sábado, 28 de maio de 2016

A Guerra dos Judeus contra os Romanos

“E, quando Jesus ia saindo do templo, aproximaram-se dele os seus discípulos para mostrarem a estrutura do templo. Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada”. (Mt 24:1-2)

Quando lemos esta passagem é difícil vislumbrar aquilo que de fato aconteceu. Como teria o Templo sido destruído, uma vez que um dos pilares do império romano era o respeito às instituições religiosas dos povos conquistados?
São comuns várias explicações sobre o assunto, uma delas que diz que correu um boato entre os soldados romanos de que havia ouro escondido entre as pedras, e, desta forma, no meio da agitação da guerra o Templo foi literalmente desmontado. É interessante e facilmente credível a estória, mas não é verdade. Parece que alguém quis fazer um gol de mão para dar consistência à profecia de Jesus, coisa absolutamente desnecessária, uma vez que a história real é por si mesma muito mais impressionante que isto.
Conforme os dados históricos, não só não ficou no Templo pedra sobre pedra, como também foi destruída toda a cidade de Jerusalém, onde, segundo o historiador Flávio Josefo, um milhão e cem mil pessoas perderam a vida. Você consegue imaginar isto? O Novo Testamento não faz referência a este fato, de maneira que, partindo do panorama político dos dias de Jesus, é difícil imaginar como isto pode ter acontecido. A obra de Flávio Josefo “Guerra dos Judeus Contra os Romanos” nos conta em detalhes mínimos como tudo aconteceu. Josefo estava presente quando caiu Jerusalém.
A destruição de Jerusalém é consequência de uma revolta que durou 7 anos, entre seu início em 67 DC e  a reconquista da fortaleza de Massada em 73 DC pelos romanos. No meio deste tempo caiu a cidade de Jerusalém. Mas vejamos antes alguns antecedentes:
Jesus foi crucificado durante o império de Tibério. Tibério foi sucedido por Caio Calígula, que reinou sobre Roma entre 37 DC a 41 DC. Não fosse detido pela morte, teria ele mesmo destruído Jerusalém muito antes do ano 70, isto porque este imperador ordenou que fossem colocadas estátuas no Templo, e que fossem mortos ou escravizados todos os judeus que se opusessem à idéia. De fato o povo se opôs à ideia e a sua destruição foi detida pelo assassinato de Calígula.
Calígula foi substituído por Cláudio, que é mencionado em  At 11:25-28, no tempo em que Paulo levou o Evangelho à Antioquia. Cláudio reinou por cerca de 13 anos, entre 41 DC e 54 DC, e foi sucedido por Nero, seu filho, que reinou entre 54 DC e 68 DC.
Foi Nero quem nomeou Félix governador da Judeia. É a este Félix que Paulo foi enviado, na cidade de Cesareia, quando os judeus conjuraram sua morte em Jerusalém, conforme o registro dos capítulos 23 e 24 de Atos.
Josefo, no capítulo 22, § 177-178, da obra “Guerra dos Judeus Contra os Romanos”, nos dá uma ideia de a quantas andava a Judeia neste tempo: “177 – Ele (Félix) apenas tomou posse do cargo, fez guerra aos ladrões que devastavam todo o país há vinte anos, prendeu Eleazar, seu chefe, e vários outros, que mandou presos à Roma, além de mandar matar um número incrível de outros ladrões. 178. Depois que a Judeia ficou livre desses ladrões, apareceram outros em Jerusalém, que de uma maneira diferente exerciam uma profissão infame e crimi­nosa. Chamavam-nos de sicários, e não era de noite, mas em pleno dia e particu­larmente nas festas mais solenes, que eles mostravam o seu furor. Apunhalavam, no meio do aperto, àqueles aos quais haviam deliberado matar e misturavam em seguida seus gritos com os de todo o povo, contra os culpados de tão grande crime; tudo lhes saía tão bem, que ficavam muito tempo impunes, sem que deles se desconfiasse. O primeiro que eles assassinaram dessa maneira, foi Jônatas, o sumo sacerdote, e não se passava um só dia, sem que não matassem a outros, do mesmo modo. Dessa forma, toda Jerusalém estava tomada de pavor, pois semelhante perigo só existira durante a guerra mais sangrenta. Todos esperavam a morte a cada instante; tremia-se à aproximação de qualquer pessoa; não se confiava nem mesmo nos amigos e embora se vivesse sempre alerta, todas essas desconfianças e sus­peitas não eram capazes de garantir a vida àqueles aos quais tais celerados ti­nham decretado a morte, tão astutos e espertos eles eram num ofício tão execrável.”
É interessante observar que cerca de 25 anos depois da crucificação de Jesus, não só a cidade de Jerusalém, como também o resto do país haviam perdido a sua paz, bem de acordo com a sentença pronunciada pelos próprios judeus, um raro caso em que  “Vox Populi, Vox Dei”  (Voz do povo, voz de Deus) é de fato verdadeiro, conforme lemos em Mateus 27:25: “Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo. Considerai isso. E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”. Caiu mesmo!
Félix foi substituído por Pórcio Festo, a quem se refere  Atos 24:27 e capítulos subsequentes. Festo, por sua vez, já na altura que Paulo fora transferido para Roma, morreu, e Nero o substituiu no governo da Judeia por Albino, a quem Josefo classifica de um homem de maus princípios.
Josefo registra um acontecimento importantíssimo para nós, que ocorreu no intervalo entre estes dois governos. Entre a morte de Festo e a chegada de Albino transcorreram cerca de cinco meses, e neste intervalo, o rei Agripa tirou o sumo sacerdócio de José para dá-lo a Anano. Pode-se observar aqui que o sumo sacerdócio era desde há muito tempo um cargo de confiança de quem governava o estado, o que começou praticamente no período de Judas Macabeu dois séculos antes disto.
Conforme Josefo, Anano, o recém nomeado sumo sacerdote, que era saduceu, “aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não tinha chegado, para reunir um conselho, diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, e alguns outros; acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou ao apedrejamento… Agripa tirou-lhe o sumo sacerdócio, que exercera somente durante quatro meses, e a deu a Jesus, filho de Daneu.” (Antiguidades Judaicas § 856)
Não se pode precisar o ano em que Festo começou a governar a  Judeia,  mas sabe-se que ele morreu em 62 DC, sendo este, portanto, o ano da morte de Tiago. 
Albino, o novo governador, era homem corrupto e de maus princípios. Josefo diz acerca dele: “Não houve mal que ele não fizesse. Não se contentou em se deixar subornar por presentes, nos negócios civis, mas tirava os bens de todos e oprimia os judeus com novos tributos; pôs em liberdade, por meio do dinheiro, os que os magistrados das cida­des tinham condenado ou que os governadores precedentes tinham detido por seus roubos, e só julgava culpados aqueles que nada tinham para lhe dar”. (Ibid § 184)

