segunda-feira, 14 de junho de 2010

A Datação dos Evangelhos

1-OS EVANGELHOS CANÔNICOS

O assunto que analisarei a seguir merece toda atenção possível, principalmente, em razão de ter ser um tema desvinculado de qualquer dogma.

No Brasil, sempre se foi complicado fazer teologia:

Primeiro: o estudo sistemático da palavra não é incentivado no meio cristão. Membros de seitas cristãs lêem mais a Bíblia do que os próprios cristãos.

Segundo: a maioria dos teólogos brasileiros necessita do púlpito para se manterem financeiramente. Isso cria um limite doutrinário no qual ele possa trabalhar, pois ele não pode nas suas publicações ir contra aquilo que a sua denominação afirma. E assim a teologia brasileira vai se defasando no decurso do tempo. O estudo acerca do "Jesus Histórico" não pode ser realizado com tendências ou "rédeas" eclesiais.

Terceiro: Existe uma interpretação existencial moderada de Jesus e do Cristianismo.

1.1. ORIGEM E CREDIBILIDADE DOS EVANGELHOS

Em vista da obra ser apoiada em sua maior parte nos evangelhos canônicos, obrigatoriamente, terei que entrar no mérito da credibilidade dos Evangelhos.

Essa problemática não é moderna. Antes do ano 200, no chamado FRAGMENTO DE MURATORI, já existe uma distinção entre quatro pontos sobre a origem e utilização dos "escritos sagrados", os quais estavam em circulação na época, testemunhando as dificuldades que deviam ser superadas antes que se chegasse à nossa distinção entre livros canônicos e livros apócrifos do Novo Testamento. Portanto, a discussão acerca da aceitação de alguns textos como corretos e fidedignos já era ativa antes mesmo do ano 200 d C. O leitor deve estar se perguntando: Então, se já havia uma discussão antiga sobre possíveis adulterações, escritos de falsos autores, etc., então como podemos saber se a Bíblia que lemos hoje é exatamente aquilo que escreveram os autores dos livros bíblicos?

Consideraremos agora quanto à re-escrita desses livros, se foram adulterados com o decorrer do tempo, ou, se devido o número de cópias feitas, sofreram modificações indesejáveis. Ninguém melhor do que o renomado biblista Oscar Cullmann para nos dirimir essa dúvida.

"Não temos documento original do Novo Testamento, mas cópias. Os manuscritos completos mais antigos que possuímos não remontam além do séc IV. Deixando à parte fragmentos mais antigos, cerca de 300 anos, portanto, separam a redação original do texto conservado. Tal espaço de tempo poderia fazer-nos duvidar da autenticidade estrita desses textos. De fato, de cópia em cópia, lograram introduzir-se deformações e impor erros. Contudo, não se deve esquecer que o Novo Testamento, desde que foi reconhecido como Sagrada Escritura, foi recopiado com minuciosidade escrupulosa que inspira o respeito das coisas sagradas. Também é preciso considerar que a distância entre o original e o primeiro texto conservado é, abstraindo de fragmentos, muito menor para os escritos do Novo Testamento do que para os outros escritos da Antiguidade".

Em face das evidências que Cullmann nos apresentou temos de concordar que o que possuímos em nossas mãos hoje reflete na maior parte aquilo o qual constava nos escritos autógrafos. O meu leitor inquiridor deve estar se questionando: Mas se os escritos que possuímos são fidedignos por que há tanta diferença, no relato acerca de Jesus, entre os evangelhos e as cartas paulinas?

Em rápida leitura bíblica, percebemos o evidente contraste entre as epístolas do Novo Testamento e os evangelhos. Notamos nas epístolas paulinas que todos os elementos das biografias evangélicas de Jesus de Nazaré estão omitidos nelas, e que Paulo e outros escritores do cristianismo primitivo, nos apresentam apenas uma figura divina e espiritual de Cristo no céu, revelada por Deus através da inspiração e da escritura. Esse Jesus jamais foi identificado com um homem da história recente. Destarte, quando abrimos os evangelhos, estamos despreparados para a figura de carne e sangue que vive e nos fala através de suas páginas, que andou nas areias da Palestina e morreu no Calvário nos dias de Herodes e Pôncio Pilatos. Em suma: A humanidade de Jesus é totalmente desprezada nas epístolas tanto paulinas quanto as católicas. A única epístola que relata alguma coisa a respeito da humanidade de Jesus é a Epístola aos Hebreus, que nem ao menos sabemos o seu autor. Outra observação importante que podemos fazer é que tanto Tiago quanto Judas (irmãos de Jesus) o mencionam sempre de forma divina e distante. O lógico seria que eles, por serem próximos de Jesus, escrevessem a biografia deste.

Vamos então separar os problemas para então poder entendê-los:

1-Paulo desconhece a vida de Jesus como homem real que viveu na Palestina.
2-Os livros de Tiago e Judas, irmãos de Jesus, não apresentam nada acerca da vida de seu irmão: o que ele fez, como ele era, o que pensava, etc.
3-A epístolas aos Hebreus é aquela que demonstra um pouco mais da humanidade de Jesus.
Por que isso acontece? Qual explicação pode-se fornecer ao leitor da Bíblia que constata essa característica na primeira leitura? Daremos uma resposta evasiva? Justificaremos afirmando que a Inspiração dada pelo Espírito Santo achou melhor que assim fosse? Não seremos simplistas nesta obra, iremos buscar a verdade dos fatos, aquilo que é chamado no Processo Penal de "verdade real".

Primeira questão: Não significa que, sendo do desconhecimento de Paulo, não se possa existir em comunidades isoladas, como no caso da "crença do nascimento virginal", textos ou tradição oral acerca da vida de Jesus. Entretanto, é muito difícil crer que essa lenda não tenha sido criada pelos judeus-cristão em razão da batalha apologética contra seus compatriotas ou talvez na necessidade de conversão de judeus ao cristianismo. Mais difícil ainda é que tal tradição ou fragmentos de textos existissem antes dos martírios de Paulo e Pedro. Podemos até pensar que a tradição oral, o "Q" e qualquer outra fonte da vida terrena de Jesus tenha somente existido após o ano 70 d.C.

Segunda questão: Tiago e Judas eram totalmente envolvidos com a Igreja de Jerusalém, altamente influenciada pela "seita dos fariseus". Isso faz com que esses escritores estejam em total consonância com o pensamento judaizante, que não se interessava por uma vida terrena de Jesus. Percebemos, nos evangelhos a dura crítica lançada por Jesus aos fariseus, o relato do julgamento, entre outros fatos que constam no relato da sua vida que não interessava os judaizantes mencionar. Essas epístolas provavelmente foram escritas antes da destruição do templo. Essa é uma explicação, talvez forçada demais, seria mais facilmente explicado que essas cartas nem ao menos foram escritas pelos irmãos de Jesus e sim por alguma escola cristã da Palestina. Tiago parece mais uma adaptação da sabedoria judaica do que um texto cristão. Vejo que destoa totalmente da teologia da justificação pela fé de Paulo e indo totalmente contra os princípios de Jesus, onde o ser humano também era justificado pelas obras. Se assim fosse os judeus também estariam salvos. É nítida a influência da "seita dos fariseus". Judas e Tiago podem realmente ser textos muito tardios, contudo, é evidente a imitação que fazem do estilo literário da época.

Terceira questão: O livro de Hebreus foi escrito por volta do ano 70 d.C., logo após as cartas paulinas serem escritas. Podemos notar no texto uma transição da Teologia Paulina a Evangelística. Como assim? Podemos acreditar que esse texto é a primeira tentativa de se confeccionar um Evangelho. Por que?

A) O autor desse texto não indica a autoria, como o faz os evangelhos.

B) A data de sua escrita (por volta do ano 70 d.C.) nos mostra uma tendência à questão histórica de Jesus. Podemos perceber isso na confecção do livro de Marcos na mesma época.

C) O texto da "epístola aos Hebreus" apresenta muitas citações do Antigo Testamento, foi escrito como o próprio título do livro diz "aos Hebreus".

D) Esse livro traz as primeiras noções que podem nos levar a sentir que realmente Jesus viveu como um homem, na Palestina, sob um período de tempo, modificando os que entraram em contato com ele, nesse determinado período histórico. Não se torna um Evangelho, propriamente dito, em razão de possuir ainda como característica principal, a apresentação de Jesus como um ser divino, espiritual e distante.

Contemplemos as passagens desse livro:

"Por essa razão era necessário que ele se tornasse semelhante a seus irmãos em todos os aspectos, para se tornar sumo sacerdote misericordioso e fiel com relação a Deus, e fazer expiação pelos pecados do povo" (Hb 2.17).

"Pois não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado" (Hb 4.15).

"Durante os seus dias de vida na terra, Jesus ofereceu orações e súplicas, em alata voz e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, sendo ouvido por causa da sua reverente submissão" (Hb 5.7).

"Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso, enfrentar o juízo, assim também Cristo, foi oferecido uem sacrifício uma única vez para tirar o pecado de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer a salvação aos que o aguardam" (Hb 9.27,28).
A epístola aos Hebreus traz "pistas" acerca da humanidade de Jesus, contudo, apresenta com mais transparência que as epístolas paulinas. Seria na verdade, um texto de transição entre o modo literário epistolar para o modo evangelístico.

Historiadores estão cada vez mais próximos de compreender como e quando os evangelhos foram escritos. Os nomes, Mateus e João são aceitos como descrições posteriores; os autores reais são desconhecidos (exceto Lucas e talvez Marcos). O que "Marcos" escreveu primeiro foi seguido de "Mateus" e "Lucas", com mais material adicionado (abordaremos cada evangelho separadamente nos itens a seguir).

A precoce escrita de Marcos traz alguns problemas. Esses problemas são mais enfatizados pelo fato de existir concordância em palavras entre Lucas e Mateus, mas diferenças nas passagens similares contidas em Marcos. Esses problemas foram solucionados por outra descoberta: cada um dos evangelhos canônicos é o resultado de uma história inicial de escrita e re-escrita, incluindo adições e exclusões. Na verdade, Mateus e Lucas, eram escritores independentes e provavelmente desconheciam um ao outro, e usaram uma edição (ou mesmo edições) primitiva de Marcos.

Há muito se foi à visão antiga e piedosa de que os quatro evangelhos eram relatos independentes e corroborativos. Em seu lugar, suas fortes similaridades são o resultado de cópia. Isso significa que para a base da história da vida de Jesus e sua morte são dependentes de uma única fonte: quem quer que tenha produzido a primeira versão de Marcos. Naturalmente, essas fontes podem ser inúmeras: missionários cristãos, supostamente guiados pelos doze apóstolos, disseminados pelo Império; transmissões orais que mantiveram viva e constantemente revitalizadas as histórias das palavras de Jesus e seus feitos e versões escritas dessa história devem ter surgido em vários centros, verdadeiramente independente e notavelmente divergentes.

1.2. QUANDO FORAM ESCRITOS OS EVANGELHOS?
1.2.1. AS CONSIDERAÇÕES A SEREM FEITAS PARA UMA DATAÇÃO APROXIMADA DOS EVANGELHOS.

O renomado arqueólogo Willian F. Albright observou o seguinte:

"Em minha opinião, cada livro do Novo Testamento foi escrito por um judeu batizado entre os anos quarenta e oitenta do primeiro século A D.".

Quando os evangelhos, ou suas primeiras versões foram escritos?

As datas atribuídas a Mateus e Lucas (e mesmo João), são influenciadas pela figura que eles apresentam da "divisão de caminhos" entre o cristianismo e a cultura judaica estabelecida (estudaremos o distanciamento dos escritos da influência judaica, posteriormente) ou a melhor datação se dá em vosta da necessidade apologética de cada época do cristianismo. Analisaremos no momento, a segunda por se tratar de teoria mais fundamentada nos textos bíblicos. O meu leitor deve estar querendo saber afinal quando os três evangelhos foram confeccionados. Partirei primeiro da questão do silêncio dos pais apostólicos quanto a estes evangelhos. Segundo; iremos analisar a datação correta de cada evangelho de acordo com a necessidade apologética. Terceiro, iremos analisar a partir do texto bíblico o porquê da omissão dos apóstolos em escrever uma biografia do seu mestre.

1.2.2. A QUESTÃO DO SILÊNCIO DOS PAIS APOSTÓLICOS.

Quando os evangelhos começaram a surgir nos escritos cristãos, grandemente documentados? Se Marcos foi escrito por volta de 70, e todos os quatros estavam escritos por volta de 100, porque nenhum dos primeiros padres - Clemente de Roma, Inácio, Policarpo, o autor da Epístola de Barnabás - que escreveram entre 90 e 130, citaram ou se referiram a qualquer um dos evangelhos? Como pode Inácio (por volta de 107), que se esforçou tanto para convencer seus leitores de que Jesus realmente nasceu de Maria e morreu sob Pilatos, de que ele havia sido um verdadeiro homem que sofreu, como ele não pode apelar a algumas passagens dos evangelhos como verificações de tudo isso, se ele realmente conhecesse algum evangelho?

Como vimos acima, somente o evangelho de Marcos e os textos Q poderiam existir por volta do ano 70 d.C., entretanto, estes não eram centralizados, os pensamentos eram diversos e principalmente; eles não circulavam dentre os cristãos. Eles estavam limitados ao uso nas comunidades de origem. Podemos notar isso analisando o objetivo pelo qual foram escritos esses evangelhos. Contemplemos a concisa explicação do reconhecido do Dr, Charles C. Ryrie:

"A rápida expansão do cristianismo acelerou a necessidade de registros escritos da vida de Cristo. Além disso, à medida que as principais testemunhas e personagens da história de Cristo começaram a morrer, aumentou a necessidade de registros do que eles haviam visto, ouvido e experimentado. Estes evangelhos escritos eram para evangelizar, catequizar novos convertidos e, provavelmente, faziam parte do culto cristão primitivo".

À época da pregação de Paulo, absolutamente, seria um erro afirmar em uma escrita dos Evangelhos. Portanto, nos resta verificar após o martírio de Paulo e Pedro, quando se iniciou a elaboração destes textos. A ordem cronológica dos livros do Novo Testamento, na Bíblia a qual utilizamos no dia-a-dia é quase que inversa a disposição real delas no tempo. As epístolas de Paulo foram as primeiras a serem escritas. Logo depois se tem a elaboração da Primeira Carta de Pedro, em seguida Tiago. No final dessa fase encontram-se as epístolas joaninas, de Judas e o apocalipse. Essa fase eu denomino fase inicial do cristianismo (do pentecostes até a destruição do templo).

