quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A Antiga Babel e seus atuais descendentes

“... agora não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer...”
A Bíblia não expõe quais eram as intenções dos construtores da torre de Babel, apenas faz um relato ambíguo “Então disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo cume toque no céu, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face da terra.

“Disse o Senhor: O povo é um e todos têm uma só língua. Isto é o que começam a fazer; agora não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Vinde, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem, para que não entendam um a linguagem do outro. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra, e cessaram de edificar a cidade.

Uma cidade; uma torre tocando no céu; um nome sobre a face da terra. Estas são algumas evidências deixadas pelo relato bíblico sobre o intento dos construtores da torre de Babel:

A intenção de se estabelecer.
A intenção de chamar a atenção.
A intenção de se fortalecer.

As características dos descendentes de Babel descritas no livro do Gênesis se observadas atentamente demonstram um paralelo entre os primeiros indivíduos amotinados, bárbaros, insurgentes, rebeldes, e os homens perversos dos dias hodiernos. Convivemos há algumas décadas com o medo, a insegurança, o desrespeito, a corrupção, o descaso, a maldade, a impunidade, e estas características elucidam o caos em que o mundo se encontra.

Alguns se perguntam “Onde está Deus que não intervém? Então, responde o Cristão: Deus está no controle; o Agnóstico: Deus existe, mas não posso encontrá-lo; o Panteísta: Deus está em tudo; o Ateu: Deus nunca existiu; o Espírita: Deus é uma condição final; o Racionalista: Deus é uma postura de espírito; o Miserável: Deus, Ou está morto ou está com medo!

Respeitando o direito de resposta e o livre pensamento, o único consenso sobre esses infortúnios é que nos sentimos atemorizados. Alguns, diante das tragédias da vida perdem a fé, outros negam a fé que um dia professaram, outros rejeitam a fé, alguns tentam ter fé na fé, e existem os que escarnecem da fé.

Certa vez, declarou um ex-pastor protestante e agora agnóstico, professor de um dos seminários mais prestigiados e fundamentalistas dos EUA: “Não creio mais em Deus, pois, onde está aquele Deus do Antigo Testamento que exercia juízo, era implacável, justiceiro e vingativo? Onde está aquele Deus? Se Ele existiu de verdade, hoje não existe mais. Porque então, não opera em favor dos pobres, dos necessitados, dos enfermos, dos desempregados, dos aflitos? Não posso crer”.

Certamente são árduas palavras de um ex-defensor de Deus e da sua justiça. Quantos livros, artigos, estudos, debates, fóruns, palestras, orações, clamores, confissões, fizeram parte da vida desse homem de fé, mas que hoje perdeu o fio condutor entre Deus e o Homem.

Qual de nós que conhecendo as Escrituras nunca desejou a antiga justiça do poderoso YHWH? Seria por analogia como sentir a falta da ditadura militar que apesar de todo o seu autoritarismo oferecia alguma segurança. O grande problema é que vivemos na vontade permissiva de Deus e não na vontade exigida por Ele.

Seria, então, a graça de Deus a raiz de todos os males? Seria o livre-arbítrio das ações de matar, roubar, adulterar, prostituir, destruir, estuprar, violentar, um consentimento para o caos?

Semelhantemente aos habitantes da antiga Babel que se estabeleceram, chamaram a atenção e se fortaleceram, atualmente, os descendentes da atual Babel, os homens de belial de nossos dias, também edificam cidades nos morros e favelas; chamam atenção por suas atrocidades; e se fortalecem com armas, drogas e alma de homens.

Quem sabe a resposta para as nossas indagações sobre “A Antiga Babel e seus atuais descendentes” não estejam nas palavras do filósofo Epicuro:

"Deus quer impedir o mal, mas não consegue? Então ele é impotente.
Ele é capaz, mas não quer? Então ele é malévolo.
Ele é capaz e quer? Donde, então, provém o mal?”


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Cruz ou Estaca?

Stau‧rós, tanto no grego clássico como no coiné, não transmite a idéia de “cruz” feita de duas barras de madeira. Significa apenas uma estaca reta, um pau, uma trave ou um poste reto, como do tipo que poderia ser usado para cerca, estacada ou paliçada. Diz O Novo Dicionário da Bíblia, de Douglas, de 1966, sob “Cruz”, página 379: “O vocábulo grego para ‘cruz’ (stauros, verbo stauroo . . .) significa primariamente um poste reto ou uma trave, e, secundariamente, um poste usado como instrumento de castigo e execução.” – Estudo Perspicaz, Vol.3, pp.309

Segundo lemos aqui, o termo grego “stauros” não transmite a idéia de cruz, embora na mesma citação vemos que o sentido secundário do termo é esse. Para deixar ainda mais claro o fato de que tal termo não deve ser traduzido por cruz, o mesmo artigo acresce, citando J.D. Parsons no livro The Non-Christian Cross:
Não existe uma única sentença, em quaisquer dos numerosos escritos que compõem o Novo Testamento, que, no grego original, forneça até mesmo evidência indireta no sentido de que o stauros usado no caso de Jesus não fosse um stauros comum; muito menos no sentido de que consistia, não de uma única peça de madeira, mas de duas peças pregadas juntas na forma de cruz

Mas, devemos considerar isso como fato? Vamos investigar um pouco o assunto:

A. O que dizer do termo latino crux?

Sobre a descrição da cruz em escritos antigos, temos vários exemplos que mostram qual a forma mais comum, e que foram reunídos pela forista Leiolaia. Aqui faço a tradução dos escritos que ela reuniu, e comento o que está escrito, adaptando os comentários que ela mesma fez destas passagens.

Primeiramente, vamos analisar o uso da palavra latina crux, já que é em Roma que a crucificação com dois postes de madeira, como vimos, se origina. As citações a seguir são de Plautus, Sêneca e Tacitus. Elas mostram que a crux incluia um patibulum ou furca, e que o patibulum era pregado ao poste horizontal. As vítimas carregavam o patibulum antes de sua crucificação e as vítimas estendiam seus braços na crux ou patibulum.

1. Titus Maccius Plautus

Titus Maccius Plautus foi um dramaturgo romano. Acredita-se que nasceu em Sarsina (uma cidade em Úmbria) em 254 A.C., devido a uma notícia de Cícero (Brutus, 60), e morrendo em 184 A.C. Seus escritos são os mais antigos da literatura latina. Suas 21 obras se preservam até os dias atuais, e datam entre 205 A.C e 184 A.C. Ele escreve

“Frateor, manus vobis do. Et post dabis sub furcis. Abi intro–in crucem. – Eu o admito, eu levanto minhas mãos. E depois vocês as prenderão na furca. Prosseguindo para a crux.” (Persa, 295)

Aqui vemos o poste horizontal chamado de furca, que é relacionado com a palavra crux. Em outra obra, o escritor diz:

“Credo ego istoc extemplo tibi esse eundum actutum extra portam, dispessis manibus, patibulum quom habebis. – Eu suspeito que vocês estejam condenados a morrer do lado de fora do portão, naquela posição: mãos estendidas e presas no patibulum.” (Miles Gloriosus, 359-360).

Aqui, Plautus usa a palavra patibulum para se referir ao poste horizontal. A palavra é usada também quando ele escreve

“O carnuficium cribum, quod credo fore, ita te forabunt patibulatum per vias stimulis carnufices, si huc reveniat senex. – Oh, eu aposto que os suspensores te farão parecer uma peneira humana, da forma que eles te espetarão para ficar cheio de furos enquanto te levam pelas ruas com suas mãos presas ao patibulum, assim que o velho voltar” (Mostellaria, 55-57).

Esta última citação mostra o costume de se carregar o patibulum pelas ruas da cidade, antes da crucificação. Plautus ainda cita o patibulum relacionado à crux na seguinte passagem:

“Patibulum ferat per urbem, deinde adfigatur cruci. – Deixe-o levar o patibulum pela cidade, depois o deixe ser pregado à cruz.” (Carbonaria, fr. 2).

Ainda sobre a palavra crux, Plautus diz

“Ego dabo ei talentum, primus qui in crucem excucurrerit; sed ea lege, ut offigantur bis pedes, bis brachia. – Eu darei duzentas moedas para o primeiro homem que carregar minha crux e a levar – na condição que suas mãos e pernas sejam pregadas duplamente”. (Mostellaria, 359-360).

Aqui, é a crux que é carregada. Todas estas palavras foram escritas cerca de 200 anos antes da crucificação de Jesus, e demonstra como os costumes relacionados com a crucificação, que mencionamos antes, já eram praticados.

2. Lucius Annaeus Seneca

Lucius Annaeus Seneca foi um filósofo estóico romano. Nasceu em Córdova, no ano 4 D.C, e morreu em Roma, em 65 D.C. Em seus escritos, encontramos uma descrição da crux composta de duas partes: o suporte (stipitibus) ou poste horizontal, e o patibulum. Ele diz:

“Cum refigere se crucibus conentur, in quas unusquisque vestrum clavos suos ipse adigit, ad supplicium tamen acti stipitibus singulis pendent; hi, qui in se ipsi animum advertunt, quot cupiditatibus tot crucibus distrahuntur. At maledici et in alienam contumeliam venusti sunt. Crederem illis hoc vacare, nisi quidam ex patibulo suo spectatores conspuerent! – Apesar de tentarem se livrar de suas cruzes – aquelas cruzes que cada um de vocês os pregam por suas próprias mãos – ainda eles, quando trazidos para a punição penduram cada um em um simples suporte, mas estes outros que trazem a si mesmos sua própria condenação são esticados por quantas cruzes eles desejarem. Mesmo assim são caluniadores e geniais em amontoar insultos para outros. Eu talvez ache que eles são livres para fazer isto, alguns deles não cuspem de seu próprio patibulum” (De Vita Beata, 19.3).

Sêneca ainda escreve em outro lugar: “….alium in cruce membra distendere…. – outro que teve seus braços estendidos na crux” (De Ira, 1.2.2). Aqui, ele descreve que os braços são estendidos na crux, expressão que ele repete em “….sive extendendae per patibulum manus – …ou suas mãos serem estendidas em um patibulum.” (Fragmenta, 124; cf. Lactantius, Divinis Institutionibus, 6.17), mas aplicando ao patibulum, o que mostra que as duas palavras poderiam se referir à mesma parte do instrumento. Observe outra citação:

“Video istic cruces non unius quidem generis sed aliter ab aliis fabricatas: capite quidam conversos in terram suspendere, alii per obscena stipitem egerunt, alii brachia patibulo explicuerunt. – Lá eu vejo cruzes, deveras não de uma forma, mas diferentemente planejadas por diferentes pessoas, alguns penduram suas vítimas com suas cabeças para o chão, alguns impalam suas partes íntimas, outras estendiam seus braços no patibulum.” (De Consolatione, 20.3)

Nessa citação Sêneca nos mostra que a palavra crux tinha uma ampla gama de significados. O mesmo pode ser visto na passagem:

“Cogita hoc loco carcerem et cruces et eculeos et uncum et adactum per medium hominem, qui per os emergeret, stipitem. – Imagine em sua cabeça a prisão, a crux, a tortura, o gancho e a estaca por onde eles passam diretamente por um homem até que ele se projeta em sua garganta.” (Epistle, 14.5).

