quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

De Yeishu ben Pandeira aos deuses Tammuz, Osíris, Attis, Dioniso e o deus sol Mithras

Muito interesse tem sido expresso na mídia Judaica acerca da atividade dos judeus, de Jesus e outras organizações missionárias que saem dos seus limites para converterem os Judeus ao Cristianismo. Infelizmente, muitos Judeus estão deficientemente equipados para fazerem face aos missionários Cristãos e aos seus argumentos. Espero que este artigo contribua para remediar esta situação.

Quando nos encontramos com missionários Cristãos, é importante que baseemos os nossos argumentos em fatos corretos. Argumentos baseados em fatos incorretos podem facilmente ser desmascarados e acabarem por fortalecer os argumentos dos missionários.

É pena que tantos bem intencionados professores de Estudos Judaicos tenham inconscientemente ajudado os missionários, ensinando aos alunos Judeus informações incorretas acerca das origens do Cristianismo.

" Jesus foi um rabi famoso do primeiro século, cujo nome Hebreu foi Rabbi Yehoshua. O seu pai foi um carpinteiro chamado José e o nome da sua mãe era Maria".

"Maria engravidou antes de ter casado com José. Jesus nasceu num estábulo em Belém durante um censo Romano. Jesus cresceu em Nazaré e tornou-se um rabi erudito. Viajou por todo o Israel pregando que as pessoas se deviam amar."

Algumas pessoas pensaram que ele era o Messias e ele não negou isso, o que deixou os outros rabis muito zangados. Ele causou tanta controvérsia que o Governador Romano Pôncio Pilatos o mandou crucificar. Foi enterrado num túmulo, e mais tarde o seu corpo foi dado como desaparecido, dado que provavelmente teria sido roubado pelos seus discípulos.

Alguns anos depois de me ter sido ensinado esta aparentemente inocente história, comecei a interessar-me pelas origens do Cristianismo e decidi ler algo mais sobre o "famoso Rabbi Yehoshua". Para grande desânimo meu, descobri que não havia qualquer evidência histórica deste Rabbi Yehoshua. A reivindicação de que Jesus foi um rabi chamado Yehoshua e a de que o seu corpo tinha sido provavelmente roubado, acabaram por se tornar puras conjecturas.

O resto da história não era mais que uma versão diluída da história que os Cristãos acreditam ser parte da religião Cristã, mas que não é suportada por nenhuma fonte histórica legítima. Não havia absolutamente nenhuma evidência histórica que Jesus, José ou Maria tenham existido, já não mencionando que José tenha sido carpinteiro ou que Jesus tenha nascido em Belém e vivido em Nazaré.

Apesar da falta de evidência da existência de Jesus, muitos Judeus fizeram o trágico erro de assumir que a história do Novo Testamento era largamente correta e tenham tentado refutar o Cristianismo experimentando racionalizar os vários milagres que alegadamente ocorreram durante a vida de Jesus e após a sua morte. Numerosos livros foram escritos que tentam esta aproximação ao Cristianismo.

Esta aproximação, no entanto, é desesperadamente falhada e é, de fato perigosa, pois encoraja a crença no Novo Testamento.

Quando os Israelitas foram confrontados com a adoração de Baal, não aceitaram cegamente os antigos mitos Semíticos Ocidentais como História.

Quando os Macabeus foram confrontados com a religião Grega, eles não aceitaram cegamente a mitologia Grega como História.

Porque é que tantos Judeus modernos aceitam cegamente a mitologia Cristã? A resposta a esta questão parece ser que muitos Cristãos não sabem onde a distinção entre História estabelecida e crenças Cristãs reside, tendo passado a confusão deles para a comunidade Judaica.

Passando uma vista de olhos pela seção de religião numa livraria local, recentemente deparei com um livro que pretendia ser uma biografia objetiva de Jesus. Acabou por ser nada mais que um sumário da história usual do Novo Testamento. Até incluía pretensões que os milagres de Jesus tinham sido testemunhados, e que explicações racionais para eles poderiam existir.

Muitos livros de História escritos pelos Cristãos têm uma aproximação similar. Alguns autores Cristãos sugerirão que talvez os milagres não sejam completamente históricos, mas eles, todavia seguem a história do Novo Testamento usual. A ideia de que havia um Jesus histórico real firmou-se tanto na sociedade Cristã que os Judeus que vivem no mundo Cristão começaram a aceitar cegamente esta crença porque nunca a viram ser seriamente desafiada.

Apesar da difundida crença em Jesus, permanece o fato de que não existe um Jesus histórico. Para se perceber o que se quer dizer com o "Jesus histórico", considere o Rei Midas da Mitologia Grega. A história em que o Rei Midas transformava tudo o que tocava em ouro é claramente absurda, mas apesar disto sabemos que houve um verdadeiro Rei Midas. Arqueólogos escavaram o seu túmulo e encontraram os seus restos esqueléticos.

Os Gregos que contaram a história de Midas e o seu toque dourado, pretendiam claramente que o relacionassem com o Midas real. Por isso, apesar da história do toque dourado ser ficcional, a história é acerca de alguém cuja existência é dada como um fato - o "Midas histórico". No caso de Jesus, no entanto, não há uma única pessoa cuja existência seja um fato e que seja também objeto das histórias de Jesus, isto é, não há nenhum Jesus histórico.

Quando confrontados com um missionário Cristão, deve-se imediatamente apontar que a existência de Jesus não foi provada. Quando os missionários argumentam, usualmente apelam mais para as emoções do que para a razão, e tentarão que fique embaraçado ao negares a historicidade de Jesus.

A resposta habitual é qualquer coisa do género de "Negar a existência de Jesus não é tão tolo como negar a existência de Júlio César ou da Rainha Isabel?". Uma variação popular desta resposta, usada especialmente contra os Judeus é "Negar a existência de Jesus não é como negar o Holocausto?".

Deve-se então apontar que há amplas fontes históricas a confirmar a existência de Júlio César, da Rainha Isabel ou de qualquer outro que for nomeado, enquanto que não existe evidência correspondente para Jesus.

Para se ser perfeitamente direto, deve-se ter tempo para fazer alguma investigação sobre as personagens históricas mencionadas pelos missionários e apresentar fortes evidências da sua existência.

Ao mesmo tempo deve-se desafiar os missionários a mostrar evidência similar da existência de Jesus. Deve-se apontar que embora a existência de Júlio César ou da Rainha Isabel, etc. seja universalmente aceita, o mesmo já não acontece com Jesus.

No Extremo Oriente, onde as maiores religiões são o Budismo, o Xintoísmo, o Taoísmo e o Confucionismo, Jesus é considerado como mais um personagem da mitologia religiosa ocidental, a par com Thor, Zeus e Osíris.

A maioria dos Hindus não acredita em Jesus, mas os que acreditam consideram que ele é uma das muitas encarnações do deus Hindu Vishnu. Os muçulmanos certamente acreditam em Jesus, mas rejeitam a história do Novo Testamento e consideram que ele foi um profeta que anunciou a vinda de Maomé. Eles negam explicitamente que ele tenha sido crucificado.

Em resumo, não há uma história de Jesus que seja uniformemente aceita pelo mundo inteiro. É este fato que põe Jesus num nível diferente para personalidades históricas estabelecidas. Se os missionários usarem o "argumento Holocausto", deve-se apontar que o Holocausto está bem documentado e que existem numerosos relatos de testemunhas oculares.

Deve-se apontar que a maior parte das pessoas que negam o Holocausto eram semeadores de ódio anti-semítico com credenciais fraudulentas. Por outro lado, milhões de gente honesta na Ásia, que fazem a maioria da população mundial, não conseguiram ser convencidos pela história Cristã de Jesus na medida que não há nenhuma evidência constrangedora da sua autenticidade.

Os missionários insistirão que a história de Jesus é um fato bem estabelecido e irão argumentar que existem "bastantes evidências que comprovam isso". Deve-se então insistir em ver essa evidência e recusar-se a ouvir enquanto eles não a apresentarem.

Se Jesus não foi um personagem histórico, de onde veio toda a história do Novo Testamento em primeiro lugar?

O nome Hebreu para os Cristãos sempre foi Notzrim. Este nome é derivado da palavra hebraica neitzer, que significa broto ou rebento - um claro símbolo Messiânico. Já havia pessoas chamadas Notzrim no tempo do Rabbi Yehoshua ben Perachyah (c. 100 a.C.)

Apesar de os modernos Cristãos afirmarem que o Cristianismo só começou no primeiro século depois de Cristo, é claro que os Cristãos do primeiro século em Israel se consideravam como sendo a continuação do movimento Notzri, que existia à cerca de 150 anos. Um dos mais notáveis Notzrim foi Yeishu ben Pandeira, também conhecido como Yeishu ha-Notzri.

Os estudiosos do Talmude sempre mantiveram que a história de Jesus começou com Yeishu. O nome Hebreu para Jesus sempre foi Yeishu, e o Hebreu para "Jesus de Nazaré" sempre foi "Yeishu ha-Notzri" (o nome Yeishu é um diminutivo do nome Yeishua, e não de Yehoshua.)

É importante notar que Yeishu ha-Notzri não é um Jesus histórico, uma vez que o Cristianismo moderno nega alguma conexão entre Jesus e Yeishu e, além do mais, partes do mito de Jesus são baseadas em outras personagens históricas além de Yeishu.

Sabemos pouco sobre Yeishu ha-Notzri. Todos os trabalhos modernos que o mencionam são baseados em informação retirada do Tosefta e do Baraitas - escritos feitos ao mesmo tempo do Mishna, mas não contidos neste. Porque a informação histórica respeitante a Yeishu é tão danosa para o Cristianismo, muitos autores Cristãos (e também muitos Judeus) tentaram desacreditar esta informação e inventaram muitos argumentos engenhosos para a explicarem...

O MITO DO JESUS HISTÓRICO II

Muitos dos seus argumentos são baseados em mal entendidos e citações errôneas do Baraitas, e para se ter uma imagem exata de Yeishu devem-se ignorar os autores Cristãos e examinar o Baraitas diretamente.

A insuficiente informação contida no Baraitas é a seguinte: o Rabi Yehoshua ben Perachyah, num dado momento, repeliu Yeishu. As pessoas pensavam que Yeishu era um feiticeiro, considerando que ele tinha levado os Judeus a desencaminharem-se. Como resultado de acusações feitas contra ele (os detalhes das quais não são conhecidos, mas provavelmente envolveriam alta traição), Yeishu foi apedrejado e o seu corpo foi pendurado na véspera da Passagem do Equinócio.

Antes disto, ele foi exibido durante 40 dias com um arauto que ia à sua frente anunciando que ele iria ser apedrejado e chamando por gente para avançar e o defenderem. Todavia, nada foi trazido em seu favor. Yeishu tinha cinco discípulos: Mattai, Naqai, Neitzer, Buni e Todah.

No Tosefta e no Baraitas, o nome do pai de Yeishu é Pandeira ou Panteiri. Estes são formas Hebreu-Aramaicas de um nome Grego. Em Hebreu, a terceira consoante do nome é escrito quer com um dalet, quer com um tet. Comparando com outras palavras Gregas transliteradas para Hebreu mostra que o original Grego devia ter tido um delta como sua terceira consoante, e assim a única possibilidade para o nome Grego do pai é Panderos. Como os nomes Gregos eram comuns entre os Judeus durante a época dos Macabeus, não é necessário assumir que ele era Grego, como alguns autores fizeram.

A relação entre Yeishu e Jesus é corroborada pelo facto de que Mattai e Todah, os nomes de dois dos discípulos de Yeishu, serem as formas originais hebraicas de Mateus e Tadeu, nomes de dois dos discípulos de Jesus na mitologia Cristã.

Os primeiros Cristãos estavam também cientes do nome "ben Pandeira" para Jesus.

O filósofo pagão Celso, que foi famoso pelos seus argumentos contra o Cristianismo, reivindicou em 178 d.C. que tinha ouvido a um Judeu que a mãe de Jesus, Maria, se tinha divorciado do seu marido, um carpinteiro, depois de se ter provado que ela era uma adúltera. Ela vagueou em vergonha e deu à luz Jesus em segredo.

O seu verdadeiro pai era um soldado chamado Pantheras. De acordo com o escritor Cristão Epifânio (c. 315 - 403 d.C.), o apologista Cristão Origen (c. 185 - 254 d.C) tinha afirmado que "Panther" era o apelido de Jacob, o pai de José, o padrasto de Jesus.

É de notar que a afirmação de Origem não é baseada em nenhuma informação histórica. É puramente uma conjectura cujo objetivo era explicar a história de Pantheras de Celso. Essa história é também não histórica.

A reivindicação de que o nome da mãe de Jesus era Maria e a pretensão de que o seu marido era um carpinteiro é tirada diretamente das crenças Cristãs. A afirmação de que o pai verdadeiro de Jesus se chamava Pantheras é baseada numa tentativa incorreta de reconstruir a forma original de Pandeira. Esta reconstrução incorreta foi provavelmente influenciada pelo facto de o nome Pantheras ser encontrado entre os soldados Romanos.

Porque é que as pessoas acreditavam que a mãe de Jesus se chamava Maria e o seu marido se chamava José? Porque é que os não Cristãos acusavam Maria de ser uma adúltera enquanto que os Cristãos acreditavam que ela era virgem? Para responder a essas questões ter-se-á de examinar algumas das lendas à volta de Yeishu.

Não se pode esperar obter a verdade absoluta sobre as origens do mito de Jesus, mas podemos mostrar que existem alternativas razoáveis para a aceitação cega do Novo Testamento.

O nome José para o nome do padrasto de Jesus é fácil de explicar. O movimento Notzri era particularmente popular entre os Judeus Samaritanos. Enquanto que os Fariseus estavam à espera de um Messias que seria um descendente de David, os Samaritanos queriam um Messias que viesse restaurar o reino nortenho de Israel.

Os Samaritanos enfatizavam a sua descendência parcial das tribos de Efraim e Manassés, que descendiam do José da Tora.

Os Samaritanos consideravam-se como sendo "Bnei Yoseph", "filhos de José", e como acreditavam que Jesus tinha sido o seu Messias, teriam assumido que era um "filho de José". A população de língua Grega, que tinha pouco conhecimento de Hebreu e das verdadeiras tradições Judaicas, poderia facilmente ter mal entendido este termo e presumir que José era o nome verdadeiro do pai de Jesus.

Esta conjectura é corroborada pelo fato que de acordo com o Evangelho segundo S. Mateus, o pai de José se chama Jacob, tal como o do José da Tora. Mais tarde, outros Cristãos que seguiam a idéia de que o Messias seria um descendente de David, tentaram seguir o curso de José até David. Chegaram a duas genealogias contraditórias para ele, uma registrada no Evangelho segundo S. Mateus e a outra no Evangelho segundo S. Lucas.

Quando a ideia de que Maria era virgem desenvolveu, o mítico José foi relegado para a posição de ser simplesmente o seu marido e o padrasto de Jesus.

Para se perceber de onde a história de Maria veio, teremos que nos virar para outra personagem histórica que contribuiu para o mito de Jesus, e que é Ben Stada. Toda a informação que temos sobre Ben Stada advém novamente do Tosefta e do Baraitas. Há ainda menos informação sobre ele do que sobre Yeishu.

Algumas pessoas acreditavam que ele tinha trazido encantamentos do Egito num corte da sua carne, outros pensavam que ele era um louco. Ele era um trapaceiro e foi apanhado pelo método da testemunha escondida, sendo apedrejado em Lod.

No Tosefta, Ben Stada é chamado ben Sotera ou ben Sitera. Sotera parece ser a forma Hebreu-Aramaica do nome Grego Soteros. As formas "Sitera" e "Stada" parecem ter surgido como más interpretações e erros de soletração ( yod substituindo vav e o dalet a substituir reish).

Como havia tão pouca informação acerca de ben Stada, muitas conjecturas surgiram sobre quem ele era. É conhecido da Gemara que ele era confundido com Yeishu.

Isto provavelmente resultou do facto de que ambos foram executados por ensinamentos traidores e estarem associados à feitiçaria. As pessoas que confundiam ben Stada com Yeishu tiveram que explicar o porquê dele também ser chamado Ben Pandeira. Como o nome "Stada" se parece com a expressão aramaica "stat da", que significa "ela desencaminhou-se", pensou-se que "Stada" se referia à mãe de Yeishu e que ela era uma adúltera.

Consequentemente, as pessoas começaram a pensar que Yeishu era o filho ilegítimo de Pandeira. Estas idéias são de facto mencionadas na Gemara e são provavelmente mais antigas. Como Bem Stada viveu nos tempos Romanos e o nome Pandeira se assemelhava com o nome Pantheras encontrado entre os soldados Romanos, assumiu-se que Pandeira tinha sido um soldado Romano estacionado em Israel. Isto certamente explica a história mencionada por Celso.

O Tosefta menciona um caso famoso de uma mulher chamada Miriam bat Bilgah que casou com um soldado Romano. A idéia de que Yeishu tinha nascido de uma mulher judia que tinha tido um caso com um soldado Romano provavelmente resultou da confusão entre a mãe de Yeishu e esta Míriam.

O nome "Míriam" é, claro, a forma original do nome "Maria". É de facto conhecido através do Gemara que algumas das pessoas que confundiam Yeishu com ben Stadta acreditavam que a mãe de Yeishu era "Míriam, a cabeleireira de mulheres".

A história de que Maria (Míriam), mãe de Jesus, era uma adúltera, era certamente não aceitável para os primeiros Cristãos. A história da virgem que deu à luz foi provavelmente inventada para limpar o nome de Maria. Os primeiros Cristãos não inventaram isto do nada. Histórias de virgens que davam à luz eram comuns nos mitos pagãos. As seguintes personagens mitológicas eram tidas como nascidas de virgens fecundadas divinamente: Rómulo e Remo, Perseu, Zoroastro, Mitra, Osíris-Aion, Agdistis, Attis, Tammuz, Adónis, Korybas, Dioniso.

