sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Eterno Problema do Mal...“Era uma vez um homem chamado Jó, que vivia no país de Hus...

Em busca da solução para a dor e o sofrimento, os povos primitivos inventaram uma lenda com a qual pensavam justificá-los. Daí surgiu à lenda de Jó. Os argumentos provam está análise que farei desse livro bíblico.

O primeiro problema que nos surge é a questão das contradições existentes nesse livro, apontadas por Bart D. Ehrman:

Como já anunciei, o que se revela uma surpresa para muitos leitores da Bíblia é que algumas dessas respostas não são as que eles esperariam, e que algumas das respostas entram em choque com outras. Vou tentar mostrar, por exemplo, que o livro de Jó tem dois conjuntos de respostas para o problema do sofrimento:

Uma é a história de Jó no início e no final do livro, e a Outra está nos diálogos entre Jó e seus amigos que ocupam a maior parte dos capítulos.

Essas duas visões são contraditórias entre si. Mais ainda, as duas visões diferem das visões dos profetas. E a resposta profética - encontrada ao longo de boa parte da Bíblia hebraica - entra em contradição com as visões "apocalípticas" como Daniel, Paulo e mesmo Jesus. (EHRMAN, 2008, p. 24).

Não bastasse isso, ainda temos o que alguns tradutores bíblicos afirmam, colocando o livro de Jó não como inspirado, mas, sim, como lendário: A literatura sapiencial floresceu em todo o Antigo Oriente.

Ao longo de sua história, o Egito produziu escritos de sabedoria. Na Mesopotâmia, desde a época suméria, foram compostos provérbios, fábulas e poemas sobre o sofrimento que se assemelham ao livro de Jó.

(...) Não é de admirar que as primeiras obras sapienciais de Israel se pareçam muito com a de seus vizinhos: todas elas provêm do mesmo ambiente. (Bíblia de Jerusalém, p. 797).

(...) o autor usa uma antiga lenda sobre a retribuição (1,1-2,13; 42,7-17), omitindo o final (42,7-17) e substituindo-o por uma série de debates que mostram o absurdo da teologia em voga, incapaz de atender à nova situação (3,1-42,6). (Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, p. 639).

O autor toma como ponto de partida uma lenda comum na época e, com leves retoques, a relata em 1,1-2,13. O final primitivo dessa lenda se encontra em 42,7-17. A intenção é substituir o final da lenda pelo debate que se encontra em 3,1-42,6. (Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, p. 640).

Da natureza poética do livro se segue que não se deve insistir na veracidade histórica de cada passo da discussão. Além disso, a própria índole do diálogo supõe que o autor não tenha querido aprovar todas as idéias expressas pelos interlocutores. A chave da composição conexa está em 42,1-8: Jó, embora tendo um conceito elevado de Deus, pecou por presunção e violência; aos seus amigos, pelo contrário, faltou o conceito adequado de Deus e de sua Providência.

O prólogo e o epílogo são ficções literárias. Discute-se a historicidade da pessoa de Jó; a opinião mais plausível é a de que também seja uma personagem fictícia, pois o objetivo da obra não é contar a história de um sofredor, e sim, oferecer uma solução e um consolo a todos os que sofrem... (Bíblia Sagrada – Edições Paulinas, p. 579).

O livro de Jó, obra-prima entre os livros sapienciais, digna de figurar entre as melhores obras da literatura universal, é um poema dramático-religioso que discute, em profundidade e com veemente paixão retórica, o tema universal da transformação do homem. Em conexão com esse tema, trata do sentido do sofrimento na vida humana e da doutrina da retribuição.[…]

Origem e acréscimos: Diversidades no vocabulário, no estilo e no ambiente cultural e religioso dão a entender que o livro foi escrito por etapas. Resquícios de vocabulário do período persa e algumas circunstâncias históricas e culturais fazem supor que ele tenha surgido no século V ou IV a.C., após o exílio babilônico, e seus acréscimos, no mais tardar, no século III a.C.

O prólogo e o epílogo são reformulação literária de um conto didático da tradição oral dos sábios do antigo Oriente Médio não israelita. Não poucos detalhes sugerem que o autor (os autores) tenha vivido na Palestina. Certamente inspirado em Jeremias, no livro das Lamentações e nos Salmos de lamentação, o autor compôs seu drama com objetivo profético-pastoral, à semelhança das exortações de Ezequiel. (Bíblia Sagrada – Vozes, p. 631).

Embora não saibamos com certeza onde se encontra Hus, sabemos que não é território israelita. Ou seja, o autor escolheu um estrangeiro como herói da sua história ou drama. Por quê?

Para respeitar a tradição ou a lenda - comentam alguns. Ezequiel 14 menciona Noé, Daniel e Jó como protótipos de santidade. Conhecemos Daniel pela literatura Cananéia. Talvez a lenda contasse a vida paciente e heróica de um Jó de tempos patriarcais, antes que Israel existisse. O autor teria tomado a figura para protagonista de sua obra, respeitando o perfil ou vários elementos da tradição. (Bíblia do Peregrino, p. 1062).

Observem que todos os tradutores e exegetas envolvidos nas Bíblias citadas nos dão conta de que o livro de Jó foi tomado de uma antiga lenda da Mesopotâmia; por isso, julgo importante a origem da informação, porquanto, vindo depor contra a presumida inspiração divina dos textos bíblicos, certamente, não seria colocada, caso isso não tivesse sido comprovado.

Como se vê, desde tempos imemoriais, os “donos” das religiões sempre fizeram suas interpolações (usando até lendas, como aqui) e que, para fortalecerem-nas, atribuíam-nas à divindade a que eles prestavam culto.

Orígenes, considerado um dos pais da Igreja, afirmou que o livro de Jó é mais antigo do que Moisés (ORÍGENES, 2004, p. 495); isso, em outras palavras, quer dizer que esse livro já existia muito antes do início da História do povo hebreu; portanto, anteriormente à existência da Bíblia, pois, segundo dizem, Moisés foi o autor de seus cinco primeiros livros, apesar de no último deles estar narrada a sua morte.

Não posso também deixar de trazer opiniões de historiadores e estudiosos da Bíblia, visando corroborar o que vimos, um pouco atrás, em relação aos tradutores. Leiamos:

Job não entende, mas resigna-se ao destino. Não discute. Aceita. Mas quando se encontra com três de seus velhos amigos, ocorre àquele memorável diálogo que faz o Livro de Job tão caro a todos os amantes da literatura de ficção. (VAN LOON, 1981, p. 118)

[…] Os livros de Jó ou Jonas ou Rute ou Ester foram, desde o início, fábulas ou ficções: foram criados por seus autores. […] (FOX, 1993, p. 336).

Muitas das histórias contadas no Antigo Testamento são compilações melhoradas, adaptadas ou aumentadas de outros saberes e culturas, principalmente do Egito e da Mesopotâmia. Como é o caso de Jó, o babilônico, que se aproxima das idéias, angústias e questionamentos sobre a vida e a morte de Jó bíblico, sendo o primeiro muito mais antigo. (MARQUES, 2005, p. 101.

É interessante ressaltar a coincidência de alguns pontos entre as crenças dos povos mesopotâmicos e as dos hebreus que, sendo seus vizinhos, naturalmente foram influenciados pela tradição regional. Destacamos, entre outros pontos de contato, a analogia de Utnapishtim e Noé, do pobre inominado e Jó, a gula de Enkil e o episódio da Serpente, e entre o Éden e o Dilum. (KRAMER, 1983, p. 114).

[…] Entre os mitos da Suméria figura a história do homem de nome desconhecido, rico, judicioso e afortunado com a família e os amigos, que um dia se encontrou sozinho e enfermo por motivos que ele não era capaz de compreender. […] O homem lastima a sua sorte, exclamando:

“Minha palavra honrada transformou-se em mentira... Uma doença maligna cobre meu corpo... Deus meu... por quanto tempo me abandonarás, me deixarás sem proteção?”. A história desse Jó sumeriano tem um desfecho feliz, porque o deus lhe ouviu as preces e fez que as provações terminassem tão abruptamente como haviam começado. Mas as questões fundamentais do sofrimento humano e da justiça divina – formulada pelo povo sumério e ainda com maior pungência pelo seu descendente bíblico – ainda nos desafiam. (KRAMER, 1983, p. 123).

Um desses heróis distantes, venerado na Babilônia como exemplo de paciência e sofrimento, foi Jó. Após o exílio, um dos sobreviventes usou essa lenda antiga para formular perguntas fundamentais sobre a natureza de Deus e sua responsabilidade pelos sofrimentos humanos. Nessa lenda, Jó é testado por Deus e, como suporta com paciência suas imerecidas tribulações, recupera a antiga prosperidade. Na nova versão, o autor divide ao meio a velha lenda e faz Jó vociferar contra Deus. Junto com seus três consoladores, Jó ousa questionar os decretos divinos e trava um feroz debate intelectual. [...] (ARMSTRONG, 2008, p. 89).

Temos, portanto, a confirmação de que a história de Jó não passa mesmo de uma lenda, que o autor bíblico tomou emprestada de outros povos, adaptando-a, obviamente, à mensagem que queria passar.

Encontramos até o Jó babilônico, vejam: Além do mais, havia também as inevitáveis decepções daquelas almas devotas que, como Jó, tinham cumprido até em demasia todas as obrigações religiosas, apenas para serem abatidas horrivelmente, como foi o caso de um velho rei devoto, Tabi-utul-Enlil, de cerca de 1750 a.C., conhecido como o Jó da Babilônia. Seu lamento e testemunho merecem ser citados:

Meus globos oculares ele obscureceu, trancando-os sob cadeado;

Meus ouvidos ele bloqueou, como os de um surdo.