Observe mais uma:

“Contempissimum putarem, si vivere vellet usque ad crucem….Est tanti vulnus suum premere et patibulo pendere districtum…. Invenitur, qui velit adactus ad illud infelix lignum, iam debilis, iam pravus et in foedum scapularum ac pectoris tuber elisus, cui multae moriendi causae etiam citra crucem fuerant, trahere animam tot tormenta tracturam? – Eu deveria avaliá-lo como mais desprezível se quisesse viver até a hora da crucificação. Vale a pena se deprimir pelos próprios ferimentos de uma pessoa, e ser pendurado empalado em um patibulum? … Pode algum homem se encontrar desejoso de ser preso à árvore amaldiçoada, há muito fraco, já deformado, inchado com vários tumores no peito e ombros e puxar o fôlego de vida em meio a franca agonia? Eu acho que ele teria muitos motivos para morrer antes de subir na crux.” (Epistle, 101.10-14),

Nessa citação temos mais uma relação entre o patibulum e a crux.

3. Publius Cornelius Tacitus

Publius (ou Gaius) Cornelius Tacitus foi um senador e historiador romano. Tacitus nasceu em 56 ou 57 D.C. e morreu em 117 D.C. Entre seus escritos, encontramos:

“Solacio fuit servus Verginii Capitonis, quem proditorem Tarracinensium diximus, patibulo adfixus in isdem anulis quos acceptos a Vitellio gestabat. – Os tarracenos, contudo, acharam conforto no fato de que o escravo de Verginius Capito, que os traiu, foi crucificado (patibulo adfixus) usando os mesmos anéis que ele recebeu de Vitellius.” (Historia, 4.3).

Aqui, encontramos a expressão patibulo adfixus, clara referência à crucificação. Semelhante a esta, temos:

“Rapti qui tributo aderant milites et patibulo adfixi. – Os soldados colocados para supervisionar o tributo foram capturados e pregados ao patibulum.” (Annals, 4.72) Na citação “…sed caedes patibula ignes cruces, tamquam redddituri. – Ele foi rápido com o massacre e o patibulum, com incêndio e crux.” (Annals, 14.33), crux e patibulum são paralelos de massacre e incêndio.

Várias outras referências ainda são encontradas na literatura. Clodius Licinus (primeiro século A.C.) se refere ao carrasco que iria “prender [as vítimas] ao patibulum(ad patibulos); assim atados eles iriam levá-los pelas redondezas e depois prendê-los à cruz (cruci defiguntur)”. (História Romana, 3; citado em TLL, p. 707 para “patibulum“). Plínio o ancião, como já dito antes, se refere a uma crucificação anual de cães perto do templo de Juventas, prendendo-os a uma furca (furca fixi).(Historia Naturalis, 29.14.57).

Outro escritor romano que um pouco mais tarde aludiu ao patibulum ao qual os prisioneiros eram presos foi Lucius Apuleius (DC 123-170), que fez quatro referências ao patibulum em sua obra Asinus Aureus:

(1) Captão Lamarchus enfiou sua mão em um grande buraco de chave para arrombar uma porta mas Chryseros pegou um grande prego e o martelou na mão de Lamarchus, prendendo-o à porta e o deixando “pregado lá como um pobre infeliz no patibulum” (4.10); (2) Ponderando sobre o tipo de execução que dariam a sua prisioneira, um grupo de ladrões discutia se a queimariam, jogariam-na para as feras ou se a pendurariam em um patibulum (patibulo suffigi), de forma que (3) “ela ficasse no patibulum enquanto cães e urubus comiam suas entranhas” (4.32), mas foi decidido que ela “não deveria ser crucificada (cruces) nem queimada nem jogada às feras” (6.31). Este último texto usa crux intercambialmente com patibulum suffigere. Ainda depois, no terceiro século, Historia Augusta relata que quando o Imperador Celsus foi morto por uma mulher chamada Galliena, “sua imagem foi colocada em uma cruz (in crucem)”, de forma que os espectadores olhassem como se Celsus estivesse fixado em um patibulum (patibulo adfixus)” (29.4).

Por fim, a Vulgata Latina traduz os termos Hebreus por “forca” e “pendurar” com patibulum em Ester 2:23, 6:4 (affigi patibulo), 7:10, 9:13 (patibulis suspendantur), e 16:18.

B. O que dizer da palavra gregra stauros?

O que dizer da palavra gregra stauros? É verdade que stauros originalmente significou um tipo de estaca usada para construir cercas, como atesta a Odisséia de Homero: “Ele fincou estacas (stauros) por todo este caminho e aquele, grandes estacas, foram colocadas juntas, as quais ele fez rachando um carvalho até o centro negro”. (14.11). Thucydides (Historia, 4.90.2) da mesma forma descreve a construção de uma cerca “fixando estacas (staurous)” por um canal, e stauros também foi usado no sentido de “cerca” ou como “pilha” servindo como fundação”. (ex. Herodotus, Historiarum 5.16; Thucydides, Historia 7.25.6-8). Também foi usado para descrever a estaca usada para empalação (compare com o uso feito por Sêneca acima), apesar do termo mais comum ser skolops, exemplo: “…atirem seus corpos em rochas pontiagudas ou os empalem com uma estaca (skolopsi)” (Euripides, Iphigenia Taurica,1430).

Assim, é verdade que stauros significava originalmente estaca. No entanto, não devemos supor que por isto, a palavra jamais agregou outros significados. Sabemos que a crucificação era praticada por Persas, Fenícios e posteriormente por Romanos. Vimos também que uma palavra poderia se referir a vários formatos de instrumentos (ex. Herodotus, Historiarum 9.120; Plutarco, Artaxerxes 17.5). Certamente, o formato do instrumento não vai ser especificado simplesmente através da palavra usada.

Vimos acima, como os romanos formaram a crux compacta baseando-se em outras punições antigas, já no terceiro século antes de Cristo. Resta saber, qual palavra era usada pelos gregos, para se referir a este instrumento de tortura. Vejamos algumas citações em grego sobre o costume romano:

“Toda bagagem caiu nas mãos dos inimigos, e o próprio Hannibal foi feito prisioneiro. Eles [os soldados romanos] imediatamente o levaram para a cruz (stauron), onde Spendius estava pendurado, e depois da inflição de excelentes torturas, tiraram o corpo do último e prenderam Hannibal, ainda vivo, à sua cruz (stauron) e então massacraram trinta cartaginenses dos mais altos cargos perto do corpo de Spendius”. (Polybius, Historiae 1.86.6; o autor viveu entre 200-118 A.C., este evento aconteceu em 183 A.C.)

“Eles encontraram os outros já pendurados em suas cruzes (staurous), e ele já estava subindo em sua cruz (epi bainonta tou staurou). De longe eles gritaram apelos: ‘Misericórdia dele!’ ‘Desça!’ ‘Não o machuque!’. Então o carrasco parou seu trabalho, e Chaereas desceu da cruz (katebaine tou staurou), arrependidamente, pois ele estava feliz por deixar esta vida e infeliz amor.” (Chariton, Chaereas and Callirhoe, 4.3.5-6; escrito no primeiro século AC ou começo do primeiro século DC).

“Muitos homens também, que estavam vivos, eles ataram por um pé, prendendo-os pelo tornozelo, e assim eles os arrastaram e os machucaram, pulando sobre eles, planejando infringir neles a morte mais bárbara… arrastando-os por todas as vielas e becos da cidade… as relações e amigos daqueles que foram as reais vítimas foram deixadas para trás na prisão, foram espancados, foram torturados, e depois de todo o tratamento doentio a qual seus corpos vivos poderiam agüentar, acharam a cruz (stauros), o fim de tudo, e a punição da qual eles não poderiam escapar.” (Filo de Alexandria, In Flaccum 70-72; autor viveu entre cerca de 20 A.C. – 50 D.C.).

“Mas você vai pregá-lo a uma cruz (eis stauron kathélóseis) ou empalá-lo a uma estaca (skolopi péxeis)? Por que Theodorus se importa se ele apodrecerá acima ou abaixo da terra? (Plutarco, Moralia, Ad Vitiositas 499D; autor viveu entre 45-125 DC).

Enquanto os soldados [romanos] estavam cortando sua cabeça, seu tutor [o tutor de Antyllus, filho de Marco Antônio] planejou roubar uma jóia preciosa que ele usava em seu pescoço, e colocá-la em sua bolsa, e depois negou o fato, porém foi condenado e crucificado (anestauróthé)” (Plutarco, Antonius 81.3).

“Eles foram chicoteados com varas, e seus corpos foram feitos em pedaços, e foram crucificados (anestaurounto), enquanto ainda estavam vivos e respiravam. Eles também estrangularam aquelas mulheres e seus filhos que eles tinham circuncidado, como o rei apontou, pendurando seus filhos pelos pescoços assim como eles estavam pendurados na cruz (anestaurómenón). E se fosse encontrado algum livro sagrado da Lei, era destruído, e aqueles com quem era encontrado pereciam também miseravelmente.” (Flávio Josefo, Antiquitates Judaicae 12.256-257; autor viveu entre cerca de 37-100 DC, escreveu cerca de 95 DC; o evento narrado ocorreu em 168 A.C.).

“Agora, aconteceu nesta luta que um certo judeu foi levado vivo, que pela ordem de Tito, foi crucificado (anastaurósai) diante da muralha, para ver se o resto deles se assustaria, e abatia sua obstinação.” (Josefo, De Bello Judaico 5.289; o evento narrado aconteceu em 66-70 DC).

“Nem falhou em sua esperança, pois os mandou montar uma cruz (stauron), como se fosse justamente pendurar Eleazar imediatamente, a visão disto causou um pesaroso sofrimento entre aqueles que estavam na fortaleza, e eles suspiravam veementemente, e choravam por não conseguiriam vê-lo destruído de tal forma.” (Josefo, De Bello Judaico 7.202).

“Por que vocês obedecem à ordem de se submeter ao tribunal? Pois se vocês querem ser crucificados (stauróthénai), esperem e a cruz (ho stauros) virá.” (Epictetus, Dissertationes 2.2.20; autor viveu entre 55-135 DC).

“Ele era escoltado por multidões e recebendo sua fartura de glória enquanto via o número de seus admiradores, sem saber, pobre infeliz, que aqueles homens no caminho da cruz (stauron) ou preso pelo carrasco tem muito mais nos seus calcanhares… É como um homem que prestes a subir na cruz (epi stauron anabésesthai) deve cuidar dos arranhões no seu dedo.” (Luciano, De Morte Peregrini 34.7, 45.5; autor viveu entre 117-180DC).

“Os judeus, de fato, machucaram muito os romanos, mas eles mesmos sofreram muito mais… Estas pessoas Antônio confiou a um certo Herodes o governo, mas Antigonus ele prendeu em uma cruz (stauroi) e o açoitou, uma punição que nenhum outro rei sofreu nas mãos dos romanos, e depois o mataram.” (Cassius Dio, Historae Romanae 49.22.4-6; o autor viveu entre 165-235 DC).

