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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Richard A. Horsley, John P. Meier, e a figura histórica de Jesus


Numa incrível viagem à Palestina do século 1, historiadores e arqueólogos reconstituem com era a vida do homem comum que se tornou o filho de Deus para os mais de 2 bilhões de cristãos.

Cristo está em toda parte: nas obras mais importantes da história da arte, nos roteiros de Hollywood, nos letreiros luminosos de novas igrejas, nas canções evangélicas em rádios gospel, nos best-sellers de auto-ajuda, nos canais de televisão a cabo, nos adesivos de carro, nos presépios de Natal. Onde você estiver, do interior da floresta amazônica às montanhas geladas do Tibete, sempre será possível deparar com o símbolo de uma cruz, pena de morte comum no Império Romano à qual um homem foi condenado há quase 2 mil anos. Para mais de 2 bilhões de pessoas esse homem era o próprio messias ("Cristo", do grego, o ungido) que ressuscitara para redimir a humanidade.

Embora o mundo inteiro (inclusive os não-cristãos) esteja familiarizado com a imagem de Cristo, até há bem pouco tempo os pesquisadores eram céticos quanto à possibilidade de descobrir detalhes sobre a vida do judeu Yesua (Jesus, em hebraico), o homem de carne e osso que inspirou o cristianismo. "Isso está começando a mudar", diz o historiador André Chevitarese, professor de História Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos especialistas no Brasil sobre o "Jesus histórico" - o estudo da figura de Jesus na história sem os constrangimentos da teologia ou da fé no relato dos evangelhos. Embora tragam detalhes do que teria sido a vida de Jesus, os evangelhos são considerados uma obra de reverência e não um documento histórico. Chevitarese e outros pesquisadores acreditam que, apesar de não existirem indícios materiais diretos sobre o homem Jesus, arqueólogos e historiadores podem ao menos reconstruir um quadro surpreendente sobre o que teria sido a vida de um líder religioso judeu naquele tempo, respondendo questões intrigantes sobre o ambiente e o cotidiano na Palestina onde ele vivera por volta do século I.

NAZARÉ, ENTRE 6 E 4 A.c.

Uma aldeia agrícola com menos de 500 habitantes, cuja paisagem é pontuada por casas pobres de chão de terra batida, teto de estrados de madeira cobertos com palha, muros de pedras coladas com uma argamassa de barro, lama ou até de uma mistura de esterco para proteger os moradores da variação da temperatura no local. Segundo os arqueólogos, essa é a cidade de Nazaré na época em que Jesus nasceu, provavelmente entre os anos 6 e 4 a.c., no fim do reinado de Herodes. Isso mesmo: segundo os historiadores, Jesus deve ter nascido alguns anos antes do ano 1 do calendário cristão. "As pessoas naquele tempo não contavam a passagem do tempo como hoje, por meio da indicação do ano", explica o historiador da Unicamp Pedro Paulo Funari. "O cabeçalho dos documentos oficiais da época trazia apenas como indicação do tempo o nome do regente do período, o que leva os pesquisadores a crer que Jesus teria nascido anos antes do que foi convencionado."

Estudos históricos sobre a vida dos judeus da Palestina no século 1 a.C.
indicam que Jesus nasceu em Nazaré e que tinha irmãos

Se você também está se perguntando por que os historiadores buscam evidências do nascimento de Jesus na cidade de Nazaré - e não em Belém, cidade natal de Jesus, de acordo com os evangelhos de Mateus e Lucas -, é bom saber que, para a maioria dos pesquisadores, a referência a Belém não passa de uma alegoria da Bíblia. Na época, essa alegoria teria sido escrita para ligar Jesus ao rei Davi, que teria nascido em Belém e era considerado um dos messias do povo judeu. Ou seja: a alcunha "Jesus de Nazaré" ou "nazareno" não teria derivado apenas do fato de sua família ser oriunda de lá, como costuma ser justificado.

Mesmo que os historiadores estejam certos ao afirmarem que o nascimento em Belém seja apenas uma alegoria bíblica, o entorno de uma casa pobre na cidade de Nazaré daquele tempo não deve ter sido muito diferente do de um estábulo improvisado como manjedoura. Como a residência de qualquer camponês pobre da região, as moradias eram ladeadas por animais usados na agricultura ou para a alimentação de subsistência.

