domingo, 9 de janeiro de 2011

Feitiços, Adivinhações e possessões no Antigo Israel

Adivinhação, feitiçaria, magia e possessão no AT:
suspeitas a partir da teologia feminista

Ao discutir as práticas de magia, feitiçaria e adivinhação nos textos bíblicos, estamos perguntando pelos mecanismos e processos de intermediação entre a divindade e o povo. Esta intermediação é legítima ou não de acordo com o contexto e a época, com o grupo ou o lugar social onde esta é praticada. Por exemplo: adivinhação é proibida em Dt 18, mas jogar as sortes através das pedras de adivinhação – Urim e Tumim – não recebe repreensão.

O propósito aqui é analisar algumas práticas e perguntas pela relação com o grupo social, a saber, as mulheres que estão por detrás destas ações.

Adivinhação, feitiçaria e augúrio

Uma tendência corrente nos estudos de magia, adivinhação e feitiçaria no mundo do antigo Oriente Próximo, especialmente a partir dos testemunhos dos textos bíblicos, é definir estas práticas como simbólicas, entendendo este simbolismo, como meramente ilustrativo ou alegórico, ou seja, que não tem cunho político ou religioso. Em relação aos textos bíblicos, ocorre muitas vezes uma harmonização de conflitos, ou uma postura de relegar estas práticas a uma fase anterior da “evolução” da religião a um monoteísmo explícito. Toma-se a religião, em sua manifestação monoteísta, como mais evoluída, mais avançada, pura em sua estruturação e definição, enquanto que as práticas mágicas representam pensamentos primitivos, atrasados, ligados a pessoas ou grupos marginais. Outra postura defendida por alguns estudiosos é vincular as práticas mágicas unicamente à iniciativa humana, diferenciando-as dos atos que vêm da vontade de Javé1.

A proposta adotada aqui será de perguntar pelas práticas mágicas em relação com outras práticas sociais. O objetivo é não tomar cada prática de forma isolada, ou tomar a magia e adivinhação como fenômenos isolados, mas inseri-las na rede de relações sociais, culturais, econômicas, políticas e religiosas. Ou seja, o levantamento dos conceitos não quer identificar as características de cada prática, com o intuito de encontrar uma definição, mas é ver como os usos destes conceitos estão relacionados ao contexto, aos pré-conceitos culturais, às pressuposições dos autores, dos estudiosos e dos tradutores, entre outros fatores. É nesta configuração que é possível localizar e entender por que algumas práticas são condenadas em alguns textos, e acontecem, de forma legitimada, em outras situações, ou outras épocas.

A condenação

O texto condenatório em Dt 18.9-14 está inserido num contexto que quer promover o contraste entre o povo escolhido de Deus e o povo cananeu. Observa-se a afinidade lingüística com o texto igualmente denunciador de práticas advindas “dos gentios”, em 2Rs 16.32. Este texto enumera a adivinhação junto com uma série de outras “práticas abomináveis”: sacrifício de crianças, encantamentos, necromancia, consulta aos mortos. Contudo, ficam fora outras práticas como Urim e Tummim, sonhos ou lançar as sortes, que em outros textos, fora do ambiente legal, parecem ser práticas comuns e admitidas em certos círculos.

Chama a atenção que o texto que segue – Dt 18.15-22 – é onde se institucionaliza e legitima Moisés como o único intermediário entre o divino e o humano. Num contexto muito próximo, em Dt 17.8-13, adverte-se que as decisões difíceis devem ser consultadas com sacerdotes e levitas em Jerusalém. O verbo usado para falar desta consulta (darash) aos representantes legitimados pela instituição sacerdotal é o mesmo que irá falar da “consulta” aos adivinhadores. Estas interpelações levantam a hipótese que a condenação ocorre por uma questão de poder. O ideal de um javismo puro, centralizado e a partir das instâncias oficiais, defendido pelo deuteronomista, apresenta-se como um contraponto às práticas populares3.

Uma abordagem semântico-morfológica dos termos que são usados para designar as atividades de adivinhação, feitiçaria, augúrios na lista proibitiva de Dt 18.9-14 auxilia na compreensão e localização social destas práticas. Ali são listados profissionais, cujas práticas não devem mais ser seguidas pelo povo: quem faz passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, o adivinhador, o prognosticador, o agoureiro, o feiticeiro, o necromante, o mágico, o encantador ou quem consulta os mortos. Um cuidado é necessário: ter em conta as diferenças de estilo, forma e gênero dos textos legais e dos textos proféticos. Estas diferenças podem influenciar na escolha por determinadas terminologias, ou uso de determinados conceitos. Os pronunciamentos proféticos, em sua maioria, foram feitos, em primeira instância, em nível oral. Estes, posteriormente foram organizados e estruturados em escritos. Este processo todo influência e determina a opção de terminologias e conceitos, ainda mais, se estes conceitos estão ligados com práticas em que a escrita não é determinante, como no caso da magia, da adivinhação e da feitiçaria/bruxaria4.
~sq este verbo já foi analisado anteriormente, constatando um significado de adivinhar, conjurar. O rei da Babilônia, conforme Ez 21. 21, se pára nas encruzilhadas, na entrada de dois caminhos para consultar oráculos e adivinhar por meio de flechas, além de interrogar os ídolos do lar (terafins) e examinar o fígado. A história de Balaão, em Nm 22-24, que é um adivinho, conforme Js 13.22, estabelece a função de adivinho dentro das práticas que são utilizadas pelo povo israelita. Ele tem poder de amaldiçoar (22.6) e abençoar (23 e 24). E cobra pelas suas adivinhações (22.7).

Vek;m. que significa feiticeira, deriva da raiz acádica kašāpu ou do substantivo kišpu, quer por sua vez significa, “magia negra”5. O termo mekaššep significa “bruxa, feiticeira”6.

rb,x' rbex significa aquele que amarra encantamentos, encantador. A mesma palavra serve para designar companheiro, amigo, cúmplice, sócio. A raiz verbal significa unir, enlaçar, ligar, aliar7. Mas pode estar se referindo a práticas mágicas de amarrar e desamarrar nós, de enrolar ou desenrolar fios ou faixas em volta de pessoas ou objetos, em práticas simbólicas, mágicas8.

bAa laev significa quem consulta os mortos. O termo bAa significa fantasma, espectro, alma penada, espírito, necromante, ocultista. Pode referir-se a espírito invocado, ou à pessoa que invoca ou consulta os espíritos9. O termo bAa pode se referir a um buraco, uma cavidade no chão, como o texto de Is 29. 4 parece indicar10. No entanto, há várias opiniões acerca do termo. Poderia ser o espírito de um morto que descansa com ele no Sheol, ou no túmulo, que homens ou mulheres podem invocar. Há ainda a possibilidade de ser somente o instrumento utilizado para esconjurar (exorcizar) os defuntos, ou para praticar magia. O mais provável, entretanto, é que o termo sofre um encontro de significados, podendo significar tanto um espírito, como um objeto através do qual o espírito pode ser lembrado, ou ainda, a pessoa capaz de receber, intermediar e interpretar a fala do espírito. Os textos bíblicos que proíbem tais práticas refletem essas interpretações simultâneas: Dt 18.11; Lv 20.27; 2Rs 21.6; 23.24; 2Cr 33.6.

Uma mulher que é dona de um espírito – 1 Sm 28 – a bruxa de Endor

A necromancia é a prática de consulta aos mortos. Em 1 Sm 28 temos um texto paradigmático sobre a consulta aos espíritos dos mortos, que pode ajudar no entendimento da questão, embora o texto seja único em toda a Bíblia Hebraica11. O contexto é de guerra. Os filisteus são uma ameaça concreta para Saul e seu exército. O rei está amedrontado e sem rumo. Já consultou ao Senhor por sonhos, por Urim, e pelos profetas, e o silêncio foi a sua resposta. Parece que sua última alternativa é consultar uma necromante, indo contra suas próprias leis proibitivas, como informa o v.3. A “senhora dos espíritos”, ou “dona dos espíritos” (ba´alat 'ôb). Esta tem uma proximidade semântica com um título que recebe Samaš, a divindade solar, significando “O senhor dos espíritos dos mortos”12. Não há nenhum sinal indicando que ela seja estrangeira, mas sim, israelita.

A mulher tem poder para invocar qualquer espírito, conforme sua pergunta no v. 11: “Quem te farei subir?” ou “Quem queres que eu evoque?” O ritual, com sua performance, não é descrito. No v. 13, ela diz: “Vejo um Deus(es) (elohim) que sobe(m) da terra.”

A inquirição à divindade via sonhos, pessoas, oráculos ou mortos fazia parte da experiência familiar. Grande parte destas atividades registra o envolvimento ou a participação de mulheres, talvez por ser a esfera doméstica o espaço onde elas se moviam13.

A redação deuteronomista deixa suas marcas no texto e na configuração do contexto. As práticas sincréticas levam o rei à ruína. É por causa disso que Saul é desabonado por Deus. O texto, fruto de um trabalho redacional da oficialidade centralizadora, quer deixar claro que a pluralidade religiosa precisa ser controlada, para garantir os interesses e a autodeterminação de Israel. Essa proposta trilha num fino limite onde a palavra profética tem o seu critério de verificação definido a partir da fala/anúncio/denúncia. A palavra, o oráculo do Senhor é o meio legítimo da profecia. Gestos, encantamentos, cheiros, fumaças, jarras, cuidado com os mortos são desabonados.

O poder da mulher, dona de espírito, a médium, faz com que se estabeleça um contato entre um espírito e um inquiridor vivo. E a mensagem que recebe é a verdadeira palavra de Deus. Segundo o texto, sua ação não acaba na intermediação entre a divindade (ou o espírito) e a pessoa angustiada que faz a consulta. Ela estabelece um acompanhamento “pós-consulta”. Como a notícia recebida afeta profundamente o cliente, a mulher trata de restabelecer a saúde, física e emocional da pessoa. Prepara uma farta comida para o rei e seus servos. Seria uma espécie de ritual final do processo de evocação dos espíritos, ou seria nada mais do que atenção a quem está necessitado e angustiado, diante de tão desventurosas notícias?

Outro texto que pode estar se referindo a práticas de necromancia encontra-se em Is 29.4, no qual se diz que a voz sairá do chão, da terra, como a de um fantasma. A idéia de que os espíritos vêm do chão, já é encontrada na terminologia, quando ´ôb pode referir-se também a um buraco no chão. Is 28.7-22 é um texto dirigido contra as profecias ilícitas, onde podem ser encontradas referências a atividades ligadas à necromancia. Especialmente os versículos 15 e 18, nos quais a denúncia se dirige aos que fizeram alianças com a morte. Ainda, em Is 8.19, condena-se explicitamente aqueles que buscam conselhos com necromantes, adivinhos e Is 19.3 imputa aos egípcios a prática de necromancia, feitiçaria e adivinhação14.

Outra observação é a idéia de que cada termo corresponde a uma função específica que uma pessoa irá assumir, ou seja, que está determinando uma função para uma só pessoa. A configuração social do antigo Israel está baseada no modelo familiar, que segue a linhagem de clãs e tribos. Este modelo social implica numa pequena diferenciação entre as pessoas nos diferentes níveis e espaços da estrutura social. Neste sentido, a lógica é que uma pessoa ocupe mais que uma função social. Uma listagem bem variada de funções ligadas ao espaço religioso aparece em vários textos bíblicos, como, visionários, profetas, sacerdotes, homem de Deus, serviçais do templo, levitas, escribas, pessoas consagradas, nazireus, entre outros. Se a diferenciação social segue um modelo rural, familiar, tribal, várias destas funções são assumidas pela mesma pessoa. Assim, um profeta pode ser um visionário, um homem de Deus, e, isso pode implicar em assumir funções de adivinhação, cura, proferir oráculos. Exemplos desta configuração são Jeremias e Ezequiel: assumem funções sacerdotais e proféticas, que, por sua vez, são exercidas de diferentes maneiras ou jeitos, por meio de visões, oráculos, gestos simbólicos, sinais, posturas corporais etc.15.

