domingo, 10 de janeiro de 2016

Os Mortos e a Questão da Ressurreição


O tratado se divide em duas grandes partes: os caps. 1-11 formam a primeira parte e respondem às objeções tradicionais a respeito da ressurreição dos corpos como impossível de se realizar e indigna de Deus; os caps. 12-25 formam a segunda parte e estabelecem a conveniência e a necessidade da ressurreição. O argumento fundamental, entre outros, é que sendo o homem composto de corpo e alma, as duas partes devem ser recompensadas ou punidas juntas. Quatro argumentos vêm reforçar esta fundamentação: nos caps. 12-13, o argumento é o destino do homem criado para viver eternamente. Ora, se não houver ressurreição, não haverá vida eterna. Nos caps. 14-17, usa-se como argumento a natureza humana que compreende dois elementos unidos, a alma e o corpo. Nos caps. 18-23, trata-se do julgamento que deve ser aplicado tanto ao corpo quanto à alma, porque tanto um como o outro deve ser premiado ou castigado. Seria injusto, por exemplo, não premiar o corpo pelas obras boas que o homem realizou com sua colaboração. Finalmente, nos caps. 24-25, Atenágoras emprega o argumento do fim último que não é atingido nesta existência. O homem foi destinado à felicidade eterna, mas esta não é alcançada nesta vida. Logo, tem que haver ressurreição para que esta felicidade possa acontecer. Como se vê, Atenágoras tenta demonstrar a possibilidade e a conveniência da ressurreição fundamentalmente ao nível filosófico sem recorrer às Escrituras e nem mesmo alude à ressurreição de Cristo.

Deve-se observar ainda que a antropologia de Atenágoras é dependente do platonismo. O homem é composto de corpo mortal e alma imortal, embora criada. Na ressurreição, o corpo se conjuga novamente com a alma, que no período que vai entre a morte e a ressurreição, estivera num estado de torpor. A ressurreição reconstrói, portanto, aquela unidade que constitui o verdadeiro homem.

A Obra.

Por Atenágoras de Atenas (Bispo. Séc II).

I PARTE: A POSSIBILIDADE DA RESSURREIÇÃO

Dois tipos de raciocínio

1. Em todo dogma ou doutrina que se atenha à verdade nesses assuntos nasce, como rebento, alguma mentira. E nasce não porque, de princípio, saia algo inerente por natureza ou como causa essencial de cada coisa, mas porque é procurado com afinco que honram o germe adúltero que corrompe a verdade. Pode-se comprovar isso primeiramente que há muito tempo especularam sobre esses assuntos e na divergência com seus predecessores ou mesmo com seus contemporâneos, e igualmente atra­vés da própria confusão em que se encontram os assuntos discutidos. Com efeito, é certo que essa laia de pessoas não deixou nenhuma verdade sem calúnia: nem a essência de Deus, nem seu conhecimento e sua operação, nem o seguimento encadeado dessas coisas que nos aponta a doutrina da piedade. Assim, existem alguns que, comple­tamente e de uma vez para sempre, renunciam a encon­trar a verdade sobre esses assuntos; outros a distorcem em vista de suas próprias opiniões; outros, por fim, fazem profissão de dúvida até sobre o evidente. Na minha opinião, aqueles que se preocupam com isso necessitam de duplos raciocínios: uns para defender a verdade, outros a respeito da verdade. Os raciocínios para defender a verda­de se dirigem aos que não crêem ou duvidam; os raciocínios a respeito da verdade para os que têm sentimentos nobres e recebem com benevolência a verdade. Portanto, é preciso que aqueles que desejam examinar estas questões considerem o que lhes seja útil em cada caso e, de acordo com o caso, meçam seus raciocínios e ajustem convenientemente à sua ordem, e não descuidem do conveniente e do lugar que corresponde a cada coisa, acreditando que se deva conservar sempre o mesmo princípio. Com efeito, se se olha para a força demonstrativa e para a ordem natural, os raciocínios a respeito da verdade têm a primazia sobre os raciocínios em defesa da verdade; ao contrário, se olhamos, porém, a utilidade, os raciocínios em defesa da verdade são anteriores aos raciocínios a respeito da verdade. Assim é que o lavrador não pode convenientemente lançar as sementes na terra, se antes não arrancar todo o mato e o que pode prejudicar a boa semente; o médico também não pode aplicar medicamentos de saúde ao enfermo, se não limpa antes o mal interno ou não detém o mal que procura infiltrar-se; assim quem procura ensinar a verdade não poderá, por mais que fale dela, persuadir a ninguém, enquanto uma falsa opinião esteja agarrada à mente dos ouvintes e se oponha aos raciocínios. Nós também, visando justamente à utilidade, por vezes antepomos os raciocínios em defesa da verdade aos raciocínios a respeito da verdade. E para quem considera o que é conveniente, não lhe parecerá inútil que procedamos agora do mesmo modo, neste tratado sobre a ressurreição. De fato, também neste assunto, encontramos alguns que não crêem absolutamente, outros que duvidam e, entre os que aceitam nossos primeiros princípios, existem os que são tão perplexos como os que duvidam abertamente. O mais absurdo é que eles não têm o menor pretexto para fundamentar sua incredulidade na realidade, nem podem encontrar uma única causa racional para não crerem ou duvidarem.

O conhecimento que Deus tem das coisas é garantia da ressurreição

2. Passemos à consideração. Toda incredulidade, se não é gerada temerariamente ou por alguma opinião irreflexiva, mas por forte causa e com verdadeira segurança, então detém a razão conveniente, pois a própria coisa para a qual se nega a fé não parece oferecer nenhuma garantia de verdade. De fato, não crer naquilo que não é inacreditável é próprio de homens que não têm dela julgamento sadio sobre a verdade. Portanto, os que não crêem na ressurreição ou duvidam dela, não devem dar sua opinião sobre ela a partir do que lhes pareça irrefletidamente, nem por aquilo que poderia ser grato às pessoas intemperantes; devem dizer que a origem do homem não depende de nenhuma causa (e isso é fácil de refutar) ou, se atribuem a Deus a causa de todos os seres, devem olhar este dogma como princípio e por ele devem demonstrar que a ressurreição não tem nenhuma garantia de verdade. Conseguirão isso se demonstrarem que Deus não pode ou não quer unir e juntar de novo os corpos mortos e até completamente desfeitos, para constituir os mesmos homens. E se não podem demonstrá-lo, parem com essa incredulidade atéia e não blasfemem contra o que não é lícito blasfemar. Que não dizem a verdade ao falar que Deus não pode ou não quer, ficará claro pelo que vamos dizer.

Sabe-se realmente que algo é impossível para alguém, quando este não sabe o que fazer ou porque não tem força suficiente para fazer bem o que sabe. Com efeito, aquele que não conhece o que se tem que fazer, não pode de jeito nenhum tentar, sequer realizar o que desconhece; aquele que conhece bem o que se tem que fazer, quais os meios e de que modo, mas não tem nenhuma força para isso ou não a tem suficientemente, esse, se é sensato e sabe medir as próprias forças, em princípio não começará a obra; se a começa de modo desconsiderado, não poderá levar o cabo o seu propósito. Pois bem! Não é possível que Deus desconheça, em cada parte e membro, a natureza dos corpos que ressuscitarão, nem que ignore o paradeiro de cada parte desfeita, nem qual parte de elemento recebeu o desfeito e dissolvido em seus afins, por mais difícil que pareça aos homens discernir aquilo que identi­ficou novamente de modo natural com o todo. De fato, quem, antes da própria constituição de cada um, não desconhecia a natureza dos elementos que deveriam exis­tir e dos que deveriam formar os corpos dos homens, nem as partes daqueles que lhe pareceu melhor tomar para a constituição do corpo, é evidente que, depois de completa­mente dissolvido, também não desconhecerá onde foi parar cada uma das partes que tomou para completar o todo. Segundo a ordem dominante das coisas entre nós e o julgamento de cada caso, certamente é superior conhe­cer antecipadamente o que não é; no entanto, para a dignidade e sabedoria de Deus, ambas as coisas são naturais e igualmente fáceis: conhecer antecipadamente o que não é e reconhecer o que se desfez.

Quem criou pode recriar

3. Que o poder de Deus seja suficiente para ressuscitar os corpos, o próprio fato de sua criação o prova. Se Deus fez os corpos dos homens, que não existiam, conforme a primeira constituição e princípios deles, com a mesma facilidade ressuscitará os que, seja como for, se desfize­ram, pois isso é igualmente possível para ele. Este racio­cínio em nada falha pelo fato de que alguns suponham que os primeiros princípios derivam da matéria, ou que os corpos dos homens têm como princípios os elementos ou os espermas. De fato, o mesmo poder usado para dar forma ao que eles consideram matéria informe, adornar com diferentes espécies a que não tem espécie nem adorno, reunir em um só composto as partes dos elementos, dividir na variedade de membros o sêmen que é um e simples, articular o inarticulado, e dar vida ao não viven­te, o mesmo é usado para reunir o dissolvido, levantar o que jaz por terra, vivificar o morto e transformar em incorrupto o corrompido. Corresponde ao mesmo e é obra do mesmo poder e sabedoria distinguir e reunir em suas próprias partes e membros aquele que, despedaçado, foi parar numa multidão de animais de toda espécie, que costumam atacar tais corpos e saciar-se deles, tenham ido pararem um só desses animais ou em muitos, e destes em outros e, dissolvido juntamente com eles, tenha voltado, conforme a natural dissolução, aos primeiros princípios. Parece ser isso o que mais perturba alguns, entre aqueles cuja sabedoria é admirável; não sei porque consideram tão grandes as dificuldades correntes entre o vulgo.

Dificuldades para admitir a ressurreição

4. Com efeito, o vulgo costuma objetar que muitos corpos, mortos miseravelmente em naufrágios e rios, serviram de alimento aos peixes, e muitos que morreram nas guerras, ou em outra causa mais áspera, ou em qualquere acidente das coisas, não receberam as honras da sepultura e ficaram expostos como pasto de numerosas feras. Desse modo, consumidos os corpos e espalhadas suas partes e membros, de que se compunham, entre muitos animais e assimilados, através do alimento, com os corpos daqueles que os comeram, eles dizem primeira­mente que a separação é impossível. A essa dificuldade acrescentam outra ainda maior: se os corpos de animais que se alimentaram de carne humana são, por sua vez, aptos para alimento de homens, passando pelo ventre destes e assimilados aos corpos de quem os comeram, resultará necessariamente que as partes dos homens que serviram de alimento aos animais passarão para os corpos de outros homens, pois os animais que se alimentaram deles os transportam, por sua vez, para aqueles homens que se alimentam deles. A tudo isso, acrescentam as tragédias daqueles que comeram seus próprios filhos em momentos de fome ou em arroubos de loucura, ou dos filhos que, por armadilha dos inimigos, foram alimento de seus próprios pais; formam assim uma cadeia de calami­dades acontecidas entre os gregos e os bárbaros: a famosa mesa de Medéia, os trágicos convites de Tiestes e outras semelhantes. A partir de tudo isso, estabelecem, confor­me pensam, que a ressurreição é impossível, pois os mesmos membros não podem ressuscitar em diferentes corpos; ou não podem ressuscitar os corpos dos primeiros, admitindo que as partes que o compunham passaram para outro; ou, se estas são devolvidas para os primeiros, os outros ficarão defeituosos.