Sobre esta questão de Albino receber dinheiro para libertar criminosos, Josefo relata no § 861 da História dos Hebreus que “quando Albino soube que Géssio Floro fora nomeado para substituí-lo, pareceu querer obsequiar os habitantes de Jerusalém. Assim, mandou trazer todos os prisioneiros, condenou à morte todos os que realmente eram culpados de crime capital, mandou para a prisão os que lá tinham sido postos por faltas leves e depois lhes deu a liberdade, a troco de dinheiro. Assim esvaziou as prisões, e ao mesmo tempo todo o país ficou cheio de ladrões”. Veja-se nisto o pano de fundo dos acontecimentos que virão a se abater sobre toda a Judeia.
Se este Albino era mau e corrupto, foi substituído por Gessio Floro, a quem comparado, segundo Josefo, Albino poderia ser até chamado de bom homem: ” Seus roubos não ti­nham limites, bem como outras violências; ele era cruel para com os aflitos e não se envergonhava das ações mais vis e infames; nenhum outro jamais traiu mais atrevidamente a verdade, nem usou de meios mais sutis para fazer o mal.” (Ibib § 185)
Foi durante o governo deste Gessio Floro que começou a revolta que culminaria, no ano 70 DC, na destruição do Templo.

A revolta começou com uma banalidade, em Cesareia, onde um grego possuía um terreno perto de uma sinagoga, terreno este que os judeus desejam comprar e se dispunham a pagar por ele bom preço. Josefo conta que o grego não somente não se contentou em em não vendê-lo, “mas também resolveu, para aborrecê-los ainda mais, mandar construir neste ter­reno uns armazéns e deixar assim uma passagem muito estreita para se ir à sina­goga”.
Os judeus tentaram impedir a construção e levaram o caso a Floro, o governador recém empossado, que recebeu destes uma certa soma de dinheiro ,prometendo, desta forma, parar a obra. Não fez nada e deixou a coisa toda ao acaso.
Para piorar a situação, conta Josefo, que o grego, num dia de sábado, enquanto os judeus estavam na sinagoga, começou a sacrificar aves com o claro propósito de irritá-los, e foi assim que tudo começou, com enfrentamento de ambas partes, gregos e judeus, de maneira que em pouco tempo a escalada de violência tomou  toda a cidade, e como um rastilho de pólvora, uma simples ocorrência local, se espalhou por todo o país
Floro, governador da Judeia, ao invés de apaziguar a situação, viu ali a oportunidade de fustigar os judeus, mandando atirar muitos à prisão como também executar outros. Os judeus procuraram então, por todas as maneiras resolver a questão de maneira legal e pacífica. Floro, considerando-se sua influência regional como governador da Judeia, pode ser visto e entendido neste ponto da história como um mini Hitler, como alguém que não poupou qualquer esforço para incentivar uma guerra dos judeus contra os romanos com o fim de exterminá-los.
Conforme Josefo, qualquer pequena ocorrência era motivo para que ele agisse com exagerada força contra o povo desarmado, e assim, Floro  atirou muitos à prisão e executou centenas de pessoas sem uma razão justa. O excesso de injustiça pelo lado de Floro propiciou que florescessem diversos grupos de revoltosos pelo lado dos judeus. Um destes grupos, por exemplo, atacou e tomou a fortaleza de Massada, degolando toda a guarnição romana que cuidava do local.
Josefo registra uma ocorrência que revela um interessante costume que florescera naquele tempo: os romanos costumavam levar ao Templo animais para serem sacrificados em nome do imperador Nero. Incentivados por  Eleazar, filho de Ananias, sumo sacerdote naquele ano, os sacerdotes passaram a recusar tais ofertas, causando assim um mal estar na relação com os romanos. Os sacerdotes e fariseus bem tentaram dissuadir o povo de provocar os romanos com tal atitude, mas foram incapazes de controlar a multidão, e assim, enviaram um pedido de ajuda ao rei  Agripa, que por sua vez enviou a Jerusalém três mil homens co­mandados por Dario. Quando estes chegaram, o Templo já estava tomado pelos revoltosos, aos quais se uniram um grande número de assassinos e malfeitores, que tomaram conta da cidade alta. Vejamos o relato de um episódio: “Os amotinadores puseram fogo na casa do sumo sacerdote Ananias e no palácio do rei Agripa e da rainha Berenice. Cercaram também arquivo dos atos públicos para queimar todos os contratos e as obrigações que lá estavam, trazendo as­sim ao seu partido todos os devedores, que não mais temiam atacar seus cre­dores, porque não existiam mais os títulos em virtude dos quais eles os pudes­sem perseguir, e atiraram assim os pobres contra os ricos. Os que tinham esses títulos sob custódia fugiram e os revoltosos incendiaram todos os documentos, reduzindo a cinzas os títulos que bem se poderiam chamar do bem público e continuaram a perseguir seus inimigos.” (Ibid § 202)