“O pai de Capio levou o segundo escravo pelo fórum com uma inscrição deixando conhecida a razão pela qual ele estava sendo colocado para morrer, e depois crucificou (anastaurosantos) ele.” (Cassius Dio, Historae Romanae 54.3.7-8).

Nenhuma destas referências dizem nada a respeito do formato do instrumento, mas mostra que “stauros” era a palavra mais comumente usada para designá-lo. Como o uso da cruz com dois postes pelos romanos apareceu por esta época, e que não era um formato incomum como nos atesta Sêneca e outros escritores romanos como vimos antes, vemos que stauros significava muito mais que uma simples estaca na até o primeiro século A.C. A citação de Plutarco acima é interessante, pois ele diferencia crucificação com stauros de empalamento com skolops. Porém não apenas stauros foi aplicado à crucificação. Há evidências literárias que indicam que até skolops era aplicado ao instrumento de tortura:

“Muitos do povo foram com Theron enquanto ele era levado, ele foi crucificado (aneskolopisthe) em frente à tumba de Callirhoe e da cruz (staurou) observava o mar”. (Chariton, Chaereas and Callirhoe, 3.4.18).

“Mas este homem não ordenou homens que já pereceram na cruz (stauron) a descer, mas comandou homens vivos a serem crucificados (anaskolopizesthai), homens a quem o próprio tempo deu, senão inteiro perdão, pelo menos uma breve e temporária pausa de sua punição.” (Filo de Alexandria, In Flaccum 84).

“Agora traga o produto das cortes, eu quero dizer aqueles que morreram pelo castigo e pela cruz (aneskolopismenous).” (Luciano, Cataplus 6.18-20).

“Somente os fantasmas daqueles que morreram com violência andam, por exemplo, se um homem se pendurou, ou se teve sua cabeça cortada, ou foi crucificado (aneskolopisthé).” (Luciano, Philopseudes 29).

“Os ladrões de templo não são punidos mas escapam, enquanto homens sem culpa de toda injustiça morrem algumas vezes crucificados (anaskolopizomenous) ou açoitados.” (Luciano, Juppiter Tragoedus, 19).

Note como os dois primeiros textos usam stauros para se referir à crucificação. Veremos adiante que Luciano usa este verbo (anaskolopizoó) ao se referir à crucificação com dois postes.

Como vimos acima, a crucificação romana evoluiu da forma mais primitiva de humilhação, onde o condenado era obrigado a carregar o patibulum. Muito interessante é o fato de que a palavra stauros se referia também ao patibulum, como vemos abaixo:

“Sem mesmo vê-los ou escutando sua defesa ele imediatamente ordenou os dezesseis companheiros de cela a serem crucificados (anastaurósai). Eles foram imediatamente trazidos para fora, acorrentados juntos nos pescoços e pés, cada um carregando sua própria cruz (ton stauron ephere). Os carrascos adicionaram este terrível espetáculo à punição requisitada como um dissuasor a outros que tentarem o mesmo. Agora Chaereas não disse nada enquanto era levado com os outros, mas pegando sua cruz (ton stauron bastazón), Polycharmus exclamou: ‘É sua culpa, Callirhoe, que nós estamos nesta encrenca!’” (Chariton, Chaereas and Callirhoe, 4.2.6-7; escrito no primeiro século A.C. E começo do primeiro século D.C).

“Todo criminoso que é executado deve carregar sua própria cruz (ekpherei ton hautou stauron) nas suas costas.” (Plutarco, Moralia, De Sera Numinus Vindicta 554 A).

“Pois a cruz (ho stauros) é como a morte e o homem que é pregado deve carregá-la antecipadamente. (proteron bastazei)”(Artemidorus Daldianus, Oneirocritica 2.56; escrito no segundo século D.C.)

É possível que toda a crux compacta seja referida aqui, mas é improvável. Várias fontes indicam que a parte vertical era estacionária, fixada no chão antes da chegada da vítima. (ex. Cicero, Verrines 5.66; compare possivelmente com Josephus, Bello Judaico 7.202). Além disto, o peso combinado do patibulum com o poste vertical não poderia ser suportado pelas vítimas. No entanto, não se refere a um simples poste também, que não tem precedentes nas práticas romanas. Por exemplo, Artemidorus que vamos nos referir adiante, foi bem explícito ao dizer que a cruz era composta de duas traves.

Algumas descrições da crucificação por escritores gregos são ambíguas, mas assumem a crux compacta. Epictetus (filósofo estóico do primeiro século D.C) descreve aqueles sendo massageados como “estendidos (ekteinas) como homens que foram crucificados (estauromenoi)” (Dissertationes, 3.26.22). A frase aqui lembra de estender as mãos (dispessis manibus) de Plautus e de estender os braços (membra distendere) e mãos estendidas (extendere manus) de Sêneca, em escritos cristãos posteriores a frase de Epictetus se tornou um clichê para a crucificação na crux compacta. Josefo também dá um relato detalhado do cerco e ataque a Jerusalém em 70 D.C. e menciona que “os soldados por raiva e ódio se divertiam pregando seus prisioneiros com diferentes posturas” (allon allói skhémati, ou “de um estilo a outro”), e seu número era tão grande que espaço não podia ser encontrado para as cruzes (staurois), nem cruzes (stauroi) para os corpos.” (De Bello Judaico 5.451-452). Como poucos tipos de postura são possíveis em uma crux simplex, a passagem é melhor entendida com o uso de uma crux compacta.

Outros escritores são mais explícitos quanto ao formato do stauros. Por exemplo, Artemidorus Daldianu, um profeta pagão que prosperou no segundo século D.C. Cerca de 160 D.C, ele escreveu um manual de interpretação de sonhos chamado de Oneirocritica, onde como vimos acima clama que pessoas que foram condenadas à crucificação deve carregar seu próprio stauros (patibulum, como os romanos chamavam) antes da execução. Ele também fala que o stauros possui duas traves:

Ser crucificado(staurousthai) é próspero para todos os navegantes. Pois a cruz (ho stauros), como um barco, é feita de madeira e pregos, e o mastro do navio lembra uma cruz. (hé katartios autou homoia esti stauró) – (Artemidorus Daldianus, Oneirocritica 2.53).

Assim como hoje, os mastros dos navios consistiam de um alto poste levantado no centro do convés, cruzando com postes horizontais. Na verdade, a palavra latina para nomear estes postes horizontais, antenna também era usada para se referir ao patibulum (ver Insight, Vol. 1, p. 1191). Entalhes em rochas do período mostram como realmente os mastros daquela época se assemelhavam à cruz. (cf. alto-relevo de um barco romano de Sidon na obra de Philip Carrington’s The Early Christian Church, 1957, Vol. 1, p. 129). Em outro lugar, Artemidorus (Oneirocritica, 1.76) menciona que aqueles que são crucificados (staurothesetai) “estendem os braços” (tón cheirón ektasin), uma expressão originada de Epictetus, Seneca e Plautus para se referir ao patibulum.

Outro escritor que se refere explicitamente ao formato do stauros é o satirista Luciano de Samosata, que viveu entre os anos de 120 a 180 DC. Ele escreveu a fábula Julgamento na corte das letras, onde ele relata o julgamento da letra Tau (T). No fim da estória lemos o seguinte:

“Tais são suas ofensas verbais contra o homem; suas ofensas de fato permanecem. Homens choram, e lamentam sua sorte, e amaldiçoam Cadmos com muitas maldições por introduzir Tau na família de letras; eles dizem que foi seu corpo que tiranos pegaram de modelo(somati phasi akolouthésantas), imitaram sua forma(mimésamenous autou to plasma) e moldaram semelhantes pedaços de madeira(skhémati toioutói xula) para crucificar(anaskolopizein) homens nelas, e o vil instrumento até deriva seu nome(eponumian) dele (ex. sTAUros). Agora, com todos estes crimes sobre ele, TAU não merece a morte, senão muitas mortes? De minha parte eu acho que a única coisa a fazer é punir Tau no que é feito com sua própria forma(tó skhemati tó hautou), pois a cruz(ho stauros) deve sua própria existência a Tau, senão o seu nome para os homens (hupo de anthrópón onomazetai) .” – (Lis Consonantium, 12).

Note o uso de anaskolopizoó para se referir à crucificação em uma crux compacta. O texto estabelece, sem sombra de dúvidas, que os termos usados até agora se referiam a este tipo de crucificação.

Finalmente, outra palavra usado para especificar a crucificação é a palavra xulon. Assim como outras palavras já tratadas aqui, xulon aceita uma ampla gama de significados. No grego clássico e koiné, a palavra era usada para se referir a lenha, madeira (Ilíada, 8.507; Thucydides, Historia 7.25.2; Herodotus, Historiarum 1.186), bancos (Demosthenes, 1111.22; Aristophanes, Vespae, 90; Acharnenses, 25), mercado de madeira (Aristophanes, Fragmenta 402-403), e até mesmo como medida de comprimento (Hero, Geometrica 23.4.11). Mas isto não é tudo, pois eventualmente “a palavra passou a significar algo vergonhoso ou desafortunado” (Kittel and Friedrich, Vol. 3, p. 37). Ele passou a denominar vários instrumentos de punição, incluindo pelourinho (Aristophanes, Nubes 592; Lysistrata, 680), tronco onde se prendia os pés e a cabeça do condenado (Herodotus, Historiarum 9.37), uma combinação de ambos (Aristophanes, Equites 367, 1049), e porrete (Herodotus, Historiarum 2.63, 4.180; Plutarch, Lycurgus 30.2). Claramente a palavra significava mais do que um simples pedaço de madeira.

No Novo Testamento, sua variação semântica variava pouco. Foi usada para significar materiais de madeira (1 Coríntios 3:12), árvores (Apocalipse 22:19), instrumento para prender escravos (Atos 16:24), e porretes (Mateus 26:47). Mas muitos escritores cristãos a usaram para definir o instrumento de crucificação romana. Aparentemente há duas razões para isto:

Em épocas pré-republicanas, romanos algumas vezes puniam escravos desobedientes prendendo-os em árvores e os açoitando até a morte (cf. Joseph A. Fitzmyer, CBQ 40: 509, 1978). Ocasionalmente as vítimas eram forçadas a levar o patibulum também. Esta forma de punição foi chamada de arbor infelix ou infelix lignum, e muitos escritores latinos posteriores usaram esta expressão para se referir à crucificação (cf. Livy, Ab Urbe Condita 1.26.10-11; Cicero, Pro Rabirio 4.13; Seneca, Epistle 101.14). Como resultado, a crux compacta se tornou conhecida como arbor ou lignum (ambas palavras latinas se referem à árvore). Isto deve ter influenciado escritores gregos a usarem a palavra xulon para significar o mesmo que stauros.

No entanto, há ainda mais uma explicação. Muitos eruditos acreditam que o uso de xulon no NT e outros escritores judeus contemporâneos surgiu de uma interpretação midráshica de Deuteronômio 21:22-23:

“Se um homem tiver cometido um pecado digno de morte, e for morto, e o tiveres pendurado num madeiro, o seu cadáver não permanecerá toda a noite no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto aquele que é pendurado é maldito de Deus. Assim não contaminarás a tua terra, que o Senhor teu Deus te dá em herança.”