Argumentações para eliminar as objeções

5. Parece-me, porém, que aqueles que assim falam, em primeiro lugar, desconhecem o poder e a sabedoria daquele que criou e governa todo este universo. Ele adapta o natural e conveniente alimento para cada natureza e espécie de animal, não permite que qualquer natureza seja unida a qualquer corpo e assimilada por este; e não lhe seria difícil nem mesmo a separação do unido. Ele consente, porém, que cada coisa criada faça e suporte o que condiz com sua natureza e proíbe o que não condiz; e ele consente ou se opõe a tudo o que quer e para a finalidade que quer. Além disso, parece-me que não levaram em consideração a própria força e natureza de cada um dos que se alimentam ou são alimentados. Caso contrário, ter-se-iam dado conta de que nem tudo que se ingere, cedendo à necessidade exterior, converte-se, sem mais nem menos, em alimento natural para o animal, mas que existem coisas que, apenas tendo chegado às partes dobradas do ventre, naturalmente se corrompem e que, por vômito, secreção ou por outro modo, são expelidas, de modo que por breve tempo toleram a primeira e natural cocção e muito menos a assimilação com o corpo que se quer alimentar. Além disso, tudo o que foi cozido e recebeu a primeira transformação não se incorpora absolutamente às partes alimentadas, porque parte perde sua força nutritiva no próprio ventre, parte na segunda transformação, são segregados na cocção que se realiza no fígado e executam outra função alheia à virtude nutritiva. Mesmo a transformação que se realiza no fígado não passa a ser inteiramente alimento dos homens, mas é segregada para as naturais superfluidades. Por fim, o que sobra se transforma por vezes em outra coisa nas mesmas partes e membros alimentados, conforme o predomínio do que abunda ou sobra e que costuma, de algum modo, corromper ou assimilar em si o que se lhe aproxima.

6. Portanto, como é tão grande a variedade natural em todos os animais e o próprio alimento natural muda para cada espécie animal e para cada corpo alimentado, e o alimento de cada animal, tendo que sofrer tríplice purificação e segregação, é totalmente necessário que ele corrompa naturalmente, elimine ou transforme em outra coisa tudo o que é alheio à nutrição do animal, por não poder ser assimilado, e que a força do corpo alimentício se ajeite e esteja conforme à natureza e força do corpo alimentado pelas segregações naturais e, purificado com os meios de purificação da própria natureza, se transforme em autêntico aumento da substância. Falando conforme a verdade das coisas, somente este se deveria chamar alimento, pois rejeita tudo o que é alheio e daninho à constituição do corpo alimentado e aquele grande peso que provém de ventre cheio e da satisfação do apetite. Ninguém duvidará que este é o alimento que se une ao corpo alimentado, implicando-se e incorporando-se às suas partes e membros; mas o que não é assim e é contrário à natureza, corrompe-se logo ao se encontrar com uma força maior; todavia, se é ele que predomina, corrompe com facilidade o organismo e se transforma em maus humores e qualidades venenosas, como o que não traz nada próprio ou favorável ao corpo alimentado. A prova maior disso reside em que para muitos animais seguem-se dores, perigo ou morte se, impelidos por veemente apetite, ingerem, misturado à comida, algo venenoso e contrário à natureza. Isso pode corromper o animal alimentado, pois o que se alimenta, se alimenta somente com o apropriado e conforme à sua natureza, e se corrompe com o contrário. Ora, se o alimento conforme à natureza se diversifica pela diferença dos animais também diferentes por natureza, e ainda assim nem tudo o que o animal ingere, nem qualquer parte dele, recebe a assimilação com o corpo alimentado, mas somente o purificado por todas as cocções e de fato transformado para a união segundo a qualidade do corpo, e que se adapta finalmente às partes alimentadas, é evidente que nada que seja contra a natureza pode unir-se a corpos para os quais não é alimento natural e conveniente; ao contrário, ou é eliminado no próprio ventre, antes de gerar algum outro humor, cru ou corrompido, ou, se se mantém por muito tempo, produz sofrimento e doença de difícil cura, que corrompe o alimento natural e até a própria carne que necessita de alimento. Mesmo quando é expelido, seja por medicamentos, seja por comidas melhores, ou vencido pelas forças naturais, não é eliminado sem grande prejuízo, pois não leva nada de pacífico aos elementos naturais, porque não se assimila naturalmente com eles.

7. Mesmo concedendo que um alimento em tais condições (chamemo-lo assim por costume) entre no organismo, embora sendo contra a natureza, e se transforme num dos elementos úmidos ou secos, frios ou quentes, essa concessão absolutamente de nada adiantará para nossos opositores, porque os corpos ressuscitados constarão novamente de suas próprias partes e nada do que foi dito é parte, nem tem função ou ordem de parte. Ainda mais: essas coisas nem sempre permanecem com as partes do corpo alimentado, nem ressuscitarão juntamente com os corpos ressuscitados, pois daí para frente de nada lhes servirão o sangue, a pituíta, a bílis, a respiração, porque não terão mais necessidade daquilo que os corpos alimentados necessitavam antes, uma vez que, junto com a necessidade e a corrupção, ser-lhes-á tirado o uso das coisas de que se alimentavam.

Por fim, suponhamos que a transformação desse alimento chegue até a fazer-se carne. Nem mesmo assim haverá necessidade de que essa carne recém-formada de tal alimento e que aderiu ao corpo de outro homem tenha novamente de servir como parte para a composição desse homem, pois nem sempre a carne que assimila conserva a que tomou, nem é constante a que com ela se uniu, nem permanece com aquela com a qual se agregou. Com efeito, são muitas as mudanças que pode sofrer de um ou de outro modo; ora arrastada e levada por trabalhos e preocupações, ora consumida pelas tristezas, fadigas e enfermidades, ou porque, produzindo-se destemperanças por causa do calor ou frio, as partes que receberam o alimento, por permanecerem no que são, não se transformam com a carne e a gordura. Com tantos acidentes que sobrevêm a toda carne, é mais cabível entender que isso passa àquela que se nutre de alimentos que lhe são impróprios, ora ganhando em peso e engordando com o que come, ora rejeitando-o de alguma maneira e emagrecendo, seja por causa de uma só das causas mencionadas, seja por muitas. Permanece nas partes somente aquilo que tem por função unir, proteger e aquecer, isto é, o alimento que foi selecionado pela natureza e que se assimila às partes cuja vida e cujos trabalhos na vida se comportem conforme a própria natureza. No entanto, (nem julgando como se deve o que foi examinado por nós, nem concedendo ao que os opositores nos objetam pode-se demonstrar a verdade do que eles dizem) não é possível que os corpos dos homens se assimilem aos de sua própria natureza, seja por ignorância, seja por artifício de outro, quando alguém come sem dar-se conta de tal corpo, seja quando, conscientemente, por necessidade ou por loucura, se manche com corpo de sua própria espécie, caso nos tenhamos esquecido de que existem certas feras com forma humana ou natureza mista de homem e fera, tal como alguns poetas mais audazes costumam fantasiar.

8. Para que falar dos corpos que não são destinados a ser alimento de nenhum animal e aos quais resta apenas a sepultura na terra, para honra da natureza, se o Criador não destinou nenhum animal como alimento dos de sua própria espécie, embora possam transformar-se em alimento natural para outros de espécie diferente?

Ora, se se pode demonstrar que as carnes humanas estão destinadas a servir de alimento para os homens, nada se oporá a que a antropofagia esteja de acordo com a natureza, como qualquer outra das coisas que a natureza permite, e os que se atrevem a dizer tais atrocidades poderão saciar-se com os corpos de seus mais queridos, como mais apropriados para si, ou dar seus banquetes com estes para seus melhores amigos. Todavia, se apenas falar isso é uma impiedade e os homens comerem os homens é coisa horrorosa e abominável, e não há comida ou ação contra a lei e a natureza mais sacrílega do que esta; e como o que é contra a natureza não pode se transformarem alimento para as partes que dele necessitam, e se não se transforma em alimento também não pode se assimilar ao que naturalmente não pode alimentar, segue-se de tudo isso que os corpos dos homens jamais podem assimilar corpos de sua mesma espécie, por ser alimento contra a natureza, embora passasse muitas vezes por seu ventre para uma amarga desgraça; ao contrário, separados da força nutritiva e espalhados entre aqueles elementos, dos quais receberam sua primeira composição, identificam-se com estes pelo tempo que tocar a cada um. Depois, daí separados novamente por sabedoria e poder de quem compôs toda a natureza do animal, com suas próprias potências, cada um se une naturalmente com cada um, embora tivesse sido queimado pelo fogo, ou apodrecido na água, ou devorado pelas feras ou por quaisquer animais, ou ainda cortado do conjunto do corpo, tenha-se dissolvido de suas outras partes. Membros e membros, unidos novamente, ocuparão o mesmo lugar, para a harmonia e constituição do mesmo corpo e para a ressurreição e vida do que fora antes morto ou totalmente dissolvido. Não me parece oportuno demorar mais sobre este assunto, pois ao menos para aqueles que não sejam meio feras, a decisão é manifesta.

A ressurreição só depende do querer de Deus.

9. Embora haja muitos outros pontos úteis para a presente questão, no momento não quero falar daqueles que se refugiam nas obras humanas e nos homens que as fazem, mas não são capazes de refazer aquelas que se quebram, ou com o tempo envelhecem, ou se destroem de outro modo, e com a comparação dos oleiros e carpinteiros procuram demonstrar que também Deus não quer ou, embora quisesse, não pode ressuscitar os corpos mortos ou já dissolvidos. Contudo, não percebem que com tais raciocínios ofendem a Deus como os mais perversos, colocando no mesmo nível os poderes daqueles que são completamente diferentes, isto é, igualando as substâncias com os que delas usam e as obras de arte com as naturais. Ora, dar importância a tais objeções não careceria de repreensão, pois de fato é idiotice deter-se para refutar o que é superficial e vão. Muito mais glorioso e verdadeiro é dizer que o que é impossível para os homens, é possível para Deus. Se a razão, através deste único argumento glorioso e por tudo o que anteriormente foi examinado, demonstra a ressurreição como possível, evidentemente ela não é impossível. Além disso, também não é certo que Deus não a queira.

Não há nenhuma injustiça na ressurreição

10. ,Com efeito, o que não se quer não é desejado porque é injusto ou indigno. Por sua vez, a injustiça se considera ou em relação à própria pessoa que ressuscita ou em relação a outro fora dela. Mas é evidente que com a ressurreição não se causa prejuízo aos que estão fora do homem, nem a nada daquilo que se inscreve no rol dos seres. De fato, nem as naturezas inteligíveis podem receber algum prejuízo da ressurreição dos homens, pois esta, para existir, não supõe impedimento ou prejuízo ou injúria de qualquer tipo; também não pode receber prejuízo a natureza dos seres irracionais ou a dos inanimados, porque, depois da ressurreição, não mais existirão. Quanto ao que não existe, não há injustiça. Todavia, mesmo supondo que existissem para sempre, também não se cometeria injustiça com eles pelo fato de os corpos humanos serem renovados. Com efeito, se agora estas coisas estão submetidas à natureza dos homens que necessitam de seus serviços, e postas sob o jugo e toda servidão, não se comete contra elas nenhuma injustiça e também não se cometerá quando os homens, tornados incorruptíveis e já sem necessidade de servir-se das coisas, estão se verão livres de toda escravidão. Se elas tivessem voz, também não poderiam queixar-se ao Criador por terem sido rebaixadas mais do que o justo em relação ao homem e por não alcançarem também a ressurreição, pois aquele que é justo não pode atribuir o mesmo fim àqueles que possuem natureza distinta. Além disso tudo, onde não existe julgamento sobre o justo, também não cabe discussão sobre injustiça. Finalmente, também não é possível dizer alguma injustiça em relação ao próprio homem que ressuscita. Este, de fato, é constituído de alma e corpo, e não sofre injustiça nem na alma, nem no corpo. Com efeito, ninguém de bom senso dirá que sofre injustiça na alma. Caso contrário, sem perceber, desse modo também condenaria a presente vida. De fato, se agora, habitando em corpo corruptível e passível, não se lhe faz nenhuma injustiça, muito menos se lhe fará, convivendo com outro incorruptível e impassível. Contudo, também não se agrava em nada o corpo. Com efeito, se agora o corruptível acompanha o incorruptível e não é agravado, evidentemente também não o será quando, incorruptível, acompanhará o incorruptível. Também não se pode dizer que seja de algum modo obra indigna de Deus ressuscitar e novamente reunir um corpo desfeito. Se o menos, isto é, fazer um corpo corruptível e passível não foi indigno, com maior razão o mais não o será, isto é, formá-lo incorruptível e impassível.