As crenças pagãs em uniões entre deuses e mulheres, não considerando se elas eram virgens ou não, é ainda mais comum. Acreditava-se que muitas personagens da mitologia pagã eram filhas de pais divinos e mães humanas. A crença Cristã de que Jesus era o filho de Deus nascido de uma virgem é típica de uma superstição Greco-Romana.

O filósofo Judeu Phílon de Alexandria (c. 25 a.C. - 50 d.C.), avisou contra a superstição bastante espalhada da crença de uniões entre homens deuses e mulheres humanas que retornavam a mulher a um estado de virgindade.

O deus Tammuz, adorado pelos pagãos no norte de Israel, era dado como nascido da virgem Myrrha. O nome Myrrha assemelha-se superficialmente a "Maria/Míriam", e é possível que esta particular história de uma virgem que deu à luz tenha influenciado a história de Maria mais que as outras. Tal como Jesus, Tammuz foi sempre chamado Adon, que significa "Senhor" (A personagem Adónis da mitologia Grega é baseada em Tammuz.) Como veremos mais tarde, a relação entre Jesus e Tammuz vai mais longe que isto.

A idéia de que Maria tinha sido uma adúltera nunca desapareceu completamente na mitologia Cristã. Em vez disso, a personagem de Maria foi dividida em duas: Maria, a mãe de Jesus, que se acreditava ser uma virgem, e Maria Magdalena, que se acreditava ser uma mulher de má fama.

A idéia de que a personagem de Maria Madalena é também derivada de Míriam, a mítica mãe de Yeishu, é corroborada pelo fato de o estranho nome "Magdalena" se assemelhar claramente ao termo aramaico ”mgadala nshaya", que significa "cabeleireira de mulheres".

Como se mencionou anteriormente, acreditava-se que a mãe de Yeishu era "Míriam, a cabeleireira de mulheres". Porque os Cristãos não sabiam o que o nome "Magdalena" significava, mais tarde conjecturaram que isso significava que ela tinha vindo de um lugar chamado Magdala, a oeste do lago Kinneret.

A idéia das duas Marias assentava bem na forma pagã de pensamento. A imagem de Jesus sendo seguido pelas duas Marias lembra bastante Dioniso sendo seguido por Deméter e Perséfone.

A Gemara contém uma lenda interessante acerca de Yeishu, que tenta elucidar o Baraitas, que diz que o Rabi Yehoshua ben Perachyah repeliu Yeishu. A lenda afirma que quando o rei Asmoneu Alexandre Janeus estava a matar os Fariseus, o Rabi yehoshua e Yeishu fugiram para o Egito. Quando voltaram, chegaram a uma estalagem.

A palavra aramaica "aksanya" tanto significa "estalagem" como "estalajadeiro(a)". O Rabi Yehoshua observou o quão bela a "arksanya" era (referindo-se à estalagem.) Yeishu (referindo-se à estalajadeira) replicou que os olhos dela eram muito estreitos. O Rabi Yehoshua zangou-se bastante com Yeishu e excomungou-o. Yeishu pediu que o perdoasse muitas vezes, mas o Rabi Yehoshua não o perdoava. Uma vez, quando o Rabi Yehoshua estava a recitar a Shema, Yeihsu veio ter com ele. O Rabi fez-lhe um sinal de que devia esperar.

Yeishu não entendeu e pensou que estava a ser rejeitado novamente. Ele zombou do Rabi Yehoshua fazendo um tijolo e adorando-o. O Rabi Yehoshua disse-lhe para ele se arrepender, mas ele recusou, dizendo que tinha aprendido com ele que a alguém que peca e leva muitos a pecar não é dada a oportunidade de se arrepender.

Esta história, que começa com os eventos da estalagem, é bastante semelhante com outra lenda em que o protagonista não é o Rabi Yehoshua, mas o seu discípulo Yehuda ben Tabbai. Nesta lenda, Yeishu não é nomeado. Pode-se então questionar se Yeishu foi realmente ao Egito ou não.

É possível que Yeishu tenha sido confundido com algum outro discípulo do Rabi Yehoshua ou do Rabi Yehuda.

A confusão pode ter resultado de Yeishu ser confundido com ben Stada, que tinha regressado do Egito. Por outro lado, Yeishu poderia ter mesmo fugido para o Egito e regressado, e isto, por seu turno, poderia ter contribuído para a confusão entre Yeishu e ben Stada. Qualquer que seja o caso, a crença que Yeishu tenha fugido para o Egipto para escapar à matança de um rei cruel parece ser a origem da crença Cristã de que Jesus e a sua família fugiram para o Egito para escapar ao Rei Herodes.

Como os primeiros Cristãos acreditavam que Jesus tinha vivido nos tempos Romanos é natural que tenham confundido o rei cruel que tinha querido matar Jesus com Herodes, pois não havia outros reis cruéis adequados durante o período Romano.

Yeishu era adulto no tempo em que os Rabis fugiram de Alexandre Janeus; porque é que os Cristãos acreditavam que Jesus e a sua família tinham fugido para o Egito quando Jesus era infante? Porque é que os Cristãos acreditavam que o rei Herodes tinha ordenado que todos os bebês nascidos em Belém fossem mortos, quando não há evidência histórica disso? Para responder a estas questões temos novamente que recorrer à mitologia pagã.

O tema de uma criança divina ou semidivina que é temida por um rei cruel é muito comum na mitologia pagã. A história usual é que o rei cruel recebe uma profecia de que uma certa criança vai nascer e vai usurpar o trono. Em algumas histórias a criança é nascida de uma virgem e usualmente é filho de um deus. A mãe da criança tenta escondê-lo.

O rei normalmente ordena a matança de todos os bebês que possam ser o profetizado rei. Exemplos de mitos que seguem este enredo são as histórias de nascimento de Rómulo e Remo, Perseu, Krishna, Zeus e Édipo.

Apesar de os literalistas da Torá não gostarem de o admitir, a história do nascimento de Moisés também se assemelha à destes mitos (alguns dos quais afirmam que a mãe pôs a criança num cesto e o colocou num rio.) Existiam provavelmente várias histórias destas a circular no Levante que se perderam.

O mito Cristão da matança dos inocentes por Herodes é simplesmente uma versão Cristã deste tema. O enredo era tão conhecido que um sábio Midrashic não resistiu a usá-lo para um relato apócrifa do nascimento de Abraão.

Os primeiros Cristãos acreditavam que o Messias iria nascer em Belém. Esta crença é baseada numa má interpretação de Miquéias_5.2, que simplesmente nomeia Belém como a cidade onde a linhagem Davidiana começou.

Como os primeiros Cristãos acreditavam que Jesus era o Messias, eles automaticamente acreditaram que ele tinha nascido em Belém. Mas porque é que os Cristãos acreditavam que ele tinha vivido em Nazaré? A resposta é bem simples.

Os primeiros Cristãos de língua Grega não sabiam o que a palavra "Nazareno" significava. A forma primitiva Grega desta palavra é "Nazoraios", que deriva de "Natzoriya", o equivalente aramaico do Hebreu "Notzri" (lembre-se que "Yeishu ha-Notzri" é o original Hebreu para "Jesus, o Nazareno".)

Os primeiros Cristãos conjecturaram que "Nazareno" significava uma pessoa de Nazaré, e assim assumiu-se que Jesus tinha vivido em Nazaré.

Ainda hoje, os Cristãos alegremente confundem as palavras hebraicas "Notzri" (Nazareno, Cristão), "Natzrati" (Nazareno, natural de Nazaré) e "nazir" (nazarite), todas as quais têm significados completamente diferentes.

A informação no Talmude (que contém o Baraitas e o Gemara) acerca de Yeishu e ben Stada é tão danosa para o Cristianismo que os Cristãos sempre tomaram medidas drásticas contra ela. Quando os Cristãos primeiro descobriram a informação, tentaram imediatamente apagá-la censurando o Talmude.

A edição de Basileia do Talmude (c. 1578 - 1580) tinha todas as passagens relacionadas com Yeishu e ben Stada apagadas pelos Cristãos. Ainda hoje, as edições do Talmude usadas pelos escolares Cristãos não têm estas passagens!

Durante as primeiras décadas deste século, ferozes batalhas acadêmicas irromperam violentamente entre escolares Cristãos e Ateus acerca das verdadeiras origens do Cristianismo. Os Cristãos foram forçados a enfrentarem a evidência Talmudica. Não podiam ignorar mais isso e assim, em vez disso, decidiram atacá-lo. Afirmaram que o Yeishu Talmudico era uma distorção do "Jesus histórico". Afirmaram que o nome "Pandeira" era simplesmente uma tentativa hebraica para pronunciar a palavra Grega para virgem - "parthenos". Apesar de haver uma parecença superficial entre as palavras, temos de notar que para "Pandeira" derivar de "parthenos", o "n" e o "r" têm de trocar de posições.

No entanto, os Judeus não sofriam de nenhum impedimento linguístico que causasse isto! A resposta Cristã é que possivelmente os Judeus alteram propositadamente a palavra "parthenos" para os nomes "Pantheras" (encontrado na história de Celso) ou para "pantheros", que significa pantera, e "Pandeira" é derivado da palavra deliberadamente alterada. Este argumento também falha, pois a terceira consoante da palavra "parthenos" alterada e inalterada é theta.

Esta letra é sempre transliterada pela letra hebraica taw, cuja pronunciação durante os tempos clássicos muito se assemelhava a essa letra Grega. Contudo, o nome "Pandeira" nunca é soletrado com um taw, mas com um dalet ou um tet, o que mostra que a forma original Grega tinha um delta como sua terceira consoante, e não um theta.

O argumento Cristão pode-se também voltar contra si: talvez os Cristãos deliberadamente alterassem "Pantheras" para "parthenos" quando inventaram a história da virgem que deu à luz. Também é de notar que a semelhança entre “Pantheras" (ou "pantheros") é muito menor quando escrita em Grego, pois na formação original Grega as suas segundas vogais são completamente diferentes.

Os Cristãos também não aceitaram que Maria Magdalena estivesse ligada a Miriam, a alegada mãe de Yeishu no Talmude. Eles argumentaram que o nome "Magdalena” ·significa uma pessoa de Magdala e que os Judeus inventaram "Miriam, a cabeleireira de mulheres" (mgdala nshaya) ou para zombar dos Cristãos, ou porque eles próprios se equivocaram quanto ao nome "Magdalena".

Este argumento também é falso. Primeiramente, ignora a gramática Grega: o Grego correcto para "de Magdala" é “Magdales“, e o Grego correcto para uma pessoa de Magdala é ”Magdalaios". A raiz Grega original para "Magdalena" é "Magdalen -", com um "n" distinto mostrando que a palavra não tem nada a ver com Magdala. Em segundo lugar, Magdala só obteve o seu nome após os Evangelhos terem sido escritos.

Antes disso era chamada Magadan ou Dalmanutha (apesar de "Magadan" ter um "n", falta-lhe o "l", e portanto não pode ser a derivação de "Magdalena".) De fato, a comunidade Cristã alterou o nome para Magdala às ruínas desta área porque acreditavam que Maria Magdalena tinha vindo de lá.

Os Cristãos também afirmam que a palavra "Notzri" significa uma pessoa de Nazaré. Isto é, claro, falso, pois a palavra hebraica para Nazaré é "Natzrat" e uma pessoa de Nazaré é uma "Natzrati". O nome "Notzri" não tem a letra taw de "Natzrat", e assim não pode derivar daí.

Os Cristãos argumentam que talvez o nome aramaico para Nazaré fosse "Natzarah" ou "Natzirah" (como o moderno nome árabe), o que explica o taw que falta em "Notzri". Isto também não tem senso, pois a palavra aramaica para alguém da Nazaré seria "Natzaratiya" ou "Natziratyia" (com um taw, pois a terminação feminina "-ah" tornar-se-ia "-at-" quando o sufixo "-yia" é adicionado), e além do mais, a forma aramaica não seria usada em Hebreu.

Os Cristãos também apareceram com outros argumentos variados que podem ser desmascarados uma vez que eles confundem as palavras hebraicas "Notzri" e "nazir", ou ignoram o fato de que "Notzri" é a primitiva forma da palavra "Nazareno".

Para resumir, todos os argumentos Cristãos foram baseados em mudanças fonéticas e formas gramaticais impossíveis, e foram, consequentemente, desmistificadas. Além do mais, apesar das lendas na Gemara não possam ser tidas como fatos, a evidência no Baraitas e no Tosefta respeitante a Yeishu pode levar-nos atrás diretamente até Yehoshua Ben Perachyah, Shimon ben Shetach e Yehuda bem Tabbai, enquanto que a evidência no Baraitas e no Tosefta respeitante a ben Stada leva-nos até ao Rabi Eliezer ben Hyrcanus e seus discípulos, que foram contemporâneos de ben Stada.

Consequentemente, esta evidência pode ser encarada como historicamente certa. Por esta razão os Cristãos modernos não mais atacam o Talmude, mas em vez disso negam qualquer relação entre Jesus e Yeishu ou Ben Stada. Eles desmistificam as similaridades como puras coincidências. No entanto, ainda tem de se estar atento aos falsos ataques contra o Talmude, pois muitos livros Cristãos ainda os mencionam e podem ressurgir de tempos em tempos.

Muitas partes da história de Jesus não são baseadas em Yeishu ou Ben Stada. A maior parte das denominações Cristãs afirma que Jesus nasceu a 25 de Dezembro.

Originalmente, os Cristãos orientais acreditavam que ele tinha nascido a 6 de Janeiro. Os Cristãos armênios ainda seguem esta primitiva crença enquanto que muitos Cristãos consideram que essa é a data da visita dos Magos. Como já foi apontado anteriormente, Jesus foi provavelmente confundido com Tammuz, nascido da virgem Myrrha. Sabe-se que nos tempos Romanos os deuses Tammuz, Aion e Osíris eram identificados.

Dizia-se que Osíris-Aion tinha nascido da virgem Geb a 6 de Janeiro, e isto explica a data primitiva para o Natal. Geb era, às vezes, representada como uma vaca sagrada e o seu templo era um estábulo, que é provavelmente a origem da crença Cristã de que Jesus nasceu num estábulo.

Embora alguns possam pensar que esta afirmação é forçada, é tido como um facto que algumas facções primitivas Cristãs consideravam Jesus e Osíris nos seus escritos. A data de 25 de Dezembro para o Natal era originalmente a data pagã do aniversário do deus sol, cujo dia da semana é ainda conhecido como Sun_day.

O halo de luz que é usualmente mostrado à volta da face de Jesus e dos santos Cristãos é outro conceito tirado do deus sol.

O tema da tentação por uma criatura diabólica também é encontrado na mitologia pagã. A história da tentação de Jesus por Satã, em particular, parece-se com a tentação de Osíris pelo deus diabólico Set na mitologia egípcia.

Já tínhamos sugerido que havia uma relação entre Jesus e o deus pagão Dioniso. Como Dioniso, o infante Jesus foi posto com fraldas e colocado numa manjedoura; como Dioniso, Jesus podia tornar água em vinho; como Dioniso, Jesus viajou de burro e deu de comer a uma multidão num ermo; como Dioniso, Jesus sofreu e foi objeto de escárnio.

Alguns primitivos Cristãos afirmavam que Jesus tinha de facto nascido, não num estábulo, mas numa caverna - como Dioniso. De onde é que a história de que Jesus foi crucificado veio? Parece ter resultado de várias origens. Em primeiro lugar, houve três personagens históricos durante o período Romano que as pessoas pensavam ser o Messias e que foram crucificadas pelos Romanos, a saber: Yehuda da Galileia (6 d.C.), Theudas (44 d.C.) e Benjamim, o Egípcio (60 d.C.).

Dado que se pensava que estas três pessoas eram o Messias, elas foram naturalmente confundidas com Yeishu e ben Stada. Yehuda da Galileia tinha pregado na Galileia e tinha arranjado muitos seguidores antes de ser crucificado pelos Romanos. A história do ministério de Jesus na Galileia parece ter sido baseada na vida de Yehuda da Galileia. Esta história e a crença de que Jesus viveu em Nazaré na Galileia reforçaram-se mutuamente.

A crença de que alguns dos discípulos de Jesus foram mortos em 44 d.C. por Agripa parece ser baseado no destino dos discípulos de Theuda. Dado que ben Stada tinha vindo do Egipto é natural que ele tenha sido confundido com Benjamim, o Egípcio. Eles foram também, provavelmente, contemporâneos.

Alguns escritores modernos até sugeriram que eles foram a mesma pessoa, apesar disso não ser possível, pois as histórias das suas mortes são completamente diferentes. Nos Atos dos Apóstolos do Novo Testamento, que usa o livro de Flávio Josefo "Antiguidades Judaicas" (93 - 94 d.C.) como referência, é deixado claro que o autor considerou Jesus, Yehuda da Galileia, Theudas e Benjamim, o Egípcio como quatro pessoas diferentes.

No entanto, naquela altura já era muito tarde para anular as confusões que já tinham acontecido antes do Novo Testamento ter sido escrito, e a idéia da crucificação de Jesus tinha-se tornado uma parte integral do mito.

O MITO DO JESUS HISTÓRICO III

Em segundo lugar, surgiu a idéia de que Jesus tinha sido executado na véspera da passagem do equinócio.

Esta crença é aparentemente baseada na execução de Yeishu. A passagem ocorre quando do equinócio da Primavera, um evento considerado importante pelos astrólogos durante o Império Romano. Os astrólogos pensavam nesta época como a época do cruzamento de dois círculos celestes astrológicos, e este evento era simbolizado por uma cruz.

Deste modo, acreditava-se que Jesus tinha morrido "na cruz". O mau entendimento deste termo por aqueles que não eram iniciados nos cultos astrológicos foi outro fator que contribuiu para a crença de que Jesus tenha sido crucificado.