De rei eu fui transformado em escravo,

E como um louco sou maltratado pelos que estão à minha volta.

tempo de vida designado eu tinha atingido e ultrapassado;

Para onde quer que eu me virasse via maldade sobre maldade.

A miséria crescia, a justiça perecia,

Eu supliquei a meu deus, mas ele não mostrou sua face;

Implorei à minha deusa, mas ela não levantou sua cabeça.

O sacerdote-adivinho não conseguiu prever o futuro através de uma visão,

O necromante com uma oferenda não conseguiu justificar meu caso.

Apelei para o sacerdote oracular: ele não revelou nada.

O mestre exorcista com seus ritos não conseguiu libertar-me da maldição.

Algo igual jamais tinha sido visto:

Para onde quer que eu me virasse, havia sofrimentos pela frente.

Como se eu nunca tivesse reservado a porção do deus

E não tivesse invocado a deusa na refeição,

Não tivesse inclinado minha cabeça e pago meu tributo:

Como se eu fosse um cuja boca não expressa constantemente súplicas e orações;

Não tivesse reservado o dia do deus; tivesse negligenciado a festa da lua nova;

Sido negligente, ou desprezado suas imagens,

Não tivesse ensinado a seu povo reverência e temor,

Não tivesse invocado sua divindade, ou tivesse comido alimentos do deus,

Negligenciado sua deusa e deixado de fazer a libação:

Sou comparado com o opressor que esqueceu seu senhor

E profanou o sagrado nome de seu deus.

No entanto eu pensava apenas em súplicas e orações;

A oração era minha prática, o sacrifício minha lei,

O dia de adoração dos deuses, o júbilo de meu coração,

O dia de devoção à deusa, mais [valia] para mim do que as riquezas;

Prece real - essa era minha alegria;

Sua celebração - meu deleite.

Ensinei meu país a guardar o nome de deus,

Acostumei meu povo a honrar o nome da deusa.

A glorificação do rei, eu tomei igual à de um deus,

E por temor ao palácio, eu instruí o povo.

Achava que tais coisas fossem agradáveis a um deus. ...

Aqui temos o problema deste pobre velho. E agora vem a resposta usual, já conhecida da Babilônia por volta de 1750 a.C.

O que, entretanto, parece bom a si mesmo, a um deus desagrada,

E o que é rejeitado encontra as boas graças junto a um deus.

Quem é que pode saber a vontade dos deuses no céu?

O plano de um deus, pleno de mistério - quem pode entendê-lo?

Como podem os mortais descobrir a vontade de um deus?

Pois o homem não passa de uma coisa insignificante,

enquanto os deuses são importantes.

O homem que ontem estava vivo hoje está morto;

Em um instante ele pode enlutar, de repente, ser aniquilado.

Pois, enquanto um dia ele canta e se diverte,

No outro chora como as carpideiras.

O estado de espírito do homem muda como o dia e a noite;

Quando tem fome, é como um cadáver;

Satisfeito, julga-se igual a seu deus;

Quando as coisas vão bem, gaba-se de subir ao céu,

Quando em dificuldades, queixa-se de descer ao inferno.

Como Jó, entretanto, que enfrentaria esse mesmo problema cerca de 1.500 anos mais tarde, o velho rei Tabi-utul-Enlil, embora submetido a severa provação, não foi abandonado por seu deus, mas viu aumentada sua fortuna.

Primeiramente, entretanto, para tornar clara a extensão do milagre de seu deus, temos que ouvir toda a litania de seus males:

Um demônio perverso saiu de sua toca,

E, de amarelado, minha enfermidade deixou-me lívido.

Ele golpeou meu pescoço, quebrou minha espinha,

Dobrou minha altura como um álamo;

De maneira que fui arrancado como uma planta do brejo e atirado de costas.

A comida tomou-se amarga - pútrida.

E a doença prolongou seu curso. ...

Recolhi-me a minha cama, incapaz de deixá-la,

E minha casa tomou-se minha prisão.

Como algemas do meu corpo, minhas mãos ficaram impotentes.

Como cotos de asa, meus pés esmoreceram,

Meu desconcerto era grande, minha dor intensa.

Uma correia de muitas voltas afligia-me,

Uma lança pontuda trespassava-me.

E o perseguidor atormentou-me o dia inteiro;

E por toda a noite não me deu sossego:

Como que deslocadas, minhas juntas estavam e dilaceradas,

Meus membros, despedaçados, ficaram impotentes.

Em meu estábulo passei a noite como um boi,

Imerso como uma ovelha em meus próprios excrementos.

O mal de minhas juntas aturdiu o principal esconjurador,

Para o vaticinador meus presságios eram obscuros;

O exorcista não conseguiu encontrar o caráter da minha doença,

Tampouco o adivinho determinar o limite de meus males.

Mesmo assim nenhum deus veio em meu socorro, tomando-me pela mão,

Nenhuma deusa teve compaixão de mim, ficando a meu lado.

A cova foi aberta, meu sepultamento, ordenado,

embora não morto, já estava sendo pranteado.

O povo de meu país já tinha pronunciado "ais!"

sobre meu corpo.

A face de meu inimigo resplandeceu quando ele soube.

Quando as notícias foram anunciadas, seu fígado se regozijou,

E eu sabia que tinha chegado o dia em que toda minha família,

Dependente da proteção de nossa divindade estaria em apuros.

Mas então, quando tudo estava perdido e o velho rei, acamado, paralisado, cego, surdo, incapaz de comer e atormentado por dores incessantes chegou à beira do desespero, então veja! O virtuoso sofredor não foi abandonado, mas em sua hora mais sombria, veio até ele em um sonho o mensageiro de sua divindade - "um forte herói ornado com uma coroa" - e tudo o que lhe tinha sido tomado lhe foi devolvido.

O deus enviou uma forte tempestade até a base da montanha celeste,

Para as profundezas da terra ele dirigiu-a

E obrigou aquele demônio perverso a voltar para o abismo. ...

Com a maré ele me livrou do calafrio.

Ele arrancou a raiz de meu mal como uma planta.

O mau sono, que tinha impedido meu repouso,

encheu e escureceu os céus como fumaça. ...

E meus olhos, que tinham sido cobertos pelo véu da noite,

Com um forte vento que levou o véu ele fez brilhar.

De meus ouvidos, que tinham estado fechados e bloqueados,

como os de uma pessoa surda,

Ele removeu a surdez, abrindo sua audição.

A boca que tinha estado tapada, com dificuldade de exprimir sons,

Ele purificou, e como o cobre a fez brilhar.

Os dentes que tinham estado presos, apertados uns contra os outros,

Ele soltou, fortalecendo suas raízes.

Da língua inchada que não podia mover-se,

Ele removeu a intumescência e a fala retomou.

Minha garganta, que tinha estado comprimida como a de um cadáver,

Ele curou e meu peito ressoou como uma flauta. ...

Meu pescoço tinha sido torcido e pendia:

Ele tornou-o ereto como um cedro erguido.

Minha estatura ele tornou perfeita;

E liberto do demônio, ele poliu minhas unhas.

Ele curou meu escorbuto, livrou-me da coceira. ...

Todo meu corpo ele restabeleceu.

Pois o velho rei, agarrado à sua fé, tinha sido levado, à maneira de um devoto que vai a Lourdes ou ao Ganges, a uma água sagrada, onde o poder do deus o curou imediatamente:

Ele limpou as manchas, tomando o corpo inteiro radiante. A carcaça estropiada

recuperou seu esplendor.

Às margens do rio onde os homens são julgados

A marca da escravidão foi apagada e os grilhões retirados.

Daí a seguinte lição:

Deixa aquele que peca contra o templo aprender comigo:

Na mandíbula do leão prestes a devorar-me, Enlil inseriu um bocado.

Enlil capturou o laço do meu perseguidor:

Enlil sitiou a cova do demônio.

Apenas um detalhe para que não passe despercebido: o Jó babilônico é bem mais antigo do que o Jó judeu.

Lembramo-nos muito bem, quando, nos primeiros contatos com as letras, nossa professora primária, para entreter a turma e desenvolver-lhes a imaginação, contava as famosas histórias infantis. Invariavelmente iniciava assim: “Era uma vez...” buscando atrair a atenção dos alunos e criando, desde o início, um clima de expectativa.

Bem, você poderá me perguntar: mas o que tem isso a ver com o assunto que você se propõe a falar? O que estamos propondo, é uma relação direta entre essas histórias e a história de Jó; veja como se inicia o relato bíblico, na versão da Bíblia Sagrada Pastoral: Jó 1,1: “Era uma vez um homem chamado Jó, que vivia no país de Hus. Era um homem íntegro e reto, que temia a Deus e evitava o mal”.

É estonteante a correlação entre as histórias infantis e a que este sendo citado. Aliás, sobre esse país de Hus instala-se desacordo geral sobre onde se localiza:

Ø Hus, não identificada, mas por certo, situada ao oriente da Palestina. Há quem a coloque no Hauran, sul de Damasco (cf. Gen. 36,28; Lam 4,21),... (Bíblia Sagrada – Edições Paulinas, p. 580).

Ø embora não saibamos com certeza onde se encontra Hus, sabemos que não é território israelita. (Bíblia do Peregrino, p. 1062).

Ø Terra de Hus é o território de Edom, fora de Israel... (Bíblia Sagrada – Vozes, p. 634).

Ø ... Jó, que viveu em Hus, provavelmente a sudoeste do Mar Morto,... (Bíblia Sagrada - Santuário, p. 733).

Ø ficava a sudeste da Palestina, na Idumeia ou Edom (cf. Lm, 4,21). (Bíblia Barsa, p. 389).

Ø certamente ao sul de Edom (cf. Gn 36,28; Lm 4,21). (Bíblia de Jerusalém, p. 803).