Percebemos, nessa fase, facilmente o desinteresse da comunidade primitiva na escrita de uma biografia de Jesus. A preocupação era a evangelização e expansão do nascituro cristianismo. Assim como Paulo, a maioria dos pais apostólicos também tratou Jesus como ser unicamente divino, sendo então colocado em segundo plano o Jesus da História, o Jesus humano, não interessando, portanto, os escritos dos evangelísticos. A estrutura literária era a epistolar e sua autoria era especificada pelo próprio documento.

Portanto tem razão Bultmann em desconsiderar o estudo acerca do Jesus histórico em uma Teologia do Novo Testamento, esse assunto não era o escopo do Cristianismo, e sim, é agora dos historiadores. Após a fase inicial, com a perda sofrida pelos cristãos, devido à morte de Paulo e Pedro, logo verificou-se a importância de se fazer um relato apologético do cristianismo - tem-se também a influência negativa dos docetistas. A primeira tentativa de se estabelecer um texto que destacasse a humanidade de Jesus, sem contanto desprezar sua divindade foi verificado na Epístola aos Hebreus. Por que posso afirmar isso?

1) Essa epístola é diferente das demais: não possui o nome do autor destacado no texto (pode ter sido por uma escola);

2) Destaca-se muito pouco a humanidade, entretanto o faz mais do que as demais epístolas;

3) Utiliza-se da estrutura literária até então predominante na época (epistolar);

4) Não faz comentário a destruição do templo (o que nos faz afirmar ter sido escrita antes dos evangelhos).

Somente após a escrita de Hebreus e posterior vista de necessidade de um trabalho mais abrangente e que se deu a escrita de Marcos.

1.2.3. A ESCRITA DO EVANGELHO DE MARCOS, MATEUS, LUCAS E ATOS DOS APÓSTOLOS.

Há fortes argumentos para a hipótese de uma prioridade cronológica de Marcos. Contemplemos as justificativas para tal pensamento:

1-Todo o material de Marcos se acha nos outros dois sinóticos, ou em pelo menos um deles;

2-A ordem dos acontecimentos relatados por Marcos normalmente é seguida pelos outros;

3-O estilo rude e desajeitado de Marcos em relação aos demais evangelhos;

4-Em Marcos encontramos uma teologia mais primitiva do que as dos demais.

Marcos é usualmente datado pelo seu "pequeno apocalipse" no capítulo 13, que nos fala de grandes revoltas e da destruição do Templo, dito como uma profecia por Jesus. Isto tem de ser uma referência, segundo é clamado, a Primeira Guerra Judaica (66-70); assim, Marcos teria escrito nessa época, ou pouco mais tarde. Mas mesmo Marcos, presumivelmente, teve de procurar por fontes de informações, e alguns pensam que seu Pequeno Apocalipse pode ser originalmente uma composição judaica (sem referências a Jesus), que Marcos posteriormente se apossou e adaptou. Ou, se o capítulo 13 é de autoria de Marcos, pode muito bem ter sido desenvolvido em um período posterior, já que outros documentos mostram que essa vívida expectativa apocalíptica persistiu até o fim do século.

Portanto, este evangelho já possui a data aproximada de sua confecção: que foi por volta do ano 70 d C. Em vista deste "evolução" textual dos evangelhos: Hebreus; Marcos e Mateus que constatamos que o volume de informações, os dados e a própria teologia justificam as características de cada Evangelho. Mas, voltando a questão do silêncio dos pais apostólicos quanto aos Evangelhos, já verificamos que Marcos deve ter sido escrito em meados da década de 70 d.C., enquanto Mateus deve ter sido escrito somente na década de 80 d.C. Mesmo assim ainda continuamos com o problema do silêncio dos pais da Igreja. Partiremos para a análise de outra questão fundamental para explicar tudo isso.

Outra questão é o fato do isolamento doutrinal que algumas comunidades se fechavam. Até as cartas paulinas apenas foram divulgadas e se tornado acessíveis algumas décadas depois. Em vista disso, deve ter acontecido o mesmo com os Evangelhos. Alguns pais não devem ter entrado em contato com esses textos que não estavam em circulação no mundo gentio até aquele momento. Como nos mostra Paulo, em sua Carta aos Coríntios, cada comunidade queria possuir sua própria doutrina, todos se achavam por demais sábios e ultra-espirituais.

E por isso demoravam a aceitar um a doutrina estranha e também a ceder uma nova doutrina as demais comunidades. Bornkamm afirma que cada evangelho mostra claramente que foram influenciados por cada comunidade e tradição que vieram, isto é, do seu Sitz im Leben (ambiente criativo). Pode-se acreditar também que estes permaneceram em suas comunidades um bom tempo até começarem a circular no mundo cristão. Isso deve ter apenas acontecido após o ano 100 d.C.

Em vista do que foi exposto acima, possuímos agora uma explicação plausível quanto a não citação por parte dos pais apostólicos dos evangelhos, exceto o de Marcos (como já sabemos foi escrito por volta do ano 70 d C.) Eles não citaram pela razão de não terem ainda entrado em contato com estes escritos que como apoiamos nesse estudo foram confeccionados por volta do ano 90 d C. e, portanto entrado em circulação somente nas décadas seguintes. Como veremos agora alguns entraram em contato com os evangelhos, mostrando que a aquisição desses textos diferia de lugar para lugar.

Eusébio reporta que em sua agora perdida obra escrita por volta de 130, o bispo Papias mencionava duas peças escritas por "Mateus" e "Marcos". Mas mesmo esses não podem ser atribuídos aos evangelistas canônicos, já que Papias os denominou de "divulgadores do Senhor em hebraico", e a carta também soa como se não fossem trabalhos narrativos. Mais do que isso parece que Papias jamais havia visto por si mesmo tais documentos.

Apenas em o Martírio de Justo, escrito por volta de 150, encontramos as primeiras citações identificáveis de alguns dos evangelhos, embora o autor do Martírio, os chame simplesmente de "memórias dos apóstolos", sem qualquer "alusão" primitiva a materiais como os evangelhos. É concebível que os primeiros registros da vida e morte de Jesus poderiam ter sido escritos tão cedo como por volta de 70 (ou mesmo alguma data mais antiga), e mesmo assim o mundo cristão tomou quase um século para receber suas cópias?

Se, por outro lado, a "biografia" de Jesus de Nazaré foi algo incomum, que foi contra grande parte do conhecimento e da fé da época, podemos entender como nas versões mais antigas dos evangelhos, escritas por volta da virada do século, teriam tido apenas um uso limitado e isolado em recriações por ao menos uma geração. Também começa a parecer que Marcos, Lucas e Mateus vieram originalmente de um grupo dessas comunidades interligadas.

Como para os Atos, escritos pelo mesmo autor que escreveu a versão final de Lucas, não há referências a isso antes do ano 170 - mais de um século após a data que era atribuída aos evangelhos! Eles são claramente desconhecidos mesmo para Justo. Alguns, como John Knox, vêem os Atos como uma resposta da igreja de Roma aos gnósticos da metade do segundo século, como Marcion e sua visão das coisas. O autor dos Atos compilou peças-chaves da tradição sobre a primitiva igreja palestina, mas esses fatos tiveram de ser alterados para encaixarem em uma nova linha de acontecimentos. Existem grandes discrepâncias entre Atos e o que Paulo diz em suas cartas. Historiadores foram forçados a admitir que muito dos Atos foram apenas fabricações imaginosas. Com esses descréditos, a verdadeira origem do cristianismo cai em uma penetrante sombra.

Por que apenas um escritor, e ainda no segundo século apenas, decidiu compor a história da origem e desenvolvimento da igreja primitiva? Nenhum outro escritor menciona Pentecostes, a visitação coletiva de Espírito aos apóstolos que, de acordo com os Atos, iniciou todo o movimento missionário. Mas, se ao invés, esse movimento foi dividido e dispersado em diferentes tipos, pouco coordenados e competitivos (como as cartas de Paulo sugerem), expressando uma grande variedade de doutrinas de acordo com o tipo de revelação religiosa de seu tempo, é fácil compreender como um grupo, procurando impor a unidade perdida e dando a si mesmo autoridade, poderia criar seu próprio e único retrato do início do cristianismo.

Essa é uma questão que merece um estudo amplamente detalhado que não pode por mim ser feito agora, entretanto, ficamos com uma resposta pragmática: Lucas escreveu o evangelho por volta do ano 100, mas não escreveu juntamente com Atos (pode também não ter terminado de escrever Atos e outro escritor ter dado término ao seu livro) e sim o enviou a Teófilo separadamente muitos anos após. Teófilo poderia ter juntado essas dois relatos posteriormente.
Concluindo ficamos com as datas da confecção dos evangelhos por volta do ano 90 e não antes como estudiosos conservadores afirmam e querem acreditar.

1.2.4. POR QUE OS APÓSTOLOS NÃO ESCREVERAM SOBRE A VIDA DE JESUS?

Os Evangelhos podem ter sido escritos tardiamente (por volta do ano 100 d.C.), entretanto, os escritos que serviram como base para a confecção dos Evangelhos foram confeccionados logo após a ressurreição de Jesus (a partir do ano 30 d C.).

Apenas após o Jesus lhes "abrir o entendimento" é que se pode dizer de consciência comum no nascente cristianismo. Como assim? Contemplemos o texto bíblico:

"A seguir Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco, que importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as escrituras (Lc 24.44,45)"

Percebemos que só a partir desse momento que os seguidores de Jesus teriam condições intelectuais de confeccionarem os Evangelhos. Isso não quer dizer que logo que Jesus lhes "abriu o entendimento", eles já começaram a escrever os Evangelhos! Não pode não ter sido assim. Os apóstolos estavam preocupados principalmente com a difusão do evangelho e só depois, vista a necessidade, é que se pensou no registro dos atos e pensamentos de Cristo (esses pensamentos, falas e atos de Jesus estavam sendo transmitidos oralmente, de uma forma bem primária). E quando foram escritos relataram tudo que Jesus viveu? Não. Novamente retornamos ao texto bíblico:

"Na verdade fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creias que Jesus é o Cristo, O filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em meu nome (Jo 20.30,31)".

A Bíblia responde a todas as perguntas que os céticos fazem, retira todas as dúvidas que pairam na mente dos cristãos! É realmente um livro escrito com a supervisão de Deus, vocês não acham? Atentem para o texto bíblico. Não foram registrados todos os atos de Jesus no livro de João. Que isso quer dizer? Existiam mais informações, dados, e atos que Jesus realizara. Havia certamente várias abordagens de diversos ângulos das mais diferentes comunidades cristãs existem à época (como podemos ver no pentecostes). Cada uma enfatizou de uma forma diferente aquilo que cria ser importante na vida e obra de Cristo. Assim que surgiram todos os textos primitivos (ex: o "Q").

No processo de elaboração dos evangelhos cada qual consultou os escritos conforme suas convicções e o fizeram com o fim de padronizar todos os pensamentos em circulação na época, para deste modo protegerem a sã doutrina (aspecto preocupante no início do cristianismo). Será por isso que os quatro Evangelhos são tão diferentes? Absolutamente, os Evangelhos tratam de assuntos diferentes, de forma diferente, e discordam em alguns pontos, pois, são fruto de um trabalho de indivíduos, os quais eram separados "doutrinariamente", pertenciam a comunidades cristãs diferentes, em vista disso, eles não conseguiram conciliar todas as informações (que por sinal eram muitas), vejam novamente o texto bíblico:

"Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos (Jo 21.25)"

1.2.5. A FALTA DE IMPORTÂNCIA DE UMA DATAÇÃO EXATA DOS EVANGELHOS.

Após toda explanação acima surgi uma pergunta: Se não temos certeza da data da escrita dos evangelhos, então não podemos apoiar neles o estudo histórico de Jesus? A fé cristã, definitivamente, não necessita da historicidade dos evangelhos. Quanto à busca do "Jesus Histórico" podemos utilizar os evangelhos pelo fato de serem baseados nas fontes primárias e na transmissão oral, que mesmo com algumas deturpações e exageros, apresentam um bom grau de credibilidade. Como temos uma data aproximada (por volta do ano 100 d C.) já possuímos condições de determinar o contexto no qual está inserido cada evangelho.
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1- O fragmento de Muratori foi o marco inicial da busca da Igreja em distinguir quais livros seriam utilizados pela Igreja. Contudo, Marcião, conhecido pelo seu radicalismo separatista, foi o primeiro a distinguir livros que até então circulavam, acerca do cristianismo. Ele reconheceu apenas as obras gentílicas: o corpus Paulino e o evangelho de Lucas como àqueles livres de adulterações e influências judaicas.

2-Trata-se de um texto latino, extremamente incorreto e muitas vezes de interpretação difícil, descoberto na Biblioteca Ambrosiana por Ludovico Antônio Muratori em 1740.

3-Formação do Novo Testamento, Oscar Cullmann, Editora Sinodal, 8ª edição, 2003. Leitura recomendada para aqueles que almejam ter uma primeira visão da problemática do Novo Testamento.
4- Bornkamm nos esclarece quanto essa acentuada diferença: É verdade que a mensagem fala de uma história particular e não de um evento intemporal e mítico. Paulo pode resumir o evangelho todo em sua frase lapidar: "a palavra cruz" (1 Co 1.18ss). Mas não há nenhum índice de que Paulo tivesse algum lugar especial no seu evangelho para a vida terrena de Jesus antes de sua morte e ressurreição. Não existe nenhuma menção do que contam os Evangelhos, nenhuma palavra sobre a pregação de Jesus ou a aproximação do reino de Deus, nada sobre Jesus expulsando demônios, curando doentes, debatendo com escribas e fariseus ou fazendo comunhão de vida com cobradores de impostos, pecadores e marginalizados. Paulo também nunca menciona as palavras de Jesus ou a oração do Senhor (Bíblia Novo Testamento, Editora Teológica, 3ª edição, 2003, 29,30pp.).

5- Goppelt afirma que para Paulo a ação terrena de Jesus não teria tido a mínima importância.

6- "Os autores dos outros escritos do Novo Testamento podiam ter como óbvio que os seus ouvintes e leitores estava familiarizado com a história de Jesus terreno, de tal modo que não havia necessidade que a ele se referissem com muitas palavras (Bíblia do Novo Testamento, Günther Bornkamm, Editora Teológica, 3ª edição, 2003, 32pp.)". Bornkamm não é adepto deste pensamento, somente o cita em sua obra.

7- Bultmann afirma que o fato de Paulo não conhecer a "lenda do Nascimento Virginal" de Jesus, não prova que ela não estivesse difundida já antes dele em outros círculos (Teologia do Novo Testamento, Rudolf Bultmann, Editora Teológica, 2004, p.181).

