quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Quem Irá Julgar os Atos de Deus?


Ah! Quem me dera alguém que me ouvisse!
Eis a minha defesa, que o Todo Poderoso me responda;
que o meu adversário (Deus)escreva a sua acusação. (Jó. 31.35)

Em primeiro lugar, gostaria de enfatizar que meu propósito com este esboço, que na verdade se parece mais com um grito por justiça, não tem a intenção de confundir, desfazer ou inibir a fé de nenhum dos meus destinatários. Tenho alguns projetos, e sei que Deus irá me abençoar, (parece até uma contradição) de escrever futuramente literaturas que abordem o problema do sofrimento humano, pelo menos três livros, o primeiro sobre Jó, o segundo sobre Eclesiastes, e o terceiro sobre “Os Absurdos de Deus e as contradições da Bíblia”.

Jó e Eclesiastes são dois livros do Antigo Testamento que em minha opinião são Universais, ou seja, servem de manuais para a vida prática. Representam as vicissitudes da vida e fazem eco ao grito por justiça dado por Asafe: Sl. 73; Habacuque: 1:2; Jeremias: 12.1:6, e tantos outros profetas e homens que se sentiram enganados, humilhados, injustiçados por Deus.

O grande conflito entre teólogos e cristãos leigos reside justamente na fé cega. Costumo dizer que “a ignorância é a mãe da devoção”. E um aspecto interessante acontece quando as ciências: arqueologia, física, biologia, antropologia, corroboram com algumas afirmações da Bíblia, e aí, os cristãos de plantão se apressam em dizer: Estão vendo! A Bíblia sempre precede a Ciência, a Bíblia nunca falha! Porém, quando as próprias ciências acadêmicas que compõem o estudo das Escrituras se opõem a Inerrância bíblica; negam a cronologia dos acontecimentos; desfazem afirmações bíblicas sobre ciência, biologia, física, antropologia, dinastias; desacreditam a autoria dos escritos, jogam por terra a infalibilidade da Escrituras, confirmam a interpolação e supressão de textos, revelam que muitas profecias foram escritas posteriormente aos acontecimentos, caracterizam alguns textos como espúrios. Aí, a coisa já muda de figura, e todos que não comungam da “Inerrância das Escrituras” estes são chamados de filhos do diabo, não convertidos, inimigos de Deus, agentes de Satanás.

Agora, falando em particular, acredito e sempre acreditarei na existência de Deus “Pois os atributos invisíveis de Deus, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que foram criadas, de modo que eles são inescusáveis. Pois tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças antes seus raciocínios se tornaram fúteis, e seus corações insensatos se obscureceram”. Romanos 1. 20.21. Como disse o apóstolo Paulo somente a dureza do coração do homem pode negar a existência de um Ser Criador de todas essas coisas.

Agora, o outro lado do problema.

Desde que ingressei no seminário e passei a estudar a Bíblia, eu disse estudar e não apenas ler e fazer de contas que tudo aquilo soaria como verdades universais, comecei a verificar que muitas coisas não se encaixavam, porém como era um recém convertido e um aluno novo no seminário, creditei tudo como sendo minha falta de conhecimento ou a falta de “revelação do Espírito Santo”, á propósito um jargão muito usado contra todos que se mostram críticos (estudiosos) das Escrituras Sagradas.

E, embora, nunca tendo sido um cristão ortodoxo, ou seja, um cristão tradicional que aceita tudo como sendo inspirado por Deus, ainda assim, hoje me arrependo de ter acreditado em dogmas, doutrinas, arranjos teológicos, profecias incompatíveis, que tinham apenas a intenção de dar sentido a um macabro enredo de mortes, assassinatos, traições, homicídios, infanticídios, incestos, invasões, estupros, ciúmes, violência, racismo, acepções, discriminações, pragas, maldições, invejas, aberrações e mentiras, tudo em nome do Deus Santo de Israel.

Ditados populares são criados dentro de suas respectivas “culturas” e a maioria deles longe de representarem verdades incontestáveis apresentam certa coerência. Entre os ditados populares existe um que acho pertinente com o assunto proposto: “O pior cego é aquele que não quer enxergar”. Digo isto porque, sempre me destaquei nos seminários onde estudei não que fosse o mais competente, mas por ser o mais ousado, praticamente o único a me levantar contra as incoerências, absurdos, injustiças e atrocidades cometidas por Deus ao longo das narrativas da Bíblia. Não é por acaso que Jó se constitui no Antigo Testamento o meu “herói preferido”, ele é um justo que foi, injustiçado, violentado, alijado, ultrajado, desmoralizado, escarnecido, por capricho do Deus de Israel que travava uma batalha de vaidades contra Satanás e, diga-se de passagem, Satanás venceu, pois nada do que Deus acrescentou a Jó poderia curá-lo de seus traumas e terrores.

Qualquer homem sensato, provido de razão ou humanidade, livre de uma religiosidade que escraviza consegue tranquilamente identificar o absurdo cometido contra Jó, homem que era integro e reto; temia a Deus e se desviava do mal. Com certeza depois da experiência infernal que Jó teve com Deus o seu “temor” antes, com uma conotação de respeito, passou a ser de medo, vulnerabilidade, inconstância e pavor, pois se o próprio Deus que testemunhou em favor dele o castigou impiedosamente o que não faria adiante.

Basta ler e querer enxergar, e não querer se enganar ou tentar representar o advogado de Deus ou do Diabo. Se ainda assim, persistir alguma dúvida sobre a injustiça praticada por Deus, leia-se as palavras do pobre Jó:

“Quando penso que a minha cama me consolará, e o meu leito aliviará a minha queixa, (leia-se dor excruciante) então me espantas (Deus) com sonhos, e com visões me assombras”. 7.13:14;

“Não existe árbitro entre nós que ponha a mão sobre nós ambos, alguém que tire a sua vara (Deus) de cima de mim, para que não me amedronte o seu terror”. 9.33:34;
“Se fosse uma questão de forças, ele é poderoso! “Se fosse uma questão de justiça, quem o citará? Se eu me justificar, a minha boca me condenará, (medo) se reto me disser, então ele me declarará perverso. Embora eu seja inocente, não levo em conta a minha alma, desprezo a minha vida. Tudo é o mesmo, portanto digo: Ele consome ao reto e ao ímpio. “Quando o açoite mata de repente, ele ri do desespero dos inocentes”. 9.19:23.

Poucos dias atrás conversava ao telefone um irmão em Cristo, este com certeza cristão de verdade, homem de muita fé, que não tenta contender com Deus e, falava que o palco da tragédia humana se iniciou no Éden evoluindo, para um contexto de guerras, vejamos: Por quais motivos os descendentes de Sem (Gn. 10.12) da árvore genealógica de Abraão, pai de todos os hebreus, foi escolhido para habitar nas terras dos cananeus, descendentes de Cão, erradamente amaldiçoado por Noé, logo após, uma embriagues de vinho. A partir dessa “apartheid racial” entre irmãos promovidos pelo Deus de Israel, o que se desenrola a seguir, é uma série de barbáries, mortes, homicídios, usurpações, estupros, violência sem fim, etc. Muita coisa ainda deveria ser comentada, isso representa apenas, a ponta de um Iceberg de erros, contradições, maldições.

Lembro-me quando certa vez no curso de Mestrado Bíblico indaguei o professor com duas “pedradas”: “Será que Deus é realmente bom? Deus sempre fez acepções de pessoas e sempre utilizou de critérios diferentes para atitudes semelhantes e citei nomes de alguns personagens da Bíblia que foram favorecidos enquanto outros preteridos: Saul (coitado do Saul esperou os dias necessários, três dias, pelo profeta Samuel e mesmo assim foi punido por oferecer sacrifício) Davi e Salomão (não eram sacerdotes e cansaram de oferecer sacrifícios sem terem autoridade para tal coisa, e nem por isso foram punidos); Moisés (coitado do Moisés, segurou uma responsabilidade que não era sua, bem que ele tentou devolver para Javé, mas este disse: Segura Moisés que esse povo é teu. E covardemente foi impedido de entrar em Canaã. Que coisa!) e Raabe (grande mulher trabalhadora e de grande fé); Isaque e a filha de Jefté (coitada da menina, pagou pela loucura de seu pai, e Deus não interveio. Sorte do Isaque), Pedro (Se safou em Pedrão, pois a bola da vez era você) e Judas (o Judas, coitado, entrou de bucha); e muitos outros.

Queridos irmãos, analisem e sejam honestos consigo mesmo.

Alguns dos autores bíblicos acreditavam que o sofrimento tinha um fim redentor, e é verdade que com freqüência pode haver benefícios nas dificuldades que encontramos. Mas eu simplesmente não vejo nada de redentor quando bebês etíopes morrem de subnutrição, quando milhares de pessoas morrem de epidemias ou quando um jovem, um pai de família, uma criança é brutalmente assassinado por violentos assassinos.

Alguns pensam no sofrimento como um teste de fé. Mas eu me recuso a acreditar que Deus assassinou (ou permitiu que Satanás assassinasse) os dez filhos de Jó para ver se Jó iria amaldiçoá-lo, e perdeu, porque Jó o xingou de tudo de ruim: algoz, covarde, injusto, insensível, opressor, zombador,etc., pena que no final, quando Deus aparece bancando o ofendido, Jó botou a viola no saco e disse “Eu sei que tudo podes, nenhum dos teus planos pode ser impedido (sentiu na carne). Certamente falei do que não entendia, coisas maravilhosas demais para mim, (só desgraça) e que eu não compreendia. Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza.
Coitado do Jó, quando Deus apareceu a sua frente, Jó devia ter pensado “Já era. Agora o que de pior poderá Ele me fazer ainda. Acho melhor dizer que eu estava errado”.

Responda amados irmãos, se alguém matasse seus dez filhos, você não teria o direito de amaldiçoá-lo? E pensar Deus que podia compensar Jó dando a ele outros dez filhos é desonesto, imoral, indigno, indecoroso.

Alguns acham que o sofrimento no mundo é provocado por forças que se opõem a Deus, forças que oprimem seu povo quando tenta obedecer a Ele. Essa visão pelo menos leva a sério o fato de que o mal existe e é disseminado. Mas no fim ela é baseada em visões mitológicas deste mundo (um universo de três andares, demônios). Também fica baseada em uma fé cega, levando a acreditar que no final tudo o que está errado será consertado.

Certos autores sustentam que o mal é um mistério. Eu encontro eco nessa visão, mas não tenho grande apreço por ela uma vez que não podemos pedir uma resposta para o mistério do sofrimento (Jó), pois Deus é o Todo Poderoso e não temos base para chamá-lo às falas pelo que fez: assassinatos de bebês, crianças, mulheres amamentando, mulheres grávidas, velhos, jovens.