Num dos primeiros documentos Cristãos (os "Ensinamento dos Doze Apóstolos"), não há menção de Jesus ter sido crucificado, e o sinal de uma cruz no céu é usado para representar a chegada de Jesus. É de notar que o centro da superstição astrológica no Império Romano foi a cidade de Tarso na Ásia Menor - o lugar de onde o lendário missionário S. Paulo veio.

A ideia de que uma estrela especial tenha anunciado o nascimento de Jesus e que um eclipse solar tenha corrido na sua morte é típica da superstição astrológica Tarsiana.

O terceiro fator que contribuiu para a história da crucificação é, outra vez, a mitologia pagã. O tema de uma divindade ou semi-divindade sendo sacrificada contra uma árvore, poste ou cruz, e depois ressuscitando, é muito comum na mitologia pagã.

Foi encontrado nas mitologias de todas as civilizações ocidentais, estendendo-se desde um extremo oeste como a Irlanda até um extremo este como a Índia. Em particular, é encontrado nas mitologias de Osíris e Attis, ambos os quais eram muitas vezes identificados com Tammuz. Osíris acabou com os seus braços esticados numa árvore tal como Jesus na cruz.

Esta árvore era, às vezes, mostrada como um poste com dois braços esticados - o mesmo aspecto da cruz Cristã. Na adoração de Serapis (uma composição de Osíris e Apis), a cruz era um símbolo religioso. De facto, o símbolo da "cruz Latina" Cristã parece ser baseado diretamente no símbolo da cruz de Osíris e Serapis.

Os Romanos nunca usaram esta cruz tradicional Cristã para as crucificações, eles usavam cruzes com a forma de um X ou de um T. O hieróglifo de uma cruz numa colina era associada a Osíris. Este hieróglifo representava o "Good One", em Grego "Chrestos", um nome aplicado a Osíris e outros deuses pagãos.

A confusão deste nome com "Christos" (= Messias, Cristo) reforçou a confusão entre Jesus e os deuses pagãos.

No equinócio da Primavera, os pagãos do norte de Israel celebravam a morte e ressurreição de Tammuz-Osíris, nascido de uma virgem. Na Ásia Menor (onde as primeiras igrejas Cristãs se estabeleceram), uma celebração similar era feita para Attis, também nascido de uma virgem. Attis era mostrado como morrendo contra uma árvore, sendo enterrado numa gruta e depois ressuscitando ao terceiro dia.

Agora se vê de onde a história da ressurreição de Jesus veio. Na adoração de Baal, acreditava-se que Baal tinha enganado Mavet (o deus da morte) aquando do equinócio da Primavera.

Ele fez-se passar por morto e depois apareceu vivo. Ele teve sucesso neste ardil dando o seu único filho como sacrifício.

A ocorrência da Passagem na mesma época do ano que as "Páscoas" pagãs não é coincidência. Muitos dos costumes da Pessach foram designados como alternativas Judaicas aos costumes pagãos. Os pagãos acreditavam que quando o seu deus da natureza (como Tammuz, Osíris ou Attis) morria e ressuscitava, a sua vida ia para as plantas usadas pelo homem como comida.

O matza feito da colheita da Primavera era o seu novo corpo e o vinho das uvas era o seu novo sangue. No Judaísmo, o matza não era usado para representar o corpo de um deus, mas o pão de homem pobre que os Judeus comeram antes de saírem do Egito. Os pagãos usavam o sacrifício pascal para representar o sacrifício de um deus ou do seu filho único, mas o Judaísmo usou-o para representar a refeição comida antes de saírem do Egito. Em vez de contarem histórias de Baal a sacrificar o seu filho varão a Mavet, os Judeus contavam como o mal'ach ha-mavet (o anjo da morte) matou os filhos varões dos Egípcios. Os pagãos comiam ovos para representar a ressurreição e renascimento do seu deus da natureza, mas o ovo no seder representa o renascimento do povo Judeu ao escapar do cativeiro no Egito.

Quando os primeiros Cristãos se deram conta das similaridades entre os costumes da Pessach e os costumes pagãos, eles deram a volta completa e converteram os costumes da Pessach de volta às suas velhas interpretações pagãs.

A seder tornou-se a última ceia de Jesus, similar à última ceia de Osíris, comemorada no equinócio da Primavera. O matza e o vinho tornaram-se novamente no corpo e sangue de um falso deus, desta vez Jesus. Os ovos da Páscoa são novamente comidos para comemorar a ressurreição de um "deus" e também o "renascimento" obtido pela aceitação do seu sacrifício na cruz.

O mito da última ceia é particularmente interessante. Como foi mencionado, a ideia básica da última ceia ocorrer no equinócio vernal vem da história da última ceia de Osíris. Na história Cristã, Jesus está presente com doze apóstolos. De onde é que a história dos doze apóstolos veio? Parece que na primeira versão a história era entendida como uma alegoria. A primeira vez que doze apóstolos são mencionados é no documento conhecido como "Ensinamentos dos Doze Apóstolos".

Este documento aparentemente teve origem num documento sectário Judeu escrito no primeiro século D.C., mas foi adaptado pelos Cristãos, que o alteraram substancialmente e adicionaram-lhe ideias Cristãs. Nas primeiras versões é claro que os "doze apóstolos" são os doze filhos de Jacob representando as doze tribos de Israel.

Os Cristãos, mais tarde, consideraram os "doze apóstolos" como sendo alegóricos discípulos de Jesus. Na mitologia egípcia, Osíris foi traído na sua última ceia pelo deus diabólico Set, que os Gregos identificavam como Typhon. Esta parece ser a origem da ideia de que o traidor de Jesus estava presente na sua última ceia.

A ideia de que este traidor se chamava "Judas" vem do tempo em que os doze apóstolos eram ainda entendidos como sendo os filhos de Jacob. A ideia de Judas (= Judah, Yehuda) traindo Jesus (o "filho" de José) é uma forte reminiscência da história do José da Tora sendo traído pelos seus irmãos com Yehuda como líder da traição.

Esta alegoria seria particularmente apelativa para os Samaritanos Notzrim, que se consideravam filhos de José, traídos pelos Judeus ortodoxos (representados por Judas/Yehuda.)

No entanto, a história dos doze apóstolos perdeu a sua interpretação alegórica original, e os Cristãos começaram a pensar que os "doze apóstolos" eram doze pessoas reais que seguiram Jesus. Os Cristãos tentaram encontrar nomes para estes doze apóstolos. Mateus e Tadeu foram baseados em Mattai e Todah, dois dos discípulos de Yeishu.

Um ou os dois apóstolos chamados Jacobus (Tiago) é possivelmente baseado no Jacob de Kfar Sekanya, um primitivo Cristão conhecido do rabi Eliezer ben Hyrcanus, mas isto é apenas uma suposição. Como já vimos, a personagem de Judas é maioritariamente baseado no Judah da Tora, mas poderá haver também uma ligação com um contemporâneo de Yeishu, Yehuda ben Tabbai, o discípulo do Rabi Yehoshua ben Perachyah.

Como já foi mencionado, a ideia do traidor na última ceia é derivada da mitologia de Osíris, que foi traído por Set-Typhon. Set-Typhon tinha cabelo ruivo, e esta é provavelmente a origem da afirmação de que Judas tinha o cabelo ruivo. Esta ideia levou ao retrato estereotipo Cristão de que os Judeus têm cabelo ruivo, não obstante o fato de que, na realidade, o cabelo ruivo é de longe mais comum entre Arianos do que entre Judeus.

O apelido "Iscariotes" é muitas vezes atribuído a Judas. Em algumas partes onde os Novos Testamentos Ingleses têm "Iscariotes", o texto Grego realmente tem "apo Kariotou", que significa "de Karyot". Karyot era o nome de uma cidade em Israel, provavelmente o moderno lugar conhecido em árabe como Karyatein.

Portanto, vê-se que o nome Iscariotes é derivado do Hebreu "ish Karyot", que significa "homem de Karyot". Isto é, com efeito, a compreensão aceite hoje em dia, pelos Cristãos, do nome. No entanto, no passado, os Cristãos entendiam mal este nome, e nasceram lendas de que Judas era da cidade de Sychar, que ele era um membro do partido extremista conhecido como Sicarii, e que ele era da tribo de Issacar.

O mais interessante mal entendimento do nome é a sua primitiva confusão com a palavra scortea, que significa uma bolsa de couro. Isto levou ao mito do Novo Testamento de que Judas carregava uma tal bolsa, o que por sua vez levou à crença de que ele era o tesoureiro dos apóstolos.

O apóstolo Pedro parece ser uma personagem largamente ficcional. De acordo com a mitologia Cristã, Jesus escolheu-o para ser o "guardião das chaves do reino dos céus". Isto é claramente baseado na divindade pagã egípcia Petra, que era o porteiro do céu e da vida após a morte, governados por Osíris. Temos também de duvidar da história de Lucas "o médico", que era suposto ser amigo de Paulo.

O original Grego para Lucas é Lycos, que era um outro nome para Apolo, o deus da cura.

João Baptista é largamente baseado numa personagem histórica que praticava imersão ritual na água como um símbolo físico de arrependimento. Ele não realizava baptismos sacramentais ao estilo Cristão para purificar as almas das pessoas - tal ideia era totalmente estranha ao Judaísmo. Ele foi condenado à morte por Herodes Antipas, que temeu que ele estivesse prestes a começar uma rebelião. O nome de João em Grego era "Ioannes", e em latim "Johannes".

Apesar de estes nomes serem usualmente usados para o nome Hebreu Yochanan, é improvável que este tenha sido o verdadeiro nome Hebreu de João. "Ioannes" assemelha-se a "Oannes", o nome Grego para o deus pagão Ea.

Oannes era o "Deus da Casa de Água". Baptismos sacramentais para purificação mágica das almas era uma prática que aparentemente originou a adoração de Oannes.

A mais provável explicação do nome de João e a sua relação com Oannes é a de que João provavelmente ostentou o apelido "Oannes", dado que ele praticava o baptismo, que tinha adaptado do culto de Oannes. O nome "Oannes" foi mais tarde confundido com "Ioannes" (de facto, a lenda do Novo Testamento que diz respeito a João providencia uma pista de que o seu verdadeiro nome talvez tenha sido Zacarias.)

É sabido, dos escritos de Flávio Josefo, que o João histórico rejeitou a interpretação pagã do baptismo como "purificação de almas". Os Cristãos, no entanto, voltaram a esta interpretação pagã original.

O deus Oannes era associado com a constelação do Capricórnio. Tanto Oannes como a constelação do Capricórnio eram associados com a água (a constelação é suposto representar uma mítica criatura marítima com o corpo de peixe e as partes dianteiras de um bode.) Já vimos que a Jesus é dado a mesma data de nascimento do deus sol (25 de Dezembro), quando o sol está na constelação de Capricórnio.

Os pagãos pensavam deste período como um onde o deus sol imerge nas águas de Oannes e emerge renascido (o Solstício de Inverno, quando os dias começam a ficar maiores, ocorre perto de 25 de Dezembro.) Este mito astrológico é aparentemente a origem da história de que Jesus foi baptizado por João.

Provavelmente começou como uma história astrológica alegórica, mas parece que o deus Oannes mais tarde foi confundido com a personagem histórica de apelido Oannes (João.)

A crença de que Jesus tinha conhecido João contribuiu para a crença de que a pregação e crucificação de Jesus tenha ocorrido quando Pôncio Pilatos era procurador da Judeia. É de notar que muitas das datas para Jesus citadas pelos Cristãos são completamente absurdas. Jesus foi em parte baseado em Yeishu e Bem Stada, que provavelmente viveram com mais de um século de diferença.

Ele foi também baseado nos três falsos Messias, Yehuda, Theudas e Benjamim, que foram crucificados pelos Romanos em várias épocas diferentes. Outro fato que contribuiu para a datação confusa de Jesus foi que Jacob de Kfar Sekanya e provavelmente também outros Notzrim usavam expressões como "assim fui ensinado por Yeishu ha-Notzri", apesar dele não ter sido ensinado por Yeishu em pessoa.

Sabemos da Gemara que o testemunho de Jacob levou o Rabi Eliezer Ben Hyrcanus a incorretamente concluir que Jacob era um discípulo de Yeishu. Isto sugere que havia rabis que não sabiam que Yeishu tinha vivido nos tempos Asmoneus.

Mesmo depois dos Cristãos situarem Jesus no primeiro século D.C., a confusão continuou entre os não-Cristãos. Houve um contemporâneo do Rabi Akiva chamado Pappus Ben Yehuda que costumava trancar a sua esposa infiel. Sabemos da Gemara que algumas pessoas que algumas pessoas que confundiam Yeishu e ben Stada confundiam a mulher de Pappus com Míriam, a infiel esposa de Yeishu. Isto iria situar Yeishu mais de dois séculos depois do que ele atualmente viveu!

A história do Novo Testamento confunde tantos períodos históricos que não há maneira de a reconciliar com a História. O ano tradicional do nascimento de Jesus é 1 D.C. Era suposto Jesus não ter mais de dois anos de idade quando Herodes ordenou a matança dos inocentes. No entanto, Herodes morreu antes de 12 de Abril do ano 4 A.C..

Isto levou alguns Cristãos a redatarem o nascimento de Jesus entre 6 - 4 A.C.. No entanto, Jesus era também suposto ter nascido durante o censos de Quirinius. Este censos teve lugar depois de Arquelau ter sido deposto em 6 D.C., dez anos depois da morte de Herodes. Era suposto Jesus ter sido baptizado por João logo depois de João ter começado a baptizar e a pregar, no décimo quinto ano do reinado de Tibério, i.e., 28 - 29 D.C., quando Pôncio Pilatos foi governador da Judeia, i.e., 26 - 36 D.C.

De acordo com o Novo Testamento, isto também aconteceu quando Lysanias foi tetrarca de Abilene e Anás e Caifás eram sumos sacerdotes. Mas Lysanias Abilene de c. 40 A.C. até ser executado em 36 A.C. por Marco António, cerca de 60 anos antes da data para Tibério, e cerca de 30 anos antes do suposto nascimento de Jesus! Além do mais, nunca houve dois sumos sacerdotes juntos, em particular, Anás não foi sumo sacerdote juntamente com Caifás.

Anás foi retirado do ofício de sumo sacerdote em 15 D.C., depois de deter o ofício por alguns nove anos. Caifás só se tornou sumo sacerdote em 18 D.C., cerca de três anos depois de Anás (ele deteve este ofício durante cerca de 18 anos, e assim as suas datas são consistentes com Tibério e Pôncio Pilatos, mas não com Anás ou Lysanias.)

Apesar dos atos dos apóstolos apresentarem Yehuda da Galileia, Theudas e Jesus como três pessoas diferentes, situa incorretamente Theudas (crucificado no ano 44 D.C.) antes de Yehuda, que menciona corretamente como tendo sido crucificado durante o censos (6 D.C.)

Muitos destes absurdos cronológicos parecem ser baseados em leituras mal interpretadas e mal entendimentos do livro de Flávio Josefo "Antiguidades Judaicas", que foi usado como referência pelo autor do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos.

A história do julgamento de Jesus é também altamente suspeita. Tenta claramente aplacar os Romanos enquanto difama os Judeus. O Pôncio Pilatos histórico era arrogante e déspota. Ele odiava os Judeus e nunca delegou nenhuma autoridade neles. No entanto, na mitologia Cristã, ele é retractado como um governante preocupado que se distancia das acusações contra Jesus e que foi forçado a obedecer às pretensões dos Judeus.

De acordo com a mitologia Cristã, em cada Passagem os Judeus pediriam a Pilatos para libertar um qualquer criminoso que eles escolhessem. Isto é, claro, uma mentira espalhafatosa. Os Judeus nunca tiveram o costume de libertar criminosos culpados na Passagem ou em qualquer outra época do ano. De acordo com o mito, Pilatos deu aos Judeus a chance de libertar Jesus, o Cristo, ou um assassino chamado Jesus Barrabás.

Os Judeus são supostos ter entusiasticamente escolhido Jesus Barrabás. Esta história é uma malévola mentira anti-semita, uma das muitas mentiras semelhantes encontradas no Novo Testamento (maioritariamente escrito por anti-semitas.)

O que é particularmente odioso nesta história sem sentido é que é aparentemente uma distorção de uma história mais antiga que clamava que os Judeus tinham pedido para Jesus Cristo ser liberto. O nome "Barrabás" é simplesmente a forma Grega do Aramaico "bar Abba", que significa "filho do Pai".

Assim, "Jesus Barrabás" originalmente significava "Jesus o filho do Pai", em outras palavras o usual Jesus Cristão. Quando a história antiga clamava que os Judeus queriam que Jesus Barrabás fosse solto, estava a referir-se ao Jesus usual. Alguém distorceu a história afirmando que Jesus Barrabás era uma pessoa diferente de Jesus Cristo e isto enganou os Cristãos Romanos e Gregos, que não sabiam o significado do nome "Barrabás".

Finalmente, a afirmação de que o Jesus ressurreto apareceu aos seus discípulos é também baseada em superstições pagãs. Na mitologia Romana, Rómulo, nascido de uma virgem, apareceu ao seu amigo na estrada antes de ser levado para o céu (o tema de ser levado para o céu é encontrado em grande número de mitos e lendas pagãs, e até em histórias Judaicas.) Foi afirmado que Apolónio de Tyana também tinha aparecido aos seus discípulos depois de ter ressuscitado.

É nteressante de notar que o Apolónio histórico nasceu mais ou menos ao mesmo tempo que o mítico Jesus era suposto ter nascido. Em lendas, as pessoas afirmavam que ele tinha executado muitos milagres, que eram idênticos àqueles atribuídos a Jesus, tal como exorcismos de demónios e o de trazer novamente a vida a uma jovem morta.

