, ou seja, ele volta a vida de forma praticamente vegetativa, pois o mito menciona que os pêlos do seu corpo continuaram a crescer e que ele movimentava um de seus dedos. Em algumas versões do mito, Áttis volta à vida na forma de uma árvore. Nem nesse e nem nas outras três histórias, encontramos morte e ressurreição ou qualquer coisa semelhante ao que vemos nos evangelhos.
Foi somente em celebrações posteriores pelos romanos (depois de 300 A.D.) que algo remotamente semelhante ocorre. A árvore que simbolizava Áttis foi cortada e enterrada dentro de um santuário. Na outra noite, a “tumba” da árvore estava aberta e a “ressurreição de Áttis” foi celebrada. A linguagem, porém é ambígua e os detalhes sobre o culto são remotos; todo o material é muito tardio.

Nas comparações com Krishna, as respostas se tornam ainda mais fáceis de dar. Segundo especialistas em hinduísmo, Krishna foi morto por um caçador que acidentalmente atirou em seu calcanhar. Ele morreu e ascendeu. Não houve qualquer ressurreição e ninguém o viu ascender. Mesmo que o mito da ascensão de Krishna traga algum desconforto, ele pode ser rapidamente resolvido com as declarações de Benjamin Walker em seu livro “ The Hindu World: An Encyclopedia Survey of Hinduism ”: “não pode haver qualquer dúvida que os hindus pegaram emprestado os contos [do cristianismo], mas não o nome”.16 Por estes paralelos virem do Bhagavata Purana e o Harivamsa, Bryant acredita que o Bhagavata Purana seja “anterior ao sétimo século A.D. (apesar de alguns acadêmicos considerarem do século 11 A.D.)” e que o Harivamsa tenha sido composto entre o quarto e o sexto século.

O mesmo caso de datação tardia acontece com o mito de Mitra (a partir do primeiro século A.D.) e o caso de histórias completamente diversas à morte e ressurreição de Cristo acontece com Dionísio e Horus.

Apesar de ser chocante às mentes religiosas ocidentais, é senso comum dentro da história das religiões que imortalidade não é uma característica básica da divindade. Deuses morrem. Alguns deuses simplesmente desaparecem, alguns somente para retornar novamente depois e alguns para reaparecer freqüentemente. Todas as deidades que foram identificadas como fazendo parte da classe de deidades que morrem e ressuscitam podem ser colocados sob duas classes maiores: deuses que desaparecem e deuses que morrem. No primeiro caso, as deidades retornam, mas não haviam morrido, e no segundo caso, os deuses que morrem, mas não retornam. Nenhum desses paralelos, para a concepção judaica, ressuscitou dos mortos, e para alguns acadêmicos hoje paira a dúvida se literalmente existe algum deus que experimentou a morte e a ressurreição. Uma citação muito interessante explica a realidade da teoria:
Desde a década de 1930...um consenso tem se desenvolvido que os ‘deuses que morrem e ressuscitam' morreram mas não retornaram ou levantaram-se para viver novamente...Aqueles que pensam diferente são vistos como membros residuais de espécies quase extintas.17

Outras Diferenças substanciais

Analisamos brevemente as semelhanças e as diferenças dos deuses da morte-levantamento e das Religiões de Mistério com Jesus nos seus aspectos principais. A seguir colocaremos algumas outras diferenças marcantes que não poderiam passar despercebidos.

• Em todos os casos de deuses que morrem, eles morrem por compulsão e não por escolha, às vezes por orgulho ou desespero, mas nunca por amor sacrifical.18

• Não há qualquer evidência de religiões de mistério inseridos na Palestina das três primeiras décadas do primeiro século. Não haveria tempo suficiente para que os discípulos fossem influenciados pelos mistérios se eles estivessem dispostos a ser, que não era o caso. Quando a influência dos mistérios atingiu a Palestina, principalmente através do gnosticismo, a igreja primitiva não aceitou, mas renunciou vigorosamente os mitos pagãos. A falta de sincretismo dificulta a concepção.

• Os deuses que morrem e ressuscitam segundo os mitos, nunca morreram por outra pessoa (vicariamente), e nunca anunciaram morrer pelo pecado. A idéia de uma aliança substitutiva pelo homem é totalmente única ao cristianismo. Além disso, Jesus morreu uma vez por todos os pecados, enquanto os deuses pagãos eram freqüentemente deuses de vegetação que imitavam os ciclos anuais da natureza aparecendo e morrendo diversas vezes.

• Jesus morreu voluntariamente e sua morte foi uma vitória e não uma derrota, ambos os aspectos são contrários aos conceitos pagãos.19

• Similaridade não prova dependência. Movimentos sociais e religiosos freqüentemente compartilham formas de expressão ou práticas similares. Não é de se surpreender que encontrássemos paralelos em qualquer religião a respeito de vida após a morte, identificação com uma deidade, ritos de iniciação ou um código de conduta. Se uma religião deseja atrair conversos, precisa apelar para as necessidades e desejos universais dos seres humanos. Mas isso não indica dependência! Em qual cultura, por exemplo, que a imagem de lavar-se em água não significa purificação? O que importa, entretanto, não é a semelhança das palavras e práticas, mas os significados anexados a eles. A fim de provar um caso de dependência é necessário demonstrar uma semelhança na essência e não só na forma. Os escritores normalmente exageram similaridades formais, enquanto ignoram diferenças essenciais entre a história de Jesus e os variados mitos pagãos.

• Os pagãos nesse período não estavam confusos quanto à exclusividade da Igreja, e chamavam os cristãos de ‘ateus' por causa de sua indisponibilidade fundamental de ceder ou sincretizar. Como J. Machen explica, os cultos de mistério eram não-exclusivistas: “Um homem poderia ser iniciado nos mistérios de Ísis ou Mitras sem ter que abrir mão de suas crenças anteriores; mas se ele quisesse ser recebido na Igreja, de acordo com a pregação de Paulo, deveria abrir mão de todos os outros salvadores para o Senhor Jesus Cristo... Dentre o sincretismo predominante do mundo greco-romano, a religião de Paulo, assim como a religião de Israel, permanece absolutamente distinta”.20

• A cronologia está toda errada. As crenças básicas do cristianismo existiam no primeiro século, enquanto que o total desenvolvimento das religiões de mistério não aconteceu até o segundo século. Historicamente, é muito improvável que qualquer encontro teve lugar entre o cristianismo e as religiões de mistério pagãs até o terceiro século. Até hoje não há evidência arqueológica de religiões de mistério na Palestina do início do primeiro século.21 A história das influências pode ser dividida em três períodos: Primeiro período (1-200 A. D), as religiões de mistério eram restritas e não exerciam influências nas outras religiões. Se há qualquer influência, ela é na direção contrária: cristianismo influenciou os cultos. Segundo período (201-300 A. D), depois de o cristianismo ter se espalhado pelo mundo romano, as religiões de mistério se tornaram mais ecléticas, suavizando doutrinas severas e conscientemente oferecendo uma alternativa ao cristianismo (aparece o culto a Cybele oferecendo a eficácia do banho de sangue, que antes era de vinte anos, para um período que ia de vinte anos à eternidade), competição com o cristianismo. Terceiro período (301-500 A.D), Cristianismo passou a adotar a terminologia e ritos dos cultos de mistério (e.g., 25 de dezembro).22

• Como um judeu devoto, o apóstolo Paulo nunca teria considerado pegar emprestados seus ensinamentos de religiões pagãs (Atos 17:16; 19:24–41; Rom 1:18–23; 1 Cor. 10:14), assim como João (1 João 5:21). Não há a mínima evidência de crenças pagãs em seus escritos.

• Como uma religião monoteísta com um corpo de doutrinas coerente, o cristianismo dificilmente poderia ter pegado emprestado de um paganismo politeísta e doutrinariamente contraditório.

• Os críticos parecem ignorar completamente o pano-de-fundo hebraico do cristianismo. Quase nenhuma atenção é dada ao rico pano de fundo hebraico no Novo Testamento e o cristianismo primitivo. Termos como “mistério”, “ovelha sacrificada” e “ressurreição” em vez de vir dos mitos pagãos como os escritores sugerem, são baseados nas crenças judaicas encontradas no Antigo Testamento. Além disso, os manuscritos do mar Morto têm vertido muita luz em práticas judaicas que se escondem atrás do Novo Testamento como o batismo, comunhão e bispos.

• O cristianismo está baseado em eventos da história, não mitos. A morte dos deuses de mistério aparece em dramas místicos sem nenhuma conexão histórica.