Meus amados irmãos: Se Deus nos fez, se somos feitos a sua imagem e semelhança (Gn. 1.27 ), então supostamente nossa noção de certo e errado vem Dele. Se este é o caso, não há outra noção de certo e errado que não a Dele. Se Ele fez algo errado, então é culpado pelos seus próprios princípios de julgamento que Ele nos deu como seres humanos conscientes. E assassinar bebês, matar multidões de fome causando canibalismo e permitir ou causar genocídio é errado.
Observem as duras palavras de Rubem Alves “A teologia cristã ortodoxa, católica e protestante – excetuada a dos místicos e hereges – é uma descrição dos complicados mecanismos inventados por Deus para salvar alguns do inferno, o mais extraordinário desses mecanismos sendo o ato de um Pai implacável que, incapaz de simplesmente perdoar gratuitamente (como todo pai humano que ama sabe fazer), mata o seu próprio Filho na cruz para satisfazer o equilíbrio de sua contabilidade cósmica. É claro que quem imaginou isso nunca foi pai. Na ordem do amor são sempre os pais que morrem para que o filho viva”.

Irmãos, não é por causa de Rubem Alves, Karl Barth, Paul Tillich, Karl Rahner, Rudolf Bultmann, Platão, Hegel, Espinoza, Kierkegaard ,Immanuel Kant, David Hume, Bart D. Ehrman, Elaine Pagels, não é por nenhum desses homens, é simplesmente por mim. Não posso mais acreditar em tudo o que está escrito na Bíblia.

Tempos atrás, não conseguiria me ver como um adepto Parcial do Deísmo que se caracteriza pela crença na existência de Deus, porém acreditando que Deus não intervém nos eventos desse mundo.

Acredito que posso afirmar que Deus existe, porém Ele não é mais ou o mesmo Deus que acreditava. Um Deus de batalhas, muitas vezes cruéis e sem finalidades no Antigo Testamento, mas um Deus de vitórias, provimentos e livramentos, Um Deus pessoal que tinha o poder final sobre este mundo e interferia nos assuntos humanos de modo a impor sua vontade sobre o seu povo.

Velhas dúvidas que remetem a velhos tempos, e velhas perguntas feitas como fez Epicuro e que ainda e nunca serão respondidas:

Deus quer impedir o mal, mas não consegue? Então ele é impotente.
Ele é capaz, mas não quer? Então ele é malévolo.
Ele é capaz e quer? Donde, então, provêm o mal?

E colocar a culpa no livre-arbítrio dado por Deus ao Homem, além de não ter base bíblica, também, não responde em nada as questões do mal. Por que juntamente do livre-arbítrio Deus não concedeu sabedoria ao Homem para fazer uso?

Então, se Deus pode curar o câncer, porque milhões de pessoas morrem dessa doença? Se Deus alimenta os famintos, por que há pessoas com fome? Se Deus cuida dos seus filhos, por que milhares de crianças morrem de epidemias? Se Deus cuida de seus filhos, por que há milhares de pessoas destruídas? Se Deus cuida dos seus filhos, por que milhares de pessoas morrem por catástrofes naturais todo ano? Se Deus cuida dos seus filhos, por que muitos cristãos são alvo de balas perdidas, estupros, roubos, assassinatos, acidentes e muitas vezes a caminho ou voltando de um culto oferecido a Ele?

Se a resposta é que isso é um mistério é o mesmo que dizer que não sabemos o que Deus faz ou como ele age. Então, por que fingir que sabemos?

Não posso mais acreditar num Deus que se envolve ativamente com os problemas deste mundo. E o que eu poderia fazer, a não ser continuar fingindo, quando fui confrontado com os fatos que contradizem a minha antiga fé?

E se fosse solicitado para resumir a Bíblia, diria: Antigo Testamento um amontoado de guerras e atrocidades sem razão e por nada. Novo Testamento a presença Maravilhosa de Jesus, O Cristo, mas que em nada modificou a malignidade do coração do homem nem melhorou a vida dos seus filhos, dos pobres e dos oprimidos.

Devo admitir que hoje, compreendo, ou melhor, sempre compreendi a confusão na mente de Marcião, pois conciliar as ações do Deus do Antigo Testamento e as ações de Jesus no Novo Testamento é impossível, mas isso é outro assunto polêmico.

Devo admitir que no final das contas, ainda tenho uma visão bíblica sobre o sofrimento. É a visão apresentada nos livros de Eclesiastes e Jó: “Existem muitas coisas que não podemos saber sobre este mundo. Muitas situações desse mundo não fazem sentido. E na maioria das vezes não existe justiça”. E a síntese de tudo isso!

Queridos do meu coração fiquem com A Paz, A Consolação, A Humildade, A Mansidão, O Amor de Pai, O Amor de Irmão, do Nosso Mestre, Senhor e Salvador Jesus Cristo, O Justo.



O Senhor de Todas as Vontades: Agradecendo ou Disfarçando nossa Decepção com Deus?

Estava com o assunto já selecionado abordaria Romanos 9.11:23 que trata da Soberania de Deus em preparar os vasos de honra e de desonra e em se compadecer e endurecer o coração de quem Ele quer. Contudo, decidi abordar um tema que há muito tempo vem chamando minha atenção e de contínuo me incomoda “As Ações Do Senhor De Todas As Vontades (Agradecendo Ou Disfarçando Nossa Decepção Com Deus?)”.

Todos os dias, alguns, se antecipando ao romper do sol, acordam em suas camas espaçosas, caminham até o banheiro e despertam com uma maravilhosa ducha de água fria, ou morna, seguem, após isso, para uma mesa já posta onde encontram o que lhes servirá de sustento para o período matinal, depois se acomodam em seus veículos e tranquilamente se dirigem para as salas de aula ou escritórios. E este círculo se completa com a tarde e noite.

Temos o pão, a água, a cama, o emprego, o veículo, a saúde, nossos pais, os filhos que nos rodeiam, e por tudo isto agradecemos a Deus pela sua misericórdia. Mas, é quase impossível que, em algum momento recebamos essas benesses concedidas por Deus como um ato de Sua injustiça. É óbvio que não! Afinal de contas, achamo-nos Bem-Aventurados e que a Graça de Deus (favor imerecido) está sobre nossas vidas. Aleluia!

Mas, segundo uma organização conhecida como Global Walter há no mundo mais de 1bilhão de homens, mulheres e crianças (algo como um em cada cinco seres humanos vivos) que não têm água potável para beber. A situação que essas pessoas enfrentam é terrível. Para começar, muitas delas são subnutridas, e a água contaminada que bebem é infestada de parasitas que continuam a se multiplicar nos seus corpos enfraquecidos, tirando delas os nutrientes e a energia de que necessitam para manter a saúde. O Global Walter diz que 80% das doenças infantis fatais em todo o mundo são causadas não por falta de alimentos e remédios, mas pelo consumo de água contaminada. Algo como 40 mil homens, mulheres e crianças morrem todos os dias de doenças diretamente relacionadas à falta de água potável. Outro dado assustador é sobre a malária, uma doença horrível com efeitos devastadores e disseminados, e que teoricamente pode ser prevenida. Segundo os médicos, o grau de infelicidade que ela produz é de tirar o fôlego. O Instituto Nacional de Alergia e doenças Infecciosas dos Estados Unidos estima que entre 400 e 900 milhões de crianças, quase que todas da África, contraem um caso agudo de malária todos os anos. Em média 2,7 milhões de pessoas morrem da doença todos os anos. São mais de 7 mil por dia, trezentas pessoas por hora, cinco a cada minuto. Algo que a maioria de nós nunca deu um segundo de atenção. Quase todos os mortos são crianças. Faltam ainda os registros diários dos óbitos por escassez de alimentos, saneamento básico, falta de vacinas, remédios, infecções, guerras, suicídios, homicídios, rituais de magia, e muitas outras mais.

Os teólogos judeus sempre procuraram entender o motivo de haver sofrimento no mundo. A teologia judaica se baseou primeiramente no Êxodo do Egito sob a liderança de Moisés, conforme relatado na Bíblia. Ela demonstrava em termos gerais que Deus havia escolhido Israel para ser seu povo e que interviria em seu favor quando Israel estivesse em dificuldades. E de fato foi o que aconteceu.

Porém, o que deveriam pensar os teólogos, quando em tempos posteriores o povo de Israel sofreu, sem a interferência de Deus? Muito da Bíblia hebraica tem a ver com essa questão.

A resposta padrão vem de escritos dos profetas hebreus, como Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oséias e Amós. Para esses escritores, Israel sofre reveses militares, políticos, econômicos e sociais porque o povo pecou contra Deus e está sendo punido por isso. Quando, porém, eles retornassem aos caminhos de Deus teriam novamente uma vida próspera e feliz.

Mas o que acontece quando as pessoas realmente se voltam a Deus, tentando verdadeiramente seguir seu caminho e, mesmo assim, ainda sofrem? A grande dificuldade da clássica visão profética do sofrimento é que ela não explica por que os perversos prosperam e os justos sofrem. Essa falha resultou em algumas teologias variantes em Israel na Antiguidade, incluindo as dos livros de Jó e Eclesiastes (ambos direcionados contra essa visão profética) e a de um grupo de pensadores judeus que os estudiosos modernos chamam de “apocalípticos”. O termo vem da palavra latina apocalypsis, que significa “desvendamento” ou “revelação”, e é usado para definir essas pessoas, porque elas acreditavam que Deus lhes havia “revelado” os derradeiros segredos do mundo, o que explicava por que o mundo contém tanto mal e sofrimento.

Então, deveria haver alguma outra razão para o sofrimento, e assim, algum outro agente responsável por ele. Apocalípticos judeus desenvolveram, então, a idéia de que Deus tinha um adversário pessoal, o Diabo e, este de fato, era o responsável pelo sofrimento. Além disso, havia forças cósmicas no mundo, forças malignas com o Diabo à frente, que estavam afligindo o povo de Deus. De acordo com essa perspectiva, Deus ainda era o Criador deste mundo e seria seu Redentor final. Mas, no momento, as forças do mal haviam sido libertadas (por quem?) e estavam lançando a devastação sobre o povo de Deus.

Os apocalípticos judaicos, porém, sustentavam que Deus logo interviria e derrotaria essas forças do mal em uma demonstração cataclísmica de poder, destruindo todos os que se lhe opusessem, incluindo os reinos que estavam causando o sofrimento de seu povo. Mas, quando seria esse “logo”? “Em verdade vos digo que, dos que aqui estão alguns há que não provarão a morte sem que vejam chegando o Reino de Deus com poder”. Essas são palavras de Jesus (Mc 9.11), provavelmente o apocalíptico judeu mais famoso da Antiguidade. Ou, como ele diz mais tarde: “Em verdade vos digo, não passará esta geração sem que todas essas coisas aconteçam” (Mc 13.30).