Esta mescla de funções pode ser comprovada no ambiente da feitiçaria ou bruxaria na Mesopotâmia. Além de ocorrer um intercâmbio de funções, também ocorre um trânsito de espaços.

...a própria feitiçaria pertenceu originalmente ao nível popular de cultura da Mesopotâmia e só eventualmente se tornou parte do domínio do exorcista de templo. Na forma popular, a ‘bruxa’ não é necessariamente um ser mau e que faz atos ilegais, mas na realidade, pode executar vários atos mágicos (ambos feitos de formas normativas e não-normativas de feitiçaria) em nome de outros e até mesmo contra as bruxas ‘más’. Nesta forma popular, a ‘bruxa’ parece exibir associações com tipos de extáticos praticantes. Tais associações podem bem ser significantes, porque elas recordam a junção ocasional de possessão periférica e feitiçaria. Assim, em certas circunstâncias sociais, o mesmo indivíduo pode utilizar possessão de espírito e pode ser empregado como um exorcista, mas então, também ser classificado como uma bruxa.16

A grande diversidade de possibilidades de traduções, com um leque amplo de significados, aponta para um cuidado metodológico que deve ser tomado na análise das práticas aqui estudadas. Muitas vezes o significados deriva do contexto ou de aproximações convencionais, do que propriamente de definições exatas e descritivas das práticas17.

Nesta diversidade de atividades, está uma ampla gama de artes mânticas, como, por exemplo, a interpretação do “curso e da posição dos corpos celestes, eclipses do sol e da lua, o sopro do vento, o vôo dos pássaros, a expressão de animais, bem como dos humanos, sonhos, nascimentos anômalos ou o comportamento dos animais de sacrifício”18.

Magia, bruxaria, feitiçaria e adivinhação são práticas atestadas na antiga Mesopotâmia. O cuidado metodológico consiste numa abordagem que não tome estas como categorias opostas, em conflitos, e que outras categorias sejam analisadas em oposição a partir destas, como politeísmo e monoteísmo, bem e mal, fé e superstição, sacerdócio e pessoas leigas, medicina e charlatania19. Neste sentido, em relação à magia, pode-se afirmar que, tampouco, é possível fazer uma distinção entre magia “branca” e “negra”. As técnicas usadas pelas bruxas eram as mesmas usadas para invocar poderes de cura ou de destruição. A diferença consistia na maneira secreta de atuar, em questões de uso de poderes malignos, enquanto que a defesa, o uso dos poderes para o bem e a cura, era feita abertamente20.

No antigo Egito, as fórmulas mágicas são usualmente manifestadas por meio de simbologias, como os ditos, acompanhadas de performances rituais que envolvem certos objetos e ingredientes, que servem como amuletos. A magia, no Egito, tinha preferencialmente um caráter de proteção, ou de profilaxia, advinda dos Deuses21.

O campo de operação, que contém maior quantidade de descrição de rituais mágicos no antigo Egito, pertence à esfera dos ritos funerários. São registradas informações sobre ditos e rituais mágicos nos Textos das Pirâmides do Antigo Império, nos Textos dos Sarcófagos do Médio Império e no Livro dos Mortos, do Novo Império22.

Um propósito dos feitiços era transformar o defunto em outro ser, um espírito (’h), que pertencia ao mundo divino, onde todas as forças da natureza se juntavam. Esta transformação, que acontecia num mundo onde as condições de existência eram completamente diferentes, e até mesmo a comida que o defunto precisava era simbólica, era alcançada por meio de uma vasta gama de feitiços e rituais. Muitos destes eram executados durante cerimônias de enterro, nos quais um vasto número de modos de ser e relações hipotéticas eram evocados.23

Como atestado na antiga Mesopotâmia, de forma análoga no antigo Egito, os campos de atuação dos profissionais envolvidos nas práticas mágicas se misturam. O mágico, o protetor e o sacerdote de Sekhmet poderiam estar associados ao doutor ou aquele que cura. Da mesma forma, menções aos profissionais são encontradas nos espaços públicos, como em espaços domésticos. Mulheres sábias são nomeadas em meio a estes profissionais. Textos bíblicos testemunham a presença de mágicos e adivinhos em serviços ao faraó: Gn 41.8 traz os magos e os sábios convocados para interpretar os sonhos do faraó, que também são mencionados em Ex 7.11 e 22. Os hartummîm, os mágicos do faraó tinham uma ligação com a casa da vida, o centro de estudos teológicos, onde a produção literária em torno da manifestação de Re era composta24.

Segundo Gabriela Frantz-Szabó, no contexto cultural-religioso hitita, podem ser detectadas duas formas de magia e feitiçaria: a assim chamada “magia negra,” que é a que causa dano e a “magia branca,” que tem caráter defensivo ou preventivo. A lei hitita punia àquelas pessoas que se envolviam com práticas mágicas maléficas. O trato da questão da feitiçaria e magia estava sob os cuidados do estado, pois as ações não envolviam somente a indivíduos, mas podiam acarretar em prejuízos sobre grupos e sobre o estado mesmo25.

Uma das profissionais mais conhecidas do mundo mágico hitita é a mulher sábia”, ou a “mulher velha”. Ela era uma espécie de sacerdotisa, não de um templo, mas de rituais mágicos e de oráculos de sorte. Ela podia atuar em equipe, com a ajuda de uma assistente hieródula, um médico, um visionário, ou um que observa os pássaros. Um ritual hitita de purificação da mulher, em período de parto conhecido como papanikri, dura 4 dias e já começa antes de dar à luz. Os pássaros malignos são observados durante este ritual. O quarto onde a mulher dá à luz é purificado, a mulher e a criança são consideradas portadoras de impurezas. A cadeira sobre a qual a mulher se acocora também passa por um ritual de purificação com o sangue de dois pássaros. Também há referência a um ritual no qual óleo é passado sobre a cabeça da parturiente, fazendo a limpeza ritual das mãos e da boca. com lã vermelha. Este ritual é presidido por uma parteira26.

A adivinhação hitita é composta por sonhos, presságios e oráculos, de sorte, ou de exames das vísceras de uma ovelha. Os fenômenos da magia e adivinhação estão espraiados na sociedade hitita. Estes faziam parte do mundo público e do mundo privado, e eram praticados pelo povo em geral, bem como pelo rei e o pessoal ligado ao palácio. Magia e feitiçaria se misturavam com as esferas religiosas e médicas, bem como dialogavam com as sociedades vizinhas, como Mesopotâmia e Ásia Menor27.

Com as informações sobre o contexto circundante mesopotâmico, egípcio e hitita é possível estabelecer parâmetros e analogias com as práticas do antigo Israel. “Adivinhação é uma prática comum no antigo Oriente Próximo e, assim, é natural encontrá-la no mundo fenício-cananeu, bem como num contexto mais amplo.” “Diferente dos mesopotâmicos, os hebreus e os cananeus da Palestina não produziram um corpus especificamente dedicado à adivinhação”28.

Os meios de adivinhação encontram analogias nas diferentes culturas, no antigo Oriente Próximo. O diferencial é que há pouco registro escrito destas práticas no antigo Israel. Os meios legítimos, exercidos pelos sacerdotes, foram a adivinhação por meio de sorte, o efod (peça do vestuário sacerdotal), e o Urim e Tummim. Os escritores sacerdotais e deuteronomistas vão fazer a redução necessária destas práticas, condenando as que não foram incorporadas, e legitimando outras que recebem o aval do corpo especializado. Não dá para estabelecer um critério único, para dizer porque determinadas práticas foram incorporadas e legitimadas, e outras relegadas ao proibitivo. Mas, a partir dos textos bíblicos, é possível estabelecer uma ligação entre práticas mágicas e adivinhação com parte do mundo e das concepções religiosas no antigo Israel. É um dos meios de acesso ao mundo sobrenatural, ao mundo do transcendente, do divino.

Como meio de acesso, o ponto que deve ser discutido em estreita relação com as proibições e condenações é a questão do controle destes meios de acesso. Ou seja, em que medida as proibições, negações e deslegitimações não respondem a questões de poder. A polêmica se encerra num contexto de definição de identidade, onde o conflito reside em determinar quem são os atores sociais legítimos, empoderados para exercer determinadas práticas. Ou, dizendo de forma mais concreta, o problema não são as práticas, mas quem as faz, onde elas acontecem e, conseqüentemente, a quem elas se dirigem.

Parece que em épocas pré-exílicas algumas práticas ou profissões poderiam ser consideradas compatíveis com o javismo daquela época. Já em épocas tardias, com a preocupação crescente pela manutenção da identidade em contexto de ameaça de misturas culturais e religiosas, que se apresentam no exílio, estas são condenadas. “Quando elas aparecem, mais tarde, em textos do dtr, ou nos textos influenciados pela ideologia do dtr, elas são retratadas como práticas ilícitas e proscritas”29.

Pode-se conjecturar que práticas do âmbito da magia e da adivinhação são elementos constitutivos da sociedade do antigo Israel. Há um movimento de relegar estas práticas ao mundo assim chamado “pagão” ou “cananeu”, enfim, aos outros, aos estrangeiros. Ao impelir estas práticas para fora do contexto cultural-religioso de Israel, preserva-se uma retórica de afirmação e construção da identidade isolada do ambiente cultural circundante. Neste sentido, ao abordar a temática da magia e da adivinhação na Bíblia Hebraica, deve-se ter em conta que a forma de apresentar o tema no próprio texto, leva a uma direção que quer estabelecer categorias de controle em assuntos de pureza e contaminação30.

As evidências textuais apontam para uma probabilidade da existência e aceitação de práticas de adivinhação em certos círculos no antigo Israel. O propósito do controle é mais percebido em textos cujas composições sofreram interferências deuteronomísticas. Os objetivos da profecia e da adivinhação são semelhantes, pois querem facilitar e agilizar a comunicação entre Javé, a divindade e seu povo. Mas para o escritor deuteronomista, a adivinhação não pode ser um meio legítimo, pois os canais fidedignos estão centralizados nos profetas de linha mosaica, ou ainda faz-se uma associação da adivinhação com práticas estrangeiras31.

A intermediação religiosa pode ser definida como “um processo de comunicação entre as esferas divina e humana na qual mensagens são canalizadas em ambas as direções, através de um ou mais indivíduos que são reconhecidos pela sociedade para exercer tal função”32. Esta definição correlaciona os profetas e adivinhadores em relação ao exercício de seu papel ou funções sociais. Ambos exercem a intermediação, apesar de o fazerem com suas especificidades, de acordo com os aspectos culturais que são relevantes em determinadas épocas e contextos.

Os textos condenatórios trazem uma característica em comum. Todos os intermediários são especialistas aos quais se recorre em busca de intermediação entre o reino sobrenatural e o terreno. Neste sentido, condenação se insere na pergunta de quais os meios são legítimos. Quais os mecanismos reconhecidos de comunicação com Deus? O Dt promete que serão fornecidos os intermediários legitimados e reconhecidos: o profeta de tradição mosaica. Este será o único intermediário reconhecido e os textos atestam isso. (Nm 12.6-8 )33.

Possessão no AT

A idéia de possessão no AT pode ser aproximada da profecia. Textos indicam que a experiência profética pode ser descrita como uma espécie de ocupação de copo e de identidade por parte de um espírito. O marco para a profecia é a possessão do espírito de Deus. A “mão do Senhor” cai sobre o profeta e este é possuído pelo poder de profetizar – 1 Rs 18.46; 2 Rs 3.15, Jr 15.17; Ez 1.30. O espírito ainda pode “pairar sobre” , Nm 11.25-26; ou “revestir” alguém, Jz 6.34; Am 3.8.