No fundo, ninguém tem certeza de onde é, mas, para escapar dessa dúvida, alguns querem situá-la num lugar conhecido, esperando que os néscios acreditem neles. E, consultados vários mapas bíblicos e em nenhum deles encontra-se a localização de Hus, obviamente por não saberem mesmo onde era, ou, conforme acredito, não passa de uma ficção literária.

Mas, continuando:

Jó 1,2-5: “Tinha sete filhos e três filhas. Possuía também sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, quinhentas mulas e grande número de empregados. Jó era o mais rico dos homens do Oriente. Os filhos de Jó costumavam fazer banquetes, um dia na casa de cada um, e convidavam as três irmãs para comer e beber com eles. Quando terminavam esses dias de festa, Jó os mandava chamar, para purificá-los. Ele madrugava e oferecia um holocausto para cada um deles, pensando: ‘Talvez meus filhos tenham pecado, ofendendo Deus em seu coração’. E Jó fazia assim todas as vezes”.

Tal quais as estórias infantis, aqui também é realçada a riqueza de Jó e um pouco de sua vivência diária. Interessante, nesse relato, é que não são citados os nomes de seus filhos, como seria de se esperar, caso o relato fosse verdadeiro; nem mesmo o de sua mulher.

Observe as quantidades citadas nos vv. 2 e 3, pois na análise da última passagem (Jó 42,12- 15) desse livro, citarei numa comparação.

Embora não seja o que pretendo abordar, vale uma digressão para outro assunto, não menos curioso. É a questão de satanás, como sendo o deus do mal; leiamos:

Jó 1,6-12: “Certa vez, foram os filhos de Deus apresentar-se ao Senhor; entre eles veio também Satanás. O Senhor, então, disse a Satanás: “Donde vens?” - “Dei uma voltas pela terra, andando a esmo”, respondeu ele. O Senhor lhe disse: “Reparaste no meu servo Jó? Na terra não há outro igual: é um homem íntegro e reto, teme a Deus e se afasta do mal”. Satanás respondeu ao Senhor: “Mas será por nada que Jó teme a Deus? Porventura não levantaste um muro de proteção ao redor dele, de sua casa e de todos os seus bens? Abençoaste seus empreendimentos e seus rebanhos cobrem toda a região. Mas estende a mão e toca em todos os seus bens; eu te garanto que te lançará maldições em rosto!” Então o Senhor disse a Satanás: “Pois bem, tudo o que ele possui, eu o deixo em teu poder, mas não estendas a mão contra ele!” E Satanás saiu da presença do Senhor.

A expressão satanás (ou satã, segundo algumas traduções), conforme nos informam vários tradutores bíblicos, quer dizer “acusador”, não sendo, portanto, um ser, mas apenas uma função. Imaginemos num Tribunal de Júri, o promotor de justiça que age na linha de acusação do réu, exatamente o que, no texto, se atribui a esse anjo. Confirmando o que digo pela nota a seguir, relativa a essa passagem:

“A corte celeste, que decide os rumos da história, se reúne no estilo de uma corte oriental. Satã, que significa adversário no tribunal, não é aqui a personificação do mal, e sim uma espécie de investigador...” (Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, p. 640).

Observemos que, se na narrativa está se afirmando que entre os anjos, que se apresentaram a Javé, estava também satanás, é porque ele, evidentemente, era um deles. E se estava junto com os outros não era anjo mau. Seria o mesmo que se dizer que o Promotor Público, que é o outro pólo de que necessita a sociedade para o equilíbrio da Justiça, é um advogado mau, pelo simples fato de exercer a função de acusador.

Entretanto, não sabemos de onde a teologia retira que ele, Satanás, é um anjo mau. Só por pura extrapolação, pois, pelo que se vê do relato bíblico, a única coisa que fez foi ferir um pouco o orgulho de Javé. Isso porque, quando Javé disse que Jó era um homem íntegro, o anjo respondeu que ele era assim só porque “os braços” de Javé se estendiam sobre ele, protegendo-o e proporcionando-lhe as regalias terrenas, mas que, se não tivesse isso, talvez Jó não se comportasse daquele modo. Aí Javé deixa que o anjo retire de Jó tudo quanto tinha para ver se assim ele ainda se manteria firme na sua integralidade, como se em algum momento Deus pudesse ter dúvida sobre qualquer coisa ou sentisse a necessidade de alguém lhe provar algo que pensava ser verdadeiro.

Muitos têm a Jó como o “paciente sofredor”; mas será mesmo? Veja:

Jó 3,1-4: “Então Jó abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento, dizendo: ‘Morra o dia em que nasci e a noite em que se disse: 'Um menino foi concebido'. Que esse dia se transforme em trevas; que Deus, do alto, não cuide dele e sobre ele não brilhe a luz”.

A pergunta é: uma pessoa paciente amaldiçoa o dia em que nasceu? Ou isso é típico dos impacientes? Como se diz; perguntar não ofende... Mas, não bastasse isso, continua o impaciente e já revoltado Jó:

Jó 3,11-16: “Por que não morri ao sair do ventre de minha mãe, ou não pereci ao sair de suas entranhas? Por que dois joelhos me receberam, e dois peitos me amamentaram? Agora eu repousaria tranqüilo e dormiria em paz, junto com os reis e governantes da terra, que construíram túmulos suntuosos para si, ou com os nobres que possuíram ouro e encheram de prata seus mausoléus. Agora eu seria um aborto enterrado, uma criatura que não chegou a ver a luz”.

Jó não suportou tamanho opróbrio, pois disse ter sido preferível que tivesse sido abortado. Atitude compreensível para os que, advogando a vida única, não encontra explicação para a dor e o sofrimento, cujo entendimento só poderá ser justificado se aceitarmos a reencarnação como única situação em que a justiça de Deus se manifesta em plenitude.

Mas, apesar disso tudo, encontra-se em Jó verdades que bem se aplicam aos que acreditam na reencarnação:

Jó 4,8: “Pelo que eu sei, os que cultivam injustiça e semeiam miséria, são esses que as colhem”.

Jó 5,7: “E o homem gera seu próprio sofrimento, como as faíscas voam para cima”.

Dessa fala de Jó refere-se à Lei de Causa e Efeito, comumente denominada de carma, cuja relação com a reencarnação é direta; quem acredita em uma delas acredita também na outra.

Há em Jó uma afirmação que os teólogos fazem de tudo para mudar-lhe o sentido. Leia-se:

Jó 4,15-16: “Então um espírito passou por diante de mim; fez-me arrepiar os cabelos do meu corpo; parou ele, mas não lhe discerni a aparência; um vulto estava diante de meus olhos; houve silêncio, e ouvi uma voz:...”.

Aqui fica evidente, por demais, o fato de Jó ter percebido um espírito; entretanto, os não comprometidos com a verdade, mas com seus próprios dogmas, mudam a palavra “um espírito” por “um sopro” (Bíblias: Vozes, Ave Maria, Paulus) ou por “um vento” (Bíblia Pastoral). Lamentável!

Um bom conselho de Jó:

Jó 8,8-10: “Consulte as gerações passadas e observe a experiência de nossos antepassados. Nós nascemos ontem e não sabemos nada. Nossos dias são como sombra no chão. Os nossos antepassados, no entanto, vão instruí-lo e falar a você com palavras tiradas da experiência deles”.

Mesmo não sendo o sentido que iremos dar, é, por sinal, um sábio conselho, pois os nossos antepassados podem nos orientar com suas experiências pessoais, de modo que não venhamos a errar em coisas que poderemos ter conhecimento para fazer da forma certa.

Considerando que àquela época havia muito pouca coisa escrita, como consultar as gerações passadas se seus componentes já morreram e levaram para o sepulcro seus conhecimentos?

Simples: Evocando-os para lhes consultar o espírito, e, evidentemente, estamos falando aos que acreditam na possibilidade da comunicação com os mortos. Aos que não acreditam, perguntaremos: Teria algum sentido Moisés proibir de se comunicar com os mortos se isso não existisse ou não fosse possível?

Muitos acreditam que o homem ainda vem pagando pelo pecado de Adão e Eva; e disso tiram que os filhos pagam pelos erros dos pais; mas Jó parece não concordar com isso:

Jó 21,19-21: “Dizem que Deus castiga os filhos do injusto! Ora, faça que o injusto mesmo pague e aprenda: que veja com seus próprios olhos a desgraça, e beba a ira do Todo-poderoso. Pois, o que lhe importa a sua família depois de morto, quando o tempo de sua vida tiver chegado ao fim?”

Pena que, em sua justificativa, Jó demonstra não acreditar na vida após a morte, evidenciando uma posição incontestavelmente materialista: “morreu acabou”. Um ponto fundamental levantado por Jó, mas, infelizmente, ainda não assimilado pela grande maioria das pessoas:

Jó 34,11-12: “Deus paga ao homem conforme as suas obras e retribui a cada um conforme a sua conduta. Deus, na verdade, não age de modo injusto. O Todo-poderoso nunca viola o direito”.

E mesmo assim, alguns ainda acham que, por pertencerem a determinada corrente religiosa ou por aceitarem Jesus como seu Senhor e salvador, já estejam salvos. Doce ilusão!

A justiça é clara: “a cada um segundo suas obras” (Mt 16,27).

Diante da afirmação acima de que Deus “retribui a cada um conforme sua conduta”, como explicar que alguém tenha nascido aleijado se “Deus corrige o homem também com o sofrimento na cama” (Jó 33,19)?

Explicação lógica somente se acreditarmos na pré-existência do espírito e na reencarnação; aliás, para nós, é o grande problema insolúvel de Jó: mesmo justo ainda sofre. Como não podiam atribuir esse sofrimento a Deus, por ser injusto, inventaram esse “teste de paciência”.

A falta de conhecimento das leis da natureza fazia com que o povo hebreu atribuísse a uma atitude de Deus determinados fenômenos naturais como, por exemplo:

Jó 36,32-33: “Enche as mãos com raios e atira-os no alvo certo. O trovão anuncia a chegada dele, e a sua ira se acende com a injustiça”.