Jesus e seus primeiros seguidores eram judeus apocalípticos, esperavam a iminente intervenção de Deus para derrotar as forças do mal. Jesus parecia pensar que Deus logo enviaria do céu o Filho do Homem como um juiz contra todos aqueles que se aliam contra Ele. No entanto, após a morte de Jesus, seus seguidores começaram a pensar que era o próprio Jesus que logo retornaria do céu sobre as nuvens como um juiz cósmico da terra. O apóstolo Paulo acreditava que ainda em vida veria Jesus retornar para o julgamento (1 Ts 4.14-18; 1 Cor 15.51-52). Mas os dias de espera se transformaram em semanas, depois em meses, em anos, e então em décadas. E o fim não chegou. E agora! O que aconteceria a uma crença que é radicalmente desmentida pelos acontecimentos da história?

Como o fim não veio do modo esperado, alguns dos seguidores de Jesus transformaram este dualismo temporal em um dualismo espacial, entre o mundo abaixo e o mundo acima. Os cristãos começaram a pensar que o julgamento era algo que não se daria aqui, neste plano terreno, em algum futuro evento cataclísmico. Aconteceria na vida após a morte, depois que cada um morre. O dia do juízo não seria algo que aconteceria daqui a pouco. É algo que acontece o tempo todo. Na morte, aqueles que se aliaram ao Diabo irão receber sua recompensa eterna sendo enviados para viver para sempre com o Diabo, nas chamas do inferno. Aqueles que se aliaram a Deus terão sua recompensa eterna com a garantia de vida eterna com Deus, para sempre desfrutando das bem-aventuranças do céu.
Nessa visão transformada, o Reino de Deus já não é imaginado como um Reino futuro aqui na terra; é, agora, o Reino que Deus já comanda, no céu.

Sei que este é um pensamento reconfortante para muitas pessoas, uma espécie de reafirmação de que Deus realmente está no controle e sabe o que está fazendo. Contudo, não me convence!

Além do que tenho uma convicção de que, o sofrimento de crianças inocentes não pode ser explicado. Para mim, se torna difícil, porém, não impossível, que possa haver uma solução divina que torne todo o sofrimento destes infantes “merecido”, uma resposta que justificará a crueldade feita às crianças. Acredito que, se todos devem sofrer de modo a comprar a Vida Eterna com seu sofrimento, o que as crianças têm a ver com isso? E repito: Que mesmo uma resposta de Deus seria difícil fazer compreender por que as crianças sofrem?

Há alguns anos atrás li um livro chamado Quando coisas ruins acontecem a pessoas boas, escrito pelo rabino Harold Kushner. Para Kushner, não é Deus que causa nossas tragédias pessoais. Nem mesmo ele as “permite”. Simplesmente há algumas coisas que Deus não pode fazer. Ele não pode interferir para impedir que soframos. Mas o que ele pode fazer é igualmente importante. Ele pode nos dar força para lidar com o nosso sofrimento quando passamos por ele. Deus é um pai amoroso que está aqui por causa de seu povo; não para garantir miraculosamente que nunca terá dificuldades, mas para dar a ele a paz e a força necessárias para enfrentar a adversidade.

Mas, a afirmação do rabino Kushner revela um sério problema. Para a maioria dos autores da Bíblia, o poder de Deus é ilimitado. Além do que, acreditar que um Deus Todo-Poderoso se comporta ao lado dos que sofrem como um mero espectador impotente é totalmente cruel.

Alguns dos autores bíblicos acreditavam que o sofrimento tinha um fim redentor, e é verdade que com freqüência pode haver benefícios nas dificuldades que encontramos. Mas eu simplesmente não vejo nada de redentor quando bebês etíopes, indianos, ou africanos morrem de subnutrição, quando milhares de pessoas morrem hoje (e ontem, e no dia anterior) de malária, ou quando toda uma família é brutalizada por marginais drogados que invadem sua casa no meio da noite, ou quando um tiro põe fim à vida de pessoas honestas.

Devo admitir considerar uma única visão bíblica do sofrimento, é a visão apresentada nos livros de Jó e Eclesiastes “Existem muitas coisas que não podemos saber sobre este mundo. Existem muitas coisas que não acontecem como o planejado ou como deveriam. Existem muitas coisas que atribuímos a Deus, todavia, não passam de simples casualidade”.

Pense! Pense com sinceridade todas as noites a respeito de tudo o que você têm, e veja se é “Justo” diante dos que nada possuem, e depois, responda se estamos Agradecendo ou disfarçando nossa decepção com Deus? O Senhor de todas as vontades.

Onde está o Deus que nos fez? Que responda Ele sobre Os bens e os males da vida.

Os bens e os males da vida
Uma abordagem sobre o texto de Lc. 16.19:31
(O Rico e Lázaro)

Uma vez que é do conhecimento de todos, não posso negar que o meu sentido crítico em relação à Bíblia fala mais alto, porém não deve ser comparado ao ceticismo total, pois se assim fosse, estaria passando do liberalismo teológico para a loucura ateísta. Prefiro me manter no equilíbrio agnóstico. Acredito sim, que a Bíblia revela os misteriosos, partidários, favoráveis, “injustos”, parciais, e apaixonados caminhos de Deus e que incompreensivelmente é através deste livro mitológico, místico, semita, histórico, dogmático, cruel, e muitas vezes débil, que Ele se revela. Mistério!

Tenho também a convicção de que a Bíblia estabelece-se sobre dois pilares: A Revelação de Deus ao Homem e A não Revelação de Deus à Bíblia. Explico! É inegável que Deus em alguns momentos entrou em contato com o Homem, e por mais lendário que possa parecer os relatos da Criação; Queda; Dilúvio; Êxodo; Nascimento virginal; Anjos; Demônios; é bem verdade que quase toda a tradição oral precedeu uma tradição escrita, e por mais exagerada que seja a redação final de um texto, alguma verdade se percebe. E por meio de processos como: Deus e Homem; Homem e Deus; Deus sem Homem; Homem sem Deus, toda a Bíblia foi escrita. Muitas vezes revelada por Deus, muitas vezes inventada pelo Homem. E assim foi imprescindível que, após, a primeira relação entre Deus e Homem e Homem e Deus fossem perpetuados o épico de YHWH e Israel, através de estórias bíblicas, plagiando assim, os grandes feitos dos deuses mitológicos da Mesopotâmia: Sumérios, Acadianos, Amoritas ou antigos babilônicos, Assírios, Caldeus. Sem esquecer as religiões de Mistério do Antigo Egito.

Apesar de tudo este livro é maravilhoso. Constituindo-se sagrado para os que assim o consideram; respeitado para os que o estudam; conflitante para os que o confrontam; detestável para os que o racionalizam. E eu, particularmente, considero a Bíblia a maior relíquia que já existiu e que jamais será superada em importância, pois narra o sobrenatural; fala sobre o incompreensível; expõe o insondável; revela o oculto: Deus em questão! E após esse preâmbulo ingresso na problemática “Os Bens e os Males da Vida”.

Fazia uma leitura das Palavras do Senhor Jesus a respeito do texto que se encontra em Lc. 16.19:31 – O Rico e Lázaro. A passagem em destaque é conhecida de todos desde o leigo até o Ph. D em Teologia, porém uma frase em especial chamou minha atenção: Lc. 16.25 “Mas Abraão respondeu:

Filho, lembra-te de que recebestes os teus bens em tua vida, ao passo que Lázaro somente males, mas agora ele é consolado e tu atormentado”.

E para corroborar o meu posicionamento gostaria de acrescentar outro texto bastante enigmático A cura do cego de nascença que se encontra em João 9:1 “Quando Jesus ia passando, viu um homem, cego de nascença. Os discípulos de Jesus perguntaram: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais, mas isto aconteceu para que se manifestem nele as obras de Deus”.

Poderia acrescentar outros textos, porém estes dois satisfazem.

O mais magnífico de tudo é que independente da Bíblia ser um livro eivado de erros e absurdos incontestavelmente contém a Palavra de Deus. Todavia, não irei abordar a questão da Origem do Mal ou Teodicéia, pois seria como perguntar: Quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha? E para nós Criacionistas a resposta seria a galinha, pois Deus criou primeiro todos os animais, aves, répteis, peixes. E igual resposta seria: Quem é o culpado pelo o Mal no mundo? O Homem.

Mesmo sendo Criacionista não compactuo com os seis dias literais da Criação, nem que o pecado de Adão ou que o Livre Arbítrio do Homem seja a causa principal e única de todo o Mal no Mundo. Acredito que o problema do Mal no Mundo é muito mais complexo e tem apenas Um Único Culpado ou Responsável. Mas, é melhor deixar esse assunto para depois!

Voltando ao texto de Lc. 16.19:31 – O Rico e Lázaro desperta minha atenção as palavras de Abraão dizendo: Lázaro, somente males recebeu nesta vida. E juntando estas com as palavras enigmáticas de Jesus sobre a causa de uma cegueira de nascença em João 9.1 “Nem ele pecou nem seus pais, mas isto aconteceu para que se manifestem nele as obras de Deus” fizeram-me refletir sobre um fato incontestável de que muitas pessoas nascem, vivem, e morrem no sofrimento.

Alguns exemplos de casos de violências, desgraças, injustiças, covardias do nosso cotidiano servirão para delinear o cenário Infernal que representa este mundo tenebroso. Servirá também para mostrar que se o Inferno literalmente existe, algumas pessoas injustamente já estão sendo previamente atormentadas. Tomando sempre como referência os textos apresentados em Lc. 16.19:31 – O Rico e Lázaro e João 9.1 - A cura do cego de nascença.

Tomarei a liberdade de inverter as posições para primeiramente relacionar alguns genocidas que tiveram em sua passagem neste mundo apenas um único propósito o de fazer o Mal: Hitler, Stalin, Pol Pot, Pìnochet, Saddam Hussein, Lênin, Idi Amin Dadá, e outros. Mais ainda. Com qual propósito Deus permite que bombas de guerra e armas sejam fabricadas para exterminar com a humanidade; Com qual propósito Deus permite que governantes assassinos e corruptos conduzam milhares e milhares de seres humanos ao aniquilamento; Com qual propósito Deus permite que Africanos e Palestinos sejam oprimidos durante toda uma vida; Com qual propósito Deus permite que infantes venham ao mundo por um breve momento para suspirar e morrer; Com qual propósito Deus permite que crianças nasçam com terríveis enfermidades; Com qual propósito Deus permite que crianças sejam arrastadas por quilômetros por marginais; Com qual propósito Deus permite que seus servos, saindo ou chegando ao templo para o adorarem sejam mortos, estuprados, agredidos, assaltados; Com que propósito Deus permite que crianças sejam violentadas, estupradas, abandonadas, queimadas, torturadas; Com qual propósito Deus permite que o mal seja soberano no mundo.