Há poucas referências a possessão demoníaca no AT: Ex 22.17 –18 e Lv 19.26 proíbem; no v. 31 há referência a necromancia, ou a consulta a um espírito familiar. Outros textos: 1 Sm 15.23; 2 Rs 17.17; 21.6; 23.24; 2 Cr 33.6. Há diferentes concepções, significados e formas de descrever o que se pode chamar de possessão: uma delas é que é associado com doença (epilepsia); outra é com horror e arrepios – Jó 4.12-16 – o espírito faz arrepiar o cabelo e ouve-se uma voz. O espírito pode ser manifesto como ciúme de marido que pensa que está sendo traído, em Nm 5.14-15; ou como espírito mentiroso que entra na boca dos profetas de Acab – 1 Rs 22.19-24.

Há uma diferença notável que levanta uma suspeita que pode ser aprofundada nas experiências de mulheres possuídas nos textos do AT e NT. No AT, não há referência explícita de mulheres possessas que são exorcizadas. Ao contrário, a partir de 1 Sm 28 pode-se dizer que a mulher é dona, controla ou tem o poder e conhecimento de como manejar, fazer subir o espírito. Nos textos do NT as referências a mulheres e possessão acontece sempre onde elas são possuídas e devem ser exorcizadas. De Madalena se diz que foram expulsos 7 demônios (Lc 8.2-3) ou a mulher que estava presa/amarrada por Satanás há 18 anos ficando encurvada (Lc13.16); ou a menina que tem um espírito de adivinhação (At 16.16ss).

Como problematizar esta situação dada no NT, em relação às mulheres e os espíritos demoníacos?

Estudos comparativos culturais mostram que a possessão demoníaca é usualmente um significado pelo qual um indivíduo num papel social subordinado pode responder para e lidar com circunstâncias que não podem ser efetivamente manejadas de outra forma. Muitas vezes estas circunstâncias emergem de conflitos intrafamiliares. Por isso, a possessão demoníaca ocorre, na maioria das vezes, nos indivíduos mais subordinados da estrutura familiar: mulheres e crianças34.

Então, poderia-se dizer que a situação das mulheres no contexto cultural do NT é mais difícil, mais subordinado? Por outro lado, o argumento do silêncio – não há menção a exorcismo de mulheres no AT – não pode significar de que não exista. Mas, exorcismos de homens sim, são mencionados: Davi exorcisa o espírito mau e violento de Saul, com música, conforme relato em 1 Sm 16.14-23; 18.10-12.

O que, sim, se pode afirmar é de que quanto mais se institucionaliza o culto e as práticas religiosas tanto mais as mulheres são afastadas do manejo com o sagrado. Tanto mais as práticas das mulheres são relegadas ao espaço do proibido, do ilícito, e que no linguajar do AT pode ser também, impuro, abominação, idolatria. A questão é então, quem tem o poder de nomear. De dar nome e legitimidade às suas práticas. Quem pode incorporar e oficializar as práticas e quem deve fazer o que sabe, na cozinha, atrás das cortinas, no fundo das roças, nas encostas e beiras de rios. Longe do templo, do sacerdote e de seu deus.
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1 Joanne Kay KUEMMERLIN-MCLEAN, Divination and magic in the religion of Ancient Israel , p. 2.
2 Brian B. SCHMIDT, Canaanite Magic vs. Israelite Religion: Deuteronomy 18 and the Taxonomy of Taboo. In. MIRECKI, Paul and MEYER, Marvin. (Ed.) Magic and ritual in the Ancient World. Leiden : Brill, 2002, p. 242-259, p. 242.
3 Thomas W. OVERHOLT, Cultural anthropology and the Old Testament, Minneapolis : Fortress, 1996, p. 69-73.
4 Joanne Kay KUEMMERLIN-MCLEAN, Divination and magic in the religion of Ancient Israel , p. 84.
5 Frederick CRYER, Divination in Ancient Israel and its Near Eastern Environment , p. 258.
6 Richard A. HENSHAW, Female and Male. The cultic personnel, p. 174.
7 Luis Alonso SCHÖKEL, Dicionário bíblico hebraico-português. P. 202-203.
8 Richard A. HENSHAW, Female and Male. The cultic personnel, p. 171; Joanne Kay KUEMMERLIN-MCLEAN, Divination and magic in the religion of Ancient Israel , p . 83.
9 Luis Alonso SCHÖKEL, Dicionário bíblico hebraico português, p. 32.
10 Harry A. HOFFNER, bAa , p. 140-142.
11 A análise deste texto está baseada, principalmente, nos seguintes comentários: Luiz José DIETRICH, Shigeyuki NAKANOSE, Francisco OROFINO. Primeiro livro de Samuel: Pedir um rei foi nosso maior pecado; Athalya BRENNER, A mulher israelita; José Luís SICRE. Profetismo em Israel ; Diana Vikander EDELMAN, King Saul in the Historiography of Judah, p. 238-251.
12 David Toshio TSUMURA, The interpretation of the Ugarit Funerary Text, p. 55.
13 Patrik MILLER, The Religion of Ancient Israel , p. 72.
14 Jean-Michel de TARRAGÓN, Witchcraft, magic, and divination in Canaan and ancient Israel , p. 2075.
15 Frederick CRYER, Divination in Ancient Israel and its Near Eastern Environment , p. 247-248.
16 Tzvi ABUSCH, Some reflections on Mesopotamian Witchcraft, p. 22 “... witchcraft itself originally belonged to the popular level of Mesopotamian culture and only eventually became part of the domain of the temple exorcist. In the popular form, the ‘witch’ is not of necessity an evil being and doer of illegal acts but may in fact perform various magical acts (both normative and non-normative forms of witchcraft) on behalf of others and even against ‘evil’ witches. In this popular form, the ‘witch’ seems to exhibit associations with ecstatic types of practioners. Such associations may well be significant, for they recall the occasional coalesce of peripheral possession and witchcraft. In certain social circumstances, thus the same individual may both utilize spirit possession and be employed as an exorcist but then also be labeled as a witch.
17 Joanne Kay KUEMMERLIN-MCLEAN, Divination and magic in the religion of Ancient Israel , p. 34.
18 Gabriella FRANTZ-SZABÓ, Hittite witchcraft, magic, and divination, p. 2007. “ … the course and position of heavenly bodies, eclipses of the sun and the moon, the blowing of the wind, the flight of the birds, the utterances of animals as well as of humans, dreams, monstrous births, or the behavior of sacrificial animals.”
19 Walter FARBER, Witchcraft, magic, and divination in ancient Mesopotamian, p. 1895.
20 Walter FARBER, Witchcraft, magic, and divination in ancient Mesopotamian, p. 1898.
21 J. F. BORGHOUTS, Witchcraft, magic, and Divination in ancient Egypt , p. 1775-1779.
22 J. F. BORGHOUTS, Witchcraft, magic, and Divination in ancient Egypt , p. 1779.
23 J. F. BORGHOUTS, Witchcraft, magic, and Divination in ancient Egypt , p. 1779. “One purpose of the spells was to turn the deceased into another being, a spirit (’h), who belonged to the world of the divine where all forces of nature came together. This transformation, which took place in a world where the conditions of existence were completely different and even the food the deceased needed was symbolic, was achieved by means of a vast range of spells and rituals. Many of these were performed during burial ceremonies, in which vast numbers of hypothetical modes of being and relationships were evoked.”
24 J. F. BORGHOUTS, Witchcraft, magic, and Divination in ancient Egypt , p. 1784.
25 Gabriella FRANTZ-SZABÓ. Hittite witchcraft, magic, and medicine, p. 2008.
26 James Carrol MOYER, The concept of ritual purity among the Hitites, p.70-72; Gabriela Frantz-SZABÓ. Hittite witchcraft, magic, and medicine, p. 2011.
27 Gabriella FRANTZ-SZABÓ. Hittite witchcraft, magic, and medicine, p. 2018.
28 Jean-Michel de TARRAGON, Witchcraft, magic and divination in Canaan and Israel , p. 2071.Divination is a common practice in the ancient Near east, and so it is natural to find it in the Phoenician-Canaanite world as well as in the broader context.” “Unlike the Mesopotamian, the Hebrews and the Canaanites of Palestine produced no corpus specifically dedicated to divination.”
29 Brian B. SCHMIDT, Canaanite Magic vs. Israelite Religion, p. 253. “The remaining four, soothsaying, sorcery, divining, and charming, were not attested in pre-exilic texts. This might indicate that while the professions were compatible with earlier forms of Yahwism (admittedly the text are silent on this point), they came to pose a threat to dtr ideology only by the exilic period or thereafter. When they do show up in later dtr texts or texts influenced by dtr ideology, they are depicted as illicit practices and outlawed.”
30 Brian B. SCHMIDT, Canaanite Magic vs. Israelite Religion, p. 259.
31 Thomas H. OVERHOT, Prophecy and divination, p. 126.
32 Thomas H. OVERHOT, Prophecy and divination, p. 141.
33 Robert R. Wilson. Profecia e sociedade no antigo Israel. São Paulo : Paulinas, 1993, p 152.
34 Stevan DAVIES L. Jesus, the healer. Possession, trance, and the origins of Christianity. New York : Continium, 1995. p. 81

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Os Profetas de Jó



“Por que não morri ao nascer?
Por que não expirei ao sair do ventre?” OS
PROFETAS
DE

Por que dar nome a um texto de “Os profetas de Jó”, quando em parte alguma do livro ele é chamado de profeta? Quais revelações apocalípticas ou proféticas saíram da boca de Jó? O que poderia caracterizar Jó como um profeta?

De fato, em momento algum ele é apresentado como profeta ou se considera como tal, assim como, jamais anunciou um fim catastrófico ou vaticínio vindouro. Tinha apenas a certeza de que era homem justo e que estava sendo punido covardemente. Todavia, Jó poderia ser considerado “Voz profética” contra a injustiça, a miséria, a angústia; “Voz profética” em favor do pobre, do humilhado, do necessitado, do errante e do enfermo; “Voz profética” ao confrontar o insondável, o misterioso, e o ambíguo caráter de Deus. A verdade é que Jó, após o seu martírio, foi o primeiro justo a comprovar que todos os homens estão sujeitos aos caprichos de YHWH.

Uma sincera leitura da Bíblia sobre a criação do Homem, o pecado de Adão, o dilúvio universal, os descendentes de Noé, a maldição dos filhos de Cão e a primeira guerra entre irmãos, o chamado de Abrão, o nascimento de Ismael e Isaque e a segunda guerra entre irmãos, o Êxodo do Egito e a expulsão das nações de suas terras, as leis morais e capitais do Pentateuco, e a evolução da religião de Israel, podem ajudar muito na compreensão do duvidoso caráter do Deus de Israel “olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe”.

Para que haja luz sobre este esboço, adianto que tudo é um terrível equívoco, a começar pela frustrada criação do Homem e a enigmática entrada do Mal no mundo. Só existe uma maneira de compreender a irracionalidade deste mundo nefasto, é compreendendo de que tudo não passa de um grande equívoco. Um ato de criação de um Ser ou vários que num determinado ou prévio momento decidiu criar e promover o caos. Um palco armado com personagens estabelecidos como numa tragicomédia Dantesca. Deus o criador, o Homem a criatura, e o Diabo o destruidor, elementos fundamentais para um cenário de injustiça, medo, catástrofe, morte, miséria. Deus cria o mundo, forma o Homem, e paralelamente surge um ser supostamente criado, de nome incerto: serpente, dragão, diabo, acusador, Satanás, trabalhando em oposição a tudo o que é perfeito. E com esses personagens ativos, o palco para a tragédia humana está formado.