E ainda há quem diga que a Bíblia é totalmente de inspiração divina. Mas a coisa fica bem pior, quando atribuem solidez ao céu (firmamento):

Jó 37,18: “Por acaso você já estendeu com ele o firmamento, sólido como espelho de metal fundido?”

A palavra firmamento vem de firme, já que acreditavam que o céu, esse azul que vemos acima de nossas cabeças, era totalmente sólido. Para o povo hebreu havia de ser assim, pois era a única maneira de explicar a existência das águas que caíam por ocasião das chuvas, já que não conheciam o fenômeno da evaporação da água.

É interessante observarmos que em Gêneses já encontramos essa ideia: Gn 1,6-8: “Deus disse: ‘Que exista um firmamento no meio das águas para separar águas de águas!’ Deus fez o firmamento para separar as águas que estão acima do firmamento das águas que estão abaixo do firmamento. E assim se fez. E Deus chamou ao firmamento ‘céu’".

Essa é também mais uma das inúmeras passagens que não podemos atribuir como sendo de inspiração divina, já que são evidentemente frutos da cultura daquela época.

Muito curioso é que algumas passagens sugerem a noção da pré-existência da alma, bem como, a reencarnação, como essa, por exemplo:

Jó 38,21: “Certamente você sabe disso tudo, pois já então havia nascido e já viveu muitíssimos anos”.

Como alguém poderia ter vivido muitíssimos anos senão reencarnando várias vezes?

É uma boa pergunta para quem defende vida única. Se alguém nos descrevesse um animal dessa forma: Suas costas são fileiras de escudos, ligados com lacre de pedra; são tão unidos uns com os outros, que nem ar passa entre eles; cada um é tão ligado com o outro, que ficam travados e não se podem separar. Seus espirros lançam faíscas, e seus olhos são como a cor rosa da aurora. De sua boca irrompem tochas acesas e saltam centelhas de fogo. De suas narinas jorra fumaça, como de caldeira acesa e fervente. Seu bafo queima como brasa, e sua boca lança chamas. Em seu pescoço reside a força, e diante dele dança o terror.

Que ideia nós iríamos ter desse animal? Exato: um dragão! Pois é, caro leitor, na Bíblia há a descrição de um animal assim... Veja: Jó 40,25-41,26: “Por acaso você é capaz de pescar o Leviatã com anzol e amarrar-lhe a língua com uma corda? Você é capaz de furar as narinas dele com junco e perfurar sua mandíbula com gancho? Será que ele viria até você com muitas súplicas ou lhe falaria com ternura? Será que faria uma aliança com você, para você fazer dele o seu criado perpétuo? Você brincará com ele como se fosse um pássaro, ou você o amarrará para suas filhas? Será que os pescadores o negociarão, ou os negociantes o dividirão entre si? Poderá você crivar a pele dele com dardos ou a cabeça com arpão de pesca? Experimente colocar a mão em cima dele: você se lembrará da luta, e nunca mais repetirá isso! Veja! Diante dele, toda segurança é apenas ilusão, pois basta alguém velo para ficar com medo. Ninguém é tão corajoso para provocá-lo. Quem poderia enfrentá-lo cara a cara? Quem jamais se atreveu a desafiá-lo, e saiu ileso? Ninguém debaixo de todo o céu. Não deixarei de descrever os membros dele, nem sua força incomparável. Quem abriu sua couraça e penetrou por sua dupla armadura? Quem abriu as duas portas de sua boca, rodeadas de dentes terríveis? Suas costas são fileiras de escudos, ligados com lacre de pedra; são tão unidos uns com os outros, que nem ar passa entre eles; cada um é tão ligado com o outro, que ficam travados e não se podem separar. Seus espirros lançam faíscas, e seus olhos são como a cor rosa da aurora. De sua boca irrompem tochas acesas e saltam centelhas de fogo. De suas narinas jorra fumaça, como de caldeira acesa e fervente. Seu bafo queima como brasa, e sua boca lança chamas. Em seu pescoço reside a força, e diante dele dança o terror. Os músculos do seu corpo são compactos, são sólidos e imóveis. Seu coração é duro como rocha e sólido como pedra de moinho. Quando ele se ergue, os heróis tremem e fogem apavorados. A espada que o atinge não penetra, nem a lança, nem o dardo, nem o arpão. Para ele o ferro é como palha, e o bronze como madeira podre. A flecha não o afugenta, e as pedras da funda se transformam em palha para ele. A maça é para ele como estopa, e ele zomba dos dardos que assobiam. Seu ventre, coberto de escamas pontudas, é uma grade de ferro que se arrasta sobre o lodo. Ele faz ferver o fundo do mar como caldeira, e a água fumegar como vasilha quente cheia de ungüentos. Atrás de si deixa uma esteira brilhante, e a água parece cabeleira branca. Na terra ninguém se iguala a ele, pois foi criado para não ter medo. Ele se confronta com os seres mais altivos, e é o rei das feras soberbas".

Vejamos como nos explicam a palavra Leviatã:

Leviatã (ou também o Dragão, a Serpente Fugitiva – cf. 26,13; 40,25+; Is 27,1; 51,9; Am 9,3; Sl 74,14; 104,26) era, na mitologia fenícia, monstro do caos primitivo (cf. 7,12+); a imaginação popular podia sempre recear que despertasse, atraído por uma eficaz maldição contra a ordem existente... (Bíblia de Jerusalém, p. 805).

Assim, vemos aqui que a cultura de outros povos, no caso em questão os fenícios, está influenciando um autor bíblico no seu relato. Daí concluirmos que, realmente, não dá para aceitarmos que tudo isso seja mesmo de inspiração divina, deixamos isso para os fanáticos.

Vamos agora analisar a última passagem do livro de Jó:

Jó 42,12-15: “E Javé abençoou a Jó, mais ainda do que antes. Ele possuía agora catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas. Teve sete filhos e três filhas: a primeira chamava-se Jemima, a segunda Quézia e a terceira Quéren - Hapuque. Em toda a terra não havia mulheres mais belas do que as filhas de Jó. E o seu pai repartiu a herança entre elas e os irmãos delas”.

Esse final glorioso do livro de Jó é deveras muito intrigante, pois, enquanto os seus filhos continuaram na mesma quantidade, os seus bens duplicaram em relação à sua situação anterior, veremos isso comparando Jó 1,2 com 42,13 e Jó 1,3 com 42,12, respectivamente.

Será que ter bens terrenos é muito mais importante que ter filhos, uma vez que a quantidade de filhos permaneceu a mesma, enquanto que seus bens – ovelhas, camelos, bois e jumentas -, foram todos eles duplicados? Essa é a comparação que falamos, quando, anteriormente, analisamos a passagem Jó 1,2-5.

Outra coisa: para o povo judeu a mulher não tinha nenhum valor; por isso é estranha a citação dos nomes das filhas de Jó, quando o esperado, se fosse para citar algum nome, seriam os dos seus filhos. Por outro lado, elas só receberiam a herança na falta daqueles, conforme está determinado em Nm 27,8.

Por essa passagem fica confirmado que a idéia de uma vida após a morte ainda não era pensamento comum; daí suporem que as bênçãos de Deus deveriam ser dadas em bens terrenos e não em bens espirituais, ou seja, para uma vida no plano espiritual.

A conclusão que se chega é desnecessária colocar, pois de certa forma a opinião já foi dada no desenrolar deste estudo; Mas, por ter achado fantástica a opinião de Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin, tradutores da Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, publicação da Paulus: Acompanhe:

[...] percebemos que o livro de Jó é uma crítica de toda teologia que se pretenda definitiva e universal. Essa teologia pode se tornar um verdadeiro obstáculo para a própria experiência de Deus. E aqui o autor dá o seu recado: É preciso pensar a religião a partir da experiência de Deus e não de uma teoria a respeito dele. Ivo Storniolo

[...] O livro é um convite para nos libertar da prisão das idéias feitas e continuadamente repetidas, a fim de entrar na trama da vida e da história, onde Deus se manifesta ao pobre e se dispõe a caminhar com ele para construir um mundo novo. Tal solidariedade de Deus se transforma em desafio: Estamos dispostos a abandonar nossas tradições teológicas para nos solidarizar com o pobre e fazer com ele a experiência de Deus? (Bíblia Pastoral, p. 639). Como se diz popularmente: falou pouco e disse tudo. Euclides Martins Balancin


terça-feira, 25 de outubro de 2011

“Mar Vermelho": A travessia que nunca existiu...


A base para sustentar isso é um arquivo em PPS intitulado “A travessia do Mar Vermelho. Vejamos quem é Wyatt, que lhe serve de apoio: Ronald Eldon Wyatt (1933 - 4 de agosto de 1999) foi um arqueólogo amador contestado por suas supostas descobertas arqueológicas à respeito de localidades bíblicas. Contudo, o único objeto arqueológico aceito ter pertencido ao templo de Salomão, o "Pomo de Marfim", foi encontrado por ele. Entretanto, ele afirmava ter encontrado a verdadeira Arca de Noé, a Rota do Êxodo e as cidades de Sodoma e Gomorra.

Pelo que se vê, faltam-lhe credenciais técnicas para se lançar a uma arqueologia séria; como “amador” não possuía know-how para ser levado em conta, o que, provavelmente, foi um dos motivos pelos quais nunca foi reconhecido pelos especialistas da área.

Quem foi Ron Wyatt?

Ron Wyatt faleceu, infelizmente, em 4 de agosto de 1999 num hospital do Memphis (Estados Unidos) depois de batalhar contra o câncer por vários meses. Esteve rodeado por sua família e amigos durante suas horas finais.

