Da natureza dos primeiros mitos romanos
Antiga mitologia sobre os deuses
Principais deuses romanos
A pantera, o cântaro, a vinha e um cacho de uvas. Outras associações que não eram feitas com Baco foram atribuídas a Dioniso, como o tirso que ele empunha ocasionalmente.
História
Sémele quando estava grávida exigiu a Júpiter que se apresentasse na sua presença em toda a glória, para que ela pudesse ver o verdadeiro aspecto do pai do seu filho. O deus ainda tentou dissuadi-la, mas em vão. Quando finalmente apareceu em todo o seu esplendor, Sémele, como mortal que era, não pôde suportar tal visão e caiu fulminada. Júpiter tomou então das cinzas o feto ainda no sexto mês e meteu-o dentro da barriga da sua própria perna, onde terminou a gestação.
Ao tornar-se adulto, Baco apaixona-se pela cultura da vinha e descobre a arte de extrair o suco da fruta. Porém, a inveja de Juno levou-a a torná-lo louco a vagar por várias partes da Terra. Quando passa pela Frígia, a deusa Cíbele cura-o e o instrui nos seus ritos religiosos. Curado, ele atravessa a Ásia ensinando a cultura da vinha. Quis introduzir o seu culto na Grécia depois de voltar triunfalmente da sua expedição à Índia, mas encontrou oposição por alguns príncipes receosos do alvoroço por ele causado.
Baco percebe a trama, olha para o mar entristecido, e de repente a nau pára no meio do mar como se fincada em terra. Assustados, os homens impelem seus remos e soltam mais as velas, tudo em vão. O cheiro agradável de vinho se alastra por toda a nau e percebe-se que vinhas crescem, carregadas de frutos sob o mastro e por toda a extensão do casco do navio e ouve-se sons melodiosos de flauta. Baco aparece com uma coroa de folhas de parra empunhando uma lança enfeitada de hera. Formas ágeis de animais selvagens brincam em torno de sua figura. Os marinheiros levados à loucura começam a se atirar para fora do barco e ao atingir a água seus corpos se achatavam e terminavam numa cauda retorcida. Os outros começam a ganhar membros de peixes, suas bocas alargam-se e narinas dilatam, escamas revestem-lhes todo o corpo e ganham nadadeiras em lugar dos braços. Toda a tripulação fôra transformada e dos 20 homens só restava Acetes, trêmulo de medo. Baco, porém, pede para que nada receie e navegue em direção a Naxos, onde encontra Ariadne e a toma como esposa. Cansado de ouvir aquela historia, Penteu manda aprisionar Acetes. E enquanto eram preparados os instrumentos de execução, as portas da prisão se abrem sozinhas e caem as cadeias que prendiam os membros de Acetes. Não se dando por vencido, Penteu se dirige ao local do culto encontrando sua própria mãe cega pelo deus, que ao ver Penteu manda as suas irmãs atacarem-no, dizendo ser um javali, o maior monstro que anda pelos bosques. Elas avançam, e ignorando as súplicas e pedidos de desculpa, matam-no. Assim é estabelecido na Grécia o culto de Baco. Certa vez, seu mestre e pai de criação, Sileno, perdeu-se e dias depois quando Midas o levou de volta e disse tê-lo encontrado perdido, Baco concedeu-lhe um pedido. Embora entristecido por ele não ter escolhido algo melhor, deu a ele o poder de transformar tudo o que tocasse em ouro. Depois, sendo ele uma divindade benévola, ouve as súplicas do mesmo para que tirasse dele esse poder.
Literatura
Cupido; deus do amor
Cupido era geralmente representado como um menino alado que carregava um arco e um carcás com setas. Os ferimentos provocados pelas setas que atirava despertavam amor ou paixão em suas vítimas. Outras vezes representavam-no vestido com uma armadura semelhante à que usava Marte, talvez para assim sugerir paralelos irónicos entre a guerra e o romance ou para simbolizar a invencibilidade do amor. Embora fosse algumas vezes apresentado como insensível e descuidado, Cupido era, em geral, tido como benéfico em razão da felicidade que concedia aos casais, mortais ou imortais. No pior dos casos, era considerado malicioso pelas combinações que fazia, situações em que agia orientado por Vénus.
O mito de Cupido e Psiquê
Um certo dia, Vênus estava admirando a terra quando avistou uma bela moça chamada Psique. Vênus era uma deusa muito vaidosa e não gostava de perder em matéria de aparência, muito menos para uma mortal. Vênus chamou Mercúrio e disse-lhe: "- Mande esta carta para Psiquê."
Quando Psiquê recebeu a carta ficou admirada, recebendo uma carta de uma deusa. Mas ficou muito decepcionada quando a leu. Na carta havia uma profecia clamada pela própria Vênus. A profecia dizia que Psiquê ia se casar com a mais horrenda criatura. Psiquê ficou desesperada, foi contar para suas irmãs. Psique era muito inocente e nunca percebeu que suas irmãs morriam de inveja dela.
Enquanto isso, no Monte Olimpo, Vênus chamou seu filho Cupido: "- Meu caro filho, preciso de um grande favor seu. Quero que você vá a terra e atire uma de suas flechas de amor em Psique, e faça com que ela se apaixone pelo homem mais feio do planeta". Cupido gostava muito de sua mãe e não quis contrariá-la. Então foi. Quando anoiteceu, Cupido foi até a casa de Psique, entrou pela janela avistou um rosto perfeito, traços encantadores. Cupido chegou bem perto para não ter a chance de errar o alvo (apesar de ter uma mira muito boa, mas estava encantado com a bela jovem). Se preparou para atirar, esticou o seu arco e quando ia soltar a flecha, Psiquê moveu o braço, e Cupido acertou ele mesmo. A partir daquele instante Cupido ficou perdidamente apaixonado pela jovem. Voltou para casa, mas não conseguiu dormir pensando na bela Psiquê.
No dia seguinte, Cupido foi falar com Zéfiro (o vento oeste) e pediu para que transportasse Psique para os ares e a instalasse num palácio magnífico, onde era a casa de Cupido. Quando a noite caiu, a moça ouviu uma voz misteriosa e doce: "- Não se assuste, Psiquê, sou o dono desse palácio. Ofereço a ti como presente de nosso casamento, pois quero ser seu esposo. Tudo que está vendo lhe pertence. E tudo que deseja será concebido. Zéfiro estará às suas ordens, ele fará tudo o que você quiser. Eu só lhe faço uma exigência: não tente me ver. Só sob esta condição poderemos viver juntos e sermos felizes".