Como se vê, instalou-se em Jerusalém uma verdadeira guerra civil. Estaríamos, aqui, situados por volta do ano 66 DC, conforme Josefo, o décimo segundo ano de Nero. (Ibid § 221)
A revolta não tardou a se espalhar para a Samaria e Galileia, e mesmo por outras províncias fora da Palestina. Em Damasco, por exemplo, a notícia de que os judeus lutavam abertamente contra os romanos deu lugar à justificativa para que judeus fossem perseguidos e mortos por seus inimigos por se tratar de inimigos de Roma.
Conforme dissemos, a fortaleza de Massada foi conquistada pelos judeus, que liderados por um tal Manahem, mataram toda a guarnição romana encarregada da segurança, e tomaram posse do arsenal que Herodes guardava naquele lugar. Manahem armou um grande número de homens e marchou contra Jerusalém, fazendo-se assim rei, e tornando-se chefe da revolta. Uma vez em Jerusalém matou Ananias, o sumo sacerdote, vindo, depois disto, ser ele próprio morto por uma gente liderada por Eleazar, filho do sumo sacerdote. (Ibid § 204)
Eleazar contava com o apoio popular, uma vez que todos desejavam o fim da revolta, e imaginavam que a morte de Manahem faria cessá-la.  Mas a troca de Manehem por Eleazar só fez piorar as coisas, pois este desejava ardentemente lutar contra os romanos e se libertar da dominação estrangeira. Toda esta espécie de insensatez nos força a pensar que Eleazar, bem como outros que se destacaram nesta guerra,teriam possivelmente vivas em suas mentes a memória dos feitos heroicos de Judas Macabeu, e desta forma, sonhavam também se tornar heróis, reeditando contra os romanos a vitória de Judas Macabeu contra os “gregos”.
Ao mesmo tempo em que se passaram estas coisas em Jerusalém, cerca de vinte mil judeus foram mortos por seus inimigos na cidade de Cesareia. Esta cidade era um importante centro da Samaria, sendo assim, habitada, como outras cidades da região, por maioria gentílica, ou seja, não judeus. A perseguição e morte dos judeus de Cesareia contou com a ajuda do governador Floro. Josefo conta que  “…tão grande morticínio excitou tal furor à nação judaica, que eles devastaram todas as cidades e aldeias na fronteira da Síria, a saber: Filadélfia, Gebonite, Gerasa, Pella e Citópolis; tomaram de assalto Gadara, Hipoim, Gaulanite, destruíram umas, incendiaram outras e avançaram até Cedasa, que pertence aos tirios, Ptolemaida, Gaba, Cesareia, sem que Sebaste e Ascalom fossem capazes de os deter. Incendiaram-na e destruíram Antedom e Gaza. Saquearam também vári­as aldeias da fronteira e mataram a todos os que puderam apanhar.” 
Houve também na mesma época um massacre de muitos judeus na Síria, em Alexandria, no Egito, e por todos os lados, de maneira que, Céstio Galo, governador da Síria, interveio na situação enviando à Judeia, conforme Josefo, “a décima segun­da legião, que ele tinha inteira em Antioquia, dois mil homens escolhidos das outras legiões, seis coortes de outra infantaria, quatro regimentos de cavalaria e três mil soldados de infantaria do rei Antíoco, armados de flechas, mil cavaleiros e três mil soldados do rei Soheme, um terço dos quais era de cavalaria”. (Ibid § 217)
O rei Agripa contribuiu com Céstio no esforço de sufocar a revolta enviando em seu auxílio numerosa tropa de soldados, de maneira que Céstio conseguiu um certo êxito em seu intento, dominando vários focos da revolta pelo país, chegando a Jerusalém, forçando assim os revoltosos a abandonar a cidade e o Templo que haviam tomado. Teve neste ponto da situação a oportunidade de tomar por completo a cidade e por fim à revolta, caso atacasse os poucos focos de resistência que ainda subsistiam, mas aconselhado por seus generais não o fez. Diz Josefo que “se esse general tivesse continuado o cerco, teria logo se apoderado da cidade; mas Deus, irritado contra aqueles malvados, não permi­tiu que a guerra acabasse logo”, e assim, ao abrandar o ataque ao invés de massacrar os revoltosos, Céstio deu oportunidade para que a situação se revertesse, de maneira que os revoltosos se reorganizaram e conseguiram expulsá-lo de Jerusalém, matando centenas de soldados romanos. Conforme Josefo, isso aconteceu no oitavo dia de novembro do décimo segundo ano do reinado de Nero (65 DC).
É aqui que começa a Guerra dos judeus contra os romanos, ao fim da qual  Templo será destruído, conforme as palavras de Jesus. Implantou-se por toda a região um clima de guerra inimaginável, de forma que na constatação de que o controle político sobre a Palestina havia sido perdido, e que o mesmo poderia vir a ocorrer nos países vizinhos, Nero deu a Vespasiano o comando das legiões romanas na Síria, e a incumbência de massacrar os judeus para fazer cessar a revolta. Vespasiano, viria a ser imperador de Roma (entre 69 DC a 79 DC), bem como seria sucedido no trono por  seus dois filhos, Tito (79 DC e 81 DC) e Domiciano (81 DC e 96 DC).

segunda-feira, 4 de abril de 2016

(Documentário - The History Channel) A Bíblia Proibida: Jesus Revolucionário

(Documentário - The History Channel) A Bíblia Proibida: O Lado Oculto da Virgem Maria

(Documentário - The History Channel) A Bíblia Proibida: Evangelhos Proibidos

(Documentário - The History Channel) A Bíblia Proibida: Mensageiros de Deus

(Documentário - The History Channel) A Bíblia Proibida: Profecias Finais

(Documentário - The History Channel) A Bíblia Proibida: Sexo Sagrado

(Documentário - The History Channel) A Bíblia Proibida: Quem é Satanás?

(Vídeo) Uma Noite de Escatologia - Debate - Legendado

quinta-feira, 31 de março de 2016

(Download ) Filme: Alguém Qualquer – Dublado

Acesse o Link
Sinopse:
Zé (Tristan Aronovich) é um trabalhador padrão, que leva sua rotina de faxineiro e restaurador de cadeiras de palha muito a sério. Ele vive uma vida monótona e solitária. Após sofrer um ataque cardíaco, Zé descobre que só lhe restam mais seis meses de vida. Após reencontrar uma prima distante chamada Jandira (Amanda Maya), Zé passa a refletir sobre sua existência.


terça-feira, 22 de março de 2016

(Vídeo) Shlomo Sand: A Invenção da terra de Israel

Povos Antigos e Sua Influência no Monoteísmo Hebreu


Ao longo da História, o povo de Israel foi influenciado pela religião e cultura de diversos povos, o propósito deste trabalho é investigar quais as influências recebidas e exercidas pelos hebreus neste contexto e o que o cristianismo herdou do produto final: o judaísmo. 

Definindo Influência

O vocábulo influência designa uma “força” capaz de produzir alterações em ambientes que estão além da sua origem. É um princípio universal de trocas, um poder da transmissão que, normalmente, atua como uma “via de mão dupla”. Às vezes, uma influência é mais forte e neutraliza outra de sentido contrário. Onde houver algum tipo de contato, haverá influência. Seja no campo físico, químico, social, político, religioso, etc. Se colocarmos, em um mesmo copo, café e leite, esses líquidos se influenciarão mutuamente. Haverá troca de temperatura, cor, sabor e consistência. Se unirmos determinadas substâncias, a interação não será assim tão pacífica. Contudo, a influência acontecerá, ainda que explosiva.
Nas relações humanas, este mesmo princípio se mantém válido. Estamos expostos a inúmeros tipos de influência. Poderíamos compará-las, por exemplo, às ondas eletromagnéticas, que estão no ar, não podem ser vistas, mas ninguém escapa ao seu alcance. O cenário brasileiro apresenta exemplos que nos mostram que influência é sinônimo de poder. A maior parte da nossa população é manipulada pelas influências disseminadas através dos meios de comunicação. Na política, a prática chega a pontos tão extremos que já inventaram até o “tráfico de influência”. Analisando o que somos, como pessoas, notamos que a nossa personalidade é o resultado da ação de influências diversas. Nosso livre-arbítrio não deixa de existir, mas até as decisões mais conscientes estão carregadas de fatores-externos.
A influência é, às vezes, positiva e necessária, mas em outros casos, pode ser perniciosa e prejudicial. É por isso que a Bíblia nos adverte contra o conselho dos ímpios, o caminho dos pecadores, a roda dos escarnecedores e as más conversações. (Sl.1:1 ; II Cor.6:14 ; I Cor.15:33). Somos o sal da terra (Mat.5:13), devemos dar sabor, influenciar. O sal insípido é inútil. Somos a luz e não podemos fazer aliança com as trevas (II Cor.6:14), ou produziremos a penumbra e sombra, o que, para Deus, são trevas da mesma maneira. Assim diz o Senhor nas Sagradas Escrituras: “Não toquem em coisas impuras e eu os receberei”.(II Cor. 6:17). “Aquele que anda com os sábios, será cada vez mais sábio, mas o companheiro dos tolos acabará mal”. (Pv.13:20). 