É claro que este texto não se refere à crucificação. Mas muitos judeus o acharam relevante quando os romanos introduziram esta forma de punição na Judéia, principalmente tendo os romanos o costume de deixar o corpo apodrecer por dias na cruz (cf. Horace, Epistle 1.16.48; Lucan, Pharsalia 6.543). Assim, isto foi um guia para decidir como a crucificação romana deveria ser entendida legalmente. Significantemente, os Rolos do Mar Morto, datados do primeiro século antes de Cristo, citam Deuteronômio 21:22-23 duas vezes com relação à crucificação romana praticada por judeus helenizados (11QT, 64:6-13; 4QpNah, 3-4:1:1-11; o último texto se refere à crucificação de Alexandre Janneus em 88 A.C., compare com Josefo, Antiquitae 13.14.2, Bello Judaico 1.4.5-6). Similarmente, Paulo aplicou aquela escritura (derivada da LXX que usa xulon para a palavra hebraica “árvore”) à crucificação de Jesus:

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; para que aos gentios viesse a bênção de Abraão em Jesus Cristo, a fim de que nós recebêssemos pela fé a promessa do Espírito”. – Gálatas 3:13,14

De acordo com Max Wilcox, a influência de Deuteronômio pode ser detectada em cada instância que xulon é usada em relação à crucificação. O discurso de Paulo em Atos 13:28-30 tem a aparência de ser uma midrash de Deuteronômio 21:22- 23 (cf. JBL, 96: 92, 1977). Ainda nos evangelhos, os judeus exigiram que Pilatos retirasse os corpos de Jesus e dos ladrões para prevenir que eles ficassem na cruz durante o sábado (João 19:31; cf. Lucas 23:50-54). Tudo isto indica que a percepção judaica sobre a crucificação romana envolvia Deuteronômio 21:22-23. Como resultado, vemos o uso de xulon como sinônimo de stauros é quase exclusivamente feito por escritores judeus (cf. Josephus, Antiquitae 11.246-261; Philo, De Somniis 2.213). Vendo tudo isto, e sabendo do amplo significado que xulon poderia ter, percebemos que esta palavra era usada com o mesmo fim que stauros: indicava o instrumento de duas traves, usado na crucificação romana.

Homens e Deuses os Salvadores Expiatórios

Crucificado irlandês pré-cristão de origem asiática. DIR.: Um crucificado egípcio: a imagem, encontrada em um antigo templo em Kalabche, tal como a irlandesa, é muito anterior à Era Cristã.

A crença na crucificação de Jesus, o Cristo, é um dogma central da Igreja Católica Apostólica romana e de outras Igrejas cristãs [Ortodoxa, Evangélicas]. É uma crença imperativa: está no texto do Credo, oração que é a declaração de fé dos cristãos seguidores do Vaticano. A crucificação em si é um ponto tão indiscutível quanto a ressurreição. No entanto, há controvérsias; muitos estudiosos põem em dúvida a veracidade histórica da crucificação.

Um dos argumentos mais fortes é falta de documentação histórica sobre um fato que, do ponto de vista contemporâneo, deveria, na época, ter sido, de algum modo registrado, fosse por relato de historiadores, que são mínimos; fosse por registros processuais da burocracia romana. As poucas referências a Jesus, seus seguidores e sua crucificação, são consideradas suspeitas pelos analistas mais céticos. Entre os poucos textos antigos existe um trecho, sempre citado, atribuído ao historiador Flavio Josefo e, mesmo este, tem sua originalidade posta em dúvida.

Outro argumento dos que questionam a veracidade da crucificação e até mesmo a existência do próprio Jesus é o fato do argumento, noético-religioso, ser recorrente na cultura de muitos povos. O crucificado perseguido e/ou injustiçado que voluntariamente se submete ao sacrifício da própria vida pela salvação do mundo, este crucificado é o personagem misterioso de uma história que tem sido contada muito antes da Via Crucis ter sido percorrida na Judéia.

Neste texto, baseado no capitulo XVI do livro de The World's Sixteen Crucified Saviors de Kersey Graves [1875], o autor relaciona 16 casos-histórico-mitológicos de crucificados salvadores do mundo. É um fato conhecido dos estudiosos mas, geralmente, desconhecido do público em geral, em cada contexto cultural, de cada país, de cada religião.

No caso do cristianismo católico [do Vaticano], o dogma da crucificação como um sacrifício inédito e exclusivo de Jesus, foi enfatizado desde os primórdios da Igreja, nas epistolas de São Paulo. Tem sido característica de todas as religiões, especialmente as grandes religiões, a estratégia de persuasão através do medo [da punição divina pelos erros, pecados] e da imposição de dogmas inquestionáveis, dogmas que, por sua imperatividade, ou mesmo por causa dela, contêm algo de mágico.

Acreditar no dogma de uma religião significa rejeitar os dogmas de todas as outras religiões e os líderes das grande religião sempre se empenharam em destruir e/ou ocultar quaisquer evidências, referências, conhecimento ou ensinamento relacionados a outras religiões. Porque o atributo da Divindade Suprema deveria ser uma espécie de exclusividade, de ineditismo histórico e de ser [ontológico].

O Cristianismo não fugiu a regra, ao contrário. Os primeiros discípulos da religião nascente ocuparam-se em destruir monumentos representativos da Crucificação de deuses orientais, pagãos, muito anteriores ao Messias judeu. Por isso a insistência do apóstolo Paulo em proclamar o credo em somente um, somente aquele, Jesus Crucificado.

Entretanto, a memória histórica foi preservada muito antes e muito além dos muros de Roma ou Jerusalém. Para os hindus, o Crucificado é Krishna, oitavo avatar de Vishnu, pessoa da Trindade dos brâmanes. Entre os persas, o Crucificado é Mitra, o Mediador. Os mexicanos esperam, fervorosamente, o retorno do seu Crucificado Quetzocoalt. Entre os caucasianos [no Cáucaso], o povo canta para o Divino Intercessor, que voluntariamente ofereceu a si mesmo em uma cruz para resgatar os pecados da Raça caída. Ao que tudo indica, muitas vezes, em diferentes épocas e lugares, o Filho de Deus, veio ao mundo, nascido de uma virgem e morreu, em uma cruz, pela salvação do Homem. O indiano Krishna é um dos mais antigos destes Crucificados.

I. A Crucificação de Krishna, Índia — 1.200 a.C.
link relacionado biografia: Lord Krishna 8º Avatar de Vishnu

Krishna pode ser considerado o mais importante e o mais exaltado personagem entre os Deuses Salvadores da Humanidade que se submeteram a uma existência em condição humana, sujeitos ao sofrimento e à morte em sacrifício que resgata, anula, os pecados dos Homens. enquanto outros Filhos de Deus encarnados tinham sua divindade limitada pela condição humana, Krishna, de acordo com as escrituras hindus, compreendia, em si mesmo, a totalidade de Ser Deus.

As evidências da crucificação de Krishna são tão conclusivas quanto as de outros Salvadores, ou seja, têm seus indicativos históricos, documentais porém, considerados inconclusivos, mantém a saga da Cruz envolta em uma inevitável aura de lenda.

Moore, um escritor e viajante inglês, produziu uma vasta coleção de desenhos/pinturas representativos de esculturas e monumentos hindus, que juntos são denominados o Panteão Hindu. Uma das peças do acervo mostra uma divindade crucificada, suspensa em uma cruz; é o Deus-Filho de Deus Crucificado Hindu, "Nosso Senhor e Salvador" Krishna. Krishna crucificado tem os pés fixados no madeiro com pregos, inseridos na do mesmo modo como, relatado nos Evangelhos cristãos, aconteceu com Jesus.

Existem várias representações deste Krishna crucificado [British Museum] e pouco comentado no ocidente. Ele aparece na mesma posição de Jesus e não raro é contemplado com um halo de glória que vem do céu. Em algumas figuras, aparecem somente as mãos cravadas. Em outras, somente os pés. No peito, em algumas destas imagens, destaca-se o coração do mesmo jeito que é feito nas imagens cristãs e, como outros ornamentos simbólicos, são evocados a pomba e a serpente, que também são emblemas cristãos relacionados à divindade [a pomba — o Espírito Santo; a serpente, símbolo complexo da Sabedoria, pode significar a tentação do conhecimento].

Vida — Caráter — Religião & Milagres de Krishna

A história de Krishna-Zeus [porque Krishna também é chamado assim, ou Jeseus, como preferem alguns escritores] está contida, principalmente, no Bagavat Gita [Canto do Senhor], no livro da epopéia Mahabaratha. Este livro, o Bagavat, na Índia, é considerado de inspiração divina, tal como o Bíblia católica. Os sábios hindus afirmam que o Bagavat tem seis mil anos de idade.

Como Jesus, Krishna teve origem humilde, [cresceu entre pastores de vacas] e foi perseguido por inimigos injustos. Entretanto, Krishna parece ter tido mais sucesso na propagação de sua doutrina; foi prestigiado por milhares de seguidores. Realizava milagres: curou leprosos, surdos e mudos, ressuscitou mortos; protegeu os fracos, consolou os tristes, elevou os oprimidos, expulsou e matou demônios. Em seu discurso, o Messias hindu dizia que não pretendia destruir a antiga religião; antes, devia purificá-la e pregar a doutrina restaurada.

Muitos dos preceitos doutrinários de Krishna reforçam a identidade entre o Filho de Deus hindu e o Messias cristão nascido na Judéia. Abaixo, alguns destes ensinamentos não deixam dúvida: ou Krishna era cristão, ou Jesus era krishnaísta ou ambos são uma única e mesma manifestação do Filho de Deus. São alguns dos ensinamentos de Krishna:
Aquele que não controla suas paixões não pode agir apropriadamente perante os outros.
O males infligidos aos outros seguem-nos, tal como sobras seguindo nossos corpos.
Os humildes são os amados de Deus.
A virtude sustenta o Espírito assim como os músculos sustentam o corpo.
Quando um pobre bater à sua porta atenda-o, procure fornecer o que ele precisa, porque os pobres são os escolhidos de Deus. [ATENÇÃO: No tempo de Krishna não havia tantos "pobres" golpistas [!]... Meditemos e adaptemos...]
Estenda a mão aos desafortunados.
Não olhe a mulher com desejos impuros.
Evite a inveja, a cobiça, falsidade, mentira, traição, impostura, a blasfêmia, a calúnia e os desejos sexuais.
Sobre todas as coisas, cultive o amor ao próximo.
Quando você morre, deixa para trás e para sempre a riqueza mundana da sua personalidade limitada; mas suas virtudes e seus vícios seguem você. ...
* A lista de preceitos krishnaístas semelhantes à doutrina cristã, especialmente como foi exposta no Sermão da Montanha, alonga-se em em 51 tópicos.

II. A Crucificação do Buda Sakyamuni — 600 a.C.

Buda, não um nome próprio. Significa "Iluminado". Buda Sakyamuni é um dos Iluminados que viveram na Índia [e possivelmente, um entre os Iluminados que têm vivido no mundo]. Sakyamuni, este sim, é um nome de família que serve para identificar este Buda específico, que viveu nos anos 600 a.C. e que é o mundialmente mais famoso dos Budas, entre Budas indianos e chineses.