Toda noite Cupido vinha ver Psiquê, mas em uma forma invisível. A moça estava vivendo muito feliz naquele lindo palácio. Mas passando os dias Psiquê ficava cada vez mais curiosa para saber quem era seu marido. Certa noite, quando Cupido veio ver Psiquê, eles se encontraram e se amaram. Mas quando Cupido adormeceu, Psiquê escondida e em silêncio pegou uma lamparina e acendeu-a, e quando ela viu o belo jovem de rosto corado e cabelos loiros, ficou encantada. Mas num pequeno descuido ela deixou cair uma gota de óleo no braço do rapaz, que acordou assustado e, ao ver Psiquê, desapareceu. O encanto todo acabou, o palácio os jardins e tudo que havia em volta desapareceu, como num passe de mágica. Psiquê ficou sozinha num lugar árido, pedregoso e deserto.
Desconsolado, Cupido voltou para o Olimpo e suplicou a Zeus que lhe devolvesse a esposa amada. O senhor dos deuses respondeu: "- O deus do amor não pode se unir a uma mortal".
Mas Cupido protestou. Será que Zeus que tinha tanto poder não podia tornar Psiquê imortal? O senhor dos deuses sorriu lisonjeado. Além do mais como poderia de deixar de atender a um pedido de Cupido, que lhe trazia lembranças tão boas? O deus do amor o tinha ajudado muitas vezes, e talvez algum dia Zeus precisaria da ajuda de Cupido de novo. Seria mais prudente atender o seu pedido. Zeus mandou Hermes ir buscar Psique e lhe trouxesse para o reino celeste. Então Zeus, o soberano, transformou Psiquê em imortal. Nada mais se opôs aos amores de Cupido e Psiquê, nem mesmo Vênus, que ao ver seu filho tão feliz se moveu de compaixão e abençoou o casal. Seu casamento foi celebrado com muito néctar, na presença de todos os deuses.
Diana; deusa da caça muitas vezes relacionada com os ciclos da Lua
Em Roma, Diana era a deusa da lua e da caça, mais conhecida como deusa pura , filha de Júpiter e de Latona, e irmã gêmea de Apolo. Era muito ciosa de sua virgindade. Na mais famosa de suas aventuras, transformou em um cervo o caçador Acteão, que a viu nua durante o banho. Indiferente ao amor e caçadora infatigável, Diana era cultuada em templos rústicos nas florestas, onde os caçadores lhe ofereciam sacrifícios. Na mitologia romana, Diana era deusa dos animais selvagens e da caça, bem como dos animais domésticos. Filha de Júpiter e Latona, irmã gêmea de Apolo, obteve do pai permissão para não se casar e se manter sempre casta. Júpiter forneceu-lhe um séquito de sessenta oceânidas e vinte ninfas que, como ela, renunciaram ao casamento. Diana foi cedo identificada com a deusa grega Ártemis e depois absorveu a identificação de Artemis com Selene (Lua) e Hécate (ou Trívia), de que derivou a caracterização triformis dea ("deusa de três formas"), usada às vezes na literatura latina. O mais famoso de seus santuários ficava no bosque junto ao lago Nemi, perto de Arícia.
Esculápio; deus da medicina
Esculápio (em grego: Ἀσκληπιός, Asklēpiós; em latim: Aesculapius) era o deus da Medicina e da cura da mitologia greco-romana. Não fazia parte do Panteão das divindades olímpicas, mas acabou por se tornar uma das divindades mais populares do mundo antigo, a ponto de Apuleio dizer dele: Aesculapius ubique (Esculápio por toda parte).[1]
A história de Esculápio é reconstituída através da coleção de lendas e mitos criados pelo paganismo grego. Sua religião era politeísta, com uma infinidade de divindades e semidivindades associadas a todos os aspectos da vida humana e a vários lugares especialmente sagrados, como alguns rios e fontes, montanhas e florestas. Essa multidão de deuses estava subordinada a um grupo de poderosas deidades principais, cuja maioria habitava, segundo eles, o Monte Olimpo, e estes por sua vez eram presididos por Zeus. Entre os deuses principais estava Apolo, filho de Zeus, deus do sol, da luz, da música e das artes, da profecia e da cura, patrono dos jovens, da palestra e regente das Musas, que foi, segundo algumas versões do mito, o pai de Esculápio.[4]
O mais antigo registro de seu nome é encontrado na Ilíada de Homero, e nessa citação aparentemente ele ainda era considerado um mortal, descrito como o governante de Tricca e também como um médico que havia aprendido a arte do centauro Quíron e a ensinado a seus dois filhos, Podalírio e Macaão. Uma vez que atualmente o relato homérico sobre a Guerra de Tróia é considerado a poetização de um evento possivelmente histórico, Esculápio pode ter existido de fato, vivendo em torno de 1200 a.C., e sido mais tarde divinizado. Dentro da cultura grega não era incomum que heróis célebres fossem objeto de culto após sua morte. Escrevendo no século I, Celso explicou que pelo fato de ter aperfeiçoado as artes médicas, antes primitivas, ele mereceu um lugar entre os imortais. As origens de seu nome são obscuras. É possível que significasse "curador gentil", também foi relatado que a princípio ele se chamava Epios, e que depois de curar Ascles, tirano de Epidauro, passou a se chamar Asclepios. Seu status divino não era unânime entre os antigos, alguns o tinham como um deus, outros como um herói-deus ou como um semideus. Em torno do século V a.C. já havia uma grande quantidade de folclore criado a seu respeito, e Píndaro escreveu dizendo que ele era filho de Apolo com a mortal Corônis, filha de Flégias, o governante da Tessália.[5] O local de seu nascimento era disputado por várias cidades: Lacereia, Tricca e Epidauro.[2]
Bem mais tarde o poeta romano Ovídio deixou um relato sobre sua história em suas Metamorfoses. Segundo a narrativa, não havia donzela mais formosa em toda Tessália do que Corônis. Apolo estava apaixonado por ela e se tornaram amantes, mas o corvo do deus descobriu que ela havia se deitado com o jovem Ischys, filho de Elatus, e voou até seu mestre para relatar o fato. Enfurecido, Apolo tirou uma seta da aljava e disparou contra o peito daquela que que havia abraçado tantas vezes. Arrancando a seta ensanguentada, Corônis bradou: "Oh Febo Apolo, decerto eu mereci esta punição, mas por que não esperaste até que eu desse à luz ao nosso filho? Agora ambos morremos!" E assim dizendo, expirou. Arrependido do que fizera, Apolo sentiu ódio de si mesmo, e o corvo que levara tão nefasta notícia, que era branco, foi amaldiçoado e suas penas se tornaram negras. Então Apolo desceu dos céus e foi para seu lado, tomou o corpo sem vida em seus braços, mas seus poderes não bastaram para devolvê-la ao mundo dos vivos. Quando ela foi posta sobre uma pira para ser cremada, Apolo, tomado pela dor, derramou perfumes sobre seu peito e iniciou a celebração dos ritos fúnebres. Mas antes que as chamas consumissem o corpo de Corônis, retirou o filho ainda vivo do ventre materno e o levou para Quíron, o sábio centauro que havia educado vários heróis, para que o criasse. A filha de Quíron, Ocirroé, que podia prever o futuro, ao chegar à caverna de seu pai, viu a criança e disse: "Menino, tu que trazes a saúde para todo o mundo, que possas crescer e florescer! Os mortais muitas vezes deverão suas vidas a ti, e te será concedido o poder de trazer de novo à vida os que morreram. Mas um dia deixarás os deuses zangados por tamanha ousadia, e o raio de teu avô impedirá que o repitas, e de um deus imortal serás reduzido a um cadáver inerte. Mas depois, deste cadáver mais uma vez serás tornado um deus, e por uma segunda vez, renovarás o teu destino".[6]