• Se houve qualquer empréstimo, foi na outra direção. À medida que o cristianismo crescia em influência e se expandia, os sistemas pagãos, reconhecendo a ameaça, provavelmente pegariam alguns elementos do cristianismo. Por exemplo, o rito pagão do banho em sangue de touro (taurobolium) inicialmente tinha sua eficácia espiritual de vinte anos. Mas assim que a competição com o cristianismo começou, o culto a Cybele, aumentou sua eficácia de seu rito “de 20 anos a eternidade”23 quase equivalendo assim, à eternidade prometida aos cristãos.

• O conteúdo moral de amor e compaixão, bondade e ações de caridade eram completamente diferentes. A forma cristã de humildade, permitindo que o próximo bata nas duas faces e o próprio exemplo de Jesus utilizando Seu poder apenas para o bem diferencia seriamente daquilo que vemos na mitologia pagã.

Conclusão

Depois de revisar muitos artigos e livros a respeito da teoria do Cristo na mitologia pagã, tanto dos críticos quanto dos defensores, é difícil não se questionar como esta teoria pode ter se desenvolvido e se propagado da forma como foi e tem sido:
1- O conceito de nascimento virginal encontrado nos mitos pagãos em contraste com o relato bíblico diferem em muito.
2- Ressurreição de acordo com o conceito judaico e cristão não é percebido nos mitos pagãos, mas sim deuses que desaparecem mas não morrem e deuses que morrem mas não reaparecem.
3- A datação dos materiais que podemos usar para ter uma idéia de como eram esses deuses é bastante posterior ao início do cristianismo, não podendo, portanto, ter tido influências no seu desenvolvimento. Se houve influências, foi do cristianismo para o paganismo.
4- Todo o relato do nascimento, vida e morte de Jesus é completamente único ao cristianismo e contém uma originalidade não encontrada nos mitos pagãos.

A conclusão da completa falta de argumentos confiáveis e verossímeis é clara e óbvia e, nas palavras de Ronald Nash:
Esforços liberais de desacreditar a revelação singular cristã através dos argumentos da influência das religiões pagãs destroem-se rapidamente a partir da verificação completa das informações disponíveis. É claro que os argumentos liberais exibem academicismo incrivelmente ruim e com certeza, essa conclusão está sendo muito generosa.24

Fica claro que a melhor conclusão a ser feita é aquela do livro em que encontramos a verdadeira revelação da verdade e da fonte do mistério da vida, morte e ressurreição de Jesus: a Bíblia. Por que “ não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”.25
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Referências:
1 Informação retirada do site http://www.zeitgeistmovie.com/, dia 11/05/2009 http://www.zeitgeist
2 http://www.thezeitgeistmovement.com/joomla/index.php?Itemid=50 , acessado dia 11/05/2009. (Grifo acrescentado)
3 Timothy Freke e Peter Gandy , The Jesus Mysteries, Three Rivers Press (Setembro, 2001). p. 9
4 Ibid.
5 Charles François Dupuis, The origin of all religious worship (1798). Kessinger Publishing, 2007, p. 293.
6 Edwin M. Yamauchi, Easter: Myth, Hallucination or History? Christianity Today, march, 1974, pt. 1.
7 Barry Powell, Classical Myth (3a. ed.). PrenticeHall. New Jersey, 2001, p. 250.
8 Mich F. Lindemans, Encyclopedia of Mythica . Artigo publicado dia 21 de maio, 1997 no website: http://www.pantheon.org/articles/i/isis.html. Acessado dia 23/08/09 .
9 Raymond E. Brown, The Birth of the Messiah . Anchor Bible, 1999, p. 523.
10 A summary critique the mythological Jesus mysteries a book review of “The Jesus Mysteries: Was the “Original Jesus” a Pagan God?” by Timothy Freke and Peter Gandy. Christian Research Journal, Vol. 26, No. 1, 2003.
11 P. Lambrechts, "La' Resurrection de Adonis," em Melanges Isadore Levy , 1955, p. 207-240 como citado em Edwin Yamauchi, "The Passover Plot or Easter Triumph?" em J. W. Montgomery, (ed), Christianity for the Tough-Minded . Minneapolis: Bethany, 1971.
12 Ibid
13 Roland de Vaux, The Bible and the Ancient Near East. Doubleday, 1971. p. 236
14 Wilbur M. Smith, Therefore Stand. New Canaan, CT: Keats, 1981, p. 583.
15 Ronald Nash, Was the New Testament Influenced by Pagan Religions? Christian Research Journal (Inverno, 1994), p. 8.
16 Benjamin Walker, The Hindu World: An Encyclopedic Survey of Hinduism , Vol. 1. New York: Praeger, 1983, p. 240-241.
17 Tryggve N. D. Mettinger, The Riddle of Resurrection: "Dying and Rising Gods" in the Ancient Near East . Stockholm, Sweden: Almquist & Wiksell International, 2001, p. 4, 7.
18 J. N. D. Anderson, Christianity and Comparative Religion. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1977, p. 38.
19 Ronald H. Nash, Christianity & the Hellenistic World . Grand Rapids, MI: Zondervan/Probe, 1984, p. 171-172.
20 J. Gresham Machen, The Origin of Paul's Religion . New York: Macmillan, 1925, p. 9.
21 J. Ed Komoszewski, M. James Sawyer, Daniel B. Wallace , Reinventing Jesus . Kregel Publications, 2006, p. 231.
22 Idem, p. 232-233.
23 Nash, Ronald H. Christianity & the Hellenistic World.1984. p. 192-199; citando Bruce Metzger sobre o culto de Cybele.
24 Ronald Nash, Was the New Testament Influenced by Pagan Religions? Christian Research Journal, Inverno 1994, p. 8.
25 Atos 4:12

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Não posso amar um pai que mata o filho para satisfazer sua justiça. Quem pode? Quem acredita?

Fora da beleza não há salvação
(por Rubem Alves)

Escrevo como poeta. Cummings disse que o mundo ilimitado de um poeta é ele mesmo. Narcisismo egocêntrico? Não. Invoco a Cecília Meireles para esclarecer. Dizia ela de sua avó: “Teu corpo era um espelho pensante do universo.“ Os poetas, diferentes dos cientistas que desejam conhecer o universo olhando diretamente para ele, só conhecem o universo como parte do seu corpo. Poesia é eucaristia. O poeta contempla a coisa e diz: “Isso é o meu corpo."

Poeta, não sei falar cientificamente sobre o cristianismo. Só posso falar sobre ele tal como ele foi se refletindo no espelho do meu corpo, através do tempo.

Infância.

Crianças não têm idéias religiosas. Nada sabem sobre entidades espirituais. Crianças são criaturas deste mundo. Elas o experimentam através dos sentidos, especialmente a visão. As crianças não têm idéias religiosas mas têm experiências místicas. Experiência mística não é ver seres de um outro mundo. É ver esse mundo iluminado pela beleza. Essas são experiências grandes demais para a linguagem. Dessas experiências brotam os sentimentos religiosos. Religião é a casca vazia da cigarra sobre o tronco da árvore. Sentimento religioso é a cigarra em vôo. Menino, eu voava com as cigarras.

As idéias religiosas não nascem das crianças.

Elas são colocadas no corpo das crianças pelos adultos. Minha mãe me ensinou a rezar. “Agora me deito para dormir. Guarda-me, ó Deus em teu amor. Se eu morrer sem acordar, recebe a minhalma, ó Senhor, Amém.“ Resumo mínimo de teologia cristã: há Deus, há morte, há uma alma que sobrevive à morte. Depois vieram outras lições: “Deus está te vendo, menino...“ Deus vira um Grande Olho que tudo vê e me vigia. Meu primeiro sentimento em relação a Deus: medo.

As crianças acreditam naquilo que os grandes falam.

E assim se inicia um processo educativo pelo qual os grandes vão escrevendo no corpo das crianças as palavras da religião. O corpo da criança deixa de ser corpo da criança: passa a ser o caderno onde os adultos escrevem suas palavras religiosas.