Quando confrontados com missionários Cristãos, deve-se apontar tanta informação quanta for possível acerca das origens do Cristianismo e do mito de Jesus. Quase nunca os irás conseguir convencer de que o Cristianismo é uma falsa religião.

Não poderás provar para além de todas as dúvidas de que a história de Jesus surgiu da maneira que nós afirmamos, uma vez que muita da evidência é circunstancial. De fato, não podemos ter a certeza da origem precisa de muitos pontos particulares da história de Jesus. Isto não interessa. O que é importante é que tu próprio compreendas que existem alternativas lógicas à crença cega nos mitos Cristãos e que pode ser lançada uma dúvida racional sobre a narrativa do Novo Testamento.

A FALTA DE EVIDÊNCIA HISTÓRICA PARA JESUS

A resposta Cristã habitual para os que questionam a historicidade de Jesus é manusear vários documentos como "evidência histórica" para a existência de Jesus.

Eles normalmente começam com os evangelhos canônicos, ou seja, o Evangelho segundo S. Mateus, o Evangelho segundo S. Marcos, o Evangelho segundo S. Lucas e o Evangelho segundo S. João. A afirmação habitual é a de que estes são "registos de testemunhas oculares sobre a vida de Jesus feitas pelos seus discípulos". A resposta a este argumento pode ser resumido numa palavra - pseudepigráfico.

Este termo refere-se a trabalhos de escrita cujos autores ocultam as suas verdadeiras identidades atrás de nomes de personagens lendárias do passado. A escrita pseudepigráfica era particularmente popular entre os Judeus durante os períodos Asmoneu e Romano, e este estilo de escrita foi adoptado pelos primeiros Cristãos.

Os evangelhos canônicos não são os únicos evangelhos. Por exemplo, há também evangelhos de Maria, Pedro, Tomé e Filipe.

Estes quatro evangelhos são reconhecidos como sendo pseudepigráficos tanto por escolares Cristãos como não Cristãos. Eles providenciam uma informação histórica ilegítima dado que foram baseados em rumores e crenças.

A existência destes óbvios evangelhos pseudepigráficos faz com que seja bastante racional suspeitar que os evangelhos canônicos poderão também ser pseudepigráficos. O fato de que os primeiros Cristãos escreviam evangelhos pseudepigráficos sugere que isto era de fato a norma.

Deste modo, é quando os missionários afirmam que os evangelhos canónicos não são pseudepigráficos que requer provas.

O Evangelho segundo S. Marcos é escrito no nome de S. Marcos, o discípulo do mítico S. Pedro (S. Pedro é maioritariamente baseado no deus pagão Petra, que era o porteiro do céu e da vida depois da morte na religião egípcia.)

Até na mitologia Cristã S. Marcos não era discípulo de Jesus, mas um amigo de S. Paulo e S. Lucas. O Evangelho segundo S. Marcos foi escrito antes do Evangelho segundo S. Mateus e do Evangelho segundo S. Lucas (c. de 100 D.C.), mas depois da destruição do Templo em 70 D.C., que menciona. Muitos Cristãos acreditam que foi escrito em c. 75 D.C.

Esta data não é baseada em História, mas na crença de que um histórico S. Marcos escreveu o evangelho na sua velhice. Isto não é possível, dado que o estilo de linguagem usada em S. Marcos mostra que foi escrita (provavelmente em Roma) por um Romano convertido ao Cristianismo, cuja primeira língua era Latim e não Grego, Hebreu ou Aramaico.

De fato, como todos os outros evangelhos são escritos em nome de personagens lendárias do passado, o Evangelho segundo S. Marcos foi provavelmente escrito muito depois de algum Marcos histórico (se houve um) ter morrido.

O conteúdo do Evangelho segundo S. Marcos é uma coleção de mitos e lendas que foram juntos de forma a formar uma narrativa contínua. Não há provas de que tenha sido baseado em qualquer fonte histórica de confiança.

O Evangelho segundo S. Marcos foi alterado e editado muitas vezes, e a versão moderna provavelmente data de cerca de 150 D.C. Clemente de Alexandria (c. de 150 D.C. - c. de 215 D.C.) queixou-se acerca das versões alternativas deste evangelho, que ainda circulavam no seu tempo (os Carpocratians, uma primeira facção Cristã, considerava a pederastia como sendo uma virtude, e Clemente queixou-se da sua versão do Evangelho segundo S. Marcos, que contava as explorações homossexuais de Jesus com rapazes novos!.)

O Evangelho segundo S. Mateus certamente não foi escrito pelo apóstolo S. Mateus. A personagem de S. Mateus é baseada na personagem histórica chamada Mattai, que era um discípulo de Yeishu ben Pandeira (Yeishu, que viveu nos tempos Asmoneus, foi uma das várias pessoas históricas em quem a personagem de Jesus foi baseada.)

O Evangelho segundo S. Mateus foi originalmente anónimo e só foi lhe foi imputado o nome de S. Mateus algures durante a primeira metade do segundo século D.C. A forma primitiva foi provavelmente escrita mais ou menos ao mesmo tempo do Evangelho de S. Lucas (c. de 100 D.C.), pois nenhum dos dois parece saber do outro.

Foi alterado e editado até cerca de 150 D.C. Os primeiros dois capítulos, que tratam da virgem a dar à luz, não estavam na versão original, e os Cristãos de Israel com descendência Judaica preferiram esta primeira versão. Para suas fontes, usou o Evangelho segundo S. Marcos e uma coleção de ensinamentos referidos como a Segunda Fonte (ou o Documento Q.)

A Segunda Fonte não sobreviveu como um documento isolado, mas todos os seus conteúdos são encontrados no Evangelho segundo S. Marcos e no Evangelho segundo S. Lucas. Todos os ensinamentos aí contidos podem ser encontrados no Judaísmo.

Os ensinamentos mais razoáveis podem ser encontrados no Judaísmo ortodoxo, enquanto que os menos razoáveis podem ser encontrados no Judaísmo sectário. Não há nada nele que requeira a nossa suposição da existência de um Jesus histórico real.

Apesar do Evangelho segundo S. Mateus e do Evangelho segundo S. Lucas atribuírem os ensinamentos neles contidos a Jesus, a Epístola de S. Tiago atribui-os a S. Tiago. Como foi visto, o Evangelho segundo S. Mateus não providencia nenhuma evidência histórica para Jesus.

O Evangelho de S. Lucas e o livro dos Atos dos Apóstolos (que eram duas partes de um mesmo trabalho) foram escritos em nome da personagem mitológica Cristã de S. Lucas, o médico (que provavelmente não foi uma personagem histórica mas uma adaptação Cristã do deus Grego da cura Lycos.)

Até na mitologia Cristã S. Lucas não foi um discípulo de Jesus, mas um amigo de S. Paulo. O Evangelho segundo S. Lucas e os Atos dos Apóstolos usam o livro de Flávio Josefo, "Antiguidades Judaicas", como referência, e assim não podiam ter sido escritos antes de 93 D.C. Nesta altura, qualquer amigo de S. Paulo estaria ou morto ou bem senil.

De fato, tanto escolares Cristãos como não Cristãos estão de acordo de que as primeiras versões dos dois livros foram escritas por um Cristão anónimo em c. 100 D.C., e foram alterados e editados até c. 150 - 175 D.C.

Além do livro de Flávio Josefo, o Evangelho segundo S. Lucas e os Atos dos Apóstolos também usam o Evangelho de S. Marcos e a segunda fonte como referências. Apesar de Flávio Josefo ser considerado mais ou menos de confiança, o autor anónimo muitas vezes lê ou entende mal Flávio Josefo, e além disso nenhuma das informações acerca de Jesus no Evangelho segundo S. Lucas e nos Atos dos Apóstolos vem de Flávio Josefo. Como se vê, o Evangelho segundo S. Lucas e os Atos dos Apóstolos não têm valor histórico.

O Evangelho segundo S. João foi escrito em nome do apóstolo S. João, o irmão de S. Tiago, filho de Zebedeu. O autor do Evangelho segundo S. Lucas usou tantas fontes quantas pode obter, mas ele não tinha conhecimento do Evangelho segundo S. João.

Assim, o Evangelho segundo S. João não podia ter sido escrito antes do Evangelho segundo S. Lucas (c 100 D.C.) Consequentemente, o Evangelho segundo S. João não podia ter sido escrito pela semi-mítica personagem de S. João, o apóstolo, que era suposto ter sido morto por Herodes Agripa pouco antes da sua própria morte em 44 D.C. (S. João, o apóstolo, é aparentemente baseado num histórico discípulo do falso Messias, Theudas, que foi crucificado pelos Romanos em 44 D.C., e cujos discípulos foram assassinados.)

O autor real do Evangelho segundo S. João foi, de fato, um anônimo Cristão de Éfeso, na Ásia Menor.

O fragmento mais velho sobrevivente do Evangelho segundo S. João data de c. 125 D.C., e assim podemos datar o Evangelho de c. 100 - 125 D.C. Baseados em considerações estilísticas, muitos escolares diminuem a data para c. 100 – 120 D.C. A primeira versão do Evangelho segundo S. João não contém o último capítulo, que trata da aparição de Jesus aos seus discípulos. Tal como os outros Evangelhos, o Evangelho segundo S. João provavelmente só chegou à sua presente forma por volta de 150 - 175 D.C. O autor do Evangelho segundo S. João usou o Evangelho segundo S. Marcos frugalmente, e assim pode-se suspeitar que não confiava nele.

Ele ou não tinha lido o Evangelho segundo S. Mateus e o Evangelho segundo S. Lucas ou não confiava neles, pois ele não usa nenhuma informação deles que não tenha sido encontrada no Evangelho segundo S. Marcos. Grande parte do Evangelho segundo S. João consiste em lendas com óbvias interpretações fundamentais alegóricas, e pode-se suspeitar que o autor nunca tencionou que fossem História. O Evangelho segundo S. João não contém nenhuma informação de fontes históricas de confiança.

Os Cristãos afirmarão que próprio Evangelho segundo S. João declara que é um documento histórico escrito por S. João. Esta pretensão é baseada nos versos Jo 19.34 - 35 e Jo 21.20 - 24. Jo 19.34 - 35 não afirma que o Evangelho foi escrito por S. João. Afirma que os eventos descritos nos versos imediatamente precedentes foram reportados corretamente por uma testemunha. A passagem é ambígua e não é claro se a testemunha é suposta ser a mesma pessoa que o autor.

Muitos escolares são da opinião de que a ambiguidade é deliberada e que o autor do Evangelho segundo S. João está a tentar arreliar os seus leitores nesta passagem, bem como nas passagens em que conta histórias miraculosas com interpretações alegóricas. Jo 21.20 - 24 também não afirma que o autor é S. João. Afirma que o discípulo mencionado na passagem é alguém que testemunhou os eventos descritos.

É mais uma vez notavelmente ambíguo no que refere à questão do discípulo ser a mesma pessoa que o autor. É de notar que esta última passagem é no último capítulo do Evangelho segundo S. João, que não fazia parte do Evangelho original, mas que foi adicionado como um epílogo por um redator anônimo.

Tem de se estar consciente do facto de que muitas traduções "fáceis de entender" do Novo Testamento distorcem as passagens mencionadas para remover a ambiguidade encontrada no original Grego (idealmente, uma pessoa precisa de estar familiarizada com o texto original Grego do Novo Testamento de maneira a evitar traduções preconceituosas e corrompidas usadas por fundamentalistas e missionários Cristãos.)

De maneira a fazer recuar as suas pretensões de que o Evangelho segundo S. Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus foram escritos pelos "reais" apóstolos S. Marcos e S. Mateus, e que Jesus é uma personagem histórica, os missionários muitas vezes chamam a atenção para o assim chamado "testemunho de Papias". Papias foi o bispo de Hierápolis (perto de Éfeso) em meados do segundo século D.C.

Nenhum dos seus escritos sobreviveu, mas o historiador Cristão Eusébio (c. 260 - 339 D.C.), no seu livro História Eclesiástica (escrito c. 311 – 324 D.C.) parafraseou certas passagens do livro de Papias "Exposition of the Oracles of the Lord" (escrito c. 140 - 160 D.C.)

Nestas passagens, Papias afirma que tinha conhecido as filhas do apóstolo S. Filipe, e também reportou várias histórias que afirmou terem vindo de pessoas chamadas Aristion e João, o Ansião, que ainda estariam vivos durante a sua própria vida.

Eusébio parece ter pensado que Aristion e João, o Ansião eram discípulos de Jesus. Papias afirmava que João, o Ansião tinha dito que S. Marcos tinha sido o intérprete de S. Pedro e tinha escrito exatamente tudo o que S. Pedro tinha escrito sobre Jesus.

Papias também afirmou que S. Mateus tinha compilado todos os "oráculos" em Hebreu, e todos os tinham interpretado o melhor que podiam. Nada disto, no entanto, providencia uma evidência histórica legítima de Jesus nem suporta a crença de que o Evangelho segundo S. Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus foram realmente escritos por apóstolos ostentando aqueles nomes.

Papias foi um blasonador e não é de nenhuma maneira certo de que ele tenha sido honesto quando afirmou ter conhecido as filhas de S. Filipe. Mesmo que tivesse, isto iria, no máximo, provar que o apóstolo S. Filipe da mitologia Cristã tinha sido baseado numa personagem histórica. Papias nunca afirmou explicitamente que tinha conhecido Aristion e João, o Ansião. Além do mais, só porque Eusébio no século IV acreditou que tinham sido discípulos de Jesus não quer dizer que tenham sido.

Nada é conhecido sobre quem realmente seria Aristion. Ele não é certamente um dos discípulos na usual tradição Cristã. Já vi livros em que certos fundamentalistas Cristãos afirmam que João, o Ansião era o apóstolo S. João, o filho de Zebedeu, e que ele ainda estaria vivo quando Papias era jovem.

Eles também afirmam que Papias viveu entre c. 60 - 130 D.C., e que ele escreveu o seu livro em c. 120 D.C. Estas datas não são baseadas em nenhuma legítima evidência e são um completo disparate: Papias foi bispo de Hierápolis em c. 150 D.C. e como foi já mencionado o seu livro foi escrito algures no período c. 140 - 160 D.C.

Puxando a data para Papias para 60 D.C., ainda não o coloca durante o tempo de vida do apóstolo S. João, que, de acordo com as lendas Cristãs normais, foi morto em 44 D.C. Além disso, é improvável que João, o Ansião tenha tido alguma coisa a haver com S. João, o apóstolo. De acordo com Epifâneo (c. 320 - 403), um primitivo Cristão chamado João, o Ansião tinha morrido em 117 D.C. Teremos mais a dizer sobre ele quando discutirmos as três epístolas atribuídas a S. João.

Qualquer que seja o caso, as histórias que Papias coleccionou eram sendo contadas pelo menos uma década depois de os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos terem sido escritos, e refletem rumores e superstições infundadas acerca das origens destes livros.

Em particular, a história acerca de S. Marcos obtida de João, o Ansião, não é mais que uma elaboração superficial da lenda acerca de S. Marcos encontrada nos Atos dos Apóstolos, e assim não nos diz nada acerca das verdadeiras origens do Evangelho segundo S. Marcos. A história acerca de S. Mateus escrever os "oráculos" é simplesmente um rumor, e além disso, não tem nada a haver com o Evangelho segundo S. Mateus.

O termo "oráculos" pode apenas ser entendido como uma referência à colecção de escritos conhecidos como Oracles of the Lord, que é referido no título do livro de Papias, e que com toda a probabilidade é a mesma coisa que a Segunda Fonte, não o Evangelho segundo S. Mateus.

Além dos Evangelhos canónicos e dos Atos dos Apóstolos, os missionários também tentam usar as várias epístolas Cristãs como prova da história de Jesus. Eles afirmam que as epístolas são cartas escritas por discípulos e seguidores de Jesus. No entanto, epístolas (do Grego epistolē, significando mensagem ou ordem) são livros, escritos sob forma de cartas (usualmente de personagens lendárias do passado), que expõem doutrinas e instruções religiosas.

Esta forma de escrita religiosa foi usada pelos Judeus nos tempos Greco-Romanos (a mais famosa epístola Judaica é a Epístola de Jeremias, que é uma prolongada condenação da idolatria, escrita durante o período Helénico na forma de carta pelo profeta Jeremias à população de Jerusalém mesmo antes deles terem sido exilados para a Babilónia.) Como no caso dos Evangelhos, há epístolas Cristãs que não estão contidas no Novo testamento, que escolares tanto Cristãos como não-Cristãos concordam serem epístolas pseudepigráficas e de nenhum valor histórico, pois expõem crenças e não História.

A existência de epístolas pseudepigráficas, e verdadeiramente todo o conceito de uma epístola, sugere que as epístolas eram normalmente pseudepigráficas. Ainda assim, são as afirmações dos missionários e Cristãos fundamentalistas de que as epístolas canónicas são cartas genuínas que requerem provas. A Epístola de S. Judas é escrita em nome de Jude (Judas), o irmão de S. Tiago. De acordo com o Evangelho segundo S. Marcos e o Evangelho segundo S. Mateus, Jesus tinha irmãos chamados Judas e Tiago.

Comparando com outros escritos mostra que a Epístola de S. Judas foi escrita em c. 130 D.C., e assim é obviamente pseudepigráfica. No entanto, não há nenhuma evidência que o seu autor usou alguma fonte histórica legítima no que se refere a Jesus. Duas das epístolas canónicas são escritas em nome de S. Pedro.

Dado que S. Pedro é uma adaptação da divindade pagã egípcia Petra, estas epístolas certamente não foram escritas por ele. O estilo e o carácter da Primeira Epístola de S. Pedro sozinhos mostram que não pode ter sido escrita antes de 80 D.C. Até de acordo com a lenda Cristã, S. Pedro era suposto ter morrido no decurso das perseguições instigadas por Nero em c. 64 D.C. e portanto ele não poderia ter escrito a epístola.