Outros autores clássicos acrescentaram detalhes: Apolodoro disse que Quíron o criou e lhe ensinou as artes da cura e da caça. De Atena ele recebeu o sangue mágico da Górgona, por cujo poder o seu próprio sangue que corria pelo seu lado esquerdo podia tirar a vida de alguém, e o do seu lado direito ressuscitava os mortos. Quando Zeus matou Esculápio, Apolo, em vingança, como não podia agir contra seu pai, matou os Cíclopes que forjavam os raios de Zeus, pelo que foi punido e enviado sem seus poderes à Terra para servir o mortal Admeto por um ano. Diodoro explicou o motivo de sua morte dizendo que seu poder curativo era tão grande que restaurava a saúde para muitos desenganados, e que por isso se dizia que ele ressuscitava os mortos. Como Hades, o deus dos mortos, estava tendo seu reino despovoado, exigiu de Zeus uma solução para este ultraje. Outras fontes referem Higéia, Panacéia, Telésforo, Acésio e Iaso como também seus filhos.[7][8]
Teodoreto disse que alguns, como Hesíodo, o tinham como filho de Arsinoé de Messênia, e deu outra versão para o seu nascimento de Corônis, dizendo que ao nascer foi abandonado pela mãe numa montanha e foi achado por um pastor junto de um cão, que lhe dava de comer. Confiado a Quíron, depois de crescido passou a exercer a Medicina em Tricca e Epidauro. Pausânias repetiu versões em que o pastor se chamava Arestanas ou Autolaus, mas que este, vendo uma aura de luz divina ao redor da criança, atemorizou-se, e foi embora. Também referiu que em vez de um cão que o alimentava, teria recebido leite de uma cabra, que Corônis teria sido morta por Ártemis, para punir o ultraje a seu irmão Apolo, e quem o teria tirado do ventre da mãe teria sido Hermes. Cirilo escreveu dizendo que corriam versões de Corônis sendo seduzida por um sacerdote do templo de Apolo, o qual teria ensinado a Esculápio sua arte. Lactâncio disse que o corvo foi tornado negro porque havia sido posto como guardião de Corônis, e falhara em sua função. Além disso, disse que sua alta reputação não era justa, pois só teria curado Hipólito. Outros disseram que ele tinha pais desconhecidos, que ele teve uma esposa, Epione, que seu pai fora Arsipo ou o próprio Zeus, amara Hipólito, tivera uma irmã chamada Eriopis, e que o pai de Corônis teria ficado furioso quando soube que Corônis fora violada por Apolo, teria ateado fogo ao templo do deus e assim matado involuntariamente a filha que lá estava.[7] Também corriam versões, derivadas de Píndaro, que o descreviam como avarento, cobrando em ouro pela sua arte, e arrogante, chamando a si mesmo de um deus, sendo por isso morto por um raio em punição de sua hubris, mas Platão refutou as acusações dizendo que se ele fosse filho de um deus não poderia ter tais defeitos, e se os tivesse, não era filho de um deus. Tertuliano também duvidava delas como sendo indignas.[9] Algumas versões do mito dizem que depois de morto com o raio Zeus o transformou na constelação do Ofiúco, para que Apolo fosse consolado.[10] O oráculo de Delfos foi certa vez consultado sobre quem era a mãe de Esculápio e onde nascera, e a pitonisa disse que era Corônis, e que ele viera ao mundo em Epidauro.[2] Algumas versões do mito dizem que depois de morto Esculápio foi ressuscitado por Zeus, permitindo-lhe continuar sua prática, desde que não mais interferisse no destino final dos mortais, tornando-se conhecido por sua bondade e compaixão no trato dos doentes, e dedicando sua atenção antes para os pobres.[11]
Suas curas
Entre as curas que teria operado, estão as de vários heróis feridos em Tebas, de Filocteto em Tróia, do tirano de Epidauro, Ascles, de uma doença nos olhos, as filhas de Proetus que haviam sido enlouquecidas por Hera, restaurou a visão aos filhos de Fineu, curou com ervas as feridas de Hércules em sua luta contra a Hidra de Lerna, devolveu à vida Orion, Hipólito, Himeneu, Tindareu, Glauco, Capaneu, Panassis e Licurgo.[12] Após sua morte outras curas lhe foram atribuídas. Rufus de Éfeso, um dos grandes médicos em torno de 100 a.C., disse que por intervenção de Esculápio um epilético foi salvo; um médico de Smirna dedicou uma estátua a ele em c. 200 d.C. por ter evitado muitas doenças seguindo o seu conselho; Élio Aristides, depois de buscar a cura para um volumoso tumor na perna junto de muitos doutores, sem sucesso, apelou para ele, teve uma visão do deus e foi curado milagosamente, e assim como estas mais continuaram acontecendo em seus santuários ao longo de séculos, como provam os muitos ex-votos preservados nas ruínas de vários deles.[13] Mas é interessante assinalar algumas mudanças verificadas nesse período de tempo. Enquanto que no santuário de Epidauro, de onde se irradiou seu culto, os médicos não atuavam, mas apenas os sacerdotes, ele aparecia nos sonhos dos pacientes e intervinha diretamente nas doenças, mais tarde ele passou a aparecer de forma mais indireta, dando conselhos e orientando a atuação de médicos convencionais, como as crônicas antigas referem sobre suas curas em Pérgamo, outro grande santuário, já do período helenista. Algumas de suas intervenções em sonhos eram dramáticas. Uma mulher relatou que o deus lhe apareceu em sonho e cortou fora seu olho doente, imergiu-o em uma poção e colocou-o de volta na órbita, e ao acordar ela estava curada. Outro paciente disse que foi buscar a cura para um abcesso no abdômen, sonhou que o deus o amarrou sobre uma prancha e cortou a área, removendo o abcesso, costurando a pele em seguida. Acordando, estava curado, mas o chão em seu redor estava banhado de sangue.[14] Outra pessoa chegou ao templo com a ponta de uma lança cravada dentro de sua mandíbula, onde estava há seis anos. Dormiu e sonhou que Esculápio a removia, e acordou com o ferro entre as mãos, curada. Um que era calvo acordou com cabelos na cabeça, e um que não possuía um dos olhos acordou com ambos. Além dessas curas extraordinárias e de outras mais prosaicas, Esculápio também era invocado para encontrar pessoas desaparecidas ou para resolver problemas de relacionamento ou dificuldades do cotidiano. Um porteiro que havia quebrado um vaso reuniu os fragmentos e se dirigiu ao santuário, e lá chegando abriu o saco onde os trazia e viu o vaso reintegrado. Curiosamente, apesar dos muitos testemunhos sobre suas aparições em sonho, não sobrevive nenhum relato sobre sua aparência física.[15]
Atributos, representações e símbolos
