sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Joachim Jeremias, Geza Vermes, e a Esperança Messiânica no tempo de Jesus


A palavra “Messias” vem do hebraico mashíah, que significa 'ungido', e é traduzida pelo termo latino Messias. Segundo o dicionário Aurélio, Messias tem o sentido religioso de: pessoa ou coletividade na qual se concretizavam as aspirações de salvação ou redenção; pessoa a quem Deus comunica algo de seu poder ou autoridade; líder carismático; e, na linguagem coloquial, embora referido ao sentido religioso, pessoa esperada ansiosamente. 

Por outro lado, “Messianismo” significa, na religião bíblica, a expectativa do Messias; a esperança de um salvador ou redentor. A área da Antropologia Social define messianismo como qualquer movimento político-religioso baseado na crença em um enviado divino (já presente ou ainda por vir) que anuncia e prepara a abolição das condições vigentes, e por fim instaura, ou reinstaura, uma era de plena felicidade e justiça. Aplica-se o termo especialmente quando tal crença pode ser considerada uma referência ideológica para grupos e povos em situação de crise e de dominação, como por exemplo em contexto de domínio colonial ou sob qualquer forma de dominação. Veja-se os movimentos milenaristas como a Guerra de Canudos no Brasil. 

Em sua concepção de messianismo, judaísmo e cristianismo têm muito em comum, mas também divergem em pontos essenciais . O conceito de Messias vem do judaísmo. Representa a esperança de Israel na vinda do enviado de Deus, quando a Aliança deste com o povo eleito chegará à sua plenitude e as promessas se cumprirão em toda a sua extensão. Já o cristianismo nasceu da fé em Jesus de Nazaré como Messias, que, traduzido em grego, é Cristo. Daí vem o nome do fato novo por Jesus inaugurado dentro da história: Cristianismo. O Cristianismo é uma releitura da religião judaica a partir da fé em Jesus como Messias. 

Essa é a grande diferença entre judeus e cristãos. Para os primeiros, o Messias ainda é esperado. Para os últimos, ele já veio. Em muito de sua proposta, na verdade em quase tudo, a estrutura cristã como tal vem do judaísmo. Assim acontece com o monoteísmo, o conceito de Criação, o homem como imagem de Deus, as atitudes básicas perante Deus, a aliança, a expiação, o decálogo, o repouso semanal e a ressurreição dos mortos. Os cristãos conservam as Escrituras judaicas, a Tanach, no seu cânon. Assim é que os livros de Moisés, os Salmos e os Profetas também são Escrituras sagradas dos cristãos. E depois a esses se acrescenta os livros do Novo Testamento.

A idéia de Messias se liga à esperança de um mundo renovado por Deus, um mundo de justiça e paz, íntegro e redimido. O Messias é aquele que inaugura este novo tempo, o Reino de Deus entre os homens. Por isso a expectativa messiânica é uma idéia e uma esperança profundamente revolucionárias. É a afirmação de um futuro radicalmente distinto do passado. E é a negação de uma história cíclica condenada à repetição infindável de suas grandezas e misérias. Essa idéia, que fez a humanidade dar um verdadeiro salto qualitativo, foi fundamento de muitos movimentos libertários na história ocidental. 

Nunca mais o mundo foi o mesmo depois que surgiu a fé no Messias. Como dizia um sábio judeu: “Cada segundo é uma porta estreita por onde o Messias pode entrar”. Desta maneira, a esperança adquire o seu mais vigoroso fundamento. Portanto, quando Jesus de Nazaré se levanta na Galiléia e se manifesta ao povo, sua pessoa e sua pregação vão de encontro às mais profundas esperanças que aquele mesmo povo carregava consigo.

A Esperança Messiânica no tempo de Jesus

No tempo de Jesus os diversos grupos religiosos existentes gozavam de grande reputação diante do povo. Os homens simples passavam a ser influenciados pelas diversas mentalidades apresentadas por estes partidos, eram imersos neste turbilhão de expectativas. Esses grupos apresentavam suas doutrinas, de forma especial no referente ao messianismo. 

Os Fariseus: eram conhecidos como homens extremamente apegados à lei, cumpridores de todas as menores prescrições que se encontravam nela. Esperavam um Messias que cumprisse as Escrituras e levasse Israel à vivência plena da lei. Conhecidos por sua grande piedade e herdeiros da tradição dos assideus, este grupo esperava que o Messias realizasse tudo conforme as Escrituras. Eram hostis à dominação romana e esperavam que o Messias fizesse tombar este reino opressor, depositando nele a esperança de restauração do reinado de Davi. Os fariseus sustentavam o culto nas sinagogas, voltado para a explicação da Lei (junto a eles se encontrava a maioria dos escribas), e influenciavam desta forma o povo com suas idéias em oposição ao Templo. 

A esperança dos fariseus permanece profundamente nacionalista. Ela não esquece o apego ao Reino de Deus, virtualmente universalista. Mas a escolha de Israel e as promessas feitas à dinastia davídica fornecem à representação do Reino de Deus um suporte concreto: a realização do desígnio de Deus na história gira em torno do êxito dessas promessas. Este é impossível sem a fidelidade de Israel à Torah. Mesmo a restauração do poder político graças ao advento do Messias não tem outro objetivo senão a volta integral do povo a esta fidelidade. O nacionalismo religioso não é, portanto, concebido como uma espécie de anexação de Deus, posto a serviço das ambições de Israel: ele tem por objetivo o serviço a Deus por parte de Israel e, finalmente, por parte das outras nações, que também o reconhecerão e lhe serão submetidas. A exclusão de todo pecado, de toda injustiça, de toda opressão, constitui um objetivo essencial confiado ao povo e ao próprio Messias. Na expectativa do advento deste último, no momento que só Deus conhece, Israel deve desde já esforçar-se neste sentido, seguindo um caminho diferente e único, calcado no cumprimento da Lei. 

Os Essênios: representavam um grupo especial no judaísmo deste período. Judeus de estilo monástico, estes homens moravam em sua maioria em centros onde praticavam a vida comunitária e, entre outras coisas, o celibato. Estes homens eram profundamente admirados por sua ascese e sua piedade. O historiador Flávio Josefo os chama de "os mais fantásticos dentre os homens". Eram extremamente hostis a Roma e ao culto realizado no Templo. Este grupo esperava um Messias sacerdotal/régio que destruiria o culto desvirtuado praticado no Templo e instituiria o culto verdadeiro. Este grupo era extremamente belicoso e estava preparado para tomar armas e lutar guiados pelo Messias. “Não há dúvida de que o essenismo esperou, com certa impaciência, o cumprimento das promessas proféticas que falavam da libertação de Israel e do estabelecimento de um povo ideal”. A teoria dos dois ‘Messias’, de Aarão e de Israel, marca com clareza o caráter sacerdotal do partido religioso conhecido pelos textos de Qumran: a semente de Davi estará subordinada ao sacerdote escatológico, em um povo cuja vida estará centrada em Jerusalém, no seu Templo e no seu culto. 

Os Saduceus: eram o grupo formado pela aristocracia sacerdotal, aqueles que dominavam o Templo. Possuíam uma doutrina estritamente fechada, aceitando apenas o livro da Torá e eram bastante reservados com relação a novidades da teologia judaica como a existência dos anjos, a ressurreição dos mortos e outros. Este grupo simpatizava com a dominação romana e não esperava um Messias.

Os Zelotas: eram nacionalistas como os fariseus, porém de um zelo ainda mais acentuado. A seu respeito nos escreve Flávio Josefo: "estavam sob todos os aspectos de acordo com a doutrina dos fariseus, exceto nisto: a paixão deles pela liberdade era inabalável, dada a sua convicção de terem Deus como seu único Senhor". Era, portanto, difícil perceber o limite entre os fariseus e os grupos ativistas, entre os quais se encontravam os zelotas: a diferença situava-se essencialmente no campo das atitudes práticas, e não das concepções religiosas mais fundamentais em matéria de messianismo. Estes judeus nacionalistas eram conhecidos pelo seu forte caráter ativo, ou seja, estavam sempre prontos a tomarem armas e enfrentarem os dominadores romanos. Eram conhecidos também por "sicários", que significava ‘homens do punhal’, pois sempre tinham uma faca sob o manto para enfrentarem os soldados romanos. Existe a hipótese de que Judas Iscariotes, o apóstolo conhecido por ter traído Jesus, fosse sicário. Inclusive seu nome, Iscariotes, é uma corruptela de sicário, com grafia bastante parecida à deste nome. 

Dentre todas estas formas de expectativas e aspirações, percebemos elementos comuns que nos permitem sintetizar a figura de um messias político do qual se esperava que deveria restaurar a glória do Império Davídico. No século I da nossa era, os judeus apegados à corrente que liderava o povo desde o tempo dos reis e dos profetas, esperavam um Messias filho de Davi que realizasse, em primeiro lugar, a sua libertação política, e vencesse (ou até exterminasse!) as potências pagãs, estabelecendo em Israel uma ordem social justa e conforme às exigências da Tora. Ele restituiria ao Estado judeu o brilho perdido há muito tempo, asseguraria um reconhecimento universal do Deus único, permitiria a irradiação do Templo em que todas as comunidades dispersas viriam em peregrinações regulares até a sede do Judaísmo oficial. Em suma, o Messias seria aquele que conduziria ao seu coroamento a obra dos grandes reis de outrora. Esse sonho aparecia no horizonte desde o momento em que era pronunciado o nome do Messias. Certamente ele está subordinado ao tema muito mais fundamental do Reino de Deus, ele mesmo ligado à observância da Torah. Mas ele não é independente desse tema: é até a condição indispensável dele. Assim a esperança conserva uma dimensão de nacionalismo religioso, dimensão esta que até hoje não foi posta em questão por nada: o povo, a terra, o Templo, o culto, são aspectos indispensáveis da salvação esperada; a ‘redenção de Israel’ passa necessariamente por eles.

Podemos então, à raiz disto, perceber que os contemporâneos de Jesus e mesmo seus discípulos possuíam uma compreensão do messianismo influenciada por alguns destes grupos. Ao afirmarem, portanto, que Jesus é o "Messias", eles o faziam tendo em vista alguns desses "projetos humanos de Messias" e recebiam o impacto das expectativas messiânicas das principais correntes políticas de seu tempo. Os termos mesmo da pregação de Jesus foram muitas vezes bastante mal entendidos pelos discípulos e por todos os que o seguiam, pois, embora percebessem e experimentassem que de alguma forma Jesus respondia à aspiração messiânica de todos os grupos, não se conformava totalmente a nenhuma delas. Ao falar dos mistérios do Reino, o povo e os discípulos se deixavam atrair e fascinar por Ele e suas palavras, mas o entendiam conforme suas limitadas perspectivas. E também desenvolviam em relação a ele expectativas reduzidas e que não correspondiam ao que o próprio Jesus sentia ser sua missão e o desejo do Pai para sua vida. 

Podemos então, à raiz disto, perceber que os contemporâneos de Jesus e mesmo seus discípulos possuíam uma compreensão do messianismo influenciada por alguns destes grupos. Ao afirmarem, portanto, que Jesus é o "Messias", eles o faziam tendo em vistas "projetos humanos de Messias" e recebiam o impacto das expectativas messiânicas das principais correntes políticas de seu tempo. Os termos mesmo da pregação de Jesus foram muitas vezes bastante mal entendidos pelos discípulos e por todos os que o seguiam, pois, embora percebessem e experimentassem que de alguma forma Jesus respondia à aspiração messiânica de todos os grupos, não se conformava totalmente a nenhuma delas. Ao falar dos mistérios do Reino, o povo e os discípulos se deixavam atrair e fascinar por Ele e suas palavras, mas o entendiam conforme as suas limitadas perspectivas. E também desenvolviam em relação a ele expectativas reduzidas e que não correspondiam ao que o próprio Jesus sentia ser sua missão e o desejo do Pai para sua vida. 