O autor do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos usou todas as fontes escritas que conseguiu obter e tendia a usá-los indiscriminadamente, no entanto ele não menciona quaisquer epístolas de S. Pedro. Isto mostra que a Primeira Epístola de S. Pedro foi provavelmente escrita depois do Evangelho segundo S. Lucas e dos Atos dos Apóstolos (c. 100 D.C.)

Nenhuma das referências a Jesus na Primeira Epístola de S. Pedro é tirada de fontes históricas, mas em vez disso reflecte crenças e superstições. A Segunda Epístola de S. Pedro é uma declaração contra os Marcionistas, e portanto deve ter sido escrita em c. 150 D.C. Como se vê, é claramente pseudepigráfico. A Segunda Epístola de S. Pedro usa como fontes: a história da transfiguração de Jesus encontrada no Evangelho segundo S. Marcos, Evangelho segundo S. Mateus e Evangelho segundo S. Lucas, o Apocalipse de S. Pedro e a Epístola de S. Judas.

O não canónico Apocalipse de S. Pedro (escrito algures no primeiro quarto do segundo século D.C.) é reconhecido como sendo não-histórico até pelos fundamentalistas Cristãos. Assim, a Segunda Epístola de S. Pedro também não usaqualquer fonte histórica legítima.

MITO DE JESUS HISTÓRICO IV

Agora voltamo-nos para as epístolas supostamente escritas por São Paulo.

A Primeira Epístola de São Paulo a Timóteo avisa contra o trabalho Marcionista conhecido como Antithesis. Marcion foi expulso da Igreja de Roma em c. 144 d.C. e a Primeira Epístola de São Paulo a Timóteo foi escrita pouco depois.

Como se vê, temos novamente um caso claro de pseudepigrafia.

A Segunda Epístola de São Paulo a Timóteo e a Epístola de São Paulo a Tito foram escritas pelo mesmo autor e datam de cerca do mesmo período. Estas três epístolas são conhecidas como as "epístolas pastorais". As 10 restantes epístolas "não-pastorais" escritas no nome de São Paulo eram conhecidas por Marcion em c. 140 d.C.

Algumas delas não foram escritas somente no nome de São Paulo, mas estão na forma de cartas escritas por São Paulo em colaboração com vários amigos como Sosthenes, Timóteo e Silas.

O autor do Evangelho segundo São Lucas e dos Atos dos Apóstolos usou todas as vias para obter todas as fontes disponíveis e tendeu a usá-las indiscriminadamente, mas ele não usou nada das epístolas Paulinas. Podemos então concluir que as epístolas não-pastorais foram escritas depois do Evangelho segundo São Lucas e dos Atos dos Apóstolos no período c. 100 - 140 d.C.

A não-canónica Primeira Epístola de Clemente aos Coríntios (escrita c. 125 d.C.) usa a Primeira Epístola de São Paulo aos Corintios como fonte, e, portanto podemos reduzir a data para essa epístola para 100 - 125 d.C. No entanto, ficamos com a conclusão de que todas as epístolas Paulinas são pseudepigráficas (o semi-mítico São Paulo era suposto ter morrido durante as perseguições instigadas por Nero em c. 64 d.C.)

Algumas das epístolas Paulinas aparentam terem sido alteradas e revistas numerosas vezes antes de terem chegado às suas formas modernas.

Como fontes usa-se mutuamente, e ainda os Atos dos Apóstolos, o Evangelho segundo São Marcos, o Evangelho segundo São Mateus, o Evangelho segundo São Lucas e a Primeira Epístola de São Pedro. Podemos então concluir que não providenciam nenhuma evidência histórica de Jesus.

A Epístola aos Hebreus é uma epístola particularmente interessante, dado que não é pseudepigráfica, mas completamente anônima. O seu autor nem revela o seu próprio nome nem escreve em nome de um personagem mitológico Cristão Os Cristãos fundamentalistas clamam ser outra epístola de São Paulo e de fato chamam-lhe Epístola de São Paulo aos Hebreus. Esta idéia, aparentemente datando do final do quarto século d.C., não é, no entanto aceite por todos os Cristãos.

Como fonte para a sua informação sobre Jesus usa material comum ao Evangelho segundo São Marcos, ao Evangelho segundo São Mateus e ao Evangelho segundo São Lucas, mas não fontes legítimas. O autor da Primeira Epístola de São Clemente usou-o como fonte, e, portanto deve ter sido escrita antes dessa epístola (c. 125 d.C.) , mas depois de, pelo menos, o Evangelho segundo São Marcos (c. 75 – 100 d.C.)

A Epístola de São Tiago é escrita no nome de um servo de Jesus chamado Tiago (ou Jacobus.) No entanto, na mitologia Cristã havia dois apóstolos chamados Tiago e Jesus também tinha um irmão chamado Tiago.

Não é claro qual dos Tiagos é o pretendido, e não há entendimento entre os próprios Cristãos. Cita declarações da Segunda Fonte, mas ao contrário do Evangelho segundo São Mateus e do Evangelho segundo São Lucas não atribui estas declarações a Jesus, mas apresenta-as como sendo de São Tiago. Contém um importante argumento contra a doutrina da "salvação através da fé" exposta na Epístola de São Paulo aos Romanos. Podemos então concluir que foi escrita durante a primeira metade do segundo século d.C., depois da Epístola aos Romanos, mas antes do tempo em que o Evangelho segundo São Mateus e o Evangelho segundo São Lucas foi aceite por todos os Cristãos.

Assim, indiferentemente de qual seja o São Tiago pretendido, a Epístola de São Tiago é pseudepigráfica. Não diz quase nada de Jesus e não há evidência de que o autor tinha quaisquer fontes históricas para ele.

Há três epístolas com o nome do apóstolo São João. Nenhuma delas é, de fato, escrita no nome de São João, e provavelmente só lhes foram atribuídas algum tempo depois de terem sido escritas. A Primeira Epístola de São João, tal como a Epístola aos Hebreus, é completamente anónima. A ideia de que foi escrita por São João vem do fato de que usa o Evangelho segundo São João como fonte.

As outras duas epístolas com o nome de São João foram escritas por um único autor que em vez de escrever em nome de um apóstolo, escolheu simplesmente chamar-se "o Ancião". A idéia de que estas duas epístolas foram escritas por São João nasceu das crenças de que "o Ancião" se referia a João, o Ancião, e que ele era a mesma pessoa que o apóstolo São João. No caso da Segunda Epístola de São João, esta crença foi reforçada pelo fato de que essa epístola também usa o Evangelho segundo São João como fonte.

Podemos então concluir que as primeiras duas epístolas atribuídas a São João foram escritas depois do Evangelho segundo São João (c. 110 -120 d.C.) Consequentemente, nenhuma das três epístolas poderia ter sido escrita pelo apóstolo São João. Deve-se apontar que é bastante possível que o pseudônimo "o Ancião" se refira à pessoa chamada João, o Ancião, mas se tal assim é, ela não é certamente o apóstolo São João. As primeiras duas epístolas de São João apenas usam o Evangelho segundo São João como fonte para Jesus; elas não usam nenhuma fonte legítima.

A Terceira Epístola de São João menciona "Cristo" escassamente e não há evidências de que tenha usado qualquer fonte histórica para ele.

Além das epístolas com o nome de São João, o Novo Testamento também contém um livro conhecido como Apocalipse do Apóstolo São João. Este livro combina duas formas de escrita religiosa, a da epístola e a do apocalipse (apocalipses são trabalhos religiosos que são escritos na forma de revelação acerca do futuro por um personagem famoso do passado. Estas revelações geralmente descrevem eventos infelizes que ocorrem no tempo em que foram escritas, e também oferecem alguma esperança ao leitor de que as coisas irão melhorar.)

Não é certo por quantas revisões passou o Apocalipse do Apóstolo São João, e assim é difícil datá-la precisamente.

Dado que menciona as perseguições instigadas por Nero, podemos dizer com certeza que não foi escrita antes de 64 d.C. Assim sendo, não poderia ter sido escrita pelo "verdadeiro São João". Os primeiros versos formam uma introdução que é claramente entendida como não sendo de São João, e que providencia uma vaga admissão de que o livro é pseudepigráfico, apesar do autor sentir que a sua mensagem é inspirada por Deus.

O estilo de escrita e as referências à prática de kriobolium (baptismo em sangue de ovelha) sugerem que o autor era dessas pessoas de descendência Judaica que misturavam o Judaísmo com práticas pagãs. Havia muitos destes "Judeus pagãos" durante os tempos Romanos, e foram estas pessoas que se tornaram nos primeiros convertidos aos Cristianismo, estabeleceram as primeiras igrejas, e que foram provavelmente também responsáveis pela introdução de mitos pagãos na história de Jesus (eles são também lembrados pela sua crença ridícula de que "Adonai Tzevaot" era o mesmo que o deus pagão "Sebazios".)

As referências a Jesus no livro são poucas e não há evidências de que são baseadas em nada mais que crença.

Além das epístolas aceitas no Novo Testamento, e além das epístolas que são unanimemente reconhecidas como não tendo qualquer valor (como a Epístola de Barnabas), existem também várias epístolas que embora não aceitas no Novo Testamento são consideradas de valor por alguns Cristãos. Primeiramente, há as epístolas com o nome de Clemente.

Na lenda Cristã, São Clemente foi o terceiro na sucessão a São Pedro como bispo de Roma. A Primeira Epístola de São Clemente aos Coríntios não é, de fato, escrita em nome de Clemente, mas no nome da "Igreja de Deus que estadia em Roma". Refere-se a uma perseguição que é geralmente pensada como tendo ocorrido em 95 d.C., no reinado de Domiciano, e refere-se à exoneração dos anciãos da Igreja de Corínto em c. 96 d.C.

Os Cristãos acreditam que São Clemente foi bispo de Roma durante esta altura, e esta é aparentemente a razão pela qual a epístola lhe foi mais tarde atribuída. Os Cristãos fundamentalistas acreditam que a epístola foi de facto escrita em 96 d.C.

Esta data não é possível dado que a epístola se refere a bispos e a padres como grupos separados, uma divisão que não tinha ainda tomado lugar.

Considerações estilísticas mostram que foi escrita em c. 125 d.C. Como referências, usa a Epístola aos Hebreus e a Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, mas nenhuma legítima fonte histórica. A Segunda Epístola de São Clemente é de um autor diferente do primeiro e foi escrita mais tarde.

Podemos então concluir que também não foi escrita por São Clemente (não há evidências de que qualquer uma destas epístolas tenha sido atribuída a São Clemente antes da sua incorporação na colecção de livros conhecida como o Codex Alexandrinus, no século quinto d.C.) Como fontes para Jesus, a Segunda Epístola de São Clemente usa o Evangelho dos Egípcios, um documento que é rejeitado até pelos mais fundamentalistas Cristãos, e também os livros do Novo Testamento que mostramos serem de nenhum valor. Assim, e uma vez mais, não temos nenhuma legítima evidência de Jesus.

A seguir, temos as epístolas escritas no nome de Inácio. De acordo com a lenda, St. Inácio era o bispo de Antioquia que foi morto durante o reinado de Trajano c. 110 d.C. (apesar de ele ser provavelmente baseado num personagem histórico real, as lendas acerca do seu martírio são largamente ficcionais..) Existem quinze epístolas escritas no seu nome.

Destas, oito são unanimemente reconhecidas como sendo pseudepigráficas e de nenhum valor no que respeita a Jesus. As restantes sete têm cada uma duas formas, uma maior e outra mais pequena.

As formas maiores são claramente edições alteradas e revistas das formas mais pequenas. Os fundamentalistas Cristãos clamam que as formas mais pequenas são as cartas genuínas escritas por St. Inácio. A Epístola de St. Inácio aos Esmirnenses menciona a tripla ordenação de bispos, padres e diáconos, que ainda não tinha tido lugar aquando da morte de St. Inácio, que ocorreu o mais tardar em 117 d.C. e que provavelmente teve lugar c. 110 d.C.

Todas as sete pequenas epístolas atacam várias crenças Cristãs, hoje consideradas heréticas, que só se tornou prevalecente c. 140 - 150 d.C. A Epístola de St. Inácio aos Romanos mais pequena contém uma citação dos escritos de St. Ireneu, escrito depois de 170 d.C. e publicada c. 185 d.C. Podemos então conclui rque as sete epístolas mais curtas são também pseudepigráficas. A Epístola de St .Inácio aos Romanos mais curta foi certamente escrita depois de 170 d.C. (de fato, se não foi escrita por St. Ireneu então foi provavelmente escrita depois de c. 185 d.C.) e as outras seis foram escritas não antes do período c. 140 – 150 d.C., se não mais tarde.

Não há fontes para Jesus nas epístolas de St. Inácio que não sejam os livros do Novo Testamento e os escritos de St. Ireneu, que apenas usa o Novo Testamento. Portanto, elas contêm nenhuma evidência legítima para Jesus.

Há também mais duas epístolas que os Cristãos afirmam serem cartas genuínas, a saber, a Epístola de São Policarpo e o Martírio de São Policarpo. As epístolas de St. Inácio e as epístolas que dizem respeito a São Policarpo foram sempre estreitamente associadas. É bastante possível que tenham todas sido escritas pelo escritor Cristão St. Ireneu e seus discípulos. Houve certamente um primitivo personagem histórico real Cristã chamada Policarpo. Ele foi bispo de Esmirna e foi morto pelos Romanos algures no período de 155 - 165 d.C.

Quando St. Ireneu era um rapaz, conheceu São Policarpo. Fundamentalistas Cristãos afirmam que São Policarpo era o discípulo do apóstolo São João. No entanto, mesmo que aceitemos a lenda de que São Policarpo tenha vivido até à idade de 86, ele não poderia ter nascido antes de 67 d.C., e, portanto não poderia ter sido discípulo de São João (é possível que tenha sido discípulo do enigmático João, o Ancião.) Como St. Ireneu tinha conhecido São Policarpo, também assumiram que St. Ireneu era de facto seu discípulo, uma pretensão para a qual não há evidências.

A Epístola de São Policarpo usa a maior parte dos livros do Novo Testamento e as epístolas de St. Inácio como referências, mas não usa fontes legítimas para Jesus. Os Cristãos que rejeitam as epístolas de St. Inácio mas que acreditam ser a Epístola de São Policarpo uma carta genuína afirmam que as referências às epístolas de Inácio são uma inserção tardia. Esta idéia é baseada em inclinações pessoais, e não em nenhuma evidência genuína.

Baseada numa crença cega que a epístola é uma carta genuína, alguns Cristãos datam-na de meados do segundo século d.C., pouco antes da morte de São Policarpo. No entanto, as referências às epístolas de St. Inácio sugere que foi de fato escrita algures durante as últimas décadas do segundo século d.C., pelo menos cerca de uma década depois da morte de Policarpo, se não mais tarde.

O Martírio de São Policarpo é escrito em nome da "Igreja de Deus que estadia em Esmirna". Começa na forma de carta, mas o seu corpo principal é escrito na formade uma história vulgar. Fala-nos do conto do martírio de São Policarpo.

O MITO DO JESUS HISTÓRICO V

Tal como a Epístola de São Policarpo, foi escrita algures durante as últimas décadas do segundo século d.C. Infelizmente, não existe evidência de que tenha usado quaisquer fontes de confiança para a sua história, apenas rumores e boatos.

De fato, a história parece ser altamente ficcional. As referências a Jesus não são tiradas de qualquer fonte de confiança.

Assim, vimos que as epístolas usadas pelos missionários como "evidências" são tão ilegítimas como os evangelhos. Ainda assim, o leitor deve ter em atenção as traduções fáceis de entender do Novo Testamento, dado que elas chamam as epístolas "cartas", e, portanto implicando incorretamente que elas são na verdade cartas escritas pelas pessoas das quais levaram o nome.

Agora, além dos livros do Novo Testamento, e além das epístolas relativas a São Clemente, St. Inácio e São Policarpo, há ainda mais um trabalho religioso Cristão que os Cristãos afirmam ser uma evidência histórica de Jesus, a saber, os Ensinamentos dos Doze Apóstolos, também conhecido como o Didache. Todos os outros primitivos trabalhos religiosos Cristãos ou são totalmente rejeitados pelos modernos Cristãos ou pelo menos reconhecidos como não sendo fontes primárias no que respeita a Jesus.

O Didache começou como documento sectário Judeu, provavelmente escrito durante o período de tumulto em c. 70 d.C. A sua forma primitiva consistia em ensinamentos morais e predições da destruição da corrente ordem mundial. Esta primeira versão, que obviamente não mencionava Jesus, foi tomada pelos Cristãos, que o reviram e alteraram bastante, adicionando uma história de Jesus e regras de culto para as primeiras comunidades Cristãs. Os escolares estimam que a primeira versão Cristã do Didache não poderia ter sido escrita muito depois de 95 d.C. Provavelmente só chegou à sua forma final por volta c. 120 d.C.

Parece ter servido uma comunidade Cristã isolada na Síria como uma "Ordem da Igreja" durante o período c. 100 - 130 d.C. No entanto, não há evidências de que a sua história de Jesus tenha sido baseada em qualquer fonte de confiança, e como havemos mencionado, a primitiva versão Judaica não tinha nada a haver com Jesus. De fato, este documento providencia informação de que o mito de Jesus cresceu gradualmente.

Tal como o Evangelho segundo São Marcos e as primeiras versões do Evangelho segundo São Mateus, a história de Jesus no Didache não faz menção de um nascimento de uma virgem. Não faz menção dos fantásticos milagres que foram mais tarde atribuídos a Jesus. Apesar de Jesus ser referido como "filho" de Deus, parece que este termo é usado simbolicamente. A evidência que temos em relação à origem do mito da crucificação sugere que uma das coisas que levou a este mito era o fato da cruz ser o símbolo astrológico do Equinócio Vernal, que ocorre perto da Passagem, quando se acredita que Jesus tenha sido morto.