Além de sua ligação direta com a Medicina, Esculápio teve sua imagem transformada e magnificada, assumindo outros significados. Os neoplatônicos acreditavam que Esculápio era a alma do mundo, através da qual a Criação era mantida coesa e organizada com simetria e equilíbrio. Élio Aristides disse que ele era o guia e regente de todas as coisas, o salvador do universo e o guardião dos imortais. Juliano declarou que ele era o curador dos corpos e, com a ajuda das Musas, de Hermes e de Apolo, era o educador das almas. Sua figura foi assimilada sincreticamente à de Imhotep no Egito, a Eshmun na Fenícia, a Zeus em Pérgamo, e a Júpiter em Roma, onde era chamado de Aesculapius Optimus Maximus.[16]
Ele é representado usualmente como um homem maduro, vestido de uma túnica que lhe descobre o ombro direito, e apoiado a um cajado onde se enrola uma serpente. Às vezes aparece a seu lado um menino, símbolo da recuperação da saúde, ou a de Telésforo, uma espécie de elemental da terra encapuzado que levava o processo de cura a bom termo, e que algumas fontes dizem ser seu filho. Também pode ser mostrado junto de algum de seus outros filhos, especialmente Higéia, que se tornou uma figura importante em seu culto e chegou a ter templos próprios. Sobrevivem da Antiguidade várias de suas estátuas e imagens em moedas e camafeus. A estátua de seu principal templo, em Epidauro, fora feita, segundo Pausânias, de ouro e marfim, tinha cerca de seis metros de altura, e ele aparecia sentado em um trono, pousando sua mão direita sobre uma serpente, enquanto que com a esquerda segurava um cajado. Tinha um cão ao seu lado.[8] Esculápio foi representado em moedas cunhadas por 46 imperadores e imperatrizes romanos, e essas moedas circulavam em todo o império romano.[17]
O principal símbolo de Esculápio é um bastão ou cajado com uma serpente enrolada, que muitas vezes tem sido confundido erroneamente com o caduceu, que possui duas serpentes. A origem do símbolo é muito antiga, anterior aos gregos. Mais de 5 mil anos atrás os mesopotâmios usavam um bastão com uma serpente como emblema de Ningizzida, o deus da fertilidade, do matrimônio e das pragas.[18] Para os gregos e romanos a serpente estava associada a Apolo por ele ter matado a Píton de Delfos, e era um símbolo da cura porque periodicamente abandona sua pele velha e aparentemente renasce, da mesma forma que os médicos removem a doença dos corpos e rejuvenescem os homens, e também porque a serpente era um símbolo de atenção concentrada, o que era requerido dos curadores.[19] Era conhecido também dos judeus antes de Cristo, como se lê no relato bíblico de Moisés erguendo um poste com uma serpente de bronze para livrar o seu povo de uma praga de serpentes. Ao longo do desenvolvimento do Cristianismo este símbolo foi transformado, e o poste se tornou um Tau.[18]
A ligação de Esculápio com a serpente deriva de uma das lendas associadas ao seu mito. Chamado para socorrer Glauco, que havia sido morto por um raio, viu uma serpente penetrar no aposento onde estava, e a matou com seu bastão. Logo uma segunda serpente entrou, carregando ervas em sua boca, que depositou sobre a boca da outra morta, fazendo-a voltar à vida. Tomando dessas ervas, Esculápio colocou-as na boca de Glauco, que também ressuscitou, e desde então fez da serpente seu animal tutelar. Seu bastão se tornou o símbolo da Medicina na contemporaneidade em grande número de países do mundo e está presente na bandeira da Organização Mundial da Saúde.[20] O outro animal a ele associado era o cão, presente em uma das versões de seu mito como o animal que lhe trouxe comida ao ser abandonado ainda bebê nas montanhas, e por ser capaz de seguir uma trilha invisível com seu olfato, o que simbolizava a capacidade do médico de identificar a doença através de sintomas invisíveis para os leigos. Finalmente o galo, que era amiúde sacrificado em sua honra, era o símbolo do raiar do sol, o astro regido por Apolo, o seu pai divino.[21]
O culto e o sistema de cura de Esculápio
Foram identificados centenas de santuários antigos de Esculápio em toda a orla do Mediterrâneo e Europa ocidental - desde Mênfis do Egito até Karpow no norte da Europa, desde Ecbátana no Oriente até o País de Gales - através de ruínas arqueológicas, citações literárias, inscrições em monumentos e iconografia numismática. Muitos de seus templos estavam localizados em posições privilegiadas, como nas acrópoles de Atenas e na de Cartago, e na ilha do Tibre em Roma.[16] Alice Walton ofereceu uma listagem com 368 locais de culto, embora para alguns deles as evidências tenham se resumido a um placa votiva, um altar ou uma inscrição, e nem sempre nestes casos é seguro que houve ali um verdadeiro santuário. Ela omitiu as fontes latinas, de modo que ainda existem várias lacunas num mapeamento completo, o que indica que a disseminação de sua influência foi ainda mais vasta. Gerald Hart aumentou a sua lista com mais 96 sítios, Esperandieu indicou mais 29, e outros estudiosos trouxeram evidências de diversos mais na Europa central.[22]
Seu culto iniciou a se irradiar documentadamente a partir de Epidauro em torno do fim do século VI a.C., mas foi a partir da sua invocação pelos atenienses para afastar a peste de Atenas em 420 a.C., que foi bem sucedida, que sua fama rapidamente cresceu, sendo frequentemente associado a Higéia. Segundo Cheng-Hsiung Lü as lendas sobre Higéia e Esculápio simbolizam a perene oscilação entre duas abordagens básicas da Medicina: a profilaxia e a terapêutica. Para os seguidores de Higéia a saúde era o resultado do seguimento das leis naturais, e a função da Medicina era identificar e divulgar quais eram essas leis, responsáveis pela manutenção de um equilíbrio sadio entre mente e corpo, para que as pessoas não as violassem, trazendo-lhes a doença. Em contraste, para os devotos de Esculápio, o papel do médico era curar a doença já instalada através da cirurgia, de medicamentos ou de agências sobrenaturais.[23] Para Ferguson a vasta disseminação do culto de Esculápio foi o fenômeno religioso mais impressionante na Grécia desde o surgimento do culto dionisíaco.[24] Em Atenas seu culto também foi associado a partir de 413 a.C. aos Mistérios de Elêusis.[8] O santuário de Epidauro, o mais famoso e um dos mais importantes monumentos arquitetônicos gregos do século IV a.C., possuía mais de 160 aposentos para os peregrinos, e podia ser comparado a um grande hospital. Outros templos importantes eram os da ilha de Cós, durante o período helenista, e o de Pérgamo durante o império romano. Esculápio foi um dos primeiros deuses gregos a serem assimilados pelos romanos, depois de uma praga em 293 a.C. Dois anos depois já possuía um templo em Roma, na ilha do Tibre, onde séculos depois foi erguida uma igreja cristã dedicada a São Bartolomeu e um hospital, ainda existentes.[24] Sócrates mandou sacrificar um galo a Esculápio na ocasião de sua morte, Alexandre Magno dedicou sua espada e armadura a ele em Gortys, na Arcádia, o imperador Cláudio isentou a ilha de Cós de impostos e a dedicou toda ao seu culto,[16] e o filósofo Apolônio de Tiana preparou-se para sua carreira num templo de Esculápio.[25] O culto de Esculápio determinou certos traços do culto de Serápis, e sua iconografia influenciou as representações de Zeus e também as de Cristo.[24]