Diante dos textos de Lc. 16.19:31 – O Rico e Lázaro e João 9.1 - A cura do cego de nascença tive a certeza de que algumas pessoas nascem para sofrer independente do caminho que possam escolher e da mesma sorte algumas pessoas nascem para felicidade independente do caminho que possam escolher, pois estão fadados a um destino traçado. Os dois textos apresentados são bem explícitos e se fortalecem quando comparados com Eclesiastes e Jó.

Eclesiastes:
“Ainda há outra vaidade sobre a terra: há justos a quem acontece segundo as obras dos ímpios, e há ímpios a quem acontece segundo as obras dos justos. Digo que também isto é vaidade”.

“Vi as lágrimas dos oprimidos, e eles não têm consolador; o poder estava do lado dos seus opressores, mas eles não tinham nenhum consolador. Pelo que julguei mais felizes os que já morreram, dos que os que ainda vivem”.

“Vi algo mais debaixo do sol: Não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes a vitória, nem tampouco dos sábios o pão, nem ainda dos prudentes a riqueza, nem dos entendidos o favor, mas que o tempo e a sorte ocorrem a todos”.

Jó:
“Se pequei, que mal te fiz, ó espreitador dos homens? Por que me fizeste alvo dos teus dardos, para que me a mim mesmo me seja pesado? Por que não me perdoas as ofensas, e não tiras o meu pecado? Pois logo me deitarei no pó; tu me buscarás, mas já não serei.”

“Quando o açoite mata de repente, ele se ri do desespero dos inocentes. Tudo é o mesmo, portanto digo: Ele consome ao reto e ao ímpio.”

“Quando a terra está entregue na mão do ímpio, ele cobre o rosto dos juízes. Se não é ele, quem é, logo?”

“Um morre em pleno vigor, completamente despreocupado e tranqüilo, os seus baldes estão cheios de leite, e a medula dos seus ossos cheia de tutano. Outro morre, ao contrário, na amargura do seu coração, não havendo provado do bem. Juntamente jazem no pó, e os vermes os cobrem.”

“Não perguntastes aos que viajam, e não considerastes os seus relatos, que os maus são poupados no dia da calamidade, e socorridos no dia do furor? Quem denunciará diante dele a sua conduta, e quem lhe dará o pago do que faz?”

Sei que muitos dirão que nenhum destes versículos prova nada, porém, se para muitos nada do que foi dito é prova gritante das injustiças desse mundo, perguntem aos que sofrem, pergunte aos que oram sem cessar e recebe o silêncio como resposta, perguntem a mãe ou pai que teve a vida de seu bebê ceifado por uma doença fatal.

Eu cortei na própria carne quando meu filhinho de dois meses foi consumido por uma doença fatal, e de nada adiantou orar, interceder, repreender, determinar, suplicar, humilhar-me, o que recebi como lembrança foi a imagem de meu filhinho chorando, e minhas últimas palavras para ele foram “fique calmo filho, papai está aqui do seu lado, tudo vai ficar bem". Ah, meus irmãos foi triste ouvir da mãe de meu filho a seguinte frase “É assim que o senhor faz comigo, deixa o meu filho morrer e me entrega um pedaço de carne”. Foram momentos difíceis irmãos, foi um duro golpe para um novo convertido que tinha acabado de aprender que Deus é o Deus dos impossíveis; Que Deus é um Deus que cura as enfermidades; Que Deus é um Deus que sara as feridas. E vendo meu filho morto me ajoelhei ao lado do seu corpo e clamei “Senhor, sei que Tu podes tornar a dar a vida ao meu filhinho, mas ainda que tu não o faças, Tu não serás nem mais nem menos para mim, e a minha maior vergonha é não te servir melhor”. E horas depois, mães, pais, avós, e parentes de crianças que estavam na UTI vieram me perguntar “Como é que o senhor pode agüentar tudo isso calado?”, e respondi “É ele quem é Deus, não sou eu, Ele cura se quiser, Ele salva se quiser”. E me pediram para orar dentro da UTI dos recém-nascidos e por aqueles dias houve curas e mortes.

E como se não bastasse à noite meu filho Pedro sem motivo aparente começou a vomitar, e imediatamente o pavor tomou conta da minha alma e pensei: Meu Deus, já não basta à perda que tive. Graças a Deus não passou de um susto, talvez o estado emocional dele tenha se abalado com a perda do irmão. E essa foi a maior lição que tive na vida: Deus faz o que quer, a hora que quer, e certo ou errado é do jeito que ele quer.

Este é o mundo em que vivemos onde muitas mães não podem gerar filhos e dariam tudo para criarem seus filhos com amor, ao contrário de outras mulheres que geram filhos com extrema facilidade e os matam, os abandonam, os maltratam. Este é o mundo em que vivemos onde muitas pessoas não têm o pão de cada dia, ao contrário de outros que se deleitam em banquetes. Este é o mundo em que vivemos onde crianças nascem deformadas, ao contrário de mulheres e homens que usam seus corpos perfeitos para crimes e prostituição. Este é o mundo em que vivemos onde o trabalhador é assaltado e morto por um tiro, ao contrário do marginal que tem seu corpo fechado e escapa com vida e até mesmo ileso. Este é o mundo em que vivemos onde os humildes são escravizados, ao contrário dos corruptos que prosperam dia após dia.

Sempre me recordo da passagem que se encontra em Números 11:12 onde Moisés chama a atenção de Deus sobre de quem é o povo e a responsabilidade de conduzi-lo “Concebi eu porventura todo este povo? Gerei-o eu para que me dissesses: Leva-o em teus braços, como a ama leva a criança no colo, à terra que juraste a seus pais?”

E após essa contenda Moisés selou o seu destino, pois, Deus o matou e o impediu de entrar na Terra Prometida, não por ter ferido a rocha em Meribá, mas por que ousou responsabilizá-lo pela sua Criação. E desde os tempos remotos até os dias atuais permanece a mesma indagação: Onde está o Deus que nos fez? Que responda Ele sobre Os bens e os males da vida.

Milagres: É Possível Acreditar? Ação de Deus ou de Satanás? Ato Sobrenatural ou Humano? Relato da Verdade ou Engano?

MILAGRES:
É POSSÍVEL ACREDITAR?
AÇÃO DE DEUS OU SATANÁS?
ATO SOBRENATUTAL OU HUMANO?
RELATO DA VERDADE OU ENGANO?

Como aceitar supostos testemunhos de milagres onde Deus curou pessoas que passaram o culto inteiro dormindo, ou, que durante todo o culto conversaram, ou, que sequer tinha em mãos a Bíblia. Como aceitar improváveis testemunhos de milagres onde o suposto “abençoado” declara que não tinha fé para ser curado, ou, que foi até á Igreja contra a sua vontade. Como aceitar hipotéticos milagres onde Deus troca carro velho por novo; abençoa com dois carros quem já tem um; com três casas quem já tem duas; faz desaparecer dívidas no cartão de crédito e do cheque especial de consumidores compulsivos; abre as “portas” de emprego para ímpios, através da intercessão de parentes; cura enfermidades de incrédulos, por meio do “sacramento” de perfumes, lenços, toalhas, azeites, que são entregues aos seus familiares; transforma o dependente do álcool, do jogo, da droga, da prostituição, do homossexualismo, do roubo, com uma simples unção de fotos, feita com a “poderosa rosa ungida”; concede o livramento de morte a homens e mulheres avessos ao Evangelho, unicamente pela “determinação” de seus parentes em “amarrar Satanás”.

Aqui está mais um texto polêmico, porém não quero ser confundido com alguém que deseja limitar as ações de Deus, pois o meu intento é bem maior. Quero entender a quem pertence esses supostos fenômenos miraculosos: Obras de Deus ou Satanás? Ação Divina ou Humana? Relatos de Verdade ou Engano? Analisarei alguns casos, e ao final, espero ter despertado não um sentimento de incredulidade, mas de questionamento, sobre o que é falso e verdadeiro no “mercado dos milagres”.

Á princípio gostaria de dizer, que em 13 anos como aspirante ao discipulado do Senhor Jesus, e freqüentador assíduo da congregação a que pertenço (como ouvi um pastor dizendo “Muitos anos de Igreja, mas nem um dia de convertido”. Essa foi ótima prá mim, caiu feito uma luva. Oh, glória!) já presenciei, alguns testemunhos sobre curas de enfermidades, libertações, restaurações, prosperidades e livramentos. Porém, infinitamente maiores são os casos rotineiros de falsos testemunhos e milagres bizarros. Creio que a explicação sobre estes “testemunhos bizarros” seja bastante antiga, e muito bem conhecida de nosso cotidiano, pois: Não passam de mentiras e engodos; são delírios de mentes hipocondríacas e perturbadas; fazem parte de uma histeria coletiva; são conseqüências de um efeito placebo; e uma auto-sugestão momentânea. Ou, quem sabe, o cumprimento da Palavra do Senhor que adverte sobre os sinais e prodígios dos profetas de Satanás “Quando um profeta ou um sonhador se levantar no meio de ti, e te der um sinal ou prodígio, e se suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvireis as palavras daquele profeta ou sonhador. O Senhor vosso Deus vos prova para saber se amais o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração e de toda a vossa alma”.

Sei que algumas dessas afirmativas estão dentro do campo da lógica humana. Agora, modificando o foco de observação e, admitindo que os supostos milagres aconteçam: Como ficam as orações não atendidas dos cristãos sinceros, compromissados e tementes ao Senhor? Qual o critério usado para que somente algumas orações sejam respondidas e os milagres ocorram? Poderia ser o caso de uma escolha sem juízo crítico da parte de Deus? Ou, porventura, teria o Senhor Deus, através deste texto, revelado ao seu servo Moisés os motivos da sua escolha? “Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece”.

Para uma melhor compreensão sobre o assunto se faz necessário dizer que a presença do mal, no mundo criado por Deus, sempre foi real. Primeiramente, deve-se entender que o Deus do Antigo Testamento ou o Deus do povo judeu era um Deus de regras, limites, e leis, e que, como resultado da quebra desses preceitos deveria sobrevir uma série de implicações, ou seja, maldições.

O livro do Gênesis demonstra nitidamente a presença e a manifestação do mal já no início da Criação de Deus, pois havia no jardim a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e um astuto animal chamado a Serpente. Ambas, figuras nefastas e mitológicas, mas que faziam parte de uma trama que envolvia obediência: benção e vida, desobediência: maldição e morte.

Partindo do pressuposto de que o Mal sempre foi uma realidade, “plantada e colocada”, desde o início da Criação do Homem, o seu antídoto, então, deveria vir através de uma intervenção de Deus. Sendo assim, toda às vezes em que o Homem pecar, Deus se manifesta lhe enviando o perdão.