Assim, não é de surpreender que a história no Didache não mencione Jesus a ser crucificado, apesar de mencionar uma cruz no céu como símbolo de Jesus. Os doze apóstolos mencionados no título do Didache não aparecem como doze reais discípulos de Jesus, e o termo refere-se claramente aos doze filhos de Jacob que representam as doze tribos de Israel. Assim, o Didache providencia pistas vitais no que respeita ao crescimento do mito de Jesus, mas certamente não providencia qualquer evidência de um Jesus histórico.

Dado que nenhum dos textos religiosos Cristãos providencia nenhuma evidência aceitável de Jesus, os missionários voltam-se a seguir para textos não-Cristãos.Os Cristãos afirmam que vários historiadores de confiança registraram informação acerca de Jesus. Apesar de alguns destes historiadores serem mais ou menos aceitos, veremos que eles não providenciam qualquer informação acerca de Jesus.

Primeiramente, os Cristãos afirmam que o historiador Judeu Flávio Josefo registou informações acerca de Jesus no seu livro Antiguidades Judaicas (publicado c. 93 - 94 d.C.) É verdade que este livro contém informações sobre os três falsos Messias, Yehuda da Galileia, Theudas e Benjamim, o Egípcio, e é verdade que a personagem de Jesus parece ser baseada em todos eles, mas nenhum deles pode ser considerado como o Jesus histórico.

Além do mais, no livro dos Atos dos Apóstolos, estas pessoas são mencionadas como sendo pessoas diferentes de Jesus, e assim o Cristianismo moderno rejeita alguma relação entre eles e Jesus. Nas edições Cristãs revistas das Antiguidades Judaicas, há duas passagens que se referem a Jesus como está retractado nos trabalhos religiosos Cristãos.

Nenhuma destas passagens são encontradas na versão original das Antiguidades Judaicas, que foi preservada pelos Judeus. A primeira passagem (XVII,3,3) foi citada pela escrita de Eusebius em c. 320 d.C., e, portanto podemos concluir que foi adicionada algures entre o tempo em que os Cristãos detiveram as Antiguidades Judaicas e c. 320 d.C.

Não é conhecido quando a outra passagem (XX,9,1) foi adicionada. Nenhuma das passagens é baseada em qualquer fonte de confiança. É fraudulento afirmar que estas passagens foram escritas por Flávio Josefo, e que elas providenciam evidências para Jesus. Elas foram escritas por redatores Cristãos e são baseadas puramente na crença Cristã.

A seguir, os Cristãos apontarão para os Anais de Tácito. Nos Anais XV,44, Tácito descreve como Nero culpou os Cristãos pelo incêndio de Roma em 64 d.C. Ele menciona que o nome "Cristãos" era originário de uma pessoa chamada Christus, que tinha sido executada por Pôncio Pilatos durante o reinado de Tibério.

É certamente verdade que o nome "Cristãos" é derivado de Cristo ou Christus (= Messias), mas a afirmação de Tácito de que ele foi executado por Pilatos durante o reinado de Tibério é baseado puramente nas afirmações feitas pelos próprios Cristãos e que apareciam nos Evangelho segundo São Marcos, Evangelho segundo São Mateus e Evangelho segundo São Lucas, que já tinham tido extensa circulação quando os Anais estavam a ser escritos (os Anais foram publicados depois de 115 d.C. e não foram certamente escritos antes de 110 d.C.)

Portanto, embora os Anais contenham uma frase na qual se fala de "Christus" como uma verdadeira pessoa, esta frase foi puramente baseada em afirmações e crenças Cristãs, que são de nenhum valor histórico. É bastante irônico que os modernos Cristãos usem Tácito para suportarem as suas crenças dado que ele era o menos exato de todos os historiadores Romanos. Ele justifica o ódio aos Cristãos dizendo que eles cometiam abominações.

Além de "Christus", ele também fala de outros deuses pagãos como se eles realmente existissem. O seu sumário da História do Médio Oriente no seu livro Histórias é tão distorcido que é ridículo. Podemos concluir que a sua única menção de Christus não pode ser tida como uma evidência de confiança de um Jesus histórico.

Uma vez Tácito ser rejeitado, os Cristãos afirmarão que uma das cartas de Plínio, o Jovem ao imperador Trajano providencia evidências de um Jesus histórico (Cartas X,96.) Isto é um disparate. A carta em questão simplesmente menciona que certos Cristãos tinham maldito "Cristo" para evitarem serem castigados. Não afirma que este Cristo realmente tenha existido.

A carta em questão foi escrita antes da morte de Plínio em c. 114 d.C., mas depois de ele ser mandado para Bitínia em 111d.C., provavelmente no ano 112 d.C. Assim, ela providencia nada mais que uma confirmação do fato trivial de que à volta do começo da décima segunda década d.C. os Cristãos normalmente não amaldiçoavam algo chamado "Cristo" apesar de alguns o terem feito para evitarem o castigo.

Não providencia nenhuma evidência de um Jesus histórico. Os Cristãos irão também afirmar que Suetônio registrou evidências de Jesus no seu livro As Vidas dos Imperadores (também conhecido como Os doze Césares.)

A passagem em questão é Cláudio 25, onde menciona que o imperador Cláudio expulsou os Judeus de Roma (aparentemente em 49 d.C.) porque eles causavam distúrbios contínuos instigados por um certo Chrestus.

Se assumirmos cegamente que "Chrestus" se refere a Jesus, então, se é que, esta passagem contradiz a história Cristã de Jesus dado que Jesus era suposto ter sido crucificado quando Pôncio Pilatos era procurador (26 - 46 d.C.) durante o reinado de Tibério, e além do mais, ele nunca foi suposto ter estado em Roma! Suetônio viveu durante o período c. 75 - 150 d.C., e o seu livro, As Vidas dos Imperadores, foi publicado durante o período 119 – 120 d.C., tendo sido escrito algum tempo depois da morte de Domiciano em 96 d.C.

Assim sendo, o evento que ele descreve ocorreu pelo menos 45 anos antes de ele ter escrito acerca disso, e assim não podemos ter a certeza da sua exatidão. O nome Chrestus é derivado do Grego Chrestos, que significa "o bom" e não é o mesmo que Christ ou Christus que são derivados do Grego Christos, que significa "o ungido/Messias".

Se tomarmos a passagem pelo seu valor nominal ela refere-se a uma pessoa chamada Chrestus que estava em Roma e que não tinha nada a ver com Jesus ou com qualquer outro "Cristo". O termo Chrestos era bastante aplicado para os deuses pagãos e muitas das pessoas em Roma chamados "Judeus" eram na verdade pessoas que misturavam crenças Judaicas com crenças pagãs e que não eram necessariamente de descendência Judaica.

Assim, é também possível que a passagem se refira a conflitos envolvendo estes "Judeus" pagãos que adoravam um deus pagão (como Sebazios) de título Chrestos. Por outro lado, as palavras Chrestos e Christos eram muitas vezes confundidas, e assim a passagem poderia até referir-se a algum conflito envolvendo Judeus que acreditavam que alguma pessoa era o Messias, mas esta pessoa poderá ou não ter estado realmente em Roma, e por tudo o que sabemos, ele poderá não ter sido um verdadeiro personagem histórico.

Deve-se ter em memória que o evento descrito teve lugar só alguns anos após a crucificação do falso Messias Theudas em 44 d.C. e que a passagem pode-se referir aos seus seguidores em Roma. Os Cristãos afirmam que a passagem se refere a Jesus e aos conflitos que nasceram depois de São Paulo ter trazido notícias dele a Roma, e que Suetônio apenas se enganou acerca do próprio Jesus ter estado em Roma. No entanto, esta interpretação é baseada na crença cega em Jesus e nos mitos acerca de São Paulo e não há nada que sugira ser esta a correcta interpretação.

Assim, podemos concluir que Suetônio também falha em providenciar qualquer evidência de um Jesus histórico.

Todos os outros escritores que mencionam Jesus, desde São Justino, o Mártir no segundo século d.C. aos últimos intérpretes do mito Cristão no século vinte, basearam todos as suas referências a Jesus nas fontes que desacreditamos acima.

Consequentemente, as suas pretensões são de nenhum valor como evidências históricas. Ficamos então com a conclusão de que não há absolutamente nenhuma evidência histórica de confiança e aceitável.

Todas as referências a Jesus são derivadas das crenças supersticiosas e mitos da primitiva comunidade Cristã. A maioria destas crenças apenas apareceram após a perseguição de Nero e a tragédia de 70 d.C. Muitas destas crenças são baseadas nas lendas pagãs acerca dos deuses Tammuz, Osíris, Attis, Dioniso e o deus sol Mithras.

Outros mitos acerca de Jesus parecem ser baseados em diferentes e variados personagens históricos tais como os criminosos condenados Yeishu ben Pandeira e Ben Stada, e os falsos Messias crucificados Yehuda, Theudas e Benjamim, mas nenhuma destas pessoas pode ser considerada como um Jesus histórico.



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

General Tito Vespasiano, o homem que levou Jesus às lágrimas( Lucas 21:23)

Tito Flávio Vespasiano Augusto (em latim Titus Flavius Vespasianus Augustus) (Roma, 30 de Dezembro de 39 — Aquae Cutiliae, Sabina, 13 de Setembro de 81) foi imperador romano entre os anos de 79 e 81. Foi o filho mais velho e sucessor de Vespasiano.

Antes de ser proclamado imperador alcançou renome como comandante militar ao servir sob as ordens do seu pai na Judeia, durante o conflito conhecido como a Primeira Rebelião Judaica (67 — 70). Esta campanha sofreu uma breve pausa após a morte do imperador Nero (9 de junho de 68), quando o seu pai foi proclamado imperador pelas suas tropas (21 de dezembro de 69). Neste ponto, Vespasiano iniciou a sua participação no conflito civil que assolou o Império durante o ano da sua nomeação como imperador, conhecido como o ano dos quatro imperadores. Após essa nomeação, recaiu sobre Tito a responsabilidade de acabar com os judeus sediciosos, tarefa realizada satisfatoriamente após sitiar e destruir Jerusalém (70), cujo templo foi demolido no incêndio. A sua vitória foi recompensada com um triunfo e comemorada com a construção do Arco de Tito. Seu pai o associou, a partir de 71, ao poder tribunício.

Sob o reinado do seu pai, Tito coletou receios entre os cidadãos de Roma devido ao seu serviço como prefeito do corpo de guarda-costas do imperador, conhecido como a Guarda Pretoriana, bem como devido à sua intolerável relação com a rainha Berenice de Cilícia. Apesar destas faltas à moral romana, Tito governou com grande popularidade após a morte de Vespasiano a 23 de junho de 79 d.C. e é considerado como um bom imperador por Suetônio e outros historiadores coetâneos.

O mais importante do seu reinado foi o seu programa de construção de edifícios públicos em Roma (Tito finalizou o anfiteatro Flávio, conhecido habitualmente como o Coliseu). A enorme popularidade de Tito também foi devida à sua grande generosidade com as vítimas dos desastres que sofreu o Império durante o seu breve reinado, a erupção do Vesúvio em 79 d.C. e o incêndio de Roma de 80 d.C. Após dois anos no cargo, Tito faleceu sofrendo de febre, a 13 de setembro de 81 d.C. A grande popularidade de Tito fez com que o Senado o deificasse.

Prometia ser um imperador à altura do seu pai, mas o seu breve reinado foi marcado por catástrofes. Em 24 de Agosto de 79, o vulcão Vesúvio destruiu as cidades de Pompeia e Herculano e, em 80, Roma foi de novo consumida por um incêndio.

Estabeleceu um governo indulgente, respeitando os privilégios do Senado e realizando grandes obras públicas. Umas das mais importantes que fez como imperador foi inaugurar, em 80 d.C., a obra que seu pai, Vespasiano, iniciara, o anfiteatro Coliseu, embora este ainda estivesse incompleto.

Tito foi sucedido pelo seu irmão menor, Domiciano.

Juventude

Tito nasceu em Roma, filho primogénito de Tito Flávio Vespasiano e Domitilla a Maior. Tito teve uma irmã chamada Domitila a Menor e um irmão, chamado Tito Flávio Domiciano, embora conhecido habitualmente com o nome de Domiciano.

As décadas de guerra civil durante o século I a.C. contribuíram enormemente para o decaimento da velha aristocracia de Roma, que fora gradualmente substituída no poder por uma nova nobreza provincial durante a primeira parte do século I. A família Flávia surgiu da obscuridade na Dinastia Júlio-Claudiana, adquirindo a riqueza e influência necessárias para chegar ao poder. O bisavô de Tito, Tito Flávio Petro, serviu como centurião sob Cneu Pompeu Magno durante a Segunda Guerra Civil da República de Roma. A sua carreira militar terminou quando Pompeu sofreu uma derrota esmagadora às mãos de Júlio César na Batalha de Farsália (48 a.C.).Contudo, Petro conseguiu melhorar a sua situação casando-se com uma tértula sumamente rica, cuja fortuna garantiu a ascensão do filho de ambos, Tito Flávio Sabino I, o avô de Tito. O mesmo Sabino amassou uma grande riqueza como arrecadador de impostos na Ásia e como banqueiro na Helvécia. Casando-se com Vespásia Polião aliou-se com uma das famílias patrícias de maior ascendência aristocrática. A riqueza e a linhagem de Vespásia Polião e Tito Flávio Sabino I garantiram a ascensão dos seus filhos, Vespasiano e Tito Flávio Sabino II, à classe senatorial.

A carreira política de Vespasiano incluiu os cargos de questor, edil, pretor, e culminou em um consulado em 51 d.C., o ano em que nasceu Domiciano. O pouco conhecido da juventude de Tito chegou através dos escritos de Suetônio. O historiador relata que o futuro imperador foi criado na corte imperial junto a Britânico, o filho do imperador Cláudio, que seria assassinado por Nero em 55 d.C. Poucos detalhes chegaram sobre a sua educação, mas aparentemente mostrou pronto uma grande inclinação pelas artes militares, era um poeta experto e um grande orador tanto em grego quanto em latim.

Carreira militar

Tito serviu como tribuno militar na Germânia entre 57 d.C. e o 59 d.C. e na Britânia (60 d.C.) chegando com os reforços necessários após a revolta de Boudica. Em 63 d.C. regressou para Roma e casou-se com Arrecina Tértula, filha de um antigo prefeito da Guarda Pretoriana. A mulher de Tito faleceria em 65 d.C. e este tomou uma nova mulher chamada Márcia Funila que pertencia a uma família aristocrática. Porém, esta família era disposta a unir-se à oposição ao Imperador Nero. O seu tio Quinto Márcio Barea Sorano e a sua filha Servília faleceram após a fracassada conspiração de Caio Calpúrnio Pisão em 65 d.C. Alguns historiadores modernos teorizam que Tito se divorciou da sua esposa devido à conexão da sua família com a conspiração. Não voltou a casar-se de novo. Tito parece ter tido muitas filhas, sendo ao menos uma delas de Márcia Furnila. A única que chegou à idade adulta foi Júlia Flávia, que pôde ser filha de Arrecina, pois a mãe desta também se chamava Júlia.[13] Durante este período Tito dedicou-se à justiça, sendo questor.

Campanha da Judéia

Em 66 d.C. os judeus da Província de Judeia rebelaram-se contra o Império Romano. Céstio Galo, o governador da Síria, foi derrotado na batalha de Beth-Horon e forçado a se retirar de Jerusalém. O rei pró-romano Herodes Agripa II e a sua irmã Berenice fugiram para a cidade de Galileia. Nero designou a Vespasiano para esmagar a rebelião, este marchou imediatamente à região com a V e X legiões. Vespasiano uniu-se a Tito e à XV legião em Acre. Com uma força de 60.000 soldados profissionais, os romanos dispuseram-se a varrer a rebelião através de Galileia e marchar sobre Jerusalém.

A Guerra foi coberta pelo historiador judeu-romano Flávio Josefo no seu trabalho A guerra dos judeus. Josefo serviu como comandante na defesa da cidade de Jotapata quando o exército romano invadiu Galileia em 67 d.C. Após um duro sítio de 47 dias, a cidade caiu, tomando uns 40.000 prisioneiros, que foram assassinados, enquanto o restante dos resistentes se suicidaram. O próprio Josefo rendeu-se a Vespasiano, que o liberou ao observar a sua inteligência. Durante 68 d.C. toda a costa e o norte da Judeia caiu sob o controle romano. Esta expedição serviu para que Tito se distinguisse como um general experto.

Ano dos quatro imperadores

A última e importante fortaleza que resistia era a cidade judaica de Jerusalém. Contudo, a campanha sofreu uma pausa quando chegaram notícias de Roma da morte do imperador Nero e da nomeação de Galba pelo Senado como sucessor. Vespasiano decidiu enviar Tito a apresentar os seus respeitos ao novo imperador. Contudo, quando Tito se aproximava à cidade, recebeu notícias da morte de Galba e da nomeação de Otão como sucessor, além da marcha para Roma desde a Germânia de Vitélio. Não querendo arriscar-se a ser capturado por nenhum dos dois bandos, Tito cancelou a viagem e voltou a unir-se ao seu pai na Judeia.Enquanto isso, Otão fora derrotado na batalha de Bedriacum e suicidara-se tão nobremente que emocionara Roma. Quando chegaram notícias aos exércitos de Judeia e Egito, estes decidiram nomear Vespasiano como imperador a a 1 de julho de 69 d.C. Vespasiano aceitou, e mediante intensas negociações levadas por Tito, uniu-se ao governador da Síria, Caio Licínio Muciano, formando uma força muito importante no Oriente . Esta força mudou-se para Roma liderada por Muciano, enquanto Vespasiano marchou para Alexandria, ficando Tito ao comando para que acabasse com a rebelião. No fim de 69 d.C. as tropas de Vitélio foram derrotadas e o Senado declarou Vespasiano como imperador a 21 de dezembro, finalizando deste jeito o Ano dos quatro imperadores.