Anualmente era celebrado um grande festival em Epidauro, nove dias após os Jogos Ístmicos. O festival combinava cerimônias sacras e confraternizações profanas, e atraía devotos de Esculápio e médicos de toda a Grécia. Havia uma grande procissão desde a cidade até o santuário, quando se cantavam hinos em honra do deus, eram realizados sacrifícios públicos e privados, e depois a festa encerrava com um grande banquete, competições atléticas e representações teatrais.[26]
Platão dizia que ele tratava de doenças localizadas através de uma dieta equilibrada, sangrias, medicamentos e cirurgia, mas se considerasse um homem doente da alma, rebelde e destemperado, e incapaz de seguir seus preceitos, ou se estivesse em estágio terminal, não o tratava.[27] O relato de Platão é colorido pela sua ética e visão política, pois acreditava que uma vida não valia a pena ser vivida se não fosse de acordo com as leis da virtude, e um homem não merecia a atenção da sociedade se sua vida não revertesse para o benefício da coletividade.[28] De qualquer forma essa visão era compartilhada pelos gregos de sua época. Os sacerdotes-curadores de Epidauro, na entrada do seu templo, haviam feito inscrever o dito: "Puro deve ser quem entra no templo odoroso; pureza significa ser sábio nas coisas sagradas", e naquela época no conceito de pureza estava implícito o de arete, virtude.[24]
Santuário de Esculápio em Cós
Em todos os seus santuários havia um templo, uma fonte para purificação e o abaton, um local para dormir. A área do santuário ainda muitas vezes incluía termas, jardins cultivados, um teatro, um ginásio e uma biblioteca, pois se considerava a cura um processo que envolvia a transformação do corpo e do espírito.[24] Roetzel os considera os precursores da medicina holística,[11] e Bergdolt considera o elemento psicossomático um fator determinante na eficácia do tratamento. Mas gestantes perto de darem à luz ou doentes terminais não eram admitidos, pois tanto a morte como o nascimento profanavam a santidade do local. Porém em tempos romanos essa proibição foi anulada. Também havia um canil ou um criadouro de serpentes não venenosas, os símbolos do deus, que eram usados como mediadores de seus poderes através de seu contato com os doentes. O sistema de culto e cura nos santuários de Esculápio se desenvolvia em linhas gerais como segue: O paciente se purificava na fonte do santuário e oferecia um sacrifício. Oferendas comuns eram bolos de mel, bolos de queijo e figos. Preces, meditação, o canto de hinos sacros, banhos medicinais, exposição à luz do sol, caminhadas de pés descalços, uma dieta especial, abstinência de sexo e exercícios físicos também eram muitas vezes parte do ritual e do tratamento. À noite o doente se dirigia para o abaton, a fim de dormir e se produzir a enkoimesis, ou "incubação", ou seja, a revelação do deus em sonhos, o que frequentemente acontecia. O deus ou aparecia e curava diretamente, ou dava instruções sobre um tratamento específico, o que às vezes acontecia ao longo de vários dias em sonhos diferentes. O sonho era então relatado aos sacerdotes, que interpretavam ou complementavam as instruções. O seguimento literal das instruções dadas em sonho era um pré-requisito para a cura. São conhecidos vários relatos sobre o deus aparecendo em sonhos contrariado com a falta de fé do paciente. Ocasionalmente o deus transformava uma doença séria em outra mais branda, e então a deixava ao cuidado dos médicos. Às vezes o sonho não era necessário, e a cura se efetuava imediatamente. Se a pessoa fosse curada, o costume era agradecer com um novo sacrifício, então geralmente era oferecido um galo ou uma soma em dinheiro. Também podia ser um ex-voto, uma obra de arte, ou um poema composto em sua honra. Os registros históricos referem curas surpreendentes, endireitando aleijados e restituindo a visão a cegos, a audição a surdos e a fala aos mudos.[8][24][29]
Tradição e modernidade
A tradição médica derivada de Esculápio foi assimilada por Hipócrates, considerado por muitos o pai da medicina ocidental, que se formou no santuário de Esculápio em Cós. Ele mesmo era descendente dos Asclepíades, uma linhagem de sacerdotes-médicos que se dizia derivada da progênie do próprio deus. Apesar de a medicina hipocrática se desenvolver em uma linha mais científica e empírica, vários aspectos da sua doutrina se basearam no folclore religioso que cercava o culto de Esculápio, e deu grande atenção aos sonhos como elemento de diagnóstico.[8][30]
Depois do surgimento do Cristianismo vários santuários de Esculápio foram transformados em igrejas cristãs, dedicadas a santos ligados à cura, mas ele foi um dos deuses pagãos de maior sobrevida dentro do Cristianismo, em virtude de sua fama de bondade e compaixão. Na época em que o Partenon de Atenas já era uma igreja cristã, no século VI d.C., o templo de Esculápio adjacente ainda era frequentado.[24] Nillson & Kroll afirmam que a liturgia de culto de Esculápio foi uma forte influência sobre a sistematização da ritualística cristã,[31] e Justino, em sua Apologia, escreveu que "Quando dizemos que Jesus curou os aleijados e os paralíticos e os que eram doentes desde o nascimento e que ressuscitou os mortos, estamos relatando feitos que eram idênticos àqueles que se diz Esculápio ter praticado".[32] Hart traçou um paralelo entre as vidas de Esculápio e Cristo, onde apontou várias semelhanças. Ambos eram filhos de um pai divino e de uma mãe mortal e virgem, ligadas a maridos mortais; seu nascimento foi acusado por manifestações sobrenaturais, Cristo com uma estrela que se movia diante dos Reis Magos e por anjos que chamaram os pastores para o adorarem, e segundo Pausânias Esculápio foi achado por um pastor cercado de uma luz divina; ambos nasceram como mortais e depois de viverem uma vida pura dedicada ao socorro da humanidade, operando várias curas miraculosas, morreram uma morte humana, e foram deificados em seguida; Jesus foi perseguido pela sociedade por ameaçar o status quo, e Esculápio foi punido por ressuscitar os mortos e anular o poder de Hades.[33]
Fortuna; deusa da riqueza e da sorte
Fortuna era considerada filha de Júpiter. Roma dedicava a ela o dia 11 de Junho, e no dia 24 do mesmo mês realiza um festival em sua homenagem, o Fors Fortuna. Seu culto foi introduzido por Sérvio Túlio, e Fortuna possuía um templo nos tempos de Roma republicana próximo ao Capitólio chamado de templo de Fortuna Virilis.