Resumo da I parte

11. Portanto, se pelos princípios, que são naturalmente primeiros e pelo que deles se segue, ficam demonstradas cada uma das questões propostas, é evidente que a ressurreição dos corpos desfeitos é obra possível, desejada e digna do Criador. Por aí também se demonstrou a mentira que se opõe a esta verdade e o absurdo da incredulidade de alguns. Que necessidade há de ressaltar a correspondência de uma coisa com outra e sua mútua conexão? Se é que se deva falar de conexão, como se houvesse entre elas alguma diferença que as separassem, e não seja melhor dizer que o possível é também desejado e que o que Deus deseja é absolutamente possível e conforme com a dignidade de quem o deseja.

Antes dissemos de modo suficiente que existe um raciocínio a respeito da verdade e outro para defender a verdade e qual a diferença entre um e outro, assim como a ocasião e para quem eles são úteis. Mas talvez não haja inconveniente, depois de ter atendido à utilidade comum e à conexão do que foi dito com o que resta por dizer, que novamente tomemos aqui o nosso ponto de partida. Ora, a um convém por natureza ser primeiro e a outro escoltar o primeiro, abrir-lhe o caminho e afastar tudo que se lhe opõe e dificulta a sua marcha. O raciocínio a respeito da verdade, necessário a todos os homens para sua segurança e salvação, tem a primazia por sua natureza, por sua ordem e por sua utilidade. Por sua natureza, porque nos proporciona o conhecimento das coisas; por sua ordem, pois existe naquilo e junto com aquilo do qual é indicador; por sua utilidade, enfim, porque é guia de segurança e salvação para os que conhecem. Em troca, o raciocínio para defender a verdade é inferior, tanto por sua natureza como por sua força, pois é menos refutar a mentira do que afirmar a verdade. Também é secundário por sua ordem,pois tem força apenas contra as falsas opiniões, e uma falsa opinião nasce de uma semeadura em cima da outra e de corrupção. Todavia, mesmo que isso seja assim, antepõe-se algumas vezes e acaba sendo mais útil, pois é ele que tira e limpa de antemão a incredulidade que aflige alguns e a dúvida ou falsa opinião dos que se aproximam pela primeira vez. Um e outro tendem ao mesmo fim, pois tanto aquele que refuta a mentira, como aquele que afirma a verdade se referem à piedade; isso, porém, não quer dizer que ambos são uma mesma coisa, mas que um, como disse, é necessário a todos os que crêem e a todos os que se preocupam com a verdade e a salvação; quanto ao outro, por vezes torna-se mais útil para alguns.

Seja dito isso, em resumo, só para recordar o que foi anteriormente exposto. Prossigamos com o nosso propósito, e demonstremos que é verdadeira a doutrina da ressurreição pela própria causa pela qual foi criado o primeiro homem, e os outros depois dele, embora não do mesmo modo; pela natureza comum dos homens como homens e, por fim, pelo julgamento que o Criador fará sobre os mesmos, conforme o tempo que viveram e as leis que observaram; julgamento que ninguém duvidará que será justo.

II PARTE: A CONVENIÊNCIA E A NECESSIDADE DA RESSURREIÇÃO

prova da ressurreição: o destino do homem criado para a eternidade

12. O raciocínio pela causa apóia-se em considerar se o homem foi feito ao acaso e despropositadamente ou se foi feito por algum motivo. Se foi feito por algum motivo, ou teria sido para viver ele próprio depois de feito e permanecer segundo a sua natureza, ou feito para a utilidade de alguém. Se foi feito para utilidade, é a do próprio Criador ou de alguma coisa relacionada a ele e que merece a sua maior preocupação. Ora, se consideramos a questão de modo mais geral, encontramos que nenhum ser sensato e que se move para fazer algo por juízo de razão, fazem vão alguma coisa de tudo o que realiza de propósito. Ao contrário, ele é movido a agir, ou para sua própria utilidade, ou para a utilidade de alguém com o qual se preocupa, ou pela própria coisa realizada, para cuja produção é arrastado por um impulso natural e pelo amor. Vamos dar um exemplo, para que fique mais claro o que dissemos. O homem faz uma casa para a sua própria utilidade; contudo, para seus bois, camelos e outros animais de que necessita constrói como casa uma morada que lhe convém. Aparentemente não para a sua própria utilidade; mas, em última análise, é para isso, embora imediatamente faça isso pelo cuidado com aqueles animais com os quais ele se preocupa. Também procria filhos, não para a sua própria utilidade, nem olhando para qualquer coisa que lhe toca, mas para que aqueles que foram gerados por ele existam e permaneçam o quanto possível, consolando-se do seu próprio fim com a sucessão de seus filhos e descendentes e pensando que desse modo imortaliza o que é mortal. Isso quanto aos homens. Deus, porém, não fez o homem em vão, pois Deus é sábio, e na sabedoria não cabe obra vã; também não é para a sua própria utilidade, pois ele de nada necessita, e quem absolutamente de nada necessita, nenhuma coisa do que ele faz lhe pode servir de qualquer utilidade; mas também não o fez por motivo de qualquer obra das que ele criou, pois nenhuma das criaturas dotadas de razão e juízo, maiores ou menores, nem foi nem é feita para a utilidade de outro, mas para a própria vida e permanência dessas criaturas. Com efeito, nem a própria razão pode encontrar alguma utilidade como causa da criação do homem, pois os seres imortais de nada necessitam e nenhuma utilidade pode lhes advir dos homens; e os irracionais são naturalmente comandados e alguma necessidade dos próprios homens preenche cada um, e não são eles que, pela lei da natureza, irão servir-se destes. De fato, nunca foi e nem é lícito rebaixar aquele que comanda e guia à utilidade do inferior, submetendo o racional ao irracional, que não é apto para comandar. Portanto, se o homem não foi criado sem motivo e em vão, pois nada daquilo que Deus faz pode serem vão, ao menos segundo a intenção de quem o faz; se não foi criado para a utilidade daquele que o faz, nem de alguma outra coisa criada por Deus, é evidente que, quanto à razão primeira e mais geral, Deus fez o homem por motivo do próprio homem e pela sua bondade e sabedoria, que se contempla em toda a criação. Quanto à razão mais imediata das coisas criadas, para a vida dos próprios homens criados, e essa não para acender-se por um momento e extinguir-se totalmente logo depois. De fato, para os répteis, aves, peixes e, dizendo de um modo geral, para todos os irracionais, Deus lhes concedeu vida semelhante; mas para aqueles que levam em si mesmos a imagem do seu Criador, são dotados de inteligência e participam do juízo racional, a estes o Criador destinou uma permanência para sempre, a fim de que, conhecendo o seu Criador e o seu poder e sabedoria, seguindo a lei e a justiça, vivam eternamente sem trabalhar naquelas coisas com que afirmaram a sua vida anterior, apesar de estarem em corpos corruptíveis e terrenos. De fato, o que foi feito por motivo de outra coisa, é natural que também deixe de ser, quando cessa aquilo para o qual foi feito e não pode permanecerem vão, pois nada do que é vão tem lugar nas obras de Deus. Mas o que foi feito em razão do próprio ser e da vida conforme a sua natureza, como a própria causa está ligada à natureza e é olhada apenas quanto ao próprio ser, jamais poderia receber uma causa que destruísse totalmente o seu ser. Todavia, sendo esta considerada sempre no ser, é absolutamente preciso que também se salve o animal criado, realizando e sofrendo o que por natureza lhe convém e contribuindo cada uma das partes de que se compõe naquilo que lhe toca: a alma, sendo e permanecendo uniformemente na natureza em que foi criada e trabalhando naquilo que naturalmente lhe corresponde (e corresponde a ela presidir e comandar os impulsos do corpo e julgar e medir tudo o que ocorre em qualquer momento, servindo-se de critérios e medidas convenientes); quanto ao corpo, movendo-se conforme a natureza do que naturalmente lhe corresponde e recebendo as transformações para as quais está destinado e todas as outras de idade, forma e tamanho, também lhe cabe a ressurreição. Com efeito, a ressurreição é uma espécie de transformação, a última de todas, e transformação para melhor entre aquelas que já se realizaram.

13. Confiando nessas coisas, não menos nas que já aconteceram, e considerando a nossa própria natureza, não só aceitamos com amor a vida de necessidades e corrupção, como convém ao tempo presente, mas esperamos também firmemente a permanência na incorrupção. E esta não a tomamos de modo vão, da fantasia dos homens, iludido-nos com esperanças mentirosas, mas cremos em quem nôla garante de modo absolutamente infalível no desígnio de nosso Criador, segundo o qual fez o homem de alma imortal e de corpo, dotou-o de inteligência e lei ingênita para a sua salvação e para a guarda dos preceitos que ele lhe dera, convenientes com uma vida moderada e razoável. Sabemos muito bem que ele jamais teria feito um animal assim, nem o teria adornado com tudo o que é necessário para a sua permanência, caso não fosse sua vontade que efetivamente permanecesse. Portanto, se o Criador de todo este universo fez o homem para participar da vida racional e, feito contemplador de sua magnificência e sabedoria que em tudo brilham, permanecer sempre nessa contemplação, segundo o seu desígnio e conforme a natureza que lhe coube como sorte, a causa da criação nos garante a permanência para sempre e a permanência garante a ressurreição, pois sem ela não seria possível ao homem permanecer para sempre.

Do que foi dito, fica evidente que, por causa da criação assim como pelo desígnio de seu Criador, a ressurreição fica claramente demonstrada. Sendo tal a causa pela qual o homem foi trazido a este mundo, seria conseqüente considerar agora a razão que a ela se segue naturalmente ou por encadeamento lógico. Segue-se, portanto, o exame da causa da criação, a própria natureza dos homens criados, e a julgamento justo que o Criador fará deles, e a tudo isso, o próprio fim de vida. Como já investigamos o que ocupa o primeiro lugar, passemos agora à natureza do homem.

2ª prova: o desígnio do Criador e a natureza do homem composto de alma e corpo

14. Se a demonstração dos dogmas da verdade ou de quaisquer outros problemas que se propõem à investigação deve trazer evidência infalível às conclusões, ela não toma seu ponto de partida de nenhum exterior ou do que para alguns possa parecer ou lhes tenha parecido, mas da inteligência comum e natural, ou da conexão entre os primeiros princípios e suas conseqüências. Com efeito, ou se trata dos princípios primeiros, e nesse caso basta uma simples advertência para mover a inteligência natural; ou se trata daquilo que por lei natural se segue dos primeiros princípios e da conexão natural. Então deve-se estabelecer uma ordem mostrando o que é aquilo que se segue conforme a verdade do primeiro e principal, a fim de não cometer uma negligência com a verdade ou com a segurança da verdade, nem confundir o que por natureza está ordenado e tem seus próprios limites, tampouco romper o seu encadeamento natural. Disso, parece-me necessário que aqueles que põem um justo empenho na questão proposta e queiram julgar com prudência se existe ou não a ressurreição dos corpos humanos, antes de tudo considerem bem a força dos argumentos que servem para a sua demonstração, que lugar cada um ocupa, qual deles é o primeiro, qual o segundo, qual o terceiro e qual o último. Portanto, se tratamos de estabelecer nisso uma ordem, é preciso em primeiro lugar a causa da criação do homem, isto é, o desígnio segundo o qual o Criador fez o homem; a esta deve-se unir naturalmente a natureza dos próprios homens criados, não porque ocupe o segundo lugar na ordem, mas porque não é possível julgar ambas de uma só vez, por mais que em sumo grau coexistam uma com a outra e ambas tenham a mesma força para a questão presente. Demonstrada claramente por esses argumentos como sendo primeiros e que tomam seu princípio da própria criação, a ressurreição da carne não pode ser menos confirmada pelas razões da providência, isto é, pelo prêmio ou castigo que se deve a cada homem, conforme o julgamento justo, e pelo fim da vida do homem. Com efeito, muitos que discutiram a doutrina da ressurreição apoiaram toda a causa na terceira ordem dos argumentos, crendo que acontecerá apenas por causa do julgamento; isto, porém, que se demonstra com toda a clareza como falso, pelo fato de que todos os homens que morrem ressuscitarão, mas nem todos os ressuscitados serão julgados. Se apenas a justiça do julgamento fosse a causa da ressurreição, aqueles que não cometeram pecado, nem fizeram algum bem, não ressuscitariam, isto é, as crianças muito pequenas; mas como todos ressuscitarão e, entre outros, também os que morreram em tenra idade, estes mesmos justificam que não será por meio do julgamento, como razão primeira, que se dará a ressurreição, mas pelo desígnio do Criador e pela natureza das obras criadas.