Sítio de Jerusalém

Enquanto isso, os judeus encontravam-se num conflito civil entre eles, dividindo a resistência entre os sicários, liderados por Simão Bar Giora e os fanáticos conduzidos por João de Giscala. Tito aproveitou então a oportunidade de começar o assalto sobre Jerusalém. Ao exército romano uniu-se a XII Legião, que fora derrotada sob o comando de Céstio Galo. Desde Alexandria, Vespasiano enviou Tibério Júlio Alexandre para que agisse como segundo de Tito. Tito rodeou a cidade no comando de três legiões (V, XII e XV) sobre o lado oeste e enviou a (X) sobre o Monte das Oliveiras a leste. Tito cortou os alimentos e a água à cidade, depois permitiu a entrada de alguns judeus para celebrar a Páscoa negando depois a saída. O exército romano era acossado continuamente pelos judeus e numa ocasião estes quase capturaram Tito.

Após as tentativas de Josefo de negociar uma rendição, os romanos retomaram as hostilidades e destroçaram depressa as primeiras fases da muralha. Para intimidar a resistência, Tito crucificou os desertores judeus em torno das muralhas. Neste ponto os judeus estavam a ponto de se renderem por causa da fome e os romanos aproveitaram a debilidade para irrompir na cidade após quebrar a última fase da muralha. Os romanos penetraram na cidade, capturaram a fortificação Antônia e iniciaram um assalto frontal sobre o Templo. Segundo Josefo, Tito ordenara que o Templo não fosse destruído, porém, durante a batalha pela cidade, um soldado lançou uma antorcha para o interior do Templo e este ardeu depressa. O cronista Sulpício Severo, no entanto, afirma que Tito ordenou a destruição do Templo. Fosse o que for, o Templo foi totalmente destruído e a cidade saqueada, após o qual os soldados proclamaram-no Imperator no campo de batalha. Segundo Josefo 1.100.000 pessoas foram assassinadas durante o sítio, destes a maioria eram judeus. Fontes antigas informam de que 97.000 pessoas foram capturadas e escravizadas, incluindo Simon Bar Giora e João de Giscala. Muitos escaparam a locais próximos do Mediterrâneo. Aparentemente Tito recusou aceitar uma Coroa de erva (condecoração militar romana) alegando que "não há mérito em vencer umas gentes abandonadas pelo seu próprio Deus".

Herdeiro de Vespasiano

Incapaz de navegar para a Itália durante o Inverno, Tito celebrou uns esplendorosos jogos na Cesareia Marítima e Berytus, depois viajou para Zeugma do Eufrates, onde se apresentou com uma coroa a Vologases II de Partia. Visitando Antioquia confirmou os direitos tradicionais dos judeus naquela cidade. No seu caminho para Alexandria, deteve-se em Mênfis onde consagrou o touro sagrado de Ápis portando uma diadema. Esta diadema era para os romanos um símbolo de realeza. Segundo Suetônio estes fatos causaram uma grande consternação em Roma, onde se temia que se rebelasse contra Vespasiano. Segundo Suetônio Tito viajou imediatamente para Roma com o fim de dissipar os rumores sobre a sua conduta.

Após a sua chegada à cidade em 71 d.C. recompensou-o com um triunfo. Acompanhado por Vespasiano e o seu irmão Domiciano, desfilou a cavalo pela cidade sendo saudado de maneira entusiasta pela população e acompanhado pelos seus tesouros e prisioneiros de guerra. Josefo descreve-o como uma procissão com ingentes quantidades de ouro e prata. A procissão incluía os prisioneiros de guerra e os tesouros do Templo de Jerusalém. Simão Bar Giora foi executado no Fórum Romano, depois disso, a procissão ufanou-se em realizar os requeridos sacrifícios religiosos no Templo de Júpiter. O Arco do Triunfo de Tito, que fica na entrada do Fórum, comemora a vitória de Tito.

Com Vespasiano declarado imperador, Tito e o seu irmão Domiciano receberam o título de César em nome do Senado. Além de compartir o poder tribunício com o seu pai, Tito foi designado cônsul em sete ocasiões durante o reinado do seu pai e atuou como o seu secretário comparecendo em certas ocasiões no Senado no seu nome. Tito foi designado comandante da Guarda Pretoriana, fazendo mais sólida a posição de Vespasiano como monarca legítimo. Contudo Tito tornou-se infelizmente famoso entre a população devido às suas violentas ações ordenando a execução de pessoas suspeitosas de traição. Quando em 79 d.C., foi destapado um complô dirigido por Aulo Cecina Alieno e Éprio Marcelo para derrocar a Vespasiano. Alieno foi convidado a uma ceia, na que foi assassinado por punhaladas no coração.

Durante as revoltas judaicas, Tito iniciou uma relação com Berenice de Cilícia, irmã de Herodes Agripa II, que colaborara com os romanos durante a campanha e depois/(portanto)logo apoiara a Vespasiano no seu caminho para o trono. No 75 d.C., ela voltou junto a Tito e viveu abertamente com ele no palácio como a sua prometida. Os romanos eram cépticos sobre/(acerca_de:)em_relação) esta relação e a desaprovavam. A pressão do (gentes:)povo/(localidade:)povoação fez com que Tito separara-se dela, porém a sua reputação sofreu muito por causa desta relação.

Imperador

Vespasiano faleceu o 23 de Júnio do 79 d.C. por causa de uma infecção e foi sucedido pelo seu filho Tito. Os romanos, por causa dos seus supostos vícios, temiam que Tito tornara-se em outro Nero. Contra todos os prognósticos Tito demonstrou ao povo que era um imperador eficaz e foi muito querido por todos os romanos. Um dos seus primeiros atos como imperador foi ordenar publicamente suspender os juízos baseados em traição. A lei de traição, ou a lei de maestas, a princípio foi usada para processar os que corruptoramente tinham prejudicado as pessoas e a majestade de Roma por qualquer ação revolucionária. Contudo, sob o reinado de César Augusto, esta lei também fora aplicada para condenar os escritos difamatórios. Sob o reinado de Tibério, Calígula e Nero utilizou-se para justificar as execuções, criando uma rede de informadores que fez tremar a administração romana durante décadas. Tito acabou com esta prática, declarando:

É impossível que eu seja insultado ou ultrajado. Eu nada faço que mereça ser censurado, e não me importam as falsidades que sobre mim sejam escritas. E, quanto aos imperadores que já estão mortos e enterrados, já se vingarão por si mesmos caso alguém lhes fazer algum mal, se em verdade são semideuses e possuem algum poder."

Portanto, nenhum dos senadores foi assassinado durante o seu reinado; Tito manteve assim a sua promessa de que assumiria o cargo de Pontifex Maximus" com o objetivo de manter as mãos limpas". Os informadores públicos foram castigados e desterrados da cidade. Como imperador, Tito ficou conhecido pela sua generosidade, e Suetônio declara que para compreender que ele não tirara nenhuma benefício de ninguém durante um dia inteiro ele comentou, "Amigos, perdi um dia".

Desafios

Embora o seu reinado ficasse livre de conflitos militares ou políticos, Tito teve de afrontar um grande número de desastres. A 24 de agosto de 79 d.C., apenas dois meses depois da sua ascensão ao trono, o Monte Vesúvio entrou em erupção, causando a quase completa destruição das cidades da Baía de Nápoles. As cidades de Pompeia e Herculano foram sepultadas sob toneladas de pedra e lava causando a morte de um grande número de pessoas. Tito designou dois ex-cônsules para dirigir as tarefas de reconstrução e doou uma grande quantidade de dinheiro do Tesoro Imperial a fim de ajudar as vítimas do vulcão. O próprio Tito visitou Pompeia após a erupção e depois outra vez mais no ano seguinte.

Durante a segunda visita, um incêndio que durou três dias estourou em Roma. Embora o grau de destruição não fosse tão desastroso quanto o do grande incêndio do 64 d.C., Dião Cássio registrou uma longa lista de edifícios públicos danificados parcialmente ou consumidos totalmente pelo fogo. Entre eles, estavam o Panteão de Agripa, o Templo de Júpiter, o Diribitorium, o Teatro de Pompeu e a Saepta Júlia, entre outros. De novo Tito pagou do seu bolso os danos ocasionados pelo fogo. Aparentemente houve uma praga durante o incêndio, embora se desconheça a natureza da doença e o número de falecidos.

Enquanto isso, a guerra continuara na Britânia, onde Cneu Júlio Agrícola se internou na Caledônia e dirigiu o estabelecimento de várias fortificações. Como consequência das suas ações, Tito foi aclamado Imperator por decimo-quinta vez.

O seu reinado também sofreu a rebelião de Terêncio Máximo, um de vários Neros falsos que continuaram aparecendo ao longo dos anos 70. Embora Nero seja conhecido nomeadamente como um tirano, chegaram escritos que informam que foi enormemente popular nas províncias orientais durante o seu reinado.

Segundo Dião Cássio, Terêncio Máximo seria parecido com Nero na voz e no aspecto e, como ele, tocava a lira. Terêncio estabeleceu-se na Ásia Menor, mas pronto foi forçado a escapar para além de Eufrates, tomando refúgio entre os Partos. Além disso, as fontes antigas declaram que Tito descobriu que o seu irmão Domiciano conspirava contra ele, mas recusou a opção de assassiná-lo ou desterrá-lo.

Obras Públicas

A construção de Anfiteatro Flávio, conhecido habitualmente como o Coliseu de Roma, começou na década de 70 sob o reinado de Vespasiano e finalizou sob o reinado de Tito nos anos 80. Além das espetaculosas dimensões do Coliseu, que ofereciam um grande entretenimento para a população romana, o Coliseu representava também os sucessos militares dos Flávios durante as guerras judaicas. Os jogos inaugurais duraram cem dias, e foram sumamente elaborados, incluindo combates de gladiadores, pelejas de animais selvagens, representações de batalhas navais (para as que foi inundado o teatro), corridas de cavalos e de carros. Durante os jogos, passaram entre o público umas bolas de madeira, inscritas com vários prêmios com os que os ganhadores eram obsequiados.

Junto ao anfiteatro, dentro do recinto da Domus Aurea de Nero, Tito ordenara a construção de uns novos banhos públicos públicos, que deviam levar o seu nome. A construção deste edifício terminou de pressa para que coincidisse com a finalização das obras do Anfiteatro Flávio.

A prática do culto imperial foi ressuscitada por Tito, embora aparentemente isto encontrou algumas dificuldades, pois Vespasiano não foi deificado senão seis meses depois da sua morte. Para honra e glória da dinastia dos Flávios, começaram as obras do Templo de Tito e Vespasiano que finalizaria durante o governo de Domiciano.

Morte

Ao finalizar os jogos, Tito dedicou oficialmente ao povo a construção do anfiteatro e os banhos, o que deveu ser o seu último ato como imperador. Tito partiu para os territórios dos sabinos mas caiu enfermo e faleceu por causa de umas febres, aparentemente no mesmo imóvel que o seu pai. Segundo parece, as últimas palavras que pronunciou Tito foram "somente cometi um erro". Tito governara o Império Romano durante dois anos, da morte do seu pai em 79 d.C. até a sua morte a 13 de setembro do 81 d.C. Tito foi sucedido por Domiciano cujo primeiro ato foi deificar o seu irmão.

Os historiadores especularam muito sobre a morte de Tito e do erro ao qual se refere nas suas últimas palavras, Filóstrato defende que foi envenenado por Domiciano e que a sua morte fora prognosticada por Apolônio de Tiana. Suetônio e Dião Cássio sustêm que faleceu de causas naturais, mas acusam Domiciano de abandonar o seu irmão enfermo e segundo Dião, o erro ao que Tito refere é o de não ter executado o seu irmão que descobriu a sua participação no complô contra ele.

Legado

Os relatos sobre Tito escritos por historiadores antigos são mais exemplares que sobre qualquer outro imperador. Os escritos que sobreviveram, a maioria de autores contemporâneos a Tito, oferecem uma visão estremadamente favorável para o imperador, sobretudo comparado com o tirânico governo do seu irmão Domiciano.

A obra de Josefo A guerra dos judeus oferece uma visão de primeira mão sobre ,o caráter de Tito durante a rebelião judaica. Contudo a neutralidade do escrito de Josefo foi questionado, pois Josefo estava em dívida com o imperador. Quando Tito chegou a Roma em 71 d.C. Josefo acompanhava-o como parte do seu séquito, e depois o historiador naturalizaria-se cidadão romano e tomaria o nome e o praenomen dos seus padroeiros. Josefo recebeu uma pensão anual e viveu em palácio. Sob o patrocínio do imperador, Josefo escreveu muitas das suas obras mais conhecidas. A obra conhecida como A Guerra dos Judeus inclina-se contra os líderes da rebelião, apresentando o levantamento como uma operação mal organizada e culpando aos judeus de causar a guerra.

Outro contemporâneo de Tito, Públio Cornélio Tácito, que começou a sua carreira pública em 80 d.C. ou 81 d.C. e que deve a sua ascensão à dinastia Flávia, oferece uma visão sobre o imperador Tito. As suas Histórias foram escritas neste período, e publicadas durante o reinado de Trajano. Porém, os cinco primeiros livros deste texto, que abrangem os reinados de Tito e Domiciano não foram preservados.

Suetônio oferece um relato curto mas muito favorável sobre o reinado de Tito na sua obra As vidas dos doze césares. Suetônio ressalta os seus sucessos militares e a sua generosidade; assim, a sua descrição de Tito diz:

"Tito, chamado do mesmo jeito que o seu pai, foi querido por todo o povo romano, coisa muito difícil. Era tão superior que era um prazer para a raça humana, foram estas características o que lhe fizeram ganhar o afeto da população."

Outro autor, Dião Cássio, escreveu a sua História de Roma uns cem anos depois da morte de Tito; Cássio tem uma visão muito similar à de Suetônio, e é muito provável que utilizara a este como a sua fonte principal:

"O fato de as fontes falarem muito bem de ele é devido a que esteve pouco tempo no trono, e apenas teve oportunidade de fazer o mal. Desde a data em que o nomearam imperador transcorreram somente dois anos, dois meses e vinte e nove dias -além dos vinte e nove anos, cinco meses e vinte e cinco dias que vivera até então. Certamente, por isso é acreditado que igualou o longo reinado de Augusto, pois Augusto nunca teria sido amado caso viver menos, nem Tito caso viver mais. Augusto, embora se mostrasse irascível pelas guerras e outros contratempos, foi muito capaz, com o tempo, de conseguir uma brilhante reputação pelos seus generosos atos; Tito, pelo contrário, governou com temperança e faleceu no apogeu da sua glória. De ter vivido muito mais, ficaria demonstrado que deve mais a sua fama atual à fortuna do que aos seus próprios méritos."

Plínio o Velho, que faleceu após a erupção do Vesúvio, dedicou a sua obra Naturalis Historiæ ao imperador.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Cruzadas, Uma Batalha de duas faces.

Há quase mil anos, o Ocidente trombou com o Oriente. O mundo cristão invadiu o mundo muçulmano e deu origem a 200 anos de guerra. Só dá para entender essa história se conhecermos os dois lados dela.

Afinal, o que foram as cruzadas? Um ato de fé e heroísmo? Um massacre covarde? “Não faz sentido buscar hoje bandidos e mocinhos”, diz o holandês Peter Demant, historiador da USP. “As batalhas tiveram significados diferentes para o Ocidente e o Oriente”. Existem, portanto, duas histórias das Cruzadas. Nada melhor do que narrar essa história dos dois pontos de vista. Como você poderá constatar nesse artigo, as versões não se contradizem. São olhares diferentes que ajudam a entender por que, nove séculos depois, o assunto continua fascinando – e causando polêmica – nos dois lados do mundo.

O exército de Cristo

No dia 27 de novembro de 1095, o papa Urbano II fez um comício ao ar livre nas cercanias da cidade de Clermont, na França. Na audiência, além de muitos bispos, havia nobres e cavaleiros. Depois desse sermão, o mundo nunca mais seria o mesmo.

No discurso, o papa tentou convencer os espectadores a embarcar numa missão que parecia impossível: cruzar 3 mil quilômetros até a cidade santa de Jerusalém e expulsar os muçulmanos, que dominavam o lugar desde 638. Segundo os historiadores, Urbano II deve ter usado uma linguagem vibrante e provavelmente falou dos horrores que os peregrinos cristãos à Terra Santa estavam vivendo. Do alto de sua autoridade divina de substituto de São Pedro na Igreja, o papa prometeu: quem lutasse contra os infiéis ganharia perdão de todos os pecados e lugar garantido no paraíso. Um prêmio tentador no imaginário do homem cristão medieval, sempre atormentado pela ameaça de queimar no inferno.

A reação da multidão foi imediata. Gritos de “Essa é a vontade de Deus” começaram a ecoar. A pregação mal havia terminado e o bispo Ademar de Monteil, num gesto provavelmente ensaiado, ajoelhou-se diante do papa e “tomou a cruz”, ritual de alistamento em que o voluntário recebia uma cruz de pano que deveria ser costurada na altura do ombro do uniforme de batalha. Ademar embarcaria na primeira cruzada. Dali em diante, aquela cruz passaria a identificar os “soldados de Cristo”, ou, simplesmente, “cruzados”.

Segundo os historiadores, a intenção do papa era convocar apenas cavaleiros bem preparados. Mas seu discurso empolgou especialmente os camponeses pobres que tinham pouco a perder. As cruzadas terminariam entrando para a história como o maior movimento populacional da Idade Média, redefinindo para sempre o mapa do mundo.

A ameaça do Islã

No século 11, não havia dúvidas: o Islã era a religião mais forte do planeta. Em menos de cinco séculos, desde a morte de Maomé, em 632, a palavra de Alá tinha conquistado a Península Arábica, o norte da África, a Ásia Central, Espanha, Portugal, grande parte da Índia e até um pedacinho da China.