Muitas são as lições do catecismo. Deus é um espírito que sabe todas as coisas. Vê o que você está fazendo com as suas mãos, debaixo das cobertas, com a luz apagada. Deus é onipotente: pode fazer todas as coisas. Tendo poder absoluto, tudo o que acontece é porque ele quis. A criancinha defeituosa, a mãe que morre de parto, as câmaras de tortura, as guerras... As tragédias não acontecem. Deus as produz. Diante das tragédias ensina-se que se deve repetir: “É a vontade de Deus.“ É preciso fazer o que Deus manda pois, se não o fizer, ele me castigará. Se eu morrer sem me arrepender serei punido com o fogo do Inferno, eternamente. Essa vida do corpo, na terra, não tem valor. Vale de lágrimas onde os degredados filhos de Eva lamentam e choram, esperando o céu. O céu vem depois da morte. Deus mora no lugar que há depois que a vida acaba. O mundo é um campo de provas minado por prazeres onde o destino eterno da alma vai ser decidido. Para se amar a Deus e o seu céu é preciso odiar a vida. Quem ama as coisas boas da vida não está amando Deus. Negar o corpo: lacerações, abstenções, sacrifícios: essas são as dádivas que se deve oferecer a Deus. Deus fica feliz quando sofremos. De todos o prazeres os mais perigosos são os prazeres do sexo. Assim, é preciso fazer sexo sem prazer, sexo para procriar. Deus nunca foi visto por ninguém. Mas revelou a sua vontade a uma instituição: a Igreja, não importando se católica ou protestante. A ela, Igreja, foi confiada a guarda do livro escrito por inspiração divina, as Sagradas Escrituras, a “Grande enciclopédia dos saberes e das ordens divinas“. Sendo assim “fora da Igreja não há salvação“, porque fora da Igreja não há conhecimento de Deus.

Ludwig Wittgenstein fala sobre o poder enfeitiçante das palavras. Palavras enfeitiçantes: aquelas que nos possuem e nos impedem de pensar. Assim são as idéias religiosas: os corpos dos homens estão cobertos de palavras que, pelo medo, os dominam. “Possuídos“, não conseguem pensar pensamentos diferentes. Qualquer outra palavra pode significar o inferno. As inquisições, católica e protestante, jamais enviaram para a fogueira pessoas por seus pecados morais. Os pecados morais levam o pecador para mais perto da Igreja, pois ela tem o poder de perdoar. Queimados foram aqueles que tiveram pensamentos diferentes: Brunno, Huss, Serveto. Os crimes de pensamento afastam os homens da Igreja. Consequentemente, afastam os homens de Deus. Quem pensa pensamentos diferentes tem de ser eliminado ou pela fogueira ou pelo silêncio.

Durante muitos anos vivi enfeitiçado por essas palavras. Feitiços não se combatem com a razão. É sempre um beijo de amor que quebra o feitiço... Quem me beijou? Um Outro que mora em mim. Porque em mim mora não somente aquele que pensa mas aquele que sente. Barthes dizia: “Meu corpo não tem as mesmas idéias que eu“. Meu “eu“ pensava as palavras que haviam sido escritas no meu corpo. Mas o meu corpo pensava outras idéias. A verdade do meu corpo era outra. Ele amava demais a vida. Confesso: nunca me senti atraído pelas delícias do céu. E desconheço alguém que morra de amores por ele. Prova disso é que cuidam bem da saúde. Querem continuar por aqui. Conheço, entretanto, pessoas que vivem vidas torturadas por medo do inferno.

Lembro-me, com nítida precisão, do momento em que tive a percepção intelectual que libertou a minha razão para pensar. Eu estava no seminário. Repentinamente, com enorme espanto, percebi que todas aquelas palavras que outros haviam escrito no meu corpo não haviam caído do céu. Se não haviam caído do céu, elas não tinha o direito de estar onde estavam. Eram demônios invasores. Abriram-se-me os olhos e percebi que essa monumental arquitetura de palavras teológicas que se chama teologia cristã se constrói, toda, em torno da idéia do inferno. Eliminado o inferno, todos os parafusos lógicos se soltariam, e o grande edifício ruiria. A teologia cristã ortodoxa, católica e protestante – excetuada a dos místicos e hereges – é uma descrição dos complicados mecanismos inventados por Deus para salvar alguns do inferno, o mais extraordinário desses mecanismos sendo o ato de um Pai implacável que, incapaz de simplesmente perdoar gratuitamente (como todo pai humano que ama sabe fazer), mata o seu próprio Filho na cruz para satisfazer o equilíbrio de sua contabilidade cósmica. É claro que quem imaginou isso nunca foi pai. Na ordem do amor são sempre os pais que morrem para o que o filho viva.

Hoje, as idéias centrais da teologia cristã em que acreditei nada significam para mim: são cascas de cigarra, vazias. Não fazem sentido. Não as entendo. Não as amo. Não posso amar um pai que mata o filho para satisfazer sua justiça. Quem pode? Quem acredita?

Mas o curioso é que continuo ligado a essa tradição. Há algo no cristianismo que é parte do meu corpo. Sei que não são as idéias. Que ficou, então?

Foi numa sexta-feira da Paixão que compreendi. Uma rádio FM (Amparo) estava transmitindo, o dia inteiro, músicas da tradição religiosa cristã. E eu fiquei lá, assentado, só ouvindo. De repente, uma missa de Bach, e a beleza era tão grande que fiquei possuído e chorei de felicidade: “A beleza enche os olhos d\'água” (Adélia Prado). Percebi que aquela beleza era parte de mim. Não poderia jamais ser arrancada do meu corpo. Durante séculos os teólogos, seres cerebrais, haviam se dedicado a transformar a beleza em discurso racional. A beleza não lhes bastava. Queriam certezas, queriam a verdade. Mas os artistas, seres coração, sabem que a mais alta forma de verdade é a beleza. Agora, sem a menor vergonha, digo: “Sou cristão porque amo a beleza que mora nessa tradição. As idéias? Chiados de estática, ao fundo...“ Assim proclamo o único dogma da minha teologia cristã erótico-herética: “Fora da Beleza não há salvação...“
(Transparências da eternidade, Verus, 2002)

Judeus e Hebreus ou Hebreus e Judeus?

Os judeus, os hebreus e os israelitas

Introdução:

De acordo com a enciclopédia Judaica 96% de todos os judeus atualmente conhecidos no mundo são descendentes das tribos dos Khazars da Russia, Leste Europeu e Mongolia; esses são os judeus asquenazis, a outra maior sequencia de judeus são os sefardins e eles são uma mistura de canaanitas, Hititas, Amoritas, Peresitas, Hivitas, Jebusitas, Girgasitas, kenitas, Edomitas e de alguns verdadeiros israelitas. Esses judeus nunca foram, não são atualmente israelitas e nunca serão israelitas..
Encyclopedia Americana (1985):

“Asquenazis; Asquenazis são os judeus os quais os seus antepassados viveram na Alemanha… E entre os judeus asquenazis que surgiu a idéia do sionismo politico, levando ultimamente ao estabelecimento do Estado de Israel… Mais tardar pelo final de 1960 os judeus asquenazis numeravam alguns 11 milhões… por volta de 84 percento da população judaica mundial.” The Jewish Encyclopedia: ( A Enciclopédia Judaica)

“Khazars, uma organização não-semita, asiática, uma nação mongol tribal que emigrou para a Europa Oriental por volta do primeiro século, e que por volta do século VII, converteu-se por inteira ao judaísmo. A população Khazar foi absorvida por inteiro através da expansão Russa, e contou com a presença no leste europeu de um grande número de judeus de língua iídiche (Rússia, Polónia, Lituânia, Galácia, Besserabia e Romênia)Khazar: Ashkenazi Modern Jew (Khazar. Os modernos judeus asquenazis)

The Encyclopedia Judaica (1972): The Universal Jewish Encyclopedia: The Universal Jewish Encyclopedia: (A encyclopedia judaica universal)

“Khazars, … um grupo nacional de turcos em geral, independente e soberano na Europa Oriental entre os séculos VII e X dC Durante parte deste tempo a liderança Khazars eram professos do judaísmo ... Apesar de a informação insignificante de carácter arqueológico, a presença de grupos judeus e o impacto das idéias judaicas na Europa Oriental eram consideráveis durante a Idade Média. Grupos têm sido apontados como migrantes do Leste para a Europa Central e têm sido freqüentemente referido como Khazars, tornando assim impossível ignorar a possibilidade de que se originaram a partir do antigo império Khazar …”The Universal Jewish Encyclopedia: (A encyclopedia judaica universal)”

O significado primário de.. Asquenaz e Asquenazim em hebraico é .. Alemanha e alemães...Isto pode ser devido ao fato de que o lar de seus ancestrais alemães é Media, que é a Asquenaz citada na biblia ... Krauss é de opinião que, na idade medieval os khazares eram as vezes referido como Asquenazis ... Cerca de 92 por cento dos todos os judeus, ou aproximadamente 14,5 milhões são de origem asquenazis

"A biblia relata que os judeus Khazares (Asquenazis) eram… são os filhos de Jafé e não de Sem.(Shem):
“Estas são as gerações dos filhos de Noé, Shem e Jafé:….. Os filhos de Jafé… Os filhos de Gomer, Asquenaz …” (Genesis 10:1-3)
New Standard Jewish Encyclopedia, pagina 179,[GCP pg 68]

“ASQUENAZ, ASQUENAZIS… constituíam antes de 1963 cerca de nove? décimos do povo judeu (cerca de 15 milhões de um total de 16,5000,000) [a partir de 1968 é considerado por algumas autoridades judaicas estar próximo dos 100%]The Outline of History: H. G. Wells,

“É altamente provável que a maior parte dos ancestrais dos judeus "nunca" viveu na Palestina "de uma modo geral".