E uma vez que a doutrina do Pecado Original é universal, tanto no credo de protestantes, católicos, e judeus, e que, sabendo também, através do apóstolo Paulo que “Pois todos pecaram e destituídos estão da graça de Deus, e são justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Jesus Cristo”, devemos, então, admitir que, os Milagres são respostas ao clamor que se faz ao Nome de Jesus, e que, qualquer atitude tomada pelo Homem, além da ação de crer em Jesus, se faz desnecessária e ineficaz. E essa afirmação é corroborada em muitos outros textos da Bíblia.

Comecemos então, com a confrontação do problema!

Se a fé é o elemento único e indispensável para a operação de sinais e maravilhas por parte de Deus, como explicar que incrédulos são curados? Se a fé é o elemento único e indispensável para a operação de curas e milagres por parte de Deus, como explicar que ímpios são libertos? Se a fé é o elemento único e indispensável para uma resposta positiva de nossas orações e súplicas, como explicar que infiéis são abençoados? E tudo isso pela fé de seus intercessores!

É bem verdade, que alguns poderão argumentar que Moisés intercedeu pelo povo que acabava de sair do Egito; que Abrão intercedeu por seu sobrinho Ló; ou que os profetas intercederam pelo povo de Israel. Sim é verdade! Mas é verdade, também, que viviam no período da Lei onde o perdão de Deus baseava-se apenas e exclusivamente no Seu próprio Amor pelo seu Nome e fazer velar pela sua Palavra, e jamais pelo amor ao Homem pecador e contumaz. Tanto é verdade, que Deus já havia destruído sua Criação pelo dilúvio, e sucessivamente fazia novas ameaças de destruição total. Sem falar do Seu profundo arrependimento em ter criado o Homem.

Porém, com o surgimento do ministério do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, concomitantemente é inaugurado o período da Graça. E a partir desse momento, a fé em Seu Nome e Naquele que o enviou se tornam peças únicas e indispensáveis para a obtenção dos milagres.

O antigo zelo em não ser visto pelas nações vizinhas como o Deus que tirou o Seu povo do Egito e posteriormente o deixou morrer no deserto (embora, tenha sido basicamente o que aconteceu), ou então, como o Deus que tirou o seu povo do Egito e posteriormente o deixou ser humilhado por sucessivos cativeiros (embora, tenha sido basicamente o que aconteceu), desaparecera e, a partir de agora, o Homem seria tratado como um indivíduo e não coletivamente, da mesma forma a fé, tornar-se-ia, agora, num dom de Deus dado ao Homem, para que ele execute ao clamar pelo nome de Jesus. De igual forma, o pecado do Homem, agora, seria tratado como uma sentença individual, e não mais uma condenação grupal sobre a família ou sobre uma nação inteira.

E com a chegada do Senhor Jesus Cristo deixou de existir o Santo dos Santos, Sumo sacerdote, sacerdotes, mediadores, intercessores, ofertas pela culpa, ofertas pela expiação dos pecados, ofertas queimadas, holocaustos, sacrifícios pacíficos pelo povo, sangue espargido no altar, imolação de bois e carneiros, como também a gordura do boi e do carneiro, a cauda, e o que cobre a fressura, e os rins, e o redenho do fígado, o incenso aromático, o Dia do Perdão, o sangue e a gordura de animais, tudo isso foi abolido, para que fosse unificado na Pessoa de Jesus Cristo, o sacrifício perfeito e único pelos pecados do mundo. A partir de então, o sacrifício acontece através da obediência aos Mandamentos de Jesus. Contudo, o sacrifício em troca do perdão pela transgressão da Lei não foi abolido, foi apenas aperfeiçoado em Jesus Cristo. Agora, ao invés do sangue de animais, arrependimento e coração contrito substituem os holocaustos cruentos. Se outrora, o derramamento contínuo do sangue de animais tinha o efeito de aplacar a ira momentânea de Deus, com o advento de Jesus Cristo, somente através do arrependimento e pela fé no Seu nome, o pecador é perdoado e os milagres acontecem.

Queridos irmãos, então, parem e reflitam!

Dito tudo isto, o que pensar sobre o clamor das orações dos justos que não se realizam? O que pensar sobre o pedido de cura do contrito de coração que não acontece? O que pensar sobre o livramento de morte do temente a Deus que não ocorre? O que pensar sobre as “portas” de emprego do ofertante e dizimista fiel que não se abrem? O que pensar sobre as lágrimas que não secam da face dos que temem ao Senhor? E ainda! O que pensar sobre supostos milagres recebidos pelos ímpios? O que pensar sobre supostos milagres recebidos pelos escarnecedores de Deus?

E o pior de tudo! O que pensar quando a diferença entre o que serve e o que não serve ao Senhor parece não mais existir?

MILAGRES: É POSSÍVEL ACREDITAR? AÇÃO DE DEUS OU SATANÁS? ATO SOBRENATUTAL OU HUMANO? RELATO DA VERDADE OU ENGANO?

...e façamos o Homem à nossa imagem e semelhança...!!!

FOI ,OU É, POR CAUSA DE ATOS BIZARROS E BÁRBAROS COMO ESTE POR EXEMPLO, PROVOCADO POR ESTE SER MALIGNO CHAMADO HOMEM, CAPAZ DE FAZER ATOS DE EXTREMO ALTRUÍSMO E AO MESMO TEMPO SER TÃO PERVERSO QUANTO SATANÁS, QUE ME TORNEI AGNÓSTICO, NÃO CREIO MAIS QUE EXISTA UM DEUS QUE CONTROLA, PUNE, E RECOMPENSA O HOMEM POR SEUS ATOS.

O QUE PENSAR QUANDO SE CRIA UM FILHO COM TANTO AMOR, DEDICAÇÃO, E TEMOR À DEUS, E A VIDA DELE É CEIFADA PELA DOENÇA, ASSASSINATO OU ACIDENTE.

O QUE PENSAR QUANDO UM FILHO, OU PAI DE FAMÍLIA É MORTO POR UMA ESCÓRIA PODRE COMO ESTÁ SEM VALOR ALGUM.

O QUE PENSAR QUANDO DEUS NÃO SE PRONUNCIA E APENAS SILÊNCIA.

"SE DEUS, DE FATO, ALGUM DIA PUNIU, EXTERMINOU E RECOMPENSOU O HOMEM PELOS SEUS ATOS, COMO ESTÁ RELATADO NAS PÁGINAS DO AT E NT, ISSO FICOU NO PASSADO..."

...E FAÇAMOS O HOMEM À NOSSA IMAGEM E SEMELHANÇA...
AINDA TENHO QUE ENGOLIR ESTÁ PIADA DE PÉSSIMO GOSTO, PORÉM DEPENDE DE QUEM AFIRMOU ESSA FRASE!
SÉRÁ QUE FOI DEUS?
SERIA MELHOR QUE NÃO FOSSE PARA NÃO COMPLICÁ-LO AINDA MAIS...
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Mãe simula crime em família
Mulher é indiciada no Mato Grosso do Sul por divulgar na Internet fotos de filhos com armas e neto fumando narguilé
Campo Grande (MS) - Uma mulher de Campo Grande (MS) divulgou fotos dos próprios filhos, de 12, 13 e 16 anos, empunhando armas no site de relacionamento Orkut. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente do Mato Grosso do Sul. A polícia esteve na casa dela, no bairro Parque Lageado, na periferia da cidade, mas não encontrou as armas que aparecem nas mãos das crianças. Ela vai responder em liberdade a processo por apologia ao crime e maus-tratos.

A Antiga Babel e seus atuais descendentes

“... agora não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer...”
A Bíblia não expõe quais eram as intenções dos construtores da torre de Babel, apenas faz um relato ambíguo “Então disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo cume toque no céu, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face da terra.

“Disse o Senhor: O povo é um e todos têm uma só língua. Isto é o que começam a fazer; agora não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Vinde, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem, para que não entendam um a linguagem do outro. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra, e cessaram de edificar a cidade.

Uma cidade; uma torre tocando no céu; um nome sobre a face da terra. Estas são algumas evidências deixadas pelo relato bíblico sobre o intento dos construtores da torre de Babel:

A intenção de se estabelecer.
A intenção de chamar a atenção.
A intenção de se fortalecer.

As características dos descendentes de Babel descritas no livro do Gênesis se observadas atentamente demonstram um paralelo entre os primeiros indivíduos amotinados, bárbaros, insurgentes, rebeldes, e os homens perversos dos dias hodiernos. Convivemos há algumas décadas com o medo, a insegurança, o desrespeito, a corrupção, o descaso, a maldade, a impunidade, e estas características elucidam o caos em que o mundo se encontra.

Alguns se perguntam “Onde está Deus que não intervém? Então, responde o Cristão: Deus está no controle; o Agnóstico: Deus existe, mas não posso encontrá-lo; o Panteísta: Deus está em tudo; o Ateu: Deus nunca existiu; o Espírita: Deus é uma condição final; o Racionalista: Deus é uma postura de espírito; o Miserável: Deus, Ou está morto ou está com medo!

Respeitando o direito de resposta e o livre pensamento, o único consenso sobre esses infortúnios é que nos sentimos atemorizados. Alguns, diante das tragédias da vida perdem a fé, outros negam a fé que um dia professaram, outros rejeitam a fé, alguns tentam ter fé na fé, e existem os que escarnecem da fé.

Certa vez, declarou um ex-pastor protestante e agora agnóstico, professor de um dos seminários mais prestigiados e fundamentalistas dos EUA: “Não creio mais em Deus, pois, onde está aquele Deus do Antigo Testamento que exercia juízo, era implacável, justiceiro e vingativo? Onde está aquele Deus? Se Ele existiu de verdade, hoje não existe mais. Porque então, não opera em favor dos pobres, dos necessitados, dos enfermos, dos desempregados, dos aflitos? Não posso crer”.

Certamente são árduas palavras de um ex-defensor de Deus e da sua justiça. Quantos livros, artigos, estudos, debates, fóruns, palestras, orações, clamores, confissões, fizeram parte da vida desse homem de fé, mas que hoje perdeu o fio condutor entre Deus e o Homem.

Qual de nós que conhecendo as Escrituras nunca desejou a antiga justiça do poderoso YHWH? Seria por analogia como sentir a falta da ditadura militar que apesar de todo o seu autoritarismo oferecia alguma segurança. O grande problema é que vivemos na vontade permissiva de Deus e não na vontade exigida por Ele.

Seria, então, a graça de Deus a raiz de todos os males? Seria o livre-arbítrio das ações de matar, roubar, adulterar, prostituir, destruir, estuprar, violentar, um consentimento para o caos?

Semelhantemente aos habitantes da antiga Babel que se estabeleceram, chamaram a atenção e se fortaleceram, atualmente, os descendentes da atual Babel, os homens de belial de nossos dias, também edificam cidades nos morros e favelas; chamam atenção por suas atrocidades; e se fortalecem com armas, drogas e alma de homens.