Não era uma hegemonia apenas religiosa. Os muçulmanos superavam os cristãos em ramos como a matemática, a astronomia, a medicina e a química. Não havia cidade européia que se comparasse aos centros islâmicos. O Cairo sozinho abrigava tanta gente quanto Paris, Veneza e Florença juntas, as três maiores cidades cristãs da época.

Foi quando chegou ao papa um pedido de ajuda do Império Cristão Bizantino. A sede do império, Constantinopla (atual Istambul, capital da Turquia), era o maior centro do cristianismo naquela parte do mundo. Os bizantinos estavam preocupados com a presença nas suas fronteiras dos muçulmanos, naquela época governados por uma agressiva monarquia de etnia turca, os seljúcidas. Originados de uma tribo de saqueadores nômades das estepes da Ásia Central, os seljúcidas haviam conquistado os territórios do califado de Bagdá no século 10 e, após se converterem ao islamismo, tornaram-se a maior força muçulmana. E eles queriam mais. Já tinham tomado a cidade bizantina de Nicéia e estavam a menos de 160 quilômetros de Constantinopla, o equivalente a três dias a cavalo.

Naquele momento, não restava alternativa ao imperador bizantino Aleixo Comenos a não ser apelar para seus confrades europeus. Só que, quando o imperador avistou a primeira leva de combatentes cristãos, teve motivos de sobra para se preocupar.

Cruzada Popular

Se é verdade que a intenção do papa era enviar um exército forte e organizado, formado pela elite dos cavaleiros, ele se frustrou um pouquinho. Uma série de pregadores populares começaram a incitar o povão a atacar os “infiéis”. A promessa de remissão dos pecados, aliada à chance de pilhar tesouros lendários, era bem atraente. Velhos, mulheres e crianças resolveram se lançar na aventura.

O primeiro desses exércitos foi liderado por um pregador conhecido como Pedro, o Eremita. Já no caminho, seus seguidores criaram tumultos, massacrando comunidades judaicas em cidades como Trier e Colônia, na atual Alemanha. “As cruzadas fugiram do controle”, diz a professora Leila Rodrigues da Silva, professora de História Medieval da UFRJ. “É provável que muitas dessas pessoas nem soubessem diferenciar um judeu de um muçulmano.”

Ainda assim, o imperador bizantino recebeu os seguidores do Eremita em Constantinopla. Prudentemente, Aleixo aconselhou o grupo a aguardar a chegada de tropas mais bem equipadas. Mas a turba começou a saquear a cidade e foi obrigada a se alojar fora de Constantinopla, perto da fronteira muçulmana. Até que, em agosto de 1096, o bando inquieto cansou-se de esperar e partiu para a ofensiva. Foi massacrado.

Somente dois meses após essa “cruzada popular” começaram a chegar a Constantinopla os primeiros exércitos liderados por nobres. Esses homens estavam interessados em mais do que um lugarzinho no céu. “Nessa época, a Europa vivia um boom populacional e a pressão pela posse de terras era muito grande”, diz a historiadora da Idade Média Fátima Fernandes, da UFPR. “Os filhos de nobres que não eram primogênitos só podiam enriquecer por meio de um bom casamento, algo cada vez mais difícil. As cruzadas abriram uma esperança para eles”, diz ela.

Até que foi fácil

O primeiro líder nobre a chegar a Constantinopla, em dezembro de 1096, foi o conde Hugo de Vermandois, primo do rei da França, que veio pelo mar com seus cavaleiros e soldados. Logo depois, vindo pela mesma rota, aportou o duque da Baixa-Lorena, Godofredo de Bouillon, acompanhado de irmãos e primos. Para financiar sua participação na cruzada, Godofredo vendera seu castelo – o que prova que não pretendia voltar para casa.

Em abril de 1097, cerca de 40 mil homens atravessaram o estreito de Bósforo (que separa a Europa da Ásia) sem encontrar resistência. O governante muçulmano, o sultão turco Kilij Arslan, iludido pela facilidade com que havia derrotado os pobres cruzados do Eremita, estava mais preocupado com disputas internas com vizinhos muçulmanos do que com a chegada de um novo contingente de cristãos. Como o sultão iria perceber apenas tarde demais, esse seria o maior erro de sua vida.

Dessa vez, bem equipados com escudos, armaduras e cavalaria, os cruzados cercaram e tomaram Nicéia, devolvendo-a aos bizantinos. Em outubro de 1097, eles chegaram a Antióquia, conquistando aquela que havia sido uma das principais cidades do Império Romano. Seis meses depois, os cristãos partiram em direção a Jerusalém. A essa altura, restavam 13 mil homens, um terço do contingente inicial. Após um mês de cerco, em 13 de julho de 1099, os cruzados conseguiram finalmente entrar na cidade santa. No dia 15 venceram as últimas resistências.

Para a maioria deles, a conquista fora um milagre. Menos de quatro anos após a pregação em Clermont, os cristãos vitoriosos saíam em procissão para o Santuário do Santo Sepulcro, onde Cristo teria ressuscitado. O papa Urbano II morreu duas semanas depois, sem ter recebido a boa notícia da vitória. Mas ele também foi poupado das más notícias que chegariam depois.

Derrota após derrota

Foram criados quatro Estados cristãos nos territórios conquistados. Ao sul, o mais importante, o Reino de Jerusalém, governado por Godofredo de Bouillon. Um pouco acima estavam o Estado de Trípoli, o Principado de Antióquia e o Condado de Edessa. Os chefes desses Estados logo perceberam que a permanência lá não seria fácil.

Os governantes cristãos logo perderam o apoio dos bizantinos, porque se recusavam a reconhecer a soberania do Império na região e não haviam demonstrado nenhum escrúpulo em substituir os patriarcas da Igreja Ortodoxa Bizantina por bispos oriundos da Igreja Católica Romana. Para piorar, não havia soldados suficientes para a formação de grandes exércitos. Logo após a conquista de Jerusalém, milhares de cavaleiros regressaram à Europa.

Em 1144, a perda de Edessa para os muçulmanos foi a primeira prova da vulnerabilidade cristã. Com o objetivo de recuperar o território perdido, o papa Eugênio III lançou uma segunda cruzada em 1145, liderada por Luís VII, rei da França. Foi um fracasso. O filme que está chegando aos cinemas retrata as cruzadas a partir desse período.

Mas o pior estava por vir. Em 1187, sob a liderança de Saladino – o sultão que unificou os muçulmanos e até hoje é venerado por seguidores do Islã no mundo inteiro –, os muçulmanos reconquistaram o Reino de Jerusalém. Era o começo do fim.

A perda de Jerusalém foi um choque para a Europa cristã, apesar de Saladino ter permitido peregrinações ao Santo Sepulcro. Dali em diante, houve pelo menos mais quatro grandes cruzadas em direção à Terra Santa e os cristãos colecionaram derrotas e vexames. Um dos piores foi o de 1204, quando uma cruzada acabou atacando e saqueando a cidade cristã de Constantinopla, deixando cicatrizes profundas na relação entre os cristãos do Oriente e do Ocidente. Em 1212, organizou-se uma cruzada formada por adolescentes, a “Cruzada das Crianças”. Seus participantes, na maioria, terminaram mortos ou vendidos como escravos.

A herança cruzada

Mas, afinal, qual foi a herança das cruzadas para o Ocidente?

Segundo os historiadores, elas deixaram diversas marcas negativas, como a separação da Igreja do Ocidente e do Oriente e um rastro de violência que fez aumentar a desconfiança entre cristãos e muçulmanos nos anos seguintes.

Em compensação, é inegável que a Europa, apesar de não ter conquistado seus objetivos, saiu fortalecida. As cruzadas reforçaram a autoridade dos reis, abrindo caminho para a criação dos Estados Nacionais. Elas também impulsionaram o comércio com o Oriente, enriquecendo as cidades italianas que iriam ter papel fundamental na sofisticação das transações financeiras até resultar na criação do sistema bancário. Além disso, reforçaram a identidade cristã no Ocidente. E paradoxalmente, apresentaram os costumes orientais aos ocidentais, dos tapetes às especiarias. Essas novidades gerariam curiosidade na Europa, o que impulsionaria a busca por outras terras. Como o Brasil.

A invasão bárbara

Foi um dia de terror. Em 15 de julho de 1099, milhares de guerreiros loiros entraram em Jerusalém matando adultos, velhos e crianças, estuprando as mulheres e saqueando mesquitas e casas. As ruas se transformaram numa imensa poça de sangue. Os poucos sobreviventes tiveram de enterrar os parentes rapidamente antes que eles próprios fossem presos e vendidos como escravos. Dois dias depois, não havia sequer um muçulmano em Jerusalém. Tampouco havia judeus. Nas primeiras horas da batalha, muitos deles participaram da defesa do seu bairro, a Juderia. Mas, quando os cavaleiros invadiram as ruas, os judeus entraram em pânico. A comunidade inteira, repetindo um gesto ancestral, reuniu-se na sinagoga para orar. Os invasores bloquearam as saídas, jogaram lenha e atearam fogo à sinagoga. Os judeus que não morreram queimados foram assassinados na rua.

A cena é narrada em As Cruzadas Vistas pelos Árabes, do libanês radicado na França Amin Maalouf. Seu livro é uma tentativa de contar as cruzadas do ponto de vista de quem estava do lado de lá. Para os cronistas muçulmanos, na verdade, não existiram cruzadas. As investidas cristãs em seus territórios ficariam conhecidas como as invasões dos francos (porque a maioria dos cruzados falava o francês), um período de terror e brutalidade na história do Islã.

Lá vêm eles

A primeira investida dos francos, ocorrida em 1096, três anos antes do terrível ataque a Jerusalém, não chegou a assustar o sultão turco Kilij Arslan, que comandava os territórios do atual Afeganistão até o que viria a se chamar, séculos depois, de Turquia. Liderado por um tal de Pedro, o Eremita, o grupo que se aproximava de Constantinopla com a ameaça de exterminar todos os muçulmanos da região mais parecia um bando de mendigos maltrapilhos. Entre os guerreiros, havia uma multidão de mulheres, velhos e crianças – um inimigo muito menos ameaçador do que os cavaleiros mercenários que o sultão estava acostumado a enfrentar.

Durante um mês, mais ou menos, tudo o que os cavaleiros turcos fizeram foi observar a movimentação dos invasores, que se ocupavam apenas de saquear as regiões próximas do acampamento onde foram alojados. Quando parte dos europeus resolveu partir em direção às muralhas de Nicéia, cidade dominada pelos muçulmanos, uma primeira patrulha de soldados do sultão foi enviada, sem sucesso, para barrá-los. Animado pela primeira vitória, o exército do Eremita continuou o ataque a Nicéia, tomou uma fortaleza da região e comemorou se embriagando, sem saber que estava caindo numa emboscada. O sultão mandou seus cavaleiros cercarem a fortaleza e cortarem os canais que levavam àgua aos invasores. Foi só esperar que a sede se encarregasse de aniquilá-los e derrotá-los, o que levou cerca de uma semana.

Quanto ao restante dos cruzados maltrapilhos, foi ainda mais fácil exterminá-los. Tão logo os francos tentaram uma ofensiva, marchando lentamente e levantando uma nuvem de poeira, foram recebidos por um ataque de flechas. A maioria morreu ali mesmo, já que não dispunha de nenhuma proteção. Os que sobreviveram fugiram em pânico. O sultão, que havia ouvido histórias temíveis sobre os francos, respirou aliviado. Mal imaginava ele que aquela era apenas a primeira invasão e que cavaleiros bem mais preparados ainda estavam por vir.

Ataque surpresa

Em meados de 1097, um ano depois da vitória sobre os homens do Eremita, os muçulmanos não estavam lá muito preocupados com a notícia da chegada de novos invasores. Mas a segunda leva de cavaleiros francos que marchava em direção aos seus territórios em nada se parecia com aqueles maltrapilhos ingênuos e despreparados. Bem protegidos com armaduras e escudos, os cavaleiros que agora chegavam não seriam presa fácil para as flechas lançadas pelos arqueiros turcos. Quando os muçulmanos se deram conta dessa diferença, já era tarde demais.

Em poucos dias, os cruzados invadiram a cidade de Nicéia e continuaram marchando como um verdadeiro furacão. Os exércitos turcos mal acabavam de lutar contra uma leva de invasores e, pronto, chegava um novo contingente ainda mais numeroso. Em pânico, a população de cidades como Antióquia avistava desesperada a chegada daqueles cavaleiros. Não havia nada a fazer. Alguns muçulmanos acreditavam até que se tratava do fim do mundo. Relatos do período diziam que o final dos tempos seria precedido pelo nascer de um gigantesco sol negro, vindo do Oeste, acompanhado de hordas de bárbaros. Se o sol negro ainda não havia aparecido, os bárbaros, ao menos, já davam as caras.

A nova ofensiva, que culminou com a brutal invasão de Jerusalém, em julho de 1099, alteraria para sempre a visão que o Oriente tinha do Ocidente. Os saques, estupros e assassinatos de crianças não eram nada condizentes com o tratamento que os próprios mulçumanos sempre deram aos cristãos e judeus que viviam em seus territórios. Quando eles chegaram a Jerusalém, no século 7, fizeram questão de preservar as igrejas cristãs e sinagogas judaicas. O acordo era claro: desde que esses povos não insultassem o profeta e não deixassem de pagar seus impostos, eles sempre teriam a liberdade para viver de acordo com suas crenças e suas próprias leis. Os poucos casos de governos hostis aos judeus e cristãos não passavam de exceções em longos períodos de convivência pacífica.

Com a queda de Jerusalém e a derrota para os francos, os mulçumanos aprenderam uma difícil lição: enquanto estivessem desunidos, o futuro do Islã estaria comprometido. Para que essa união fosse possível, contudo, seria necessário o surgimento de um líder respeitado pela maioria dos muçulmanos. Ele apareceu quase um século depois.

A reação islâmica

O homem que se transformaria no herói da reação muçulmana era um soldado curdo chamado Salah al-Din, conhecido no Ocidente como Saladino. Até hoje seu nome é venerado como símbolo da resistência contra o Ocidente – o próprio Saddam Hussein, conhecido pelas atrocidades cometidas contra os curdos de seu país, citou várias vezes o nome de Saladino aos iraquianos nos dias que antecederam a invasão americana.

Décadas após a fundação dos reinos cristãos no Oriente, os muçulmanos ainda não haviam conseguido retomar a maioria dos territórios perdidos. As disputas entre os diversos califas e sultões tampouco ajudavam na reconquista. Em 1174, ao tornar-se o soberano mais importante do mundo muçulmano, Saladino já pensava em como unir os estados islâmicos para uma contra-ofensiva.

A chave do sucesso de Saladino era um misto de profunda convicção religiosa e pragmatismo militar. Para derrotar os cruzados, ele pregava a união de todos os muçulmanos em torno da jihad, a guerra santa do Islã. Relatos contam que ele costumava reclamar que os muçulmanos não lutavam com o mesmo fervor dos cristãos. Após organizar os exércitos e treinar novas técnicas de combate, ele conseguiria o que muitos consideravam impossível: em 1187, reconquistou a cidade sagrada de Jerusalém, que havia 88 anos estava nas mãos dos cristãos. Após entrarem na cidade, muitos muçulmanos quiseram destruir a Igreja do Santo Sepulcro e matar todos os cristãos por vingança pelas atrocidades cometidas na invasão dos cruzados. Saladino, porém, fez questão de conter os ânimos dos seus soldados, preservando tanto a igreja quanto a vida dos cristãos.

Como já era esperado, a queda de Jerusalém foi um choque para o Ocidente. A cada derrota no front cristão, novas cruzadas eram enviadas ao Oriente, arrastando a batalha por décadas. O último bastião cristão na região só seria derrubado mais de um século após a tomada de Jerusalém por Saladino. O capítulo das cruzadas medievais terminaria apenas em 1291, quando os muçulmanos expulsaram os cristãos do Reino do Acre, ao norte de Jerusalém.

O legado da briga

Durante muito tempo, uma pergunta intrigou historiadores tanto do Ocidente quanto do Oriente: se os muçulmanos saíram vitoriosos das cruzadas, por que os estados islâmicos terminaram sendo ofuscados, no séculos seguintes, pela ascensão de potências européias?

Segundo a maioria dos pesquisadores, a ascensão européia tem menos ligação com as cruzadas e mais a ver com a debilidade dos governos muçulmanos da época. Essa fraqueza estava ligada a vários fatores, entre eles a falta de identidade árabe (desde o século 9, a maioria dos dirigentes muçulmanos era estrangeira, como os turcos seljúcidas) e a incapacidade de criar instituições estáveis – como os Estados em formação na Europa Ocidental.

O fato é que as cruzadas foram um marco nas relações entre ocidentais e orientais. Naquele momento, os “invasores bárbaros” eram os ocidentais cristãos e a grande potência era a muçulmana. Sobrou daquela guerra um ressentimento amargo, que extravasa de tempos em tempos, como tem acontecido com freqüência desde o ataque terrorista de 2001. Não são poucos os muçulmanos que atribuem o atraso econômico de seus países àquela agressão quase um milênio atrás – e que querem vingança por isso.

A vitória contra os francos e a ascensão de Saladino reforçaram no imaginário muçulmano a idéia de que é possível vencer o inimigo com altivez e senso de justiça. Além disso, as lutas contra os francos ensinaram também que os muçulmanos são mais fortes quando estão unidos – tese que até hoje permanece como uma utopia no Oriente. Mas até que ponto as cruzadas devem ser lembradas em tempos de guerra no Iraque?

“Não há por que ficar buscando na história motivos para reacender animosidades entre os dois povos”, diz o historiador Demant. “As cruzadas marcaram a história por apenas dois séculos. Já a convivência pacífica entre cristãos e muçulmanos sobrevive há mais de mil anos”.