Juno; deusa da força vital, deusa dos deuses
Juno possuía muitas rivais, entre elas, a bela Calisto, que Juno, por inveja da imensa beleza que conquistara seu marido, transformou numa ursa. Calisto passou a viver sozinha com medo dos caçadores e das outras feras da floresta, esquecendo-se de que agora ela própria era uma.
Um dia, Calisto reconheceu num caçador seu filho Arcas, já homem. Quis correr e abraçá-lo mas Arcas já erguera sua lança para matá-la quando Júpiter, vendo a desgraça que estava por acontecer afastou-os e lançou-os ao céu transformando-os nas constelações de Ursa Maior e Ursa Menor.
Juno, enfurecida por Júpiter ter dado tal privilégio a sua rival, sai à procura de Tétis e Oceanus, as antigas divindades do mar. Conta-lhes toda a injúria que Júpiter fizera a ela, e pede para que eles não deixem as constelações se esconderem em suas águas. Assim a Ursa Maior e a Ursa Menor movem-se em círculo no céu mas nunca descem por trás do oceâno, como as outras estrelas.
Outra de suas rivais foi Io, que Júpiter, ao sentir a presença de Juno, transforma em uma novilha. Juno, desconfiada, pede a novilha de presente. Júpiter não podia negar um presente tão insignificante a sua mulher, então, pesaroso, entrega a novilha a Juno que coloca-a sob os cuidados de Argos Panoptes, um monstro de muitos olhos, e tendo tantos, nunca fechava mais que dois para dormir, vigiando Io dia e noite. Júpiter, perturbado pelo sofrimento da amante, pede a Mercúrio que mate Argos. Com músicas e histórias, Mercúrio consegue fazer com que Argos feche seus 100 olhos e nisso corta sua cabeça fora. Juno entristecida recolhe seus olhos que haviam perdido toda a luz e coloca-os na cauda de seu pavão, onde permanecem até hoje.
Enfurecida, Juno persegue Io por muitas partes da terra até que Júpiter intercede por ela prometendo não dar mais atenção a Io. Juno concorda devolvendo-lhe a aparência humana.
Outro forte inimigo de Juno foi Hércules, filho de Júpiter com a mortal Alcmena. A este declarou guerra desde seu nascimento. Com uma tentativa frustrada de matá-lo quando era apenas um bebê, Juno o submete a Euristeus, que o envolve em muitas aventuras perigosas que ficaram conhecidas como "doze trabalhos".
Júpiter; deus dos deuses, senhor do Universo
Identificação com Zeus
A identificação entre Júpiter e Zeus não é tão simples quanto vários livros de mitologia sugerem.
Cícero, por exemplo, identificou três deuses de nome "Júpiter"[1]:
Nascimento
Os fados tinham comunicado ao seu pai, Saturno, que ele havia de ser afastado do trono por um filho que nascesse dele. Para evitar a concretização da ameaça do destino, Saturno devorava os filhos que mal acabavam de nascer. Quando Júpiter nasceu, a mãe, cansada de ver assim desaparecer todos os filhos, entregou a Saturno uma pedra, que o deus engoliu sem se dar conta do logro.
Sua mãe então o entregou às ninfas da floresta em que o havia parido.[3]
Criado longe, na ilha de Creta, para não ter o mesmo destino cruel dos irmãos, ali cresceu alimentado pela cabra Amalteia. Quando esta cabra morreu, Júpiter usou a sua pele para fazer uma armadura que ficou conhecida por Égide.
Rebelião
Filhos
Júpiter teve muitos filhos, tanto de deusas como de mulheres. Marte, Minerva e Vênus são seus filhos divinos, entre outros. Quando se apaixonava por mortais, Júpiter assumia diversas formas para se poder aproximar delas.
Para conquistar a Princesa Europa, transformou-se em touro branco. A jovem aproximou-se e Júpiter mostrou-se meigo. Quando Europa montou sobre o seu dorso, ele elevou-se nos ares e levou a princesa para a ilha de Creta, onde se uniu a ela. Dessa união nasceram Minos, Radamante e Sarpédon.
Noutra altura apaixonou-se por Alcmena, esposa de Anfitrião. Para a conquistar, assumiu a forma do próprio marido e contou com a ajuda de Mercúrio, que tomou a forma do criado Sósia. Dessa união nasceu o semi-deus Hércules.
Marte; deus da guerra
Marte era o deus romano da guerra, equivalente ao grego Ares.
Filho de Juno e de Júpiter, era considerado o deus da guerra sangrenta, ao contrário de sua irmã Minerva, que representa a guerra justa e diplomática. Os dois irmãos tinham uma rixa, que acabou culminando no frente-a-frente de ambos, junto das muralhas de Tróia, cada um dos quais defendendo um dos exércitos. Marte, protector dos troianos, acabou derrotado.
Marte, apesar de bárbaro e cruel, tinha o amor da deusa Vênus, e com ela teve um filho, Cupido e uma filha mortal, Harmonia. Na verdade tratava-se de uma relação adúltera, uma vez que a deusa era esposa de Vulcano, que arranjou um estratagema para os descobrir e prender numa rede enquanto estavam juntos na cama.
O povo romano considerava-se descendente daquele deus porque Rómulo era filho de Reia Sílvia ou Ília, princesa de Alba Longa, e Marte.