A autoconsciência messiânica de Jesus

A messianidade de Jesus é ponto fundamental da fé das primeiras comunidades cristãs. Para Marcos – e por extensão, para os evangelhos sinóticos – isto se explicita com a confissão de fé do centurião romano, ao contemplar a morte de Jesus. Na declaração do centurião pagão, está a confissão de fé da comunidade cristã. Assim também está no princípio do Evangelho de Marcos que se autoproclama “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.” Essas palavras já designam Jesus de Nazaré como o Messias esperado, o que em si mesmo já é uma confissão de fé. O Messias e o carpinteiro Jesus que morreu crucificado pelos romanos são, então a mesma pessoa, quer dizer o evangelista. Esse Messias é inseparavelmente o Filho de Deus. O evangelista nos dá a fórmula da fé: vincula a pessoa de Jesus a um certo quadro histórico: o do ambiente judaico que espera a vinda de um Messias, que clama pela Redenção. 

Jesus, de acordo com o evangelho de Marcos, teve experiências espirituais que lhe foram marcantes na consciência de ser enviado para uma missão. Trata-se de experiências verdadeiramente vocacionais, como por exemplo o Batismo que é uma experiência fundante na vida de Jesus. Mesmo entre pensadores judeus, como Geza Vermes, é aceito que Jesus se considerou Filho de Deus em uma condição especial em virtude de suas experiências do Pai e devido à missão recebida. Diz Geza Vermes que essa distinção filial especial foi aceita por Vermes com um conteúdo messiânico: “comparando com o status do judeu comum, acredita-se que o Messias seja filho de Deus em sentido elevado e que, vice-versa, Deus é visto como seu Pai de forma distinta”. 

É desta misteriosa consciência de ser Filho e do fato que esta filiação configurava seu messianismo que deriva a autoridade de Jesus. A compreensão, aliás, da autoconsciência de Jesus passa necessariamente por sua experiência de Deus. Ele trata a Deus por Abba, meu Pai, e estimula seus discípulos a que entendam a Deus como “vosso Pai”. Assim Deus para Jesus é um Pai acessível a todos, que pode ser buscado e encontrado na oração, independentemente da mediação de pessoas e lugares sagrados. Para a sensibilidade dos contemporâneos de Jesus teria parecido irreverente, até mesmo inimaginável, invocar a Deus usando uma palavra tão familiar como Abba. Jesus porém ousou empregar a palavra Abba como invocação a Deus. E grandes exegetas como Joachim Jeremias afirmam que esta denominação Abba é uma ipsissima vox, ou seja, uma palavra que pode ser atribuída ao Jesus histórico. Na invocação Abba expressa-se o último mistério da missão de Jesus. Ele se entendia como alguém que havia recebido os plenos poderes para transmitir a revelação de Deus, porque este Deus se tinha dado a conhecer a ele como seu Pai querido. 

Por isso, a tendência da cristologia ascendente hoje nos permite afirmar que Jesus experimentou sua autoconsciência messiânica não em termos de um messianismo régio ou monárquico ou mesmo de uma condição de ser pré-existente, mas de um chamado divino. O que caracteriza portanto o messianismo de Jesus é o fato de sentir-se eleito e enviado para realizar uma missão divina particular e obedecer estritamente ao chamado de Deus. 

Nesse sentido as ações e o ensinamento de Jesus mostram que ele se autocompreendia dentro de uma relação marcante com Deus seu Pai e investido de uma missão especial. O sofrimento e a morte, do mesmo modo que a esperança na ressurreição foram assumidos como decorrência da obediência irrestrita à vontade do Pai. Essa vontade, necessariamente, contrariava a vontade daqueles que não aceitavam o messianismo de Jesus e sua ação libertadora e desejavam que a configuração do campo religioso judaico oficial permanecesse tal como estava antes de Jesus começar sua pregação. E embora Jesus tentasse e pretendesse conservar em segredo a natureza da autoridade que o fazia tão especial, sua coerência e a força de seu carisma não deixaram de provocar indignação naqueles que desejavam esse carisma para poder ter maior influência sobre o povo e que, no entanto, não o tinham. Esses mesmos que, observando a conduta de Jesus, entendiam o que acontecia com ele porque conheciam a religião e o Deus de Israel, que Jesus chamava de Abbá.

Um texto chave para a compreensão da autoconsciência messiânica de Jesus é o relato do capítulo 8 do evangelho de Marcos vv 27-33 : 
E saiu Jesus, e os seus discípulos, para as aldeias de Cesaréia de Filipe; e no caminho perguntou aos seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens que eu sou? E eles responderam: Joäo o Batista; e outros: Elias; mas outros: Um dos profetas. E ele lhes disse: Mas vós, quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, lhe disse: Tu és o Cristo. E admoestou-os, para que a ninguém dissessem aquilo dele. E começou a ensinar-lhes que importava que o Filho do homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos anciãos e príncipes dos sacerdotes, e pelos escribas, e que fosse morto, mas que depois de três dias ressuscitaria. E dizia abertamente estas palavras. E Pedro o tomou à parte, e começou a repreendê-lo. Mas ele, virando-se, e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás; porque näo compreendes as coisas que säo de Deus, mas as que são dos homens.

Esse texto é como um divisor de águas a respeito da compreensão que os discípulos têm sobre Jesus e sobre o que Ele diz de si mesmo. O evangelista Marcos, o mais antigo que tenha chegado até nós, conduz seus leitores frente ao fato de que Jesus não entende seu messianismo como uma atividade meramente política, de poder, mas sim de serviço, que incluirá a incompreensão, a rejeição e o sofrimento. Marcos lembra que o drama da Cruz é inseparável do messianismo jesuânico, uma vez que o próprio Jesus havia interpretado sua vida e sua missão como serviço e não como poder despótico. 

Marcos deixa além disso claro que esse messianismo que Jesus se dispunha a viver defraudou a muitos que esperavam que o messias fosse um libertador político e finalmente os libertasse do jugo do opressor estrangeiro. Jesus, quando afirma que um profeta nunca é bem recebido em sua própria terra não reprova o conceito que o povo tem dele. Não pretendeu amoldar-se às expectativas do povo para conseguir a aceitação, mas manteve-se fiel ao que sabia que Deus lhe havia dado como missão. 

O povo vê, sim, em Jesus um profeta que se dirige às dimensões religiosa e social do ser humano, mostrando-lhes o sentido da vida e a atitude correta a ter para com Deus e com os outros a fim de viver plenamente. Mas se afasta dele no momento em que compreende com certeza que ele não será nem pretenderá ser o reformador político que eles de alguma maneira esperam. 

A resposta dos discípulos simbolizados pela figura de Pedro, o chefe dos apóstolos, dá bem conta de que, embora se trate de uma afirmação de fé válida para o cristianismo primitivo, o Messias descrito na confissão de Pedro não se coaduna exatamente com o que Jesus pensava sobre si mesmo. Talvez, como supõem alguns exegetas e teólogos, essa confissão de fé ainda não estaria madura durante a vida terrena de Jesus. 

Em todo caso, Marcos deixa entrever aí, neste texto que é pós-pascal, porque já narra os detalhes da paixão e da ressurreição, que passou o tempo do segredo messiânico. A partir do v. 30 do capítulo 8, Jesus começa a revelar abertamente o conteúdo de sua messianidade, seja recusando a tendência de compreendê-lo em dimensão meramente política, seja oferecendo outro horizonte, que não se reduz à redenção nacional de Israel, mas abre os horizontes para além do povo eleito, apontando para uma redenção inclusiva para todos. Em relação a Pedro e aos apóstolos também, a advertência de Jesus, refletida na confissão petrina, mostra Jesus como o inverso do Messias esperado. Não um rei poderoso, mas um humilde e obediente servo de Deus seu Pai. 
Na tradição judaica, o Messias seria o ungido e sua ação teria três pontos básicos: conseqüências reais de libertação para o povo judeu; a bênção de Deus iria permanecer e criar um estado permanente de reconciliação; o resultado da ação do messias seria uma era de justiça, de partilha e solidariedade, com a satisfação plena de todas as necessidades humanas, como saúde, alimentação, moradia e inclusão social. Tudo isso, com o que Jesus pensava e dizia sobre si mesmo, parecia cair por terra. Por aí podemos compreender a dimensão conflitiva que carregava sua messianidade para aqueles que com ele conviviam, mesmo para os que o seguiam mais de perto. 

Os estudos sobre os evangelhos sinóticos e muito concretamente sobre o de Marcos mostram que até o momento da confissão de Pedro, Jesus relutou muito em aceitar o título de Messias e se o aceita a partir deste momento, certamente foi com outro conteúdo. Os discípulos contavam seguir um Messias vencedor dos inimigos de Israel e que iria triunfar sobre os romanos. Esperavam um rei vencedor! O que descobrem, decepcionados, é que Jesus não tinha assumido essa identidade. O Reino de que falava era de outra natureza. Instaura-se uma crise de desencanto e conflito no grupo de discípulos. 

A expressão “era necessário” que aparece não somente aí, mas também e inclusive nos relatos de aparições do Ressuscitado, como a aparição aos peregrinos de Emaús, etc. não significa que as dores messiânicas pelas quais Jesus devia passar eram parte de uma seqüência de eventos do final dos tempos, mas sim o cumprimento da vontade de Deus que não se dava sem dor e sofrimento. É de se notar que naquele momento não se poderia ainda falar da morte de Jesus em sentido salvífico, em nível de consciência jesuânica, mas como parte da visão que Jesus tinha de sua missão messiânica, que poderia incluir o sofrimento e a morte. E o evangelista está bem consciente disso. Ciente das realidades que o aguardavam, Jesus prevê o desfecho que haveria em Jerusalém. Mas confia no Pai e em seu poder. Trata de expor claramente estas coisas a seus discípulos, mas eles não o entendiam por estarem fixados no sonho do poder político. 

A comprovação daquilo que aqui afirmamos é o desejo de um cargo ou poder político, que aparece em Mc 10, 35-46, e que demonstra que os discípulos continuavam surdos e cegos. Seu Messias era o que eles tinham construído em seus sonhos e não aquele servo de Deus que Jesus revelava. Depois dos acontecimentos de Cesaréia, Jesus começa a conviver com a realidade de que o objetivo básico de sua missão entraria em confronto com os poderes do mal em suas inúmeras formas, no ser humano e nas estruturas sociais nas quais ele vivia e agia. 

Após a Páscoa, a comunidade vai relendo a vida e a morte de Jesus. A Paixão ganha um sentido vicário, harmonizando o conceito judeu de Messias com a Cruz que lhe foi imposta pelos romanos. Jesus vai sendo aceito e cultuado como Messias Crucificado. E sua cruz purifica os sonhos messiânicos dos discípulos inclinados ao mecânico, ao mágico e ao egoísta. 

Jesus mostra que seu messianismo está relacionado com o serviço a Deus. Seu messianismo não é monárquico e triunfal. Do ponto de vista político, Jesus será rejeitado justamente pelas autoridades formadas pelos anciãos, sacerdotes e escribas, representantes das principais correntes do Sinédrio. São esses que o condenarão. O sonho de glória dos discípulos que esperavam participar de um poder terreno de Jesus, é transtornado e frustrado pela realidade do sofrimento de Jesus. 

Ao descrever os fatos relativos a seu futuro, Jesus vai usar a expressão “Filho do homem” para referir-se a si mesmo. Segundo Joachim Jeremias, os ditos de Jesus sobre os sofrimentos do Filho do Homem têm em comum entre si a tradição de que Jesus previu, no decurso de sua atividade, o sofrimento e a morte como inevitáveis. 