Geralmente, as influências são sutis, a começar etimologicamente: o termo “influência” tem a mesma raiz que o verbo “fluir” que, por sua vez, se refere, primariamente, à característica sutil de escape e penetração dos líquidos e gazes. Algumas influências se instalam e chegam a criar raízes sem que percebamos. E também há outros casos, onde a é exercida ou recebida conscientemente.
No âmbito religioso, tais princípios e situações são realidades históricas, o que possibilita detectar as influências que o judaísmo recebeu de outras religiões, bem como as que transmitiu no decorrer de sua história até o primeiro século d.C. Tal empreendimento será útil para podermos avaliar, até certo ponto, a origem divina ou humana das práticas religiosas, elucidando a distinção entre o santo e o profano. Estudando fatos relacionados ao judaísmo, entenderemos também nossas raízes, já que daí veio o cristianismo e conosco estão muitas influências judaicas. 

A HERANÇA DAS RELIGIÕES PRIMITIVAS

Quando terminou de preparar a terra, Deus criou o homem à Sua Imagem e Semelhança e com ele teve comunhão durante algum tempo. A experiência dessa comunhão marcou definitivamente o ser humano e, depois de haver pecado, este passou a ter uma espécie de saudade de seu estado original e do seu Criador. Seu vazio interior o levou a buscar a Deus, e essa busca deu origem a diversas religiões que, apesar de divergentes em muitos aspectos, possuíam várias características em comum. Por quê? Porque a espécie humana é uma só; teve a mesma origem; tem os mesmos anseios e a mesma atração por Deus. Além disso, muitas práticas e conceitos foram transmitidos corretamente através da tradição oral, só sofrendo acréscimos e degeneração posteriormente. 

A primeira religião foi monoteísta. Os primeiros homens, conhecedores de sua verdadeira origem, buscaram o verdadeiro Deus. Com o passar do tempo, o pecado foi afastando a humanidade para cada vez mais longe do Criador. Vale lembrar o exemplo de Caim, mesmo depois de matar seu irmão, ele ainda conversava com Deu e foi decisão dele fugir da presença do Senhor. (Gn.4:8-14). Este episódio parece servir para retratar bem o rumo da humanidade. Depois da confusão das línguas, em Babel, os homens se espalharam por toda a face da terra. Muitos povos se formaram, de organização inicialmente tribal. Nesse contexto, diversas novas religiões surgiram e todas essas religiões primitivas preservaram muitos conceitos verdadeiros sobre Deus e práticas de importância espiritual-autêntica.

A expressão “religiões primitivas” refere-se às que surgiram na pré-história, ou seja, antes da invenção da escrita. Às que apareceram depois, denominamos “religiões antigas”. O que afirmamos sobre as religiões primitivas procede, principalmente, de informações fornecidas pela arqueologia. Em casos duvidosos, os dados foram confrontados com práticas religiosas de vários povos que, ainda nos dias de hoje, vivem em sociedades primitivas em diversas partes do mundo. 

Exemplificando o exposto acima temos: 
-Na África: os pigmeus, pigmóides, bátuas, babongos e bantos.
-Na América do Sul: os fueguinos (Terra do Fogo).
-Na América do Norte: os esquimós e os caribus.
-Na Ásia: os andamaneses, semangues e os aetos.
-Na Austrália: os aborígenes.

Esses povos vivem em sociedades primitivas, onde predomina o patriarcado; vivendo da caça, da pesca, do plantio ou do pastoreio; sem contato com o resto do mundo e aonde não chegou a influência das descobertas científicas e tecnológicas. Apresentando características primitivas quanto às condições econômicas,sociais e religiosas.

Outra fonte de informações são inscrições rupestres e desenhos em diversos materiais contendo narrativas sobre períodos anteriores à invenção da escrita. As religiões primitivas se desenvolveram e se tornaram cada vez mais diferentes umas das outras. 
Alguns povos conservaram uma ideia sobre Deus bem próxima da original. Criam em um Ser Supremo, que havia criado o homem e morava no céu. Mas algumas dessas religiões foram se corrompendo: passaram a adorar o sol, a lua e outros astros. A crença na imortalidade da alma era comum a todos esses povos, da degeneração desta convicção, alguns caíram no extremo de invocar e adorar os mortos e outros passaram a valorizar os objetos, as palavras e os gestos sagrados, como se tudo isso tivesse uma alma ou um poder residente, inventando a magia. Nas sociedades que viviam da caça, surgiu a adoração aos animais. Nos casos de sociedades agrícolas, preocupadas com o funcionamento da natureza e seus ciclos, passou-se a crer em vários “seres supremos”, cada um responsável por um fenômeno específico, “ (...) e trocaram a glória do Deus Imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e_répteis.”(Rom-1:23)

É interessante observarmos que, entre as religiões que mantiveram a crença no Ser Supremo, algumas o chamavam de Pai, ou Nosso Pai e outras o chamavam de Criador. A maioria não O associava a qualquer figura, e ainda havia algumas que ensinavam que Ele era semelhante a um homem idoso com longa barba branca.

Algumas características eram comuns a quase todas as religiões primitivas: 

- Crença em poderes sobrenaturais (o Ser Supremo, ou seres, ou poderes)
- Uso de colunas, pilares, altares e templos sagrados.
- Realização de sacrifícios de animais para obtenção de perdão e favores divinos.
- Existência do homem sagrado (sacerdote, xamã, vidente, ou feiticeiro).
- Realização de festas sagradas.
- Uso de palavras sagradas (orações, profecias, mitos).
- Uniões sagradas (matrimônio, clã, tribo, ordem religiosa).