A biografia do Buda Sakyamuni é razoavelmente bem documentada mas sua crucificação é uma das mais desconhecidas entre as versões sobre a morte deste Mestre. Porém, existe. O Buda Sakyamuni teria sido condenado pelo ato simples de ter colhido uma flor de um jardim. Mais uma vez, a punição injusta e, novamente, "crucificado", em uma árvore cuja forma remete à cruz, é explicada como um resgate dos erros humanos que somente o próprio deus encarnado poderia oferecer. Ele sofre a punição no lugar nos homens, cumpre seu destino, conforme uma de suas biografias:
Por misericórdia, ele deixou o Paraíso e desceu à Terra porque estava cheio de compaixão pelos pecados e misérias da raça humana. Ele veio para conduzir os homens por melhores caminhos e tomou seus sofrimentos em si mesmo, pagou por seus crimes e salvou o mundo que, de outra forma, na verdade, não poderia salvar-se por si mesmo. [Prog. Rel. Ideas, vol. i. p. 86.]

O Buda Sakyamuni também desceu ao Inferno e lá ficou durante três dias, ainda redimindo os pecadores, até a sua ressurreição, no terceiro dia. Depois da ressurreição e antes de ascender aos céus [porque nesta versão o Buda não morre, mas retorna ao reino de Deus, a Terra Búdica ou Terra Pura dos orientais], durante este tempo,o mestre Sakyamuni ainda transmitiu ao mundo preciosos ensinamentos no sentido da elevação do espírito humano.

Segundo um escritor:
O objeto de sua missão era instruir os que se tinham desviado do Caminho e expiar os pecados dos mortais através de seu sofrimento pessoal. Deste modo, alcançaria, para toda a Humanidade, entrada no Paraíso. Ensinou que todos deveriam seguir seus preceitos e orar em seu nome. Seus seguidores se referiam a ele como o Deus de toda da Eternidade e chamavam-no Salvador do Mundo, Senhor de Misericórdia, o Benevolente, Dispensador da Graça, Fonte de Vida, Luz do Mundo, Luz da Verdade..."

Sua mãe [Maya], era pura, pia e devota; jamais teve qualquer pensamento impuro, jamais foi impura em suas palavras e ações. Ela era muito estimada por suas virtudes. [Na composição desta figura mitológica a mãe de Buda Sakyamuni é representada sempre acompanhada por uma comitiva de donzelas]. As árvores inclinavam-se à sua passagem, em meio à floresta; as flores se abriam a cada passo da Mãe de Deus e todos a saudavam como Virgem Santa, Rainha dos Céus [é absolutamente dispensável comentar a semelhança entre as Escrituras hindus e as Escrituras Judaico-Cristãs, até porque as semelhanças não se limitam à figura de Jesus].

Contam as lendas que quando nasceu, o pequeno Sidarta Gautama [futuro Buda Sakyamuni], pôs-se de pé e proclamou: "Eu colocarei um fim aos sofrimentos e dores do mundo". Imediatamente, uma luz brilhou em torno do jovem Messias. O Buda Sakyamuni passou muito tempo em retiro, isolado, e tal como Cristo tentado 40 dias no deserto, também o Iluminado da Índia foi tentado pelo demônio, que lhe ofereceu todas as riquezas, [prazeres] e honras do mundo.

Como mestre Iluminado, aos 28 anos, começou a pregar seu evangelho [difundir sua mensagem] e a curar os doentes. Está escrito que "...os cegos enxergavam, os surdos ouviam, os mudos falavam, os aleijados dançavam, os loucos ficavam sãos; e as pessoas diziam "Ele é a encarnação de Deus". ...Ele proclamou "Minha lei é a Lei da Graça para todos". Sua religião não conhecia raça, sexo, casta nem clero.

O budismo, "fala de igualdade entre os homens, da irmandade que reúne toda a raça humana" [Max Muller]. "Todos os homens, sem distinção de classe social, nascimento ou nação, todos, de acordo com o budismo, partilham do mesmo sofrimento neste vale de lágrimas e todos devem partilhar os sentimentos de amor, auto-domínio, paciência, compaixão, misericórdia" [Dunkar].

Klaproth, [um professor alemão de línguas orientais], diz que o budismo é uma religião orientada para o enobrecimento da raça humana. "É difícil compreender como homens que não foram contemplados pela Revelação puderam alcançar conceitos tão elevados e chegar tão perto da verdade" [M. Leboulay].

Dunkar diz que esse deus oriental "fala de auto-negação, castidade, temperança, controle das paixões, tolerância à injustiça e aceitação da morte sem ódio pelos inimigos, solidariedade para o infortúnio alheio e indiferença ao próprio infortúnio". O missionário Spense Hardy escreveu sobre o budismo: "Existem preceitos especiais contra todo o vício, a hipocrisia, ira, orgulho, cobiça, avareza, maledicência e crueldade com animais. Entre as virtudes recomendadas, destacam-se o respeito aos pais, o cuidado com as crianças, a submissão à autoridade e às provações da vida, a gratidão, a moderação em todas as coisas, a capacidade de perdoar e não responder ao mal com o mal". ...

III. Thamuz, da Síria — 1.160 a.C.

A história deste Salvador está dispersa em fragmentos de vários escritores. Uma versão completa deste personagem é, provavelmente, o relato de Ctesias [400 a.C.], autor de Persika. Também foi crucificado como sacrifício pela expiação dos pecados dos homens. Parkhurst, autor cristão, refere-se a Thamuz como um precedente ao advento de Cristo. Sobre este Salvador, diz um texto grego: "Tenham fé, vocês, santos, seu Senhor está restaurado; Tenham fé na elevação do Senhor; e pelas dores que Thamuz sofreu nossa salvação foi alcançada".

O Thammuz histórico-mitológico está relacionado entre os deuses sumério-babilônicos regentes do mundo vegetal. Foi parceiro de Ishtar ou Astarté. Segundo a tradição, ele retornou da morte e morre novamente, a cada ano [Encyclopedia]. Representa o apogeu e a decadência da vida terrena em seus ciclo natural. Seu culto floresceu não somente na Mesopotâmia, mas também na Síria, Fenícia, Palestina. Thammuz é identificado com o egípcio Osíris e o grego Adonis [Hutchinson Encyclopedia].
Pesquisadores traçaram uma genealogia de Thammuz; ela está na Bíblia: Noé gerou Ham; Ham gerou Cuch; Cush, legendário fundador do Reino de Babilônia, gerou Nimrod. A partir daí a história ganha ares de primórdios da civilização. Depois da morte do pai, Cush, Nimrod, teria desposado a própria mãe, Semiramis, uma descendente daqueles que sobreviveram ao dilúvio.

Uma vela para Baal:

Casado com a mãe, Nimrod tornou-se um rei poderoso. Semelhante a Osiris, Nimrod foi assassinado e seu corpo, cujas partes retalhadas foram dispersas por todo o reino, foi novamente reunido pela rainha Semíramis. Somente uma parte não foi resgatada: o pênis. A rainha declarou que o rei não mais retornaria ao convívio dos mortais pois havia ascendido à sua morada celestial, o Sol e daí em diante, seria chamado Baal, o deus-Sol. Semiramis proclamou que Baal estaria presente na terra na forma de chama, de toda chama acesa pelos seus devotos, fosse uma lâmpada, fosse uma vela.

Thammuz:

Thammuz foi o filho que Semiramis deu à luz depois da morte de Nimrod. Uma versão diz que a concepção foi imaculada; outra, que foi fruto do incesto da rainha com rei e filho Nimrod. De todo modo, a rainha declarou que Thammuz era a reencarnação de Nimrod e que ali estava o Salvador. Porém, logo se estabeleceu um culto à rainha, ela era a Mãe de Deus.

A personagem Thammuz, misteriosa e persistente, atravessou tempo e fronteiras. Na Síria, em torno do ano 1160 a.C., viveu um Thammuz que foi crucificado. sua identidade se perdeu na bruma das Eras porém, tudo indica que foi um grande mestre, conforme os poucos testemunhos escritos, como o tratado de Julius Firmicius, Errore Profanarum Religionum [350 a.C.], onde é mencionado um Deus que "ressuscitou para a salvação do mundo".

Thammuz e os peixes:

a palavra Tammuz é considerada composição de duas outras: TAM, significando PERFEITO; e MUZ, relativo a fogo/luz. Portanto LUZ PERFEITA ou LUZ DE PERFEIÇÃO. Muitos escritores antigos encontraram conexão em Tammuz e o arcaico Bacchus Ichthys, ou seja, Baco Pescador. É uma relação curiosa com o cenário do evangelhos cristãos onde Cristo escolhe seus primeiros apóstolos entre pescadores, onde se refere a Pedro como Pescador de Homens e realiza milagres como a pesca abundante e a multiplicação dos peixes. FONTE COMPLEMENTAR: The Legend of Tammuz IN NEPHELIM-NOT

IV. Wittoba — Índia, 552 a.C.

Wittoba, Vithoba, Ballaji ou, ainda, Vitthal é outra das encarnações de Vishnu. Freqüentemente identificado com Krshna, controverso, não se sabe ao certo se antecedeu Krishna ou se veio ao mundo depois de Krishna. Na obra Hindu Pantheon, de Moor, podem ser vistas representações de Wittoba com os pés e as mãos marcados pelos cravos e o peito ornado com um coração, figura semelhante às de Jesus onde aparece o sagrado coração. Esse avatar [Wittoba] possui um templo esplêndido em sua honra situado em Punderpoor, com mais de mil anos de idade, visitado por milhões de peregrinos [TRUTH BE KNOWN].

O texto de Kersey Graves menciona um relato histórico sobre a crucificação desse avatar; segundo Higgins: "Ele é representado com as chagas dos pregos nas mãos e nas solas dos pés. Os cravos ou pregos, mas também martelos, tenazes [pinças] aparecem freqüentemente em seu crucifixo e são objetos de adoração entre seus seguidores.
De acordo com a Wikipedia [ilust. ao lado], Vithoba é a forma coloquial de Vitthala, uma das manifestações de Vishnu [Krishna]. Vithoba de Pandharpur´é, tradicionalmente, uma das mais importantes divindades nos estados indianos de Maharashtra, Karnataka e Andhra Pradesh onde reúne milhões de devotos.

V. Iao — Nepal, 622 a.C.

Sobre a crucificação deste antigo Salvador uma relato específico atesta que "...ele foi crucificado em uma árvore, no Nepal". O nome deste deus encarnado do Salvador do Oriente aparece freqüentemente em livros sagrados de outras nações. Alguns supõem que Iao [pronunciado com Jao] é a raiz do nome do deus dos judeus, Jehovah.

VI. Hesus — O Druida Celta, 834 a.C.

Godfrey Higgins [1772-1833] informa que os druidas celtas representam o deus Hesus sendo crucificado ladeado por um cordeiro e um elefante. Esta representação é anterior à Era Cristã. Na simbologia, o elefante [imagem que, de alguma forma deve ter sido importada da Ásia] corresponde à magnitude dos pecados humanos enquanto o cordeiro, de natureza inocente, é a inocência da vítima oferecida a Deus em sacrifício propiciatório. É o "Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo".