Assim como Marte é o deus romano da guerra, bem como seu correspondente Ares na mitologia grega. Há também Cariocecus ou Mars Cariocecus que é o deus lusitano da guerra. O planeta Marte provavelmente recebeu este nome devido à sua cor vermelha, que por ser a cor do sangue era associado à violência e não ao amor, como foi traduzido na cultura popular com associação às rosas.
Mercúrio; deus mensageiro
Na mitologia romana, Mercúrio (associado ao deus Grego Hermes) era um mensageiro e deus da venda, lucro e comércio, o filho de Maia Maiestas, também conhecida como Ops, a versão romana de Reia, e Júpiter. Seu nome é relacionado à palavra latina merx ("mercadoria"; comparado a mercador, comércio etc). Em suas formas mais antigas, ele aparenta ter sido relacionado ao deus Etrusco Turms, mas a maior parte de suas características e mitologia são emprestadas do deus Grego, Hermes.
Mercúrio era o deus romano encarregado de levar as mensagens de Júpiter. Era filho de Júpiter e de Bona Dea e nasceu em Cilene, monte de Arcádia. Os seus atributos incluem uma bolsa, umas sandálias e um capacete com asas, uma varinha de condão e o caduceu. Quando Proserpina foi raptada, tentou resgatá-la dos infernos sem muito sucesso. Era o deus da eloquência, do comércio, dos viajantes e dos ladrões, a personificação da inteligência. Correspondia ao Hermes grego, protetor dos rebanhos, dos viajantes e comerciantes: muito rápido, era o mensageiro. O planeta Mercúrio provavelmente recebeu este nome porque se move rapidamente no céu.
Mercúrio influenciou o nome de uma série de coisas em vários campos da ciência, tais como o planeta Mercúrio e o elemento mercúrio. A palavra mercurial é geralmente usada para se referir a algo ou alguém errático, volátil ou instável, derivado da rapidez dos vôos de Mercúrio de um lugar a outro. O termo vem da astrologia e descreve o comportamento esperado de alguém sob a influêcia do planeta Mercúrio.
Mercúrio não aparece entre os numinosos di indigetes da antiga religião romana. Especialmente, ele incluía o antigo Dei Lucrii quando a religião romana foi sincretizada com a religião grega durante o tempo da República Romana, iniciando-se pelo século IV a.C.. No princípio, Mercúrio tinha essencialmente os mesmos aspectos que Hermes, vestindo os sapatos alados talaria e uma petasos alada, e carregando um caduceu, uma baqueta heráldica com duas cobras entrelaçadas que foi o presente de Apolo a Hermes. Ele era frequentemente acompanhado de um galo jovem, mensageiro do novo dia, de um carneiro ou bode, simbolizando fertilidade, e de uma tartaruga, referindo-se à legendária invenção de Mercúrio da lira a partir do casco de uma tartaruga. Como Hermes, ele foi também um mensageiro dos deuses e um deus de mercantilismo, particularmente do mercado de grãos. Mercúrio também foi considerado um deus de abundância e sucesso comercial, particulamente na Gália. Ele foi também, como Hermes, o psicopompo romano, conduzindo almas recém falecidas à vida após a morte. Adicionalmente, Ovídio escreveu que Mercúrio carregou os sonhos de Morfeu do vale dos de Somnus aos humanos dormentes.
O templo de Mercúrio no Circo Máximo, entre os montes Aventino e Palatino, foi construído em 495 a.C.. Esse era um local adequado para adorar um deus rápido do comércio e viagem, já que ele era um grande centro de comércio assim como uma pista de corrida. Já que ele ficava entre a fortaleza dos plebeus no Aventino e o centro patrício no Palatino, isso também enfatizava Mercúrio como um mediador.
Pelo fato de Mercúrio não ser uma das divindades antigas sobrevivendo no Império Romano, a ele não foi atribuído um flamen (“sacerdote”), mas ele tinha uma festividade maior em 15 de maio, a Mercuralia. Durante a Mercuralia, os mercadores aspergiam em suas cabeças a água da sua fonte sagrada próxima a Porta Capena.
Sincretismo
Quando eles descreveram os deuses das tribos Celtas e Germânicas, ao invés de considerá-las deidades separadas, os Romanos as interpretaram como manifetações locais ou aspectos de seus próprios deuses, um traço cultural chamado interpretatio romana. Mercúrio em particular foi reportado como se tornando extremamente popular entre as nações que o Império Romano conquistou; Júlio César escreveu de Mercúrio sendo o Deus mais popular na Britânia e na Gália, considerado como o inventor de todas as artes. Isso é provavelmente porque no sincretismo romano, Mercúrio foi igualado ao deus celta Lugus, e neste aspecto foi comumente acompanhado pela deusa celta Rosmerta. Apesar de que Lugus pode ter sido originalmente uma deidade de luz ou o sol (pesar de que isso é contestado), similar ao Apolo Romano, sua importância como um deus de troca e comércio o fizeram mais comparável com Mercúrio, e Apolo foi ao invés disso igualado com a deidade Céltica Belenus.
Os Romanos associaram Mercúrio com o deus germánico Wotan, por interpretatio romana; O escritor do primeiro século Tacitus identifica os dois como o mesmo, e o descreve como o deus chefe dos povos Germânicos. Júlio César, numa seção de sua Guerras Gálicas, descrevendo os costumes das tribos Germânicas, escreveu "Os Germânicos adoram principalmente Mercúrio", aparentemente identificando Wotan com Mercúrio.
Em áreas célticas, Mercúrio foi às vezes retratado com três cabeças ou faces, e em Tongeren, Bélgica, uma estatueta de Mercúrio com três falos foi encontrada, com os dois extras sobressaindo de sua cabeça e substituindo seu nariz; isto foi provavelmente porque número três era considerado mágico, fazendo de tais estátuas encantos de boa sorte e fertilidade. Os Romanos também faziam extenso uso de pequenas estátuas de Mercúrio, provavelmente pegando emprestado da tradição da Grécia antiga e mercadores de Hermae.
Nomes e Epítetos
Mercúrio era conhecido pelos romanos como Mercurius e ocasionalmente nos escritos antigos como Mercvrivs, Mirqurios ou Mircurios, tinha um número de epítetos representando diferentes aspectos ou funções, ou representando sincretismos com deidades não romanas. Os mais comuns e significantes destes epítetos incluiam:
Mercurius Artaios, uma combinação de Mercúrio com o deus Celta Artaios, uma deidade de ursos e caça que foi adorada em Beaucroissant, França.
Mercurius Cassius, uma combinação do deus Celta que é equivalente ao deus romano Bacchus com Mercúrio, adorado como o deus do êxtase religioso que produz frutos.
Mercurius Cissonius, uma combinação de Mercúrio com o deus Celta Cissonius, sobre quem é escrito na área que abrange Cologne, Alemanha até Saintes, França.