8- A dificuldade em se apresentar um relato detalhado sobre a vida de Jesus, como nos informa Bornkamm, sucumbe pelo fato dos cristãos das origens não demonstrarem interesse pela "mera seqüência de fatos históricos nem por descrições dos fatos do próprio Jesus". O interesse deles quando relacionado a Jesus e sua história era somente no caráter salvífico (relato da paixão).

9- A explicação mais plausível para uma não citação de Paulo em suas epístolas da vida terrena de Jesus se concretiza no fato de que o objetivo dos escritos paulinos era catequizar (doutrinar) os cristãos, enquanto os evangelhos procuravam evangelizar (fazer cristãos). Diante disso, nota-se a diferença entre ambos estilos literários e a desconsideração de Paulo da questão histórica de Jesus.

10 - A questão da epístola de Tiago e Judas nos mostra que ambos podem até possuir conhecimento da vida terrena de Jesus, contudo, não expressam em seus escritos. Talvez omitiram esse aspecto da vida do irmão em razão de, na época, não encontrarem muitos olhos atentos a esse tipo de texto.

11 - Como podemos perceber na Introdução a Epístola aos Hebreus da Bíblia de Estudo NVI (São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 2091).

12 - Bornkamm afirma que a epístola aos Hebreus não é uma carta. Corrobora nossa opinião que a "Epístola aos Hebreus" não era carta e nem Evangelho. O que era então? Bornkamm diz que ela mais se parece com um tratado doutrinal na forma de sermão. Eu chamo isso de literatura de transição.

13 - Esse texto foi escrito antes da destruição do templo, enquanto Marcos foi escrito após. Hebreus nada afirma sobre esse acontecimento histórico, enquanto Marcos o retrata, no capítulo 13.

14 - O termo grego euaggélion, que se traduz por "evangelho", provém do grego profano. Significava, por exemplo, em Homero e Plutarco, a recompensa dada ao mensageiro por sua mensagem; ou, no plural, as ofertas de ações de graça aos deuses por uma boa nova. Por extensão, veio a designar, em Aristófano, por exemplo, a mensagem propriamente dita e, depois, o conteúdo da mensagem, a boa nova anunciada. Entre os cristãos primitivos, o euaggélion é primeiramente a boa nova da salvação realizada em Jesus Cristo, tal qual é anunciada oralmente pelos apóstolos. Somente mais tarde, o termo se aplica à forma escrita dessa boa nova apostólica. Enfim, chega a designar (por volta de 150 a C.) aqueles escritos do Novo testamento que contam mais precisamente a vida terrena de Jesus Cristo (A Formação do Novo Testamento, Oscar Cullmann, Editora Sinodal, 8ª edição, 2003, p. 15,16).

15 - Cullmann crê que o evangelho de João tenha sido escrito por Lázaro. No item 1.6 iremos abordar o assunto. Já antecipo que a teoria é fantasiosa demais e que defendemos uma data tardia para a escrita desse Evangelho.

[16] Goppelt sabe que nem todos os escritos do Novo Testamento foram formulados por apóstolos (Martin Dreher).

[17] Inácio também não citou Flávio Josefo o que nos leva a concordar em uma posterior adulteração do texto original da obra de Josefo.

[18] Bíblia Anotada, Charles C. Ryrie, Editora Mundo Cristão, 1994, p. 1179.

[19] As que são realmente de Paulo.

[20] Que foi realmente escrito pelo apóstolo João. As epístolas joaninas foram elaboradas pela mesma escola que confeccionou o Evangelho segundo João.

[21] Parece que os Evangelhos foram escritos todos a partir da destruição do templo e que a primeira tentativa de escrever uma obra com o objetivo de firmar a real existência de Jesus (contra a heresia docetista) foi a Epístola aos Hebreus. Esta epístola pode ser uma espécie de transição do Cristo Divino para o Jesus de "carne e osso".

[22] Os docetas foram os maiores responsáveis pela pressão imposta aos cristãos de uma comprovação da real existência de Jesus como homem natural, que nasceu, viveu e morreu como ser humano à época de Pôncio Pilatos. Outras heresias também influenciaram nos Evangelhos.
[23] Günther Bornkamm concorda com a opinião de que cada comunidade tenha incorporado suas próprias experiências, questões e visões na tradição (Bíblia Novo Testamento, Editora Teológica, 2003, p. 51).

[24] A não citação do evangelho de Marcos pelos pais apostólicos é de difícil solução, pode, absolutamente, nos mostrar que esse texto também fora escrito tardiamente, após o ano 100 d. C. Essa NÃO é a minha opinião que como já mostrei creio na data aproximada ao ano 70 d. C. Quanto à datação mais precisa dos Evangelhos, será minuciosamente estudada a seguir, no item relativo ao estudo de cada Evangelho de per si.

[25] A única certeza que possuímos é que os textos já eram correntes antes do ano 150 d C. Pois, há no FRAGMENTO DE MURATORI (já visto anteriormente) citação dos evangelhos de Lucas e João. Sendo Marcos reconhecidamente escrito antes do ano 70, constatamos agora que, os evangelhos tanto pelo relato desse Fragmento (Muratori) como o relado de Justino, eles já estavam em circulação antes do ano 150 d C. Existe outra evidência forte da data de confecção destes evangelhos (Lucas e João). É o fato de ter sido descoberto o PAPIRO DE RYLANDS (no Egito), contendo alguns versículos de João 18. Este Papiro é datado por volta de 135 d C. Sendo assim, este evangelho estava em circulação já na data deste Papiro.

[26] Solucionamos também o problema de Atos datando Lucas após o ano 100 d.C. e também por admitirmos que existiu um intervalo de tempo na confecção dos dois livros. Atos pode ter sido escrito por volta do ano 150 d.C. Contudo, para isso teríamos que admitir uma segunda autoria, ou seja, uma continuação pos mortum.

[27] Lucas na minha opinião foi o último evangelho a ser escrito, absolutamente, após o ano 100 d C.

[28] Notamos esse fato no prefácio do Evangelho de Lucas: "Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram (Lc 1.1)".


sexta-feira, 11 de junho de 2010

A Terrível "Pulsa Dinura" ou "Chicote de Fogo" em aramaico: O Satanismo dos Judeus

Quem tem medo da “Pulsa Dinura”?

Este artigo fala sobre a maldição cabalista que os satanistas judeus andam lançando contra o Premier de Israel.

O título do artigo é “Kabbalist Curse”, dizendo o seguinte:
"Sharon foi atingido com “maldição mortal”: Extremistas usaram ritual contra Rabin, um mês antes dele ser assassinado” (World NetDaily, 26/07/06).

Ativistas extremistas realizaram um ritual cabalista à meia noite, num antigo cemitério, convocando anjos da morte para matar o primeiro Ministro de Israel - Ariel Sharon e frustrar o seu plano da retirada de Gaza... Os ativistas disseram que haviam executado uma cerimônia cabalista - a “Pulsa Dinura”, na qual Deus é solicitado a amaldiçoar o pecador, geralmente um inimigo do povo judeu - e rezaram para que uma maldição mortal fosse colocada sobre Sharon. Eles argumentaram que a evacuação de Gaza por ordem de Sharon “destruirá Israel e o povo judeu” e ocasionará a morte de muitos judeus.

A “Pulsa Dinura” foi efetuada na noite de quinta feira, num antigo cemitério, na cidade de Rosh Pina. Ela foi executada por um cabalista, o qual recitou orações repetidas por 20 homens, os quais, de acordo com a tradição cabalista, tinham mais de 40 anos de idade, tendo antes se barbeado e purificado num banho ritual.

Descrevendo a cerimônia, o participante Baruch Ben Yosef, um advogado ativista, disse à WND: ‘Ela foi feita num belo cemitério, com uma espessa floresta ao redor, sob a lua cheia. Nós a executamos perto do túmulo de Shlomo Ben Yosef [o primeiro judeu enforcado na Palestina Britânica, após ter levado a efeito um ataque de vingança contra um ônibus árabe]. Houve um verdadeiro quorum das pessoas que repetiam a oração, à medida em que ia sendo lida. E foi expressa a esperança de que os anjos da Cabala irão evitar que Sharon continue destruindo o povo judeu e a terra de Israel... Dayan afirma ter arriscado sua vida, quando participava” :

"Se você amaldiçoa alguém que não o merece, essa maldição se transformará em bumerangue contra você’, disse ele; "Então, obviamente, temos certeza de que Sharon merece morrer".

Esta descrição do “Pulsa Dinura” descreve detalhadamente uma cerimônia comum chamada “Killing Ceremony”, muito típica da bruxaria da Magia Negra. Por favor, permitam-me relatar uma experiência narrada pelo ex-mago da Magia Negra, Doc Marquis:
“Logo após ter assumido a liderança de uma confraria na área de Nashua, New Hamphsire, Doc foi procurado por um dos seus vigorosos membros, o qual tinha um pedido: ele possuía um inimigo, o qual ele, ardorosamente, desejava matar, um homem que morava na vizinhança próxima. Este membro da confraria pediu que Doc executasse o ‘Ritual de Morte’, o que significava que um demônio é quem iria executar a morte; os departamentos policiais chegariam à conclusão de que esse tipo de assassinato é reconhecido como ‘assassinatos psíquicos”.

Doc resolveu executar o desejo do seu confrade, tendo convocado uma reunião especial a ser realizada na próxima lua nova, não numa clara noite de lua cheia, mas numa escura noite de lua nova.

À medida em que os membros da confraria iam chegando à cena, descobriram que Doc havia feito alguns arranjos. Ele havia desenhado um hexágono de seis pés no chão, com velas acesas em cada ponta. Um círculo do lado de fora, longe do hexágono, também foi desenhado no chão. Após cada membro ter pisado no meio do hexágono, Doc recitou fielmente o ‘Ritual de Morte’. Quando ele terminou o recitativo, apareceu um demônio dentro do círculo. Ele estava enfurecido, por ter sido convocado a esta dimensão terrena, por ordem de um mago humano e gritou: “Por que me chamaste aqui?”

Doc lhe disse que eles queriam que o demônio matasse um inimigo. Depois que o demônio indagou o nome e endereço da vítima, Doc atendeu. Repentinamente, o demônio irrompeu numa fúria que amedrontou terrivelmente os satanistas praticantes, que estavam agrupados dentro do hexágono. Após ter-se aquietado, o demônio pareceu confuso e falou: “Como vocês se atrevem a me pedir que mate esse homem? Ele é um cristão nascido de novo e não pode ser tocado” [1 João 5:18-b].

Dois terços dos membros da confraria abandonaram-na, naquela mesma noite, e nunca mais voltaram ali. A confiança de Doc foi de tal modo abalada que, três semanas mais tarde, ele se ajoelhou, para pedir perdão dos seus pecados em o Nome de Jesus. Naquele momento ele nasceu de novo.

Como vimos o tal “Ritual de Morte” é amplamente praticado dentro da Magia Negra e do Satanismo. E a notícia acima está correta noutro ponto. Se o demônio tenta executar a maldição e a vítima está poderosamente protegida, de modo que a tentativa fracasse, a pessoa que excuta o ritual é quem morre. A maldição se transforma em bumerangue.

Agora voltemos ao específico ritual de morte judaico, conhecido como “Pulsa Dinura”. Vamos à Enciclopédia Wikipedia. À medida em que forem lendo esta explanação, lembrem-se que os valores se voltam totalmente sobre as cabeças deles. Os cabalistas se consideram “santos” e consideram suas vítimas como “pecadores”.

“A origem dessa frase parece ter vindo do Talmude Babilônico...”
A Enciclopédia Wikipedia está totalmente correta. Este ritual ... e todo o sistema cabalista - foi criado pelos sacerdotes judeus apóstatas, durante os 70 anos de cativeiro na Babilônia, à qual Deus os levou cativos como castigo pelos seus muitos pecados, entre os quais o mais grave era a idolatria pagã.

Esses sacerdotes marginais aprenderam a tradicional bruxaria babilônica e em seguida “judaizaram-na”, isto é, mudaram a linguagem, as explicações e as ilustrações para as do Judaísmo dos tempos antigos. Modernamente, esse novo sistema judaico de Satanismo foi escrito, pois antes era totalmente uma tradição oral.

Quando terminou o cativeiro e os judeus tiveram permissão de regressar a Israel, alguns desses sacerdotes apóstatas voltaram para Jerusalém, levando com eles a sua tradição oral. Os fariseus e saduceus abraçaram entusiasticamente o misticismo judaico (bruxaria) e praticavam esse tipo de Satanismo durante o tempo do ministério de Jesus. Controlados por Satanás, os fariseus e saduceus confrontaram seriamente o Senhor Jesus, durante o Seu ministério três anos e meio, tendo conspirado para entregá-Lo à morte na cruz do Calvário.

A fim de se protegerem da acusação de praticar bruxaria, eles formaram um tipo de seita secreta, nos moldes da Babilônia, Jesus conhecia a verdadeira natureza dos fariseus e saduceus, é claro, e continuamente os vergastava, tendo-os chamado de vários nomes pejorativos:

João 8:44 - “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira”.

Mateus 23:13-15, 19, 23-24, 27, 29 - “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando. [v. 13] Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso juízo [v. 14]. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós [v. 15]. Insensatos e cegos! [v. 19]. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas [v. 23]. Condutores, que coais um mosquito e engolis um camelo [v. 24] Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia [v. 27] Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens, mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade. [28] Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos [v. 29]. Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno? [v. 33].

Nem uma única vez o Senhor Jesus demonstrou compaixão alguma por eles, mesmo que o tenha feito com todos os demais pecadores. Por que Jesus se postou tão claramente contra esses homens? Porque Ele sabia que eles estavam praticando secretamente o Satanismo na tradição oral, o qual foi mais tarde codificado (em cerca de 1100 d.C.) por escrito sob o nome de Cabala.
(Nota - Explicamos tudo isso detalhadamente em nossa série de fitas de áudio: “Secret Societies Killed Jesus Christ”.)

Uma vez que vocês entenderam esse conceito, algumas porções do Evangelho vão se tornar mais compreensíveis para vocês.