* Conta a tradição que Hesus, um druida celta, foi o introdutor da religião e da cultura na Britânia. O relato mitológico informa que Hesus foi crucificado em um carvalho, a árvore da vida, mas seu espírito sobreviveu e o período de sua glória depois da morte foi chamado de Idade do Ouro. Tal como Jesus, Hesus é Filho de Deus e nasceu de uma virgem chamada Mayence, no século IX a.C... Mayence é representada envolta em luz e usando uma coroa de doze estrelas e tendo aos pés uma serpente. [Audrey Fletcher, 1999]

VII. Quetzalcóatl — A Serpente Emplumada do México, 587 a.C.

A autoridade histórica em relação à crucificação deste deus mexicano [cultura asteca, tolteca e maia], sua execução sobre uma cruz como sacrifício propiciatório para a remissão dos pecados da raça humana, é um fato explícito, inequívoco, indelével. A evidência é tangível, gravada em aço, em placas de metal. Uma dessas placas tem a representação de Quetzalcóatl [cujo nome significa Serpente Emplumada] sendo crucificado em uma montanha; outra, mostra-o crucificado no céu. O deus mexicano foi pregado em uma cruz.

Mexican Antiquities , [vol. VI, p 166] diz: "Quetzalcóatl está representado em ilustrações do Codex Borgianus pregado na cruz." Algumas vezes, dois ladrões aparecem, crucificados, um de cada lado. Esse Salvador crucificado mexicano, tal como outros personagens histórico-mitológicos, é muito anterior à Era Cristã. No Codex Borgianus, o relato vai além da crucificação; ali estão registrados todos os eventos notáveis da biografia da Serpente Emplumada: a morte, o sepultamento, a descida ao Inferno e a ressurreição no terceiro dia. Outra obra, o Codex Vaticanus, contém a história de seu nascimento imaculado, concebido por sua virgem mãe chamada Chimalman.

A trajetória de Quetzalcóatl tem outras similitudes com a vida de Jesus, o Cristo do Oriente Médio: os quarenta dias no deserto, o jejum e a tentação, sua purificação no templo, o batismo e a regeneração pela água, sua capacidade de perdoar os pecados humanos, a unção com os óleos/ungüentos aromáticos pouco antes da crucificação etc.. "todas estas coisas e muitas outras mais encontradas nos relatos sagrados sobre esse deus mexicano são mais que curiosas, são misteriosas" [Lord Kingsborough, escritor cristão].

VIII. Quirinus — O Salvador Crucificado Romano , 506 a.C.

A crucificação deste Salvador romano é brevemente noticiada por Higgins e também apresenta muitos paralelos com a biografia do Salvador judeu, não apenas as circunstâncias relacionadas à crucificação mas também outras passagens de sua vida. Como Jesus, Quirinus: 1) Foi concebido por uma virgem; 2) Foi perseguido pelo rei da época e do lugar; 3) Era de sangue real e sua mãe, era irmã do rei [aqui, coincide com a história de Krishna]; 4) Foi injustamente condenado à morte e crucificado; 5) Quando morreu, toda a Terra foi envolta na escuridão, tal como ocorreu na morte de Jesus, Krishna e Prometeu.

* QUIRINUS — In Deuses Solares como Salvadores Expiatórios
Sun Gods as Atoning Saviours Dr. M. D. Magee, 2001

O deus Quirinus é uma figura que emerge da mitologia em torno da fundação da cidade de Roma e de seus fundadores, os gêmeos Rômulo e Remo. Os irmãos nasceram de Réia Silvia, uma virgem, princesa tornada vestal pelo irmão, o rei Amulius, que temia a disputa pelo trono. Réia Silvia foi fecundada por um deus, Marte. Quando nasceram, Rômulo e Remo, seqüestrados pelo rei, foram abandonados para morrer, em uma cesta, ao sabor das águas do rio Tibre [semelhante à história de Moisés].

Segundo a lenda foram resgatados por uma loba que os amamentou e criou com a matilha até que foram acolhidos por pastores. Adultos, desentenderam-se na fundação de Roma. As narrativas são confusas mas Rômulo [771 a.C. — 717 a.C.] passou à história como assassino do próprio irmão e fundador definitivo e primeiro rei de Roma. Mais tarde, Rômulo teria morrido de morte injusta, talvez, crucificado; ressuscitado, subiu aos céus e foi divinizado no imaginário popular como Quirinus. A festa dedicada a Quirinus, a Quirinália é no dia 17 de fevereiro.

IX. ÆSCHYLUS — Prometeu Acorrentado... ou Crucificado? 547 a.C.

* Prometeu é um personagem da mitologia grega. Era um Titã, gigante, portanto. Ele roubou o fogo [dos deuses] e transmitiu os segredos da chama aos homens. Sua punição foi ser acorrentado no Cáucaso submisso à tortura de ter seu fígado devorado por uma águia. O fígado se reconstitui e a águia volta a atacar o herói, eternamente. Foi rsgatado deste suplício pelo semideus, filho de Zeus, Héracles ou Hércules. * nota do trad.

Registros de um Prometeu crucificado [e não acorrentado] no Cáucaso [cordilheira, montanhas situadas na Eurásia, fronteira Europa/Ásia, entre os mares Negro e Cáspio] são fornecidos por Sêneca, Hesíodo e outros escritores. Segundo estes relatos, Prometeu teve os braços abertos pregados numa trave de madeira para cumprir seu sacrifício.

A versão mais popular atualmente, fala de um Prometeu acorrentado a uma rocha por 30 anos, é considerada por Higgins como uma fraude cristã. Escreve Higgins: "Eu tenho a referência dos registros que falam de Prometeu pregado a um madeiro, com cravos e martelo. Outro escritor, Southwell, complementa: "Ele expôs a si mesmo à ira de Deus para salvar a raça humana".

No Lempiere's Classical Dictionary, no Anacalypsis, de Higgins e em outras obras podem ser encontradas as seguintes particularidades sobre os momentos finais, a morte, de Prometeu: Toda a Natureza entrou em convulsão. A Terra tremeu, as rochas se abriram, as sepulturas se abriram e todo o Universo pareceu dissolver-se quando "Nosso Senhor e Salvador", Prometeu, ascendeu em Espírito.

Southwell reafirma: "A causa de seu sofrimento foi seu amor pela humanidade" Em sua obra Syntagma, Taylor comenta que toda a história de Prometeu, crucificação, morte, sepultamento e ressurreição era encenada em Atenas cinco séculos antes do advento do Cristo judeu, o que prova a antiguidade do mito.

X. THULIS DO EGITO — 1.700 a.C.

Sobre este Salvador egípcio, também chamado Zulius, escreve Mr.Wilkison: "Sua história é curiosamente ilustrada em esculturas de 1.700 anos a.C.. que são encontrada em pequenas câmaras situadas a oeste do adytium* dos templos, uma área restrita.

[*Aditon (do grego inacessível) ou abaton é o espaço do templo da Antiguidade Clássica só acessível a sacerdotes e utilizado para o culto ou colocação de oferendas — WIKIPEDIA].

Em sua sepultura figuram 28 flores de lótus representativas do número de anos que Thulis viveu sobre a Terra. Depois de sofrer morte violenta, ele foi sepultado, ressuscitou e subiu aos céus tornando-se o juiz dos mortos ou das almas no Além. Wilkison acrescenta que Thulis veio do céu trazendo a Graça e a Verdade em benefício da raça humana.

XI. INDRA DO TIBET — 725 a.C.

Um relato da crucificação do Deus e Salvador Indra pode ser encontrado em Georgius, Thibetinum Alphabetum, p 230. A história foi registrada em lâminas nas quais está representada a saga deste Salvador tibetano. À semelhança dos outros, também foi "pregado na cruz". Possui cinco chagas, cinco perfurações. A antiguidade deste mito é indiscutível.

Acontecimentos maravilhosos caracterizam o nascimento do Divino Redentor. Sua mãe, virgem, era de etnia negra assim como ele próprio. Também Indra veio do céu por compaixão e para o céu retornou depois de sua crucificação. Durante sua passagem na Terra, cultivou rigoroso celibato porque a castidade, segundo o mestre, é essencial para alcançar e manter a verdadeira santidade.

Pregou o amor, a ternura para com todos os seres vivos. Ele andava sobre a água e levitava, mantinha-se suspenso no ar; podia prever eventos futuros com grande precisão. Praticava a mais devota contemplação, submetia-se a uma severa disciplina do corpo e da mente, subjugando, deste modo, as paixões, os desejos [segundo o budismo e também o cristianismo, fonte de toda a infelicidade humana]. Indra foi adorado como o Deus que sempre existiu e existe por toda a eternidade e seus seguidores foram chamados Mestres Celestiais.

XII. ALCESTOS DE EURÍPEDES: UMA MULHER CRUCIFICADA — 600 a.C.

O English Classical Journal [vol. XXXVII] publicou o relato curioso e raro de uma deusa crucificada: Alcestos. De origem grega, sua descoberta é uma novidade na história das religiões e, possivelmente, é o único caso de divindade feminina que resgatou os pecados do mundo morrendo na cruz. Sua doutrina inclui o conceito da Santíssima ou Divina Trindade.

*Entretanto, a tradição desta figura como divindade e sua "crucificação", é duvidosa senão, forçada. Na lenda mais conhecida, Alcestos ou Alceste, uma princesa, oferece a própria vida para prolongar a vida do marido. Perséfone, rainha do Hades, mundo dos mortos grego, comovida com sacrifício da esposa, concede que ressuscite mais bela do que nunca... [*nota do trad.]

XIII. ATYS DA FRÍGIA — 1.170 a.C.

Este Messias, citado no Anacalypsis, de Higgins, também oferece o sacrifício da própria vida em resgate dos pecados da Humanidade. A frase em latim suspensus lingo, encontrada no relato de sua saga, indica a forma como morreu: suspenso em uma árvore, crucificado. Atys também ressuscitou.

XIV. CRITES DA CALDÉIA — 1.200 a.C.

Nos textos sagrados dos caldeus [Mesopotâmia] existe o relato sobre o Deus Crite, também chamado de Redentor, o "sempre abençoado Filho de Deus", Salvador da Raça, "Aquele que oferece a si mesmo em expiação dos pecados" único sacrifício capaz de aplacar a ira de Deus; e quando Ele morreu, céu e terra foram sacudidos em violentas convulsões.

XV. BALI DE ORISSA — 725 a.C.

Orissa é um estado indiano situado na costa leste daquele país. Também ali é contada a história de um Deus crucificado, conhecido por muitos nomes, sendo um deles, Bali, que significa "Segundo Senhor", em referência à segunda pessoa ou segundo membro da uma Trindade* que constitui o Deus Único. Em Anacalypsis, Higgins informa que monumentos muito antigos, representativos deste Deus crucificado podem ser encontrados entre as ruínas da magnífica cidade de Mahabalipore.
* Essa questão metafísica, das três pessoas "em Deus" é bastante destacada no Hinduísmo [Trimurti: Brahma, Vishnu, Shiva], no Cristianismo Católico [Vaticano: Pai — Filho — Espírito Santo] e na filosofia mais complexa, esotérica, do budismo Tibetano [Oriente] e teosofia [Ociente], Purusha, Prakriti, Fohat. * nota do trad.