Quem sabe a resposta para as nossas indagações sobre “A Antiga Babel e seus atuais descendentes” não estejam nas palavras do filósofo Epicuro:

"Deus quer impedir o mal, mas não consegue? Então ele é impotente.
Ele é capaz, mas não quer? Então ele é malévolo.
Ele é capaz e quer? Donde, então, provém o mal?”


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Cruz ou Estaca?

Stau‧rós, tanto no grego clássico como no coiné, não transmite a idéia de “cruz” feita de duas barras de madeira. Significa apenas uma estaca reta, um pau, uma trave ou um poste reto, como do tipo que poderia ser usado para cerca, estacada ou paliçada. Diz O Novo Dicionário da Bíblia, de Douglas, de 1966, sob “Cruz”, página 379: “O vocábulo grego para ‘cruz’ (stauros, verbo stauroo . . .) significa primariamente um poste reto ou uma trave, e, secundariamente, um poste usado como instrumento de castigo e execução.” – Estudo Perspicaz, Vol.3, pp.309

Segundo lemos aqui, o termo grego “stauros” não transmite a idéia de cruz, embora na mesma citação vemos que o sentido secundário do termo é esse. Para deixar ainda mais claro o fato de que tal termo não deve ser traduzido por cruz, o mesmo artigo acresce, citando J.D. Parsons no livro The Non-Christian Cross:
Não existe uma única sentença, em quaisquer dos numerosos escritos que compõem o Novo Testamento, que, no grego original, forneça até mesmo evidência indireta no sentido de que o stauros usado no caso de Jesus não fosse um stauros comum; muito menos no sentido de que consistia, não de uma única peça de madeira, mas de duas peças pregadas juntas na forma de cruz

Mas, devemos considerar isso como fato? Vamos investigar um pouco o assunto:

A. O que dizer do termo latino crux?

Sobre a descrição da cruz em escritos antigos, temos vários exemplos que mostram qual a forma mais comum, e que foram reunídos pela forista Leiolaia. Aqui faço a tradução dos escritos que ela reuniu, e comento o que está escrito, adaptando os comentários que ela mesma fez destas passagens.

Primeiramente, vamos analisar o uso da palavra latina crux, já que é em Roma que a crucificação com dois postes de madeira, como vimos, se origina. As citações a seguir são de Plautus, Sêneca e Tacitus. Elas mostram que a crux incluia um patibulum ou furca, e que o patibulum era pregado ao poste horizontal. As vítimas carregavam o patibulum antes de sua crucificação e as vítimas estendiam seus braços na crux ou patibulum.

1. Titus Maccius Plautus

Titus Maccius Plautus foi um dramaturgo romano. Acredita-se que nasceu em Sarsina (uma cidade em Úmbria) em 254 A.C., devido a uma notícia de Cícero (Brutus, 60), e morrendo em 184 A.C. Seus escritos são os mais antigos da literatura latina. Suas 21 obras se preservam até os dias atuais, e datam entre 205 A.C e 184 A.C. Ele escreve

“Frateor, manus vobis do. Et post dabis sub furcis. Abi intro–in crucem. – Eu o admito, eu levanto minhas mãos. E depois vocês as prenderão na furca. Prosseguindo para a crux.” (Persa, 295)

Aqui vemos o poste horizontal chamado de furca, que é relacionado com a palavra crux. Em outra obra, o escritor diz:

“Credo ego istoc extemplo tibi esse eundum actutum extra portam, dispessis manibus, patibulum quom habebis. – Eu suspeito que vocês estejam condenados a morrer do lado de fora do portão, naquela posição: mãos estendidas e presas no patibulum.” (Miles Gloriosus, 359-360).

Aqui, Plautus usa a palavra patibulum para se referir ao poste horizontal. A palavra é usada também quando ele escreve

“O carnuficium cribum, quod credo fore, ita te forabunt patibulatum per vias stimulis carnufices, si huc reveniat senex. – Oh, eu aposto que os suspensores te farão parecer uma peneira humana, da forma que eles te espetarão para ficar cheio de furos enquanto te levam pelas ruas com suas mãos presas ao patibulum, assim que o velho voltar” (Mostellaria, 55-57).

Esta última citação mostra o costume de se carregar o patibulum pelas ruas da cidade, antes da crucificação. Plautus ainda cita o patibulum relacionado à crux na seguinte passagem:

“Patibulum ferat per urbem, deinde adfigatur cruci. – Deixe-o levar o patibulum pela cidade, depois o deixe ser pregado à cruz.” (Carbonaria, fr. 2).

Ainda sobre a palavra crux, Plautus diz

“Ego dabo ei talentum, primus qui in crucem excucurrerit; sed ea lege, ut offigantur bis pedes, bis brachia. – Eu darei duzentas moedas para o primeiro homem que carregar minha crux e a levar – na condição que suas mãos e pernas sejam pregadas duplamente”. (Mostellaria, 359-360).

Aqui, é a crux que é carregada. Todas estas palavras foram escritas cerca de 200 anos antes da crucificação de Jesus, e demonstra como os costumes relacionados com a crucificação, que mencionamos antes, já eram praticados.

2. Lucius Annaeus Seneca

Lucius Annaeus Seneca foi um filósofo estóico romano. Nasceu em Córdova, no ano 4 D.C, e morreu em Roma, em 65 D.C. Em seus escritos, encontramos uma descrição da crux composta de duas partes: o suporte (stipitibus) ou poste horizontal, e o patibulum. Ele diz:

“Cum refigere se crucibus conentur, in quas unusquisque vestrum clavos suos ipse adigit, ad supplicium tamen acti stipitibus singulis pendent; hi, qui in se ipsi animum advertunt, quot cupiditatibus tot crucibus distrahuntur. At maledici et in alienam contumeliam venusti sunt. Crederem illis hoc vacare, nisi quidam ex patibulo suo spectatores conspuerent! – Apesar de tentarem se livrar de suas cruzes – aquelas cruzes que cada um de vocês os pregam por suas próprias mãos – ainda eles, quando trazidos para a punição penduram cada um em um simples suporte, mas estes outros que trazem a si mesmos sua própria condenação são esticados por quantas cruzes eles desejarem. Mesmo assim são caluniadores e geniais em amontoar insultos para outros. Eu talvez ache que eles são livres para fazer isto, alguns deles não cuspem de seu próprio patibulum” (De Vita Beata, 19.3).

Sêneca ainda escreve em outro lugar: “….alium in cruce membra distendere…. – outro que teve seus braços estendidos na crux” (De Ira, 1.2.2). Aqui, ele descreve que os braços são estendidos na crux, expressão que ele repete em “….sive extendendae per patibulum manus – …ou suas mãos serem estendidas em um patibulum.” (Fragmenta, 124; cf. Lactantius, Divinis Institutionibus, 6.17), mas aplicando ao patibulum, o que mostra que as duas palavras poderiam se referir à mesma parte do instrumento. Observe outra citação:

“Video istic cruces non unius quidem generis sed aliter ab aliis fabricatas: capite quidam conversos in terram suspendere, alii per obscena stipitem egerunt, alii brachia patibulo explicuerunt. – Lá eu vejo cruzes, deveras não de uma forma, mas diferentemente planejadas por diferentes pessoas, alguns penduram suas vítimas com suas cabeças para o chão, alguns impalam suas partes íntimas, outras estendiam seus braços no patibulum.” (De Consolatione, 20.3)

Nessa citação Sêneca nos mostra que a palavra crux tinha uma ampla gama de significados. O mesmo pode ser visto na passagem:

“Cogita hoc loco carcerem et cruces et eculeos et uncum et adactum per medium hominem, qui per os emergeret, stipitem. – Imagine em sua cabeça a prisão, a crux, a tortura, o gancho e a estaca por onde eles passam diretamente por um homem até que ele se projeta em sua garganta.” (Epistle, 14.5).

Observe mais uma:

“Contempissimum putarem, si vivere vellet usque ad crucem….Est tanti vulnus suum premere et patibulo pendere districtum…. Invenitur, qui velit adactus ad illud infelix lignum, iam debilis, iam pravus et in foedum scapularum ac pectoris tuber elisus, cui multae moriendi causae etiam citra crucem fuerant, trahere animam tot tormenta tracturam? – Eu deveria avaliá-lo como mais desprezível se quisesse viver até a hora da crucificação. Vale a pena se deprimir pelos próprios ferimentos de uma pessoa, e ser pendurado empalado em um patibulum? … Pode algum homem se encontrar desejoso de ser preso à árvore amaldiçoada, há muito fraco, já deformado, inchado com vários tumores no peito e ombros e puxar o fôlego de vida em meio a franca agonia? Eu acho que ele teria muitos motivos para morrer antes de subir na crux.” (Epistle, 101.10-14),

Nessa citação temos mais uma relação entre o patibulum e a crux.

3. Publius Cornelius Tacitus

Publius (ou Gaius) Cornelius Tacitus foi um senador e historiador romano. Tacitus nasceu em 56 ou 57 D.C. e morreu em 117 D.C. Entre seus escritos, encontramos:

“Solacio fuit servus Verginii Capitonis, quem proditorem Tarracinensium diximus, patibulo adfixus in isdem anulis quos acceptos a Vitellio gestabat. – Os tarracenos, contudo, acharam conforto no fato de que o escravo de Verginius Capito, que os traiu, foi crucificado (patibulo adfixus) usando os mesmos anéis que ele recebeu de Vitellius.” (Historia, 4.3).

Aqui, encontramos a expressão patibulo adfixus, clara referência à crucificação. Semelhante a esta, temos:

“Rapti qui tributo aderant milites et patibulo adfixi. – Os soldados colocados para supervisionar o tributo foram capturados e pregados ao patibulum.” (Annals, 4.72) Na citação “…sed caedes patibula ignes cruces, tamquam redddituri. – Ele foi rápido com o massacre e o patibulum, com incêndio e crux.” (Annals, 14.33), crux e patibulum são paralelos de massacre e incêndio.

Várias outras referências ainda são encontradas na literatura. Clodius Licinus (primeiro século A.C.) se refere ao carrasco que iria “prender [as vítimas] ao patibulum(ad patibulos); assim atados eles iriam levá-los pelas redondezas e depois prendê-los à cruz (cruci defiguntur)”. (História Romana, 3; citado em TLL, p. 707 para “patibulum“). Plínio o ancião, como já dito antes, se refere a uma crucificação anual de cães perto do templo de Juventas, prendendo-os a uma furca (furca fixi).(Historia Naturalis, 29.14.57).