Voltemos agora à Wikipedia para um detalhe relevante. Vocês vão descobrir que as pessoas que praticam esse tipo de “Ritual de Morte” são pessoas repulsivas, quer sejam gentios ou judeus. Está claro que “Pulsa Dinura” é o nome da versão judaica:

Esta seção menciona 60 “Pulsas Dinura” a fim de disciplinar o Anjo Metraton. Uma “Pulsa Dinura” também é mencionada uma vez na seção 3:263c da Zohar Raya Mehemna, uma das obras clássicas da Cabala (misticismo judaico). Ali ela é descrita como um pesado castigo contra uma pessoa que não cumpre suas obrigações religiosas [Um exemplo moderno disso nas igrejas malaquianas e “com propósito” é disciplinar os membros que não dizimam - MS]

A frase aparece num pequeno número de outras passagens, no Talmude e no Zohar, mas não no contexto de “maldição mística”. Alguns adeptos da Cabala desenvolveram a idéia de invocar maldição contra um pecador, a qual foi chamada “Pulsa Dinura”. Esta é usada algumas vezes pelos judeus religiosos contra figuras por eles objetivadas. No início do século 20, agitados judeus Haredi recitaram essa maldição contra Eliezer Ben Yehuda. Tem havido exemplos desta maldição recitada contra arqueólogos e autores de livros. Tem havido rumores de que antes do assassinato do Primeiro Ministro israelita, Itzhak Rabin, essa maldição lhe foi dirigida pela ala de extrema direita.

Na noite de 06/10/1995, Avigdor Eskin, membro do Gush Emunin (bloco dos fiéis) recitou as seguintes maldições do “Pulsa Dinura”:

“Anjos da destruirão o matarão. Ele é amaldiçoado aonde quer que vá. Sua alma vai deixar imediatamente o corpo... e não sobreviverá um mês. Tenebroso será o seu caminho e o anjo de Deus irá caçá-lo. Um desastre que ele nunca experimentou vai alcançá-lo e todas as maldições conhecidas na Torah serão a ele aplicadas. A vós, anjos da ira, entrego Itzhak, filho de Rosa Rabin, para que vós o reduzais a um espectro, lançando-o no inferno, tirando a sua riqueza e amaldiçoando os seus pensamentos; e espalhando a sua mente, a fim de que ele seja firmemente enfraquecido, até chegar à morte. Que morra o amaldiçoado Itzhak. Que seja amaldiçoado, amaldiçoado, amaldiçoado!”

“Um mês depois, Rabin foi assassinado.”

Esses são homens detestáveis que se autodenominam judeus e que o mundo aceita como judeus. Porém não são judeus; eles são o tipo que Jesus predisse que iria existir no final dos tempos, conforme Apocalipse 3:9: “Eis que eu farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não são, mas mentem...”

Esses detestáveis judeus pretensos são mascarados de judeus verdadeiros e o mundo os aceita como tais. Eles são cheios de ódio e os seus escritos talmúdicos têm sido usados pelos anti-semitas através da história para incitar os gentios a cometer genocídio contra todos os judeus. Esses homens são inescusáveis e o seu tipo de bruxaria não somente é poderosa como também indefensável.

Esses detestáveis judeus cabalistas são os Illuminati da alta estirpe. O Cabalismo é a pedra angular de todo o sistema ocultista na era moderna (1100 a 2006 d.C.), dos sistemas de magia negra, tanto dos judeus como dos gentios. Adolfo Hitler reverenciava a Cabala. É por demais irônico que o Holocausto Nazista, o qual assassinou 66% dos judeus que havia no mundo, tenha sido executado sobre a base da Cabala judaica.

Esses iluministas mundiais, que estão executando o Plano Global para eleger o seu cristo maçônico e programar o seu reinado de 1.000 anos, têm também como pedra angular a Cabala. Essa liderança global dos Illuminati é tanto gentílica como judaica. Esses pretensos judeus parecem ser judeus, mas são a “sinagoga de satanás” descrita por Jesus na passagem supra citada. (Apocalipse 3:9).

É contra esses iluministas pretendendo ser judeus que o “Cutting Edge” luta em árdua oposição. Atentem para o excerto do livro “Codex Mágica”, o qual faz uma distinção entre a Fé do Velho Testamento e a moderna “religião judaica”, a qual se baseia amplamente na Cabala. Desejo apenas que o leitor tenha feito essa distinção na primeira página:

“É inegável que o próprio Deus, em Apocalipse 11:8 declara que nos últimos dias, antes do retorno de Cristo, os lugares mais malignos da terra serão Jerusalém e Israel. Ele os chama de ‘Sodoma e Egito’. Por que Jerusalém e a nação de Israel são chamados ‘Sodoma e Egito?’ Creio que é porque a religião judaica será uma religião diametralmente oposta à fé do Velho Testamento, de Moisés, de Isaque, de Jacó e dos profetas” (p. 421) [Ver também Ezequiel 8].

Essa compreensão está absolutamente correta. Jesus procede da geração dos legítimos judeus do Velho Testamento “de Moisés, Isaque e Jacó e dos profetas”. Esses iluministas cabalistas formam a “sinagoga de satanás” e mentem, quando afirmam ser judeus.

“Cutting Edge” ama os judeus e ama Israel, mas não tolera a moderna liderança iluminista, em que os judeus místicos praticam a moderna religião judaica. Reconhecemos as verdades proféticas de que Deus vai julgar Israel durante o período da Tribulação de sete anos, refinando-o e separando-o, permitindo que o Anticristo assassine 66% deles, conquanto preservando 33% do Remanescente, conforme Zacarias 13:8-9: “E acontecerá em toda a terra, diz o SENHOR, que as duas partes dela serão extirpadas, e expirarão; mas a terceira parte restará nela. E farei passar esta terceira parte pelo fogo, e a purificarei, como se purifica a prata, e a provarei, como se prova o ouro. Ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi: É meu povo; e ela dirá: O SENHOR é o meu Deus”.

Quando cada judeu deixado vivo formar o Remanescente, então ter-se-á cumprido a profecia de Paulo em Romanos 11:26, com todo o Israel sendo salvo. E também se cumprirá a profecia de Zacarias 12:10: “...e olharão para mim, a quem traspassaram; e pranteá-lo-ão sobre ele, como quem pranteia pelo filho unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito. [E também a de Zacarias 14:1-4, 9: “EIS que vem o dia do SENHOR, em que teus despojos se repartirão no meio de ti. Porque eu ajuntarei todas as nações para a peleja contra Jerusalém; e a cidade será tomada, e as casas serão saqueadas, e as mulheres forçadas; e metade da cidade sairá para o cativeiro, mas o restante do povo não será extirpado da cidade. E o SENHOR sairá, e pelejará contra estas nações, como pelejou, sim, no dia da batalha. E naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande; e metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade dele para o sul... E o SENHOR será rei sobre toda a terra; naquele dia um será o SENHOR, e um será o seu nome”.]

Deus ainda não proferiu a Sua última palavra sobre Israel. Enquanto isso não acontecer, estarei orando pela redenção de Israel, não pela nação que é hoje governada pelos Illuminati. Orarei pela redenção do judeu verdadeiro, não pelos praticantes do Judaísmo mágico, nem pelos que se juntam sob o hexagrama, como símbolo nacional. Lembrem-se que o hexagrama é o símbolo mais maligno do mundo inteiro e o seu uso como símbolo nacional de Israel mostra, a quem tem discernimento, que a liderança de Israel está praticando Satanismo, na versão iluminista altamente poderosa.

Falar a verdade sobre esses pretensos judeus e o seu desempenho no esforço global de edificar o Anticristo, não é ser anti-semita, nem é denegrir o nosso precioso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Nosso amado Jesus foi um rabino durante o Seu ministério, o qual veio da pura ascendência espiritual de Moisés, Abraão e os profetas. É a Ele que nós amamos e também amamos os judeus que praticam o Judaísmo historicamente puro.

Os cristãos maduros do mundo inteiro precisam fazer essa distinção; devem entender a diferença entre o verdadeiro judeu e o pretenso judeu. Jesus vai destruir os judeus cabalistas e iluministas, na segunda metade da Tribulação, depois que o Anticristo tiver entrado no Templo, para ali cometer a “Abominação da Desolação”, quando, então, Ele vai permitir que o mundo inteiro testemunhe a maior tentativa global de aniquilação dos judeus. Contudo, Deus vai proteger o seu Remanescente na base de 1/3.

Entrementes, ninguém é anti-semita por descrever as atividades dos judeus iluministas. Judeus e gentios estão trabalhando juntos para edificar a Nova Ordem Mundial, a.k.a., o governo mundial do Anticristo. A lista de figuras históricas que têm laborado a favor dos Illuminati é longa e contém muitos nomes de Judeus e gentios.

Contudo, os ex-satanistas Doc Marquis e Cisco Wheller registram que o líder principal dos Iluministas não é um judeu - mas um gentio. É o Príncipe Charles da Grã Bretanha. Não importa, portanto, quantos judeus pretensos tenham existido ou existam atualmente na liderança do aparato global, pois todos eles trabalham juntos para esse gentio do altíssimo escalão.

sábado, 5 de junho de 2010

Uma Reflexão por: O Caminho (duas vidas em uma ou uma vida em duas?)

Sim! Poderia estar usando este momento para registrar algo sobre o dia do meu aniversário. Quem sabe uma avaliação sobre mais um ano de vida, uma inquirição dos fatos (reações e omissões). Porém, o mais interessante é que são pouquíssimas às vezes em que me proponho a escrever sobre determinado assunto e tenho o mote desviado para outro contexto. Creio que é o Senhor me dirigindo, pois, hoje foi um dia “diferente”. Em verdade, alguns anos da minha vida têm sido “diferentes”. Tenho me sentido mais “sensível”. Para ser sincero: menos humano e mais cristão. Talvez, a afirmativa “menos humano e mais cristão” deva ser mais bem compreendida.

Faz algum tempo que, tenho orado a Deus para que Ele me conceda o dom de ser um ouvinte compreensivo, o oposto de Elifaz, Bildade, Zofar, e por último, Eliú. E muito menos, como a mulher de Jó que com apenas uma sentença disparou: Amaldiçoa o teu Deus, e morre.

Estava, hoje pela manhã, conversando com o meu irmão em Cristo, Antônio Roberto de Carvalho (acredito que tenha sido mais do que uma conversa foi uma terapia) e, em determinado momento, ele me disse uma frase que ouviu de um Pastor Os sonhos nos individualizam, porém, as lutas nos unem.

Encerrada a conversa dei Glória a Deus pela nossa fala e, especialmente, por esta frase tão simples, mas de tão grande valor naquele momento.

Senhor!
Faça-me ser um perfeito ouvinte, ainda que,
eu sinta o peso da emoção, da amargura, da dor,
da fraqueza.
Senhor!
faça-me ser um ombro amigo, ainda que,
eu sinta vontade de chorar,
a angústia aperte o meu peito.
Senhor!
Faça-me ser menos humano e mais cristão.
Senhor!
Faça-me estar mais unido pela luta dos meus irmãos (mais cristão)
E menos individualista pelos meus sonhos (menos humano).

É bem verdade que não é um texto muito apropriado para um dia natalício, mas, é um texto acertado para todo aquele que deseja ser parecido com o Mestre.

“Mas a si mesmo se esvaziou,
Tomando a forma de servo,
“Fazendo-se semelhante aos homens.”
Filipenses 2.7

Sempre serei grato a Ti Senhor pela Tua Grandeza e, jamais, por aquilo que podes querer cumprir em minha vida. Pois, em Ti, está tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.

Reparto as bênçãos dessa data com todos os meus familiares, em especial, meu filho Pedro, e a todos os meus amigos.


Amém!



sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Papa que mandou adulterar as escrituras.

A Confissão de Jerônimo!:

"Obrigas-me fazer de uma Obra antiga uma nova... da parte de quem deve por todos ser julgado, julgar ele mesmo os outros, querer mudar a língua de um velho e conduzir à infância o mundo já envelhecido. Qual, de fato, o douto e mesmo o indouto que, desde que tiver nas mãos um exemplar, depois de o haver percorrido apenas uma vez, vendo que se acha em desacordo com o que está habituado a ler, não se ponha imediatamente a clamar que eu sou um sacrílego, um falsário, porque terei tido a audácia de acrescentar, substituir, corrigir alguma coisa nos antigos livros? (Meclamitans esse sacrilegum qui audeam aliquid in verteribus libris addere, mutare, corrigere). Um duplo motivo me consola desta acusação. O primeiro é que vós, que sois o soberano pontífice, me ordenais que o faça; o segundo é que a verdade não poderia existir em coisas que divergem, mesmo quando tivessem elas por si a aprovação dos maus".
(Obras de São Jerônimo, edição dos Beneditinos, 1693, t. It. Col. 1425).

Esta fala deveria ser uma das expressões verbais mais bombásticas e poderosas de todos os tempos. Deveria ser, também, a mais importante confissão de toda história da humanidade, pois é a fala de, ninguém menos, Jerônimo, o compilador da bíblia cristã, admitindo com sua própria boca e mãos (já que escreveu a confissão) que ADULTEROU a bíblia a mando do chefe maior da sua igreja, o Papa. Chamado a Roma pelo Papa Damaso, Jerônimo tornou-se secretário particular deste e recebeu do mesmo a incumbência de traduzir os escritos hebraicos e gregos que compunham o cânon bíblico para o latim. Até onde se sabe a intenção do Papa era, justamente, erigir uma única e universal versão dos textos bíblicos, dado o excesso de traduções populares e à diversidade de interpretações dos textos sagrados. Mas, pela fala de Jerônimo, o Papa foi um pouco mais além: criou a versão da sua conveniência. Em outras palavras, temos, então que, a bíblia cristã que conhecemos hoje e que reverenciamos como a Palavra de Deus revelada, recebeu uma “mãozinha” daquelas de Jerônimo a mando do Papa. O Deus cristão é, portanto, um deus católico.

Séculos mais tarde, o mundo religioso cristão entra em polvorosa por causa de outro Papa, Joseph Alois Ratzinger ou apenas Papa Bento XVI, que emitiu um documento afirmando que, até pode haver expressões religiosas que agradem a Deus, mas a única, exclusiva e verdadeira religião “de Deus”, é a católica e ponto final. Após publicar esse documento, o Papa Bento XVI fez tremer a base do cristianismo que hoje é ocupada por católicos, evangélicos e outras religiões não cristãs, mas que adotam o Cristo como coluna principal. Mas, para a ira de todas as religiões cristãs do mundo, o papa está coberto de razão.

Realmente, a única, verdadeira e exclusiva religião de Deus existente entre os homens é a religião católica e é ilógico até discutirmos o assunto, já que foi a igreja católica que criou o Deus cristão que conhecemos e não o contrário. Partindo do princípio que Jerônimo, o doutor da igreja e santo canonizado não mentiu, ele próprio fez uma tradução bíblica de acordo com as vontades, mandos e desmandos do seu chefe e chefe da sua igreja e não, em sintonia com a verdade real dos escritos hebraicos e gregos. Será mera coincidência que somente após as traduções bíblicas de Jerônimo a igreja instituiu os dois maiores e mais poderosos dogmas de fé para a leitura das escrituras: que as mesmas só podem ser lidas em seu estrito sentido literal e que todas as suas letras foram revelações do próprio deus? Aqui cabe uma pergunta: qual deus?