XVI. MITRA DA PÉRSIA — 600 a.C.

Este deus persa morreu na cruz para expiar os pecados humanos. A tradição estabelece o dia do nascimento de Mitra em 25 de dezembro. Foi crucificado em uma árvore. O relato, evidentemente, remete a Cristo e a Krishna.

LEITURA COMPLEMENTAR I:

A vida de Mitra (Mithra)- nasceu de uma virgem em uma caverna no dia 25/Dez, foi visitado por pastores que traziam presentes- foi considerado um grande mestre e professor viajante- tinha 12 acompanhantes ou discípulos- prometeu a imortalidade para seus seguidores- realizou milagres- sendo o "grande touro do Sol" se sacrificou pela paz mundial- foi enterrado numa tumba e ressuscitou 3 dias depois- sua ressurreição é festejada anualmente- era considerado o "Bom Pastor" e identificado com o carneiro e o leão- era considerado o “Caminho, a Verdade e a Luz,” e o “Logos” [Palavra], “Redentor,” “Salvador” e “Messias.”- seu dia sagrado era o domingo, centenas de anos antes da aparição de Cristo- tinha um festival no dia da Páscoa- realizou uma última ceia e disse "Aquele que não comer do meu corpo e beber do meu sangue e se tornar um só comigo, não será salvo- seu sacrifício anual é considerado a "passagem dos magos" e é uma passagem simbólica de renovação moral e física.
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FONTE:
INQUISITIVE ATHEISTS traduzido em ATEU PRATICANTE BLOGSPOT

A lista não acaba em 16 personagens. Existem ainda outros casos: Devatat de Sião, Ixion de Roma, Apolônio de Thiana da Capadócia, também morreram na cruz em circunstâncias messiânicas. Ixion, em 400 a.C., foi crucificado sobre uma roda que, enfim, simbolizou o mundo. Ele sofreu as aflições do mundo, pagou pelos pecados da Humanidade suspenso "em cruz" e por isso foi chamado espírito crucificado do mundo.

Apolônio de Thiana [Tiana, Capadócia-Tu Março de 2 a.C. – Éfeso, 98 d.C. In WIKIPEDIA]

E outro caso de Salvador crucificado cuja biografia a literatura e os historiadores cristãos ignoraram ou censuraram justamente por causa da semelhança de suas vidas e mortes com a vida e morte do Cristo Jesus. Apolônio é uma figura singular entre os Salvadores do mundo porque sua trajetória coincide cronologicamente com o tempo do apostolado de Jesus.

Os escritores cristãos cuidaram de omitir esses fatos e personagens temendo prejuízos na credibilidade do Cristianismo como religião original e única verdadeira. A crucificação de Jesus tornou-se um dogma que o cristianismo toma como exclusivo de sua história, sem precedentes. Entretanto, as origens pagãs do Messias crucificado que foram negadas não puderam ser apagadas.

Uma referência do Mackey's Lexicon of Freemasonary [p. 35] informa que o Maçons ensinavam, secretamente, que a doutrina da crucificação, expiação e ressurreição é muito anterior à Era Cristã. Acontecimentos-rituais semelhantes integravam todos os antigos mistérios — mistérios no sentido de procedimentos religiosos-metafísicos esotéricos, destinados a poucos Iniciados.

A doutrina da salvação pela crucificação é de uma antiguidade que remonta às mais primitivas formas de religião, como a religião astrológica, devotada ao Sol. Nesta religião solar, orientada pelos ciclos da natureza em sua relação com os astros, o mundo era salvo ou resgatado da treva e do frio pela crucificação do Sol ou pelo cruzamento — "crossification" — da órbita solar com a linha do equinócio, na entrada da primavera, trazendo o retorno da luminosidade e do calor, estimulando a geração em todas as coisas vivas. ...

A negação dos Salvadores crucificados pagãos ou, ainda, conceder que suas histórias existem sendo, contudo meras fábulas, é um caminho perigoso para o cristianismo posto que nada impede o raciocínio mais superficial de questionar, do mesmo modo, a crucificação do Cristo Jesus.

De fato, o questionamento da Paixão foi levantado por figuras importantes da Igreja dos primeiros tempos. O bispo Irineu não acreditava na morte de Jesus na cruz e dizia que o Messias judeu tinha vivido até os cinqüenta anos. Alegava o testemunho do mártir Policarpo que, por sua vez, afirmava que sua fonte era o próprio João, o Evangelista.

Reflexões Sobre a Crucificação

A crucificação sempre foi um ponto de dúvida entre muitos dos seguidores do cristianismo primitivo que, tal como muitos judeus e gentios, questionavam a veracidade do fato. Muitos argumentam que a Paixão tem um significado espiritual, um simbolismo para uma vida santa.

Uma circunstância que pesa para fortalecer a suspeita sobre a Crucificação é o relato dos fenômenos naturais que teriam acontecido no momento da morte de Jesus: violenta convulsão da Natureza, ressurreição dos Santos, são eventos que jamais escapariam ao registro dos historiadores da época que, no entanto, não fazem qualquer menção a estes fatos.

Além disso, toda a doutrina que envolve a trajetória de Jesus na Judéia até sua morte na cruz encerra contradições notáveis até para indivíduos iletrados ou pertencentes a culturas mais simplórias. Por exemplo: um chefe indígena, Red Jacket contestou os missionários que tentavam explicar-lhe os benefícios da Crucificação: "Irmãos, se vocês homens brancos assassinaram o Filho do Grande Espírito, nós, índios, não temos nada com isso, não é assunto nosso. Se Ele tivesse estado entre nós, índios, nós não o mataríamos. Nós o trataríamos bem. São vocês que devem reparar seus próprios crimes".

Esta visão, de um pagão iletrado, pode ser mais sensível e racional do que o entendimento dos cristãos ortodoxos ou fundamentalistas, que consideram a Crucificação um ato meritório e moralmente necessário. Este mérito e esta necessidade da crucificação implica, por via de dedução, em uma reavaliação do papel de Judas, posto que a traição foi também necessária. Judas teria, então, mérito na Salvação porque sem o seu gesto, que o próprio evangelho justifica dizendo que "o demônio entrou nele" [Judas], sem a traição, não haveria crucificação e, por conseguinte não haveria a expiação da carga de pecados do mundo; não haveria a Salvação. É um desafio para o cristianismo rebater tais argumentos.

Se os habitantes da Terra precisam da morte injusta e violenta de um ser divino para a expiação de seus erros pode-se presumir que nos possíveis milhões de outros mundos habitados do Universo, em boa parte deles, outras Humanidades também devem ser periodicamente necessitadas desta dramática interferência divina para purificar suas anima mundi dos crimes de coletividades de seres vivos autoconscientes e inteligentes. Será possível que na vastidão do Universo, em mundos e contextos inimagináveis, milhares, milhões de Cristos sejam crucificados?

Origens do Mito Ritual

A concepção de deuses vindos do Céu, emanações do Deus Supremo nascidos de uma virgem, sofrendo mortes violentas como sacrifício expiatório pelos crimes dos homens, este é um enredo que tem origem em épocas recuadas quando o homem era um selvagem, um animal que resolvia suas querelas, suas disputas, com derramamento de sangue; quando o sangue era o tributo por qualquer ofensa. Na evolução dos costumes, ao que parece, o sacrifício periódico de um justo voluntário, o cordeiro, a grande dor de um inocente, tornou-se a síntese suficiente simbólica de todas as penas acumuladas e devidas, pelos homens, ao Criador de todas as coisas.

LEITURA COMPLEMENTAR II

Para a teósofa H.P.Blavatsky*, o "mistério... da perfeita semelhança entre as vidas de Pitágoras, Buddha [Sakyamuni], Apolônio etc., é muito natural"... e significa "que todos esses grandes homens eram Iniciados da mesma Escola... Não há imitação nem cópia nas das diversas biografias: todas são originais". São biografias que descrevem "a vida mística e, ao mesmo tempo, a vida pública dos Iniciados, que vieram ao mundo para salvar, se não toda, pelo menos uma parte da humanidade".

A ORIGEM IMACULADA

Refere-se ao nascimento místico durante o mistério da Iniciação. Para as multidões, para o entendimento do povo,com apoio dos cleros, esse fato é entendido no sentido literal: "a mãe de cada um dos Iniciados foi uma virgem, que concebeu o filho por obra do Espírito Santo sendo [por isso] chamados Filhos de Deus".

SALVADORES

Citemos, por exemplo, as legendárias vidas de Krishna, Hércules, Pitágoras, Jesus, Apolônio, Chaitanya. ... Cada um é apresentado como um Soter [Salvador] de origem divina, título conferido pelos antigos aos deuses, heróis e reis insignes. Todos, antes ou logo depois do nascimento, são perseguidos e ameaçados de morte... por um inimigo poderoso [o mundo da matéria e da ilusão], quer este inimigos e chame Herodes, rei Kansa ou rei Mâra... E finalmente se diz que, terminados os ritos de iniciação, foram assassinados, isto é, mortos em suas personalidades físicas, das quais se libertam para sempre depois de sua espiritual ressurreição ou nascimento. E com o desfecho dessa suposta morte violenta, descem ao Mundo Inferior ou Inferno — o reino da tentação, da concupiscência e da matéria, e, por conseguinte, das Trevas — de onde regressam glorificados como deuses...

A UNIVERSALIDADE DA CRUZ

Desde o princípio da humanidade, a Cruz, ou o Homem de braços estendidos horizontalmente, simbolizando sua origem cósmica, foi relacionado à sua natureza psíquica e às lutas que conduzem à Iniciação. [Considera-se que o verdadeiro nascimento de um Iniciado somente acontece depois de superadas todas as provas da Iniciação. então acontece o nascer no mundo espiritual. O Iniciado é, portanto, duas vezes nascido, Dvija e sua idade passa a ser contada a partir deste segundo nascimento.

* BLAVATSKY. H.P.. A Doutrina Secreta - vol. V Ciência, religião e filosofia. [Trad. Raimundo Mendes Sobral]. São Paulo: Pensamento, 2003 [p. 144]

A cruz e o círculo são um conceito universal tão antigo como a própria mente humana. Ocupam a primeira linha na lista da longa série de símbolos... "Crucificar perante o sol" é uma expressão usada na Iniciação. Provém do Egito e, originariamente, da Índia... O Adepto Iniciado, que se saísse bem em todas as provas, era atado, não cravado, a um leito em forma de Tau [fig. esq.], em forma de Suástica ... na Índia...

[Depois, o Adepto era]... mergulhado em profundo sono — o "Sono de Siloam" ... Era mantido nesse estado durante três dias e três noites, período em o seu Ego Espiritual... confabulava com os Deuses; descia ao Hades, Amenti ou Pâtala, conforme o país; e fazia obras de caridade em prol dos Seres Invisíveis, Almas de Homens ou Espíritos Elementais; permanecendo seu corpo todo o tempo em uma cripta ou cova subterrânea do templo.