Assim, cremos poder interpretar com consistência que Jesus usou a expressão Filho do Homem para simplesmente referir-se a si mesmo. Não a expressou no sentido da consciência de ser uma pessoa de outra natureza, que não a humana mas de ser uma pessoa humana com uma missão de natureza divina. Acreditava – e a comunidade cristã dará testemunho disso – que o momento histórico que vivia seria seguido por um momento apocalíptico e que Ele mesmo, sofredor agora, seria exaltado depois no Reino de Deus. Essa concepção não somente recalca a inevitabilidade das dores messiânicas como também a confiança irrestrita que Jesus tinha com relação ao cuidado e ao amor de Deus para com sua pessoa, vida e missão. 

Aos discípulos parece impossível reconciliar o sonho messiânico com a morte de Jesus, justamente sob o domínio das autoridades da nação a quem pretendiam libertar e governar. Não admira que Jesus repreenda a Pedro que o quer afastar do caminho que ele acredita ser o seu . Para Jesus o que Pedro propunha fugia da vontade de Deus para sua vida e missão, pois ela certamente não consistia em retomar o reino de Israel das mãos do Império romano por meio de uma ação guerrilheira de configuração zelote ou sicária. Jesus deixa claro que não pretendia restaurar a monarquia judaica e que sua consciência messiânica estava firmemente fundamentada não em sua ação, mas na ação de Deus.

Marcos não está preocupado com o julgamento do mundo e da história, mas com o tempo em que a comunidade a que se dirige vive, tempo este que separa a Páscoa de Jesus – na morte e ressurreição - de sua manifestação gloriosa. Este tempo deve ser um tempo propício para confessar Jesus a uma geração adúltera e infiel. A tomada de consciência de Jesus a respeito de seu messianismo foi processual, como esperamos demonstrar neste capítulo. Justamente por isso a comunidade de Marcos tinha para garantir sua fidelidade ao Messias Jesus tal como este se havia compreendido e manifestado apenas a vida concreta e histórica de Jesus de Nazaré, sua morte de cruz e a experiência de senti-lo vivo e ressuscitado da morte por Deus seu Pai.

Dificuldades na interpretação do messianismo de Jesus

Vimos, pois, que o messianismo bíblico tem formas diversas e a pessoa, a pregação e ação de Jesus vão se dar em meio a essa pluralidade de formas e expectativas. Na época de Jesus, a ocupação romana e o clima apocalíptico haviam exacerbado a espera e o povo aspirava intensamente por uma libertação. Havia mesmo casos em que as multidões se deixaram seduzir e arrastar por pseudo-messias, havendo toda a aventura terminado em grande massacre. 

Aqueles, porém, que seguiram Jesus viram nele o Messias tão esperado e finalmente presente. A radicalidade do seguimento e da pretensão de Jesus ao chamar seus discípulos já implica uma confissão de fé em sua pessoa. A formação de um grupo de seguidores e discípulos era comum entre os rabinos judeus. Jesus também o faz, reunindo discípulos à sua volta, mas com algumas conotações próprias que fazem o seu discipulado diferente dos outros: 
. Os candidatos não se apresentam. Jesus escolhe soberanamente "os que quer" (Mc 3,13)
. Não se trata de uma relação temporária mestre - discípulo que dura apenas até o discípulo se tornar mestre. Só há um Mestre até o fim (Mt 10,24 s; 23, 8).
. A ligação dos discípulos de Jesus com ele, o Mestre, é total, (mais que a dos rabinos com seus discípulos): devem dispôr-se a partilhar seu caminho errante e sem abrigo, seu destino perigoso, a ameaça constante da morte que ronda. Trata-se de uma comunidade de vida total e de destino.
. A decisão de segui-lo implica a ruptura de todas as amarras, o abandono de tudo (Mc 10,28), e mesmo o risco da própria vida (Mc 8, 34).
. Este seguimento radical equivale a uma confissão de fé em Jesus que terá como continuidade a confissão de fé pré e pós pascal que o reconhece como Filho de Deus. Não há homem que possa exigir tal radicalidade de seguimento. Assim também os mesmos discípulos vão reconhecer neste que vêem glorioso após a Ressurreição o mesmo a quem seguiram pelos caminhos da Palestina e que viram fracassado e morto na cruz. É do Mestre que foi Crucificado que dirão: “Este é o Filho de Deus, Senhor e Cristo” 

O Evangelho de Marcos situa o seguimento radical desde o início das pregações jesuânicas. Pode-se afirmar que os discípulos já tinham visto a Jesus e haviam se sentido cativados por suas palavras e seu carisma. Podemos mesmo ousar pensar que tenham reconhecido nele o motivo de suas esperanças, e por isso o seguiram de forma tão ousada, deixando tudo para trás. Aqueles que deixavam tudo traziam uma firme esperança em seus corações.

A multidão também se encanta e passa a segui-lo e aclamá-lo. Neste contexto de reconhecimento e êxito, Jesus chama solenemente os seus apóstolos "para permanecerem com Ele". E esses que foram chamados para algo mais íntimo e participativo do que a multidão, se encantam com as Palavras do Mestre e os milagres que ele opera, reconhecendo em seus feitos e ensinamentos palavras que lhes fazem lembrar o que conheciam sobre o Messias, ensinado pelos vários grupos que formavam o tecido sócio-religioso do povo de Israel.

Porém este período de êxito e entusiasmo encontra um momento de crise, um momento onde aqueles que seguem a Jesus passam a questionar-se sobre se ele é de fato aquele que esperam. Muitos percebem que não é o "Messias" como queriam e sonhavam que fosse. Encontramos neste período a crescente hostilidade entre Jesus e os chefes dos judeus que percebem que Jesus faz desmoronar muitos de seus ensinamentos.

A sombra do conflito e da cruz não obscurece apenas a última semana da vida de Jesus; pesou, de modo crescente, sobre todo o último período de sua pregação em Israel. A exegese e a teologia identificam aí uma mudança decisiva no ministério de Jesus, que é indicada com o nome de ‘crise galiléia’. Esta "crise galiléia" atinge também os discípulos, que passam a viver esta tensão ao verem o povo rejeitando a mensagem de Jesus e os líderes condenando os seus ensinamentos. 

Há alguns trechos dos Evangelhos que demonstram que mesmo os mais próximos a Jesus não conseguem compreender o modo como ele assume sua missão. Ao primeiro anúncio da Paixão, Pedro reage protestando que aquilo jamais poderá lhe acontecer (Mc8, 31ss). A multiplicação dos pães não é entendida pelos discípulos, a tal ponto que Jesus os questiona sobre se querem permanecer com ele ou ir embora (Mc 6,52). Jesus mesmo critica a dureza de coração e a dificuldade de compreender sua pessoa e seu mistério que vê nos discípulos (Mc 8, 14-20). Ao convidar os discípulos a viver os últimos dias de perseguição com Ele, estes supõem que ele finalmente está aderindo à corrente messiânica de sua época e os convoca a tomar armas. (Lc 22, 35-38). A multidão, em um determinado momento começa a ir embora e não anda mais com ele, sobretudo após a multiplicação dos pães e sua declaração de que o pão que ele dá é sua carne para a vida do mundo (Jo 6,60-66).

Pode-se perceber, portanto, como cresce paulatinamente a crise entre Jesus e aqueles que o seguiam por causa de uma diferença de visões de seu messianismo. Mais e mais vemos desenvolver-se a frustração entre aqueles que esperavam que ele fosse um Messias segundo as expectativas dos diversos grupos que influenciavam a esperança de Israel. 

Cresce também a oposição dos "chefes judeus" que não o aceitam ou o compreendem e querem impor-lhe uma norma de conduta, sentindo-se acusados em seu orgulho por Jesus. Os próprios discípulos começam a enfrentar esta crise quando Jesus passa a lhes anunciar o mistério da paixão. Encontravam-se presos a uma visão de Messias conforme a suas concepções, que oferecesse acima de tudo poder e glória. Esta rejeição supõe também uma rejeição interna, ou seja: eles rejeitavam o caminho abraçado por Jesus e escolhiam para si um caminho segundo seus próprios desejos. Jesus insiste em revelar a seus apóstolos o âmago de sua missão, mas estes permanecem fechados e não o entendem. 

Jesus: Messias e Servo

O messianismo de Jesus inclui e supõe sua submissão obediente à vontade do Deus que ele chama de Abbá = Pai. Nesta linha, o “sim” de Jesus à sua vocação messiânica significa para o kerigma das primeiras comunidades cristãs o pressuposto de seu caminho para a cruz e de sua ressurreição e glorificação. Jesus Cristo não é um messias triunfal. Com efeito, a expressão mais completa de sua messianidade se encontra no chamado hino cristológico, incorporado por Paulo a sua carta aos Filipenses (Flp 2,5ss), descrevendo o caminho de Jesus em kénosis, humilhação e obediência até a morte , pressuposto de sua exaltação à direita de Deus. 

O itinerário de Jesus contém a resposta sobre a identidade de seu messianismo. Apoiando-se sobre a promessa de Deus, e não sobre as expectativas humanas, ele quis ir ao encontro do ser humano naquilo que este tem de mais verdadeiro e fundamental: sua liberdade e responsabilidade. Jesus mostra por sua vida qual é a prática que convém pôr em marcha para significar a concretização do projeto do Reino de justiça e para que o verdadeiro Deus seja adorado. O amor e o serviço vão juntos com o reconhecimento de Deus que é amor.

A fecundidade histórica do messianismo de Jesus não será, portanto, fruto do poder, mas do serviço mais humilde, que começa a partir de baixo, resgatando a todos a partir dos mais pobres, oprimidos e diminuídos da sociedade. O caminho de Jesus de Nazaré, reconhecido e proclamado Messias de Deus, irá em curva descendente, sempre para baixo até desembocar na morte. Será um caminho difícil e doloroso. Deverá fazer-se entre a recusa de uma salvação que poderia ser fuga das realidades deste mundo em nome de uma espiritualidade desencarnada e a recusa de uma salvação que prefere ao perdão e à misericórdia gratuita e sem limites a violência dominadora. Eis por que as testemunhas desta salvação trazida por Jesus, homem que vem de Deus, são não os poderosos, mas os pequenos e rejeitados, os marginalizados de toda sorte. 

Esta é a lógica de Deus que Jesus de Nazaré assumiu e revelou em toda plenitude. Para revelar uma reconciliação universal, era necessário começar a situar seus sinais a partir dos excluídos. Não é nem seria possível haver excluídos à mesa de Jesus porque seus anfitriões são justamente os excluídos. Jesus revela em sua pessoa e em sua prática que a salvação de Deus é recusa de poder e de violência que rejeita e mata. E é por isso que as vítimas de toda sorte e os pobres é que lhe vão à frente e preparam seu caminho. 

A consciência deste messianismo, o próprio Jesus, plenamente humano, a irá adquirindo e assimilando enquanto vive, fala e atua; em seu ministério e em seu itinerário em direção a Jerusalém. Os evangelhos sinóticos relatam a história de Jesus à luz do mistério Pascal e justamente por isso apresentam a messianidade de Jesus como um mistério. Não projetam uma messianidade forçada sobre uma vida não messiânica. 

A passagem de Mc 8, 27-31, quando Jesus pergunta aos discípulos: “Quem dizeis que eu sou?” reflete a autenticidade de uma questão pelo mistério que Jesus é para si mesmo. Diante da confissão de Pedro, que o afirma como Messias, Jesus responde a si mesmo e aos discípulos. E essa resposta é o anúncio de sua Paixão. Somente na morte e na ressurreição se revelará quem ele é de fato. A resposta de Jesus à pergunta sobre seu messianismo, portanto, é anuncio da Paixão e chamado ao discipulado, chamado a segui-lo por este caminho. É o caminho do Messias feito de muito sofrimento, rejeição, morte. É a descida radical, em total auto-esvaziamento para o lugar onde não há mais nenhum suporte, senão somente o Deus que é Pai no qual Jesus confia com todo o seu coração de Filho. 