Num primeiro ato Deus cria o Mundo e o Homem e vê que tudo é perfeito, num segundo ato se arrepende e amaldiçoa o mundo e o Homem, e num terceiro ato torna anátema a enigmática serpente. E assim, é dado o pontapé inicial de um quebra-cabeça imperfeito.

O que se desenvolve neste longa-metragem de terror de péssima qualidade é o desejo de um Deus ciumento, vingativo, obsessivo, que a todo custo tenta conseguir adoração e exclusividade da sua criatura. Como não obtém sucesso, então, ataca com violência, atrocidade, e extermínio. Porém, nem enviando peste, fome, seca, praga, guerra, exílio, canibalismo, anjo destruidor, YHWH consegue seu intento.

Quando o mais verdadeiro seria reconhecer o erro da criação do Homem ou admitir prazer e sadismo na destruição. Mas devemos avançar e falar sobre o personagem Jó figura central desta mensagem polêmica. Ele clama contra o que acontece de mais perverso, injusto e, vergonhoso ao Homem. Jó representa o choro de uma mãe que perdeu seu amado filho para o motorista imprudente, para a doença fatal, para os assassinos à espreita, para a bala perdida, para o bêbado ao volante, para o traficante violento, para o médico irresponsável, para os governantes malignos. Jó representa o clamor das crianças aidéticas, desnutridas, apodrecidas, malcheirosas, amaldiçoadas sem causa, da África. Jó representa o pranto sem fim das famílias enlutadas pelas guerras do poder. Jó representa todo o homem íntegro e reto que se desvia do mal, mas que inexplicavelmente torna-se seu alvo das desgraças da vida.

O pobre Jó não entendia seu sofrimento, assim, como milhões e milhões que no momento em que escrevo estão sendo tragadas pela tragédia. Então vem a pergunta: A quem clamar por justiça? Somos doutrinados a reconhecer YHWH como Deus Poderoso, Aquele que livra o aflito, o necessitado, O que faz o morto ressuscitar, que ampara o órfão e a viúva, que alimenta o faminto, que sacia o sedento, O que não toma o culpado por inocente e nem o inocente por culpado, O que abate o soberbo e exalta o humilde, Aquele que julga com retidão. Enfim, poderia ficar horas citando todas as supostas virtudes e bondades de Jeová. Por que então o Mal prevalece? Por que temos de nos contentar com as injustiças e retardar o tempo da justiça para uma época futura e incerta? Por que se conformar com a destruição dos justos e o triunfo dos ímpios? Por que ignorar as promessas de Deus de vida em abundância? Por que se ocultar numa religião para não enxergar as aberrações da vida? Por que eximir Deus da culpa pelo caos da sua criação e culpar o Homem por toda a dor?

Jó homem íntegro e reto que se desviava do Mal e temente a Deus sentiu na própria carne o absurdo de Deus. Clamou por um árbitro, um juiz que fosse colocado para que seu litígio fosse apreciado. Jó tinha convicção, por isso clamou: “Ainda que Ele me mate, eu não negarei a minha justiça”. Ah meus irmãos! Como é fácil dizer que adoramos a Deus, que vivemos para servi-lo, que o amamos de todo o coração, quando tudo vai bem. Ah meus irmãos! Como é fácil ficar quieto sem querer chamar a atenção de Deus quando o problema não é nosso. Ah meus irmãos! Como somos massa de manobra nas mãos de um livro que tem a pretensão de revelar um Deus Soberano que mata, ataca, destrói, extermina, e impede a piedade em favor de crianças e mulheres amamentando.

Alguns dias atrás me perguntaram: Crês em Deus e na Bíblia? E disse: Sim, creio em Deus, porém não creio que a Bíblia possa revelar Deus. Como muito bem disse São Jerônimo em um dos poucos momentos de sobriedade “A verdade não pode existir em coisas que divergem”. Como disse também Norman Champlin “Em algumas passagens da Bíblia, o melhor que se faz é ignorá-las para que não seja envergonhado o nome de Deus”. Como disse o papa Paulo V no séc. XV “Não sabeis como a leitura das Escrituras estraga a religião Católica”. Meus irmãos, este também tem sido o discurso dos protestantes radicais que condenam a Crítica Textual, a Arqueologia, a Ciência, a História do Cristianismo Primitivo, a História das Religiões. Tudo isso por que basta apenas um olhar racional para que toda farsa da Bíblia desapareça.

Mas eu, creio num Deus que um dia irá revelar toda a Verdade; creio num Deus que irá punir aqueles que fraudaram os seus atos e palavras, quer seja apóstolo, discípulo, santo ou pecador; creio num Deus que condenará todos os covardes que duvidando da mentira, ainda assim, resolveram se unir a ela; creio num Deus que isentará de culpa todos os que ousaram questionar levando-o em juízo pelos seus supostos atos e omissões, creio num Deus que tomará como culpado todo aquele que incitou os homens a falarem o que não era reto sobre Ele.

AMÉM!

Quem Irá Julgar os Atos de Deus?


Ah! Quem me dera alguém que me ouvisse!
Eis a minha defesa, que o Todo Poderoso me responda;
que o meu adversário (Deus)escreva a sua acusação. (Jó. 31.35)

Em primeiro lugar, gostaria de enfatizar que meu propósito com este esboço, que na verdade se parece mais com um grito por justiça, não tem a intenção de confundir, desfazer ou inibir a fé de nenhum dos meus destinatários. Tenho alguns projetos, e sei que Deus irá me abençoar, (parece até uma contradição) de escrever futuramente literaturas que abordem o problema do sofrimento humano, pelo menos três livros, o primeiro sobre Jó, o segundo sobre Eclesiastes, e o terceiro sobre “Os Absurdos de Deus e as contradições da Bíblia”.

Jó e Eclesiastes são dois livros do Antigo Testamento que em minha opinião são Universais, ou seja, servem de manuais para a vida prática. Representam as vicissitudes da vida e fazem eco ao grito por justiça dado por Asafe: Sl. 73; Habacuque: 1:2; Jeremias: 12.1:6, e tantos outros profetas e homens que se sentiram enganados, humilhados, injustiçados por Deus.

O grande conflito entre teólogos e cristãos leigos reside justamente na fé cega. Costumo dizer que “a ignorância é a mãe da devoção”. E um aspecto interessante acontece quando as ciências: arqueologia, física, biologia, antropologia, corroboram com algumas afirmações da Bíblia, e aí, os cristãos de plantão se apressam em dizer: Estão vendo! A Bíblia sempre precede a Ciência, a Bíblia nunca falha! Porém, quando as próprias ciências acadêmicas que compõem o estudo das Escrituras se opõem a Inerrância bíblica; negam a cronologia dos acontecimentos; desfazem afirmações bíblicas sobre ciência, biologia, física, antropologia, dinastias; desacreditam a autoria dos escritos, jogam por terra a infalibilidade da Escrituras, confirmam a interpolação e supressão de textos, revelam que muitas profecias foram escritas posteriormente aos acontecimentos, caracterizam alguns textos como espúrios. Aí, a coisa já muda de figura, e todos que não comungam da “Inerrância das Escrituras” estes são chamados de filhos do diabo, não convertidos, inimigos de Deus, agentes de Satanás.

Agora, falando em particular, acredito e sempre acreditarei na existência de Deus “Pois os atributos invisíveis de Deus, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que foram criadas, de modo que eles são inescusáveis. Pois tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças antes seus raciocínios se tornaram fúteis, e seus corações insensatos se obscureceram”. Romanos 1. 20.21. Como disse o apóstolo Paulo somente a dureza do coração do homem pode negar a existência de um Ser Criador de todas essas coisas.

Agora, o outro lado do problema.

Desde que ingressei no seminário e passei a estudar a Bíblia, eu disse estudar e não apenas ler e fazer de contas que tudo aquilo soaria como verdades universais, comecei a verificar que muitas coisas não se encaixavam, porém como era um recém convertido e um aluno novo no seminário, creditei tudo como sendo minha falta de conhecimento ou a falta de “revelação do Espírito Santo”, á propósito um jargão muito usado contra todos que se mostram críticos (estudiosos) das Escrituras Sagradas.

E, embora, nunca tendo sido um cristão ortodoxo, ou seja, um cristão tradicional que aceita tudo como sendo inspirado por Deus, ainda assim, hoje me arrependo de ter acreditado em dogmas, doutrinas, arranjos teológicos, profecias incompatíveis, que tinham apenas a intenção de dar sentido a um macabro enredo de mortes, assassinatos, traições, homicídios, infanticídios, incestos, invasões, estupros, ciúmes, violência, racismo, acepções, discriminações, pragas, maldições, invejas, aberrações e mentiras, tudo em nome do Deus Santo de Israel.

Ditados populares são criados dentro de suas respectivas “culturas” e a maioria deles longe de representarem verdades incontestáveis apresentam certa coerência. Entre os ditados populares existe um que acho pertinente com o assunto proposto: “O pior cego é aquele que não quer enxergar”. Digo isto porque, sempre me destaquei nos seminários onde estudei não que fosse o mais competente, mas por ser o mais ousado, praticamente o único a me levantar contra as incoerências, absurdos, injustiças e atrocidades cometidas por Deus ao longo das narrativas da Bíblia. Não é por acaso que Jó se constitui no Antigo Testamento o meu “herói preferido”, ele é um justo que foi, injustiçado, violentado, alijado, ultrajado, desmoralizado, escarnecido, por capricho do Deus de Israel que travava uma batalha de vaidades contra Satanás e, diga-se de passagem, Satanás venceu, pois nada do que Deus acrescentou a Jó poderia curá-lo de seus traumas e terrores.

Qualquer homem sensato, provido de razão ou humanidade, livre de uma religiosidade que escraviza consegue tranquilamente identificar o absurdo cometido contra Jó, homem que era integro e reto; temia a Deus e se desviava do mal. Com certeza depois da experiência infernal que Jó teve com Deus o seu “temor” antes, com uma conotação de respeito, passou a ser de medo, vulnerabilidade, inconstância e pavor, pois se o próprio Deus que testemunhou em favor dele o castigou impiedosamente o que não faria adiante.

Basta ler e querer enxergar, e não querer se enganar ou tentar representar o advogado de Deus ou do Diabo. Se ainda assim, persistir alguma dúvida sobre a injustiça praticada por Deus, leia-se as palavras do pobre Jó:

“Quando penso que a minha cama me consolará, e o meu leito aliviará a minha queixa, (leia-se dor excruciante) então me espantas (Deus) com sonhos, e com visões me assombras”. 7.13:14;

“Não existe árbitro entre nós que ponha a mão sobre nós ambos, alguém que tire a sua vara (Deus) de cima de mim, para que não me amedronte o seu terror”. 9.33:34;
“Se fosse uma questão de forças, ele é poderoso! “Se fosse uma questão de justiça, quem o citará? Se eu me justificar, a minha boca me condenará, (medo) se reto me disser, então ele me declarará perverso. Embora eu seja inocente, não levo em conta a minha alma, desprezo a minha vida. Tudo é o mesmo, portanto digo: Ele consome ao reto e ao ímpio. “Quando o açoite mata de repente, ele ri do desespero dos inocentes”. 9.19:23.

Poucos dias atrás conversava ao telefone um irmão em Cristo, este com certeza cristão de verdade, homem de muita fé, que não tenta contender com Deus e, falava que o palco da tragédia humana se iniciou no Éden evoluindo, para um contexto de guerras, vejamos: Por quais motivos os descendentes de Sem (Gn. 10.12) da árvore genealógica de Abraão, pai de todos os hebreus, foi escolhido para habitar nas terras dos cananeus, descendentes de Cão, erradamente amaldiçoado por Noé, logo após, uma embriagues de vinho. A partir dessa “apartheid racial” entre irmãos promovidos pelo Deus de Israel, o que se desenrola a seguir, é uma série de barbáries, mortes, homicídios, usurpações, estupros, violência sem fim, etc. Muita coisa ainda deveria ser comentada, isso representa apenas, a ponta de um Iceberg de erros, contradições, maldições.

