JH - Como surgiu a ideia de escrever
uma trilogia sobre como o cinema retratou Jesus?
AC - Ela tem haver com meu atual
projeto de pesquisa no Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Vale lembrar, ao mesmo tempo, que
há um campo específico de estudo que analisa de forma intensa a relação cinema
e Jesus desde os anos setenta do século XX. Uma pessoa interessada poderá
conhecer parte dessa extensa produção historiográfica consultando a
bibliografia do livro “Jesus no Cinema. Um Balanço Histórico e Cinematográfico
entre 1905-1927”.
JH - Você aborda o período entre 1905
e 1927. Qual filme você poderia destacar e por quê?
AC - Para esse período, há bons
filmes, mas, se for para destacar um deles, eu citaria “Intolerância” de
Griffith.
Esse diretor foi o responsável
por instaurar uma linguagem específica para o cinema, que a distinguia, por
exemplo, do teatro. Ele também foi o responsável por inserir os cortes nos
filmes, bem como estabelecer um diálogo entre o Jesus do século I, com aquele
de sua própria época.
JH - Na sua concepção como Jesus
deveria ser, de fato, abordado no cinema?
AC - Não acho que exista uma abordagem
e/ou um tratamento específico para Jesus no cinema. Ao contrário, acho que a
polifonia e a polissemia, acompanhadas de retratos multifacetados, dizem muito
sobre a nossa recepção acerca do Nazareno do século I.
JH - Algum dos filmes analisados
chegou mais perto dessa sua análise (referente à terceira pergunta)?
AC - Em se tratando dos filmes mudos, é flagrante a forma
como as recepções acerca de Jesus variam de maneira significativa, especialmente
quando comparamos as leituras de Alice Guy, Robert Weine e Griffith. Por se
tratar de uma mulher, a francesa Guy trouxe um olhar muito original, ao fazer
das mulheres discípulas de Jesus. Já alemão Weine enfatizou dramaticamente um
Jesus racializado, sisudo, avesso às questões terrenas. O norte-americano
apresenta um Jesus bastante humano, próximo das pessoas, com um comportamento
abertamente liberal.
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