Merecem destaque também, embora mais raras: 

- Cânticos, às vezes, acompanhavam os sacrifícios.
- Inclinava-se a cabeça ou erguiam-se as mãos durante as orações.
- Tiravam-se os calçados em sinal de respeito.
- Ofereciam-se ao Ser Supremo os primeiros frutos de uma colheita.
- Sacrificavam-se ao Ser Supremo os animais primogênitos.
- Pactos com uso de sangue.
- Eram observadas regras alimentares.
- Consideravam-se impuros os períodos de menstruação e gravidez.
- Apenas as mulheres eram proibidas de comer carne de porco.
- Tocar em um defunto era motivo de quarentena.
- O Sangue humano ou de animal eram considerados sagrados.
- Proibia-se olhar ou tocar em certos objetos sagrados.
- Evitava-se mencionar o nome do Ser Supremo desnecessariamente.
- Proibia-se trabalhar nos dias das festas religiosas.
- Praticava-se o jejum nas cerimônias de iniciação.
- Comia-se carne dos sacrifícios acreditando que esse ato criaria um vínculo de parentesco entre o praticante e o Ser Supremo (ou deuses).
- Faziam-se promessas aos deuses (votos).
- Alguns povos primitivos praticavam a circuncisão.
- Havia rituais de comunhão, nos quais o novato tinha seu nome trocado.
- O sangue dos animais sacrificados era derramado sobre locais sagrados.
- Cria-se no renascimento do animal a partir dos seus ossos. Por isso, não os quebravam.
- Algumas montanhas eram consideradas sagradas.
- Em alguns rituais de iniciação, havia um banho sagrado, que era considerado início de uma nova vida.

Essas manifestações não aconteceram todas no meio de um só povo e na mesma época, mas foram praticadas por diversos grupos primitivos dentro de um período de tempo que não podemos delimitar com precisão, mas que se situa, aproximadamente, entre 4000 e 3000 a.C, sendo recorrentes em pontos geograficamente distintos e distantes. 

CULTURAS

As culturas apresentam diferentes estágios de desenvolvimento e isso influencia suas convicções religiosas. Israel teve contato com povos em vários desses estágios, por isso, para localizarmos as origens judaicas, é bom mencionarmos que o tempo dos povos primitivos é dividido nos seguintes períodos: 

Cultura primordial - A sobrevivência se baseava na coleta de plantas e na caça. Já havia o clã, que era formado por famílias monogâmicas sem organização política.

Cultura primária - Surge o cultivo de plantas, a horticultura. A caça já é mais especializada. Inicia-se o pastoreio de animais. É a cultura dos pastores que nasce. Nela, se destaca o valor da numerosa família patriarcal e o nomadismo.

Cultura secundária - A horticultura se desenvolve para o cultivo de cereais. Para isso, as comunidades rurais vão se fixando em determinados lugares. A caça e o pastoreio vão se desenvolvendo por outro lado. Os pastores passam a praticar grandes-migrações.

Cultura terciária - É a combinação de todas as atividades citadas anteriormente.

INFLUÊNCIA DE OUTROS POVOS

Influência Suméria

Pela fixação de moradias surgiram as cidades e posteriormente o comércio. Alguns povos cresceram muito, dando origem às primeiras grandes civilizações. A mais antiga civilização que se destacou pelo seu desenvolvimento foi a dos sumérios. 
Em 3000 a.C., a Suméria já possuía grandes cidades situadas na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates. Seu desenvolvimento em diversos setores foi surpreendente em relação à sua época. Entre seus feitos notáveis destaca-se a invenção da escrita cuneiforme. 
A vida religiosa dos sumérios era intensa: em suas cidades havia grandes templos, chamados zigurates, nos quais encontravam-se sacerdotes, sacerdotisas e muitas outras pessoas ligadas ao serviço sagrado, que consistia, além da manutenção básica, de arte religiosa, a música e os escritos (métodos de encantamento, descrição de rituais, lendas, lamentações e hinos).Os sumérios eram politeístas, possuíam aproximadamente 3000 deuses, aos quais faziam-se sacrifícios de animais. A religião suméria ensinava que os homens haviam sido moldados pelos deuses a partir da argila, unicamente para serem seus escravos. Os templos possuíam terras e celeiros não somente para o sustento dos sacerdotes, mas também dos órfãos e viúvas. 

Dentre as cidades da Suméria estava Ur, de onde saiu Abrão. Foi imensa a herança religiosa que Abrão recebeu, ou seja, inúmeras influências que seriam herdadas mais tarde pelo judaísmo. Muito do que abordamos até aqui pode parecer ter sido extraído da Bíblia. A ação de Abraão ao sacrificar um animal a Deus (Gn.22:13), ou a atitude de Jacó ao erigir uma coluna em Betel (Gn.28:18), não eram práticas inventadas por eles, mas influências herdadas. Se Deus aceitou, e mais tarde até prescreveu certos rituais e ações, isto significa que estavam corretos e, provavelmente, surgiram nas relações de Deus com os povos primitivos. Enquanto alguns degeneraram a religião verdadeira, outros ainda a praticavam, como pode servir de exemplo, em Gênesis 14, Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo que ofereceu a Abraão pão e vinho e recebeu seus dízimos.Ele era rei e sacerdote de um povo que servia, ou havia servido, ao verdadeiro-Deus.

Quase todas as crenças e rituais primitivos apareceram mais tarde na vida dos patriarcas ou no judaísmo, devidamente ajustados e regulamentados pela lei mosaica. A lei tornou obrigatórias muitas daquelas práticas. Outras se firmaram pela tradição e houve muitas que Deus proibiu que se fizessem. As proibições divinas interromperam o livre curso das influências, excluindo o que era maligno ou corrompido. Por exemplo, foram proibidos a fabricação e uso das imagens de esculturas. Se Deus não proibisse, o judaísmo teria incorporado essa influência maligna.

À primeira vista, pode parecer um absurdo o fato dos israelitas praticarem um rito religioso existente entre outros povos. Pode parecer estranho e até duvidoso que Deus tenha ordenado que assim se fizesse. Essa impressão decorre da visão que temos dos povos do passado. Vemos Israel como o povo de Deus e o resto do mundo como povos do Diabo. É verdade que Israel foi um povo escolhido para um propósito especial. Entretanto, a própria Bíblia nos apresenta evidências das relações de Deus com outros povos. Daí surgiram rituais que só mais tarde o judaísmo viria a praticar. Outros exemplos, além de Melquisedeque (Gn 14) podem ser usados para comprovar esse relacionamento de Deus com povos fora de Israel: Balaão era moabita e conhecia o Deus verdadeiro (Num 24); o Senhor lirou os sírios através de Naamã (II Rs 5); como Israel foi liberto do Egito, Deus tirou também os filisteus de Caftor e os sírios de Quir (Am.9:7); os habitantes de Nínive jejuaram, cobriram-se de saco e cinza, e Deus perdoou os seus pecados (Jn.3) e Ciro, rei da Pérsia, foi chamado de servo e ungido de Deus (Is.45:1).Tudo isso é bem coerente com o propósito divino da salvação. Seu objetivo sempre foi resgatar homens “de toda tribo, língua, povo e nação”. (Ap.5:9). Israel foi escolhido para ser o agente de Deus através do qual Ele intensificaria Sua ação e Se revelaria plenamente entre as nações. O povo de Israel foi eleito, não para ser influenciado, mas para influenciar, para realizar o serviço de levar a benção da promessa (Gn.12:3) a todas as famílias da terra.