15. Mesmo quando a causa que vemos na criação dos homens basta por si só para demonstrar que a ressurreição se seguirá por natural conseqüência aos corpos desfeitos, é justo, todavia, não desprezar nenhum dos argumentos anteriormente propostos e, coerentes com o que dissemos, frisar, para os que não podem vê-los por si próprios, quais conseqüências se seguem de cada um deles. Antes de tudo, a natureza dos homens, que nos leva à mesma conclusão e tem a mesma força para esta estabelecer a fé na ressurreição. Agora, como universalmente toda a natureza consta de alma imortal e de corpo que foi adaptado a essa alma no momento da criação; como Deus não destinou tal criação, tal vida e toda a existência à alma por si só ou ao corpo separadamente, mas aos homens, compostos de alma e corpo, a fim de que pelos mesmos elementos dos quais se geram e vivem, cheguem, terminada a sua vida, a um só e comum termo; como de corpo e alma se forma um só animal que sofre o mesmo que alma e corpo sofrem, que age e realiza tanto o que se refere à vida sensível como ao juízo racional, é inteiramente necessário que todo esse conjunto se refira a um só fim e, desse modo, em tudo concorra a uma só harmonia e à mesma união de sentimentos no homem: seu nascimento, sua natureza, sua própria vida, suas ações, suas paixões, sua existência e o fim conveniente à sua natureza. Mas se deve haver uma só harmonia de todo o animal e uma união de sentimento entre o que procede da alma e o que é realizado pelo corpo, é preciso que haja um só fim para todos esses elementos. Haverá um só fim, se o animal, de cujo fim se trata, é de fato o mesmo, segundo a sua constituição; e será claramente o mesmo, se se dão os mesmos elementos de que se compunha como partes; e os elementos serão os mesmos segundo sua própria conexão, se os que se dissolveram se unirem novamente para a constituição do animal. A constituição dos próprios homens demonstra que a ressurreição dos corpos mortos e desfeitos necessariamente se seguirá; caso ela não houvesse, não seria possível que as partes se unissem naturalmente umas com as outras, nem a natureza se comporia dos mesmos homens.

Além disso, se foram dadas aos homens inteligência e razão para discernir o inteligível, e não só as substâncias, mas também a bondade, sabedoria e justiça do Doador, permanecendo aquilo pelo qual lhe foi dado o juízo racional, necessariamente deve também permanecer o juízo que foi dado para o seu discernimento. E não é possível que este permaneça se não permanecer a natureza que o recebe e na qual ele está. Ora, quem recebe a inteligência e a razão é o homem e não a alma por si só; logo, o homem, que consta de alma e corpo, deve permanecer para sempre. E impossível, porém, que ele permaneça se não ressuscita. De fato, se a ressurreição não se verifica, a natureza dos homens como homens não pode permanecer e, se a natureza dos homens não permanece, a alma se ajustou em vão às necessidades e sofrimentos do corpo, em vão foram postas peias ao corpo, impedindo-o de satisfazer seus instintos, sendo obediente às rédeas e ao freio da alma; são vãos a inteligência, o pensamento, a observância da justiça, a prática de qualquer virtude, a promulgação e ordenação das leis, em uma palavra, é vão tudo o que há de belo nos homens e para os homens; ainda mais: a própria criação e a natureza dos homens são vãs. Se, porém, ser vão está excluído de todas as obras de Deus e seus dons em todas as partes, é absolutamente necessário que, junta­ mente com a alma imorredoura, a permanência do corpo perdure eternamente conforme a sua própria natureza.

16. Ninguém se surpreenda por chamarmos de permanência uma vida interrompida pela morte e corrupção, mas considere que não existe apenas uma razão para essa denominação, nem há apenas uma medida da permanência, pois a natureza dos que permanecem também não é apenas uma. Com efeito, se cada coisa que permanece tem a permanência segundo a sua própria natureza, não é possível encontrar permanência equiparável nos seres puramente incorruptíveis e imortais, pelo fato de que as substâncias superiores não podem ser comparadas às inferiores, nem se deve buscar nos homens uma permanência simples e imutável, pois aqueles foram, desde o princípio, criados imortais e permanecem imorredouros pelo único desígnio de quem assim os fez. Quanto ao corpo, os homens recebem a incorruptibilidade pela transformação exigida pela razão da ressurreição, embora quanto à alma gozem da permanência imutável desde a criação. Visando à ressurreição, aguardamos por um lado a dissolução do corpo que se seguirá à vida de necessidades e corrupção; depois desta vida, porém, esperamos confiantemente na permanência da incorruptibilidade, pela qual não igualamos o nosso fim com o fim dos irracionais, nem a permanência dos homens com a permanência dos seres imortais, a não ser que, inadvertidamente, equiparemos desse modo a natureza e a vida dos homens com o que não convém equipará-Ias. Assim, não nos devemos preocupar se notamos alguma desigualdade na permanência dos homens, nem nos devemos desesperar da ressurreição porque a separação da alma do corpo e a dissolução de suas partes e membros corte a continuidade da vida. Com efeito, não recusamos dizer que há uma mesma vida só porque os relaxamentos das sensações e potências naturais, que naturalmente acontecem no sono, pareçam interromper a vida consciente e obriguem o homem a dormir em períodos regulares de tempo e, de certo modo, a reviver novamente. Por isso, creio que alguns chamam o sono de irmão da morte, não porque queiram explicar a genealogia deles através de mesmos pais ou antepassados, mas por causa da semelhança de situação dos que morrem e dos que dormem: quanto à sua tranqüilidade, que tanto uns como outros não se dão conta do que os rodeia ou do que lhes acontece e, ainda mais, nem mesmo de sua própria existência e vida. Portanto, se não recusamos dizer que a vida dos homens é a mesma vida, embora cheia de tanta desigualdade desde que nascemos até a nossa dissolução e interrompida por tudo o que dissemos, também não nos desesperaremos da vida após a dissolução, que traz consigo a ressurreição, por mais que, durante um pouco de tempo, seja interrompida pela separação da alma e do corpo.

17. A mesma natureza humana que, segundo o desígnio do seu Criador, desde sua origem tem a desigualdade por herança, 'tem também de forma desigual a vida e a permanência, interrompida ora pelo sono, ora pela morte, ora pelas transformações de cada idade, sem que apareça claramente nas primeiras aquelas que acontecerão depois. Quem poderia crer, se a experiência não o ensinasse, que numa gota de esperma, uniforme e diluído, está contido o princípio de tantas e tão grandes faculdades, ou que tanta diferença de massas estão aí reunidas e contraídas, isto é, os ossos, os nervos, as cartilagens, além dos músculos, carnes, entranhas e todas as partes do corpo? De fato, não se pode ver nada disso no sêmen úmido, nem se vê nas crianças o que serão os homens feitos, nem nos homens feitos o que serão os homens maduros, nem nos maduros o que serão os velhos. Entretanto, apesar de algumas coisas ditas não manifestarem absolutamente e outras indicarem apenas de maneira obscura o que será o ulterior desenvolvimento natural, nem manifestarem as transformações que sobrevêm à natureza humana, todos aqueles que não tem o juízo cego, pela maldade e a preguiça, a respeito dessas coisas sabem que antes de tudo se deve lançar o sêmen e, articulando-se as partes e membros do corpo e dado à luz o concebido, acontece o crescimento e, depois do crescimento, a maturidade; após a maturidade, o relaxamento das faculdades físicas até a velhice e, finalmente, esgotado o corpo, a dissolução. Desse modo, nesta ordem das coisas, sem que o sêmen tenha inscritas em si mesmo a vida e a forma dos homens, nem a vida a dissolução nos primeiros princípios, o encadeamento dos fatos naturais nos garante a fé do que acontecerá, mesmo não podendo vê-lo claramente; muito mais a razão, que segue o rastro da verdade por conexão natural, nos garante a fé na ressurreição, visto que ela é mais segura e superior do que a experiência para confirmar a verdade.

3ª prova: tanto o corpo quanto a alma devem ser premiados ou punidos

18. As razões que, há pouco, nos propusemos examinar e que demonstram a ressurreição, são todas da mesma espécie, pois nascem do mesmo princípio e este princípio é a origem, por criação, dos primeiros homens. Contudo, umas se afirmam pelo mesmo primeiro princípio de que nascem; outras, ao seguir a natureza e a vida dos homens, adquirem sua força demonstrativa a partir da providência de Deus para conosco. Com efeito, a causa por que e para que foram criados os homens, unida à natureza deles, adquire sua força a partir da própria criação. Contudo, a razão da justiça, segundo a qual Deus julga os que vivem bem ou mal, é tomada a partir do fim destes. De fato, nascem daí, porém dependem mais da providência.

Na medida de nossas possibilidades, provada a nossa tese através das primeiras razões, será bom também procurarmos prová-la por estas últimas, isto é, o prêmio ou castigo que, por um julgamento justo, é devido a cada homem, e, segundo a finalidade da vida humana e destas mesmas colocar por primeiro aquela que é principal e considerar antes de tudo o motivo do julgamento. Por causa da nossa preocupação de princípio e de ordem que convém à nossa tese, temos que fazer uma única advertência: aqueles que admitem Deus como Criador de todo este universo, devem também atribuir à sua sabedoria e justiça a guarda e providência de todo o criado, se desejam permanecer fiéis a seus próprios princípios. Se assim pensam sobre isso, não podem considerar que algo seja alheio ao governo e providência de Deus, mas reconhecer que o cuidado do Criador se estende a tudo, tanto ao invisível como ao visível, ao grande e ao pequeno. Com efeito, todo o criado necessita do cuidado do Criador, e, particularmente, cada coisa, segundo foi criada e para que foi criada. Não julgo oportuno descer a pormenores ou dividir agora por seus gêneros e querer fazer um longo catálogo do que é conveniente para cada natureza. Quanto ao homem, do qual agora nos propomos falar, como necessitado, ele necessita de alimento; como mortal, de sucessão; como racional, de julgamento. Ora, se cada uma das coisas ditas são naturais ao homem, e ele necessita de alimento para a vida, de sucessão para a permanência da espécie e de justiça para o que de legítimo têm o alimento e a sucessão, é forçoso que a justiça se refira também ao composto humano, pois a este se referem o alimento e a sucessão. Chamo de composto o homem com seu corpo e alma, e digo que esse homem é o responsável por todas as suas ações e receberá o prêmio ou castigo por elas. Ora, se um julgamento justo dará sobre o composto a sentença das obras, nem a alma sozinha receberá a recompensa do que realizou junto com o corpo, pois por si mesma ela é insensível aos pecados que possam ser cometidos pelos prazeres, alimentos ou cuidados corporais, nem o corpo sozinho, pois por si mesmo ele é incapaz de discernir a lei e a justiça. Ao contrário, é o homem, composto de alma e corpo, que recebe o julgamento de cada uma das obras por ele feitas; a razão, porém, não vê que isso se realize na vida presente, onde não se dá a cada um o que merece, pois vemos que muitos ateus e pessoas entregues a toda iniqüidade e maldade, chegam ao fim de sua vida sem experimentar nenhum mal e, por outro lado, outros que levam uma vida exercitada em toda virtude vivem entre dores, injúrias, calúnias, tormentos e todo tipo de calamidades; depois da morte isso acontece, uma vez que não existe mais o composto humano, pois a alma está separada do corpo e este disperso novamente naqueles elementos de que foi composto, sem conservar mais nada do seu primeiro tamanho e forma, e muito menos memória de suas obras. Portanto, permanece apenas evidentemente o que diz o Apóstolo: é preciso que este corpo corruptível e disperso se revista de incorruptibilidade, para que, vivificados pela ressurreição, seus membros mortos e novamente unidos os que se haviam separado e até totalmente dissolvido, cada um receba justamente o que realizou por meio do seu corpo, bem ou mal.