Jesus deve ter tido uma infância comum, dividida entre brincadeiras com os
irmãos e ajuda nas tarefas profissionais da família

A dieta de um morador local era frugal: além do pão de cada dia (no formato conhecido no Brasil hoje como pão árabe), era possível contar com azeitonas (e seu óleo, o azeite, usado também para iluminar as casas), lentilhas, feijão e alguns incrementos como nozes, frutas, queijo e iogurte. De acordo com os arqueólogos, o consumo de carne vermelha era raro, reservado apenas para datas especiais. O peixe era o animal consumido com mais freqüência pela população, seco sob o sol, para durar. A maioria dos esqueletos encontrados na região mostra deficiência de ferro e proteínas. Essa parca alimentação é coerente com relatos como o da multiplicação dos pães, no Evangelho de Mateus, no qual os discípulos, preocupados com a fome de uma multidão que seguia Jesus, mostram ao mestre cinco pães e dois peixes, todo o alimento de que dispunham.

Se alguém presenciasse o nascimento de Jesus, provavelmente iria deparar com um bebê de feições bem diferentes da criança de pele clara que costuma aparecer nas representações dos presépios. Baseados no estudo de crânios de judeus da época, pesquisadores dizem que a aparência de Jesus seria mais próxima da de um árabe (de cabelos negros e pele morena) que da dos modelos louros dos quadros renascentistas. Seu nome, Jesus, uma abreviação do nome do herói bíblico Josué, era bastante comum em sua época. Ainda na infância, deve ter brincado com pequenos animais de madeira entalhada ou se divertido com rudimentares jogos de tabuleiro incrustados em pedras.

Nossa Senhora de ísis. De onde pode ter se originado uma das mais belas imagens cristãs. O Cristianismo sofreu influências de diversas religiões da época de Jesus. Se você acha que conhece a imagem ao lado, é bom dar uma olhada com um pouco mais de atenção. À primeira vista, ela parece, de fato, representar a Nossa Senhora embalando o menino Jesus. Mas não é. A imagem da estátua é uma representação da deusa egípcia ísis oferecendo o peito a seu filho Hórus. Apesar de não haver como provar que as imagens de Nossa Senhora tenham sido inspiradas diretamente em representações como essa, os pesquisadores sabem que o cristianismo sofreu, em seus primórdios, a influência de diversos cultos que faziam parte dos mundos egípcio e greco-romano. "Desde seu início, o cristianismo tinha uma diversidade assombrosa", diz o professor de Teologia Gabriele Cornelli, da Universidade de Brasília. Na região do Egito, por exemplo, prevalecera o chamado cristianismo gnóstico, cujos textos revelam um Jesus bem mais parecido com um monge oriental. Alguns historiadores acreditam até que alguns cristãos gnósticos possam ter sido influenciados por missionários budistas vindos da índia.

Quanto à família de Jesus, os pesquisadores não acreditam que ele tenha sido filho único. Afinal, era comum que famílias de camponeses tivessem mais de um filho para ajudarem na subsistência da família. Isso poderia explicar o fato de os próprios evangelhos falarem em irmãos de Jesus, como Tiago, José, Simão e Judas. "As igrejas Ortodoxa e Católica preferiram entender que o termo grego adelphos, que significa irmão, queria dizer algo próximo de discípulo, primo", diz Chevirarese.

Assim como outros jovens da Galiléia, é provável que ele não tenha tido uma educação formal ou mesmo a chance de aprender a ler e escrever, privilégio de poucos nobres. Ainda assim, nada o impediria de conhecer profundamente os textos religiosos de sua época transmitidos oralmente por gerações.

POLÍTICA, RELIGIÃO, SEXO

Desde aquele tempo, a região em que Jesus vivia já era, digamos, um tanto explosiva. O confronto não se dava, é claro, entre judeus e muçulmanos (o profeta Maomé só iria receber sua revelação mais de cinco séculos depois). A disputa envolvia grupos judaicos e os interesses de Roma, cujo império era o equivalente, na época, ao que os Estados Unidos são hoje. E, assim como grupos religiosos do Oriente Médio resistem atualmente à ocidentalização dos seus costumes, diversos grupos judaicos da época se opunham à influência romana sobre suas tradições.