Lembro-me quando certa vez no curso de Mestrado Bíblico indaguei o professor com duas “pedradas”: “Será que Deus é realmente bom? Deus sempre fez acepções de pessoas e sempre utilizou de critérios diferentes para atitudes semelhantes e citei nomes de alguns personagens da Bíblia que foram favorecidos enquanto outros preteridos: Saul (coitado do Saul esperou os dias necessários, três dias, pelo profeta Samuel e mesmo assim foi punido por oferecer sacrifício) Davi e Salomão (não eram sacerdotes e cansaram de oferecer sacrifícios sem terem autoridade para tal coisa, e nem por isso foram punidos); Moisés (coitado do Moisés, segurou uma responsabilidade que não era sua, bem que ele tentou devolver para Javé, mas este disse: Segura Moisés que esse povo é teu. E covardemente foi impedido de entrar em Canaã. Que coisa!) e Raabe (grande mulher trabalhadora e de grande fé); Isaque e a filha de Jefté (coitada da menina, pagou pela loucura de seu pai, e Deus não interveio. Sorte do Isaque), Pedro (Se safou em Pedrão, pois a bola da vez era você) e Judas (o Judas, coitado, entrou de bucha); e muitos outros.

Queridos irmãos, analisem e sejam honestos consigo mesmo.

Alguns dos autores bíblicos acreditavam que o sofrimento tinha um fim redentor, e é verdade que com freqüência pode haver benefícios nas dificuldades que encontramos. Mas eu simplesmente não vejo nada de redentor quando bebês etíopes morrem de subnutrição, quando milhares de pessoas morrem de epidemias ou quando um jovem, um pai de família, uma criança é brutalmente assassinado por violentos assassinos.

Alguns pensam no sofrimento como um teste de fé. Mas eu me recuso a acreditar que Deus assassinou (ou permitiu que Satanás assassinasse) os dez filhos de Jó para ver se Jó iria amaldiçoá-lo, e perdeu, porque Jó o xingou de tudo de ruim: algoz, covarde, injusto, insensível, opressor, zombador,etc., pena que no final, quando Deus aparece bancando o ofendido, Jó botou a viola no saco e disse “Eu sei que tudo podes, nenhum dos teus planos pode ser impedido (sentiu na carne). Certamente falei do que não entendia, coisas maravilhosas demais para mim, (só desgraça) e que eu não compreendia. Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza.
Coitado do Jó, quando Deus apareceu a sua frente, Jó devia ter pensado “Já era. Agora o que de pior poderá Ele me fazer ainda. Acho melhor dizer que eu estava errado”.

Responda amados irmãos, se alguém matasse seus dez filhos, você não teria o direito de amaldiçoá-lo? E pensar Deus que podia compensar Jó dando a ele outros dez filhos é desonesto, imoral, indigno, indecoroso.

Alguns acham que o sofrimento no mundo é provocado por forças que se opõem a Deus, forças que oprimem seu povo quando tenta obedecer a Ele. Essa visão pelo menos leva a sério o fato de que o mal existe e é disseminado. Mas no fim ela é baseada em visões mitológicas deste mundo (um universo de três andares, demônios). Também fica baseada em uma fé cega, levando a acreditar que no final tudo o que está errado será consertado.

Certos autores sustentam que o mal é um mistério. Eu encontro eco nessa visão, mas não tenho grande apreço por ela uma vez que não podemos pedir uma resposta para o mistério do sofrimento (Jó), pois Deus é o Todo Poderoso e não temos base para chamá-lo às falas pelo que fez: assassinatos de bebês, crianças, mulheres amamentando, mulheres grávidas, velhos, jovens.

Meus amados irmãos: Se Deus nos fez, se somos feitos a sua imagem e semelhança (Gn. 1.27 ), então supostamente nossa noção de certo e errado vem Dele. Se este é o caso, não há outra noção de certo e errado que não a Dele. Se Ele fez algo errado, então é culpado pelos seus próprios princípios de julgamento que Ele nos deu como seres humanos conscientes. E assassinar bebês, matar multidões de fome causando canibalismo e permitir ou causar genocídio é errado.
Observem as duras palavras de Rubem Alves “A teologia cristã ortodoxa, católica e protestante – excetuada a dos místicos e hereges – é uma descrição dos complicados mecanismos inventados por Deus para salvar alguns do inferno, o mais extraordinário desses mecanismos sendo o ato de um Pai implacável que, incapaz de simplesmente perdoar gratuitamente (como todo pai humano que ama sabe fazer), mata o seu próprio Filho na cruz para satisfazer o equilíbrio de sua contabilidade cósmica. É claro que quem imaginou isso nunca foi pai. Na ordem do amor são sempre os pais que morrem para que o filho viva”.

Irmãos, não é por causa de Rubem Alves, Karl Barth, Paul Tillich, Karl Rahner, Rudolf Bultmann, Platão, Hegel, Espinoza, Kierkegaard ,Immanuel Kant, David Hume, Bart D. Ehrman, Elaine Pagels, não é por nenhum desses homens, é simplesmente por mim. Não posso mais acreditar em tudo o que está escrito na Bíblia.

Tempos atrás, não conseguiria me ver como um adepto Parcial do Deísmo que se caracteriza pela crença na existência de Deus, porém acreditando que Deus não intervém nos eventos desse mundo.

Acredito que posso afirmar que Deus existe, porém Ele não é mais ou o mesmo Deus que acreditava. Um Deus de batalhas, muitas vezes cruéis e sem finalidades no Antigo Testamento, mas um Deus de vitórias, provimentos e livramentos, Um Deus pessoal que tinha o poder final sobre este mundo e interferia nos assuntos humanos de modo a impor sua vontade sobre o seu povo.

Velhas dúvidas que remetem a velhos tempos, e velhas perguntas feitas como fez Epicuro e que ainda e nunca serão respondidas:

Deus quer impedir o mal, mas não consegue? Então ele é impotente.
Ele é capaz, mas não quer? Então ele é malévolo.
Ele é capaz e quer? Donde, então, provêm o mal?

E colocar a culpa no livre-arbítrio dado por Deus ao Homem, além de não ter base bíblica, também, não responde em nada as questões do mal. Por que juntamente do livre-arbítrio Deus não concedeu sabedoria ao Homem para fazer uso?

Então, se Deus pode curar o câncer, porque milhões de pessoas morrem dessa doença? Se Deus alimenta os famintos, por que há pessoas com fome? Se Deus cuida dos seus filhos, por que milhares de crianças morrem de epidemias? Se Deus cuida de seus filhos, por que há milhares de pessoas destruídas? Se Deus cuida dos seus filhos, por que milhares de pessoas morrem por catástrofes naturais todo ano? Se Deus cuida dos seus filhos, por que muitos cristãos são alvo de balas perdidas, estupros, roubos, assassinatos, acidentes e muitas vezes a caminho ou voltando de um culto oferecido a Ele?

Se a resposta é que isso é um mistério é o mesmo que dizer que não sabemos o que Deus faz ou como ele age. Então, por que fingir que sabemos?

Não posso mais acreditar num Deus que se envolve ativamente com os problemas deste mundo. E o que eu poderia fazer, a não ser continuar fingindo, quando fui confrontado com os fatos que contradizem a minha antiga fé?

E se fosse solicitado para resumir a Bíblia, diria: Antigo Testamento um amontoado de guerras e atrocidades sem razão e por nada. Novo Testamento a presença Maravilhosa de Jesus, O Cristo, mas que em nada modificou a malignidade do coração do homem nem melhorou a vida dos seus filhos, dos pobres e dos oprimidos.

Devo admitir que hoje, compreendo, ou melhor, sempre compreendi a confusão na mente de Marcião, pois conciliar as ações do Deus do Antigo Testamento e as ações de Jesus no Novo Testamento é impossível, mas isso é outro assunto polêmico.

Devo admitir que no final das contas, ainda tenho uma visão bíblica sobre o sofrimento. É a visão apresentada nos livros de Eclesiastes e Jó: “Existem muitas coisas que não podemos saber sobre este mundo. Muitas situações desse mundo não fazem sentido. E na maioria das vezes não existe justiça”. E a síntese de tudo isso!

Queridos do meu coração fiquem com A Paz, A Consolação, A Humildade, A Mansidão, O Amor de Pai, O Amor de Irmão, do Nosso Mestre, Senhor e Salvador Jesus Cristo, O Justo.



O Senhor de Todas as Vontades: Agradecendo ou Disfarçando nossa Decepção com Deus?

Estava com o assunto já selecionado abordaria Romanos 9.11:23 que trata da Soberania de Deus em preparar os vasos de honra e de desonra e em se compadecer e endurecer o coração de quem Ele quer. Contudo, decidi abordar um tema que há muito tempo vem chamando minha atenção e de contínuo me incomoda “As Ações Do Senhor De Todas As Vontades (Agradecendo Ou Disfarçando Nossa Decepção Com Deus?)”.

Todos os dias, alguns, se antecipando ao romper do sol, acordam em suas camas espaçosas, caminham até o banheiro e despertam com uma maravilhosa ducha de água fria, ou morna, seguem, após isso, para uma mesa já posta onde encontram o que lhes servirá de sustento para o período matinal, depois se acomodam em seus veículos e tranquilamente se dirigem para as salas de aula ou escritórios. E este círculo se completa com a tarde e noite.

Temos o pão, a água, a cama, o emprego, o veículo, a saúde, nossos pais, os filhos que nos rodeiam, e por tudo isto agradecemos a Deus pela sua misericórdia. Mas, é quase impossível que, em algum momento recebamos essas benesses concedidas por Deus como um ato de Sua injustiça. É óbvio que não! Afinal de contas, achamo-nos Bem-Aventurados e que a Graça de Deus (favor imerecido) está sobre nossas vidas. Aleluia!

Mas, segundo uma organização conhecida como Global Walter há no mundo mais de 1bilhão de homens, mulheres e crianças (algo como um em cada cinco seres humanos vivos) que não têm água potável para beber. A situação que essas pessoas enfrentam é terrível. Para começar, muitas delas são subnutridas, e a água contaminada que bebem é infestada de parasitas que continuam a se multiplicar nos seus corpos enfraquecidos, tirando delas os nutrientes e a energia de que necessitam para manter a saúde. O Global Walter diz que 80% das doenças infantis fatais em todo o mundo são causadas não por falta de alimentos e remédios, mas pelo consumo de água contaminada. Algo como 40 mil homens, mulheres e crianças morrem todos os dias de doenças diretamente relacionadas à falta de água potável. Outro dado assustador é sobre a malária, uma doença horrível com efeitos devastadores e disseminados, e que teoricamente pode ser prevenida. Segundo os médicos, o grau de infelicidade que ela produz é de tirar o fôlego. O Instituto Nacional de Alergia e doenças Infecciosas dos Estados Unidos estima que entre 400 e 900 milhões de crianças, quase que todas da África, contraem um caso agudo de malária todos os anos. Em média 2,7 milhões de pessoas morrem da doença todos os anos. São mais de 7 mil por dia, trezentas pessoas por hora, cinco a cada minuto. Algo que a maioria de nós nunca deu um segundo de atenção. Quase todos os mortos são crianças. Faltam ainda os registros diários dos óbitos por escassez de alimentos, saneamento básico, falta de vacinas, remédios, infecções, guerras, suicídios, homicídios, rituais de magia, e muitas outras mais.

Os teólogos judeus sempre procuraram entender o motivo de haver sofrimento no mundo. A teologia judaica se baseou primeiramente no Êxodo do Egito sob a liderança de Moisés, conforme relatado na Bíblia. Ela demonstrava em termos gerais que Deus havia escolhido Israel para ser seu povo e que interviria em seu favor quando Israel estivesse em dificuldades. E de fato foi o que aconteceu.