Ron Wyatt era Adventista do Sétimo Dia e ficou famoso por seu descobrimento da Arca de Noé, no sítio do navio encontrado na Região do Monte Ararat da Turquia, a muitos pés acima do nível do mar. Através dos anos, Ron continuou escavando distintos sítios arqueológicos, que atestam que as histórias narradas no Antigo e Novo Testamento da Bíblia são verdadeiras.

Entre seus achados figuram o descobrimento dos restos da Sodoma e Gomorra; o lugar do cruzamento dos israelitas pelo Mar Vermelho durante o êxodo, apoiado com um vídeo que mostra partes de carruagens do exército do Faraó sob o mar, e colunas eretas pelo rei Salomão, 400 anos depois, para comemorar o feito. O verdadeiro Monte Sinai, com a rocha que Moisés partiu para que fluísse a água, quando os israelitas estiveram a ponto de morrer de sede, além de outras 19 referências do monte Sinai, que se nomeiam na Bíblia.

Uma de suas últimas escavações levou Ron Wyatt a descobrir a Arca do Concerto, que está relacionada ao verdadeiro lugar da crucificação de Cristo. Este descobrimento incluía a surpreendente descoberta de sangue seco, que quando foi analisado, resultou ser como nenhum outro sangue encontrado jamais nesta terra... O sangue do próprio Filho de Deus!

Caso fossem verdadeiras essas suas descobertas, ele seria, indubitavelmente, mesmo na sua condição de simples amador, um dos mais consagrados arqueólogos do seu século. Seria interessante que colocássemos alguma coisa sobre o que as recentes descobertas da Arqueologia nos têm desvendado:

[...] seus achados revolucionaram o estudo do antigo Israel e jogaram sérias dúvidas sobre as bases históricas de muitas narrativas bíblicas, como as peregrinações dos patriarcas, o êxodo do Egito e a conquista de Canaã, e o glorioso império de Davi e Salomão. [...] agora é evidente que muitos eventos da história bíblica não aconteceram numa determinada era ou da maneira como foram descritos.

Alguns dos eventos famosos da Bíblia jamais aconteceram inteiramente. (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 14-16.

Essas informações temos de Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, dois dos principais arqueólogos em atividade. Finkelstein é diretor do Instituto de Arqueologia Sonia e Marco Nadler, da Universidade de Tel Aviv, em Israel e Silberman é diretor de interpretação histórica do Centro Ename de Arqueologia Pública e Apresentação do Legado Histórico, na Bélgica, além de contribuir regularmente como editor para a revista Archaeology, conforme podemos ler na capa do livro A Bíblia não tinha razão.

Vejamos os textos que constam de alguns dos slides sobre a “investigação arqueológica” de Wyatt:

Depois de investigar sobre a rota que os israelitas tinham tomado no Êxodo do Egito, Ron Wyatt encontrou que, a descrição bíblica concorda perfeitamente com um barranco profundo chamado Wadi Watir. O livro de Êxodo explica como Deus conduziu os filhos de Israel, “Deus não os guiou pelo caminho dos filisteus, só porque era perto… Deus fez por isso o povo dar volta pelo caminho do ermo do Mar Vermelho”. (Êxodo 13:17,18).

Aqui encontramos uma área extensa, aberta do deserto. Então em Êxodo 14:1,2 Deus disse que deram a volta afastando-se do caminho, na qual encontrou Ron e lhe conduziu a um barranco conhecido hoje como Wadi Watir. A Bíblia registra a reação de Faraó quando lhe informaram que haviam desviado do caminho, (Êxodo 14:3), ”Estão vagueando em confusão pelo país. O ermo os encerrou”, Wadi Watir é um barranco profundo largo que concorda com esta descrição perfeitamente.

Leiamos a transcrição do texto bíblico, para evitar confusão:

Ex 13,17-18: “Quando o Faraó deixou o povo partir, Deus não o guiou pelo caminho da Palestina, que é o mais curto, porque Deus achou que, diante dos ataques, o povo se arrependeria e voltaria para o Egito. Então Deus fez o povo dar uma volta pelo deserto até o Mar Vermelho. Os filhos de Israel saíram do Egito bem armados”.

O primeiro problema que nos surge, conforme já o dissemos alhures, é saber qual foi o verdadeiro motivo pelo qual os hebreus saíram do Egito:

a) foram expulsos (Ex 12,39);

b) o Faraó os deixou partir (Ex 13,17); ou

c) fugiram do Egito (Ex 14,5)?

Se estivéssemos numa prova, para testar nosso conhecimento, certamente que teríamos mais esta opção: “d) todas as alternativas são verdadeiras”, a que deveria ser marcada como correta.

Considerando que o Faraó saiu ao encalço dos hebreus, o mais provável é que ele os estava perseguindo, por terem fugido, e não que ele tenha se arrependido de tê-los deixado sair, como está narrado num dos textos bíblicos.

Temos que: “Fontes arqueológicas e históricas independentes relatam a imigração de semitas de Canaã para o Egito, e os egípcios expulsando-os com o uso da força” (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 86), entretanto, tratam-se dos hicsos, tendo tal fato acontecido por volta de 1570 a.C.

Em História dos Hebreus, obra do historiador Flávio Josefo, encontramos a informação de que os hicsos saíram do Egito após um acordo com Temosis:

[...] Temosis, filho de Alisfragmoutofis, foi atacá-los com quatrocentos e oitenta mil homens, mas perdendo a esperança de vencê-los, fez com eles um acordo, isto é, que eles saíssem do Egito para se retirarem onde quisessem, sem que se lhes fizesse algum mal; e seu número era de duzentos e quarenta mil; eles partiram com todos os seus bens, para fora do Egito, através do deserto da Síria e temendo os assírios que então dominavam em toda a Ásia eles se dirigiram para um país que hoje é chamado de Judéia, onde construíram uma cidade capaz de conter aquela grande multidão de povo e a chamara de Jerusalém. (JOSEFO, 2003, p. 714).

Os que nasciam na Judéia eram, originalmente, designados de judeus e, posteriormente, após o cativeiro da Babilônia, passaram a ser chamados de hebreus. E Josefo estabelece a relação direta entre os hicsos, povos pastores ou cativos, como sendo os seus antepassados (JOSEFO, 2003, p. 715).

O Êxodo pode ser situado em torno de 1440 a.C. (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 86), o que nos coloca diante desta curiosa situação:

Mas não há pistas, nem mesmo uma única palavra, sobre antigos israelitas no Egito: nem nas inscrições monumentais nas paredes dos templos, nem nas inscrições em túmulos, nem em papiros. Israel inexiste como possível inimigo do Egito, como amigo ou como nação escravizada.

E simplesmente não existem achados arqueológicos no Egito que possam estar associados de forma direta com a noção de um grupo étnico distinto (em oposição a uma concentração de trabalhadores migrantes de muitos lugares), vivendo numa área específica a leste do delta, como subentendido no relato bíblico sobre os filhos de Israel vivendo juntos na terra de Gessen (Gêneses 47,27). (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 90).

Ou seja, temos o registro dos hicsos no Egito, fato que aconteceu antes da escravidão dos hebreus; e desses, como está afirmado, nada foi encontrado. Em Ex 12,40 se afirma que a estada dos filhos de Israel no Egito, na escravidão, durou quatrocentos e trinta anos, tempo muito longo para que não tenham deixado um só registro de sua permanência. Uma coisa é certa para os entendidos:

A conclusão – de que o Êxodo não aconteceu na época e da forma descrita na Bíblia – parece irrefutável quando examinamos a evidência de sítios específicos, onde os filhos de Israel supostamente acamparam por longos períodos, durante sua caminhada pelo deserto (Números 33), e onde alguma indicação arqueológica – se existente –, é quase certo, seria encontrada. (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 94).

E quanto à fuga em si: [...] não é razoável aceitar a idéia de fuga de um grande grupo de escravos do Egito, através de fronteiras vigiadas por guarnições militares, para o deserto e depois para Canaã, numa época com colossal presença egípcia na região. Qualquer grupo escapando do Egito contra vontade do Faraó teria sido rapidamente capturado, não apenas por um exército egípcio que o perseguiria desde o delta, mas também por soldados egípcios dos fortes no norte do Sinai e em Canaã. De fato, a narrativa bíblica sugere o perigo da experiência de fugir pela estrada da costa. Assim, a única alternativa seria através das terras desérticas e desoladas da península do Sinai; mas a possibilidade de um grande grupo de pessoas caminhando por essa península também é contestada pela arqueologia. (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 91-92).

Por outro lado, na maioria das Bíblias consta, na passagem que citamos imediatamente acima, a expressão Mar Vermelho; entretanto, pela explicação dos tradutores da Bíblia de Jerusalém, a coisa não é bem assim:

A designação de “o mar dos Juncos”, em hebraico yam sûf, é acréscimo. O texto primitivo dava apenas uma indicação geral: os israelitas tomaram o caminho do deserto para o leste ou o sudeste. – O sentido desta designação e localização do “mar de Suf” são incertos. Ele não é mencionado na narrativa de Ex 14, que fala apenas em “mar”. O único texto que menciona o “mar de Suf” ou “mar dos Juncos” (segundo o egípcio como cenário do milagre é Ex 15,4, que é poético.

Então, o segundo problema é que o texto primitivo não falava em mar; nele foi acrescentada a expressão hebraica yam sûf, que também significava mar dos Juncos, conforme podemos ver na Bíblia Sagrada publicada pela Editora Vozes, cujos tradutores esclarecem: Mar Vermelho: lit. 'mar dos Juncos'. A expressão designa tanto o atual Mar Vermelho, como também a região pantanosa e de lagunas, atravessada hoje pelo canal de Suez. É o cenário da passagem dos israelitas pelo 'Mar Vermelho' (13,18)”. (p. 91).