O verdadeiro mistério messiânico de Jesus, portanto, não se enquadra em nenhuma das categorias vigentes, mas é um mistério de serviço e de paixão. Mistério de uma paixão que é a culminância de um serviço obediente até o fim. Por meio de seu sofrimento, o Messias aprendeu a obediência, dirá a Carta aos Hebreus (Cf. Heb....) e somente nessa obediência ele se experimentará a si mesmo como Filho de Deus e Messias. 

Por isso Jesus, de uma certa maneira, é configurado por sua missão messiânica tão desconcertante aos olhos dos que o seguem. Seu messianismo não é algo que ele possui, mas a identidade mais profunda de seu ser divino e humano, enviado pelo Pai que no seio da história vai experimentando os acontecimentos do tempo messiânico que Ele mesmo inaugura. Esses acontecimentos o vão plasmando, configurando, chegando a sua plenitude nos sofrimentos do Servo de Deus e nas dores de parto da nova criação. 

Aquele a quem a comunidade chamará Senhor (Kyrios) chega a este senhorio apenas e unicamente pela via do serviço. Seu senhorio se revela num serviço humilde e sem triunfalismo . O Senhor exaltado é inseparavelmente o Servo de Deus e é por causa da sua condição de servo que se lhe pode proclamar Senhor. O conceito de Servo, presente por exemplo em Mc 10,44, tem indubitavelmente o pano de fundo de Is 53, ou seja, traz consigo o ‘ebed ywhw, centro de interesse dos cânticos do servo de Deus, que segundo uma antiga tradição foi aplicado a Jesus. Este tema perpassa todos os Evangelhos Sinóticos, ainda que muitas vezes não expresso com a palavra servo (doulós, paîs), mas como hyiós( = filho) (Cf. Mc 1,11 e pars = batismo; Mc 9,7 = transfiguração).

Em João, não aparece a denominação de Jesus como servo (paîs ou doulos), mas somente como filho (hyios). No entanto, segundo as circunstâncias do Evangelho, se dá também o motivo temático do servo (cf. Jo 13, 4ss: o lava-pés, serviço humilde do escravo, realizado por Jesus às portas de sua paixão). Assim Jesus Cristo, o Senhor exaltado à direita de Deus Pai, é inseparavelmente o servo que se esvazia das prerrogativas gloriosas de sua condição divina, para entrar num caminho de obediência que o levará até o sacrifício da cruz (cf. Fil 2,5ss).

O seguimento de Jesus: caminho de serviço 

Isso implica, para todos os cristãos, que entrar no caminho de Jesus Cristo é inelutavelmente entrar em sua obediência, em seu serviço humilde, em sua fidelidade ao Abbá=Pai até a morte de cruz, em seu amor aos irmãos até dar por eles a vida. Somente então se poderá participar em sua glória, na medida em que a infinita ciência e o senhorio de Deus o determinem. 

Para a comunidade eclesial, será algo de fundamental importância perceber e seguir o caminho vivido por Jesus de Nazaré na etapa terrena de sua vida, etapa que se caracteriza como de esvaziamento-serviço. Nessa etapa, a comunidade observa atitudes, prioridades, comportamento, pregação e opções de Jesus. E percebe que esses elementos de sua vida histórica têm valor paradigmático. “Para recuperar o messianismo de Cristo, é necessário voltar a Jesus de Nazaré. Mas então nos encontramos com uma novidade impensada: Jesus é um Messias crucificado. E isto deve ser incorporado também na compreensão atual do Messias” . E ainda que não se trate de imitação literal e sim de seguimento criativo e novo a cada passo, a comunidade se sente conduzida pelo mesmo Espírito que impulsionou a Jesus durante sua vida: o espírito do serviço, em favor da vida para todos, a começar pelos mais marginalizados. Ainda que as circunstâncias onde esse seguimento terá que dar-se sejam diferentes e possam mudar a cada dia.

O messianismo de Jesus Cristo, sem ser algo que se acomoda em um presente que já recebeu plenamente o cumprimento das promessas de Deus a seu povo eleito, recorda que há que estar sempre em tensão para o futuro, em direção ao que há de vir. Pois, sobre esse Messias esperado tão ansiosamente pelo povo, a fé cristã proclama não somente que já veio, mas que virá outra vez com glória. A existência cristã, portanto, a partir do messianismo de Jesus, é chamada a ser um constante anúncio da Boa Nova de que Aquele que já veio, virá novamente com glória e reconhecerá a todos os seus, e por eles será reconhecido. Enquanto isto, há que colocar-se em seu seguimento, na obediência, na humildade e no serviço constante e despojado.

Jesus é o cumprimento da esperança de Israel. Sua missão corresponde globalmente às promessas das Escrituras. Do quadro traçado se depreende um anúncio progressivo da figura e função do Messias. Progressivamente, durante séculos de espera, se passa da concepção entusiasta do messianismo real à mais pura do Messias paciente e, finalmente, à do Filho do Homem. Uma visão de conjunto leva a dizer com clareza que em um primeiro momento a importância da pessoa do Messias (humano) tende gradualmente a diminuir, no sentido de que a espera de Israel se polariza cada vez mais numa intervenção salvífica direta de Deus. Passa-se da imagem do Messias rei à do Messias como Servo paciente e à do Messias Filho do Homem, respeitando uma continuidade fundamental onde a ação poderosa de Deus terá a palavra final. 

O messianismo de Jesus é original, mas reveste os traços mais puros da tradição veterotestamentária Contudo na compreensão deste complexo fenômeno, observamos também uma certa involução que explica, ao menos em certa medida, a recusa de Jesus como Messias por parte da grande maioria do Povo judeu. Do messianismo real os seus contemporâneos agarraram-se exclusivamente ao aspecto temporal e político. Em contrapartida, a figura do Messias paciente será esquecida por completo. Assim, Jesus defraudou as expectativas dos seus contemporâneos ao oferecer uma imagem de Messias purificada das realidades políticas que a haviam revestido. Ele foi descendente de David e admitiu a aclamação “Filho de David”, mas recusou a concepção corrente de Messias. Deslocou a concepção do Reino a um plano espiritual, renunciando a uma realização do mesmo inspirada no poder, prestígio e êxito humano.Nem sequer se lhe atribuiu o papel glorioso do Filho do Homem de Daniel , exceto no que diz respeito Sua vinda definitiva. Em resumo, Jesus deu a preferência à figura messiânica do “Servo” descrito por Isaías, à qual permaneceu fiel durante toda a Sua existência, até à cruz, porque viu na obediência insuperável da humilhação e do sofrimento o único caminho eficaz para dar a salvação aos homens.O messianismo conduz, pois, a Jesus Cristo, e é a chave de compreensão do mistério de sua pessoa e seu caminho, mas não por caminhos humanamente previsíveis. Tanto mais que só fala de modo convincente o que vê os acontecimentos com os olhos da fé. (“crede ut intelligas”, crer para compreender).

No “odre novo” do ser humano reconfigurado por dentro pela ação do Espírito Santo poderá jorrar o “vinho novo” que é o anúncio da vitória do Ressuscitado sobre todas as forças antagônicas do sofrimento e da morte, aparecendo enfim no horizonte do povo como Messias triunfante através do serviço humilde e paciente “até o fim”.

O Livro de Urântia, sobre "João, o cognominado Batista".