O fato é que, coincidência ou não, uma sentença divina que obriga os fiéis a uma estrita aceitação do que foi traduzido como a sagrada letra revelada de Deus sem um sopro de dúvida e o mínimo questionamento é mais uma das muitas “conveniências” que abundam no seio da “santa igreja de deus”. Seria mais ou menos a mesma coisa de alguém redigir, sozinho, a constituição de um país e depois alegar que a mesma jamais pode ser questionada, por ter sido escrita pelo próprio Deus e que todos, querendo ou não, são obrigados a aceitá-la sob pena de uma condenação eterna. Dá para acreditar em algo desse tipo? Pois foi bem isso que aconteceu.

Porém, o mais grave, sério, perigoso e lamentável é que hoje, cerca de mil e seiscentos anos depois desses fatos acontecidos e narrados pelo próprio Jerônimo, ainda existem pessoas que teimam em conceber o mundo, as pessoas, os costumes, os valores e as sociedades nos mesmos moldes da época de Jerônimo e tendo como base os mesmos escritos traduzidos por ele que, segundo a sua própria confissão, não foram tão fiéis assim ao original. Impressiona o grau de ridicularidade e de autoritarismo quando vemos pessoas que, tendo como princípio o livro de Jerônimo, condenam abertamente tudo e todos que não comungam com suas idéias em vida e pela eternidade em nome “do amor de deus”. Chega a ser risível vermos pessoas que, “em nome do amor de deus” e tendo como base o livro de Jerônimo, promovem o sectarismo e a intolerância religiosa. É debochadamente hilariante, mas perigoso, assistirmos pessoas que, “em nome do amor de deus” e tendo como base o livro de Jerônimo, vendem graças e desgraças do deus de Jerônimo nas redes de televisão e nas ondas do rádio (é a modernidade) e é insanamente cruel termos pessoas em pleno século vinte e um fazendo guerras pessoais, sociais, de classes e até de nações inteiras tendo como base o livro fraudulento de Jerônimo em nome do “amor de deus”. Aqui cabe outra pergunta: qual deus seria esse?

Jerônimo, pelo menos, teve a honradez de confessar seu feito e de mostrar para a humanidade que ele era um homem de caráter benevolente e ético. Mas, espanta como poucos dos seguidores do livro de Jerônimo seguem o exemplo do próprio Jerônimo. Entre terem como exemplo o Jerônimo verdadeiro, preferem como modelo a mentira de Jerônimo e assim, perpetuam desde os tempos de Jerônimo um deus que, segundo o próprio Jerônimo, nem é tão deus assim, já que está mais para o papado e para o catolicismo que para a sua própria divindade. Desse modo, instituímos para a humanidade, partindo do livro de Jerônimo, um deus partidário, religioso, sectário, intolerante e tão humanamente baixo que chega a ser difícil crer que haja verdade divina na divindade desse deus. Felizmente, como diz o próprio Jerônimo, “é impossível a verdade existir em coisas que divergem tanto” e é visível que entre o Cristo e as religiões cristãs as divergências são tão gritantes que não há como não perceber que a adulteração de Jerônimo faz-se viva e presente até os dias de hoje dentro de cada um dos cristãos em maior ou menor grau. Ou seja: grande parte dos cristãos, entre terem como exemplo o Cristo verdadeiro prefere como modelo a mentira construída pela igreja “em nome do amor de deus”. Aqui cabe mais uma pergunta: qual deus?

Pelo menos Jerônimo existiu e sabia ler e escrever. Pelo menos, foi Jerônimo que fez a tradução da bíblia. Pelo menos Jerônimo sabia confessar e não tinha medo de confessar. Pelo menos Jerônimo confessou e por isso existe a confissão de Jerônimo. A confissão de Jerônimo é a confissão verdadeira de uma mentira que se põe em contraste com uma mentira vista como verdade absoluta e divinamente instituída. No meio disso tudo estão os cristãos que podem escolher entre uma verdade mentirosa ou uma mentira verdadeira, ou, como Jerônimo, escolherem as duas coisas se tiverem a mesma hombridade e a mesma honestidade do mesmo. Salve Jerônimo e salve a confissão de Jerônimo.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Pentateuco Em Questão

1. INTRODUÇÃO

Segundo a tradição rabínica, seguida pelo Cristianismo, Moisés é o autor de todo o Pentateuco. Alguns radicais, como Filo e Josefo, chegaram a declarar que teria escrito acerca da própria morte (Dt 34.5). Mas o Talmude reconhece ter Josué escrito este trecho.

Segundo uma tradição, aceita pelos pais da Igreja (apesar de reconhecerem a autoria mosaica), os rolos foram perdidos devido a um incêndio, e foram totalmente reescritos mediante inspiração do Espírito Santo por Esdras. Esta tradição está apoiada em um escrito apócrifo – 4 Esdras 14.21,22:

“Porque a tua lei foi queimada, de modo que ninguém sabe as coisas que foram feitas ou serão feitas por ti. Se tenho achado graça diante de ti, envia o Espírito Santo a mim, e escreverei tudo que tem acontecido no mundo desde o princípio, as coisas que foram escritas na tua lei, afim de que homens possam ser capazes de encontrar o caminho, e a fim de que aqueles que desejam viver nos últimos dias possam viver(1)”

Já nos primórdios da era cristã, alguns começaram a duvidar da autoria mosaica, tais como os nazarenos e os ebionitas. Mas as primeiras argumentações de peso começaram na Idade Média, com pensadores tais como Ibn Ezra. Isto prosseguiu na Idade Moderna, com Baruque Espinosa, Carlstadt e Andreas Masius.

A Teoria Documentária, segundo a qual várias fontes foram unidas para formar o Pentateuco – tornando-o um livro de vários autores – começou a ser delineada em 1753 pelo professor de Medicina em Paris, Jean Astruc. Observando a freqüência com que aparecem os nomes divinos Elohim e Yahweh, elaborou a tese de que foram usados dois documentos para a redação do Pentateuco.

Esta idéia evoluiu no final do século XIX para a “hipótese Graf-Wellhausen”, elaborada por Julius Wellhausen e Karl H. Graf, segundo a qual o Pentateuco era o resultado de quatro documentos: Javista (J, cerca de 950 a.C.), Eloísta (E, século VIII a.C.), Deuteronomista (D, século VII a.C.) e Sacerdotal (P, século V a.C.). Desde então, esta hipótese tem servido de base para a crítica literária do Antigo Testamento. Hoje ela está bastante elaborada, e muitas das vezes cada um desses documentos ou fontes é subdividido em documentos e/ou fontes menores. Vale salientar que muitos aceitam uma fonte G (do alemão Grundlage, “fundamento”), onde as tradições J e E estão de tal forma fundidas que é impossível separá-las. Isto seria indicado pelo uso feito em muitas passagens da combinação Yahweh Elohim – cerca de 417 vezes.

No presente trabalho, iremos detalhar acerca da fonte javista, que segundo muitos estudiosos é a mais antiga.

2. A FONTE JAVISTA: CARACTERÍSTICAS

Inicialmente, era tida como a fonte que utilizava exclusivamente o nome Yahweh. Hoje, essa tradição é assim conhecida pela preferência que dá em utilizar o nome Yahweh (Javé). Deste modo, muitas passagens que sequer utilizam o Tetragrama Sagrado são reputadas javistas, como o longo trecho de Gn 42 - 47. Ainda segundo esta tradição, o nome divino Yahweh é utilizado desde os tempos pré-diluvianos (Gn 4.26). Desconhece então a suposta revelação deste nome divino, feita somente na época de Moisés (Êx 3.14,15).

O estilo javista é vívido e colorido, numa forma cheia de imagens e com um modo de narrar realmente magistral. Combina simplicidade com grandeza; tradições simples e agrupamentos de tradições, solidez de enredo e depuração de estilo, economia de expressão e controle emocional. Prima pela explicação de etimologias: o homem (Adam) assim é denominado por ter sido formado do pó da terra (adamah); a mulher (ishah) por que foi tomado do homem (ish); a torre de Babel por que ali o Senhor confundiu (balal) a língua de toda a terra; e assim por diante.

Teologicamente, não está tão preocupado com uma declaração religiosa formal; antes, ela dá uma resposta profunda aos graves problemas que se apresentam a todo o homem, e as expressões humanas de que se serve para falar de Deus (antropomorfismo) encobrem um senso muito elevado do divino, destacando a proximidade de Deus e o seu íntimo relacionamento com o homem. Como prólogo à história dos antepassados de Israel, ela colocou um sumário da história da humanidade desde a criação do primeiro casal. Desta forma, ressalta a continuidade do propósito de Deus desde a criação, passando pelos patriarcas até o papel de Israel como seu povo. Exalta os grandes patriarcas, mas não esconde os erros destes, trazendo um retrato humano bastante realista: a embriaguez de Noé (Gn 9.18 – 27); a mentira de Abraão em contar que Sara era sua irmã, e não esposa (Gn 12.10 – 20); os enganos de Jacó, como em Gn 27; a violência de Moisés (Êx 2.11 – 23).

Esta tradição teve origem em Judá e talvez tenha sido escrita no reinado de Salomão, entre 950 e 850 a.C. O autor é desconhecido, mas provavelmente recebeu apoio governamental para elaborar uma espécie de “epopéia nacional”, como uma exaltação nacionalista do jovem reino de Davi e Salomão. Este ímpeto nacionalista leva o javista, por exemplo, a ignorar que Abraão tenha sido guiado por Deus a Canaã, e evita utilizar o nome cananeu El para Deus. A situação política no reinado salomônico era propícia: paz, prosperidade, e o reino na sua máxima expansão. Observe o texto de 1 Reis 3.20 – 28:

“Eram, pois, os de Judá e Israel muitos, como a areia que está ao pé do mar em multidão, comendo, e bebendo, e alegrando-se. E dominava Salomão sobre todos os reinos desde o rio Eufrates até à terra dos filisteus, e até ao termo do Egito; os quais traziam presentes e serviram a Salomão todos os dias da sua vida. Era, pois, o provimento de Salomão, cada dia, trinta coros de flor de farinha e sessenta coros de farinha; dez vacas gordas, e vinte vacas de pasto, e cem carneiros, afora os veados, e as cabras monteses, e os corços, e as aves cevadas. Porque dominava sobre tudo quanto havia da banda de cá do rio Eufrates, de Tifsa até Gaza, sobre todos os reis da banda de cá do rio; e tinha paz de todas as bandas em roda dele. Judá e Israel habitavam seguros, cada um debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira, desde Dã até Berseba, todos os dias de Salomão. Tinha também Salomão quarenta mil estrebarias de cavalos para os seus carros e doze mil cavaleiros. Proviam, pois, estes provedores, cada um no seu mês, ao rei Salomão e a todos quantos se chegavam à mesa do rei Salomão: coisa nenhuma deixavam faltar. E traziam a cevada e a palha para os cavalos e para os ginetes, para o lugar onde estava cada um, segundo o seu cargo”

A fonte javista está distribuída pelos livros de Gênesis, Êxodo e Números. Alguns alegam que Deuteronômio 34 e determinadas partes de Josué, Juízes e Samuel também receberam influência javista. No conjunto de textos que lhe são atribuídos, distingue-se às vezes uma corrente paralela que tem a mesma origem, mas que reflete concepções por vezes mais arcaicas e por vezes diferentes, designadas pelas siglas JI (javista primitiva), L (javista leiga) ou N (javista nômade).

Não existe concordância entre os estudiosos acerca de quais passagens são javistas. Isto porque há uma tentativa de reconstrução da ideologia e vocabulário específico que possa identificá-la, além da averiguação das passagens duplicadas. Abaixo fornecemos uma lista da tradição javista espalhada por Gênesis-Êxodo-Números, baseada na lista delineada por Norman K. Gottwald(2). Esta nos dá uma visão panorâmica de como a tradição javista auxiliou na elaboração das narrativas acerca da história primeva, da história patriarcal e da história mosaica.

GÊNESIS

História Primeva

Criação do Mundo e queda do Homem: 2.4 – 3.24 (o relato de 3.1 – 24 mesclado a tradições eloístas)

Caim e Abel: 4.1 - 26

Filhos de Deus e as filhas dos homens: 6.1 - 4

Dilúvio: 6.5 – 8; 7.1 – 5, 7 – 10, 12, 16b, 17, 22 – 23; 8.2b – 3a, 6, 7a, 8 – 12, 13b, 20 – 22

Noé e seus filhos: 9.18 – 27

Quadro de Nações: 10.8 - 19,21,24 – 30

A Torre de Babel: 11.1 – 9

História de Abraão

Abraão desposa Sarai: 11.28 – 30

Chamado e viagem até Canaã: 12.1 – 4a, 6 – 9

Abraão e Sarai no Egito: 12.10 – 20; 13.1

Abraão e Ló se separam: 13.2 – 5, 7 – 11a, 13 – 18

Vitória de Abraão (?): 14.1 - 24

Aliança de Yahweh com Abraão: 15.1,2,4,6,12, 17 – 21

Nascimento de Ismael e fuga de Agar: 16.1b, 2, 4 – 14

Sodoma e Gomorra: 18.1 – 23; 19.1 – 28, 30 – 38

Nascimento de Isaque: 21.1,2,7

Acréscimos javistas à narrativa eloísta da provação de Abraão: 22. 14 – 18

Descendentes de Naor: 22.20 – 24

Casamento de Isaque com Rebeca: 24.1 – 67

Descendentes com Cetura: 25.1 – 6,11b

História de Jacó
Nascimento de Esaú e Jacó: 25.21 - 26

Esaú renuncia a sua primogenitura: 25.27 - 34

Isaque e Rebeca em Gerara: 26.1 - 11

Pacto entre Isaque e Abimeleque: 26.12 – 33

Jacó rouba a bênção de Esaú: 27.1 – 45

Sonho de Jacó: 28.10 – 11a, 13 – 16, 19

Jacó desposa Lia e Raquel: 29.1 – 30

filhos de Jacó: 29.31 – 35; 30.4 – 5,7 – 16, 21, 24

Jacó ganha riqueza por fraude: 30.25, 43

Fuga de Jacó e pacto com Labão: 31. 1 – 3, 17, 19a, 20 – 23, 25b, 27, 30a, 31, 36a, 38 – 40, 46 – 49, 51 – 53a