19. Portanto, contra os que confessam a providência e admitem os mesmos princípios que nós, mas depois, não se sabe como, abandonam seus próprios supostos, essas razões e muitas outras devem servir, caso se queira ampliar o que aqui foi dito de modo breve e rápido. Mas contra os que diferem de nós nos primeiros princípios, seria bom propor-lhes antes outro ponto de partida, discutindo com eles as suas opiniões e propor-lhes a seguinte questão: Relega-se a vida e a existência inteira dos homens e profundas trevas se derramam pela terra, ocultando na ignorância e silêncio os próprios homens e suas ações, ou não será mais seguro opinar que o Criador preside às suas próprias obras e vigia sobre tudo o que existe ou acontece, e é juiz de tudo o que se faz ou que se quer? Com efeito, se não existe nenhum julgamento de nenhuma das ações dos homens, estes não terão nenhuma vantagem sobre os irracionais, ou melhor, serão mais miseráveis do que eles, pois refreiam suas paixões e se preocupam com a piedade, a justiça e as outras virtudes. A vida do animal e da fera é a melhor; a virtude é uma insensatez; a ameaça da justiça é pura piada; o bem supremo é gozar de todos os prazeres. O dogma universal e a única lei de todos eles é aquele dito dos intemperantes e dissolutos: "Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos". Com efeito, a finalidade de tal vida, segundo alguns, não é sequer o prazer, mas a insensibilidade absoluta.

Todavia, se o Criador dos homens tem algum cuidado com suas próprias criaturas, e em algum lugar se guarda a justa distinção entre os que viveram bem e os que viveram mal, isso acontecerá ou na vida presente, quando ainda vivem os que vivem conforme a virtude ou a maldade, ou depois da morte, na separação da alma e do corpo e dissolução deste. Ora, em nenhum dos dois casos é possível achar que se guarde o julgamento justo. Com efeito, nem os bons recebem na vida presente a recompensa de sua virtude, nem os maus o castigo de sua maldade. E omito dizer que, subsistindo a natureza em que agora estamos, a natureza mortal não é capaz de sofrer o castigo adequado a muitos delitos ou a delitos extraordinariais-zo mente graves. De fato, aquele que matou milhares e milhares, seja ladrão, seja príncipe ou tirano, não pode pagar com uma só morte o castigo de tantos. E aquele que não teve jamais opinião verdadeira sobre Deus, mas viveu entre insolências e blasfêmias de toda espécie, que desprezou o divino, violou as leis, ultrajou tanto crianças como mulheres, assolou injustamente cidades, incendiou casas junto com seus moradores, devastou comarcas, destruiu multidões, povos e até uma nação inteira, como essa pessoa bastará em seu corpo corruptível para o castigo adequado de tantos crimes, pois a morte se antecipa àquilo que merece e a natureza mortal não é suficiente nem para um só deles? Portanto, nem na vida presente se mostra =julgamento segundo o merecido, nem depois da morte.

Necessidade da ressurreição do corpo para que haja julgamento justo

20. Com efeito, ou a morte é a extinção completa da vida, com a alma se dissolvendo e corrompendo juntamente com o corpo; ou a alma permanece por si mesma, como indissolúvel, indissipável e incorruptível, enquanto o corpo se corrompe e se desfaz, sem guardar memória de qualquer de suas obras ou consciência do que nela sofrera. De fato, extinguida totalmente a vida dos homens, de nada servirá o cuidado de homens que não vivem, nem o julgamento sobre aqueles que viveram conforme a virtude ou conforme a maldade. Nessa hipótese, porém, ficaremos de novo rodeados por todos os absurdos da vida sem lei e o enxame de aberrações que a esta seguem e a impiedade do ateísmo que é o total e o resumo dessa iniqüidade.

Na hipótese de que seja apenas o corpo que se corrompa e cada uma de suas partes desfeitas se juntem com as de sua espécie e a alma permaneça por si mesma como incorruptível, também assim não haverá lugar para o julgamento sobre ela, pois nela não haveria justiça, pois não é lícito supor que haja em Deus ou por Deus qualquer julgamento em que não haja justiça, e não há justiça no julgamento se não se conserva aquele que praticou a justiça ou a iniqüidade. De fato, aquele que praticou cada uma das ações da vida sobre as quais versa o julgamento foi o homem e não a alma por si mesma. Dizendo numa palavra: esse raciocínio não salva a justiça em nenhuma das duas hipóteses.

21. Se se trata de premiar as boas obras, cometer-se-á patente injustiça com o corpo, porque depois de ter tomado sua parte com a alma nos trabalhos da virtude, ele não a terá no prêmio; e enquanto a alma, em muitos casos, irá gozar de certa indulgência por certos pecados, aos quais foi arrastada pela debilidade e necessidade do corpo, este não entra na parte das obras boas, pelas quais suportou trabalhos na vida. Se, pelo contrário, se trata de julgar os pecadores, não se mantém a justiça para com a alma, se somente ela tivesse que sofrer o castigo do que pecou por incômodo do corpo e arrastada pelos instintos e movimentos próprios do corpo, algumas vezes como que arrebatada e seqüestrada, outras levada por ímpeto demasiadamente violento, outras por certa concomitância, por dar-lhe satisfação e atender ao cuidado de sua constituição. Como não considerar injustiça que se julgue a alma sozinha por aquilo que não lhe é próprio segundo a sua natureza, pois não sente instinto, nem inclinação, nem impulso, por exemplo, para a lascívia, a violência, a avareza, a injustiça e tudo o que nessas matérias se possa cometer de pecado? Com efeito, se é certo que a maior parte de tais males procedem do fato de os homens não dominarem as paixões que os atacam - e são atacados pelas necessidades e exigências do corpo, pois por meio delas se busca a posse e, melhor ainda, o uso das coisas; daí o casamento e todas as ações, por fim, da vida sobre a qual possa acontecer o que é pecaminoso e o que não é - onde estará a justiça, se se julga a alma sozinha em coisas em que o corpo sente primeiro a paixão e é este que arrasta a alma à participação da paixão e comunicação de ações que satisfazem suas necessidades? Então os instintos e prazeres, temores e tristezas, em cuja desordem se enraíza a responsabilidade, teriam seu movimento proveniente do corpo; em troca, os pecados que procedem de tudo isso e os castigos que acompanham os pecados seriam atribuídos unicamente à alma, sendo que esta não tem nenhuma necessidade disso, pois não sente instinto nem temor e não sofre por si mesma nada semelhante do que o homem naturalmente sofre. Mesmo quando sentimos que as paixões não pertencem somente ao corpo, mas ao homem, e nisso dizemos bem, pois corpo e alma constituem uma única vida, nem por isso diremos que tais paixões convêm à alma, se considerarmos simplesmente a sua natureza própria. Se ela não tem nenhuma necessidade de alimento, nunca pode desejar aquilo de que não tem nenhuma necessidade para existir, nem poderia lançar-se na consecução de algo que por natureza não pode usar de maneira nenhuma. Não pode também entristecer-se pela falta de dinheiro e riquezas, que nada têm a ver com ela. Se é superior a qualquer corrupção, não teme absolutamente nada que possa corrompê-la. Com efeito, não se espanta com a fome, a enfermidade, a mutilação, o ultraje, o fogo, o ferro, porque não é possível que tais coisas lhes causem algum dano; nem a dor, pois tanto os corpos como os poderes corporais não podem tocá-lo de maneira alguma. Se é absurdo atribuir as paixões como coisa própria das almas, seria o cúmulo da injustiça e algo indigno do julgamento Deus imputar unicamente às almas os pecados que nascem das paixões e os castigos que estes merecem.

22. Além do que foi dito, não seria absurdo que a virtude e a maldade não possam ser concebidas na alma separadamente do corpo - de fato, as virtudes que conhecemos são virtudes do homem e também a maldade que a elas se opõe, e não da alma separada do corpo e por si mesma - e, em troca, o prêmio ou castigo por elas recaísse unicamente sobre a alma? Poderia alguém compreender o valor e a constância unicamente na alma, que não sente medo da morte ou ferimento, da mutilação, de dano, de tormento, nem das dores que a isso se seguem, nem da calamidade que daí provém? Ou a temperança e castidade, quando nenhum desejo a arrasta para a comida, para a união sexual ou para outros prazeres e deleites, nem qualquer outra coisa a perturba por dentro ou a provoca e irrita de fora? Ou a prudência, se ela não tem diante de si o que deve fazer ou não fazer, escolher ou fugir, ou melhor, se ela não tem nenhum movimento ou impulso para nenhuma ação? Onde encontrar justiça conveniente para as almas, seja entre si mesmas, seja em relação a qualquer outro ser de espécie igual ou distinta, se elas não têm como, meios, modo para poder dar a cada um o que lhe corresponde por mérito ou eqüidade, a não ser a honra devida a Deus? Por outro lado, elas não possuem por si impulso ou movimento para usar as próprias coisas ou abster-se das alheias, pois o uso ou abstenção das coisas é considerado naquilo que naturalmente pode ser usado; a alma, contudo, por natureza, não necessita de nada e não pode usar nada; por isso, nem mesmo a chamada justiça individual é possível realizar-se numa alma dessa natureza.

23. Além de todas essas coisas absurdas, há outra: as leis são dadas aos homens e, em troca, os prêmios e castigos do fato, legítima ou ilegitimamente, recairiam unicamente sobre a alma. Se alguém recebe as leis, é justo que também receba o castigo pela sua infração, e foi o homem inteiro que recebeu as leis e não a alma por si, é o homem inteiro e não a alma por si que deve responder pelos pecados contra as leis. Com efeito, Deus não mandou que as almas se abstivessem daquilo que nada tem a ver com elas, como o adultério, o assassínio, o roubo, a rapina, a desonra dos pais e, em geral, de todo desejo que tende ao dano ou prejuízo do próximo. Assim, o mandamento: "Honra teu pai e tua mãe" não se adapta somente às almas, pois tais nomes não têm nada a ver com elas. Não são as almas que, gerando outras almas, recebem os nomes de pai e mãe, mas os homens que geram os homens. Igualmente: "Não cometerás adultério" não se pode convenientemente dizer ou compreender que se refere às almas, pois nelas não existe diferença de macho e fêmea, nem aptidão para a união sexual, nem instinto para ela. E não havendo instinto, também não é possível que haja união. Ora, naqueles em que não se dá absolutamente a união, também não se dará a legítima união, que é o matrimônio. E se não se dá a legítima, tampouco se dará a ilegítima, nem o desejo da mulher alheia e relação com ela, que é o chamado adultério. Também não se refere às almas a proibição do roubo e da avareza, porque elas não necessitam dessas coisas, cuja necessidade natural costuma ser causa dos roubos e rapinas naqueles que as praticam, como o ouro, a prata, um animal ou qualquer outra coisa apropriada para alimento, vestuário e uso. Com efeito, tudo o que os necessitados podem cobiçar como útil, é inútil para uma natureza imortal.