João Batista

(1496.1) 135:0.1 JOÃO Batista nasceu aos 25 de março, do ano 7 a.C., de acordo com a promessa feita por Gabriel a Isabel, em junho do ano anterior. Por cinco meses, Isabel manteve o segredo sobre a visitação de Gabriel; e, quando ela contou ao seu marido, Zacarias, ele ficou muito perturbado e só acreditou na narrativa dela depois de ter tido um sonho inusitado, seis semanas antes do nascimento de João. Excetuando-se a visita de Gabriel a Isabel e o sonho de Zacarias, não houve nada de inusitado ou sobrenatural relacionado ao nascimento de João Batista.
(1496.2) 135:0.2 Ao oitavo dia, João foi circuncidado segundo o costume judaico. Ele cresceu como uma criança comum, dia a dia e ano a ano, na pequena aldeia conhecida naqueles dias como a Cidade de Judá, localizada a cerca de seis quilômetros a oeste de Jerusalém.
(1496.3) 135:0.3 O acontecimento mais notável na primeira infância de João foi a visita, em companhia dos seus pais, a Jesus e à família de Nazaré. Essa visita ocorreu no mês de junho, do primeiro ano a.C., quando ele tinha pouco mais de seis anos de idade.
(1496.4) 135:0.4 Depois do retorno de Nazaré, os pais de João começaram a educação sistemática do garoto. Não havia nenhuma escola de sinagoga nessa pequena aldeia; contudo, sendo um sacerdote, Zacarias era bastante bem instruído e Isabel tinha muito mais instrução do que o comum das mulheres judias; ela pertencia ao sacerdócio, sendo uma descendente das “filhas de Aarão”. Como João era o único filho, eles despendiam uma boa parte do seu tempo com a preparação mental dele e com a sua educação espiritual. Zacarias tinha apenas curtos períodos de serviço no templo em Jerusalém, de modo que se dedicava longamente a educar o seu filho.
(1496.5) 135:0.5 Zacarias e Isabel tinham uma pequena fazenda na qual criavam ovelhas. Não chegavam a ganhar a vida com essa terra, mas Zacarias tinha um soldo regular que recebia e que provinha da parte da renda do templo dedicada ao sacerdócio.
(1496.6) 135:1.1 Não havia escola em que João pudesse graduar-se na idade de quatorze anos, mas os seus pais haviam escolhido aquele ano como sendo o mais apropriado para que ele fizesse o voto formal de nazarita. E, desse modo, Zacarias e Isabel levaram seu filho a Engedi, à beira do mar Morto. A sede sulina da irmandade nazarita localizava-se ali, nesta o jovem foi devida e solenemente introduzido à vida dentro dessa ordem. Depois dessas cerimônias e de fazer os votos de abstenção de todas as bebidas intoxicantes, de deixar o cabelo crescer e de abster-se de tocar nos mortos, a família rumou para Jerusalém, onde, diante do templo, João completou as oferendas que eram requeridas dos que faziam os votos dos nazaritas.
(1496.7) 135:1.2 João fez os mesmos votos que tinham sido administrados aos seus ilustres predecessores, Sansão e o profeta Samuel. Um nazarita vitalício era visto como uma personalidade santificada e sagrada. Os judeus encaravam um nazarita quase com o mesmo respeito e a veneração dedicada ao sumo sacerdote, e isso não era de se estranhar já que os nazaritas de consagração vitalícia eram as únicas pessoas, além dos altos sacerdotes, a quem era sempre permitido entrar no local santo, dos santos, de um templo.
(1497.1) 135:1.3 De Jerusalém, João retornou à sua casa, para cuidar das ovelhas de seu pai e cresceu até virar um homem forte e de caráter nobre.
(1497.2) 135:1.4 Aos dezesseis anos, João, em conseqüência de ter lido sobre Elias, ficou tão fortemente impressionado com o profeta do monte Carmelo, que decidiu adotar a sua maneira de vestir. Daquele dia em diante, João sempre usava uma veste de pele e um cinturão de couro. Aos dezesseis anos, ele tinha mais de um metro e oitenta de altura e estava já quase plenamente desenvolvido. Com os seus grandes cabelos soltos e o seu modo peculiar de vestir-se, ele era de fato um jovem pitoresco. E seus pais esperavam grandes coisas do único filho deles, uma criança prometida e um nazarita para toda a vida.
(1497.3) 135:2.1 Após uma doença de muitos meses Zacarias morreu em julho, no ano 12 d.C., quando João tinha um pouco mais de dezoito anos. Essa foi uma época de grande embaraço para João, pois o voto nazarita o proibia de ter contato com os mortos, ainda que da própria família. Embora João estivesse empenhado em cumprir as restrições do seu voto, a respeito da contaminação por meio dos mortos, ele duvidava que tivesse sido totalmente obediente às exigências da ordem nazarita; portanto, depois que o seu pai tinha sido enterrado, ele foi a Jerusalém, onde, no nicho nazarita da praça das mulheres, ele ofereceu os sacrifícios necessários para a sua purificação.
(1497.4) 135:2.2 Em setembro desse ano, Isabel e João fizeram uma viagem a Nazaré para visitar Maria e Jesus. João estava quase se decidindo a começar o trabalho da sua vida, quando foi exortado, não apenas pelas palavras de Jesus mas também pelo seu exemplo, a retornar à sua casa, tomar conta da sua mãe, e esperar pela “chegada da hora do Pai”. Após despedir-se de Jesus e Maria, no fim da agradável visita, João não viu Jesus de novo até o evento do seu batismo no Jordão.
(1497.5) 135:2.3 João e Isabel retornaram para a sua casa e começaram a fazer planos para o futuro. Posto que João recusou-se a aceitar o soldo de sacerdote que lhe era devido dos fundos do templo, no fim de dois anos eles não tinham como manter até mesmo a própria casa; e então decidiram ir para o sul levando o rebanho de ovelhas. Conseqüentemente, o verão em que João fez vinte anos testemunhou a mudança deles para Hebrom. No chamado “deserto da Judeia , João guardava as suas ovelhas ao lado de um riacho, que era o afluente de uma corrente maior que chegava ao mar Morto, em Engedi. A colônia de Engedi incluía não apenas os nazaritas por consagração vitalícia ou de duração determinada, mas numerosos outros pastores ascetas que se congregavam nessa região com os seus rebanhos e que se confraternizavam com a irmandade nazarita. Eles mantinham-se com a criação de ovelhas e com as doações que os judeus ricos faziam à ordem.
(1497.6) 135:2.4 À medida que o tempo passava, João retornava menos assiduamente a Hebrom, enquanto fazia visitas mais freqüentes a Engedi. Ele era tão inteiramente diferente da maioria de nazaritas que achou muito difícil confraternizar-se plenamente com a irmandade. Todavia, ele gostava muito de Abner, líder e dirigente reconhecido da colônia de Engedi.
(1497.7) 135:3.1 Ao longo do vale desse pequeno riacho, João construiu nada menos do que uma dúzia de abrigos de pedra e de currais noturnos, consistindo de pedras empilhadas, onde ele podia vigiar e guardar os seus rebanhos de ovelhas e cabras. A vida de João como pastor permitia a ele ter uma boa parte do seu tempo para pensar. Conversava muito com Ezda, um jovem órfão de Betezur, a quem ele havia de um certo modo adotado e que cuidava dos rebanhos quando ele fazia as suas viagens a Hebrom, para ver a sua mãe e para vender ovelhas, bem como quando ele ia até Engedi para os serviços do sábado. João e o jovem viviam com muita simplicidade, sobrevivendo da carne, do leite de cabra, de mel silvestre e dos gafanhotos comestíveis daquela região. Essa sua dieta regular era complementada pelas provisões trazidas de Hebrom e de Engedi, de tempos em tempos.
(1498.1) 135:3.2 Isabel mantinha João informado sobre os assuntos da Palestina e do mundo; a sua convicção ficava mais e mais profunda, de que a hora aproximava-se rapidamente, em que a velha ordem teria um fim; e de que ele próprio estava para tornar-se o arauto da chegada de uma nova idade, “o Reino do céu”. Esse rude pastor tinha uma grande predileção pelos escritos do profeta Daniel. Lera mil vezes a descrição que Daniel fizera da grande imagem que, segundo Zacarias lhe havia contado, representava a história dos grandes reinos do mundo, começando com a Babilônia e, então, a Pérsia, a Grécia e finalmente Roma. João percebia que Roma era já composta de povos e raças de línguas diferentes, que não poderia jamais se tornar um império fortemente embasado e firmemente consolidado. Ele acreditava que Roma, mesmo então, já estava dividida em Síria, Egito, Palestina e outras províncias. E, então, ele ainda lia: “nos dias desses reis, o Deus dos céus irá estabelecer um Reino que nunca será destruído; e este Reino não será entregue a outro povo, mas partirá em pedaços e consumirá todos os outros reinos e permanecerá para sempre”. “E foram dados a ele o domínio, a glória e um Reino, de tal modo que todos os povos, de todas as nações e línguas, deveriam servir a ele. O seu domínio é um domínio perene, que não passará; e o seu Reino nunca será destruído.” “E o reino, o domínio e a grandeza do Reino sob todos os céus serão dados ao povo dos santos do Altíssimo, cujo reino é um Reino eterno, e todos os domínios servirão e obedecerão a ele.”
(1498.2) 135:3.3 João nunca foi completamente capaz de elevar-se acima da confusão produzida por aquilo que ele havia escutado dos seus pais a respeito de Jesus e dessas passagens que lera nas escrituras. Em Daniel ele lera: “Eu vi, nas visões noturnas, e eis que alguém como o Filho do Homem veio com as nuvens dos céus, e foram dados a ele o domínio, a glória e um reino”. Mas essas palavras do profeta não se harmonizaram com o que os seus pais haviam ensinado a ele. Nem a sua conversa com Jesus, na época da sua visita quando tinha dezoito anos, correspondia a essas afirmações das escrituras. Apesar dessa confusão, e diante de toda essa perplexidade, a sua mãe assegurou-lhe de que o seu primo distante, Jesus de Nazaré, era o verdadeiro Messias, que tinha vindo para assentar no trono de Davi; e que ele (João) tornar-se-ia o seu arauto avançado e seu principal apoio.
(1498.3) 135:3.4 De tudo o que ouvira da maldade e do vício de Roma e da devassidão e da esterilidade moral do império, daquilo que ele sabia sobre os atos perversos de Herodes Antipas e dos governadores da Judéia, João estava com a mente pronta a acreditar que o fim dessa época era iminente. Parecia, a esse nobre e rude filho da natureza, que o mundo estava maduro para o fim da idade do homem e para o alvorecer da nova e divina idade — o Reino do céu. Um sentimento cresceu no coração de João, de que seria ele o último dos velhos profetas e o primeiro dos novos. E sentia-se vibrar com o impulso crescente de ir adiante e de proclamar a todos os homens: “Arrependei-vos! Colocai-vos limpos diante de Deus! Estejais prontos para o fim; preparai-vos para o aparecimento de uma ordem nova e eterna de assuntos sobre a terra, o Reino do céu”.
(1499.1) 135:4.1 Em 17 de agosto, do ano 22 d.C., quando João tinha vinte e oito anos, sua mãe subitamente faleceu. Os amigos de Isabel, sabendo das restrições nazaritas a respeito do contato com os mortos, ainda que na própria família, fizeram todos os arranjos para o enterro de Isabel, antes de mandarem buscar João. Quando ele recebeu a comunicação da morte da sua mãe, ele ordenou a Ezda que conduzisse os seus rebanhos até Engedi e partiu para Hebrom.
(1499.2) 135:4.2 Ao retornar a Engedi, após o funeral da sua mãe, entregou os seus rebanhos à confraria e afastou-se do mundo exterior para jejuar e orar. João conhecia apenas os velhos métodos de aproximar-se da divindade; ele conhecia apenas os registros como os de Elias, Samuel e Daniel. Elias era o seu ideal de profeta. Elias havia sido o primeiro dos mestres de Israel a ser considerado um profeta; e João verdadeiramente acreditava que devia ser, ele próprio, o último dessa longa e ilustre linhagem de mensageiros dos céus.
(1499.3) 135:4.3 Por dois anos e meio, João viveu em Engedi e persuadiu a maioria da confraria de que “o fim da idade estava bem próximo”; de que “o Reino do céu estava para se mostrar”. E todos os primeiros ensinamentos que recebera eram baseados na idéia judaica dominante e no conceito do Messias como o libertador prometido, aquele que livraria a nação judaica da dominação dos seus governantes gentios.