Porém, o que deveriam pensar os teólogos, quando em tempos posteriores o povo de Israel sofreu, sem a interferência de Deus? Muito da Bíblia hebraica tem a ver com essa questão.

A resposta padrão vem de escritos dos profetas hebreus, como Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oséias e Amós. Para esses escritores, Israel sofre reveses militares, políticos, econômicos e sociais porque o povo pecou contra Deus e está sendo punido por isso. Quando, porém, eles retornassem aos caminhos de Deus teriam novamente uma vida próspera e feliz.

Mas o que acontece quando as pessoas realmente se voltam a Deus, tentando verdadeiramente seguir seu caminho e, mesmo assim, ainda sofrem? A grande dificuldade da clássica visão profética do sofrimento é que ela não explica por que os perversos prosperam e os justos sofrem. Essa falha resultou em algumas teologias variantes em Israel na Antiguidade, incluindo as dos livros de Jó e Eclesiastes (ambos direcionados contra essa visão profética) e a de um grupo de pensadores judeus que os estudiosos modernos chamam de “apocalípticos”. O termo vem da palavra latina apocalypsis, que significa “desvendamento” ou “revelação”, e é usado para definir essas pessoas, porque elas acreditavam que Deus lhes havia “revelado” os derradeiros segredos do mundo, o que explicava por que o mundo contém tanto mal e sofrimento.

Então, deveria haver alguma outra razão para o sofrimento, e assim, algum outro agente responsável por ele. Apocalípticos judeus desenvolveram, então, a idéia de que Deus tinha um adversário pessoal, o Diabo e, este de fato, era o responsável pelo sofrimento. Além disso, havia forças cósmicas no mundo, forças malignas com o Diabo à frente, que estavam afligindo o povo de Deus. De acordo com essa perspectiva, Deus ainda era o Criador deste mundo e seria seu Redentor final. Mas, no momento, as forças do mal haviam sido libertadas (por quem?) e estavam lançando a devastação sobre o povo de Deus.

Os apocalípticos judaicos, porém, sustentavam que Deus logo interviria e derrotaria essas forças do mal em uma demonstração cataclísmica de poder, destruindo todos os que se lhe opusessem, incluindo os reinos que estavam causando o sofrimento de seu povo. Mas, quando seria esse “logo”? “Em verdade vos digo que, dos que aqui estão alguns há que não provarão a morte sem que vejam chegando o Reino de Deus com poder”. Essas são palavras de Jesus (Mc 9.11), provavelmente o apocalíptico judeu mais famoso da Antiguidade. Ou, como ele diz mais tarde: “Em verdade vos digo, não passará esta geração sem que todas essas coisas aconteçam” (Mc 13.30).

Jesus e seus primeiros seguidores eram judeus apocalípticos, esperavam a iminente intervenção de Deus para derrotar as forças do mal. Jesus parecia pensar que Deus logo enviaria do céu o Filho do Homem como um juiz contra todos aqueles que se aliam contra Ele. No entanto, após a morte de Jesus, seus seguidores começaram a pensar que era o próprio Jesus que logo retornaria do céu sobre as nuvens como um juiz cósmico da terra. O apóstolo Paulo acreditava que ainda em vida veria Jesus retornar para o julgamento (1 Ts 4.14-18; 1 Cor 15.51-52). Mas os dias de espera se transformaram em semanas, depois em meses, em anos, e então em décadas. E o fim não chegou. E agora! O que aconteceria a uma crença que é radicalmente desmentida pelos acontecimentos da história?

Como o fim não veio do modo esperado, alguns dos seguidores de Jesus transformaram este dualismo temporal em um dualismo espacial, entre o mundo abaixo e o mundo acima. Os cristãos começaram a pensar que o julgamento era algo que não se daria aqui, neste plano terreno, em algum futuro evento cataclísmico. Aconteceria na vida após a morte, depois que cada um morre. O dia do juízo não seria algo que aconteceria daqui a pouco. É algo que acontece o tempo todo. Na morte, aqueles que se aliaram ao Diabo irão receber sua recompensa eterna sendo enviados para viver para sempre com o Diabo, nas chamas do inferno. Aqueles que se aliaram a Deus terão sua recompensa eterna com a garantia de vida eterna com Deus, para sempre desfrutando das bem-aventuranças do céu.
Nessa visão transformada, o Reino de Deus já não é imaginado como um Reino futuro aqui na terra; é, agora, o Reino que Deus já comanda, no céu.

Sei que este é um pensamento reconfortante para muitas pessoas, uma espécie de reafirmação de que Deus realmente está no controle e sabe o que está fazendo. Contudo, não me convence!

Além do que tenho uma convicção de que, o sofrimento de crianças inocentes não pode ser explicado. Para mim, se torna difícil, porém, não impossível, que possa haver uma solução divina que torne todo o sofrimento destes infantes “merecido”, uma resposta que justificará a crueldade feita às crianças. Acredito que, se todos devem sofrer de modo a comprar a Vida Eterna com seu sofrimento, o que as crianças têm a ver com isso? E repito: Que mesmo uma resposta de Deus seria difícil fazer compreender por que as crianças sofrem?

Há alguns anos atrás li um livro chamado Quando coisas ruins acontecem a pessoas boas, escrito pelo rabino Harold Kushner. Para Kushner, não é Deus que causa nossas tragédias pessoais. Nem mesmo ele as “permite”. Simplesmente há algumas coisas que Deus não pode fazer. Ele não pode interferir para impedir que soframos. Mas o que ele pode fazer é igualmente importante. Ele pode nos dar força para lidar com o nosso sofrimento quando passamos por ele. Deus é um pai amoroso que está aqui por causa de seu povo; não para garantir miraculosamente que nunca terá dificuldades, mas para dar a ele a paz e a força necessárias para enfrentar a adversidade.

Mas, a afirmação do rabino Kushner revela um sério problema. Para a maioria dos autores da Bíblia, o poder de Deus é ilimitado. Além do que, acreditar que um Deus Todo-Poderoso se comporta ao lado dos que sofrem como um mero espectador impotente é totalmente cruel.

Alguns dos autores bíblicos acreditavam que o sofrimento tinha um fim redentor, e é verdade que com freqüência pode haver benefícios nas dificuldades que encontramos. Mas eu simplesmente não vejo nada de redentor quando bebês etíopes, indianos, ou africanos morrem de subnutrição, quando milhares de pessoas morrem hoje (e ontem, e no dia anterior) de malária, ou quando toda uma família é brutalizada por marginais drogados que invadem sua casa no meio da noite, ou quando um tiro põe fim à vida de pessoas honestas.

Devo admitir considerar uma única visão bíblica do sofrimento, é a visão apresentada nos livros de Jó e Eclesiastes “Existem muitas coisas que não podemos saber sobre este mundo. Existem muitas coisas que não acontecem como o planejado ou como deveriam. Existem muitas coisas que atribuímos a Deus, todavia, não passam de simples casualidade”.

Pense! Pense com sinceridade todas as noites a respeito de tudo o que você têm, e veja se é “Justo” diante dos que nada possuem, e depois, responda se estamos Agradecendo ou disfarçando nossa decepção com Deus? O Senhor de todas as vontades.

Onde está o Deus que nos fez? Que responda Ele sobre Os bens e os males da vida.

Os bens e os males da vida
Uma abordagem sobre o texto de Lc. 16.19:31
(O Rico e Lázaro)

Uma vez que é do conhecimento de todos, não posso negar que o meu sentido crítico em relação à Bíblia fala mais alto, porém não deve ser comparado ao ceticismo total, pois se assim fosse, estaria passando do liberalismo teológico para a loucura ateísta. Prefiro me manter no equilíbrio agnóstico. Acredito sim, que a Bíblia revela os misteriosos, partidários, favoráveis, “injustos”, parciais, e apaixonados caminhos de Deus e que incompreensivelmente é através deste livro mitológico, místico, semita, histórico, dogmático, cruel, e muitas vezes débil, que Ele se revela. Mistério!

Tenho também a convicção de que a Bíblia estabelece-se sobre dois pilares: A Revelação de Deus ao Homem e A não Revelação de Deus à Bíblia. Explico! É inegável que Deus em alguns momentos entrou em contato com o Homem, e por mais lendário que possa parecer os relatos da Criação; Queda; Dilúvio; Êxodo; Nascimento virginal; Anjos; Demônios; é bem verdade que quase toda a tradição oral precedeu uma tradição escrita, e por mais exagerada que seja a redação final de um texto, alguma verdade se percebe. E por meio de processos como: Deus e Homem; Homem e Deus; Deus sem Homem; Homem sem Deus, toda a Bíblia foi escrita. Muitas vezes revelada por Deus, muitas vezes inventada pelo Homem. E assim foi imprescindível que, após, a primeira relação entre Deus e Homem e Homem e Deus fossem perpetuados o épico de YHWH e Israel, através de estórias bíblicas, plagiando assim, os grandes feitos dos deuses mitológicos da Mesopotâmia: Sumérios, Acadianos, Amoritas ou antigos babilônicos, Assírios, Caldeus. Sem esquecer as religiões de Mistério do Antigo Egito.

Apesar de tudo este livro é maravilhoso. Constituindo-se sagrado para os que assim o consideram; respeitado para os que o estudam; conflitante para os que o confrontam; detestável para os que o racionalizam. E eu, particularmente, considero a Bíblia a maior relíquia que já existiu e que jamais será superada em importância, pois narra o sobrenatural; fala sobre o incompreensível; expõe o insondável; revela o oculto: Deus em questão! E após esse preâmbulo ingresso na problemática “Os Bens e os Males da Vida”.

Fazia uma leitura das Palavras do Senhor Jesus a respeito do texto que se encontra em Lc. 16.19:31 – O Rico e Lázaro. A passagem em destaque é conhecida de todos desde o leigo até o Ph. D em Teologia, porém uma frase em especial chamou minha atenção: Lc. 16.25 “Mas Abraão respondeu:

Filho, lembra-te de que recebestes os teus bens em tua vida, ao passo que Lázaro somente males, mas agora ele é consolado e tu atormentado”.

E para corroborar o meu posicionamento gostaria de acrescentar outro texto bastante enigmático A cura do cego de nascença que se encontra em João 9:1 “Quando Jesus ia passando, viu um homem, cego de nascença. Os discípulos de Jesus perguntaram: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais, mas isto aconteceu para que se manifestem nele as obras de Deus”.

Poderia acrescentar outros textos, porém estes dois satisfazem.

O mais magnífico de tudo é que independente da Bíblia ser um livro eivado de erros e absurdos incontestavelmente contém a Palavra de Deus. Todavia, não irei abordar a questão da Origem do Mal ou Teodicéia, pois seria como perguntar: Quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha? E para nós Criacionistas a resposta seria a galinha, pois Deus criou primeiro todos os animais, aves, répteis, peixes. E igual resposta seria: Quem é o culpado pelo o Mal no mundo? O Homem.

Mesmo sendo Criacionista não compactuo com os seis dias literais da Criação, nem que o pecado de Adão ou que o Livre Arbítrio do Homem seja a causa principal e única de todo o Mal no Mundo. Acredito que o problema do Mal no Mundo é muito mais complexo e tem apenas Um Único Culpado ou Responsável. Mas, é melhor deixar esse assunto para depois!

Voltando ao texto de Lc. 16.19:31 – O Rico e Lázaro desperta minha atenção as palavras de Abraão dizendo: Lázaro, somente males recebeu nesta vida. E juntando estas com as palavras enigmáticas de Jesus sobre a causa de uma cegueira de nascença em João 9.1 “Nem ele pecou nem seus pais, mas isto aconteceu para que se manifestem nele as obras de Deus” fizeram-me refletir sobre um fato incontestável de que muitas pessoas nascem, vivem, e morrem no sofrimento.