Sob o título " Termos para judeu" no Almanaque judaico de 1980 lemos o seguinte: "A rigor, é incorreto chamar um ancestral israelita de judeu 'ou chamar um judeu contemporâneo de israelita ou hebreu. "(1980 Almanaque judaica, p. 3)

Africa, Africa....continente africano, representada por 53 países, culturas diversificadas, por lá passaram e viveram grandes personagens da história biblica assim como... Moisés, Abraham, e mesmo Yahoshua o nosso Messiyah...

Africa era conhecida pelos seus ancestrais como Akebu-lan (berço da humanidade) terra-mãe ou jardim do Edén.

Mas o que realmente sabemos sobre este Continente?
A maioria dos “chamados escritores sobre a Africa” não nos relatam boas noticias sobre este continente, talvez pelo fato desses amadores, não terem um contacto direto com a população, grande maioria deles já chegam ao continente, “ temerosos de doenças”, ‘escoltados, ‘tirando fotos de jatinhos, sem nenhum ou muito pouco contacto com os seus habitantes, e depois os livros , as matérias que eles escrevem são quase todas baseeadas em teses, “o que eles ouviram dizer”, mas a maioria não tem sequer noção do que realmente acontece por lá, são livros de .. eu ouvir falar, me contaram... etc...

eu mesma desde a minha infancia só ouvia falar de mazelas, fomes, destruição, doenças, epidemias, são poucos os que realmente nos trouxeram algum tipo de informação positiva sobre este continente, mas será que não existe nenhuma boa noticia originária deste solo?

Isto é o que vamos aprender com alguém que viveu lado a lado com os habitantes deste Continente, esse escritor de abençoada memoria, penetrou no profundo deste solo e foi sensivel ao perceber que africa não é o que costumamos ouvir de alguns malfeitores que os costumam taxar de animistas, canibais, desalmados, politeistas, sim eu também fiquei surpresa ao perceber as palavras de Joseph Williams ao relatar em seu livro Hebrewism of west africa, que os africanos ao contrário do que a maioria pensa não são politeistas, e sim monoteistas.]

Segundo estudos desse mesmo autor que viveu lado a lado com diversas camadas da sociedade africana ele percebeu que os africanos de uma maneira geral creem em um único Ser Surpremo e este ser vive rodeados de entidades subalternas que estão a seu dispor no que diz aos cuidados da natureza e que eles geralmente costumam prestar algum tipo de honra a essas entidades, mas eles só reconhecem um unico ser Supremo o Criador, que segundo a descrição deles é o próprio YAH.

Para mim também foi uma surpresa ao ler o relato de que foram os cristãos missionários que forçaram a eles a a doutrina da trindade (Deus pai, deus filho e deus espirito), até então desconhecida entre eles e até hoje muitos dos africanos tem dificuldade de entender já que nem mesmo os cristãos conseguem entender e explicar essa doutrina tão confusa. Eles forçam aos africanos entenderem algo que nem eles mesmos conseguem entendem.

Um bom livro para melhor entendimento sobre o que realmente o cristianismo é baseado, a origem de suas raízes e tradições é o livro: Fossilized Customs escrito por Lee white... http://www.fossilizedcustoms.com/
e também o livro As duas babilonias de A.Hislop.

Abaixo algumas narrativas retiradas do próprio livro HEBREWISM OF WEST AFRICA do escritor Joseph Williams *Hebrewismo da africa Ocidental*

Eu estou convecido de que o conceito na mente dos ashantis, de um único Ser Supremo, não tem nada a ver com a influencia dos missionãrios, e nem pode ser concebida pelo contacto com os cristaos nem com os muçulmanos” ... E mais uma vez: “O conceito desse Ser Supremo que foi imbutido na mente dos ashantis de uma maneira geral é descrito ao YHWH dos israelitas.. Pag. 72....
“Conversei com diversos negros de diversos niveis e em diversas situações, sobre o conceito da fé deles, e posso dizer sem a menor sombra de dúvida, que a crença em um único Ser Supremo, e um estágio futuro de recompensas e punições é universal entre eles. Pág.345

Westerman em seu livro..Os conceitos de Deus encontrados na africa ocidental diz: Os negros creem que há um unico Ser Supremo e que este Ser vive rodeado de entidades subalternas que zelam pela natureza e pelo bem estar da humanidae , cada um tem a sua respectiva função.

“...R.E. Dennett, rejeita também por completo a idéia de que os negros se desenvolveram gradualmente de um estado de fetichismo ou qualquer outro conceito do Criador somente nos dias atuais. Muito pelo contrário, ele é da opinião de que “ os negros de uma forma geral não perderam o conhecimento de um único Ser Supremo o qual ao longo dos tempos herdaram de seus antepassados”. E ele acrescenta” Pelos estudos que tenho feito aos longos dos tempos... essa superstição chamada fetichismo f de certa forma, cresceu imposta sobre o puro conhecimento que eles certamente possuiam. Pág.349

J.Williams diz....“Portanto, nós concluimos que , o Ser Supremo não só dos Ashantis e de suas tribos aliadas, mas sim o mais provavelmente de toda a terra dos negros de uma forma em geral, não é o mesmo Deus dos cristãos, o qual comparado a dados recentes, foi sobreposta à várias crenças tribais pelos ministros do evangelho: Mas, sim o YAHweh dos hebreus e também dos hebreus do periodo pré- exilio, que suplantou o conceito anterior de divindade na mente da Africa (Um unico Ser Supremo) ou então clarificou e definou a idéia monoteistica original que pode ter estado adormecida durante muitos séculos, ou mesmo talvez tenha sido enterrada por um tempo em uma confusão inexplicavél do politeismo e da superstição . Pág.355

Há várias pessoas que nunca ouviram falar nos hebreus africanos, não tem sequer conhecimento de que foi na Africa que toda a história dos hebreus teve inicio, as escrituras nos relatam várias vezes que os filhos de Israel desciam ao Egito, e novamente subiam para Israel, era um sobe e desce sem fim, Yahoshua também esteve no Egito quando ainda criança com a sua mãe e José, quantos dias será que dura essa jornada de Israel ao Egito?Segundo alguns escritores uma jornada de Israel ao Egito durava em torno de 10 a 14 dias a pés, Israel é o vizinho do Egito, raramente lemos que eles atravessavam de Israel para o Egito de animais ou carros, a maior parte da jornada era feita a pé, será que agora vc conseguiu acordar que Egito é no norte da Africa e que israel era tão pertinho do Egito que dava pra ir a pé?ou seja nos tempos biblicos Egito era uma extensão de Israel, Gen, 15.13 nos diz que Egito é parte da terra de Israel, e agora? Será que nossos antepassados hebreus estiveram o tempo todo na Africa? Tirando os exilios é claro? Sem a construção do Canal de Suez em 1867 podemos afirmar que Israel e Egito era uma massa continua de terra.

Abaixo algumas poucas refencias de alguns hebreus da Africa, a maioria deles ainda é taxado de judeus negros pelos escritores, pois os nossos oprossores se recusam a reconhecer a verdade e porisso tive que fazer algumas adaptações dos textos retirados da Wikipedia

Os hebreus da Africa ...Wikipedia (parcial)....