(1499.4) 135:4.4 Em todo esse período, João leu suficientemente as escrituras sagradas que encontrou na casa dos nazaritas em Engedi. Estava especialmente impressionado com Isaías e com Malaquias, o último dos profetas até aquela época. Leu e releu os cinco últimos capítulos de Isaías, e acreditava nessas profecias. E então ele leria em Malaquias: “Cuidai, Eu vos enviarei Elias, o profeta anterior à vinda do grande e terrível dia do Senhor; e ele fará os corações dos pais irem contra os filhos e os corações dos filhos irem contra os pais, de medo que Eu venha e golpeie a Terra com uma maldição”. E foi unicamente por causa dessa promessa feita em Malaquias, de que Elias iria retornar, que João viu-se impedido de sair pregando sobre o Reino vindouro e de exortar os seus companheiros judeus a fugirem da ira que viria. João estava amadurecido para a proclamação da mensagem do Reino vindouro, mas essa expectativa da vinda de Elias o deteve por dois anos mais. E sabia que ele não era Elias. O que então Malaquias havia querido dizer? A profecia seria literal ou figurada? Como poderia ele saber a verdade? Finalmente ousou pensar que, como o primeiro dos profetas era chamado Elias, então o último deveria ser conhecido, finalmente, pelo mesmo nome. Entretanto ainda tinha dúvidas, dúvidas suficientes para não se permitir jamais vir a chamar a si mesmo de Elias.
(1499.5) 135:4.5 Foi a influência de Elias que levou João a adotar os seus métodos de ataque direto e áspero aos pecados e vícios dos seus contemporâneos. Ele procurou vestir-se como Elias, e esforçava-se para falar como Elias; em todos os aspectos externos, ele era como o profeta de outrora. Era um filho da natureza e de tal modo robusto e pitoresco, que era um destemido e ousado pregador da retidão. João não era iletrado, conhecia bem as escrituras sagradas judias, mas não tinha cultura. Sabia como pensar claro, possuía um discurso poderoso e era um denunciador inflamado. Dificilmente seria um exemplo para a sua idade, mas constituía-se em uma reprovação eloquente.
(1499.6) 135:4.6 Finalmente vislumbrou o método de proclamar a nova era, o Reino de Deus; decidiu que ele era mesmo quem se iria transformar no arauto do Messias; colocou de lado todas as dúvidas e partiu de Engedi, em um dia de março do ano 25 d.C., para começar a sua curta mas brilhante carreira como pregador público.
(1500.1) 135:5.1 Para compreender a mensagem dele, dever-se-ia ter em conta o status do povo judeu na época em que João surgiu no cenário da ação. Por quase cem anos todo o Israel tinha estado diante de um impasse; e todos se perdiam na tentativa de explicar a contínua subjugação a soberanos gentios. E não tinha sido ensinado por Moisés que a retidão era sempre recompensada com a prosperidade e o poder? Não era o povo escolhido de Deus? Por que o trono de Davi estava vazio e abandonado? À luz das doutrinas mosaicas e dos preceitos dos profetas, os judeus achavam difícil explicar a longa e continuada desolação nacional.
(1500.2) 135:5.2 Cerca de cem anos antes dos dias de Jesus e João, uma nova escola de educadores religiosos surgira na Palestina, a dos apocalípticos. Esses novos educadores desenvolveram um sistema de crença, segundo o qual os sofrimentos e a humilhação dos judeus aconteciam por estarem eles arcando com as conseqüências dos pecados da nação. Eles voltavam às motivações já bem conhecidas, escolhidas para explicar o cativeiro da Babilônia e de outras épocas ainda anteriores. Contudo, assim ensinavam os apocalípticos, Israel deveria retomar a sua coragem; os dias de aflição estavam quase no fim; a lição do povo escolhido de Deus estava para terminar; a paciência de Deus com os gentios estrangeiros estava quase exaurida. O fim do domínio romano era sinônimo de fim da idade e, em um certo sentido, de fim do mundo. Esses novos pregadores apoiavam- se fortemente nas predições de Daniel, e, consistentemente, ensinavam que a criação estava para atingir o seu estágio final; os reinos deste mundo estavam a ponto de tornarem-se o Reino de Deus. Para a mente judaica daqueles dias, esse era o significado daquela frase — o Reino do céu — que está nos ensinamentos tanto de Jesus quanto de João. Para os judeus da Palestina a frase “o Reino do céu” não tinha senão um significado: um estado absolutamente reto, no qual Deus (o Messias) governaria as nações da Terra na perfeição do poder, exatamente como Ele governava nos céus — “Seja feita a Tua vontade, na terra como no céu”.
(1500.3) 135:5.3 Nos dias de João, os judeus perguntavam-se com muita expectativa: “Quando, pois, virá o Reino?” Havia um sentimento geral de que o fim do domínio das nações gentias estava próximo. Havia, presente em todo o mundo judeu, uma esperança viva e uma intensa expectativa de que a consumação do desejo das idades ocorreria durante o período de vida daquela geração.
(1500.4) 135:5.4 Ainda que os judeus divergissem muito nas suas estimativas quanto à natureza do Reino que estava para vir, todos estavam de acordo na sua crença de que o evento era iminente, palpável mesmo, já batendo à porta. Muitos que liam o Antigo Testamento literalmente aguardavam, com expectativa, por um novo rei na Palestina, por uma nação judaica regenerada, libertada dos seus inimigos e presidida pelo sucessor do rei Davi, o Messias, que iria logo ser reconhecido como o governante, justo e reto, de todo o mundo. Outro grupo de judeus devotos, se bem que menor, sustentava uma visão muito diferente desse Reino de Deus. Ensinavam eles que o Reino que estava para vir não era deste mundo, que o mundo aproximava-se do seu fim certo, e que “um novo céu e uma nova terra” viriam para anunciar o estabelecimento do Reino de Deus; que esse Reino era um domínio perene, que o pecado estava para acabar, e que os cidadãos do novo Reino iriam tornar-se imortais no seu gozo dessa bênção sem fim.
(1500.5) 135:5.5 Todos concordavam que alguma purgação drástica ou alguma disciplina de purificação fosse necessária para preceder o estabelecimento do novo Reino na Terra. Pelo que os literalistas ensinavam, aconteceria uma guerra mundial, a qual iria destruir a todos aqueles que não acreditassem, enquanto os fiéis seriam levados a uma vitória universal e eterna. Os espiritualistas ensinavam que o Reino seria inaugurado por aquele grande julgamento de Deus, que iria relegar os injustos à sua bem merecida punição de destruição final, ao mesmo tempo em que elevaria os santos crentes do povo escolhido aos assentos elevados de honra e autoridade, com o Filho do Homem, que governaria sobre as nações redimidas em nome de Deus. E esse grupo acreditava até mesmo que muitos gentios devotos poderiam ser admitidos na comunidade do novo Reino.
(1501.1) 135:5.6 Alguns dos judeus apegavam-se à opinião de que fosse possível até mesmo que Deus pudesse estabelecer esse novo Reino por intervenção direta e divina, mas a grande maioria acreditava que Ele iria interpor algum representante intermediário, o Messias. Esse era o único significado possível que o termo Messias poderia ter nas mentes dos judeus da geração de João e Jesus. Messias não poderia possivelmente referir-se a alguém que meramente ensinasse a vontade de Deus ou que proclamasse a necessidade do viver reto. A todas essas pessoas sagradas os judeus davam o título de profetas. O Messias devia ser mais do que um profeta; o Messias devia trazer o estabelecimento do novo reinado, o Reino de Deus. Ninguém que falhasse em fazer isso poderia ser o Messias, no sentido judaico tradicional.
(1501.2) 135:5.7 Quem poderia ser esse Messias? E novamente os educadores judeus diferiam. Os mais velhos aferravam-se à doutrina do filho de Davi. Os mais jovens ensinavam que, já que o novo Reino era um Reino celeste, o novo governante poderia também ser uma personalidade divina, alguém que estivesse há muito à mão direita de Deus nos céus. E, por estranho que possa parecer, aqueles que concebiam assim o governante do novo Reino, viam-no, não como um Messias humano, não como um mero homem, mas como “o Filho do Homem” — um Filho de Deus — , um Príncipe celeste, há muito esperado para assim assumir o governo feito novo, da Terra. Esse era o pano de fundo religioso, do mundo judaico, quando João entrou em cena proclamando: “Arrependei-vos, pois o Reino do céu está ao alcance das mãos!”
(1501.3) 135:5.8 Torna-se, portanto, claro que o anúncio feito por João, do Reino que viria, tinha nada menos do que meia dúzia de significações diferentes, nas mentes daqueles que ouviam a sua pregação apaixonada. Entretanto, qualquer que fosse o significado, atribuído às frases que João empregava, cada um desses vários grupos, que esperavam o advento do reino judaico, estava intrigado pelas proclamações desse pregador da retidão e do arrependimento. Sincero e entusiasta e ainda rudemente expedito, que tão solenemente exortava os seus ouvintes a “escapar da ira que está por vir”.
(1501.4) 135:6.1 No início do mês de março, do ano 25 d.C., João viajou pela costa ocidental do mar Morto e rio Jordão acima, do lado oposto de Jericó, na antiga parte rasa sobre a qual Joshua e os filhos de Israel passaram para entrar pela primeira vez na terra prometida; e, atravessando até o outro lado do rio, ele estabeleceu-se próximo da entrada dessa parte rasa e começou a pregar ao povo que atravessava o rio em um sentido e no outro. Esse era o vau mais freqüentado para travessias do Jordão.
(1501.5) 135:6.2 Para todos aqueles que ouviam João, ficava claro que ele era mais do que um pregador. A grande maioria daqueles que escutavam aquele homem estranho, vindo do deserto da Judéia, partia acreditando que tinha ouvido a voz de um profeta. Não era de se espantar que as almas desses judeus cansados, mas esperançosos, ficassem profundamente excitadas com esse fenômeno. Nunca, em toda a história dos judeus, os filhos devotos de Abraão haviam desejado tanto a “consolação de Israel”, nem tinham, mais ardentemente, antecipado “a restauração do reino”. Em toda a história dos judeus, nunca a mensagem de João, “o Reino do céu está ao alcance das mãos”, teria podido exercer um apelo tão profundo e universal como na época em que ele apareceu, tão misteriosamente, na margem dessa travessia ao sul do Jordão.
(1502.1) 135:6.3 João era um pastor, como Amós. Vestia-se como o Elias de outrora; e fulminava as suas repreensões e dardejava as suas advertências com o “espírito e o poder de Elias”. Não era de surpreender-se que esse estranho pregador criasse uma forte agitação em toda a Palestina, pois os viajantes levavam até longe as novidades que vinham das suas pregações no Jordão.
(1502.2) 135:6.4 Havia ainda uma outra característica, nova, no trabalho desse pregador nazarita: Ele batizava todos os seus crentes no Jordão “para a remissão dos seus pecados”. Embora o batismo não fosse uma cerimônia nova entre os judeus, eles nunca tinham visto o batismo ser feito como João o realizava agora. Havia muito que vinha sendo uma prática batizar assim os prosélitos gentios, para admiti- los na comunidade da parte externa da praça do templo, mas nunca tinha sido pedido aos judeus, eles próprios, que se submetessem ao batismo do arrependimento. Apenas de quinze meses foi o período desde a época em que João começara a pregar e a batizar, até sua detenção e a sua prisão, instigadas por Herodes Antipas; mas nesse curto período de tempo ele pôde batizar bem mais de cem mil penitentes.
(1502.3) 135:6.5 João pregou por quatro meses no vau de Betânia, antes de partir para o norte, subindo o Jordão. Dezenas de milhares de ouvintes, alguns apenas curiosos, mas muitos sinceros e sérios, vieram para ouvi-lo de todas as partes da Judeia  da Pereia e de Samaria. Alguns vieram até mesmo da Galileia.
(1502.4) 135:6.6 Em maio desse ano, enquanto ele ainda se detinha no vau de Betânia, os sacerdotes e os levitas enviaram uma delegação para inquirir de João se ele pretendia ser o Messias, e com a autoridade de quem ele pregava. A esses inquisidores João respondeu com estas palavras: “Ide e dizei aos vossos senhores que vós escutastes a ‘voz de alguém que grita no deserto’, como anunciou o profeta ao dizer: ‘preparai o caminho do Senhor, fazei uma estrada plana e reta até o nosso Deus. Cada vale deverá ser preenchido, cada monte e colina deverão ser cortados; o chão acidentado deverá tornar-se plano, enquanto os locais encrespados devem tornar-se um vale plano; e toda a carne verá a salvação de Deus’”.