Influência Egípcia

O inicio da religião de Israel se deu, “oficialmente”, no monte Sinai, quando Moisés recebeu de Deus os dez mandamentos. O povo acabara de sair do Egito, onde esteve por 430 anos, tempo suficiente para que os israelitas absorvessem muitas características da religião egípcia. 
Os egípcios haviam tido uma experiência breve de Monoteísmo, no reinado de Aquenaton, mas depois se tornaram politeístas novamente e muitos de seus deuses eram representados por imagens de animais. Por exemplo, a deusa Hator era reapresentada pela imagem de uma vaca. Logo ao pé do monte Sinai, vemos a manifestação da influência egípcia: Aarão constrói um bezerro de ouro e diz: “Eis aí os deuses, ó Israel, que tiraram vocês da terra do Egito”. (Êx.32:1-5). Na seqüência, realizaram uma grande festa, o que era muito comum nos ritos sagrados das religiões primitivas e antigas. No Egito, havia templos e sacerdotes, os quais tinham o hábito de se purificarem nas águas de uma lagoa sagrada. O acesso ao interior dos templos era exclusivo aos sacerdotes e havia também entre um sumo-sacerdote com acesso a lugares ainda mais restritos dentro dos templos, que proferia orações diante da imagem do seu deus; prostrava-se e também queimava incenso.
Na saída do Egito, Deus deu ao povo os dez mandamentos. Daí em diante, viria a travessia do deserto. Durante esses quarenta anos, Deus tratou com o povo a fim de desarraigar muitas influências egípcias que não poderiam caracterizar o povo de Deus e começou a preveni-los acerca da influência dos povos que habitavam a terra prometida. Deus deu dois tipos de ordem, pois sabia que Israel não cumpriria cabalmente a primeira. Mandou que os cananeus fossem totalmente destruídos. (Num 33: 50-56 /Dt.7:1-6 ; 25-26) e, sabendo que isto não aconteceria, o Senhor prescreveu uma série de proibições a fim de que o judaísmo não ficasse manchado com as influências pagãs. (Dt.17:2-5 Dt.18: 9-14).
No caminho para Canaã, Israel ainda passou pelos termos dos moabitas e a influência maligna foi fatal. Os israelitas participaram dos sacrifícios idólatras e se prostituíram. Provavelmente, tal prostituição era parte do culto. (Núm.25:1-3). A reação de Deus foi matar vinte e quatro mil israelitas. Parece assustador, mas se Deus não fizesse assim, Israel poderia querer incluir a prostituição em seus próprios rituais.

INFLUÊNCIA DOS CANANEUS E NAÇÕES VIZINHAS

Apesar das proibições divinas, Israel se contaminou com as práticas religiosas de Canaã e das nações vizinhas. Ao estudarmos esse episódio, entendemos porque Deus achou por bem enviar o povo para o Egito por 430 anos. Os cananeus já eram perversos quando Israel chegou ao Egito e há menção na Bíblia de que a medida da maldade desse povo estava quase se enchendo. Indo para o Egito,habitaram na terra de Gózer, permanecendo imaculados das práticas dos cananeus.
A seguir, relacionamos algumas das ocorrências de influência cananéia, que se deram desde os tempos dos juízes até o fim da monarquia:

-Foram edificados altares em vários lugares, quando só deveria haver um altar para a nação. (II Rs.17:9 II Rs. 21:1-4 Dt.12:11-14)

-Andaram nos estatutos das nações de Canaã. (II Rs. 17:8).

-Fizeram estátuas, imagens de escultura. (II Rs.17:10,16 II Rs. 21:7)

-Queimaram incenso em vários lugares, principalmente debaixo das árvores.(II Rs.17: 10- 11 Os.4:13).

-Praticaram a adoração a diversos deuses, principalmente a Baal. (II Rs.17:7,12,16 Os.4:17). Baal era a principal divindade dos cananeus e fenícios. Sua figura estava relacionada ao sol. Seu culto incluía sacrifícios de crianças.

-Adoraram os astros. (II Rs. 17:16 II Rs.21:5 II Rs.23:5)

-Praticaram a feitiçaria. (II Rs.21:6 I Sm.28:7).

-Invocaram os mortos. (I Sm.28:7-11).

-Praticaram magia. (Os.4:12).

-Os casamentos políticos dos reis favoreceram o aumento da idolatria. (I Rs.16:31). O pior exemplo foi o de Salomão, que tomou mulheres moabitas, amonitas, iduméias, sidônias, hetéias, etc.. ( I Rs.11:1-9).

Todas essas práticas provocaram a ira de Deus. Em conseqüência, disso ele entregou Israel nas mãos da Assíria e Judá foi levado para a Babilônia. (II Rs. 17:20-23).

O PROFETISMO NO ANTIGO ORIENTE MÉDIO

No estudo do Antigo Testamento, deparamos com o profetismo em Israel e Judá. Este fenômeno inicia-se no tempo de Samuel e estende-se até o período pós-exílico. O profetismo não foi um movimento exclusivamente israelita. As descobertas arqueológicas testificam que havia profetas entre outros povos e religiões. Até entre os sumérios eles já estavam presentes. Havia, inicialmente, dois tipos de profetas: o vidente e o nabi. O vidente era parte das comunidades nômades, tinha visões espirituais e transmitia suas mensagens por meio de versos poéticos. Balaão é um exemplo de vidente gentio. O nabi era o profeta fixo, que estava ligado a um santuário, um templo, ou uma corte real. Os reis possuíam, geralmente, um ajuntamento desses profetas a seu serviço. Todos esses traços do movimento profético se manifestaram em Israel (I Sm.9:9). O maior representante do profetismo javista foi Elias. Nesse tempo, havia muitos profetas, que poderiam ser encontrados profetizando isoladamente ou em bandos.