Desde os tempos bíblicos, o povo hebreu tinha laços estreitos com a África, começando com a jornada de Abraão no Egito, e depois do cativeiro israelita sob os Faraós. Algumas comunidades israelitas na África estão entre as mais antigas do mundo, datando de mais de 2700 anos. Os hebrus africanos têm a diversidade étnica e religiosa e riqueza. As comunidades hebraicas africanas incluem:

* Grupos de africanos dispersos que não têm mantido contato com a comunidade judaica desde os tempos antigos, mas que afirmam serem descendentes do antigo Israel ou mantém outras conexões com o judaísmo. Estes incluem:

Grupos como o dos Lemba, muitos dos quais praticam o cristianismo, mas tem preservado alguns rituais e costumes acredita-se ser de origem hebraica. Neste grupo também foi encontrado traços genéticos relacionados aos hebreus biblicos, reforçando assim, suas reivindicações de ascendência hebraica.Embora nem todos os hebreus Africanos são praticantes do hebrewismo, a maioria das práticas encontradas nas comunidades hebraicas africanas são de origem judaicas ortodoxas.

* Comunidades hebraicas antigas

As comunidades mais antigas de hebreus Africano conhecido no mundo ocidental são a dos hebreus etíopes,.

Desconhecidos no Ocidente até bem pouco tempo as comunidades dos hebreus africanos como, Lemba (Malawi, Zimbabwe, África do Sul e do Norte). Alguns entre os ibo da Nigéria, o Annang / Efik / Ibibio de Akwa Ibom e Cross River Estado da Nigéria, Camarões e Guiné Equatorial)

Na Etiopia:

Há os hebreus etiopes e também a comunidade Beit Avraham

Na Etiópia, a comunidade conhecida como Beit Avraham tem cerca de 50.000 membros. Esta comunidade também reivindica a herança hebraica. Diversos estudiosos acreditam que eles se separaram da comunidade Beta Israel há vários séculos, aonde quase extinguiu ou ficou oculto os seus costumes hebraicos, e exteriormente adoptaram o cristianismo Ortodoxo Etiope.

Além disso, alguns migraram para a área longe do domínio muçulmano no norte da África.

Lemba

Os Lemba são um povo hebreu no sul da África. Embora eles falam línguas Bantu similar aos seus vizinhos, eles têm práticas religiosas específicas semelhantes aos do judaísmo e de outras tradições semitas. Eles também têm uma tradição de ser um povo migrante, com pistas que apontam para uma origem de hebreus iemenitas.

Eles têm restrições sobre o casamento com os não-Lemba. É difícil para os homens não-Lemba se tornar parte da comunidade. Um número significativo de indivíduos carregam uma assinatura genética do cromossomo Y conhecido como o haplótipo Cohen modal, indicativo de uma ancestralidade semítica patrilinear. Esta característica do cromossoma Y é particularmente associada com os Cohanim ou sacerdotes, um subgrupo distinto dos israelitas.

Os hebreus ibo da Nigéria é um dos componentes do grupo étnico ibo. Dizem que migraram da Síria, da Líbia e os israelitas Português na África Ocidental. Os registros históricos mostram que essa migração começou cerca de 740 dC.

De acordo com Nair (1975), no início da história da Nigéria, o povo Efik (pessoas de idade Calabar Unido foram muitas vezes referida como Efik Eburutu. Eburutu sendo um termo que surgiu como resultado da currupção da palavra hebraica " e Ututu. Ututu sendo um dos primeiros povoados do povo Efik no litoral sudeste da Nigéria. Portanto, o Efik / Ibibio / Annang eram grupos de pessoas conhecidas na pré-história como sendo de origem hebraica que se estabeleceram em Ututu.

Missionários europeus que chegaram em suas terras no início de 1400 AD chamaram suas práticas religiosas de "tradicionais". No entanto, eles identificam as suas práticas religiosas e patrimônio com os hebreus. Acredita-se que sejam membros do Reino do Norte de Israel, que saiu antes do cativeiro da Babilônia e migrou para o Efik / Ibibio terra Annang / da Nigéria, do Egito, através da Etiópia e Sudão. Eles têm sinagogas ativas na área. serviços Sinagoga (Shabbat Services) da região da Nigéria, pode ser visto na internet, e no canal do YouTube.

Camarões

Os créditos de uma presença Hebraica nos Camarões são feitos pelo rabino Yisrael Oriel. Rabino Oriel, ex-Bodol Ngimbus, nasceu na tribo Ba-Saa. A palavra Ba-Saa, disse ele, vem do hebraico para "uma viagem" e significa bênção. Rabino Oriel alega ser um levita descendente de Moisés.

Rabino Oriel afirma que em 1920 havia 400 mil 'Israelites' em Camarões, mas por volta de 1962 o número baixou para 167 mil, devido à conversão ao cristianismo e ao islamismo..

O maior influxo de hebreus para a África veio depois da Inquisição espanhola e expulsão dos hebreus da Espanha em 1492, e Portugal e na Sicília logo em seguida. Muitos desses hebreus se estabeleceram no norte da África.

São Tomé e Príncipe

Além disso, o rei D. Manuel I de Portugal exilou cerca de 2.000 crianças hebreias para São Tomé e Príncipe, por volta de 1500. A maioria morreu, mas no início dos anos 1600 ", o bispo local notou com desgosto que ainda havia observâncias hebraicas na ilha e retornou a Portugal por causa de sua frustração com eles." Embora as práticas hebraicas desapareceu ao longo dos séculos seguintes, há pessoas em São Tomé e Príncipe que estão cientes da queda parcial desta população.

Mali

Existem milhares de pessoas de inegável ascendência hebraica em Timbuktu, Mali. No século 14 muitas mouros e hebreus, fugindo da perseguição na Espanha, migraram para o sul para a área de Timbuktu, em que parte do tempo do império Songhai. Askia Muhammed chegou ao poder na região anteriormente tolerante de Timbuktu e decretou que os hebreus deveriam se converter ao islamismo ou seriam mortos; Hebreísmo tornou-se ilegal em Mali, assim como na Espanha católica no mesmo ano. Como disse o historiador Leo Africanus em 1526: "O rei (Askia) é um inimigo declarado dos hebreus.

Costa do Marfim

Existe uma comunidade extremamente pequena de hebreus na Côte d'Ivoire. Na história, a maioria dos hebreus da Côte d'Ivoire emigraram para as proximidades de Ghana e se instalaram lá.

Ghana

A Casa de Israel comunidade de Sefwi Wiawso afirmam que seus antepassados são descendentes de hebreus que migraram para o sul através da Côte d'Ivoire. A prática do hebrewísmo na comunidade, no entanto, remonta apenas ao início dos anos 1970.

Quénia

Uma comunidade emergente relativamente pequeno vem se formando no districto de Laikipia , Kenya, abandonando suas crenças cristãs em troca do hebrewísmo. Atualmente existem cerca de 5.000 praticantes do hebrewismo . Este grupo tem ligações com o movimento dos Hebreus israelitas. Existem também alguns entre os grupos étnicos no Quênia que alegam serem parte de uma das tribos perdidas de Israel .

Nigéria

Além das comunidades hebraica estabelecida na Nigéria descrito acima, outras comunidades messianicas estão se formando.

Uganda

Os hebreus abayudaya de Uganda são um grupo que abraçou com entusiasmo o hebrewísmo em tempos relativamente recentes, datando apenas de 1917.

Zimbabwe

Os hebreus de Rusape, antiga reivindicação Zimbabwe conexões hebraico tribais, na verdade, eles afirmam que a maioria dos negros africanos (especialmente os povos bantu) são realmente de origem hebraica antiga. No entanto, a prática ativa do hebrewísmo na comunidade Rusape remonta ao início do século XX, neste caso, 1903. Este grupo acredita que a maioria dos povos Africano são descendentes das 12 tribos perdidas de Israel e que a maioria dos africanos têm práticas hebraicas.

Para aqueles que desejam se informar melhor sobre os hebreus da africa e o pós-exilio para as Américas o livro From Babylon to Timbuktu (da babilonia para o Timbuctu) escrito por Rudolph Windsor, nos revela detalhes incriveis sobre essa peregrinação e a escravidão do povo escolhido de YAH, da Africa para as Américas.

E o livro The Valley of dry bones(O vale de ossos secos) desse mesmo autor explica as condições espirituais e fisica que os israelitas se encontram nas terras de sua captividade segundo a profecia de Ezequiel 37

Richard Bauckham e a presença feminina no Cristianismo Primitivo

É algo que nos ocorre e nos deixa estupefatos quando vamos tendo pensamentos, que vão se enlevando e se encaixando com diversos insights ao ponto de iniciarmos um quadro mental, e descobrimos que houveram outros desbravadores dessa mata escura, e que podemos aproveitar os rastros e clareiras por eles deixados. Com uma fina pontada de desapontamento por não sermos os 'descobridores da América', vem uma felicidade de não sermos exóticos estranhos no ninho.