Jacó prepara-se para reencontrar-se com Esaú: 32.3 – 11, 13a

Jacó luta com Deus: 32.22 - 32

Reencontro de Jacó com Esaú: 33.1 – 3, 12 - 17

História de Diná: 34.1 - 31

Incesto de Rúben: 35.21 – 22a

História de José
Sonho de José: 37.2b – 20, 25 – 27, 28b

Judá e Tamar: 38.1 - 30

Tentação e Prisão de José: 39.1 - 23

Primeira visita dos irmãos ao Egito: 42.4 – 5, 8 – 11a, 12, 26 – 28a, 38

Segunda visita dos irmãos ao Egito: 43.1 - 34

José põe à prova seus irmãos: 44.1 - 34

Reconciliação de José com seus irmãos: 45.1, 4, 5a, 16 - 28

Jacó instala-se no Egito: 46.28 – 34; 47.1 – 4, 6b

Política agrária de José: 47.13 - 26

Morte de Jacó: 47.29 - 31

Bênção de Jacó: 49.2 - 28

Sepultamento de Jacó: 50.1 – 11, 14


ÊXODO

Opressão de Israel no Egito: 1.8 – 12, 22

Nascimento de Moisés (?): 2.1 - 10

Moisés foge para Midiã: 2.11 – 23a

Chamado de Moisés e sua volta ao Egito: 3.2 – 4a, 5, 7, 8, 16 – 22; 4.1 – 12, 19, 20a, 22, 23

Yahweh tenta matar Moisés: 4.24 - 26

Encontro com Arão e o povo: 4.27 - 31

Moisés solicita adoração no Deserto: 5.1 – 6.1

Praga da água transformada em sangue: 7.14 – 18,20b, 21a, 23, 24

Praga das rãs: 7.25 – 8.4, 8 - 15

Praga das moscas: 8.20 - 32

Praga sobre o gado: 9.1 - 35

Praga da Saraiva: 9.13 - 35

Praga de Gafanhotos: 10.1 - 20

Praga das trevas: 10.21 - 29

Anúncio da Praga final: 11.1 - 8

Instituição da páscoa: 12.21 – 23, 27b

Praga a morte os primogênitos e libertação de Israel: 12.29 - 36

Saída do Egito: 12.37 – 39; 13.20 - 22

Os egípcios perseguem os israelitas: 14.5 – 7, 10 - 14

Israel atravessa o mar: 14.19b – 21b, 24, 25, 27b, 30, 31

Cântico de Moisés: 15.1 - 18

Israel em Mara e Elim: 15.22 – 25a, 27

Provisão do Maná: 16.4, 5, 28 – 31, 35b, 36

Água da Rocha: 17.2 – 7

Passagens mescladas com a tradição eloísta: 19.2b – 23.23; 24.1 – 15; 32 – 34

NÚMEROS

Moisés e Hobabe (Jetro?): 10.29 – 32

A arca portátil: 10.33 – 36

Espias enviados a Canaã: 13.17b – 20, 22 – 24, 27 - 33

Israel murmura contra Moisés e Yahweh: 14.1 – 4, 11, 25

Derrota de Israel em Horma: 14.39 – 45

Rebelião de Data e Abirão: 16.1b, 2a, 12 – 15, 25 – 32a, 33, 34

Edom recusa passagem a Israel: 20.19 – 20, 22a

Vitória na Batalha de Horma: 21.1 – 3

Serpente de Bronze: 21.4 – 9

Movimento de Israel através da Transjordânia: 21.10 – 20

Balaque chama Balaão para amaldiçoar Israel: 22.3b – 8, 13 – 19, 21 – 37, 39, 40

Oráculos de Balaão: 23.28 24.2 – 25

Apostasia de Israel em Peor: 25.1 – 5

Distribuição de terra na Transjordânia: 32.1, 16 – 19, 24, 33 – 42

1.A FONTE JAVISTA EM GÊNESIS

A fonte javista vai compor quase que na sua totalidade o livro de Gênesis. Conforme poderemos constatar, são poucos os trechos deste livro que receberam influência de outra fonte. Ela se preocupa em detalhar a história dos grandes patriarcas de Israel – Abraão, Jacó e José, colocando um prólogo acerca das origens da humanidade. Principalmente aqui em Gênesis, a pecaminosidade humana é ressaltada, o que influencia até mesmo os grandes patriarcas antepassados de Israel – estes apresentam falhas que não são ocultadas.

História Primeva

Segundo o ponto de vista javista, a razão de ser da criação do mundo foi o homem (2.4 – 3.24). É bem econômico em descrever o mundo criado que cerca o homem: toda planta do campo ainda não estava na terra, e toda erva do campo ainda não brotava porque ainda não havia homem (2.5,9); o jardim no Éden com um rio o regando (2.10 – 15); os animais foram criados para tentar resolver o problema da solidão do homem (2.18 – 20); a mulher foi criada para ser seu complemento (2.21 – 25). Tudo é mostrado de tal forma a evidenciar que o homem é a obra prima de Deus (2.7): o homem foi moldado (yatsar, o mesmo verbo utilizado para o ofício do oleiro, e.g. em Jr 18.1 - 8) a partir do pó da terra. Deus criou um jardim no Éden, no qual colocou o homem, que se responsabilizaria por ele (2.8). Deus então é descrito como o amigo íntimo do homem. Mas, como qualquer amigo, não quer se sentir traído. A desobediência a uma estipulação sua põe em risco todo este carinho (2.16,17).

O javista deixa claro, então, que o homem foi criado para um estado de felicidade absoluta. Porém, desobedeceu a Deus (3.1 – 24). A desobediência trouxe a quebra de comunhão com este Deus que sempre colocou o homem como o centro de suas atenções – trouxe o pecado. Apesar da proximidade de Yahweh, o que revela uma relação bastante afetuosa, Yahweh reage de forma enérgica com relação à obstinação pecaminosa do homem. O relato a queda é bem dramático, demonstrando todas as conseqüências trágicas à humanidade. Por isso, não podemos entender os primórdios da humanidade sem entendermos a história do pecado na humanidade. O estado pecaminoso sempre coloca o homem em pé de guerra com Deus: Caim, o primeiro homicida, com uma descendência igualmente violenta (4.1 – 24); as filhas dos homens (6.1 –4); a violência se multiplicando na face da terra (6.5 – 6); a arrogância na construção da torre de Babel (11.1 – 9). Mas Deus sempre encontra, em meio a perversidade humana, aqueles que são sensíveis ao seu amor: Abel (4.4), Enos (4.26), Noé (6.8). Com a expressão “achar graça aos olhos do SENHOR” (6.8; Êx 34.9; Nm 11.11), entre outras, o javista contrapõe a pecaminosidade humana com a bondosa graça divina.

Um momento chave na história da humanidade é o dilúvio. A versão javista é esta: em meio a uma geração perversa, Noé achou graça aos olhos do Senhor (6. 5 – 8); convida-o, juntamente com sua família, a entrar em uma arca (sem especificar como esta foi construída), a fim de se salvarem do dilúvio que assolará a terra e durará quarenta dias (7.1 – 5). De todos animais, sete pares devem ser guardados dos animais limpos e dois dos imundos (7.2). O dilúvio começa após sete dias (7.7 – 10). Em quarenta dias, tudo na terra expira, exceto Noé e seus familiares (7.12, 16b, 17, 22, 23). Ao final de quarenta dias, cerram-se as fontes do abismo e as janelas do céu (8.2b – 3a). Para verificar se as águas já haviam secado de sobre a face da terra, solta um corvo e uma pomba (8. 6 – 13). Noé então sai da arca e oferece holocaustos em agradecimento ao Senhor (8.20 – 22).

Neste prólogo, o javista procura mostrar que o homem sempre esteve preocupado com o pecado e suas conseqüências em sua história. O remédio para a humanidade, então, está na criação de um povo especial, conforme delineado em Gn 12 – 50. Por isso, antes de mostrar a origem de um povo especial, detalha acerca da origem das diversas nações, conforme 11.1 – 9. Arrogantemente, os homens se uniram com um projeto audacioso: construir uma torre que alcançasse o topo dos céus, para que fizessem seus nomes notórios. Como castigo, eles que falavam uma mesma língua, são espalhados por toda a face da terra, com diferentes línguas. Esta é a versão javista, em contraposição à outra versão contida no capítulo 10 para a origem das nações (o javista, entretanto, irá inserir neste capítulo alguns versículos, 10.8 - 19,21,24 – 30).

História de Abraão

Para o javista, o momento chave para a humanidade é a chamada de Abrão, que dará origem ao povo de Israel (12.1 – 3), e por isso Pai da Nação do Senhor. Esta tradição usa o nome Abraão a partir de 18.6 sem explicar o porquê da mudança. Exceto em 12.10 – 20, Abraão é retratado como um verdadeiro exemplo de piedade: obediente à voz de Deus (12.1 – 4a), com uma fé firme (15.6), sempre adorando o Senhor com construção de altares (12.7,8; 13.4,18). Mais uma vez o ímpeto nacionalista é demonstrado: a simples existência do povo de Israel é causa de bênção a todos os povos (12.3). Era casado com Sarai, estéril (embora mais à frente o javista dê a entender que isto devido à sua avançada idade), e saiu de sua terra natal, Ur dos Caldeus, rumo à terra que o Senhor mostraria (11.28 – 30; 12.1). Esta terra não é especificada como Canaã. Seu sobrinho Ló o acompanhou (12.4a). Chegou então a Siquém, até o Carvalho de Moré, onde edificou um altar e o Senhor lhe apareceu prometendo dar à sua semente aquela terra (12.6,7). E, de lá, passou por Betel e o Neguebe (12.8,9).

Abrão mal chega à nova terra, enfrenta dificuldades: há uma fome na terra, e se vê obrigado a descer ao Egito, onde pede para Sarai dizer que é sua irmã, e não sua esposa (12.10 – 13.1), fazendo com que ela fosse tomada ao harém de Faraó; os seus pastores se desentendem com os pastores de seu sobrinho Ló, o que obriga a se separem um do outro (13.2 – 5, 7 – 9). Ló opta então por morar nas campinas do Jordão, onde estava Sodoma e Gomorra (13.10 – 11a), cidades conhecidas pela perversidade (13.13). O Senhor mais uma vez promete-lhe a posse da terra na qual se encontrava (13.14 – 18).

O relato encontrado em 14.1 – 24 é considerado por muitos javista, mas alguns supõem ser de uma fonte muito antiga e desconhecida. Refere-se a Abrão como o hebreu (14.13), não como um gentílico, mas possivelmente como a descrição de sua classe social (hebreu aqui seria uma referência àqueles que estão socialmente à margem). Usa para Deus o título El Elyion (o javista utiliza Elohim, mas evita o uso de El, provavelmente por ser uma referência ao El do panteão cananeu).

Abrão passa por outro momento de crise: o Senhor lhe prometera a posse da terra para seu descendente, mas seu único herdeiro parece ser o damasceno Eliezer (15.1,2). O Senhor o certifica que seu herdeiro será um que sairá de suas entranhas (15.4), e Abrão creu, e foi-lhe isto imputado por justiça (15.6). O Senhor ratifica com um pacto (15.12, 17 – 21). A serva egípcia de Sarai, Agar, fica grávida de Abrão (16.1b,2). Devido a desentendimentos com Sarai, foge para o deserto, onde um anjo lhe aparece fazendo promessas de que o filho que estava para gerar seria uma grande nação, e seu nome seria Ismael (16.4 – 14). A partir daí, o javista não fornece mais nenhuma informação acerca desse filho de Abrão. Porém, por um momento, parece que a promessa de um descendente feita no capitulo 15 falhara.

Para consolar Abrão, três varões (sendo que um era o Senhor! O antropomorfismo javista levado às ultimas conseqüências!) aparecem a Abraão (a mudança de nome pela primeira vez aparece – 18.1- 8), prometendo que a despeito da idade avançada de Sara (o nome de Sarai também é mudado, sem explicações) ela terá um filho, que cumprirá as promessas feitas pelo Senhor a Abraão (18.9 – 15). O Senhor revela então que destruirá Sodoma e Gomorra, devido à maldade dessas cidades (18.16 – 22). Mais uma demonstração do fervor antropomórfico do javista: em 18.22, ela declara que Yahweh ficou ainda em pé diante da face de Abraão! Algo chocante aos olhos do judaísmo posterior, até mesmo agressivo. Por isso, os escribas deliberadamente mudaram aqui o texto para “mas Abraão ficou ainda em pé diante da face do SENHOR”. Abraão, lembrando que lá está morando seu sobrinho Ló, pergunta ao Senhor se o justo seria destruído juntamente com o ímpio (18.23). Dois daqueles varões, que já haviam saído rumo a Sodoma e Gomorra (18.16,22), procuram então livrar Ló e seus familiares da destruição, mas somente Ló e duas de suas filhas conseguem se salvar (19.1- 28). O javista relata então como a partir do incesto das duas filhas de Ló com o próprio pai nasceram Ben-Ami e Moabe, antepassados dos amonitas e moabitas, respectivamente (19.30 – 38).

Finalmente a promessa é cumprida: nasce o filho de Abraão com Sara (21.1,2,7). Sem explicar a origem do nome, em 24.4 revela que o nome deste filho é Isaque. Embora a prova que Deus impõe a Abraão em 22.1 – 18 seja proveniente de outra fonte, esta possui acréscimos javistas: o nome Moriá em 22.2, e o trecho de 22.14 – 18, explicando a origem do nome Yahweh Yireh. O javista acrescenta a lista dos descendentes de Naor (22.20 – 24), mostrando então o nascimento de Rebeca e preparando a longa historieta acerca do seu casamento com Isaque (24.1 – 67). O javista interrompe abruptamente a história de Abraão com a lista dos seus filhos com Cetura (25.1 – 6), sem explicar sua morte (isto fica subentendido em 24.1 – 9, 65), e a menção de onde Isaque passou a habitar (24.11b), preparando a história de Jacó.

História de Jacó

Percebemos que o javista dá muita pouca atenção a Isaque. Exceto em 26.1 – 33, este sempre está ou em conexão com Abraão (e.g., 24.1 – 67) ou com seu filho Jacó (e.g., 27.1 – 45). Isto apesar de ser o cumprimento das promessas de Deus! Enfrentou o mesmo problema da esterilidade de sua mulher (25.21), a fome na terra (26.1 – 5), e também mentiu dizendo que sua esposa era sua irmã (26.6 – 11). Seguiu bem de perto as pisadas de seu pai Abraão. Mas Jacó receberá uma atenção especial, pois através da sua mudança de nome para Israel (32.22 – 32) nomeou toda uma nação.