INFLUÊNCIAS NA LITERATURA

Como vimos, os videntes de diversas religiões transmitiam suas mensagens em forma de versos, essa prática também se tornou comum em Israel. Isto pode ser facilmente constatado nos livros proféticos do Velho Testamento. A literatura religiosa judaica assimilou influências diversas. Poderíamos citar, por exemplo, o uso de parábolas e lamentações. A própria literatura sapiencial era corrente entre outras nações. Os reis das nações antigas mantinham muitos sábios em suas cortes. Eram os conselheiros reais. A sabedoria foi muito valorizada no Egito, na Arábia, na Fenícia, na Babilônia e em outras nações. Entretanto, a literatura desses povos estava cheia de magia, superstição, idolatria e licenciosidade. Muitos escritos sapienciais da Antiguidade foram recuperados pela arqueologia. Eles tratavam de questões comuns da humanidade, tais como o sofrimento, a moral e a religião. Suas conclusões, porém, eram desalentadoras. Os sábios gentios já se dedicavam a questionar o comportamento humano e compor provérbios. Cabe destacar, entretanto, que tais escritos perdem na essência, quando comparados aos livros bíblicos poéticos, principalmente, aos Provérbios de Salomão. Israel apresentou a melhor essência sapiencial, mas recebeu a influência quanto ao estilo literário.

INFLUÊNCIA DA ASSÍRIA

A Assíria se localizava nas planícies férteis às margens do rio Tigre. Seu povo era de descendência semita. Eram guerreiros extremamente ferozes e cruéis. Foi um dos impérios mais agressivos da Antigüidade., conquistava outras nações sob a justificativa de uma missão divina. 
A principal divindade era Assur e entre seus rituais estavam os sacrifícios de animais. Eram imolados leões, cabritos, gazelas, avestruzes e até macacos. Os assírios acreditavam na existência de muitos deuses e também demônios, alguns dos quais, supostamente, possuíam asas. A crença dos israelitas nos demônios parece ter se desenvolvido durante o cativeiro, por influência da Assíria e/ou da Babilônia (Judá). O certo é que, antes, atribuíam todos os acontecimentos à ação de Deus. Após levar cativo os habitantes do Reino do Norte, a Assíria assentou outra população em seu lugar criando um ambiente propício para influenciar o remanescente israelita que havia permanecido em sua terra. O resultado foi um povo híbrido, os samaritanos, que, pela carga de influência estrangeira, passaram a ser discriminados pelos judeus. (Jo.4:9).

INFLUÊNCIA DA BABILÔNIA

Semelhantemente às tribos do norte, também Judá se corrompeu com todas as influências dos cananeus e povos vizinhos. Por esta causa, Deus os entregou nas mãos da Babilônia. (II Rs.17:19-20).
Os babilônios eram politeístas e se dedicavam também à magia, astrologia, adivinhações e encantamentos. Em sua religião, havia sacerdotes que possuíam grande poder político. Esse fator parece ter influenciado os judeus. Nos dias de Cristo, os sacerdotes judaicos se encontravam em proeminência política no meio do seu povo. Na Babilônia, os judeus aprenderam a dura lição de que não deviam assimilar toda e qualquer influência religiosa. No livro de Daniel já podemos observar alguns judeus com personalidade religiosa mais forte e inflexível. Notamos o caso de Daniel, que manteve seus hábitos de oração ao verdadeiro Deus, mesmo sob risco de vida. Seus três amigos, Sadraque, Mesaque e Abdenego, recusaram-se terminantemente a adorar a estátua de Nabucodonozor. Tais atitudes possibilitaram momentos surpreendentes em que os judeus cativos influenciaram os reis estrangeiros, os quais ordenaram que todos reconhecessem e adorassem o Deus verdadeiro. (Dn.2:47 ; 4:1-3 ,34-37 ; 6:25-28). Estas foram experiências particulares, mas que exemplificam uma tendência do povo cativo.
Após o retorno, os judeus se mostraram definitivamente imunizados contra a influência politeísta. Durante o cativeiro, eles repensaram suas relações com Deus e seus valores religiosos. Tais reflexões produziram o Talmude da Babilônia. No cativeiro surgiram as sinagogas que, até hoje, são em todo o mundo centros da cultura e da religião judaica.

INFLUÊNCIA DA PÉRSIA

Em 538 a.C. o império da Babilônia foi conquistado pela Pérsia. Essa nação praticava uma religião monoteísta, o zoroastrismo, com características que nos parecem surpreendentes. Os soberanos persas - pelo menos Dario, e talvez Ciro e Câmbises - adotaram uma religião de Estado, todas as conquistas eram realizadas em nome de um Ser Supremo, Ahuramazda, criador do céu e da terra. No obscuro passado persa, Ahuramazda fora uma dentre várias divindades da natureza. Os rituais incluíam sacrifícios de animais, uma cerimônia do fogo e a ingestão de uma bebida sagrada e alucinógena chamada haoma. Mas, em algum momento anterior a 600 a.C., surgiu das estepes do nordeste da Pérsia o profeta Zaratustra, ou Zoroastro, como os gregos o chamavam, alegando que Ahuramazda havia manifestado-se a ele numa visão, revelando-se como a divindade suprema, onisciente e onipotente, representante da luz e da verdade, o criador de todas as coisas, a fonte de toda a virtude. Voltados contra Ahuramazda estavam as potências das trevas, os anjos do mal e os guardiões da mentira e da falsidade. O universo passou a ser visto como o campo de batalha em que essas forças opostas se enfrentavam, tanto na esfera das conquistas políticas quanto nas profundezas da alma humana, com a esperança de que com o tempo a luz voltasse a brilhar, dispersando a escuridão e fazendo prevalecer a verdade. No dia do ajuste de contas, os abençoados alcançariam a salvação celestial, e todos os outros assariam nas chamas do purgatório.
O conceito de um deus único e todo-poderoso não era inteiramente novo. Os egípcios haviam considerado essa idéia durante o reinado de Aquenaton, e os judeus caminhavam nessa direção havia séculos. Mas Zoroastro deu ao monoteísmo seu padrão ético - a luz contra as trevas, a verdade contra a falsidade. O que constituía uma inovação espiritual de enorme importância. Num sentido imediato, essa visão pode ter sido um reflexo da animosidade entre um reformador visionário e um povo tradicionalista. Zoroastro condenou o sacrifício de animais, por exemplo, e elevou o culto do fogo à eminência de símbolo de purificação e verdade. Mas foi no plano ético que ele obteve seu verdadeiro triunfo, promovendo um modelo de comportamento virtuoso. 
O zoroastrismo sofreu inúmeras modificações no decorrer dos séculos, e seu monoteísmo essencial acabou minado por uma hierarquia cada vez maior de santos e demônios. Alguns de seus rituais pareceram excêntricos demais aos contemporâneos: a aparente adoração do fogo, em elevadas torres ao ar livre; a ausência de templos e ídolos; uma veneração pela natureza tão difundida que os zoroastristas ortodoxos abandonavam seus mortos nos topos das montanhas em vez de macularem a terra com um sepultamento. Mas a essência abstrata do zoroastrismo afetou profundamente o pensamento religioso do Oriente Médio. Ela influenciou os escribas judeus que, na Babilônia, estavam editando os antigos textos da lei mosaica, proporcionado-lhes novos conceitos de céu e inferno e inspirando-os com um novo sentido de responsabilidade individual perante um Deus único e verdadeiro.
A crença numa vida celestial após a morte para os bons e nos tormentos infernais para os maus pode ter sido, em parte, responsável pela maneira esclarecida com que os soberanos persas tratavam as nações conquistadas.
É impressionante a semelhança entre o zoroastrismo e o judaísmo em diversos pontos. Além da influência que os judeus receberam no cativeiro, parece que outras tantas influências foram trocadas entre essas religiões. É difícil tirar uma conclusão. Algumas perguntas não encontram respostas. Por exemplo : Teriam tido os persas uma experiência com o Deus verdadeiro ? Essa hipótese é fascinante e não pode ser descartada. Principalmente, quando lembramos que o Deus de Israel se referiu ao rei Ciro como servo e ungido. (Is.45:1). De qualquer modo, algumas características do zoroastrismo são biblicamente reprovadas. Durante o domínio persa, os cativos judeus foram autorizados a retornar para sua terra.