Acontecera isso comigo recentemente, ao refletir sobre a perspectiva das mulheres na igreja cristã nascente. Elas costumam ser esquecidas, e dificilmente se encaixam nos esquemas gerais traçados. Algumas vezes, o olhar feminista sobre a bíblica recai num essencialismo ululante, desprovido de realismo, ou anacronismos, o que nos enfastia. Alguns conseguem ser mais centrados e escapam dessa armadilha. Eu os busco. Encontrei um neste livro de Bauckham, ‘Gospel Women: Studies of the Named Women in the Gospels’, que tive a felicidade de ler e compartilho, das resenhas com as quais me deparei na internet, a que de forma sucinta traduzira as minhas impressões fora a da professora Dra. Robin Gallaher Branch, doutora em Estudos Hebraicos da Universidade do Texas em Austin. Fora uma Fullbright Scholar e depois Professora Associada na Universidade de Potchefstroom, África do Sul. Atualmente é professora de Bíblia e Teologia na Faculdade Crichton, em Memphis, Tennessee. Deixo aqui disponível uma tradução livre (aberta a correções) de minha parte, para compartilhar e divulgar esse trabalho extremamente relevante para os leitores de língua portuguesa, esperando contribuir para que alguma editora possa publicar no Brasil.

Bauckham, Richard
Gospel Women: Studies of the Named Women in the Gospels
Grand Rapids: Eerdmans, 2002. Pp. xxi + 343.

Richard Bauckham, professor de Estudos no Novo Testamento e Bispo Professor na Universidade de St. Andrews, na Escócia, escreveu um importante trabalho sobre algumas das mulheres nomeadas no Novo Testamento. Ao fazê-lo, ele olha entusiasticamente as histórias, fatos e sugestões no texto bíblico e em histórias na literatura extrabíblica sobre estas mulheres.

Seus temas incluem mulheres na genealogia de Jesus em Mt. 1; Elizabeth e Maria em Lucas 1; Ana da tribo de Aser em Lucas 2; as duas Salomés, uma, irmã de Jesus, e a segunda, sua xará e não referida no texto bíblico, uma discípula de Jesus (226), Joana (Lucas 8:3, 24:10), a qual, ele argumenta, é uma apóstola; Maria de Cléopas (João 19:25), e as mulheres nas histórias da ressurreição.

Ele começa por olhar para o livro de Rute, apontando que ele oferece uma chave ginocêntrica para uma leitura das Escrituras(1.16). À primeira vista isso parece pouco habitual, ainda que estabelece as bases para o seu argumento de que porções das Escrituras apresentam vozes das mulheres. Ele aponta que, embora não possamos conhecer a autoria de Rute, 'a voz com a qual o texto fala aos seus leitores é feminina' (3, ênfase original); esta voz feminina domina até os últimos versos, quando a voz masculina, sob a forma de genealogia de David retorna ao texto(4). Citando o trabalho de Carol Meyers, Bauckham observa em relance certos textos, como Rute, Cântico dos Cânticos, e possivelmente Ester, um mundo interior de mulheres, um lugar na sociedade em que suas vozes sejam ouvidas e apreciadas(9). Ele argumenta que os textos ginocêntricos não têm o papel de relativização dos textos androcêntricos, os textos predominantes em ambos os Testamentos, mas de contrabalançar ou corrigir precisamente isto: seu androcentrismo(15,16). Por conseguinte, ouvir e atentar para as vozes e perspectivas das mulheres no Novo Testamento são executados como um tema em todo o livro de Bauckham 'Gospel Women'.

Bauckham continua sua ênfase no Antigo Testamento ao olhar para as quatro mulheres citadas na genealogia de Jesus em Mateus: Tamar, Rahab, Rute, e a esposa de Urias o hitita...'Numa genealogia patriarcal deste tipo, as mulheres não têm lugar necessário', ele inicia, e então pergunta por que elas estão lá. Conduzindo seus leitores passo a passo, argumenta que genealogia de Mateus exprime o sentido universal do propósito de Deus, nomeadamente, que Jesus é o Messias judeu para os gentios(21). Que as quatro mulheres têm algum tipo de ligação por nascimento ou casamento fora de Israel 'estando de acordo com o objetivo global messiânico da genealogia'.(27).

Ele afirma que Tamar 'era, pelo menos, não mais gentia do que Sara, Rebeca, Lia, e Raquel foram'(31). Além disso, o fato de que Jesus tivera ancestrais gentios mostra o grau de abertura das pessoas de Deus para a inclusão dos gentios crentes, uma abertura que o Messias confirma e amplia(42).

A interação de Elizabete Maria em Lucas 1 apresenta uma vinheta textual proporcionando um olhar sobre o mundo das mulheres. Falta no seu capítulo sobre estas duas mulheres, no entanto, um profundo olhar para Elizabete; Bauckham concentra-se em Maria. Ele cita a prevalência do tema da mãe-filha em muitos das histórias precedentes do Antigo Testamento sobre mulheres. A seção Maria-Elizabete continua no modelo salvífico de mulheres como portadoras das pessoas de Deus. Anteriormente as mulheres portadoras que ele cita são Sifrá e Puá, as parteiras em Êxodo 1; Débora a juíza e Jael, que matou Sísera(Juizes 4-5); Ana (1 Sm. 1,2); e Ester. Juntamente com os homens, as mulheres atuam como agentes humanos da libertação de Deus para seu povo, dos seus inimigos(57). Maria e Isabel continuam esse padrão. Bauckham nota que comentadores costumam dizer que as canções de Maria e Ana celebram a salvação do Deus de Israel e permanecem separadas das próprias mulheres cantoras. Ele considera que estes comentadores tenham perdido o ponto.

Em vez disso, ele sustenta que as canções dessas alegres mulheres 'celebram a ação graciosa de Deus para a própria cantora em seu significado para todos aqueles que também estão em condições humilhantes de vários tipos e então para todos os fiéis de Deus em geral'.(6, ênfase original).

Bauckham nota que Ana da tribo de Aser é a única personagem judaica no Novo Testamento não pertencente à tribo de Levi, Judá, ou Benjamin (77). Ele sustenta convincentemente que a menção de Ana e da tribo de Aser garante que a comunidade representada na narrativa de Lucas representa Israel como um todo, tribos do norte, bem como do sul, exilados, bem como os habitantes da terra (98). A mensagem da salvação na pessoa de Jesus veio para todo Israel.

Em seu capítulo mais longo e interessante (109,202), Bauckham postula que Joana, e seu marido Cuza, capataz de Herodes, são os ‘Andrônico e Junia’ mencionados tão carinhosamente por Paulo como seus parentes e companheiros presos em Rom 16:7. Ele observa que a referência ao marido de Joana é excepcional entre todas as referências dos Evangelhos às mulheres discípulas de Jesus (119).

Bauckham observa que Joana e Cuza, como membros da aristocracia herodiana de Tiberíades, moveram-se livremente no mundo romano(161). Joana, já como uma membra da aristocracia, escolhera ser uma seguidora de Jesus e por isso, tinha feito uma incrível travessia social para se tornar uma seguidora(145). Ela atravessara ainda mais, de acordo com os argumentos de Bauckham, as desigualdades sociais, quando ela se tornou, com o seu marido Andrônico/Cuza, uma missionária itinerante. Argumenta que o nome Junia é uma versão grega de Joana, provavelmente retomado por uma judia palestina que se tornou uma missionária cristã para o mundo grego(169).

Em um conto imaginário que deve ter sido divertido escrever, Bauckham, desenhando a partir da sua investigação, inclinações, e palpites, traça um esboço histórico desta intrigante mulher e seu marido (194-98). Paulo louva-os como 'distinguidos entre os apóstolos' e crentes em Cristo antes dele ter se tornado um crente (Rm 16:7).

Outro casal missionário jovem bastante provável era Maria de Cléopas e seu marido Cléopas(198). Em seu próximo capítulo, Bauckham argumenta que a frase 'Maria de Cléopas'(João 19:25) pode significar quer que Maria é uma solteira filha de Cléopas ou a esposa de Cléopas e ele opta por esta última(207-9). Rastrear tanto a união e linha de Maria e Cléopas prova-se fascinante, pois este estudo revela a importância dos papéis que desempenharam os parentes de Jesus na Igreja primitiva(203).