Leiamos a passagem bíblica que trata do assunto:

Ex 14,1-31: 1. Javé falou a Moisés: 2. "Diga aos filhos de Israel que voltem e acampem em Piairot, entre Magdol e o mar, diante de Baal Sefon; aí vocês acamparão, junto ao mar. 3. O Faraó irá pensar que os filhos de Israel andam errantes pelo país e que o deserto os bloqueou.... Quando comunicaram ao rei do Egito que o povo tinha fugido, o Faraó e seus ministros mudaram de opinião sobre o povo e disseram: "O que é que nós fizemos? Deixamos partir nossos escravos israelitas!". O Faraó mandou aprontar seu carro e levou consigo suas tropas: seiscentos carros escolhidos e todos os carros do Egito, com oficiais sobre todos eles... . Perseguindo com todos os cavalos e carros do Faraó, os cavaleiros e o exército os alcançaram quando estavam acampados junto ao mar, em Piairot, diante de Baal Sefon. Quando o Faraó se aproximou, os filhos de Israel levantaram os olhos e viram que os egípcios avançavam atrás deles. Cheios de medo, clamaram a Javé,... . Javé disse a Moisés: "Por que você está clamando por mim? Diga aos filhos de Israel que avancem. Quanto a você, erga a vara, estenda a mão sobre o mar e divida-o pelo meio para que os filhos de Israel possam atravessá-lo a pé enxuto... . Moisés estendeu a mão sobre o mar, e Javé fez o mar se retirar com um forte vento oriental, que soprou a noite inteira: o mar ficou seco e as águas se dividiram em duas. . Os filhos de Israel entraram pelo mar a pé enxuto, e as águas formavam duas muralhas, à direita e à esquerda. Na perseguição, os egípcios entraram atrás deles com todos os cavalos do Faraó, seus carros e cavaleiros, e foram até o meio do mar... . Javé disse a Moisés: "Estenda a mão sobre o mar, e as águas se voltarão contra os egípcios, seus carros e cavaleiros". Moisés estendeu a mão sobre o mar. E, de manhã, este voltou para o seu leito. Os egípcios, ao fugir, foram ao encontro do mar, e Javé atirou-os no meio do mar. As águas voltaram, cobrindo os carros e os cavaleiros de todo o exército do Faraó, que os haviam seguido no mar: nem um só deles escapou...

Sobre essa passagem, explicam-nos, os tradutores da Bíblia Edição Vozes: A descrição da passagem pelo Mar Vermelho corresponde a um fenômeno de ordem natural, como o sugere a menção do “vento forte” (v.21) que põe o mar, isto é, uma região pantanosa, em seco. Tal fenômeno foi providencial para salvar os israelitas (v. 24) e fazer perecer os egípcios (v. 27): de madrugada as condições climáticas foram favoráveis à passagem segura dos israelitas; de manhã mudaram bruscamente e os egípcios pereceram. Nisto Israel viu a mão providencial de Deus (v. 31), expressa pela nuvem e pelo fogo (13,21), pelas águas que formam alas para os israelitas passarem (14,22) e pela vara milagrosa de Moisés (v. 16.21.26). [...] (p. 97).

Aqui o fenômeno da passagem é localizado numa região pantanosa e tido como de ordem natural. Quem não conhece o movimento das marés poderá até achar um milagre que a água do mar, em alguns casos, se recue consideravelmente da praia, de forma que onde havia água se possa andar a pé-enxuto.

Outro ponto que julgo importante é que o texto afirma que “nem um só deles escapou”, o que nos coloca diante do fato de que não há nenhum registro histórico que o Faraó, que governava o Egito na época, seja ela qual for, tenha morrido afogado. Quase ao final do slide, foi dito: “A Bíblia registra a reação de (sic) Faraó quando lhe informaram que haviam desviado do caminho, (Êxodo 14:3), 'Estão vagueando em confusão pelo país. O ermo os encerrou'”, entretanto, pelo texto bíblico o que temos é uma parte da fala de Jeová a Moisés: “Faraó certamente dirá então com respeito aos filhos de Israel: 'Estão vagueando em confusão pelo país. O ermo os encerrou'” (Novo Mundo), ou seja, é um fato completamente diferente daquilo que querem passar, pois não é a reação do Faraó, mas, simplesmente, uma presumível reação deste na suposição de Jeová, conforme se vê de Sua fala a Moisés.

Tradicionalmente crê-se que a travessia do Mar Vermelho ocorreu no Golfo de Suez. Não obstante, ali não há montanhas. A área é totalmente plana, e não concorda com a descrição bíblica. O Golfo de Suez converteu-se em um lugar muito popular porque tradicionalmente acredita-se que o Monte Sinai está na península do Sinai. Outra vez a Bíblia nos diz algo diferente, (Gálatas 4:25), “O Monte Sinai, na ARÁBIA". Depois de várias milhas Wadi Watir desemboca em uma área grande de praia, na costa ocidental do Golfo de Aquaba. A única área de praia ao largo do Golfo de Aquaba, devia ter sido suficientemente grande para acomodar aproximadamente a dois milhões de pessoas e a seus rebanhos. Os Israelitas foram prevenidos de viajar ao norte por causa da presença de uma fortaleza militar egípcia. De fato, ao norte onde Wadi Watir desemboca encontramos uma fortaleza antiga, poderia ser este o lugar mencionado na Bíblia como, Migdol, (Êxodo 14:2). Ao sul, as montanhas se estendem para baixo em direção ao mar, prevenindo assim qualquer outro passo a mais. Certamente não podiam voltar e regressar sobre seus passos pois o exército Egípcio os perseguia. Deus os havia levado a uma ponta onde somente Ele podia livrá-los, “Não tenhais medo. Mantende-vos firmes e vede a salvação da parte de Jeová, que ele realizará hoje para vós. Pois os egípcios que hoje deveras vedes, nunca mais vereis, não, nunca mais ... E Jeová começou a fazer o mar retroceder por meio dum forte vento oriental, durante toda a noite, e a converter o leito do mar em solo seco, e as águas foram partidas. Por fim, os filhos de Israel passaram pelo meio do mar em terra seca, enquanto as águas eram para eles como muralha à sua direita e à sua esquerda.” (Êxodo 14:13, 21, 22).

Vejamos como encontramos o passo Gl 4,24-25, na versão de vários tradutores bíblicos:

Pastoral: Simbolicamente isso quer dizer o seguinte: as duas mulheres representam as duas alianças. Uma, a do monte Sinai, gera para a escravidão e é representada por Agar (pois o monte Sinai está na Arábia, que é o país de Agar). E Agar corresponde à Jerusalém atual, que é escrava junto com seus filhos”.

Vozes: “Nestes fatos há uma alegoria. Estas duas mulheres representam as duas alianças: uma, que procede do monte Sinai, gera para a servidão. Esta é Agar. Omonte Sinai se encontra na Arábia e corresponde à Jerusalém atual, que é escrava com seus filhos”.

Paulus (BJ): “Isto foi dito em alegoria. Elas, com efeito, são as duas alianças; uma, a do monte Sinai, gerando para a escravidão: é Agar (porque o Sinai está na Arábia), e ela corresponde à Jerusalém de agora, que de fato é escrava com seus filhos”.

Mundo Cristão: “Estas cousas são alegóricas: porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Hagar. Ora, Hagar é o monte Sinai na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual que está em escravidão com seus filhos”.

Vida Nova/SBB: “Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus filhos”.

SBB: O que se entende por alegoria: porque estes são os dois concertos: um, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos”.

SBTB: “ que se entende por alegoria; porque estas são duas alianças; uma do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos”.

Paulus (BP): Trata-se de uma alegoria que representa duas alianças. Uma procede do monte Sinai e gera escravos: é Agar. Sinai é uma montanha da Arábia que corresponde à Jerusalém atual, que vive com seus filhos em escravidão”.

Ave Maria: Nestes fatos há uma alegoria, visto que aquelas mulheres representam as duas alianças: uma, a do monte Sinai, que gera para a escravidão: é Agar. (O monte Sinai está na Arábia). Corresponde à Jerusalém atual, que é escrava com os seus filhos”.

Paulinas: “Estas coisas foram ditas por alegoria, porque estas (duas mães) são os dois testamentos. Um do monte Sinai, que gera para a escravidão: Agar, porque o Sinai é um monte da Arábia, o qual corresponde à Jerusalém daqui debaixo, a qual é escrava com seus filhos”.

Santuário: “Isto foi dito por alegoria, pois as duas mulheres representam as duas alianças: uma, a do monte Sinai, que gera filhos para a escravidão, é Agar. Ora, o Sinai é um monte da Arábia e corresponde a Jerusalém atual, que é escrava com seus filhos”.

Novo Mundo: “Estas coisas são como que um drama simbólico; pois estas [mulheres]significam dois pactos, um do monte Sinai, que dá à luz filhos para a escravidão e que é Agar. Ora, esta Agar significa o Sinai, um monte na Arábia, e ela corresponde à Jerusalém atual, pois está em escravidão com os seus filhos”.

Barsa: “as quais coisas foram ditas por alegoria. Porque estes são os dois Testamentos. Um certamente no monte Sinai, que gera para servidão; este é figurado em Agar. Porque o Sinai é um monte da Arábia, que representa a Jerusalém, que é cá debaixo, e que é escrava com seus filhos”.

Champlin: “O que se entende por alegoria: pois essas mulheres são dois pactos; um do monte Sinai, que dá à luz filhos para a servidão, e que é Agar. Ora, esta Agar é o monte Sinai na Arábia e corresponde à Jerusalém atual, pois é escrava com seus filhos”.