Alguns exemplos de casos de violências, desgraças, injustiças, covardias do nosso cotidiano servirão para delinear o cenário Infernal que representa este mundo tenebroso. Servirá também para mostrar que se o Inferno literalmente existe, algumas pessoas injustamente já estão sendo previamente atormentadas. Tomando sempre como referência os textos apresentados em Lc. 16.19:31 – O Rico e Lázaro e João 9.1 - A cura do cego de nascença.

Tomarei a liberdade de inverter as posições para primeiramente relacionar alguns genocidas que tiveram em sua passagem neste mundo apenas um único propósito o de fazer o Mal: Hitler, Stalin, Pol Pot, Pìnochet, Saddam Hussein, Lênin, Idi Amin Dadá, e outros. Mais ainda. Com qual propósito Deus permite que bombas de guerra e armas sejam fabricadas para exterminar com a humanidade; Com qual propósito Deus permite que governantes assassinos e corruptos conduzam milhares e milhares de seres humanos ao aniquilamento; Com qual propósito Deus permite que Africanos e Palestinos sejam oprimidos durante toda uma vida; Com qual propósito Deus permite que infantes venham ao mundo por um breve momento para suspirar e morrer; Com qual propósito Deus permite que crianças nasçam com terríveis enfermidades; Com qual propósito Deus permite que crianças sejam arrastadas por quilômetros por marginais; Com qual propósito Deus permite que seus servos, saindo ou chegando ao templo para o adorarem sejam mortos, estuprados, agredidos, assaltados; Com que propósito Deus permite que crianças sejam violentadas, estupradas, abandonadas, queimadas, torturadas; Com qual propósito Deus permite que o mal seja soberano no mundo.

Diante dos textos de Lc. 16.19:31 – O Rico e Lázaro e João 9.1 - A cura do cego de nascença tive a certeza de que algumas pessoas nascem para sofrer independente do caminho que possam escolher e da mesma sorte algumas pessoas nascem para felicidade independente do caminho que possam escolher, pois estão fadados a um destino traçado. Os dois textos apresentados são bem explícitos e se fortalecem quando comparados com Eclesiastes e Jó.

Eclesiastes:
“Ainda há outra vaidade sobre a terra: há justos a quem acontece segundo as obras dos ímpios, e há ímpios a quem acontece segundo as obras dos justos. Digo que também isto é vaidade”.

“Vi as lágrimas dos oprimidos, e eles não têm consolador; o poder estava do lado dos seus opressores, mas eles não tinham nenhum consolador. Pelo que julguei mais felizes os que já morreram, dos que os que ainda vivem”.

“Vi algo mais debaixo do sol: Não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes a vitória, nem tampouco dos sábios o pão, nem ainda dos prudentes a riqueza, nem dos entendidos o favor, mas que o tempo e a sorte ocorrem a todos”.

Jó:
“Se pequei, que mal te fiz, ó espreitador dos homens? Por que me fizeste alvo dos teus dardos, para que me a mim mesmo me seja pesado? Por que não me perdoas as ofensas, e não tiras o meu pecado? Pois logo me deitarei no pó; tu me buscarás, mas já não serei.”

“Quando o açoite mata de repente, ele se ri do desespero dos inocentes. Tudo é o mesmo, portanto digo: Ele consome ao reto e ao ímpio.”

“Quando a terra está entregue na mão do ímpio, ele cobre o rosto dos juízes. Se não é ele, quem é, logo?”

“Um morre em pleno vigor, completamente despreocupado e tranqüilo, os seus baldes estão cheios de leite, e a medula dos seus ossos cheia de tutano. Outro morre, ao contrário, na amargura do seu coração, não havendo provado do bem. Juntamente jazem no pó, e os vermes os cobrem.”

“Não perguntastes aos que viajam, e não considerastes os seus relatos, que os maus são poupados no dia da calamidade, e socorridos no dia do furor? Quem denunciará diante dele a sua conduta, e quem lhe dará o pago do que faz?”

Sei que muitos dirão que nenhum destes versículos prova nada, porém, se para muitos nada do que foi dito é prova gritante das injustiças desse mundo, perguntem aos que sofrem, pergunte aos que oram sem cessar e recebe o silêncio como resposta, perguntem a mãe ou pai que teve a vida de seu bebê ceifado por uma doença fatal.

Eu cortei na própria carne quando meu filhinho de dois meses foi consumido por uma doença fatal, e de nada adiantou orar, interceder, repreender, determinar, suplicar, humilhar-me, o que recebi como lembrança foi a imagem de meu filhinho chorando, e minhas últimas palavras para ele foram “fique calmo filho, papai está aqui do seu lado, tudo vai ficar bem". Ah, meus irmãos foi triste ouvir da mãe de meu filho a seguinte frase “É assim que o senhor faz comigo, deixa o meu filho morrer e me entrega um pedaço de carne”. Foram momentos difíceis irmãos, foi um duro golpe para um novo convertido que tinha acabado de aprender que Deus é o Deus dos impossíveis; Que Deus é um Deus que cura as enfermidades; Que Deus é um Deus que sara as feridas. E vendo meu filho morto me ajoelhei ao lado do seu corpo e clamei “Senhor, sei que Tu podes tornar a dar a vida ao meu filhinho, mas ainda que tu não o faças, Tu não serás nem mais nem menos para mim, e a minha maior vergonha é não te servir melhor”. E horas depois, mães, pais, avós, e parentes de crianças que estavam na UTI vieram me perguntar “Como é que o senhor pode agüentar tudo isso calado?”, e respondi “É ele quem é Deus, não sou eu, Ele cura se quiser, Ele salva se quiser”. E me pediram para orar dentro da UTI dos recém-nascidos e por aqueles dias houve curas e mortes.

E como se não bastasse à noite meu filho Pedro sem motivo aparente começou a vomitar, e imediatamente o pavor tomou conta da minha alma e pensei: Meu Deus, já não basta à perda que tive. Graças a Deus não passou de um susto, talvez o estado emocional dele tenha se abalado com a perda do irmão. E essa foi a maior lição que tive na vida: Deus faz o que quer, a hora que quer, e certo ou errado é do jeito que ele quer.

Este é o mundo em que vivemos onde muitas mães não podem gerar filhos e dariam tudo para criarem seus filhos com amor, ao contrário de outras mulheres que geram filhos com extrema facilidade e os matam, os abandonam, os maltratam. Este é o mundo em que vivemos onde muitas pessoas não têm o pão de cada dia, ao contrário de outros que se deleitam em banquetes. Este é o mundo em que vivemos onde crianças nascem deformadas, ao contrário de mulheres e homens que usam seus corpos perfeitos para crimes e prostituição. Este é o mundo em que vivemos onde o trabalhador é assaltado e morto por um tiro, ao contrário do marginal que tem seu corpo fechado e escapa com vida e até mesmo ileso. Este é o mundo em que vivemos onde os humildes são escravizados, ao contrário dos corruptos que prosperam dia após dia.

Sempre me recordo da passagem que se encontra em Números 11:12 onde Moisés chama a atenção de Deus sobre de quem é o povo e a responsabilidade de conduzi-lo “Concebi eu porventura todo este povo? Gerei-o eu para que me dissesses: Leva-o em teus braços, como a ama leva a criança no colo, à terra que juraste a seus pais?”

E após essa contenda Moisés selou o seu destino, pois, Deus o matou e o impediu de entrar na Terra Prometida, não por ter ferido a rocha em Meribá, mas por que ousou responsabilizá-lo pela sua Criação. E desde os tempos remotos até os dias atuais permanece a mesma indagação: Onde está o Deus que nos fez? Que responda Ele sobre Os bens e os males da vida.

Milagres: É Possível Acreditar? Ação de Deus ou de Satanás? Ato Sobrenatural ou Humano? Relato da Verdade ou Engano?

MILAGRES:
É POSSÍVEL ACREDITAR?
AÇÃO DE DEUS OU SATANÁS?
ATO SOBRENATUTAL OU HUMANO?
RELATO DA VERDADE OU ENGANO?

Como aceitar supostos testemunhos de milagres onde Deus curou pessoas que passaram o culto inteiro dormindo, ou, que durante todo o culto conversaram, ou, que sequer tinha em mãos a Bíblia. Como aceitar improváveis testemunhos de milagres onde o suposto “abençoado” declara que não tinha fé para ser curado, ou, que foi até á Igreja contra a sua vontade. Como aceitar hipotéticos milagres onde Deus troca carro velho por novo; abençoa com dois carros quem já tem um; com três casas quem já tem duas; faz desaparecer dívidas no cartão de crédito e do cheque especial de consumidores compulsivos; abre as “portas” de emprego para ímpios, através da intercessão de parentes; cura enfermidades de incrédulos, por meio do “sacramento” de perfumes, lenços, toalhas, azeites, que são entregues aos seus familiares; transforma o dependente do álcool, do jogo, da droga, da prostituição, do homossexualismo, do roubo, com uma simples unção de fotos, feita com a “poderosa rosa ungida”; concede o livramento de morte a homens e mulheres avessos ao Evangelho, unicamente pela “determinação” de seus parentes em “amarrar Satanás”.

Aqui está mais um texto polêmico, porém não quero ser confundido com alguém que deseja limitar as ações de Deus, pois o meu intento é bem maior. Quero entender a quem pertence esses supostos fenômenos miraculosos: Obras de Deus ou Satanás? Ação Divina ou Humana? Relatos de Verdade ou Engano? Analisarei alguns casos, e ao final, espero ter despertado não um sentimento de incredulidade, mas de questionamento, sobre o que é falso e verdadeiro no “mercado dos milagres”.

Á princípio gostaria de dizer, que em 13 anos como aspirante ao discipulado do Senhor Jesus, e freqüentador assíduo da congregação a que pertenço (como ouvi um pastor dizendo “Muitos anos de Igreja, mas nem um dia de convertido”. Essa foi ótima prá mim, caiu feito uma luva. Oh, glória!) já presenciei, alguns testemunhos sobre curas de enfermidades, libertações, restaurações, prosperidades e livramentos. Porém, infinitamente maiores são os casos rotineiros de falsos testemunhos e milagres bizarros. Creio que a explicação sobre estes “testemunhos bizarros” seja bastante antiga, e muito bem conhecida de nosso cotidiano, pois: Não passam de mentiras e engodos; são delírios de mentes hipocondríacas e perturbadas; fazem parte de uma histeria coletiva; são conseqüências de um efeito placebo; e uma auto-sugestão momentânea. Ou, quem sabe, o cumprimento da Palavra do Senhor que adverte sobre os sinais e prodígios dos profetas de Satanás “Quando um profeta ou um sonhador se levantar no meio de ti, e te der um sinal ou prodígio, e se suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvireis as palavras daquele profeta ou sonhador. O Senhor vosso Deus vos prova para saber se amais o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração e de toda a vossa alma”.

Sei que algumas dessas afirmativas estão dentro do campo da lógica humana. Agora, modificando o foco de observação e, admitindo que os supostos milagres aconteçam: Como ficam as orações não atendidas dos cristãos sinceros, compromissados e tementes ao Senhor? Qual o critério usado para que somente algumas orações sejam respondidas e os milagres ocorram? Poderia ser o caso de uma escolha sem juízo crítico da parte de Deus? Ou, porventura, teria o Senhor Deus, através deste texto, revelado ao seu servo Moisés os motivos da sua escolha? “Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece”.

Para uma melhor compreensão sobre o assunto se faz necessário dizer que a presença do mal, no mundo criado por Deus, sempre foi real. Primeiramente, deve-se entender que o Deus do Antigo Testamento ou o Deus do povo judeu era um Deus de regras, limites, e leis, e que, como resultado da quebra desses preceitos deveria sobrevir uma série de implicações, ou seja, maldições.