Mercurius Moccus, de um deus Celta, Moccus, que foi igualado a Mercúrio, conhecido por evidência em Langres, França. O nome Moccus (“porco”) implica que esta deidade foi conectada com caça de javalis.
Minerva representa-se com um capacete na cabeça, escudo no braço e lança na mão, porque era deusa da estratégia de guerra, tendo junto de si um mocho e vários instrumentos matemáticos, por ser também deusa da sabedoria. A Minerva é o símbolo oficial dos engenheiros.
Minerva era para os ateanienses a deusa da excelência, da misericórdia e da pátria.
Neptuno (português europeu) ou Netuno (português brasileiro) era o deus romano do mar, inspirado no deus grego Posídon. Filho do deus Saturno e irmão de Júpiter e de Plutão. Originariamente era o deus das fontes e das correntes de água.
Plutão (do grego antigo Pluto = rico) ou Dis (do latim dives = rico) é como ficou conhecido o deus dos mortos na mitologia romana, após a introdução dos mitos e da literatura gregas; é que, originalmente, não possuíam os romanos uma noção de um reino para a felicidade ou infelicidade pós-morte, como o Hades grego - senão uma imensa cavidade, chamada Orcus, que mais tarde passou a identificar-se com o submundo grego. Ao deus que o comandava, então, incorporaram Hades, sob o seu epíteto de Pluto.[1]
Plutão era casado com a sobrinha Prosérpina, filha de Ceres (equivalentes, respectivamente, às deusas gregas Perséfone e Deméter).
Tellus, na mitologia romana, era a deusa da Terra — o solo fértil. Na mitologia grega era Gaia - "terra mater", que quer dizer "terra mãe". Ela representa o solo fértil, e também o fundamento sobre que repousam os elementos que se geram entre si. Existem centenas de outros nomes para o nosso planeta em várias línguas. O nome do planeta Terra na língua inglesa, "Earth", é o único nome de planeta que não tem origem na mitologia greco-romana. O nome provém do alemão e inglês antigos.
Diziam-na mulher do Sol ou do Céu, porque tanto a um como ao outro deve a sua fertilidade. Era representada como uma mulher corpulenta, com uma grande quantidade de peitos. Frequentemente se confundem Telus e Terra com Cibele. Antes de estar Apolo de posse do oráculo de Delfos, era Telus que o possuía e que o divulgava; mas em tudo estava em meias com Netuno. Depois, Telus cedeu os seus direitos a Temis, e Temis a Apolo. Algumas versões dizem que Telo é apenas o nome romano de Gaia, a terra
Venus; deusa da beleza e do amor
Vénus (português europeu) ou Vênus (português brasileiro) é a deusa do panteão (ou panteon) romano, equivalente a Afrodite no panteão grego, cujo nome vem acompanhado, por vezes, de epítetos como "Citereia" já que, quando do nascimento, teria passado por Citera, onde era adorada sob este nome. É a deusa do Amor e da Beleza, tendo sido assimilada à Vênus romana, uma deusa local do mercado[1].
O mito do nascimento conta que surgiu de dentro de uma concha de madrepérola, tendo sido gerada pelas espumas (aphros, em grego). Em outra versão, é filha de Júpiter e Dione. Era considerada esposa de Vulcano, o deus manco, mas mantinha uma relação adúltera com Marte.
Na epopeia Os Lusíadas, Luís de Camões apresenta a deusa como a principal apoiante dos heróis portugueses.
Vulcano; deus do fogo
Vulcano (Hefesto na mitologia grega) era o deus romano do fogo, filho de Júpiter e de Juno ou ainda, segundo alguns mitólogos, somente de Juno com o auxílio do Vento.
Foi lançado aos mares devido à vergonha de sua mãe pela sua disformidade, foi, porém, recolhido por Tetis e Eurínome, filhas do Oceanus. Noutras versões, a sua fealdade era tal mesmo recém-nascido, que Júpiter o teria lançado do Monte olimpo abaixo. A esse facto de deveria a sua deformidade, pois Vulcano era coxo.
Sua figura era representada como um ferreiro. Era ele quem forjava os raios, atributo de Júpiter. Este deus, o mais feio de todos, era o marido de Vénus ( a Afrodite grega), a deusa da beleza e do amor, que, aliás, lhe era tremendamente infiel.
No entanto, Vulcano forjou armas especiais para Eneias, filho de Vénus de Anquises de Tróia e para Aquiles quando este havia emprestado para Pátroclo,que por sua vez a perdeu para Heitor.
Em certa altura, Vulcano preparou uma rede com que armadilhou a cama onde Vénus e Marte mantinham uma relação adúltera. Deste modo o deus ferreiro conseguiu demonstrar a infidelidade da sua esposa, que no entanto foi perdoada por Júpiter.
Saturno; deus da agricultura
Saturno (do latim Saturnus) é um deus romano da agricultura, justiça e força, equivalente ao grego Cronos. Era um dos titãs, filho do Céu e da Terra. Com uma foice dada por sua mãe mutilou o pai, Urano, tomando o poder entre os deuses.
Expulso do céu por seu filho Júpiter (Zeus), refugiou-se no Lácio. Lá exerceu a soberania e fez reinar a idade do ouro, cheia de paz e abundância, tendo ensinado aos homens a agricultura. Em Lácio, criou uma família e uma conduta novas, vindo a ser pai de Pico.[carece de fontes?]
Os romanos que, segundo outras tradições, atribuem a origem de Roma a Saturno, construíram-lhe um templo e um altar à entrada do Fórum, no Capitólio. Atribui-se ainda a Saturno a criação de divindades como Juno ou Hércules e de heróis como Rómulo. O sábado é o dia consagrado a Saturno.
O Saturno itálico é representado nas moedas como nas pinturas de Pompeia - testemunho ambivalente da sua actividade agrária e da sua identificação com o castrador Cronos - com a serpente na mão. Um baixo-relevo do museu do Capitólio, réplica de um modelo grego, apresenta-o como Cronos, sentado no trono, recebendo das mãos de sua mulher (por vezes chamada Opes nos textos latinos) a pedra envolvida em panos que ele confundiu com Júpiter recém-nascido.
Saturnais
Estas festividades desembocavam, inevitavelmente, em grandes orgias. O culto de Saturno não se propagou com a mesma amplitude em todo o mundo romano, tendo sido objecto de um fervor excepcional junto das populações da África. "Dominus Saturnus" representa para estas o deus fertilizador da terra e, igualmente, o sol, assim como a lua. Espécie de divindade suprema do céu, instalada muitas vezes em substituição dos deuses fenícios, o Saturno africano foi, como Moloque, apreciador de vítimas humanas. Estas práticas cessaram sob o Império Romano e foram substituídas por libações e por sacrifícios de touros e de carneiros.