Observa-se que variadas são as traduções; talvez isso possa ser explicado tomando-se o que Champlin diz sobre as variantes textuais para Gl 4,25. Leiamos: Um bom número de variações assinala o começo deste versículo. As palavras “...Pois esta Hagar é...” aparecem na maioria dos manuscritos posteriores da tradição bizantina, como também podem ser encontradas na tradição siríaca. Já os mss Aleph, CG, as versões latinas e os escritos de Orígenes omitem a palavra “...Hagar...”, embora a palavra “...Ora...” seja ali preservada. Já o antigo MS P(46), como os escritos de Ambrosiaster, pai da igreja, e a tradição saídica, omitem tanto “Ora” quanto “Hagar”, retendo apenas o termo grego “de”, que talvez possa ser melhor traduzida pela cópula “e”.

De acordo com esses manuscritos, pois, a palavra “Hagar” fica subentendida com base no vigésimo quarto versículo, e o trecho diria: “...e (Hagar) é Sinai...” Todavia, o texto mais correto, no original grego, para ser “...to de Agar...' (ou seja, “...e Hagar...”), conforme se vê nos mss ABD e no Si(hmg). Parece que a palavra “Hagar” foi deixada em branco por acidente, ou talvez tenha sido omitida propositadamente, devido à sua presença na sentença anterior (versículo vinte e quatro). É interessante que o ms Aleph acrescenta o vocábulo grego “on” (“o qual”), dando em resultado: “...e esta é Sinai, a qual é um monte da Arábia...” No entanto, a palavra “...Sinai...” é omitida pelo ms latino d; mas, visto que esse manuscrito é o único que faz isso, não representa autoridade alguma. (CHAMPLIN, 2005, p. 493).

Custou, mas parece que conseguimos desenrolar esse novelo. A principal informação que temos para isso foi obtida nesta explicação, em nota de rodapé: “O Sinai na Arábia: os árabes são tidos como descendentes de Agar. Isso sugere que a aliança no Sinai gerava a escravatura”. (Bíblia Sagrada – Ave Maria, p. 1496). Então temos que a coisa é simbólica, ou seja, estava falando dos árabes e não que o monte Sinai é na Arábia, como entendeu Wyatt, e, certamente, muitos tradutores bíblicos, que dessa forma levam ao erro os seus leitores. Observe que algumas das traduções que citamos trazem essa ideia: Mundo Cristão, Vida Nova e SBB e Champlin, cujo texto é: “... Agar é o monte Sinai na Arábia”.

A expressão monte Sinai entra no texto significando a lei de Moisés, o antigo pacto, que escravizava as pessoas e Agar sendo escrava e “mãe” dos árabes passou a representar esse pacto, que é atribuído à cidade de Jerusalém escravizada pelos romanos. Para fugir do que geralmente os fanáticos fazem, é necessário entendermos o texto dentro do seu contexto, pois, à maioria das vezes, o isolamento nos conduz a uma idéia equivocada daquilo que o autor quer dizer. Leiamos, então:

Gl 4,21-31: Dizei-me vós, os que quereis estar sob a lei: acaso, não ouvis a lei? Pois está escrito que Abrão teve dois filhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus filhos. Mas a Jerusalém lá de cima é livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os filhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois filhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segundo a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava será herdeiro com o filho livre. E, assim, irmãos, somos filhos não da escrava, e sim da livre.

Portanto, no texto, a expressão “monte Sinai” significa mesmo a Lei antiga, a que, segundo o pensamento de Paulo, escravizava. Podemos, para maior esclarecimento, colocar o que encontramos em algumas Bíblias sobre o assunto:

Bíblia Shedd: O quarto argumento, montado sobre uma transposição “alegórica” de textos bíblicos, é quase desconcertante para nós, embora fosse válido para intérpretes da Lei da sua época. Ponto de partida é o relato sobre os filhos de Abraão (segundo Gn 16 e 22). O comentarista explora as oposições e relações. Sara, esposa legítima e livre, estéril, milagrosamente dá à luz um filho livre, Isaac. Agar, concubina escrava, dá à luz um filho escravo, Ismael, que é excluído da herança e expulso. Paulo sobrepõe às figuras femininas de Agar e Sara a personificação clássica de Jerusalém como matriarca e esposa de Deus. Só que distingue uma Jerusalém empírica, submetida à escravidão (ou vassalagem política?) e uma Jerusalém transcendente, celeste, destinatária da promessa de Is 54,1-3. (p. 2798).

Bíblia Vozes: As histórias de Agar e Sara (cf. Gn 16,1-16; 21,8-21) servem para Paulo fazer uma alegoria sobre a Antiga e a Nova Aliança. Os filhos de Abraão nascidos de Agar, “segundo a carne”, são todos escravos e simbolizam os que estão sob a Lei. Os nascidos de Sara, “segundo a promessa”, são filhos livres como os nascidos do Espírito pela fé em Jesus. (p. 1383).

Bíblia Peregrino: Uma alegoria (v. 24) significa mais do que uma ilustração. Como um tipo, refere-se às verdades espirituais escondidas nos acontecimentos e personagens históricos. A velha aliança da lei e a circuncisão não passam de escravidão (tipificada por Agar e Ismael); enquanto a nova aliança da promessa (tipificada por Sara e Isaque) liberta e garante a herança da nova Jerusalém, isto é, o Céu, onde Cristo já reina em poder. (p. 1651).

Visando definir a localização do monte Sinai, irei, novamente, recorrer ao historiador Josefo que afirmou que: “... Moisés tendo subido ao monte Sinai, que está entre o Egito e a Arábia, lá ficou oculto durante quarenta dias e depois de ter descido, deu aos judeus as leis que eles ainda observam” (JOSEFO, 2003, p. 727). Assim, temos que “estar entre o Egito e a Arábia” não é localizar na Arábia o monte Sinai, como quer Wyatt para manter a passagem do Mar Vermelho como fato real. Aliás, existe um adágio popular que diz “quem tem um cobertor curto: se cobre a cabeça, descobre os pés; se cobre os pés, descobre a cabeça”. Essa é a síndrome de Wyatt, que, querendo autenticar o milagre do Mar Vermelho, derruba toda a rota do êxodo até o monte Sinai, que é traçada na própria Bíblia; a conseqüência é que nesse ponto a narrativa deixa de ser verdadeira.

Pela narrativa bíblica temos: Ramsés (Ex 12,37) e Sucot (Ex 13,20), pontos iniciais; Etam, à beira do deserto (Ex 13,20); voltaram a Piairot, entre Magdol e o mar, diante de Baal Sefon (Ex 14,2), local onde o Faraó, com seu exército, alcançou os hebreus (Ex 14,9), que é também o lugar da ocorrência da passagem pelo “Mar Vermelho”, que, na verdade, é mar dos Juncos; deserto de Sur (Ex 15,22); Mara (Ex 15,23); Elim (Ex 15,27); deserto de Sin, entre o Elim e o Sinai (Ex 16,1), até este ponto foram gastos 45 dias de caminhada; Rafidim (Ex 17,1) e Sinai (Ex 19,1), ponto ao qual queremos chegar. Os nomes aqui constantes estão grafados conforme a versão da Bíblia de Jerusalém.

Para sustentar sua tese Wyatt altera a posição de alguns locais como: Migdol, Mara, Elim, Rafidim e o Sinai, fazendo os hebreus assumirem uma rota na qual o percurso é quase todo em região de desertos, ou seja, tira-os de uma rota mais próxima da orla marítima, onde, certamente, seria menos inóspita a caminhada.

Uma outra questão, não levada em conta por Wyatt, foi o tempo que se gastou para que os hebreus chegassem ao Mar Vermelho, considerando-se dois fatores importantíssimos: o primeiro, em relação ao total de pessoas envolvidas na caminhada; pela narrativa bíblica temos 600.000 homens a pé, sem contar as crianças (Ex 12,37); disso estimam que eram por volta de 2.000.000 de pessoas, o que, seguramente, tornava a caminhada bem lenta, facilitando os egípcios alcançá-los logo após a saída do Egito; o segundo é que o Faraó, imediatamente, saiu em perseguição alcançando-os próximo ao Mar Vermelho (Ex 14,9); calculamos algo próximo de uns 100 km do ponto de saída, enquanto que, na teoria de Wyatt, esse percurso chegaria a cerca de 270 km, no qual, estimamos, gastariam uns 45 dias para se percorrer, enquanto, pelo texto bíblico, esse tempo foi gasto para se chegar ao monte Sinai; é longo demais para que não fossem alcançados pelo Faraó e seu exército, levando-se em conta o outro trajeto para se chegar a essa nova localização do Mar Vermelho.

Tudo isso nos leva a crer, caso sejam verdadeiros os fatos constantes da narração bíblica, que a rota é a tradicional mesmo, pois na de Wyatt percebemos que ele força as coisas para se chegar a uma idéia pré-determinada. Para corroborar a minha dedução, trago a opinião de R.N. Champlin, grau B.A. em Literatura Bíblica no Immanuel College, os graus M.A. e Ph.D. em Línguas Clássicas na University of Utah e estudos de especialização (no nível de pós-graduação) no Novo Testamento na University of Chicago e J. M. Bentes, tradutor e autodidata de estudos bíblicos:

As águas do êxodo. A comparação entre Êxodo 14 e 15:22, observando-se o paralelismo poético em 15:4, deixa claro que o “mar” atravessado pelos hebreus em Êxodo 14 era o “mar dos juncos”, que corresponde ao egípcio “alagadiços de papiros”, particularmente no nordeste do delta do Nilo. (CHAMPLIN e BENTES, 1995, p. 116).

Fora essa opinião, vemos que em quase todas as Bíblias seus tradutores comungam com essa idéia desses dois estudiosos.

Ron encontrou uma coluna derrubada sobre a costa. No lado Saudita encontrou outra exatamente igual com uma inscrição em hebraico antigo que diz, "MIZRAIM (Egito), SALOMÃO, EDOM, MORTE, FARAÓ, MOISÉS, YAHWEH." Ele crê que foram erigidas por Salomão para comemorar A travessia do Mar Vermelho. As inscrições sobre a coluna que foi encontrada derrubada na costa haviam sido erosionadas. As autoridades firmaram-nas dentro de concreto. As colunas citadas foram encontradas: a do lado egípcio (Nuweiba) em 1978 e em 1984 a do lado árabe (Midiã).