Outro escritor romano que um pouco mais tarde aludiu ao patibulum ao qual os prisioneiros eram presos foi Lucius Apuleius (DC 123-170), que fez quatro referências ao patibulum em sua obra Asinus Aureus:

(1) Captão Lamarchus enfiou sua mão em um grande buraco de chave para arrombar uma porta mas Chryseros pegou um grande prego e o martelou na mão de Lamarchus, prendendo-o à porta e o deixando “pregado lá como um pobre infeliz no patibulum” (4.10); (2) Ponderando sobre o tipo de execução que dariam a sua prisioneira, um grupo de ladrões discutia se a queimariam, jogariam-na para as feras ou se a pendurariam em um patibulum (patibulo suffigi), de forma que (3) “ela ficasse no patibulum enquanto cães e urubus comiam suas entranhas” (4.32), mas foi decidido que ela “não deveria ser crucificada (cruces) nem queimada nem jogada às feras” (6.31). Este último texto usa crux intercambialmente com patibulum suffigere. Ainda depois, no terceiro século, Historia Augusta relata que quando o Imperador Celsus foi morto por uma mulher chamada Galliena, “sua imagem foi colocada em uma cruz (in crucem)”, de forma que os espectadores olhassem como se Celsus estivesse fixado em um patibulum (patibulo adfixus)” (29.4).

Por fim, a Vulgata Latina traduz os termos Hebreus por “forca” e “pendurar” com patibulum em Ester 2:23, 6:4 (affigi patibulo), 7:10, 9:13 (patibulis suspendantur), e 16:18.

B. O que dizer da palavra gregra stauros?

O que dizer da palavra gregra stauros? É verdade que stauros originalmente significou um tipo de estaca usada para construir cercas, como atesta a Odisséia de Homero: “Ele fincou estacas (stauros) por todo este caminho e aquele, grandes estacas, foram colocadas juntas, as quais ele fez rachando um carvalho até o centro negro”. (14.11). Thucydides (Historia, 4.90.2) da mesma forma descreve a construção de uma cerca “fixando estacas (staurous)” por um canal, e stauros também foi usado no sentido de “cerca” ou como “pilha” servindo como fundação”. (ex. Herodotus, Historiarum 5.16; Thucydides, Historia 7.25.6-8). Também foi usado para descrever a estaca usada para empalação (compare com o uso feito por Sêneca acima), apesar do termo mais comum ser skolops, exemplo: “…atirem seus corpos em rochas pontiagudas ou os empalem com uma estaca (skolopsi)” (Euripides, Iphigenia Taurica,1430).

Assim, é verdade que stauros significava originalmente estaca. No entanto, não devemos supor que por isto, a palavra jamais agregou outros significados. Sabemos que a crucificação era praticada por Persas, Fenícios e posteriormente por Romanos. Vimos também que uma palavra poderia se referir a vários formatos de instrumentos (ex. Herodotus, Historiarum 9.120; Plutarco, Artaxerxes 17.5). Certamente, o formato do instrumento não vai ser especificado simplesmente através da palavra usada.

Vimos acima, como os romanos formaram a crux compacta baseando-se em outras punições antigas, já no terceiro século antes de Cristo. Resta saber, qual palavra era usada pelos gregos, para se referir a este instrumento de tortura. Vejamos algumas citações em grego sobre o costume romano:

“Toda bagagem caiu nas mãos dos inimigos, e o próprio Hannibal foi feito prisioneiro. Eles [os soldados romanos] imediatamente o levaram para a cruz (stauron), onde Spendius estava pendurado, e depois da inflição de excelentes torturas, tiraram o corpo do último e prenderam Hannibal, ainda vivo, à sua cruz (stauron) e então massacraram trinta cartaginenses dos mais altos cargos perto do corpo de Spendius”. (Polybius, Historiae 1.86.6; o autor viveu entre 200-118 A.C., este evento aconteceu em 183 A.C.)

“Eles encontraram os outros já pendurados em suas cruzes (staurous), e ele já estava subindo em sua cruz (epi bainonta tou staurou). De longe eles gritaram apelos: ‘Misericórdia dele!’ ‘Desça!’ ‘Não o machuque!’. Então o carrasco parou seu trabalho, e Chaereas desceu da cruz (katebaine tou staurou), arrependidamente, pois ele estava feliz por deixar esta vida e infeliz amor.” (Chariton, Chaereas and Callirhoe, 4.3.5-6; escrito no primeiro século AC ou começo do primeiro século DC).

“Muitos homens também, que estavam vivos, eles ataram por um pé, prendendo-os pelo tornozelo, e assim eles os arrastaram e os machucaram, pulando sobre eles, planejando infringir neles a morte mais bárbara… arrastando-os por todas as vielas e becos da cidade… as relações e amigos daqueles que foram as reais vítimas foram deixadas para trás na prisão, foram espancados, foram torturados, e depois de todo o tratamento doentio a qual seus corpos vivos poderiam agüentar, acharam a cruz (stauros), o fim de tudo, e a punição da qual eles não poderiam escapar.” (Filo de Alexandria, In Flaccum 70-72; autor viveu entre cerca de 20 A.C. – 50 D.C.).

“Mas você vai pregá-lo a uma cruz (eis stauron kathélóseis) ou empalá-lo a uma estaca (skolopi péxeis)? Por que Theodorus se importa se ele apodrecerá acima ou abaixo da terra? (Plutarco, Moralia, Ad Vitiositas 499D; autor viveu entre 45-125 DC).

Enquanto os soldados [romanos] estavam cortando sua cabeça, seu tutor [o tutor de Antyllus, filho de Marco Antônio] planejou roubar uma jóia preciosa que ele usava em seu pescoço, e colocá-la em sua bolsa, e depois negou o fato, porém foi condenado e crucificado (anestauróthé)” (Plutarco, Antonius 81.3).

“Eles foram chicoteados com varas, e seus corpos foram feitos em pedaços, e foram crucificados (anestaurounto), enquanto ainda estavam vivos e respiravam. Eles também estrangularam aquelas mulheres e seus filhos que eles tinham circuncidado, como o rei apontou, pendurando seus filhos pelos pescoços assim como eles estavam pendurados na cruz (anestaurómenón). E se fosse encontrado algum livro sagrado da Lei, era destruído, e aqueles com quem era encontrado pereciam também miseravelmente.” (Flávio Josefo, Antiquitates Judaicae 12.256-257; autor viveu entre cerca de 37-100 DC, escreveu cerca de 95 DC; o evento narrado ocorreu em 168 A.C.).

“Agora, aconteceu nesta luta que um certo judeu foi levado vivo, que pela ordem de Tito, foi crucificado (anastaurósai) diante da muralha, para ver se o resto deles se assustaria, e abatia sua obstinação.” (Josefo, De Bello Judaico 5.289; o evento narrado aconteceu em 66-70 DC).

“Nem falhou em sua esperança, pois os mandou montar uma cruz (stauron), como se fosse justamente pendurar Eleazar imediatamente, a visão disto causou um pesaroso sofrimento entre aqueles que estavam na fortaleza, e eles suspiravam veementemente, e choravam por não conseguiriam vê-lo destruído de tal forma.” (Josefo, De Bello Judaico 7.202).

“Por que vocês obedecem à ordem de se submeter ao tribunal? Pois se vocês querem ser crucificados (stauróthénai), esperem e a cruz (ho stauros) virá.” (Epictetus, Dissertationes 2.2.20; autor viveu entre 55-135 DC).

“Ele era escoltado por multidões e recebendo sua fartura de glória enquanto via o número de seus admiradores, sem saber, pobre infeliz, que aqueles homens no caminho da cruz (stauron) ou preso pelo carrasco tem muito mais nos seus calcanhares… É como um homem que prestes a subir na cruz (epi stauron anabésesthai) deve cuidar dos arranhões no seu dedo.” (Luciano, De Morte Peregrini 34.7, 45.5; autor viveu entre 117-180DC).

“Os judeus, de fato, machucaram muito os romanos, mas eles mesmos sofreram muito mais… Estas pessoas Antônio confiou a um certo Herodes o governo, mas Antigonus ele prendeu em uma cruz (stauroi) e o açoitou, uma punição que nenhum outro rei sofreu nas mãos dos romanos, e depois o mataram.” (Cassius Dio, Historae Romanae 49.22.4-6; o autor viveu entre 165-235 DC).

“O pai de Capio levou o segundo escravo pelo fórum com uma inscrição deixando conhecida a razão pela qual ele estava sendo colocado para morrer, e depois crucificou (anastaurosantos) ele.” (Cassius Dio, Historae Romanae 54.3.7-8).

Nenhuma destas referências dizem nada a respeito do formato do instrumento, mas mostra que “stauros” era a palavra mais comumente usada para designá-lo. Como o uso da cruz com dois postes pelos romanos apareceu por esta época, e que não era um formato incomum como nos atesta Sêneca e outros escritores romanos como vimos antes, vemos que stauros significava muito mais que uma simples estaca na até o primeiro século A.C. A citação de Plutarco acima é interessante, pois ele diferencia crucificação com stauros de empalamento com skolops. Porém não apenas stauros foi aplicado à crucificação. Há evidências literárias que indicam que até skolops era aplicado ao instrumento de tortura:

“Muitos do povo foram com Theron enquanto ele era levado, ele foi crucificado (aneskolopisthe) em frente à tumba de Callirhoe e da cruz (staurou) observava o mar”. (Chariton, Chaereas and Callirhoe, 3.4.18).

“Mas este homem não ordenou homens que já pereceram na cruz (stauron) a descer, mas comandou homens vivos a serem crucificados (anaskolopizesthai), homens a quem o próprio tempo deu, senão inteiro perdão, pelo menos uma breve e temporária pausa de sua punição.” (Filo de Alexandria, In Flaccum 84).

“Agora traga o produto das cortes, eu quero dizer aqueles que morreram pelo castigo e pela cruz (aneskolopismenous).” (Luciano, Cataplus 6.18-20).

“Somente os fantasmas daqueles que morreram com violência andam, por exemplo, se um homem se pendurou, ou se teve sua cabeça cortada, ou foi crucificado (aneskolopisthé).” (Luciano, Philopseudes 29).

“Os ladrões de templo não são punidos mas escapam, enquanto homens sem culpa de toda injustiça morrem algumas vezes crucificados (anaskolopizomenous) ou açoitados.” (Luciano, Juppiter Tragoedus, 19).

Note como os dois primeiros textos usam stauros para se referir à crucificação. Veremos adiante que Luciano usa este verbo (anaskolopizoó) ao se referir à crucificação com dois postes.