(1502.5) 135:6.7 João era um pregador heroico  mas sem tato. Um dia, quando ele estava pregando e batizando, na margem ocidental do Jordão, um grupo de fariseus e alguns saduceus destacaram-se e apresentaram-se para o batismo. Antes de levá-los até a água, João, dirigindo-se coletivamente a eles, disse: “Quem vos avisou para partir, como víboras diante do fogo, da ira que virá? Eu batizarei a vós, mas vos previno que vos será necessário produzir os frutos do arrependimento sincero, se quiserdes receber a remissão dos vossos pecados. Não é suficiente dizer-me que Abraão é o vosso pai. Eu declaro que, dessas doze pedras aqui diante de vós, Deus pode fazer surgir filhos dignos para Abraão. E, agora mesmo, o machado já está derrubando as árvores, até às suas raízes. Cada árvore que não dá bom fruto está destinada a ser cortada e jogada ao fogo”. (As doze pedras às quais se referia eram as célebres pedras do memorial levantado por Joshua, para comemorar a travessia das “doze tribos” nesse mesmo ponto, quando eles entraram pela primeira vez na terra prometida.)
(1502.6) 135:6.8 João deu aulas aos seus discípulos; e durante essas aulas ele os instruía sobre os detalhes da nova vida e esforçava-se para responder às suas inúmeras perguntas. Aconselhou aos educadores ensinar sobre o espírito tanto quanto sobre as letras da lei. Ele ensinou os ricos a alimentar os pobres; aos coletores de impostos, ele disse: “Extorquir não mais do que o que vos é devido”. Aos soldados, ele disse: “Não cometais a violência e não arrecadeis nada de modo indevido — contentai-vos com os vossos soldos”. E ao mesmo tempo a todos aconselhava: “preparai-vos para o fim das idades — o Reino do céu está ao alcance das mãos”.
(1503.1) 135:7.1 João ainda tinha idéias confusas sobre o Reino que estava para vir e o seu rei. Quanto mais ele pregava, mais confuso tornava-se; mas essa incerteza intelectual, a respeito da natureza do Reino que viria, em nada diminuía a sua convicção da chegada imediata deste Reino. João podia estar confuso na sua mente, mas nunca em espírito. Não tinha dúvida sobre a vinda do Reino, mas estava longe de ter certeza quanto ao fato de que fosse Jesus ou não o soberano daquele Reino. Enquanto João se atinha à idéia da restauração do trono de Davi, os ensinamentos dos seus pais, de que Jesus, nascido na cidade de Davi, seria o tão esperado libertador, parecia consistente; mas, naqueles momentos em que se inclinava mais para a doutrina de um Reino espiritual e para o fim da idade temporal na Terra, ele ficava em uma dúvida cruel quanto ao papel que Jesus exerceria em tais eventos. Algumas vezes questionava tudo, mas não por muito tempo. Realmente ele gostaria de poder conversar sobre tudo aquilo com o seu primo Jesus, mas isso ia contra o acordo estabelecido entre eles.
(1503.2) 135:7.2 À medida que João viajara para o norte, mais ele pensava sobre Jesus. Parara em mais de uma dúzia de locais enquanto viajava Jordão acima. E foi no vilarejo de Adão onde primeiro referiu-se a “um outro que está para vir depois de mim”, em resposta à pergunta direta que os seus discípulos fizeram a ele: “Sois vós o Messias?” E ele continuou dizendo: “Depois de mim virá um que é maior do que eu, de cuja sandália não sou digno de afrouxar e desatar as correias. Eu vos batizo com água, mas ele irá batizá-los com o Espírito Santo. E com a sua pá na mão irá cuidadosamente limpar esse chão das ervas daninhas; ele recolherá o trigo no seu celeiro, mas o refugo ele o queimará com o fogo do julgamento”.
(1503.3) 135:7.3 Em resposta às perguntas dos seus discípulos, João continuou a expandir os seus ensinamentos, acrescentando, dia a dia, mais indicações que servissem de ajuda e de conforto se comparadas à ambiguidade da sua mensagem inicial: “Arrependei-vos e sede batizados”. Nessa época, multidões chegavam da Galileia e de Decápolis. Dezenas de crentes sinceros permaneciam com o seu adorado mestre, dia após dia.
(1503.4) 135:8.1 Em dezembro do ano 25 d.C., quando João chegou à vizinhança de Pela, na sua caminhada Jordão acima, o seu renome havia sido espalhado por toda a Palestina; e o seu trabalho transformara-se no principal assunto da conversa em todas as cidades em torno do lago da Galiléia. Jesus havia falado favoravelmente à mensagem de João, e isso havia levado muitos de Cafarnaum a aderir ao culto do arrependimento e do batismo de João. Tiago e João, os pescadores filhos de Zebedeu, haviam ido até lá em dezembro, pouco depois de João ter assumido a sua postura de pregador, perto de Pela, a fim de se oferecerem para o batismo. Eles iam ver João uma vez por semana e traziam de volta a Jesus notícias frescas e de primeira mão sobre o trabalho do evangelista.
(1503.5) 135:8.2 Tiago e Judá, irmãos de Jesus, haviam falado em ir até João para o batismo; e agora que Judá tinha vindo a Cafarnaum para os ofícios de sábado, ambos, ele e Tiago, depois de ouvirem o discurso de Jesus na sinagoga, decidiram aconselhar- se com ele a respeito dos seus planos. Isso foi no sábado, à noite, aos 12 de janeiro do ano 26 d.C. Jesus pediu a eles que adiassem a conversa até o dia seguinte, quando ele iria dar-lhes a sua resposta. Jesus dormiu pouquíssimo naquela noite, ficando em comunhão íntima com o Pai nos céus. E preparara tudo para almoçar com os seus irmãos e para aconselhá-los a respeito do batismo de João. Naquela manhã de domingo Jesus estava trabalhando como de costume na marcenaria dos barcos. Tiago e Judá haviam chegado com o almoço e estavam esperando por ele no depósito das madeiras, pois não era ainda a hora da pausa do meio-dia e sabiam que Jesus era muito pontual nessas questões.
(1504.1) 135:8.3 Pouco antes do descanso do meio-dia, Jesus deixou de lado as suas ferramentas, tirou o seu avental de trabalho e simplesmente anunciou aos três que trabalhavam com ele: “É chegada a minha hora”. Ele foi até os seus irmãos, Tiago e Judá, e repetiu: “A minha hora chegou — vamos até João”. E então eles partiram imediatamente para Pela, comendo o almoço enquanto viajavam. Isso foi no domingo, 13 de janeiro. Eles pararam à noite no vale do Jordão e, no dia seguinte, chegaram no local em que João batizava, por volta do meio-dia.
(1504.2) 135:8.4 João mal havia começado a batizar os candidatos do dia. Dezenas de arrependidos estavam na fila, à espera da sua vez, quando Jesus e os seus dois irmãos entraram nessa fila de homens e mulheres sinceros que passaram a crer no Reino que viria, segundo a pregação de João. João tinha perguntado aos filhos de Zebedeu sobre Jesus. E havia ouvido falar sobre as observações de Jesus a respeito da sua pregação, e estava, dia após dia, esperando vê-lo entrar em cena, mas não esperava acolhê-lo na fila dos candidatos ao batismo.
(1504.3) 135:8.5 Absorvido pelos detalhes de um batismo rápido daquele grande número de convertidos, João não levantou os olhos para ver Jesus, até que o Filho do Homem estivesse bem diante dele. Quando João reconheceu Jesus, as cerimônias foram suspensas por um momento, enquanto ele cumprimentava o seu primo na carne e perguntava: “Mas por que vieste até dentro da água para saudar-me?” E Jesus respondeu: “Para submeter-me ao teu batismo”. João replicou: “Mas sou eu que tenho necessidade de ser batizado por ti. Por que vieste até a mim?” E Jesus murmurou a João: “Sê tolerante comigo agora, pois cabe a nós darmos esse exemplo aos meus irmãos que estão aqui comigo, e para que o povo possa saber que é chegada a minha hora”.
(1504.4) 135:8.6 Havia um tom de autoridade e de ultimato final na voz de Jesus. João estava trêmulo de emoção no momento em que se preparou para batizar Jesus de Nazaré, no Jordão, ao meio-dia daquela segunda-feira, 14 de janeiro, do ano 26 d.C. Assim, João batizou Jesus e seus dois irmãos, Tiago e Judá. E quando João havia já batizado esses três, ele dispensou os outros naquele dia, anunciando que ele iria reassumir os batismos no dia seguinte ao meio-dia. Quando o povo já partia, os quatro homens ainda de pé dentro d’água ouviram um som estranho; e logo surgiu uma aparição momentânea exatamente por sobre a cabeça de Jesus, e eles ouviram uma voz dizendo: “Este é o meu Filho adorado, em quem eu muito me comprazo”. Uma grande mudança produziu-se no semblante de Jesus que os deixou, saindo d’água em silêncio, indo na direção das colinas a leste. E nenhum homem viu Jesus de novo por quarenta dias.
(1504.5) 135:8.7 João seguiu Jesus até uma distância suficiente para contar a ele a história da visita de Gabriel à sua mãe, antes que ambos nascessem, do modo como por tantas vezes ele havia escutado dos lábios da sua mãe. E permitiu a Jesus continuar o seu caminho depois que disse: “Agora sei com certeza que és o Libertador”. Mas Jesus nada respondeu.
(1505.1) 135:9.1 Quando João retornou para os seus discípulos (agora havia uns vinte e cinco ou trinta que moravam com ele constantemente), ele os encontrou em uma sincera conferência, conversando sobre o que tinha acabado de acontecer em relação ao batismo de Jesus. E ficaram todos ainda mais atônitos quando João fez-lhes conhecer a história da visita de Gabriel a Maria, antes que Jesus nascesse, e também que Jesus não lhe disse nem uma palavra, mesmo depois que ele lhe tinha contado sobre isso. Naquela tarde, não havendo nenhuma chuva, esse grupo de trinta ou mais pessoas conversou longamente sob a noite estrelada. Perguntavam-se aonde Jesus tinha ido e quando eles o veriam de novo.
(1505.2) 135:9.2 Depois da experiência desse dia a pregação de João, havia um novo tom de certeza nas proclamações a respeito do Reino que estava para vir e do Messias aguardado. Foi um período tenso, o daqueles quarenta dias de espera, aguardando pelo retorno de Jesus. João, no entanto, continuou a pregar, com grande força, e os seus discípulos começaram, nessa época, a pregar para as multidões transbordantes que se ajuntavam à volta de João no Jordão.
(1505.3) 135:9.3 No curso desses quarenta dias de espera, muitos rumores espalharam-se pelo campo, indo mesmo até Tiberíades e Jerusalém. Milhares vinham para ver a nova atração no acampamento de João, reputado como sendo o Messias, mas Jesus não estava lá para ser visto. Quando os discípulos de João afirmaram que o estranho homem de Deus tinha ido para as colinas, muitos duvidaram de toda a história.
(1505.4) 135:9.4 Cerca de três semanas depois que Jesus os havia deixado, uma nova delegação de sacerdotes e de fariseus, vinda de Jerusalém, chegou na cena de Pela. Eles perguntaram diretamente a João se ele era Elias ou o profeta que Moisés prometeu. E quando João disse: “Não sou”, eles atreveram-se a lhe perguntar: “Tu és o Messias?” E João respondeu: “Não sou eu”. E então esses homens de Jerusalém disseram: “Se não és Elias, nem o profeta, nem o Messias, então por que tu batizas o povo e crias todo esse alvoroço?” E João replicou: “Cabe àqueles que me ouviram e que receberam o meu batismo dizer quem eu sou, mas eu vos declaro que, enquanto eu batizo com água, esteve entre nós um que retornará para batizar-vos com o Espírito Santo”.
(1505.5) 135:9.5 Esses quarenta dias foram um período difícil para João e os seus discípulos. Quais deviam ser as relações entre João e Jesus? Uma centena de perguntas veio à discussão. A política e as preferências egoísticas começaram a surgir. Discussões intensas surgiram em torno das várias idéias e conceitos do Messias. Tornar-se-ia ele um líder militar e um rei davídico? Iria ele aniquilar os exércitos romanos, como Joshua fez com os cananeus? Ou viria para estabelecer um Reino espiritual? João optou por decidir, com a minoria, que Jesus tinha vindo para estabelecer o Reino do céu, ainda que não tivesse claro na sua própria mente o que devia ser incluído nessa missão de estabelecimento do Reino do céu.
(1505.6) 135:9.6 Esses foram dias árduos na experiência de João, e ele orou pelo retorno de Jesus. Alguns dos discípulos de João organizaram grupos de exploração para ir à procura de Jesus, mas João os proibiu, dizendo: “Os nossos tempos estão nas mãos de Deus nos céus e Ele irá guiar o seu Filho escolhido”.