Bauckham diz que Cléopas foi o irmão do pai adotivo de Jesus, José(208). Maria e Cléopas tiveram um filho muito famoso, um homem chamado Simão ou Simeão, o mais importante líder cristão na Palestina por metade de um século(209). Certamente, de acordo com textos extrabíblicos, ele foi martirizado com 120 anos, uma idade que coloca-o na mesma categoria de importância como Moisés(209). Porque Simão/Simeão foi tão bem conhecido por toda sua reputação entre as igrejas, os primeiros leitores do Quarto Evangelho, João, não teriam tido qualquer dificuldade em identificar Maria de Cléopas como a sua mãe (209).

Bauckham, continuando a sua exploração de textos extrabíblicos e a luz que eles derramaram sobre as pessoas em torno de Jesus, cita uma tradição cristã pós-canônica nomeando Maria e Salomé como as duas irmãs de Jesus(p. 226). A História Copta de José menciona que Salomé seguiu Maria, José, e Jesus na fuga para o Egito(231).

Em seu capítulo concludente Bauckham aborda cada história de ressurreição nos Evangelhos separadamente e olha para as suas personagens mulheres. Quanto a Mateus, ele diz que o comando para as mulheres 'ir e contar'(Mt 28:10) manteve aplicação durante suas vidas. Porque é inconcebível que as mulheres teriam parado de contar a todos os que foram posteriormente dispostos a ouvir, o seu testemunho não é substituído pelo dos onze, como tem sido argumentado, mas inclui a sua própria validade contínua(279).

A narrativa da ressurreição de Lucas remete para os discípulos de tal forma a tornar claro que não só os onze, mas também um grupo maior está em mente; as mulheres pertencem a este grupo maior, diz Bauckham(82). Em João, a declaração de Maria Madalena 'Eu vi o Senhor'(João 20:18) vai depor sobre a realidade do Senhor ressuscitado e é tão persuasiva como um testemunho quanto o dos outros discípulos e Tomé(285).

Bauckham manipula bem o difícil problema da maneira como o Evangelho de Marcos termina. Ele argumenta que o silêncio das mulheres diz aos leitores que, embora as mulheres passam as notícias da ressurreição de Jesus para os discípulos do sexo masculino, a proclamação do evangelho ao mundo não começa neste momento. Na verdade ele não pode começar aqui, não porque as mulheres são mulheres, mas porque a proclamação deve começar a partir de que uma aparição do Jesus ressuscitado comissiona suas testemunhas(294) [Ele sustenta que os adendos seguiram um padrão convencional nas igrejas, retratado nos outros - Nota do Tradutor] .

Bauckham, claramente um refinado e metódico professor, escreve como um acadêmico para acadêmicos. Seu estudo 'Gospel Women' inclui interessantes suplementos da sua investigação, como uma refinada seção chamada 'Mulheres Judias como Donas de Propriedades'(121,35) e notas sobre as tribos do norte no exílio em 4 Esdras 13 e no livro de Tobias (101,7).

Seu livro teria sido melhor chamado ‘Gospel Women: Estudos de (algumas das) Mulheres Nomeadas dos Evangelhos’. Uma das esperanças é que ele aplique seus conhecimentos para uma sequência, algo como Gospel Women: Estudos de (mais) Mulheres Nomeadas no Novo Testamento.

Richard Bauckham, Raymond Brown e a pluralidade do movimento cristão

Há um texto chave no Evangelho de João a partir do qual podemos refletir sobre a pluralidade do movimento cristão nascente entre segmentos religiosos da região de onde emergiu. Ele ganha maiores cores quando o examinamos à luz de outras importantes passagens sobre o nascimento da igreja cristã.
João 4.1-42. A passagem por Samaria, o diálogo com a Samaritana e a imagem da colheita.

Antes, gostaria de expor uma questão ridícula por parte de alguns eruditos. Costuma-se apontar que nesta época do ano tal poço ( cujo termo empregado pegé também designa “nascente”) - que se alega ter sido objeto de descoberta arqueológica [1]- deveria estar transbordando, o que seria um sinal inequívoco, senão cômico, da não-historicidade do relato. J.P. Méier é um que, infelizmente, comete tal temeridade [2].

Sabe-se que, para um poço transbordar não basta haver chuva em uma determinada época. Condições agroecológicas determinantes da capacidade de infiltração de água, retenção de água no solo, capilaridade do solo, profundidade do solo, que estão interligados com a fitofisionomia do local; isso sem contar que variações no índice pluviométrico ocorrem, pode haver anos em que determinado índice de determinado mês sofra grandes variações, ainda mais extrapolando vários séculos. Por isso considero no mínimo irresponsavelmente precipitado alguém querer ser tão seguro numa afirmação como essa. [ Nota de acréscimo: segundo o professor D.A.Carson, o poço teria pelo menos 30 metros de profundidade, e Jesus teria se encontrado lá à hora sexta, ou meio-dia [3]].

Esta passagem de João nos remete a diversas alusões para com o Antigo Testamento e expectativas messiânicas, com implicações para grupos e povos como os Samaritanos, vizinhos mas repudiados pelos judeus, em que se estabelece a importância da tradição ser guardada, memorizada e relatada pela sua significação por um ambiente de grupos oriundos, ou compostos significativamente por pessoas ligadas a eles. A começar pela passagem da Judéia para a Galiléia por Samaria; habitualmente seguia-se o vale do Jordão. Poderia remeter à profecia de Isaías 11.12:, em que O Espírito de Deus “reagrupará os banidos de Israel e reunirá os dispersos de Judá”. Confira Os. 2.2; Ez.37.16-24. A referência aos maridos da samaritana remete a II Reis 17.24-41 [4], a respeito das divindades das 5 tribos babilônicas que se estabeleceram em Samaria após a conquista do Reino do Norte. Josefo, em Antiguidades Judaicas, IX, 14,3, dedica uma menção e reflexão a respeito. Nesta passagem de Reis, de forma mais aproximada, implica na verdade que teriam sido 7 divindades, pois duas das tribos levaram duas divindades, passando a adorar YHWH igualmente.

A perspectiva "messiânica" samaritana tinha ênfase no papel deste como profeta e sacerdote, como o prometido em Dt.18.15, o profeta semelhante a Moisés. Não advogamos aí as injunções forçadas quanto ao “Messias Filho de José” para com o evangelho. Embora possamos refletir paralelamente uma figura remetida por muitos judeus cristãos a Jesus, à qual a comunidade de Samaria iria se opor- o ‘Filho de Davi”, que seria a vindicação dos judeus ante os gentios e samaritanos, inclusive em questões territoriais. Jesus parece ter tido uma relação quase ambivalente com essa perspectiva, assumindo partes dela e também negando outros aspectos. Quando no encontro com a mulher siro-fenícia [Mt. 15.21-28], Jesus ironiza-a clamando por ele como “Filho de Davi”, pois pela lógica ela teria era medo e/ou ojeriza com essa figura, que seria perigosa para ela e seu povo. Como muitas outras vezes, Jesus não é condescendente com quem pode se aproximar dele com dubiedade, dissimulação. Tal figura seria um adversário para ela, alguém que poderia lhes ( i.e., ela e seu povo) expulsar da terra...estaria ela sendo dissimulada apenas para obter o que queria, ou manifestava uma fé sincera? O restante da história mostra que não era o caso, que para ela a aflição de sua filha era mais importante do que os conflitos.

Podemos visualizar a imagem da "água viva", e a referência antecedente a “dom de Deus”, na ótica da esperança do "messias" sacerdotal. À luz da passagem da leitura messiânica de Dt. 18.18, o "messias" seria o Profeta à semelhança de Moisés, um libertador; João retrata que alguns dos discípulos mais chegados de Jesus compartilhavam de tal expectativa, vide a menção a “aquele que Moisés escreveu na Lei” (1,45), no convite de André para Natanael em João 1.45. Raymond Brown [5] assevera sobre a fala da personagem da mulher samaritana: “Em nenhuma parte mais Jesus é chamado ‘Salvador’ durante o ministério público. Contudo, o mais que se pode provar de Jo 4,4-42 é que os samaritanos usam um título que não é tradicionalmente messiânico – não há nenhuma alusão à preexistência”.