Como vimos acima, a crucificação romana evoluiu da forma mais primitiva de humilhação, onde o condenado era obrigado a carregar o patibulum. Muito interessante é o fato de que a palavra stauros se referia também ao patibulum, como vemos abaixo:

“Sem mesmo vê-los ou escutando sua defesa ele imediatamente ordenou os dezesseis companheiros de cela a serem crucificados (anastaurósai). Eles foram imediatamente trazidos para fora, acorrentados juntos nos pescoços e pés, cada um carregando sua própria cruz (ton stauron ephere). Os carrascos adicionaram este terrível espetáculo à punição requisitada como um dissuasor a outros que tentarem o mesmo. Agora Chaereas não disse nada enquanto era levado com os outros, mas pegando sua cruz (ton stauron bastazón), Polycharmus exclamou: ‘É sua culpa, Callirhoe, que nós estamos nesta encrenca!’” (Chariton, Chaereas and Callirhoe, 4.2.6-7; escrito no primeiro século A.C. E começo do primeiro século D.C).

“Todo criminoso que é executado deve carregar sua própria cruz (ekpherei ton hautou stauron) nas suas costas.” (Plutarco, Moralia, De Sera Numinus Vindicta 554 A).

“Pois a cruz (ho stauros) é como a morte e o homem que é pregado deve carregá-la antecipadamente. (proteron bastazei)”(Artemidorus Daldianus, Oneirocritica 2.56; escrito no segundo século D.C.)

É possível que toda a crux compacta seja referida aqui, mas é improvável. Várias fontes indicam que a parte vertical era estacionária, fixada no chão antes da chegada da vítima. (ex. Cicero, Verrines 5.66; compare possivelmente com Josephus, Bello Judaico 7.202). Além disto, o peso combinado do patibulum com o poste vertical não poderia ser suportado pelas vítimas. No entanto, não se refere a um simples poste também, que não tem precedentes nas práticas romanas. Por exemplo, Artemidorus que vamos nos referir adiante, foi bem explícito ao dizer que a cruz era composta de duas traves.

Algumas descrições da crucificação por escritores gregos são ambíguas, mas assumem a crux compacta. Epictetus (filósofo estóico do primeiro século D.C) descreve aqueles sendo massageados como “estendidos (ekteinas) como homens que foram crucificados (estauromenoi)” (Dissertationes, 3.26.22). A frase aqui lembra de estender as mãos (dispessis manibus) de Plautus e de estender os braços (membra distendere) e mãos estendidas (extendere manus) de Sêneca, em escritos cristãos posteriores a frase de Epictetus se tornou um clichê para a crucificação na crux compacta. Josefo também dá um relato detalhado do cerco e ataque a Jerusalém em 70 D.C. e menciona que “os soldados por raiva e ódio se divertiam pregando seus prisioneiros com diferentes posturas” (allon allói skhémati, ou “de um estilo a outro”), e seu número era tão grande que espaço não podia ser encontrado para as cruzes (staurois), nem cruzes (stauroi) para os corpos.” (De Bello Judaico 5.451-452). Como poucos tipos de postura são possíveis em uma crux simplex, a passagem é melhor entendida com o uso de uma crux compacta.

Outros escritores são mais explícitos quanto ao formato do stauros. Por exemplo, Artemidorus Daldianu, um profeta pagão que prosperou no segundo século D.C. Cerca de 160 D.C, ele escreveu um manual de interpretação de sonhos chamado de Oneirocritica, onde como vimos acima clama que pessoas que foram condenadas à crucificação deve carregar seu próprio stauros (patibulum, como os romanos chamavam) antes da execução. Ele também fala que o stauros possui duas traves:

Ser crucificado(staurousthai) é próspero para todos os navegantes. Pois a cruz (ho stauros), como um barco, é feita de madeira e pregos, e o mastro do navio lembra uma cruz. (hé katartios autou homoia esti stauró) – (Artemidorus Daldianus, Oneirocritica 2.53).

Assim como hoje, os mastros dos navios consistiam de um alto poste levantado no centro do convés, cruzando com postes horizontais. Na verdade, a palavra latina para nomear estes postes horizontais, antenna também era usada para se referir ao patibulum (ver Insight, Vol. 1, p. 1191). Entalhes em rochas do período mostram como realmente os mastros daquela época se assemelhavam à cruz. (cf. alto-relevo de um barco romano de Sidon na obra de Philip Carrington’s The Early Christian Church, 1957, Vol. 1, p. 129). Em outro lugar, Artemidorus (Oneirocritica, 1.76) menciona que aqueles que são crucificados (staurothesetai) “estendem os braços” (tón cheirón ektasin), uma expressão originada de Epictetus, Seneca e Plautus para se referir ao patibulum.

Outro escritor que se refere explicitamente ao formato do stauros é o satirista Luciano de Samosata, que viveu entre os anos de 120 a 180 DC. Ele escreveu a fábula Julgamento na corte das letras, onde ele relata o julgamento da letra Tau (T). No fim da estória lemos o seguinte:

“Tais são suas ofensas verbais contra o homem; suas ofensas de fato permanecem. Homens choram, e lamentam sua sorte, e amaldiçoam Cadmos com muitas maldições por introduzir Tau na família de letras; eles dizem que foi seu corpo que tiranos pegaram de modelo(somati phasi akolouthésantas), imitaram sua forma(mimésamenous autou to plasma) e moldaram semelhantes pedaços de madeira(skhémati toioutói xula) para crucificar(anaskolopizein) homens nelas, e o vil instrumento até deriva seu nome(eponumian) dele (ex. sTAUros). Agora, com todos estes crimes sobre ele, TAU não merece a morte, senão muitas mortes? De minha parte eu acho que a única coisa a fazer é punir Tau no que é feito com sua própria forma(tó skhemati tó hautou), pois a cruz(ho stauros) deve sua própria existência a Tau, senão o seu nome para os homens (hupo de anthrópón onomazetai) .” – (Lis Consonantium, 12).

Note o uso de anaskolopizoó para se referir à crucificação em uma crux compacta. O texto estabelece, sem sombra de dúvidas, que os termos usados até agora se referiam a este tipo de crucificação.

Finalmente, outra palavra usado para especificar a crucificação é a palavra xulon. Assim como outras palavras já tratadas aqui, xulon aceita uma ampla gama de significados. No grego clássico e koiné, a palavra era usada para se referir a lenha, madeira (Ilíada, 8.507; Thucydides, Historia 7.25.2; Herodotus, Historiarum 1.186), bancos (Demosthenes, 1111.22; Aristophanes, Vespae, 90; Acharnenses, 25), mercado de madeira (Aristophanes, Fragmenta 402-403), e até mesmo como medida de comprimento (Hero, Geometrica 23.4.11). Mas isto não é tudo, pois eventualmente “a palavra passou a significar algo vergonhoso ou desafortunado” (Kittel and Friedrich, Vol. 3, p. 37). Ele passou a denominar vários instrumentos de punição, incluindo pelourinho (Aristophanes, Nubes 592; Lysistrata, 680), tronco onde se prendia os pés e a cabeça do condenado (Herodotus, Historiarum 9.37), uma combinação de ambos (Aristophanes, Equites 367, 1049), e porrete (Herodotus, Historiarum 2.63, 4.180; Plutarch, Lycurgus 30.2). Claramente a palavra significava mais do que um simples pedaço de madeira.

No Novo Testamento, sua variação semântica variava pouco. Foi usada para significar materiais de madeira (1 Coríntios 3:12), árvores (Apocalipse 22:19), instrumento para prender escravos (Atos 16:24), e porretes (Mateus 26:47). Mas muitos escritores cristãos a usaram para definir o instrumento de crucificação romana. Aparentemente há duas razões para isto:

Em épocas pré-republicanas, romanos algumas vezes puniam escravos desobedientes prendendo-os em árvores e os açoitando até a morte (cf. Joseph A. Fitzmyer, CBQ 40: 509, 1978). Ocasionalmente as vítimas eram forçadas a levar o patibulum também. Esta forma de punição foi chamada de arbor infelix ou infelix lignum, e muitos escritores latinos posteriores usaram esta expressão para se referir à crucificação (cf. Livy, Ab Urbe Condita 1.26.10-11; Cicero, Pro Rabirio 4.13; Seneca, Epistle 101.14). Como resultado, a crux compacta se tornou conhecida como arbor ou lignum (ambas palavras latinas se referem à árvore). Isto deve ter influenciado escritores gregos a usarem a palavra xulon para significar o mesmo que stauros.

No entanto, há ainda mais uma explicação. Muitos eruditos acreditam que o uso de xulon no NT e outros escritores judeus contemporâneos surgiu de uma interpretação midráshica de Deuteronômio 21:22-23:

“Se um homem tiver cometido um pecado digno de morte, e for morto, e o tiveres pendurado num madeiro, o seu cadáver não permanecerá toda a noite no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto aquele que é pendurado é maldito de Deus. Assim não contaminarás a tua terra, que o Senhor teu Deus te dá em herança.”

É claro que este texto não se refere à crucificação. Mas muitos judeus o acharam relevante quando os romanos introduziram esta forma de punição na Judéia, principalmente tendo os romanos o costume de deixar o corpo apodrecer por dias na cruz (cf. Horace, Epistle 1.16.48; Lucan, Pharsalia 6.543). Assim, isto foi um guia para decidir como a crucificação romana deveria ser entendida legalmente. Significantemente, os Rolos do Mar Morto, datados do primeiro século antes de Cristo, citam Deuteronômio 21:22-23 duas vezes com relação à crucificação romana praticada por judeus helenizados (11QT, 64:6-13; 4QpNah, 3-4:1:1-11; o último texto se refere à crucificação de Alexandre Janneus em 88 A.C., compare com Josefo, Antiquitae 13.14.2, Bello Judaico 1.4.5-6). Similarmente, Paulo aplicou aquela escritura (derivada da LXX que usa xulon para a palavra hebraica “árvore”) à crucificação de Jesus:

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; para que aos gentios viesse a bênção de Abraão em Jesus Cristo, a fim de que nós recebêssemos pela fé a promessa do Espírito”. – Gálatas 3:13,14

De acordo com Max Wilcox, a influência de Deuteronômio pode ser detectada em cada instância que xulon é usada em relação à crucificação. O discurso de Paulo em Atos 13:28-30 tem a aparência de ser uma midrash de Deuteronômio 21:22- 23 (cf. JBL, 96: 92, 1977). Ainda nos evangelhos, os judeus exigiram que Pilatos retirasse os corpos de Jesus e dos ladrões para prevenir que eles ficassem na cruz durante o sábado (João 19:31; cf. Lucas 23:50-54). Tudo isto indica que a percepção judaica sobre a crucificação romana envolvia Deuteronômio 21:22-23. Como resultado, vemos o uso de xulon como sinônimo de stauros é quase exclusivamente feito por escritores judeus (cf. Josephus, Antiquitae 11.246-261; Philo, De Somniis 2.213). Vendo tudo isto, e sabendo do amplo significado que xulon poderia ter, percebemos que esta palavra era usada com o mesmo fim que stauros: indicava o instrumento de duas traves, usado na crucificação romana.