Deixemos, porém, a enumeração mais completa sobre tudo isso para aqueles que queiram olhar com mais cuidado cada ponto em particular ou lutar com mais afinco contra os adversários. Para nós bastam os argumentos que acabamos de expor e os que, de acordo com estes, demonstram a ressurreição. Não é oportuno que insistamos mais sobre eles, pois não nos propusemos como meta não omitir nada do que se poderia dizer, mas apenas expor sumariamente aos assistentes o que se deve pensar sobre a ressurreição e acomodar à capacidade dos ouvintes os argumentos que conduzem a isso.

4ª prova: o fim último do homem a felicidade, não é atingida nesta vida

24. Tendo já examinado em certa medida os argumentos propostos, resta-nos considerar a razão que se refere ao fim do homem, a qual já aparece clara pelo que dissemos e só necessita de exame e consideração aqui para não parecer que deixamos de mencionar alguma coisa do que foi proposto e prejudicamos a hipótese e a divisão que estabelecemos no começo. Portanto, por essa razão e em atenção ao que se poderia objetar sobre isso, haveria apenas que acrescentar uma observação, isto é, que tanto os seres de constituição natural, como os que se produzem pela arte, devem cada um ter o seu próprio fim, coisa que a inteligência universal nos ensina e aquilo que temos diante de nossos olhos nos testemunha. Com efeito, não vemos que um é o fim a que se propõem os lavradores e outro os médicos? Também não é um o fim das coisas que nascem da terra e outro dos animais que se criam sobre ela e se propagam por uma espécie de encadeamento natural? Se isso é claro e absolutamente necessário que o fim, segundo a natureza, siga as faculdades naturais ou técnicas e suas operações, também é absolutamente necessário que o fim do homem, devido à sua natureza peculiar, também se afaste do comum dos outros. De fato, não é lícito supor que deverão ter o mesmo fim os seres carentes de juízo racional e os que agem conforme a lei e a razão neles ingênitas e usam de prudente vida e justiça. Portanto, nem aquela famosa insensibilidade à dor pode ser fim próprio do homem, pois participariam dela até os que não sentem absolutamente nada, tampouco o gozo daquilo que alimenta ou deleita o corpo com toda a multidão dos prazeres, a não ser que demos a primazia à vida dos animais e sintamos que a virtude não tem nenhum fim. Com efeito, penso que este é o fim próprio dos animais e rebanhos, não, porém, de homens dotados de alma imortal e juízo racional.

25. De outro lado, também não pode ser fim do homem a felicidade da alma separada do corpo, pois não se deve considerar a vida ou o fim de um dos elementos de que o homem se compõe, mas a vida e o fim do composto dos dois. Com efeito, assim é todo homem ao qual cabe como sorte a presente existência, e a vida deste é a que deve ter algum fim peculiar. Ora, se o fim deve ser o composto, não é possível encontrar esse fim nem enquanto os homens vivem, pelas causas muitas vezes alegadas, nem a alma separada do corpo, uma vez que tal homem não pode sequer subsistir, pois logo o corpo se desfaz e se dispersa totalmente, embora a alma permaneça por si mesma. Portanto, é absolutamente necessário que o fim do homem apareça em outra constituição do composto e do próprio animal. E se isso acontece necessariamente, é absolutamente necessário que se dê a ressurreição dos corpos mortos e até totalmente dissolvidos e que novamente se reconstituam os mesmos homens, porque a lei da natureza não estabelece simplesmente o fim de quaisquer homens, mas dos mesmos homens que viveram a vida anterior. Mas não é possível reconstituir os mesmos homens, se não se devolvem os mesmos corpos às mesmas almas, e não é possível que as mesmas almas recebam de outro modo os mesmos corpos, a não ser pela ressurreição. De fato, depois que esta se houver realizado, segue-se também o fim conveniente à natureza humana; e não erraria o fim da vida inteligente e do juízo racional, quem o pusesse em conviver eternamente com aquilo a que a razão natural se adapta primariamente e acima de tudo: a contemplação do Doador e a glória e júbilo daquilo que foi por ele decretado, por mais que a maior parte dos homens, aderidos com mais paixão e veemência às coisas daqui de baixo, passem a vida sem alcançar essa meta. Com efeito, o destino comum não se invalida por causa da multidão dos que não conseguem o seu próprio fim, pois o exame dessas questões é peculiar a cada um, e a cada um é medido o prêmio ou o castigo por sua vida boa ou má.

Imagens: Ser ou não ser? Ter ou não ter?


Existem dois artigos retirados de um site protestante, "Textos da Reforma", cujos títulos mostram os seguintes dizeres "É abominação atribuir forma visível a Deus", dividido em duas partes. Digo o seguinte:CONCORDO PLENAMENTE! Pode parecer estranho afirmar isso, posto que sou católico, mas vou lhe explicar. O texto, muito bem redigido sob aspectos normativos e, aparentemente, científicos, peca em detalhes de comum engano entre a teologia protestante. Um deles é a insistência de impor algo aos católicos, e esse "algo" é a "adoração" de imagens. Sim, a palavra é imposição, pois se há alguém que afirme alguma coisa de forma contínua e insistente, mesmo após o oponente apresentar contra-argumentos já à exaustão, com todas as contra-provas possíveis, esta afirmação se transforma em imposição de idéia.

O mundo é politeísta, pode se dizer assim. Não há concordância mundial entre qual é o "deus" que predomina, se há algum "deus" que predomina no mundo. O Deus dos cristãos é Iahweh, assim como dos judeus. O deus dos muçulmanos é Alah, que nada mais é do que o nome "deus" em árabe. Os espíritas dizem crer no mesmo deus que os cristãos, pois que "o cristianismo e o espiritismo ensinam as mesmas coisas" (citação livre do livro "Evangelho segundo o espiritismo"). Já nos tempos do patriarca Abraão, os babilônios dispunham de vários deuses, assim como todos os demais povos. A saber, Abraão foi o primeiro a professar o monoteísmo. Os romanos e gregos compartilham deuses que mudam de nome de uma cultura para outra, mas completamente antropomórficos. As religiões dos orixás fervilham em entidades deificadas. Os indígenas possuem deuses que hoje já deram até nome de time de futebol (aqui no Maranhão existe um time com nome de Tupã). O hinduísmo, com suas grandes histórias contidas nos Vedas, nos mostram deuses hierarquizados, aos milhares. Nas épocas antigas a superstição imperava no aparecimento de deuses. Para os nórdicos existe Tor, deus do trovão, filho de Odin, o deus dos deuses, e eterno inimigo de seu meio-irmão Loki, deus do mal. E assim vários outros deuses, ligados a algum fato natural ou função humana. Como vimos, "deuses" não faltam.

Entretanto, as três grandes religiões do mundo são monoteístas. A saber, o judaísmo, cristianismo e islamismo. Tudo começou quando Deus chamou o babilônio Abrão para uma terra desconhecida, e lhe prometeu ser "pai de uma multidão de povos". A partir daí se formou o povo hebreu, mais tarde a religião judaica. O cristianismo teve seu embrião quando, na plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho à terra para salvar-nos da segunda morte. Pouco mais de meio milênio após, ao futuro líder religioso Mohhammad foi enviada uma mensagem, proveniente de Deus, pelo arcanjo Gabriel. Era o Alcorão. Estava nascendo a religião islâmica.

É interessante notar que o Deus cristão é Uno e Trino, enquanto no judaísmo e islã Ele é tido como Único, sem Trindade nenhuma.

A estas três religiões Deus fez-se entender através de várias formas. Os livros sagrados das três religiões são incontestavelmente,para elas, obras de Deus, palavra inerrante e perfeita, e deve ser seguida como preceito divino, como o é de fato. O Torah judaico, oEvangelho cristão e o Alcorão islâmico formam o conjunto das revelações de Deus para estes povos. Desobedecer algo que esteja escrito, partindo do pressuposto de que é palavra de Deus, é desobedecer ao próprio.

Moisés e o Pentateuco

Ao profeta Moisés Deus deu autoridade para ir diante do faraó egípcio que mantinha seu povo em cativeiro e reivindicar a liberdade, sob pena de castigo divino. Após o feito, a libertação do povo hebreu, Moisés levou-os ao deserto, tudo sob guia de Deus. No monteSinai Deus teve uma conversa com Moisés, na qual deu a ele, escrita pelo dedo de Deus, as leis. Todo o Pentateuco, com exceção do Gênesis, agora dispõe de uma base legal para a formação da religiosidade do povo liberto por Deus do Egito, o qual fora prometida uma terra "que emana leite e mel".

Essas leis, chamadas de Decálogo, estão escritas no livro do Êxodo, no capítulo 20, e repetidas no livro do Deuteronômio. Este é um dos capítulos mais usados pelos cristãos protestantes para acusar os católicos de "idolatria". Vamos a ele, versículo 4:
Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima no céu, ou embaixo sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra.

Seguem-se os demais itens da lei.

No livro do Deuteronômio, caps. 27 e 28, estão umas das mais belas e mais aterrorizantes expressões de toda a bíblia: as bênçãos e as maldições. Dt 27, 15 cita o seguinte:
Maldito o homem que fabrica ídolo de madeira ou metal (abominação ao Senhor, obras de mãos de artesãos), e o erige mesmo que seja em lugar escondido.

Daí por diante a leitura nos acalma e apavora, nem sempre nessa ordem.

A caminhada de Moisés é encerrada com a idade de 120 anos, antes que ele pudesse atravessar o rio Jordão, por ordem de Deus, que também indicou Josué para ser o novo líder do povo de Israel. Moisés disse a Josué "Mostra-te varonil e corajoso, porque entrarás com esse povo na terra que o Senhor jurou a seus pais dar-lhes, e a repartirás entre eles". (Dt 31, 7). Moisés, após um belo discurso abençoando as tribos de Israel, subiu ao monte Nebo, bem em frente à cidade prometida: Jericó, onde "morreu ali na terra de Moab, como o Senhor decidira" (Dt 34, 5).

Êxodo 20, 4a versus Êxodo 25, 18a.

Logo após Moisés ter recebido a lei do próprio Deus, ao descer do monte Sinai, focalizou algo que, como diríamos, foi o cúmulo. Os israelitas estavam adorando uma imagem, um bezerro feito de ouro que, para aquele povo, era o teu deus, que te tirou do Egito (Ex 32, 4b). É importante notar aqui esta frase, proclamada pelo povo: "Eis, ó Israel, o teu deus". Note que o povo proclamava que o bezerro de ouro era um deus, e cantavam e dançavam ao redor dele. Também é interessante que Israel não tinha por intenção primária adorar outro deus, mas sim o mesmo Deus que os tirou do Egito, mas, fabricando uma imagem do invisível, acabariam poradorar uma criatura esculpida (um bezerro). A causa disto, sem dúvida, foi a demora de Moisés em descer do monte.

Em Êxodo 20, 4a temos estas palavras de Deus:
Não farás para ti escultura

Em Êxodo 25, 18a temos, também de Deus, estas palavras:
Farás dois querubins de ouro.

É comum observar a teologia protestante não atribuir importância a esse fato tão óbvio. O protestantismo alega que esses querubins não foram feitos para o mesmo fim que as imagens católicas são. Afirmam que "os Querubins, de asas estendidas, ocultavam a Deus, o véu o cobria e o próprio lugar, tão escondido, de si mesmo o ocultava (Ex 25.17,18,21). Portanto, salta aos olhos que os que tentam defender uma imagem de Deus ou de santos, citando o exemplo desses Querubins, estão enlouquecidos. Suplico, pois: Que significavam essas imagenzinhas senão que não existem formas apropriadas pelas quais se possam representar os mistérios de Deus? Elas foram feitas para, velando com as asas o propiciatório, impedir não só que os olhos humanos vissem a Deus, mas também com quaisquer de todos os outros sentidos e, dessa forma, pusessem um paradeiro à temeridade dos homens". Essas "imagenzinhas" são, ironicamente, ordens de Deus. O que se discute aqui é a questão de proibir ou não uma imagem, e não de como usá-la. Deus, através da imagem da serpente de bronze, é quem vai nos mostrar como usar uma imagem.

