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A edição da última terça-feira (6) do Fórum Permanente de Arte, Cultura e Educação foi dedicada ao tema Cristianismo Primitivo na Universidade: perspectivas e debates. Realizado pela Coordenadoria-Geral da Universidade, o evento reuniu historiadores e cientistas sociais de diferentes universidades brasileiras envolvidos em pesquisas que abordam o tema.
Autor do livro Jesus no Cinema: um balanço histórico e cinematográfico entre 1905 e 1927, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) André Leonardo Chevitarese disse que o fórum é um espaço privilegiado para pesquisadores e jovens interessados no tema. Ele sugeriu que o fórum acontecesse periodicamente para promover o debate constante sobre o cristianismo. As principais publicações na área são de autoria de cientistas da religião e teólogos, mas, segundo Chevitarese, os cientistas sociais também têm muito a dizer.
Grande estudioso do ponto de vista da história e da teologia do tema do cristianismo primitivo, segundo o arqueólogo e professor da Unicamp Pedro Paulo Funari, um dos organizadores do evento ao lado de Jonas Machado, Chevitare falou sobre suas percepções, nos últimos 15 anos, acerca da presença do cristianismo originário ou primitivo no ensino de história na universidade brasileira. Ele acentuou que, de maneira geral, na universidade, o cristianismo tem sido pensado como objeto próprio da história medieval.
Grande estudioso do ponto de vista da história e da teologia do tema do cristianismo primitivo, segundo o arqueólogo e professor da Unicamp Pedro Paulo Funari, um dos organizadores do evento ao lado de Jonas Machado, Chevitare falou sobre suas percepções, nos últimos 15 anos, acerca da presença do cristianismo originário ou primitivo no ensino de história na universidade brasileira. Ele acentuou que, de maneira geral, na universidade, o cristianismo tem sido pensado como objeto próprio da história medieval.
Chevitare afirma existir uma tendência do ponto de vista da área da história de associar uma tal antiguidade como sendo fenômeno próprio de Egito, Grécia ou Roma, em que é possível trabalhar uma história antiga romana, principalmente no Império Romano, sem mencionar uma única só vez a palavra cristianismo. “Quando o cristianismo aparece no campo da história romana, aparecerá com viés muito teológico mesmo na área de história. Os cristãos sendo levados para a arena, como objeto de martírio ou o Império Romano sendo tratado como uma pedra de tropeço que satanás colocou para matar cristãos, e assim sucessivamente. Muito pouca história e muita teologia”, enfatiza.
Em sua opinião, a ideia dos cursos de história é associar o período medieval com o período em que a igreja toma posição privilegiada e passa a ditar caminhos e rumos dentro dessa Europa dos séculos 4 e 5 até final do período medieval. “Nossa presença, como historiadores, ainda enfrenta forte tensão com esse diálogo da teologia. Ainda se usa fartamente um vocabulário que, em meu entendimento, não é histórico, como ‘heresia medieval’. Essa é uma terminologia que pouco tem a ver com história. Isso tem uma leitura muito teológica e, em certo sentido, até doutrinária para jovens que estamos formando em escolas públicas, ensino fundamental e médio. É um problemão.”
Dentro desse campo medieval, Chevitarese acredita que se retira do cristianismo aquilo que ele também é: uma instituição religiosa, que tem uma ênfase política, econômica, social e também no vocabulário, que, para o ensino da história, causam muito mais danos do que qualquer outra coisa. Ele explica que quando enfatiza o elemento de um cristianismo associado ao período medieval não quer dizer que ele não compareça para o período romano. “Ele está lá. Qualquer livro didático distribuído pelo MEC para escolas públicas do país tem esse tipo de leitura. Olha que eu trouxe um pequeno exemplo. Eu poderia dizer que nesses livros, trabalha-se a ideia de corpus ‘neotestamentário’ ou de bíblia como sendo uma coisa só. Corpus 'neotestamentário', em muitos livros didáticos, é lido quase como um livro que Deus jogou do céu e caiu na Terra pronto, e não como resultado de um processo que leva quase quatro séculos até seu fechamento."
André enfatiza que no campo de ensino de história, o cristianismo originário traz como referência para o período romano a ideia de perseguições. “Isso é muito enfatizado.” Uma pesquisa desenvolvida por um aluno seu na UFRJ, com livros didáticos adotados durante 30 anos, mostra que o conteúdo é produzido por uma igreja específica particular e a maioria dos autores não é da área de história.
André enfatiza que no campo de ensino de história, o cristianismo originário traz como referência para o período romano a ideia de perseguições. “Isso é muito enfatizado.” Uma pesquisa desenvolvida por um aluno seu na UFRJ, com livros didáticos adotados durante 30 anos, mostra que o conteúdo é produzido por uma igreja específica particular e a maioria dos autores não é da área de história.
Outra coisa a chamar sua atenção nas publicações é a ideia de que satanás é aquele agente histórico que atua efetivamente para prejudicar essa experiência cristã. “Então cristãos são quase sempre lidos como mártires. Não é pensado um cristianismo originário como multifacetado, com várias experiências acontecendo; e os próprios textos antigos cristãos mostrando muitos elementos para se pensar assim. Não é visto como algo multifacetado", acrescenta.
O Império Romano é visto como coisa externa à experiência cristã, e não é abordado um processo de interações culturais ocorrendo entre essas estruturas imperiais nessas experiências e comunidades locais cristãs dentro da Bacia Mediterrânica, que também dialogam com esse império. “Talvez, o livro de Atos dê ótimos exemplos sobre essas coisas, como elas aconteciam localmente e não necessariamente em relações e campos opostos a isso.”
Durante a palestra, Chevitarese refletiu sobre a forma como seus pares abordam o cristianismo em salas de aula nas universidades. “De imediato, todos dizem que Jesus Cristo fundou o cristianismo. Cristo é o sobrenome de Jesus. Não é um título messiânico. Foi Jesus quem fundou o cristianismo? Acho que não. Na minha leitura particular, Jesus nasceu, viveu e morreu como judeu. O próprio judaísmo é multifacetado. Jesus não precisava sair do judaísmo. Também não vejo Paulo como um cristão. Paulo não precisou sair do judaísmo, que é multifacetado, para fazer, falar e escrever seus textos. Mas há debate para isso.”
Para Chevitarese, o ensino confessional pode tornar as escolas e as universidades espaços formadores de preconceitos. “Se a experiência originária for lida no singular, faz sentido num período medieval falar de uma ortodoxia. E o que não for ortodoxo vira herético, objeto de perseguição. Se no meu tempo presente também num campo confessional todo o resto era falso, como um professor poderá ter esse tipo de postura?” Ele acrescenta que no Estado do Rio de Janeiro, o ensino confessional é oferecido em escolas públicas. “O contribuinte paga para que escolas públicas tenham ensino religioso confessional. Isso é descabido porque deveria estar tratando de Deus em seu sentido amplo. Se 87% dos brasileiros se dizem cristãos, se essa é a prioridade, vamos falar de experiências mais amplas, mas não é isso o que acontece nas salas de aula.”
As experiências recentes de reflexão sobre esta problemática são resultado do que está sendo produzido dentro das universidades, na opinião do historiador. “A Unicamp é uma das poucas instituições com essa iniciativa. Não são todas as públicas do País que contam com especialistas para discutir essas questões. Isso é problema sério.” André também enfatizou a falta de especialistas para abordar o tema nas escolas e universidades.
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