O livro do Gênesis demonstra nitidamente a presença e a manifestação do mal já no início da Criação de Deus, pois havia no jardim a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e um astuto animal chamado a Serpente. Ambas, figuras nefastas e mitológicas, mas que faziam parte de uma trama que envolvia obediência: benção e vida, desobediência: maldição e morte.

Partindo do pressuposto de que o Mal sempre foi uma realidade, “plantada e colocada”, desde o início da Criação do Homem, o seu antídoto, então, deveria vir através de uma intervenção de Deus. Sendo assim, toda às vezes em que o Homem pecar, Deus se manifesta lhe enviando o perdão.

E uma vez que a doutrina do Pecado Original é universal, tanto no credo de protestantes, católicos, e judeus, e que, sabendo também, através do apóstolo Paulo que “Pois todos pecaram e destituídos estão da graça de Deus, e são justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Jesus Cristo”, devemos, então, admitir que, os Milagres são respostas ao clamor que se faz ao Nome de Jesus, e que, qualquer atitude tomada pelo Homem, além da ação de crer em Jesus, se faz desnecessária e ineficaz. E essa afirmação é corroborada em muitos outros textos da Bíblia.

Comecemos então, com a confrontação do problema!

Se a fé é o elemento único e indispensável para a operação de sinais e maravilhas por parte de Deus, como explicar que incrédulos são curados? Se a fé é o elemento único e indispensável para a operação de curas e milagres por parte de Deus, como explicar que ímpios são libertos? Se a fé é o elemento único e indispensável para uma resposta positiva de nossas orações e súplicas, como explicar que infiéis são abençoados? E tudo isso pela fé de seus intercessores!

É bem verdade, que alguns poderão argumentar que Moisés intercedeu pelo povo que acabava de sair do Egito; que Abrão intercedeu por seu sobrinho Ló; ou que os profetas intercederam pelo povo de Israel. Sim é verdade! Mas é verdade, também, que viviam no período da Lei onde o perdão de Deus baseava-se apenas e exclusivamente no Seu próprio Amor pelo seu Nome e fazer velar pela sua Palavra, e jamais pelo amor ao Homem pecador e contumaz. Tanto é verdade, que Deus já havia destruído sua Criação pelo dilúvio, e sucessivamente fazia novas ameaças de destruição total. Sem falar do Seu profundo arrependimento em ter criado o Homem.

Porém, com o surgimento do ministério do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, concomitantemente é inaugurado o período da Graça. E a partir desse momento, a fé em Seu Nome e Naquele que o enviou se tornam peças únicas e indispensáveis para a obtenção dos milagres.

O antigo zelo em não ser visto pelas nações vizinhas como o Deus que tirou o Seu povo do Egito e posteriormente o deixou morrer no deserto (embora, tenha sido basicamente o que aconteceu), ou então, como o Deus que tirou o seu povo do Egito e posteriormente o deixou ser humilhado por sucessivos cativeiros (embora, tenha sido basicamente o que aconteceu), desaparecera e, a partir de agora, o Homem seria tratado como um indivíduo e não coletivamente, da mesma forma a fé, tornar-se-ia, agora, num dom de Deus dado ao Homem, para que ele execute ao clamar pelo nome de Jesus. De igual forma, o pecado do Homem, agora, seria tratado como uma sentença individual, e não mais uma condenação grupal sobre a família ou sobre uma nação inteira.

E com a chegada do Senhor Jesus Cristo deixou de existir o Santo dos Santos, Sumo sacerdote, sacerdotes, mediadores, intercessores, ofertas pela culpa, ofertas pela expiação dos pecados, ofertas queimadas, holocaustos, sacrifícios pacíficos pelo povo, sangue espargido no altar, imolação de bois e carneiros, como também a gordura do boi e do carneiro, a cauda, e o que cobre a fressura, e os rins, e o redenho do fígado, o incenso aromático, o Dia do Perdão, o sangue e a gordura de animais, tudo isso foi abolido, para que fosse unificado na Pessoa de Jesus Cristo, o sacrifício perfeito e único pelos pecados do mundo. A partir de então, o sacrifício acontece através da obediência aos Mandamentos de Jesus. Contudo, o sacrifício em troca do perdão pela transgressão da Lei não foi abolido, foi apenas aperfeiçoado em Jesus Cristo. Agora, ao invés do sangue de animais, arrependimento e coração contrito substituem os holocaustos cruentos. Se outrora, o derramamento contínuo do sangue de animais tinha o efeito de aplacar a ira momentânea de Deus, com o advento de Jesus Cristo, somente através do arrependimento e pela fé no Seu nome, o pecador é perdoado e os milagres acontecem.

Queridos irmãos, então, parem e reflitam!

Dito tudo isto, o que pensar sobre o clamor das orações dos justos que não se realizam? O que pensar sobre o pedido de cura do contrito de coração que não acontece? O que pensar sobre o livramento de morte do temente a Deus que não ocorre? O que pensar sobre as “portas” de emprego do ofertante e dizimista fiel que não se abrem? O que pensar sobre as lágrimas que não secam da face dos que temem ao Senhor? E ainda! O que pensar sobre supostos milagres recebidos pelos ímpios? O que pensar sobre supostos milagres recebidos pelos escarnecedores de Deus?

E o pior de tudo! O que pensar quando a diferença entre o que serve e o que não serve ao Senhor parece não mais existir?

MILAGRES: É POSSÍVEL ACREDITAR? AÇÃO DE DEUS OU SATANÁS? ATO SOBRENATUTAL OU HUMANO? RELATO DA VERDADE OU ENGANO?

...e façamos o Homem à nossa imagem e semelhança...!!!

FOI ,OU É, POR CAUSA DE ATOS BIZARROS E BÁRBAROS COMO ESTE POR EXEMPLO, PROVOCADO POR ESTE SER MALIGNO CHAMADO HOMEM, CAPAZ DE FAZER ATOS DE EXTREMO ALTRUÍSMO E AO MESMO TEMPO SER TÃO PERVERSO QUANTO SATANÁS, QUE ME TORNEI AGNÓSTICO, NÃO CREIO MAIS QUE EXISTA UM DEUS QUE CONTROLA, PUNE, E RECOMPENSA O HOMEM POR SEUS ATOS.

O QUE PENSAR QUANDO SE CRIA UM FILHO COM TANTO AMOR, DEDICAÇÃO, E TEMOR À DEUS, E A VIDA DELE É CEIFADA PELA DOENÇA, ASSASSINATO OU ACIDENTE.

O QUE PENSAR QUANDO UM FILHO, OU PAI DE FAMÍLIA É MORTO POR UMA ESCÓRIA PODRE COMO ESTÁ SEM VALOR ALGUM.

O QUE PENSAR QUANDO DEUS NÃO SE PRONUNCIA E APENAS SILÊNCIA.

"SE DEUS, DE FATO, ALGUM DIA PUNIU, EXTERMINOU E RECOMPENSOU O HOMEM PELOS SEUS ATOS, COMO ESTÁ RELATADO NAS PÁGINAS DO AT E NT, ISSO FICOU NO PASSADO..."

...E FAÇAMOS O HOMEM À NOSSA IMAGEM E SEMELHANÇA...
AINDA TENHO QUE ENGOLIR ESTÁ PIADA DE PÉSSIMO GOSTO, PORÉM DEPENDE DE QUEM AFIRMOU ESSA FRASE!
SÉRÁ QUE FOI DEUS?
SERIA MELHOR QUE NÃO FOSSE PARA NÃO COMPLICÁ-LO AINDA MAIS...
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Mãe simula crime em família
Mulher é indiciada no Mato Grosso do Sul por divulgar na Internet fotos de filhos com armas e neto fumando narguilé
Campo Grande (MS) - Uma mulher de Campo Grande (MS) divulgou fotos dos próprios filhos, de 12, 13 e 16 anos, empunhando armas no site de relacionamento Orkut. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente do Mato Grosso do Sul. A polícia esteve na casa dela, no bairro Parque Lageado, na periferia da cidade, mas não encontrou as armas que aparecem nas mãos das crianças. Ela vai responder em liberdade a processo por apologia ao crime e maus-tratos.

A Antiga Babel e seus atuais descendentes

“... agora não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer...”
A Bíblia não expõe quais eram as intenções dos construtores da torre de Babel, apenas faz um relato ambíguo “Então disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo cume toque no céu, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face da terra.

“Disse o Senhor: O povo é um e todos têm uma só língua. Isto é o que começam a fazer; agora não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Vinde, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem, para que não entendam um a linguagem do outro. Assim o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra, e cessaram de edificar a cidade.

Uma cidade; uma torre tocando no céu; um nome sobre a face da terra. Estas são algumas evidências deixadas pelo relato bíblico sobre o intento dos construtores da torre de Babel:

A intenção de se estabelecer.
A intenção de chamar a atenção.
A intenção de se fortalecer.

As características dos descendentes de Babel descritas no livro do Gênesis se observadas atentamente demonstram um paralelo entre os primeiros indivíduos amotinados, bárbaros, insurgentes, rebeldes, e os homens perversos dos dias hodiernos. Convivemos há algumas décadas com o medo, a insegurança, o desrespeito, a corrupção, o descaso, a maldade, a impunidade, e estas características elucidam o caos em que o mundo se encontra.

Alguns se perguntam “Onde está Deus que não intervém? Então, responde o Cristão: Deus está no controle; o Agnóstico: Deus existe, mas não posso encontrá-lo; o Panteísta: Deus está em tudo; o Ateu: Deus nunca existiu; o Espírita: Deus é uma condição final; o Racionalista: Deus é uma postura de espírito; o Miserável: Deus, Ou está morto ou está com medo!

Respeitando o direito de resposta e o livre pensamento, o único consenso sobre esses infortúnios é que nos sentimos atemorizados. Alguns, diante das tragédias da vida perdem a fé, outros negam a fé que um dia professaram, outros rejeitam a fé, alguns tentam ter fé na fé, e existem os que escarnecem da fé.

Certa vez, declarou um ex-pastor protestante e agora agnóstico, professor de um dos seminários mais prestigiados e fundamentalistas dos EUA: “Não creio mais em Deus, pois, onde está aquele Deus do Antigo Testamento que exercia juízo, era implacável, justiceiro e vingativo? Onde está aquele Deus? Se Ele existiu de verdade, hoje não existe mais. Porque então, não opera em favor dos pobres, dos necessitados, dos enfermos, dos desempregados, dos aflitos? Não posso crer”.

Certamente são árduas palavras de um ex-defensor de Deus e da sua justiça. Quantos livros, artigos, estudos, debates, fóruns, palestras, orações, clamores, confissões, fizeram parte da vida desse homem de fé, mas que hoje perdeu o fio condutor entre Deus e o Homem.

Qual de nós que conhecendo as Escrituras nunca desejou a antiga justiça do poderoso YHWH? Seria por analogia como sentir a falta da ditadura militar que apesar de todo o seu autoritarismo oferecia alguma segurança. O grande problema é que vivemos na vontade permissiva de Deus e não na vontade exigida por Ele.

Seria, então, a graça de Deus a raiz de todos os males? Seria o livre-arbítrio das ações de matar, roubar, adulterar, prostituir, destruir, estuprar, violentar, um consentimento para o caos?

Semelhantemente aos habitantes da antiga Babel que se estabeleceram, chamaram a atenção e se fortaleceram, atualmente, os descendentes da atual Babel, os homens de belial de nossos dias, também edificam cidades nos morros e favelas; chamam atenção por suas atrocidades; e se fortalecem com armas, drogas e alma de homens.

Quem sabe a resposta para as nossas indagações sobre “A Antiga Babel e seus atuais descendentes” não estejam nas palavras do filósofo Epicuro:

"Deus quer impedir o mal, mas não consegue? Então ele é impotente.
Ele é capaz, mas não quer? Então ele é malévolo.
Ele é capaz e quer? Donde, então, provém o mal?”