Samaritanos esperavam o “Taeb” [6], uma figura "messiânica" de menos vulto (tanto que não se vê de forma comum referências a ela como Messias), de caráter sacerdotal. Aqueles que buscam afirmar que o evangelho joanino apregoaria que Jesus se identificara como o enviado divino da perspectiva samaritana necessitam crer que as diversas partes em que se recusa a se auto-identificar tanto com as reivindicações samaritanas quanto as dos judeus, foram uma inserção posterior corretiva...pois invocando a imagem do Ruah – em pneumati kai aletheia – transpassaria-se as conotações de disputas políticas e territoriais em seu messianato... Estaria significando “não sou o messias da política de aspiração de poder judaica nem a samaritana”, transcendendo os dois ideários. Nesse ponto, podemos entender o que, no ponto de vista de seus opositores, teria sido um insulto a Jesus ao lhe dirigirem a pergunta retórica “Você é um samaritano?”(Jo.8.48). O autor do evangelho, na passagem que temos referente ao versículo 22 neste mesmo capítulo 4, deixa claro que não estava usando Jesus para uma apologia do movimento samaritano contra o judaico.

Alguns exegetas ingenuamente acabam partilhando do ponto de vista dos interlocutores e concluem que de fato Jesus se identificara com o partido Samaritano. Lamentamos tamanha ingenuidade. Pois com pouco esforço de raciocínio nos lembramos que um grupo extremista, que se afirma pelo contraste com outro grupo, tende a pensar das posições não-alinhadas como tomar partido com os outros. Recentemente, não o vimos tais declarações por parte de autoridades estadunidenses em sua guerra unilateral contra o “Terror”? Não eram assim também ambos os lados da Guerra Fria? Novamente lembramos que não basta buscarmos apenas lançar mão de dados para ter erudição, senão caímos na falácia estatística das “imagens semi-aderentes”; é importante antes o bom concatenar lógico das proposições. Coerentemente, teriam que especular se Jesus teria mesmo parte com o demônio...

O cenário didático da colheita é corrente em Jesus. Por exemplo, confira-se Mt. 9.37. A semeadura ocorria em outubro/novembro e a colheita-março/abril. Se estabelece aí um contraste entre os campos literais verdes, ainda longe do tempo da colheita. “Levantai e vede”: grupos samaritanos vindo de Sicar. Os campos da missão dão os sinais de que estão no ponto de colheita. Então, já haviam sido semeados anteriormente! Era para os discípulos participarem da alegria dos trabalhadores anteriores, e não serem recalcitrantes por não terem sido eles– vs. 36-37. Afinal, como a fala no evangelho de Marcos, “Aquele que não está contra nós é a nosso favor” - Tradução Bíblica Ecumênica. Quem semeara? Terá sido por isso que Jesus “necessitou passar por Samaria?” Vs. 38 – o trabalho dos cultivadores será proveitoso para a comunidade cristã, para a Igreja. Interessante essa imagem. Se o Cristo é o semeador, e os apóstolos os colhedores, os outros então cultivaram a partir do trabalho de Cristo, e não por conta própria.

Podemos perceber que neste evangelho poderia estar contido[7], de forma embutida ou mais clara para aqueles do seu contexto, uma resposta a questionamentos sobre o papel de samaritanos e grupos ligados a eles na igreja cristã; os que supostamente promoviam este questionamento podiam se apegar a Mateus 10.5, considerando, como no apontado por Bauckham [8] , que é um erro considerar os evangelhos como destinados apenas às comunidades locais, e sim que a partir delas eles tinham a perspectiva da difusão entre as igrejas e delas para a evangelização. Especificamente quanto ao ambiente da comunidade joanina, acompanhamos Raymond Brown [9]: “longe de ser um cristianismo de isolamento, ele foi um confronto em plena corrente com as sinagogas e outras igrejas, e que apesar de tendências sectárias, ele orava pela unidade com os outros cristãos. Mas era um cristianismo desafiadoramente diferente e volátil – tão volátil que estava destinado a ser absorvido nos movimentos cristãos mais amplos (de direita e de esquerda) que surgiam no primeiro século".

Esse motivo no evangelho, de buscar apontar a legitimidade das missões a partir de Samaria, pode mostrar as ligações precoces logo no início da atividade missionária da igreja, dentre os conversos samaritanos e helenistas, e que estaria também ligado também à polêmicas cristológicas, envolvendo a alta cristologia da perspectiva do evangelho joanino. Assim, desconstruiria-se os argumentos de que encontrar indícios de pensamento helenista, ou de âmbitos culturais além de estritamente judaicos, em textos neotestamentários - especialmente evangelhos - é certeza de que seja desenvolvimento tardio. Não adoto aqui a perspectiva radical de que o evangelho joanino é uma costura de diversas tradições independentes e criadas em épocas diferentes, sendo o “discípulo amado” narrador uma figura simbólica ou um “rosto coletivo”, a personificação do grupo [10].

Podemos saltar para, bem mais à frente, um episódio crucial para a expansão do movimento cristão. Em Atos, o discurso de Estevão parece trabalhar em cima da Torá Samaritana. Vemos isso analisando-se à luaz de temas quanto à idade de Terach implicada como 145, não 205 anos. Abraão sepultado em Sh'kem. Filo de Alexandria, em “De Migratione Abrahami”[11], coloca que Abraão deixou Haran depois da morte de Terach. Também no seu discurso há influência do livro de “Jubileus”, no enterro dos ossos dos irmãos de José em Heron – Jb 1.27-29; 2.1.

O caráter indissiocrático das idéias de Estêvão, comparadas com o evangelho lucano e com Atos – destacando os demais discursos onde se apresenta ideias coerentes com o que se mostra ser a do compilador do livro- atesta para a fonte independente do discurso [12], sem dúvida de origem dos “helenistas” cristãos [13], ou como especulamos mais aqui, dos conversos samaritanos, acrescentando a importância dada ao patriarca José característica do imaginário efraimita. O livro o apresenta como “denunciado” pelos judeus da dispersão que eram ex-escravos (At 6.9).

Os helenistas foram a Samaria com a perseguição. Não acredito que apenas a oposição ao culto do Templo serviria como elo tão forte. Importante: eles não tinham comprometimento apologético nem com o Templo, tampouco com o Monte Gerazim, tal como Jesus. Para o evangelista, eles tinham contemplado a Shekinah, ou seja, Jesus era lócus do culto. Ele “habitou entre nós”, retoma a idéia do Tabernáculo, ou da resposta de Deus a Davi-Salomão, de que ia de tenda em tenda.

Os Sete, incluindo Felipe, que era dotado de desenvoltura para pregar entre gentios e samaritanos (At 8.4-13 e 26-40) – terão sido um grupo-referência, não contando com o status dos Doze mas sendo também um referencial alternativo? Os helenistas encontraram acolhida em Samaria porque ali poderia já existir um grupo coeso, importante? Então, tal grupo já vinha dos tempos da atividade de Jesus. Isso possibilitou a missão saída da perseguição desencadeada após o martírio de Estêvão, e daí Pedro e João foram enviados lá a partir das notícias – Atos 8.14, expressando o quadro desenhado em Jo. 4.38. Serviram então ali como uma ponte, um referencial maior entre os dois grupos, o mais identitariamente judaico e o nem tanto. Tiago passara a ser o Bispo de Jerusalém, no lugar de Pedro...este, é encostado na parede por Paulo por se intimidar pelo “partido judaizante”, tendo passado por uma saia justa em um momento que tinha que tomar uma posição(Gl. 2.11-14). E João (além da grande probabilidade de fundar/ dirigir comunidades na Ásia Menor, especialmente Éfeso)?..
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Referências:

[1] BROWN, Raymond E. The Gospel According to John I-XII [2] MEIER, J.P. Um Judeu Marginal.[3] CARSON, D.A. The Gospel According to John.[4] CULLMAN, Oscar. Das origens do Evangelho à formação da teologia cristã. [5] BROWN, Raymond E. A comunidade do discípulo amado[6] SCARDELAI, D. Movimentos Messiânicos no tempo de Jesus: Jesus e outros messias.[7] CULLMAN, Oscar. Early Christian Worship[8] BAUCKHAM, Richard. The Gospels for All Christians: Rethinking the Gospel Audiences[9] BROWN, Raymond E. A comunidade do discípulo amado [10] - BAUCKHAM, Richard. Testimony of the Beloved Disciple, The: Narrative, History, and Theology in the Gospel of John - HENGEL, Martin. Johannine Question - MOLONEY, Francis J., HARRINGTON, Daniel J., The Gospel of John[11] ALEXANDRIA, Philon. De Migratione Abrahami.[12] BLOMBERG, Craig. From Pentecost to Patmos: An Introduction to Acts Through Revelation [13] HENGEL, Martin. Acts and the History of Earliest Christianity