O LUXO QUE VEM DE ROMA Diferentemente de Jesus, nobres judeus viviam muito bem obrigado. Para a elite judaica que vivia na Palestina do século I, levar uma vida com requinte e elegância era sinônimo de viver como os romanos. Escavações arqueológicas em Jerusalém e outras cidades indicam uma clara influência da arquitetura e da decoração de Roma no interior das mansões. Para criar uma atmosfera palaciana, era comum, no interior das casas, a reprodução de afrescos e desenhos decorativos com motivos florais e geométricos. Em ambientes maiores, as colunas no estilo romano eram indispensáveis, assim como o uso de mármore para o acabamento dos detalhes - quem não podia pagar pelo mármore usava uma tinta de cor parecida para manter a aura palaciana. Fontes, vasos vitrificados e pisos de mosaico colorido também faziam parte do sonho de consumo dos novos ricos de Jerusalém, que costumavam receber os amigos influentes recostados confortavelmente no TRICLINIUM, espécie de divã usado na hora das refeições. Resquícios da importação de vinhos e outros ingredientes nobres da cozinha mediterrânea, como o garum, um molho especial de peixe típico da cidade de Pompéia, também foram encontrados no interior das mansões. Algumas delas deviam ter uma vista privilegiada para o Templo de Jerusalém, de onde os nobres podiam assistir confortavelmente à movimentação dos peregrinos ou mesmo à condenação à morte de rebeldes judeus.

Na verdade, fazia séculos que os judeus lutavam contra o domínio de povos estrangeiros. Antes de os romanos chegarem, no ano 63 a.c., eles haviam sido subjugados por assírios, babilônios, persas, macedônios, selêucidas e ptolomeus. Os judeus sonhavam com a ascensão de um monarca forte como fora o rei Davi, que por volta do século 10 a.c. inaugurara um tempo de relativa estabilidade. Não é à toa, Davi ficaria lembrado como o messias (ungido por Javé) e, assim como ele, outros messias eram aguardados para libertar o povo judeu.

A resistência aos romanos se dava de maneiras variadas. A primeira delas, e mais feroz, era identificada como simples banditismo. Nessa categoria estavam bandos de criminosos formados por camponeses miseráveis que atacavam comerciantes, membros da elite romana ou qualquer desavisado que viajasse levando uma carga valiosa.

O peixe, pescado no mar da Galileia, fazia parte do cardápio fundamental
das famílias de Nazaré da época. Para conservar o alimento, ele era seco sob o sol.

Além do banditismo, havia a resistência inspirada pela religião, principalmente a dos chamados movimentos apocalípticos. De acordo com os seguidores desses movimentos, Israel estava prestes a ser libertado por uma intervenção direta de Deus que traria prosperidade, justiça e paz à região. A questão era saber como se preparar para esse dia.

Alguns grupos, como os zelotes, acreditavam que o melhor a fazer era se armar e partir para a guerra contra os romanos na crença de que Deus apareceria para lutar ao lado dos hebreus. Para outros grupos, como os essênios, a violência era desnecessária e o melhor mesmo a fazer era se retirar para viver em comunidades monásticas distantes das impurezas dos grandes centros. E Jesus, de que lado estava?

É quase certo que Jesus tenha tido contato com ao menos um líder apocalíptico de sua época, que preparava seus seguidores por meio de um ritual de imersão nas águas do rio Jordão. Se você apostou em João Batista, acertou.

O curioso é que, para a maioria dos pesquisadores, incluindo aí o padre católico John P. Meier, autor da série sobre o Jesus histórico chamada 'Um Judeu Marginal', o movimento apocalíptico de João Batista deve ter sido mais popular, em seu tempo, do que a própria pregação de Jesus. Os historiadores acreditam que é bem provável que Jesus, de fato, tenha sido batizado por João Batista nas margens do rio Jordão, e que o encontro deve ter moldado sua missão religiosa dali em diante.

Os relatos escritos sobre o tempo de Jesus têm, em sua maioria caráter religioso, como os chamados Manuscritos do Mar Morto, encontrados em cavernas próximas a Qumram em Israel

Apesar de não haver nenhuma restrição para que um líder religioso judeu tivesse relações com mulheres em seu tempo, ninguém sabe ainda se entre as práticas espirituais de Jesus estaria o celibato. Da mesma forma, afirmar que ele teve relações com Maria Madalena, como no enredo de livros como 'O Código Da Vinci', também não passaria de uma grande especulação.