Voltando ao texto, vemos que alude a uma "tentativa" da Igreja Católica de defender uma imagem de Deus ou de santos, mas vamos observar o seguinte:

Deus disse:
Não farás para ti escultura

E depois disse:
Farás dois querubins de ouro

Pode Deus ordenar uma coisa e depois "desordená-la" logo após? Claro que sim, afinal, Ele é Deus e pode tudo. Ele poderia permitir algo que Ele mesmo proibiu? Claro, Ele criou a lei, Ele É acima da lei. Esse detalhe mostra que Deus proibiu a confecção de imagens, mas não o fez de forma absoluta. Para tudo Deus tem motivos, planos. A proibição de imagens teve um motivo, que quem estuda a bíblia mais profundamente, juntamente com a história das civilizações daquela época, consegue discernir. Da mesma forma, apermissão de Deus para que fossem feitas imagens também teve um motivo. Não há aqui contradição, mas uma sabedoria que transcende a nossa razão. Deus permitiu que fossem feitas certas imagens porque elas não teriam a função que as demais imagens porventura feitas pelo seu povo teriam: serem adoradas no Seu lugar. Aliás, não seriam elas, as imagens, o alvo da proibição de Deus, mas a crença em deuses fora dEle, o afastamento da aliança de Seu povo para com Ele. Este era o fim pelo qual o objeto que causava tais coisas, naquele tempo as imagens de deuses estranhos, foram proscritas, pois era assim que os povos representavam seu cotidiano, sua história, seus deuses, etc.

A ordem de Deus na feitura dos querubins era para proteger a tampa da Arca da Aliança, e era onde Deus se manifestaria, do meio dos querubins (Ex 25, 22). Esses pequenos querubins não seriam adorados, mas com certeza, seriam respeitados como objetossagrados, assim como toda a Arca, pois era lá que estava a lei de Deus. É isso que a Igreja Católica entende e ensina sob o nome deVeneração.

Lemos em Números 21, 8-9:
E o Senhor disse a Moisés: faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste... Moisés fez, pois, uma serpente de bronze

Se a ordem de Deus em Ex 20, 4 fosse absoluta, sem exceções, Moisés seria, "como os católicos", idólatra? Mas não é esse o caso. Essa imagem também não era feita para adoração, mas era tida pelos hebreus com o maior respeito (veneração), por ser algo sagrado, mandado por Deus, pois quem olhasse para ela seria salvo, no sentido de obter a saúde, mas também uma figura da salvação oferecida por Nosso Senhor na cruz. E não era a imagem que salvava, mesmo o povo olhando em direção a ela, era Deus quem fazia a obra. Qualquer semelhança com hoje não é mera coincidência. A teologia protestante também vê aqui um "engano" católico. Essa serpente de bronze foi destruída pelo rei Ezequias, filho de Acaz, rei de Judá, pois o povo estava prestando adoração a ela. Vejamos:
Destruiu os lugares altos, quebrou as estelas e cortou os ídolos de pau, Asserás. Despedaçou a serpente de bronze que Moisés tinha feito, porque os israelitas tinham até estão queimado incenso diante dela (Chamavam-na Nehustã) (2 Rs 18,4)

O protestantismo aqui alega mais uma passagem contra as imagens, dizendo que o próprio Deus ordenou a sua destruição. E têmtoda razão os evangélicos. Deus realmente ordenou a destruição dessa imagem, mas, como sempre, por algum motivo, qual seria?Os israelitas estão queimando incenso diante dela. Em outras palavras, estavam adorando-a, tanto que deram até nome a ela. Aqui não há semelhança com a queima de incenso usada pelos católicos pelo seu significado. Deus deu tal ordem porque Seu povo começou a confundir algo que deveria ser venerado, e passaram a substituir as honras e adoração devida a Deus pela imagem da serpente.

Existe uma frase do direito romano que diz Abusus non tollit usus, o abuso não proíbe o uso. Sendo verdade que existem católicos que adoram imagens, o que não é nada impossível, mesmo assim não seria motivo para destruir nem para deixar de usá-las. Aqui não há proibição para a feitura de imagem, mas fica clara a proibição quanto a adoração de imagem como um verdadeiro deus ou deusa, em esquecimento do Deus único e verdadeiro. Daí a proibição de Êxodo 20, 4. Quando, diante de uma imagem, diz-se "tu és meu Deus", isto é idolatria. Mas é exatamente isto que os católicos não fazem. Veja o exemplo do bezerro de ouro. Os israelitas, com todas as palavras, disseram "Eis o teu deus Israel". Aos santos e santas da Igreja não é dado outro nome que não o seu próprio, e não outra qualidade que não a que Deus os concedeu, a santidade, não a divindade. Não dizemos "ó São Francisco, nosso deus"... Sobre nós, católicos, dizem: "Eles dizem: ?Não chamamos às imagens de nossos deuses.? Nem os judeus nem os gentios chamavam deuses outrora". A observação do episódio do bezerro em si atesta o erro da assertiva.

A Igreja Católica atribui formas visíveis a Deus?

As manifestações de Deus (teofania) eram visíveis. Mas a Igreja nunca intencionou atribuir forma visível a Deus, pois Ele é um Deusinvisível, e não pode ser representado. As visões de Deus na bíblia apontam para um ancião sentado em um trono, mas a Igrejanunca impôs alguma imagem, nem de Deus nem de ninguém, nem repreende quem a faz de livre e espontânea vontade e sem compromisso. Dizer que a Igreja busca reproduzir uma imagem de Deus e que adora outros deuses é um grande absurdo. Deus éinvisível, por isso toda tentativa de representa-lo como Ele deve ser e cultuar como uma divindade essa representação é correr risco de representar um deus desconhecido, e cair na idolatria. Outro motivo para Ex 20, 4.

Entretanto, quando o Senhor fez-se carne e habitou entre nós pelo seio virginal daquela que deve ser proclamada bem-aventurada por todas as gerações, Ele adquiriu forma humana, e, apesar de não haver nenhum "retrato falado" de Jesus, as fontes disponíveis tornaram possíveis as representações de Deus-Filho, nunca de Deus-Pai. Mesmo assim, a Igreja nunca definiu nenhuma imagem oficial, pois ela sabe que não chegará ao fiel. É por isso que Jesus é desenhado até sem a barba por alguns artistas.

Os cristãos sempre atribuíram formas às histórias bíblicas. Nas catacumbas romanas estão desenhos dos mais antigos. Os cristãos primitivos, que eram marginalizados, se reconheciam pela imagem do peixe (ictis). Existem ícones atribuídos a São Lucas, que era grego. Inicialmente Jesus era representado como um pastor de ovelhas, em alusão à figura do Bom Pastor, e posteriormente passou a ser representado como crucificado. Não havia idolatria nenhuma nisso.

Quanto ao texto, este cita o seguinte "Uma vez feitas as imagens que representam Deus, segue-se de pronto a sua adoração, porque nelas os homens pensam contemplar a Deus e nelas também O adoram". Vemos que o erro está na forma de conceber a utilidade das imagens na Igreja Católica: "imagens para representar Deus". Este é outro pecado da teologia protestante. Construir imagempara representar Deus sempre será erro, até heresia, pois Ele não tem forma, é imaterial, não tem limites. Mas Seu Filho feito homemsim! E este pode ser representado. As imagens de santos em nenhum lugar onde pise um católico neste mundo têm objetivo de representar ninguém menos do que o próprio santo, e não Deus.

Não passa pela cabeça de católico algum que um Santo seja um "deusinho" para competir com o Deus verdadeiro; pelo contrário, sabemos todos que os Santos são Santos pela Graça de Deus. Ao se fazer uma imagem de um Santo, sabemos que não está se fazendo um "deusinho", mas homenageando, como se homenageia com uma estátua em via pública, um irmão nosso que, nas palavras de São Paulo, chegou ao fim da corrida assim como admiramos a beleza da ação de Deus e Seu Espírito nesta pessoa, por isso damos tanta importância e respeitamos tanto os Santos do Senhor, pois não eram mais eles que viviam, mas o próprio Cristo que vivia neles, como nos diz São Paulo. Uma imagem não é sacra por ser uma imagem; ela deve ser abençoada, isto é, dedicada por um sacerdote ao serviço de Deus. Por ter sido abençoada, por ter se tornado um Sacramental, um objeto separado pela Igreja para o culto a Deus. Semelhante aos judeus com a arca, devemos ter com ela o cuidado devido a algo que é propriedade exclusiva de Deus, além de representar alguém que é uma obra-prima de Deus: um Santo.

O que, na verdade, ensina a Igreja Católica?

A Igreja ensina o seguinte.
A imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar Deus invisível e incompreensível; é a encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova "economia" de imagens.
Antigamente Deus, que não tem nem corpo nem aparência, não podia ser em absoluto representado por uma imagem. Mas agora, que se mostrou na carne e viveu com os homens, posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus (...) com o rosto descoberto, contemplamos a glória do Senhor (São João Damasceno, Imagens, 1, 16)
A iconografia cristã transcreve pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela palavra. Imagem e palavra iluminam-se mutuamente
Todos os sinais da celebração litúrgica são relativos a Cristo: são-no também as imagens sacras da santa mãe de Deus e dos santos. Significam o Cristo que é glorificado neles. Manifestam a "nuvem de testemunhas" (Hb 12,1) que continuam a participar da salvação do mundo e às quais estamos unidos, sobretudo na celebração sacramental. Através dos seus ícones, revela-se à nossa fé o homem criado "à imagem de Deus" (Rm 8, 29) e transfigurando-se "à sua semelhança" (1 Jo 3, 2), assim como os anjos, também recapitulados por Cristo.
Na trilha da doutrina divinamente inspirada por nossos santos padres e da tradição da Igreja Católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que nela habita, definimos com toda a certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e salvador, Jesus Cristo, como a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos. (II Concílio Ecumênico de Nicéia, 787).
A contemplação dos ícones santos, associada à meditação da Palavra de Deus e ao canto do hinos litúrgicos entra em harmonia dos sinais da celebração para que o mistério celebrado se grave na memória do coração e se exprima em seguida na vida nova dos fiéis.

Estes textos são dos parágrafos 1159-1162 do Catecismo da Igreja Católica.

Entretanto, a observação protestante não vê dessa forma. As imagens católicas, ao invés de "veneráveis" são "adoráveis". Sim, são "adoráveis". "Adorável", tudo neste mundo é! Mas não são adoradas, são veneradas.

Mas "Não ignoro, nem se pode disfarçar, que eles fogem do problema, criando uma distinção enganadora, distinção de que faremos menção, novamente, de forma mais completa, mais adiante. Dizem eles que o culto que prestam às imagens é eidoludeleian(=serviço à imagem) e não eidolatria (=adoração de imagem). Falam assim, quando ensinam que, sem ofensa a Deus, pode-se atribuir ? às representações de escultura e pictória ? o culto a que dão o nome de dulia. Portanto, julgam-se sem culpa se são apenas os servos da imagem, e não adoradores também. Como se o servir não fosse mais importante que o adorar!". Servir não é adorar em si. Poderíamos estender este possível conceito para os demais campos da vida? Se um empregado "serve" ao seu patrão, ele é um idólatra, pois, na verdade, está "adorando" aquele chefe. O que dizer dos responsáveis pela manutenção de esculturas nos museus, pelas empregadas domésticas, etc? Todos estes "servem" algo ou alguém o seu trabalho. Seriam os responsáveis pela limpeza de uma estátua, idólatras, mesmo sendo evangélicos? Poder-se-ia dizer que não é este o sentido da palavra servir. Pois qual seria?Servir no sentido de adorar? Então a palavra não é "servir" e sim "adorar". O serviço a Deus é uma coisa. Adoração a Ele é outra. Muitas pessoas pelo mundo O servem, mesmo sem saber, pois não O conhecem, mas possuem em seus corações a essência de Seu mandamento. Por outro lado, existe quem o "adore", mas não o serve, buscando apenas serem servidos.