Mas apesar de sua importância dentro do plano divino de constituição de um povo, ele é o extremo oposto de Abraão. Sempre está envolvido em trapaças: já por ocasião de seu nascimento engana o próprio irmão gêmeo, Esaú, segurando-o pelo calcanhar, tentando já conseguir a primogenitura, recebendo por isso o nome de Jacó (Yaaqov, um trocadilho com a palavra aqev, calcanhar: 25.21 – 26); aproveitando-se que seu irmão chegara cansado do campo, astutamente troca um prato de guisado pelo direito à primogenitura deste (25.27 – 34); auxiliado pela própria mãe, e aproveitando-se que Isaque está no leito de morte, rouba de Esaú a bênção que lhe estava reservada como primogênito (27.1 – 40).

Com medo da vingança de seu irmão, prometida após o período de luto de Isaque, foge para junto de seu tio Labão (27.40 – 45). Parte então de Berseba e dirige-se a Harã, onde seu tio mora (28.10; e não Padã-Arã, como em 28.2). No caminho, o Senhor lhe parece em um sonho, fazendo promessas (28.11a, 13 – 16, 19). Chegando a seu tio, enamora-se por Raquel, por quem decide trabalhar sete anos em vistas ao casamento; mas é enganado por Labão, que lhe dá sua outra filha Lia, e deste modo desposa as duas irmãs mediante o trabalho de mais sete anos (29.1 – 30). Nascem doze filhos e uma filha (29.31 – 35; 30.4 – 5,7 – 16, 21, 24). Como Jacó ama mais a Raquel, e em face da esterilidade desta (29.30,31), há uma rivalidade muito grande entre ela e Raquel (30.1). Repetindo o episódio de Sarai com Agar, tanto Lia quanto Raquel usam servas: Raquel, por causa e sua esterilidade, usa Bila (30.1 – 8), e Lia, quando cessa de conceber, utiliza Zilpa (30.9 – 13)

Jacó enriquecer-se, mais uma vez usando de engano (30.25 – 43). Labão e seus filhos, percebendo, já não são amistosos, e o Senhor ordena a Jacó que volte a terra de seus pais (31.1- 3). Prontamente se foi com suas mulheres e seus filhos (31.17). Fugiu, esquivando-se de Labão, que ao saber o perseguiu (31.19a, 20 – 23: o javista desconhece o episódio do furto dos ídolos). Alcançando-o nas montanhas de Gileade, replica por que aquela fuga em oculto (31.25b, 27, 30a). Jacó revelou temer que lhe tomasse as esposas (31.31). Jacó então contendeu com Labão, mostrando como foi seu procedimento nos vinte anos que esteve com ele (31.36a, 38 – 40). Resolvem então fazer um pacto de reconciliação (31.46 – 49; 51 – 53a).

Ao voltar à sua terra, teme reencontrar seu irmão Esaú. Toma então providências com relação à sua família, ao saber que Esaú vem a seu encontro com quatrocentos homens, e clama intensamente ao Senhor (32.3 – 11). Passando ali a noite, após fazer atravessar sua família e bens pelo vau de Jaboque (32.13a, 22, 23), ocorre o episódio da luta de Jacó com um varão até a subida da alva. No desenrolar da história, fica claro que este varão é o próprio Senhor (32.24 - 29). É a mais extraordinária narrativa antropomórfica do javista, levada às últimas conseqüências. Um homem, lutando com o próprio Senhor, como quem luta com um mortal? A partir de 32.28, o javista deixa de usar o nome Jacó para este neto de Abraão e passa a utilizar o nome Israel, “aquele que lutou com Deus e com os homens e prevaleceu” (provavelmente mais uma explicação popular da etimologia deste nome, que é incerta). Ainda explica a etimologia do nome Peniel e do suposto costume de não comer o nervo da juntura da coxa (32.30 – 32).

O grande momento do reencontro com Esaú chega, cheio de suspense (33.1 – 3). A tradição javista não mostra uma cena emocionada de reconciliação; antes, mostra que Esaú o convida para Seir, o qual a princípio Jacó concorda, mas desconfiado das reais intenções de seu irmão, desvia-se e parte para Sucote (33.12 – 17). Aqui o javista acrescenta então o relato do estupro de Diná por Siquém, o pacto realizado com Jacó e como de forma violenta Simeão e Levi violaram o mesmo (34.1 – 31); e o relato do incesto de Rúbem (35.21,22a). Provavelmente, estes dois relatos procuram explicar de que forma Judá veio a ter ascendência, uma vez que Rúbem, Simeão e Levi eram os irmãos mais velhos, e preteridos com relação à primogenitura.

História de José

A história de José passa a ser contada para explicar de que maneira os filhos de Israel alojaram-se no Egito, onde encontraram a escravidão. O javista não reconhece que José tenha sido um perito intérprete de sonhos, nem que tenha alcançado por isto um posto tão elevado como o de governador do Egito, o segundo após Faraó (40 – 41). Tão pouco reconhece os relatos dos seus filhos, e de como Jacó teria abençoado Efraim (48). Se assim procedesse, estaria comprometendo a excelência de Judá – lembremos que a tribo de Efraim, filho de José, liderou a revolta que provocou o cisma político-religioso no reinado salomônico (1 Rs 11.26 – 12.33). Por isso, defendendo a tribo de Judá, mostra a sua origem (38.1 – 30), e como interveio a favor de José (37.22,26) e se torna responsável pelo retorno de Benjamin (43.8,9), e de como Jacó lhe reserva uma bênção especial (49.8 – 12). É uma narrativa que parece ter pouca contribuição javista, ou muitas adaptações da mesma: torna-se notório que o antropomorfismo e o relacionamento direto de Deus com o homem, conversando com o mesmo como se fosse face a face, tão típicos do javista, desaparecem totalmente nesta narrativa.

Israel ama José mais do que seus outros filhos, o que provoca ciúmes ardentes neles (37.2b – 4). Os ciúmes desenvolveram-se para ódio, quando José lhes relata dois sonhos, que dava a entender que todos lhe seriam submissos (37.5 – 11). Seus próprios irmãos então pretendem matá-lo (37.12 – 20). Vêem uma caravana de ismaelitas passando em direção ao Egito (37.25). Judá então intervém, dizendo que seria melhor vender José àquela caravana do que matá-lo (37.26,27). José então é vendido por vinte moedas de prata e levado ao Egito (37.28b).

No Egito foi vendido a Potifar, eunuco de Faraó, onde alcançou destaque pela habilidade demonstrada para os negócios, pois o Senhor era com ele (39.1 – 6). Mas foi seduzido pela esposa de Potifar (39.7 – 12). Como a mulher de Potifar inverteu a situação, dizendo que ela é que tinha sofrido tentativa de sedução (39.13 – 18), Potifar o mandou para a prisão real (39.19,20). Porém, novamente ali o Senhor o fez prosperar, onde alcançou o mesmo destaque que possuía na casa de Potifar (39.21 – 23). Por ocasião do primeiro encontro com seus irmãos (42.4 – 5, 8 – 11a, 12, 26 – 28a, 38), entendemos que na visão do javista José chegou-se a Faraó e alcançou notoriedade por conta desta bem sucedida empreitada na prisão real. Tornou-se então um regente – moshel, 45.8,26, e não um shalit, como em 42.6.

Os irmãos de José, exceto Benjamin, descem ao Egito à procura de alimentos que estavam escassos em Canaã (42.4,5). José os encontra, reconhece-os – embora não seja reconhecido pelos seus irmãos – e também lembra dos seus sonhos que motivaram sua venda até àquela terra (42.8 – 9a). Motivado pelo rancor, acusa seus próprios irmãos e espiões (42.9b). Estes tentam se defender da acusação, apesar da reticência de José (42.10 – 12). A despeito desta discussão, conseguem levar trigo, e antes de chegarem a Canaã, descobrem o dinheiro devolvido dentro de seus sacos (42.26 – 28). Percebendo que precisarão voltar, Israel adverte a não levarem Benjamin (42.38).

Os temores de Israel mostram-se verdadeiros. A fome continua gravíssima, e os mantimentos novamente acabam, obrigando um retorno ao Egito (43.1,2). Judá então revela que o varão egípcio (José) os advertira que, se não trouxessem o filho mais novo, Benjamin, não poderiam comerciar naquela terra (43.3 – 5). Há relutância da parte de Israel, que cede quando Judá se compromete a protegê-lo por todos os meios possíveis (43.6 – 10). Encaminham-se então ao Egito, levando provisões em dobro, para devolverem o dinheiro que anteriormente haviam encontrado e comprarem mais alimentos (43.11 – 25: certamente El Shaddai em 43.14 é uma glosa proveniente de outra fonte, pois o javista não reconhece o epíteto cananeu El). José, ao encontrar Benjamin, muito se emociona, e promove um banquete com todos os irmãos (43.26 – 34). Parece que o desejo de vingança equilibra-se entre o de ficar junto ao seu irmão mais novo Benjamin, o qual não se envolveu na sua venda como escravo. Arma então um estratagema: manda seus servos colocarem seu copo de prata na boca do saco de Benjamin (44.1 – 2). Isto dá ocasião que sejam perseguidos antes que saiam da terra, e o veredicto de que Benjamin permaneceria como prisioneiro, enquanto os demais estariam livres (44.3 – 17). Judá então faz um emocionado apelo, que ele ficasse como refém no lugar de Benjamin, a fim de não matar de desgosto o pai (44.18 – 34).

José comove-se com as palavras de Judá, e então revela-se aos irmãos, e resolve reconciliar-se com eles (45.1,4,5a). Isto é relatado à casa de Faraó, que decide então convidar Israel e toda a sua parentela a descer ao Egito, onde usufruirão o melhor (45.16 – 28). Escreve então o emocionado reencontro de Israel e José (46.28 – 30), e como se instala na terra de Gósen (46.31 – 34; 47.1 – 4, 6b).

O javista ainda acrescenta a política agrária de José, colocando-o como o criador da lei que estabelecia Faraó como o proprietário de todas as terras no Egito (47.13 – 26). Omite qualquer detalhe acerca da morte de José: antes, prefere relatar a morte de Israel (47.29 – 31), a bênção que teria dado aos seus doze filhos antes de morrer (49.2 – 28; embora tudo indique que esta porção esteja ligada a outra fonte mais antiga e desconhecida) e seu sepultamento (50.1 – 11, 14).

2. A FONTE JAVISTA EM ÊXODO

O Êxodo foi um evento paradigmático para o povo de Israel. A experiência da saída do país da escravidão pela força de Iahweh, o Deus que se revela e age na história, era motivo de memória em festas, celebrações e mesmo em momento de afastamento dos desígnios salvíficos. A teologia de cunho latino-americano soube fazer uma releitura do Êxodo a partir de sua realidade de continente periférico e oprimido, recuperando a importância de tal evento na História da Salvação.

O javista começa narrando a opressão de Israel no Egito; onde o javista desconhece a narrativa das parteiras (1.8-12,22). Logo após, narra o nascimento de Moisés (2.1-10, embora existam dúvidas se é J, E, ou outra fonte documental). Êx 3,1-15 é considerado um relato em que J e E se encaixam um no outro. Podemos encontrar estas características misturadas com J no texto em questão, mas principalmente em expressões em que Deus não tem um encontro direto com Moisés mas o chama; Moisés cobre o rosto por temor a Ele (Êx 3,6). Êx 3,13-15, a revelação do nome divino, também é considerado E . É possível fazer uma distinção entre as fontes J e E no nosso texto a partir da figura de Moisés.

No relato J Moisés apareceu em todos os acontecimentos numa posição secundária: é Iahweh quem age, quem tira o povo da escravidão (cf. Êx 3,7-9). O narrador J atribui a Moisés um papel exíguo; sua vocação teria somente a finalidade de informar Israel sobre as intenções salvíficas de Iahweh. No entanto, na tradição E, a missão de Moisés tem maior relevo: é Moisés quem vai tirar o povo do Egito (Êx 3,10-15); Moisés é instrumento de Deus que opera os milagres intervém com o seu bastão. Elohim é um Deus transcendente que precisa de um mediador, Moisés, e deste ao povo um outro mediador, Arão (cf. Êx 4, 16). A seguir, vemos rapidamente o desenrolar dos acontecimentos:
5.1-6.1. Moisés solicita adoração no deserto.

6.9-12. 2ª objeção de Moisés. Determinação pessoal?

Soberania de Deus sobre os deuses egípcios

7.14-18,20b,21a, 23, 24. Água transformada em sangue

7.25-8.4,8-15. Praga das rãs

8.20-32. Praga das moscas.

9.1-35. Praga sobre o gado.

Soberania de Deus sobre

A natureza

9.13-35. Praga da Saraiva.

10.1-20. Praga de gafanhotos

11.1-8. Praga final.

12.21-23,27b. Instituição da Páscoa.

12.29-36. Praga. A morte dos primogênitos e libertação de Israel.

12.37-39; 13.20-22. Saída do Egito.

14.5-7,10-14. Os egípicios perseguem os israelitas.

14.19b-21b,24,25,27b, 30, 31. Israel atravessa o mar.

15.1-18. Cântico de Moisés.

15.22-25a, 27. Israel em Mara e Elim.

16.4,5,28-31, 35b,36. Provisão do maná.

17.2-7. Água da rocha.

O contexto sócio-histórico se depreende da situação histórica das fontes. A fonte J, surgida na corte salomônica, faz uma retrospectiva do passado para justificar e ratificar a monarquia, preservar a tradição e fornecer um senso de identidade e foco de unidade à liga tribal.

O Êxodo, como fato histórico e salvífico, foi um acontecimento fundamental para Israel, constituindo-se num evento radical, profundíssimo, no qual tanto Israel como nós devemos interpretar Deus e a nós mesmos. O Êxodo se converte em uma “reserva-de-sentido” inesgotável, e como tal, é acontecimento fundante de acontecimentos derivados que lhe enriquecem o significado, de modo que tem mais importância na época do último relato escrito (sacerdotal, séc. V a.C.) do que quando aconteceu historicamente (séc. XIII a.C.), e por isso torna-se mensagem: “Não se trata de um fato isolado que aconteceu por volta do séc. XIII a.C., mas de um fato refletido, aprofundado, explorado pela fé e captado em todas as suas projeções. Daí se deduz que a narração do livro do Êxodo ‘diz’ muito mais do que aconteceu naquela época”(CROATTO, 1981, p.39).