No Egito, o corpo era colocado no Sarcófago da Câmara do Rei da pirâmide de Quéops e levado durante a noite que que precedia o terceiro dia para a entrada de uma galeria, onde, em certa hora, os raios do sol nascente davam em cheio sobre a face do Candidato em estado de transe, e então ele despertava ...
* BLAVATSKY. H.P.. A Doutrina Secreta - vol. IV O simbolismo arcaico das religiões, do mundo e da ciência. [Trad. Raimundo Mendes Sobral]. São Paulo: Pensamento, 2003 [p. 126 a 128] pesquisa e adaptação: Ligia Cabús

Matança de animais e o Sacrificio humano na historia das religiões

Sacrifícios Rituais

Desde eras primitivas, tanto no Ocidente como no Oriente, a matança de animais e o sacrificio humano fazem parte da historia das religiões. De uma forma ou de outra, essa prática é encontrada, ainda hoje, em diversas partes do mundo.

A mais impressionante característica do ser humano é sua inata religiosidade elemento que aparece ao longo de toda a história da humanidade, tanto no Oriente como no Ocidente. Entre as civilizações primitivas, porém, não existiam ensinamentos doutrinários, ou seja, os preceitos que formam o corpo de qualquer religião. Essa lacuna, porém, era contrabalançada por uma série de práticas ritualísticas que variavam segundo cada região: sacrifícios de diversas espécies, a manipulação de objetos sagrados, a recitação de orações, danças, etc.

As funções eram realizadas em épocas pre-determinadas e os diligentes preparavam se para os trabalhos afastando se da comunidade, jejuando e praticando a abstinência sexual.

Com o passar dos tempos, todas as religiões foram substituindo certas particularidades, provocando constantes modificações em sua estrutura.

Só com o surgimento de grandes profetas como Buda, Moisés, Maomé e o próprio Cristo é que as religiões começaram a se estabilizar, formar corpos doutrinários e estabelecer dogmas fundamentados nos seus ensinamentos.

Em termos de religiosidade, dois costumes predominavam entre os povos da Antigüidade: desenhar aquilo que se desejava conseguir e cultuar imagens de personagens com faculdades hoje denominadas paranormais. Isso ficou comprovado com a descoberta das pinturas rupestres na caverna Lés Trois Frères, em Ariège, França.

Lá foram encontrados desenhos de animais e de uma figura humana com longa barba, chifres de veado, orelhas de lobo, garras leoninas, olhos de coruja e um rabo de cavalo. Os desenhos dos animais teriam por finalidade ajudar os caçadores a pegar suas caças e a figura humana representaria um mediador, com poderes paranormais, para proteger a comunidade de catástrofes e resolver os problemas pessoais do povo.

Com o passar do tempo, surgiu uma nova magia, a imitativa, dirigida à eliminação dos inimigos através das imagens. Na Índia, na Babilônia, na Grécia, no Egito e em Roma as mortes trágicas eram conseguidas espetando se as efígies em partes consideradas vitais, ou seja, na barriga, no coração, na cabeça, etc.

Para tanto, os feiticeiros usavam paus ou um metal pontiagudo. Esse tipo de magia é usado, ainda hoje, em certas regiões da Austrália, da África e, segundo Sir James George Frazer, autor do clássico “O Ramo de Ouro”, até na Escócia.

A magia imitativa, porém, nem sempre era utilizada para fins maléficos. Os esquimós, por exemplo, conservam o hábito de fazer pequenos bonecos preparados pelos xamãs que devem ser colocados, à noite, nos travesseiros das mulheres para engravidarem ou terem um parto feliz. E em certas regiões do Japão pequenas estatuetas de bebês são enfeitadas e embaladas com a mesma finalidade: ajudar a esposa a engravidar.

Em outros países, como no Islã, o culto das imagens foi abandonado de vez por determinação do profeta Maomé e, em Israel, o mesmo aconteceu depois que Moisés recebeu as tábuas da lei no Monte Sinai. O segundo mandamento bíblico proibe esse culto: "Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas de baixo da terra" (Êxodo 20:4).

Como os cristãos primitivos eram de origem judáica, no início suas cerimônias religiosas eram simples e nos lugares de reunião não se viam imagens, crucifixos ou outros objetos venerados modernamente pelos adeptos do cristianismo. Aos poucos, isso foi se modificando e as figuras de Jesus, de mártires e de pessoas consideradas santas começaram a surgir. Os ícones foram então idealizados e tornaram se tão populares e numerosos que, no século VIII, a Igreja proibiu seu uso. Mas nada conseguiu. O hábito persistiu e no século IX, em virtude da pressão popular, a lei foi revogada.

Com o passar dos séculos, o culto dos santos, dos relicários e das imagens foi se expandindo a ponto de a Igreja católica romana começar a estudar seus arquivos para descobrir se alguns dos mais populares teriam sido santificados. Essa devassa resultou, entre 1963 e 1969, na cassação de São Jorge, padroeiro da Inglaterra, e de Cosme e Damião. São Jorge foi um militar que, segundo algumas fontes, viveu no tempo do imperador Diocleciano (século IV D.C.) e, como se insurgiu quando os cristãos começaram a ser perseguidos, foi preso e decapitado em 23 de abril do ano 303. Na umbanda, São Jorge é Ogum, um poderoso mestre das matas, neutralizador das forças negativas e o protetor das famílias. Alguns pesquisadores afirmam que o santo foi cassado pela Igreja católica em razão de sua popularidade entre os adeptos das religiões afro-brasileiras.

Os gêmeos árabes Cosme e Damião também muito populares entre os umbandistas eram médicos e foram martirizados em Roma pelo mesmo imperador Diocleciano. A Igreja de São Vito, no bairro do Brás, em São Paulo, preserva um relicário com dois ossinhos desses santos, autenticado pelo próprio Vaticano.

Os sacrifícios idealizados pelos povos primitivos envolvem algumas das mais variadas formas que se conhece de adorar as divindades. Nessas cerimônias, além da matança de animais, praticava se o mais cruel de todos os rituais: o sacrifício de seres humanos.

As oferendas de animais mudavam conforme os lugares onde eram feitas. Na Grécia, por exemplo, os animais pretos eram oferecidos às forças do mundo inferior. Os cavalos iam a Hélio, o deus Sol; as porcas prenhas pertenciam a Deméter, a deusa da terra; e os cães, considerados os guardiães dos mortos, a Hécate, a divindade da escuridão. Os sírios, por seu lado, acreditavam que os peixes eram os soberanos do mar e os guardiães do reino da morte, sacrificando os à deusa Atargatis e depois comendo-os.

O sacrifício de criaturas humanas era praticado para promover a fertilidade da terra, aumentar as colheitas, facilitar os meios de comunicação com as divindades aquém eram dedicadas e também para a expiação de seus próprios pecados. Os sacerdotes usavam de muita imaginação ao efetuar tais sacrifícios. Segundo James Frazer, as vítimas geralmente virgens podiam ser enforcadas, afogadas, queimadas vivas, lançadas de penhascos, etc. Quanto pior a morte, melhor...

Ainda hoje, de acordo com Frazer, na pequena aldeia marroquina de Duzru, nas montanhas do Anti Atlas, realiza se o sacrifício humano. Depois de diversas aventuras e de passar algumas horas de felicidade com seu bem amado, uma noiva é queimada viva, na porta da mesquita local, numa fogueira armada pelas suas próprias amigas e companheiras. A trágica cerimônia ocorre sempre no início da primavera, época apropriada para sacrifícios desta qualidade, pois neles o noivo personifica a renovação da natureza e a noiva, o espírito da vegetação.

Os próprios judeus, no passado, matavam animais e os ofereciam a Jeová. Segundo a Bíblia Abraão matou uma cabra e um carneiro, ambos de três anos de idade, poupando, porém, a rola e o pombo novo que faziam parte do ritual (Gên.15:9/10). Posteriormente, Jeová pôs Abraão à prova, exigindo que oferecesse seu filho Isaac num holocausto (Gên.22:1/2). Abraão acedeu; pegou o garoto e ia degolá lo, para depois queimar seu corpo, quando um anjo apareceu, impediu o sacrifïcio e substituiu lsaac por um carneiro (Gên. 22:12/14). A obediência de Abraão agradou a Jeová, que o abençoou.

Os sacrifícios humanos, no entanto, não eram praticados apenas no Oriente. Segundo o testemunho de viajantes europeus, em fins do século XVI, o rei da Flórida (EUA) sacrificou seu próprio filho. Em “O Ramo de Ouro”, Frazer mostra uma gravura que reproduz o ritual.

Em algumas regiões onde moravam pessoas abastadas, os sacrifícios podiam ser substituídos por dinheiro, jóias ou outros objetos de valor, que eram entregues ao sacerdote encarregado do ritual. Quando a população era pobre, ele aceitava oferendas de líquidos, como leite, vinho, óleo ou, então, frutas, verduras, cereais ou flores.

Em certos lugares, as pessoas colocavam punhados de cereais perto dos buracos dos roedores ou próximo aos ninhos dos pássaros acreditando que, dessa maneira, estavam transformando a oferenda num sacrifício às divindades protetoras daquelas espécies. Assim, em tempos de grandes dificuldades, conseguiriam amparo e orientação.

O ritual do sacrifício de uma moça sioux por uma tribo de índios pawnees, em 1837 ou 1838, foi um dos mais estranhos de que se tem conhecimento. A moça foi queimada e fizeram uma pasta de sua carne para esfregar em espigas de milho, batatas, legumes e outros vegetais a fim de aumentar as colheitas. O coração da vítima foi arrancado pelo sacrificador, que o comeu.

Frazer comenta que, se a suposição de que vítimas desse gênero eram consideradas divinas, o fato de o índio pawnee devorar aquele coração se prenderia à crença de que, agindo dessa maneira, ele estaria partilhando do corpo de seu deus.

Os sacrifícios eram geralmente realizados em altares de recintos consagrados. Alguns ficavam ao ar livre, em pilares, sobre montes de pedras ou de terra, lugares venerados por serem, supostamente, o local onde o mundo poderia ter se originado.

As formas de sacrifício nas diversas religiões são tão variadas que se torna difícil descrever todos os rituais com detalhes. Curiosamente, porém, algumas cerimônias se repetem em diferentes partes do mundo, separadas por imensos oceanos, e numa época onde não existiam meios fáceis e rápidos de comunicação. Em vez de sacrificarem um ser humano, por exemplo, os sacerdotes astecas e os xamãs tibetanos substituíam a vítima modelando imagens, feitas de uma massa comestível, que depois eram consumidas pelos fiéis. Só que as religiões nos dois países, em lados opostos do mundo, eram bem diferentes: budista no Tibete, asteca no México.

Poderíamos dizer, sem medo de errar, que, de uma forma ou de outra, as religiões modernas conservam os sacrifícios. Em alguns dos seus rituais, os cultos afio brasileiros, por exemplo, sacrificam animais.

No meio católico, por sua vez, durante a missa, o pão e o vinho são transubstanciados, ou seja, transformados na carne e no sangue de Jesus. Essa cerimônia expressa a presença real do Cristo em tais substâncias.