É abominação atribuir forma visível a Deus? CONCORDO PLENAMENTE, reafirmo. Qualquer forma de atribuir uma imagem a Deus-Pai é errado. É abominação atribuir forma visível a Deus-Filho? Não! Deus-Filho, Nosso Senhor Jesus, tem forma humana visível,imagem do Deus invisível (Cl 1, 15). Ele pode ser representado, e é isto que os cristãos sempre fizeram, sem perigo de ser um "deus falso".

Quanto à idolatria, a Igreja ensina que
o primeiro mandamento condena o politeísmo. Exige que o homem não acredite em outros deuses afora Deus, que não venere outras divindades afora a única. A Escritura lembra constantemente esta rejeição de "ídolos, ouro e prata, obras das mãos dos homens", os quais "têm boca e não falam, têm olhos e não vêem...". Esses ídolos vãos tornam as pessoas vãs: "os que fazem ficam como eles, todos aqueles que neles confiam" (Sl115, 4-5.8). Deus, pelo contrário, é o Deus "vivo" (Js 3, 10, etc), que faz viver e intervém na história.
A idolatria não diz respeito somente aos falsos cultos de paganismo. Ela é uma tentação constante da fé. Consiste em divinizar o que não é Deus. Existe idolatria quando o homem honra e venera a uma criatura em lugar de Deus, quer se trate de deuses ou demônios, do poder, do prazer, da raça, dos antepassados, do Estado, do dinheiro, etc. "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro" disse Jesus. Numerosos mártires foram mortos por não adorarem "a besta" (Ap 13-14), recusando-se até a simular seu culto. A idolatria nega o senhorio exclusivo de Deus, é, portanto, incompatível com a comunhão divina.
O idólatra é aquele que "refere a qualquer coisa que não seja Deus a sua indestrutível noção de Deus".

A teologia protestante, para esta descrição, diria "mas é isso que os católicos fazem, venerar um santo no lugar de Deus". Esta afirmação carece de entendimento. Nós católicos veneramos santos, mas não no lugar de Deus. Deus continua sendo venerado e adorado sempre, sem "substituição". Se se prestassem bem atenção às orações dirigidas aos santos poderia-se perceber que o fim, o objetivo da oração é a intercessão do santo a alguém maior que ele, e esse alguém é Deus. Apesar de o catolicismo popular geralmente exagerar nas devoções, e, aparentemente, parecer uma "idolatria", na profundidade percebemos que não há culto de adoração a determinado santo ou santa, mas profundíssimo respeito e fé em sua intercessão. Deus conhece o coração de cada um de nós.

Quando se questiona o ato de se prostrar em frente a uma imagem como evidência de adoração se esquece que este ato de se prostrar não significa adorar, mas sim uma forma de representar respeito, humilhação ou humildade. Não podemos acusar o patriarca Abraão de idólatra quando tendo levantado os olhos, apareceram-lhe três homens que estavam em pé junto dele; logo que os viu, correu da porta da tenda ao seu encontro, e prostrou-se por terra. E disse: Senhor, se achei graça diante dos Teus olhos, não passes adiante do teu servo (Gn 18,2), pois o ato em frente aos três homens, que na verdade eram anjos, não o desviou de Deus, como atesta sua oração. Os católicos, ajoelhando-se em frente a uma imagem nem por isso estão adorando-a, não a tem como deus, mas como um santo que pode interceder em favor deles, como atestam as suas orações. Creio que ainda vamos conversar sobre a intercessão dos santos...

São Tomás de Aquino, em sua famosa Summa Theologica, diz que
O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidade, mas as considera em seu aspecto próprio de imagem que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem.

Iconoclastas ? certos ou errados?

Em alguns pontos da história, a população cometeu excessos, fazendo com que houvesse uso abusivo das imagens. No século VIII, na Igreja Oriental, surgiu o movimento chamado iconoclasmo. Desde o começo, a arte cristã representou os santos. Na piedade popular dos gregos os famosos ícones tinham papel importante, sendo, sobretudo monges que incentivavam o uso das imagens como forma de avivar a fé. Contudo, como em outras expressões da Igreja Oriental, também aqui o perigo de excessos e usos errados das imagens era iminente. Desenvolveu-se uma verdadeira comercialização de imagens fora do âmbito da igreja (isso é importante frizar!). Houve abusos na representação de Cristo e Maria Santíssima nos mais variados objetos, desde móveis e roupas até brincos e anéis. Paulatinamente a população começou a confundir a imagem com o santo que a representava. Para esse povo simples, a diferença entre adoração e veneração corria o risco de ser esquecida.

No início do século VIII, desencadeia-se a luta entre os aguerridos adeptos das imagens e seus fanáticos adversários, os iconoclastas (destruidores de imagens). O imperador bizantino Leão III, o Isáurico, que libertara Constantinopla do islã em 717, e empreendia então a reconquista da Ásia Menor, colocou-se à frente dos iconoclastas. Ordenou, em 730, a retirada de todas as imagens das igrejas, inclusive as pintadas nas vestes litúrgicas. Esse movimento tinha influência das culturas judaicas e maometanas, sendo ambas radicais quanto às imagens. Só lembrando que em alguns países muçulmanos nem mesmo um retrato da mãe pode ser visto porque Alá é o único Deus e só Ele pode ser adorado.

Continuando. Leão III combateu os excessos da população com outro excesso, a destruição das imagens sacras. Como já Abusus non tollit usus. A representação de Cristo e dos santos pertencia legitimamente à herança cristã. Sua proibição radical feria a tradição secular da Igreja, e não tardou em assumir o iconoclasmo ares de heresia, pelo fato de parecer negar o direito de representar a humanidade de Cristo.

O patriarca de Constantinopla, Germano, recusou-se a aceitar a ordem do imperador e foi deposto. O papa da época, Gregório II excomungou os iconoclastas. Os monges se rebelaram abertamente. A luta pelas imagens sacras tomou ares de verdadeira guerra civil, que abalou os fundamentos do império. O povo viu no iconoclasmo uma monstruosa manifestação de despotismo político por parte do imperador. Meio século se passaria antes que voltasse a paz. A ortodoxia obteve a vitória quando a imperatriz Irene (797-802) alterou a política em favor da veneração das imagens. O Concílio Ecumênico de Nicéia II (787 d.C) restaurou a veneração das imagens, mas tomou medidas para que novos excesso não viessem a ocorrer de novo. Uma nova perseguição iconoclasta teve lugar sob o governo do imperador leão V, o Armênio (813-820), e seus seguidores. Até que, pela segunda vez, uma mulher assumisse o trono, a Imperatriz Teodora (842-856). Com ela a guerra iconoclasta teve seu fim definitivo em 842.

O Santo Concílio Ecumênico de Nicéia, 787 d. C.

O Concílio Ecumênico de Nicéia (787 d.C) restaurou a veneração das imagens, mas tomou medidas para que novos excesso não viessem a ocorrer de novo. O Santo Concílio disse:
Nós definimos com todo o vigor e cuidado que, à semelhança da representação da cruz preciosa e vivificante, assim as veneradas e sagradas imagens pintadas, quer em mosaico, quer em qualquer outro material adaptado, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus, nas alfaias sagradas, nos paramentos sagrados, nas paredes e nas mesas, nas casas e ruas, sejam elas a imagem do Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo, a da imaculada Senhora nossa, a santa mãe de Deus, dos santos anjos e de todos os santos justos

A Igreja Católica jamais obrigou alguém a adorar uma imagem - ao contrário do que as igrejas protestantes impõem. Prova disso são os documentos editados nestes 2000 anos pelo Magistério da Igreja, bem como pelos Padres e Teólogos católicos. Há, assim, uma unanimidade entre a Bíblia, a Sagrada Tradição e o Magistério, o que bem demonstra o fiel cumprimento da Palavra de Deus. Aliás, é bom que se diga: a Igreja Católica sempre condenou, desde os tempos apostólicos, a adoração de imagens. O catecismo do Concílio de Trento, em 1566, disse
A idolatria é cometida quando se adoram ídolos e imagens como se fossem Deus, ou quando se acredita que elas possuem qualquer divindade ou virtude que autorizam sua adoração, orando para elas ou confiando nelas

Também o novo Catecismo da Igreja Católica, fiel à Palavra de Deus, condena a adoração de imagens em seus parágrafos 2112 à 2114, já citados aqui. Portanto, por que retirá-las - já que não são deuses - se elas ajudam mais do que atrapalham, principalmente no campo pedagógico? Se, para você, elas são "abominação", simplesmente não faça uso delas, porém, não as condene indiscriminadamente, pois até Deus as mandou fazer (cf.: Ex 25,18-20; 1Cr 28,18-19; Ez 41,15; Nm 21,8-9; etc...).

Não é porque os católicos têm estátuas nos templos e oram na frente delas que estão necessariamente violando o mandamento divino de Ex 20,4. Deus nunca condenou o uso de imagens; o que ele proibiu foi que adorássemos as imagens como, de fato, ocorreu com os hebreus que, verdadeiramente, adoraram um bezerro de ouro e, mais tarde, a própria serpente de bronze. Seria bom se o protestantismo não usasse as imagens para justificar sua posição separado, pois nem a própria Bíblia fornece subsídios suficientes para isso.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

(Download) Novo Testamento interpretado Versículo por Versículo – Completo Autor: R. N. Champlin



                                         

TODOS OS VOLUMES DO NOVO TESTAMENTO


volume 01
http://www.mediafire.com/?okuz76cwwr4o76s



volume 02
http://www.mediafire.com/?12e3hdpv1n2duc6



volume 03
http://www.mediafire.com/?gmc80bew0k37623



volume 04
http://www.mediafire.com/?mplympzr6rh0i7j


volume 05
http://www.mediafire.com/?mhglbmjgo4ligtt


volume 06
  http://www.mediafire.com/?e4k6oqnmh6fyotr

(download) Comentário Bíblico do Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo – Completo Autor: R. N. Champlin


Comentário Bíblico do Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo – Completo
Autor: R. N. Champlin
                                                          

O Antigo Testamento é, sem dúvida, uma das mais belas e importantes obras da humanidade nos últimos tempos.

Desde a reunião, em um único livro, das passagens que contam a verdadeira e marcante história do povo de Israel e os grandes feitos do Todo-Poderoso, milhares de tenazes estudiosos há anos vêm se debruçando sobre as páginas desse grandioso livro, com a intenção de ampliar seus conhecimentos sobre os originais do Antigo Testamento. Editada em 7 volumes, esta preciosa obra reúne quase uma década de trabalho do Dr. R. N. Champlin.



Em suas páginas, o leitor terá a oportunidade de acompanhar versículo a versículo todas as passagens do Antigo Testamento, tendo como auxílio:

– Os comentários sobre cada capítulo;
– As explicações de cada versículo no contexto do capítulo;
– O significado das palavras-chave e dos principais termos;
– As referências bibliográficas;
– Além de muitos outros recursos, tudo de maneira bem clara, fiel e confiável.

O Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo é um excelente instrumento para estudos, para a preparação de sermões, para o aprofundamento dos seus conhecimentos e, principalmente, para o seu crescimento espiritual.

Uma obra importantíssima e imprescindível na sua biblioteca por muitos e muitos anos.

Acesse o Link
Acesse o Link
Acesse o Link
Acesse o Link
Acesse o Link
Acesse o Link
ou


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Padre Fábio de Melo - O Segredo das Bem - Aventuranças

Acesse o Link

Programa Direção Espiritual - Pe. Fábio de Melo - Crise de Fé

Acesse o Link

Programa Direção Espiritual - Pe. Fábio de Melo - Amar Mesmo Sem Razão

Acesse o Link

Programa Direção Espiritual - Pe. Fábio de Melo - Parar de Achar Sobre os Outros

Acesse o Link

Quem Tem Um Amigo Tem Um Anjo - Padre Fábio de Melo

Acesse o Link