Mergulhando no fundo do mar, em 1978, Ron Wyatt e seus dois filhos encontraram e fotografaram numerosas peças de carruagens incrustados de coral. Desde então, várias incursões de mergulho tem revelado mais e mais evidência. Um de seus achados incluiu uma roda de carruagem de oito raios, a qual levou Ron ao diretor de antiguidades Egípcias, o Dr. Nassif Mohammed Hassan. Depois de examina-lo imediatamente disse que pertenceu à décima oitava dinastia, datando o êxodo no ano 1446 A.E.C. Quando lhe perguntaram como sabia, o Dr. Hassan explicou que a roda de oito raios foi utilizada unicamente durante este período, a época de Ramses II e Tutmoses (Moisés). Caixas de carruagens, esqueletos humanos, esqueletos de cavalos, rodas com quatro, seis e oito raios, tudo permanece como um testemunho, como um testemunho silencioso ao milagre da divisão do Mar Vermelho.

O texto bíblico narra que o Faraó levou consigo “seiscentos carros escolhidos e todos os carros do Egito, com oficiais sobre todos eles” (Ex 14,7); então o lógico seria de se esperar, caso tenham morrido afogados pela volta das águas ao estado normal, era que achassem boa parte dos carros – observe, caro leitor, que se diz “todos os carros” -, das ossadas dos cavalos que puxavam esses carros, e, obviamente, das de seus condutores para que se possa definitivamente relacioná-los aos egípcios, tomando-se como base critérios estritamente científicos e não religiosos. E apresento uma nova questão: por que não há registro disso na história dos egípcios?

Finkelstein e Silberman, autores já mencionados, nos informam que: […] A identificação de Ramsés II como o Faraó do Êxodo resulta de suposições eruditas modernas, baseadas na identificação do nome do lugar Pi-Ramsés com Ramsés (Êxodo 1,11; 12,37). Mas existem alguns elos indiscutíveis com o século VII a.C. Além da vaga referência ao medo dos israelitas de seguir pela estrada da costa, não há menção dos fortes egípcios ao norte do Sinai ou das suas guarnições em Canaã. A Bíblia pode refletir a realidade do Novo Império, mas também pode refletir as condições posteriores na Idade do Ferro, mais próximas da época em que a narrativa do Êxodo foi escrita. (FINKELSTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 97-98).

A Meu ver, merece mais crédito a opinião desses dois estudiosos que a de Wyatt. Mas quem quiser pensar o contrário, é livre para isso.

Possivelmente o mais assombroso de tudo, é a presença de uma ponte natural abaixo da água. Ao largo do Golfo de Aquaba, as profundidades alcançam cerca de 5.000 pés e a costa Egípcia vai descendo a essa profundidade em um declive de cerca de 45 graus. Se os Israelitas tivessem tentado cruzar em qualquer outro lugar ao largo do Golfo de Aquaba teriam que enfrentar uma ladeira muito inclinada de aproximadamente 5.000 pés. Com todos seus animais e carros, a tarefa seria praticamente impossível. Somente aqui, nas margens de Nuweiba, há um "caminho" descendente em um degrau gradual de 6 graus, a uma profundidade de somente 100 metros. A Bíblia a descreve como, “Aquele que faz um caminho através do próprio mar e uma senda mesmo através de fortes águas." (Isaías 43:16, 17) A distância de Nuweiba a Arábia Saudita é de cerca de oito milhas. E a largura da ponte natural abaixo da água, estima-se que é de 900 metros.

O fato de existir uma “ponte natural debaixo d'água” não quer dizer muita coisa, pois ainda restaria a necessidade de se fazer um milagre para que ela pudesse dar passagem aos hebreus; além disso, há que se ter mais sólidas evidências de que os hebreus passaram mesmo por lá. Apelar para milagres é uma coisa pouco científica; portanto, somente o fato de se crer nele não faz disso uma realidade, muito menos uma prova científica. A descrição de Isaías (43,16-17) se refere a Jeová e não a um caminho, sobre o qual se procurava localizá-lo em alguma região específica.

Aarón Sen mergulhou em numerosas ocasiões neste lugar, e pôde atestar a veracidade do descobrimento. Em março de 1998, fotografou os restos de uma roda de carruagem de quatro raios, e retirou ossos humanos dos quais há "dúzias" dispersadas no leito do mar. Um osso foi levado ao departamento de Osteologia na Universidade de Estocolmo, para ser analisado, demonstrando que se trata de um fêmur direito humano, masculino. Porém não pôde ser datado, evidentemente procede de épocas antigas. A altura do homem se estima que era dentre 1,65 e 1,70cm, e os ossos haviam sido substituídos por minerais.

Pequenas quantidades de coral cresceram sobre eles substituindo ao mineral. Aarón viu a ladeira ao sul da ponte natural abaixo da água. Também viu um caminho que os israelitas haviam limpado para cruzar o Mar Vermelho, conduzindo desde a margem, descendo dentro do mar. Os israelitas tiveram que apartar as pedras e rochas aos lados para permitir o acesso para seus carros. Conforme já citei anteriormente, a quantidade de carros, cavalos e homens que acompanhavam o Faraó, e que presumidamente foram “enterrados” pelas águas do Mar Vermelho, deve ser levada em conta para se ter dados suficientes a fim de se atestar se são mesmo de egípcios. Observe a informação de que não se conseguiu “datar”, em análise laboratorial, um dos ossos encontrados e encaminhado à análise laboratorial.

Para se ter uma boa ideia do fanatismo de Wyatt, vejamos a lista completa do que se diz ter ele descoberto:

· a verdadeira Arca de Noé (o sítio Durupinar, perto, mas não no Monte Ararat);

· âncoras de Pedra (ou saco de pedras?) usadas por Noé na Arca;

· a casa pós-dilúvio e tumbas usadas por Noé e sua esposa;

· a localização de Sodoma e Gomorra;

· a Torre de Babel na Turquia Central;

· bolas de enxofre da queima de Sodoma e Gomorra;

· o lugar da travessia do Mar Vermelho pelos Israelitas (que Wyatt localizou no

Golfo of Aqaba);

· rodas das carruagens e outras relíquias do exército perseguidor do Faraó no

fundo do mar;

· o verdadeiro lugar do Monte Sinai bíblico (localizado por Wyatt na Arabia

Saudita em Jabal al Lawz);

· uma câmara no final de um labirinto de túneis sob Jerusalém contendo

artefatos do Templo de Salomão;

· a Arca da Aliança;

· as pedras originais dos Dez Mandamentos;

· o verdadeiro lugar da Crucificação;

· o sangue de Jesus, respingado sobre o Propiciatório da Arca da Aliança,

diretamente abaixo da Crucificação;

Com uma lista de feitos dessa ordem, como ele não é citado, por exemplo, pelos autores: Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman (A Bíblia não tinha razão); Werner Keller (e a Bíblia tinha razão...) e Robin Lane Fox (Bíblia: verdade e ficção)?

Interessante é que, fora o que citamos logo no início, temos textos sobre assuntos relacionados a essa lista de Wyatt: “A arca de Noé”, “E aconteceu no Sinai”, “Sodoma e Gomorra” e “Torre de Babel: o carro na frente dos bois”.

O que percebemos nisso tudo é apenas um fundamentalismo exacerbado que torna as pessoas cegas para a verdade, preferindo acreditar somente no que está escrito na Bíblia, por mais absurdo que se apresente. Quando uma pessoa chega a esse ponto ela não enxerga o óbvio; seus olhos voltam-se apenas para aquilo em que acredita.

Para corroborar que esses fatos citados na Bíblia podem não ser tão verdadeiros assim, irei encerrar citando mais essas opiniões:

No final do século XX, a arqueologia havia mostrado, de maneira simples, que existiam muitas correspondências materiais entre os achados em Israel e em todo o Oriente Próximo e no mundo descrito na Bíblia, para sugerir que toda essa história seja apenas uma literatura sacerdotal posterior e fantasiosa, escrita sem qualquer base histórica. (FINKESLTEIN e SILBERMAN, 2003, p. 36).

O Êxodo

Não há registro histórico da existência de Moisés ou dos fatos descritos no Êxodo. A libertação dos hebreus, escravizados por um faraó egípcio, foi incluída na Torá provavelmente no século VII a.C., por obra dos escribas do Templo de Jerusalém, em uma reforma social e religiosa. Para combater o politeísmo e o culto de imagens, que cresciam entre os judeus, os rabinos inventaram um novo código de leis e histórias de patriarcas heróicos que recebiam ensinamentos diretamente de Jeová. Tais invenções acabaram batizadas de “ideologia deuteronômica”, porque estão mais evidentes no livro Deuteronômio.

A prova de que esses textos são lendas estaria nas inúmeras incongruências culturais e geográficas entre o texto e a realidade. Muitos reinos e locais citados na jornada de Moisés pelo deserto não existiam no século XIII a.C., quando o Êxodo teria ocorrido. Esses locais só viriam a existir 500 anos depois, justamente no período dos escribas deuteronômicos. Também não havia um local chamado Monte Sinai, onde Moisés teria recebido os Dez Mandamentos. Sua localização atual, no Egito, foi escolhida entre os séculos IV e VI d.C., por monges cristãos bizantinos, porque ele oferecia uma bela vista. […] (ROMANINI, 2002, p. 43).

Sei que estudos como esse, que apresento, causam indignação a certas pessoas; entretanto, pelo fato de estarmos em busca da verdade, pouco me importa se os fundamentalistas ainda insistem em pensar de outra forma.