UMA MORTE MARGINAL

O pesquisador Richard Horsley, professor de Ciências da Religião da Universidade de Massachusetts, em Boston, é categórico: a morte de Jesus na cruz em seu tempo foi muito menos perturbadora para o Império Romano do que se costuma imaginar. Horsley e outros pesquisadores desapontam os cristãos que imaginam a crucificação como um evento que causara, em seu tempo, uma comoção generalizada, como naquela cena do filme 'O Manto Sagrado' em que nuvens negras escurecem Jerusalém e o mundo parece prestes a acabar. Apesar de ter sido uma tragédia para seus seguidores e familiares, a morte do judeu Yesua deve ter passado praticamente despercebida para quem vivia, por exemplo, no Império Romano. Ou seja: se existisse uma rede de televisão como a CNN, naquele tempo, é bem possível que a morte de Jesus sequer fosse noticiada. E, caso fosse, dificilmente algum estrangeiro entenderia bem qual a diferença da mensagem dele em meio a tantas correntes do judaísmo do período - assim como poucas pessoas no Ocidente compreendem as diferenças entre as diversas correntes dentro do Islã ou do budismo.

Os pesquisadores sabem, no entanto, que Jesus não deve ter escolhido por acaso uma festa como a Páscoa para fazer sua pregação em Jerusalém. A data costumava reunir milhares de pessoas para a comemoração da libertação do povo hebreu do Egito. No período que antecedia a festa, o ar tornava-se carregado de uma forte energia política. Era quando os judeus pobres sonhavam com o dia em que conseguiriam ser libertados dos romanos."

Para a elite judaica que vivia em Jerusalém, contudo, as manifestações anti-Roma não eram nada bem-vindas. Afinal, como ela se beneficiava da arrecadação de impostos da população de baixa renda, boa parte dela tinha mais a perder que a ganhar com revoltas populares que desafiassem os dirigentes romanos, cujos estilos de vida eram copiados por meio da construção de suntuosas vilas (espécie de chácaras luxuosas) nas cercanias de Jerusalém.

OS OUTROS MESSIAS: Os lideres religiosos judeus que não emplacaram na história. Na época de Jesus, a figura do messias esperado para libertar o povo judeu era muito diferente da nossa atual concepção do messias cristão. Para início de conversa, o messias do povo hebreu não precisava ser nenhum santo. Podia ter várias mulheres (como tivera o rei Davi) e devia empregar a violência, caso fosse necessário, para garantir a autonomia do povo hebreu frente a seus inimigos. Não é à toa que, décadas antes e depois da morte de Jesus, diversos outros homens identificados como messias lideraram movimentos religiosos na região. Por volta do ano 4 a.c., por exemplo, um homem conhecido como Judas, filho de Ezequias, liderou uma revolta contra Herodes na cidade de Séforis, na Galiléia. Judas e seus seguidores chegaram a invadir um palacete na cidade para roubar armas para seu exército de oposição aos romanos. No mesmo ano, outras revoltas foram desencadeadas pelos líderes messiânicos Simão e Astronges. O principal objetivo desses movimentos era derrubar a dominação romana e restaurar os ideais tradicionais do povo hebreu. Na década de 60 do século I, o líder Simão Bar Giora organizou um exército de camponeses que chegou a assumir o controle de diversas regiões da Palestina daquele século. De acordo com os historiadores, o último e mais famoso líder messiânico a comandar uma revolta contra os romanos na região foi o judeu Bar Kokeba. Entre os anos 132 e 135, Kokeba teria liderado uma batalha sem precedentes contra os romanos, conquistando territórios por meio de uma tática de guerrilha que incluía esconderijos em cavernas e construção de fortalezas em montanhas. A rebelião somente foi aniquilada depois que o poderoso Exército romano mobilizou uma força maciça para pôr fim à guerra que se arrastava pelo terceiro ano. Não deixa de ser emblemático o fato de que o pacifico Jesus de Nazaré tenha ficado para a história como o "verdadeiro messias" - logo ele, que nunca liderara um exército.

A própria opulência do Templo do Monte de Jerusalém, reconstruído por Herodes, o Grande, parecia uma evidência de que a aliança entre os romanos e os judeus seria eterna. A construção era impressionante até mesmo para os padrões romanos, o que fazia de Jerusalém um importante centro regional em sua época.

Em meio às festas religiosas, o comércio da cidade florescia cada vez mais. Vendia-se de tudo por lá, incluindo animais para serem sacrificados no templo. Os mais ricos podiam comprar um cordeiro para ser sacrificado e quem tivesse menos dinheiro conseguia comprar uma pomba no mercado logo em frente. A cura de todos os problemas do corpo e da alma (na época, as doenças eram relacionadas à impureza do espírito) passava pela mediação dos rituais dos sacerdotes do templo.

Não é difícil imaginar a afronta que devia ser para esses líderes religiosos ouvir que um judeu rude da Galiléia curava e livrava as pessoas de seus pecados com um simples toque, sem a necessidade dos sacerdotes. A maioria dos pesquisadores concorda que atos subversivos como esses seriam suficientes para levar alguém à crucificação.