INFLUÊNCIA DA GRÉCIA

Em 333 a.C., Alexandre, o Grande, conquistou a Pérsia. Nesse período, estava em franca ascensão o domínio grego sobre o mundo conhecido da época. Em 175 a.C. , o rei Antíoco IV construiu um ginásio em Jerusalém e ensinou os jovens judeus a praticar o atletismo. Além disso, tirou os vasos do templo em Jerusalém e colocou nele a imagem de Zeus, seguindo uma prática que fora bem sucedida em todos os outros domínios gregos. Antíoco resolveu estirpar a religião judaica, acabando com a circuncisão e com a observância das leis relativas aos alimentos. A tudo isso o povo de Jerusalém se submeteu. Sacrificaram aos ídolos gregos e profanaram o sábado. Entretanto, fora da cidade, os judeus resistiam obstinados. Esses fatos são narrados no primeiro livro dos Macabeus.
Muitos servos de Deus fiéis, que resistiram a Antíoco Epífanes, foram por ele executados. Até então, os judeus esperavam a recompensa divina em vida. Essas mortes de pessoas virtuosas fizeram com que fosse desenvolvida a fé na imortalidade e na ressurreição. Apenas os saduceus resistiram a essas conclusões. Além desses episódios, a influência grega sobre o judaísmo se deu mais através da cultura. A língua grega foi difundida em todo o mundo. Até em Israel se falava grego. Havia colônias judaicas em muitos lugares. Em Alexandria, no Egito, estava uma das principais e lá foi feita , em 270 a.C., a tradução do Antigo Testamento para o grego. Essa versão recebeu o nome de Septuaginta, sendo utilizada mais tarde por Jesus e seus discípulos.

INFLUÊNCIA DE ROMA

Israel conseguiu se libertar do jugo da Grécia, mas logo foi conquistado pelos romanos. Estes, em seus primórdios, praticaram uma espécie de culto da natureza. Depois, foram “adotando” deuses e práticas religiosas de outras nações, principalmente da Grécia. Como influência romana no judaísmo, podemos citar o templo que Herodes construiu em Jerusalém. A construção era em estilo helenístico, com pilares coríntios e com a imagem de uma águia sobre a entrada principal. No ano 70 d.C. os judeus se rebelaram contra Roma, que revidou, invadindo Jerusalém e derrubando o templo.

INFLUÊNCIA DO JUDAÍSMO SOBRE O CRISTIANISMO

O cristianismo é fruto do judaísmo. Cristo é um judeu. Tal influência é tão abrangente, que poderíamos dizer que herdamos tudo o que o judaísmo tinha e passamos a selecionar o que seria utilizado ou não. Do judaísmo recebemos o Antigo Testamento e , com ele, toda a nossa base religiosa. Cremos no mesmo Deus; cremos no céu, no inferno, na existência das hostes celestiais, na recompensa para os justos e no castigo para os ímpios. Uma lista completa seria bastante extensa. Em alguns segmentos considerados, estatisticamente, cristãos, tais como os adventistas do sétimo dia, o vínculo com o judaísmo se torna ainda mais evidente, pois tais igrejas procuram seguir , ainda hoje, alguns preceitos da lei mosaica, que nós, batistas, não observamos.
Os padres católicos, por sua vez, usam vestes que nos lembram os sacerdotes bíblicos. Muitas igrejas, inclusive Assembleias de Deus, mantêm a tradição de apresentar crianças recém-nascidas. Tal prática não é um preceito cristão, mas está relacionada ao rito judaico da circuncisão. (Lc.2:21-58). Enquanto algumas denominações guardam o sábado, outras guardam o domingo como dia do Senhor. Em ambos os casos, está a influência do sábado judaico.
O Novo Testamento ensina que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas e que o templo de Deus somos nós. Entretanto, existe, ainda hoje, uma forte valorização dos templos de concretos como se fossem sagrados. Muitos se referem a eles como “Casa de Deus”. Os púlpitos ou altares são, às vezes, considerados lugares santos. Tais pensamentos são herança judaica. Alguns as receberam “via catolicismo”. 
A comemoração da páscoa é outra herança. Nós, como cristãos, não temos o dever de comemorá-la. A ceia do Senhor absorveu os significados dessa festa e não tem data determinada para sua realização. 
Há alguns grupos evangélicos que chegam a comemorar pentecostes e tabernáculos sem, contudo, seguir todos os ritos da lei em relação a essas festas. 
Muitas influências judaicas são necessárias e foram endossadas pelo Senhor Jesus (Mt.5). Outras, porém, são pesos desnecessários e totalmente incompatíveis com a revelação da Nova Aliança. (At.15:28-29 Gl.5:3-4).

Conclusão

Podemos dizer que o judaísmo se ergueu sobre os fundamentos das religiões primitivas e, no seu desenvolvimento, foram adotadas características próprias de outros povos. A verdade é que estas características não pertenciam às culturas em que foram encontradas, mas a uma supra cultura anterior, remota, como um elo que pode ser seguido até o Éden. Mesmo com o homem deliberadamente decidindo fugir de Deus e se afastar, Deus deixou pistas em todas as culturas que reconduzissem a Ele. Claro que estas pistas são insuficientes, mas preparam todos os povos para a revelação plena de Deus na história, através de Jesus Cristo.