(1505.7) 135:9.7 E foi cedo, na manhã de sábado, 23 de fevereiro, que a comitiva de João, ocupada em comer a sua refeição matinal, ao olhar na direção norte, avistou Jesus vindo até eles. Na medida em que Jesus se aproximava deles, João se pôs de pé em uma grande rocha e, levantando a sua voz sonora, disse: “Eis o Filho de Deus, o libertador do mundo! Foi sobre ele que eu disse: ‘Depois de mim haverá um que é o escolhido antes de mim, porque ele veio antes de mim’. Por causa disso, eu saí do deserto para pregar o arrependimento e para batizar com a água, proclamando que o Reino do céu está ao alcance das nossas mãos. E agora vem um que irá batizar-vos com o Espírito Santo. E eu vi o espírito divino descendo sobre esse homem, e ouvi a voz de Deus declarar: ‘Este é o meu Filho adorado em quem Eu muito me comprazo’”.
(1506.1) 135:9.8 Jesus rogou-lhes que voltassem à sua refeição, enquanto se assentava para comer com João; seus irmãos, Tiago e Judá, haviam voltado para Cafarnaum.
(1506.2) 135:9.9 Cedo, na manhã do dia seguinte, Jesus deixou João e os seus discípulos, indo de volta para a Galileia  Não garantiu nada no que dizia respeito a quando eles iriam vê-lo de novo. Às perguntas de João sobre a sua própria pregação e missão, Jesus apenas disse: “O meu Pai irá guiar-te agora e no futuro, como o fez no passado”. E esses dois grandes homens separaram-se, naquela manhã, nas margens do Jordão, para nunca mais se falarem um ao outro na carne.
(1506.3) 135:10.1 Desde que Jesus tinha ido para o norte da Galiléia, João sentia-se levado a voltar-se com os seus passos para o sul. Por conseguinte, no domingo de manhã, 3 de março, João e o restante dos seus discípulos começaram a sua jornada para o sul. Cerca de um quarto dos seguidores imediatos de João, nesse meio tempo, haviam partido para a Galileia à procura de Jesus. Havia uma tristeza confusa em torno de João. Nunca mais ele pregou como o tinha feito antes de batizar Jesus. De algum modo ele sentiu que a responsabilidade do Reino por vir não mais repousava nos seus ombros. Sentiu que o seu trabalho estava quase acabado; e ficou desconsolado e solitário. Contudo, ele pregou, batizou e viajou para o sul.
(1506.4) 135:10.2 Perto do vilarejo de Adão, João permaneceu por várias semanas e foi lá que ele fez o memorável ataque a Herodes Antipas, por ter tomado ilegalmente a esposa de outro homem. Em junho desse ano (26 d.C.), João estava de volta ao vau do Jordão em Betânia, onde tinha iniciado a sua pregação do Reino vindouro, há mais de um ano. Nas semanas que se seguiram ao batismo de Jesus, o caráter da pregação de João gradualmente transformou-se em uma proclamação de misericórdia pela gente comum, enquanto ele denunciava com veemência renovada a corrupção dos governantes políticos e religiosos.
(1506.5) 135:10.3 Herodes Antipas, em cujo território João tinha estado pregando, ficou alarmado com a ideia de que ele e os seus discípulos pudessem começar uma rebelião. Herodes também se ressentia das críticas públicas de João, sobre os seus assuntos domésticos. Em vista de tudo isso, Herodes decidiu colocar João na prisão. E, conseqüentemente, muito cedo na manhã de 12 de junho, antes que chegasse a multidão para ouvir a pregação e testemunhar o batismo, os agentes de Herodes haviam prendido João. Na medida em que as semanas passavam e ele não era libertado, os seus discípulos espalharam-se por toda a Palestina, muitos deles indo até a Galileia para juntarem-se aos seguidores de Jesus.
(1506.6) 135:11.1 João teve uma experiência solitária e um tanto amarga, na prisão. A poucos dos seus seguidores foi permitido vê-lo. Ele ansiava por encontrar Jesus, mas tinha de contentar-se em ouvir os relatos da sua obra através daqueles seguidores seus que se haviam transformado em crentes do Filho do Homem. Muitas vezes era ele tentado a duvidar de Jesus e da sua missão divina. Se Jesus era o Messias, por que nada fez para libertá-lo desse inconcebível aprisionamento? Por mais de um ano e meio esse homem rude de Deus, amante do ar livre, definhou naquela prisão desprezível. E essa experiência foi um grande teste para a sua lealdade e fé em Jesus. De fato, toda essa experiência foi mesmo um grande teste para a fé que João possuía em Deus. Muitas vezes ele foi tentado a duvidar até mesmo da autenticidade da sua própria missão e experiência.
(1507.1) 135:11.2 Após ter estado na prisão por muitos meses, um grupo de discípulos seus veio até ele e, após contar sobre as atividades públicas de Jesus, disse: “Então, vê tu, Mestre, pois aquele que estava contigo no alto Jordão prospera e recebe todos que vêm a ele. Ele festeja até mesmo com publicanos e pecadores. Tu deste um testemunho corajoso sobre ele, e ainda assim ele nada faz para a tua libertação”. Mas João respondeu aos seus amigos: “Esse homem nada pode fazer que não tenha sido dado a ele pelo seu Pai nos céus. Vós vos lembrais bem de que eu disse: ‘Não sou eu o Messias, mas sou um que foi enviado antes a preparar o caminho para ele’. E isso eu fiz. O que possui a noiva é o noivo, mas o amigo do noivo, que está próximo dele e o escuta, rejubila-se grandemente por causa do ruído da sua voz. Essa minha alegria, portanto, cumpriu-se. Ele deve crescer, mas eu devo diminuir. Sou desta Terra e já passei a minha mensagem. Jesus de Nazaré desceu à Terra, vindo dos céus, e está acima de todos nós. O Filho do Homem desceu de Deus e as palavras de Deus ele irá dizer a vós. Pois o Pai nos céus não mede o espírito que dá ao seu próprio Filho. O Pai ama o Seu Filho e irá logo colocar todas as coisas nas mãos desse Filho. Aquele que acredita no Filho tem a vida eterna. E essas palavras que eu disse são verdadeiras e perduráveis”.
(1507.2) 135:11.3 Esses discípulos ficaram assombrados com o pronunciamento de João, tanto que partiram em silêncio. João ficara também muito agitado, pois percebeu que tinha acabado de fazer uma profecia. Nunca mais ele duvidou completamente da missão e da divindade de Jesus. Mas foi um desapontamento sentido, para João, que Jesus não tivesse enviado a ele nenhuma palavra, que não tivesse vindo vê-lo e que não tivesse exercido nenhum dos seus grandes poderes para libertá-lo da prisão. Jesus, no entanto, sabia de tudo isso, E, sendo assim, mantinha um grande amor por João; mas sendo agora conhecedor da sua natureza divina e sabendo plenamente das grandes coisas que estavam em preparação para João quando ele partisse deste mundo e, também, sabendo que o trabalho de João, na Terra, havia acabado, ele obrigou-se a não interferir na evolução natural da carreira do grande pregador-profeta.
(1507.3) 135:11.4 Essa longa espera na prisão estava tornando-se humanamente intolerável. Uns poucos dias antes da sua morte, João novamente enviou mensageiros de confiança a Jesus, perguntando: “O meu trabalho está feito? Por que me enlanguesço na prisão? És verdadeiramente o Messias, ou devemos procurar outro?” E quando esses dois discípulos levaram essa mensagem a Jesus, o Filho do Homem respondeu: “Ide a João e dizei a ele que não me esqueci dele; e que ele deve suportar tudo isso também, pois o conveniente é que cumpramos tudo o que é reto. Dizei a João o que vós vistes e ouvistes — que as boas-novas são pregadas aos pobres — e, finalmente, dizei ao amado precursor da minha missão na Terra, que ele será abundantemente abençoado na idade que está para vir se ele, de mim, não encontrar ocasião para duvidar e cair”. E essa foi a última palavra que João recebeu de Jesus. E essa mensagem confortou-o grandemente e muito fez para estabilizar a sua fé e para prepará-lo para o trágico fim da sua vida na carne, que veio pouco tempo depois dessa ocasião memorável.
(1508.1) 135:12.1 De fato, João estava trabalhando no sul da Peréia, quando foi preso e levado imediatamente para a prisão da fortaleza de Macaerus, onde foi encarcerado até a sua execução. Herodes governava sobre a Peréia e a Galiléia; nessa época, mantinha residência na Peréia, tanto em Julias, quanto em Macaerus. Na Galiléia a residência oficial tinha sido levada de Séforis para a nova capital em Tiberíades.
(1508.2) 135:12.2 Herodes temia libertar João por medo de que ele instigasse a rebelião. Temia condená-lo à morte e que a multidão causasse motins na capital, pois milhares de pereianos acreditavam que João era um homem sagrado, um profeta. Portanto, Herodes mantinha o pregador nazarita na prisão, não sabendo mais o que fazer com ele. Muitas vezes João tinha estado perante Herodes, mas nunca concordara em sair dos domínios de Herodes, nem de abster-se de todas as atividades públicas se fosse libertado. E, a nova agitação a respeito de Jesus de Nazaré, que crescia firmemente, serviu para admoestar Herodes de que não era a hora de libertar João. Além disso, João era também uma vítima do ódio intenso e amargo de Herodias, a mulher ilegal de Herodes.
(1508.3) 135:12.3 Em inúmeras ocasiões Herodes falou com João sobre o Reino do céu; ao mesmo tempo em que ficava algumas vezes seriamente impressionado com a sua mensagem; e tinha medo de libertá-lo da prisão.
(1508.4) 135:12.4 Já que, em Tiberíades, grande parte do edifício estava em construção, Herodes passava um tempo considerável nas suas residências pereianas, pois tinha predileção pela fortaleza de Macaerus. Muitos anos passariam antes que todos os prédios públicos e a residência oficial em Tiberíades estivessem completamente prontos.
(1508.5) 135:12.5 Para celebrar o seu aniversário, Herodes fez uma grande festa no palácio em Macaerus, e convidou os seus principais oficiais e outros homens de posição elevada nos conselhos do governo da Galiléia e Peréia. Já que Herodias tinha fracassado em causar a morte de João, por apelo direto a Herodes, ela estabeleceu para si mesma a tarefa de levar João à morte por meio de um plano astuto.
(1508.6) 135:12.6 No decorrer das festividades e entretenimentos daquela noite, Herodias apresentou a sua filha para dançar diante dos convivas. Herodes estava muito encantado com a dança da donzela e, chamando-a diante de si, disse: “Tu és encantadora. Estou muito satisfeito contigo. Pede a mim, neste meu aniversário, o que desejares, que eu darei a ti, ainda que seja a metade do meu reino”. E Herodes fazia tudo isso sob a influência de muito vinho. A donzela retirou-se e perguntou à sua mãe o que deveria ela pedir a Herodes. Herodias disse: “Vá a Herodes e peça a cabeça de João Batista”. E a jovem donzela, retornando à mesa do banquete, disse a Herodes: “Eu peço que me entregues imediatamente a cabeça de João Batista, em uma bandeja”.
(1508.7) 135:12.7 Herodes ficou cheio de medo e de tristeza, no entanto, havia dado a sua palavra diante de todos os que se assentavam para banquetear-se com ele, e, por isso, não podia negar o pedido. E Herodes Antipas enviou um soldado com a ordem de trazer a cabeça de João. E João teve então a sua cabeça decepada, naquela noite, na prisão; e o soldado trouxe a cabeça do profeta em uma bandeja e apresentou-a à jovem donzela, no fundo da sala de banquete. E a donzela deu a bandeja à sua mãe. Quando os discípulos de João ouviram sobre isso, vieram à prisão buscar o corpo de João e, depois de colocá-lo em um túmulo, foram embora e contaram tudo a Jesus.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A história de Jesus feita pela História.


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Jesus Histórico. Uma Brevíssima Introdução .: André Leonardo Chevitarese e Pedro Paulo Abreu Funari
“Este livro procura mostrar como Jesus de Nazaré, o homem que viveu há dois mil anos, um personagem histórico, pode ser estudado e conhecido. Não se busca, aqui, abranger o cristianismo, a religião que se originou, de alguma forma, do homem de Nazaré, a não ser na medida em que a confissão cristã influiu na pesquisa sobre o Jesus Histórico. Nossa meta é mostrar o que se sabe e quais as discussões, por parte dos estudiosos, sobre a vida de Jesus”.
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"A obra de Lair Amaro representa importante contribuição conteudística e epistemológica aos estudos no campo do Jesus Histórico. A análise comparativa que elabora entre a tradição sinóptica de Marcos, corroborada canonicamente, e o chamado "evangelho Q", levanta novas questões em torno do universo social e discursivo de Jesus, onde performances orais suplantavam, em número e recepção, as tradições escritas.(...)"
Profª Drª Renata Rozental Sancovsky (UFRRJ)
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