As tribos hebréias oprimidas no Egito fizeram a descoberta da presença de Deus por trás de fatos históricos. A escravidão a que eram submetidos produzia-lhes uma tal alienação que os tornava incapazes de esperar salvação (cf. Êx. 6, 9), como acontece com nosso povo latino- americano, aceitando passivamente a realidade que vive. É interessante observar que a opressão a que israel está submetido é de ordem político-social, e Deus veio ao seu encontro para libertá-lo e salvá-lo na sua totalidade, não só e nem primeiramente em nível espiritual. Deus se revela primeiramente como salvação e libertação em ordem política e social. Tal constatação tem conseqüências hermenêuticas graves para uma releitura da mensagem do Êxodo em nossa América Latina atual. Êxodo 3.7-9 fala do gemido e clamor do povo israelita. Porem, tal relato é claro, posterior ao acontecimento; provavelmente o povo nem gemer o fazia, pois o alienado não tem consciência do que pode ser e fazer, mas aceita que as coisas são como estão. O acontecimento do êxodo engendrará a consciência de liberdade do povo. No entanto, a este clamor ou alienação silenciosa dos israelitas Deus responde chamando e enviando Moisés e revelando o seu nome, Yahweh, “o-que-há-de-existir”, nome dinâmico que muito posteriormente foi entendido ontologicamente. A manifestação de Deus conscientiza o ser humano de sua vocação à liberdade como desígnio salvífico ao qual não pode recusar-se. As objeções de Moisés(êx.3.11-13; 4.1,10-13) são projeções das dúvidas e desconfianças do povo prostrado e alienado. Diante de tal desígnio, o opressor endurece-se e oprime ainda mais.

Visão Teológica

Durante todo o processo de libertação, cuja ação foi atribuída ao Deus Javé, principalmente depois da saída do Egito, a consciência do povo foi clareando e, assim, foi se formando uma identificação entre Deus e o povo. Desse modo, para este povo, Deus é aquele que foi se revelando como alguém presente nas lutas, e que passa a fazer parte de sua história. É aquele que age através das pessoas, como no caso de Moisés. Deus é aquele age para libertar. Foi assim que aconteceu quando da vitória do enfrentamento com o destacamento do exército do faraó, o que permitiu a saída do Egito.

Toda esta experiência vivida por Moisés e seu grupo os preparou para descobrir Javé como Deus Libertador. Mais tarde, veio a tornar-se o Deus das tribos de Israel na "terra prometida" de Canaã.

Quem é Javé para esse povo?
Javé foi reconhecido pelo grupo de Moisés e por algumas tribos, chegando a se tornar o Deus principal das tribos da confederação de Israel na época dos Juizes.

Javé é aquele que escuta o clamor do seu povo oprimido e o liberta. Não está ligado a sistemas opressores dos reis e faraós, como o do Egito. Pelo contrário, ele está no deserto e na montanha (Sinai, e não Horebe) agindo no meio de seu povo, pobre, camponês e pastor. É o Deus que fez uma aliança com o povo.

O povo vê em Javé o Deus que protegia os seus antepassados, o Deus e Abraão, Isaac e Jacó. Ele é o Deus de Libertação

Dimensão Ideológica

O Estado, representado pela autoridade máxima do faraó, com todo o seu aparato: corte, exército, sábios, sacerdotes e capatazes, não podia admitir que estes hebreus fossem reivindicar seus direitos. Mas, ao contrário do que se pensava, na resistência contra a dominação do Faraó, forjou-se a unidade dos que se propunham a fugir.

O grupo reunido em torno de Moisés ainda não conhecia o Deus chamado Javé. E quando este se revelou a ele, disse ser o Deus de seus antepassados.

O Deus Javé se revelou a Moisés, mostrando-se ser aquele que teve compaixão do sofrimento do seu povo e que desceu para libertá-lo. Ele chama Moisés para ajudar nesta missão. Daí, Moisés seria, então, uma espécie de líder, capaz de ajudar o povo a sair da escravidão do Egito e forjar um novo sistema social numa nova terra, "a terra onde corre leite e mel", ou seja, onde o povo viria a ser livre. Assim, Javé se tornou o Deus de todo povo de Israel, pois tudo o que tinha acontecido no processo de libertação foi por obra dele.

Desse modo, o acontecimento do Êxodo marcou profundamente não só a Moisés e o povo como também toda a fundação das tribos que surgiram posteriormente. É daí que esse acontecimento tornou-se o fato fundamental da história do povo, grande foi seu significado para a fé das tribos.

E o povo passou a cantar a vitória, como conta o capítulo 15 do Livro do Êxodo, reconhecendo a ação de Deus na sua vida.

3. A FONTE JAVISTA EM NÚMEROS

Todo o início do livro de números até 10.28 pertence à tradição “sacerdotal”. Reencontramos a tradição “Javista” no cap. 10.29 do livro de números, que vai até o fim do cap. 14 uma combinação com elementos “Eloístas”.

Acredita-se que os capítulos 10, 33-36, 11; 17.24-30; 12 seria sem dúvida uma tradição Eloísta. Nos capítulos 13-14, esta tradição complexa é combinada com a tradição “Sacerdotal”.

Números 10.29-32 ® Moisés e Hobab (Jetro?). Israel tinha necessidade de guias para atravessar o deserto. Para isto, Moisés dirige-se aos midianitas, tribo do deserto à qual estava ligado por sua mulher Siporá. – O texto não é bem claro, pois não se sabe se Hobab (Jz 1, 16; 4, 11) ou Reuel (Ex 2, 18) é o sogro de Moisés, tanto mais que EX 18, 1 lhe dá o nome de litrô. Há várias tradições divergentes que aliam Moisés seja aos gentios (Hobab é gentia), seja aos midianitas (Reuel, litrô). A primeira parece ter suplantado a segunda quando a hostilidade entre Midian e Israel se desenvolveu (25, 17-18; 31, 1-18). Há possibilidade de esclarecer o texto supondo que Reuel é nome de tribo, o que daria Hobab, o reuelita, ou então dando a hotên, “sogro”, o sentido mais amplo que ele às vezes tem: “parente por aliança”.

A expressão “Javista”: “tu serás nossos olhos”; veio expirar uma expressão corrente entre os nômades ou beduínos até o dia de hoje: “o olho da caravana”.

Números 10.33-36 ® A arca portátil. Javista ou Eloísta? Na edição “massorética” do texto hebraico um sinal especial indica que os vv 35 e 36 não estão em seu lugar. Efetivamente, estão pouco ligados ao contexto; o grego transpõe o vv 34 para depois do vv 36, o que seria lógico.

Números 13.17b – 20, 22-24, 27-33 ® No vv 17b, a montanha designa os montes da Judéia. Vê-se pelo vv 22 que, na perspectiva “Javista”, a exploração se limitou ao sul deste maciço, ao passo que para a tradição “sacerdotal” ela se estende a todo o futuro território de Israel.

O retrato “sacerdotal” faz os exploradores percorrerem a terra de ponta a ponta, o que representa um trajeto de 600 km. No relato “javista” (v 22), ele não ultrapassam Hebrom, a 120 km de Qadesh.

No versículo 26 Qadesh está no deserto de Sin (20,1; 33,36), temos aqui a junção de dois relatos, o “sacerdotal” que situa o povo no deserto de Paran e o “javista” que o situa em Qadesh.

No versículo 29 trata-se do Mediterrâneo. Temos aqui, na pena do “javista”, a descrição precisa em todo Bíblia das populações palestinas.

Números 14.1-4, 11, 25 ® Israel murmura contra Moisés e Yahweh.

Números 14.39-45 ® Derrota de Israel em Horma.

Números 16.1b, 2a, 12-15, 25-32a, 33, 34 ® Esta passagem resulta da fusão de dois relatos: o “Javista” – “Eloísta” (revolta de Datan e Abrirâm contra Moisés) e o “sacerdotal” (revolta de Qôrah contra Aarão).

Números 20.19-20, 22a ® Edom recusa passagem a Israel.
Números 21.1-3 ® Vitória na batalha de Horma. Esta narrativa de tradição antiga, mas é encontrada, aqui, fora do seu contexto. Horma foi tomada pelos simonitas, que subiram diretamente do sul (Jz 1, 16-17). A derrota de Horma, de Nm 14,39, é posterior.

Números 21.4-9 ® Serpente de bronze. A tradição Javista nos leva a relacionar esta história com as minas de cobre da Arabá, onde o metal já era explorado no Século XIII a.C. Acharam-se em Meneyeh (hoje timna) diversas pequenas serpentes de cobre que sem dúvida eram utilizadas, com a de Moisés, para se proteger contra as serpentes venenosas. Esta região mineira da Arabá se encontra no caminho de Cades a Ácaba (cf. v 47).

Números 21.10-20 ® Movimento de Israel através da transjordânia. Esta narrativa é continuação da fonte “Javista”, interrompido desde 20.22a.

Números 22.3b-8,13-19, 21-37, 39, 40 ® Balaque chama Balaão para amaldiçoar Israel. A história de Balaão, sem vínculo determinado com a narrativa da marcha para Canaã, foi objeto de, ao menos, dois relatos distintos, entremeados ao longo dos capítulos 22.24. Segundo um deles (“Eloísta”?), Balaão era um adivinho arameu ou emorita, adorador do Senhor, de quem recebia a própria inspiração, ele não cedeu às instâncias do rei Moab, antes de ter sido expressamente autorizado por Deus a fazê-lo. De acordo com o outro relato (“Javista”?), ele era midianita (cf. 31,8); pôs-se a caminho para atender ao apelo de Balaque sem a permissão de Deus, barrado pelo anjo, teve que retornar, e Balaque, em pessoa, teve de ir procurá-lo.

Os dois relatos derivam de uma tradição muito antiga, segundo a qual Balaão era um mago de temível poder (cf. v 6). Esta tradição atesta a antiga concepção de bençãos e maldições: Uma vez pronunciadas, eram irreversíveis. O Senhor só podia preservar seu povo das maldições de Balaão impedindo o adivinho de proferi-las. Trata-se, de uma tradição estranha a Israel, que os relatos “Javista” e “Eloísta” assimilaram, apresentando Balaão como projeta do Senhor (apesar das resistências dele, conforme um dos relatos). Mas a Bíblia também conservou a imagem primitiva de um Balaão hostil a Israel: Nm 31.8, 16, Dt 23.5; Is 13.22; 24.9; II Pe 2.15-16; Ap 2.14.

Números 23.28, 24.2 ® Oráculos de Balaão.
Os dois poemas do capítulo 23 pertencem à tradição “Eloísta” e sem dúvida prolongam o primeiro relato do capítulo 22. Os poemas do capítulo 24 são capítulo e se relacionam com o segundo relato do capítulo 22. No texto “Javista” primitivo, 23.29 devia seguir 22.40. Os versículos 27 e 28 foram acrescentados para assegurar uma transição entre os dois conjuntos.

Neste relato “Javista” mostra Balaão sob o efeito de uma súbita inspiração (cf. ii Rs 3.15), ao passo que no capítulo 23 recebia a mensagem antecipadamente e tinha tempo para refletir sobre ela. Aqui ele é apresentado como uma “vidente” que emprega uma linguagem muito figurada.

Números 25.1-5 ® Apostasia de Israel em Peor. Este capítulo é formado por dois relatos, um dos quais (“Javista”) fala das filhas de Moab, e o outro (“sacerdotal”) de uma midianita (vv 6-18). O relato Javista não cita Finéias.

Números 32.1, 16-19, 24, 33-42 ® Distribuição de terra na transjordânia. Este capítulo de estilo deuteronomizante, com marcas de redação sacerdotal, usa uma fonte antiga (javista) vv 1-4, 16-19.

4.CONCLUSÃO: MENSAGEM QUERIGMÁTICA

O querigma javista em Gênesis enfatiza o homem cercado de privilégios, não tendo motivo algum para se rebelar contra Yahweh, e se afastando cada vez mais dele, embora Yahweh sempre esteja bem próximo do homem. Por isso, ressalta-se o papel de Israel não com propósitos estritamente nacionalistas, mas também em vista da humanidade decaída e carente da graça divina. Se o homem não pode escapar da justa ira divina, a qual Yahweh executa sobre o pecado, o homem sempre teve à sua disposição a graça amorosa divina. Se os mais afamados heróis da fé, como Abraão, nem por isso escaparam de cometer erros, isso não gera desculpas para que procedamos da mesma forma. Ao contrário: o convite é a evitarmos tais procedimentos, não por constrangimento ou pressão, antes movidos pelo amor de Yahweh – amor este demonstrado desde o início, na criação de todas as coisas.

O querigma da liberdade que o êxodo anuncia nos leva a refletir sobre quatro temas, entre outros:
salvação e libertação. A experiência salvífica do êxodo se deu como libertação política e social, na descoberta de Deus/Yahweh que se revela e atua na história. Esta é também a experiência que os povos latino-americanos tem feito, a partir de uma reflexão teológica contextualizada.

A revelação do líder. Deus não salva diretamente, mas se serve de mediadores humanos para fazer-se presente na história. É através de pessoas e acontecimentos, mesmo aparentemente desvinculado de uma perspectiva religiosa, que Deus se revela. Será que percebemos estas novas formas da presença de Deus em nossa história, os novos Moisés que são instrumentos de libertação do nosso povo?

Uma consciência de liberdade. O êxodo se constituiu para os israelitas numa experiência de sua vocação à liberdade o que se tornou mensagem para todo ser humano. Sendo a liberdade um valor intrínseco do ser humano, tal deve ser a bandeira de nossa práxis cristã enquanto igreja instituição e carisma.

Violência. O contrário de amor não é violência, mas o ódio. Assim, amor e violência podem se encontrar numa situação de injustiça generalizada. É o que nos relata o êxodo: Deus age com energia, usa de força para libertar o povo depois do endurecimento do Faraó diante do pedido pacífico de Moisés (Êx. 3.18ss). O recurso é o uso da força, uma vez que a opressão é intolerável. “a injustiça é um bem radical que reclama do amor (ainda que pareça paradoxal) uma situação violenta”. Nossa ação como cristãos deve considerar tudo isso para não incorrer no risco de tornar-se ópio do povo.

O querigma javista em Números ressalta o binômio constância divina X inconstância humana. Enquanto o homem se mantém inconstante em relação a Yahweh, murmurando a despeito de suas bênçãos demonstradas, Yahweh sempre está disposto a perdoar e a abençoar o povo. Basta verificar o episódio de Balaão (22 – 24) com a apostasia de Israel em Peor. O javista aqui nos convida a meditar: existe razão real para murmurarmos?