Quase tudo o que os pesquisadores conhecem sobre a crucificação deve-se à descoberta, em 1968, do único esqueleto encontrado de um homem crucificado em Giv'at há-Mivtar, no nordeste de Jerusalém. Após uma análise dos ossos, eles concluíram que os calcanhares do condenado foram pregados na base vertical da cruz, enquanto os braços haviam sido apenas amarrados na travessa. A raridade da descoberta, deve-se a um motivo perturbador: a pena da crucificação previa a extinção do cadáver do condenado, já que o corpo do crucificado deveria ser exposto aos abutres e aos cães comedores de carniça. A idéia era evitar que o túmulo do condenado pudesse servir de ponto de peregrinação de manifestantes. De qualquer forma, a descoberta desse único esqueleto preservado prova que, em alguns casos, o corpo poderia ser reivindicado pelos parentes do morto, o que talvez tenha acontecido com Jesus.

O que aconteceu após sua morte?

Para os pesquisadores, a vida do Jesus histórico encerra-se com a crucificação. "A ressurreição é uma questão de fé, não de história", diz Richard Horsley.

Tudo o que os historiadores sabem é que, apesar de pequeno, o grupo de seguidores de Jesus logo conseguiria atrair adeptos de diversas partes do mundo. E foi um dos novos convertidos, um ex-soldado que havia perseguido cristãos e ganhara o nome de Paulo, que se tornaria uma das pedras fundamentais para a transformação de Jesus em um símbolo de fé para todo o mundo. Com sua formação cosmopolita, Paulo lutou para que os seguidores de Jesus trilhassem um caminho independente do judaísmo, sem necessidade de obrigar os convertidos a seguirem regras alimentares rígidas ou, no caso dos homens, ser obrigados a fazer a circuncisão. A influência de Paulo na nova fé é tão grande que há quem diga que a mensagem de Jesus jamais chegaria aonde chegou caso ele não houvesse trabalhado com tanto afinco para sua difusão.

O templo de Jerusalém era o centro político, econômico, social e religioso do mundo em que viveu Jesus. Para lá convergiam mercadores, bandidos, profetas e revolucionários.

Mesmo para quem não acredita em milagres, não há como negar que Paulo e os outros seguidores de Jesus conseguiram uma proeza e tanto: apenas três séculos após sua morte, transformaram a crença de uns poucos judeus da Palestina do século I na religião oficial do Império Romano. Por essa época, a vida do judeu Yesua já havia sido encoberta pela poderosa simbologia do Cristo: assim como os judeus sacrificavam cordeiros para Javé, o Cristo se tornaria símbolo do cordeiro enviado por Deus para tirar os pecados do mundo. Desde então, a história de boa parte do mundo está dividida entre antes e depois de sua existência.

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SAIBA MAIS

LIVROS:

Excavating Jesus - Beneath the Stones, Behind the Texts, John Dominic Crossan e Jonathan l. Reed, Harper San Francisco, 2002

O diferencial do livro está no fato de ele trazer as descobertas arqueológicas mais importantes para que se possa entender como era a vida no tempo de Jesus.

Bandidos, Profetas e Messias, Richard A. Horsley e John S. Hansom. Paulus, 1995

O melhor guia para quem quer compreender os diversos movimentos religiosos e políticos no tempo de Jesus.

Jesus, uma Biografia Revolucionária, John Dominic Crossan, Imago, 1995

Um retrato fascinante sobre o que podemos saber sobre a figura histórica de Jesus escrito por um dos maiores especialistas sobre o tema.

Um Judeu Marginal- Repensando o Jesus Histórico, John P. Meier, Imago, 1992

Uma obra corajosa sobre a vida marginal de Jesus em seu tempo escrita com rigor, erudição e clareza

Jesus de Nazaré, uma Outra História, André Chevitarese, Gabriele Cornelli, Mônica Selvatici (or95.), Annablume Editora, 2006

Coletânea de artigos dos maiores especialistas brasileiros sobre o Jesus histórico

Jesus, Coleção Para Saber Mais, Rodrigo Cavalcante e André Chevitarese, Editora Abril, 2003

Introdução rápida sobre a figura do Jesus na história escrita pelo autor desta reportagem em parceria com o historiador André Chevitarese

Revista Aventuras na História

domingo, 20 de junho de 2010

O limite entre O Jesus Histórico, Jesus Mito, e Jesus Profeta.

André Leonardo Chevitarese possui Graduação em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ – 1986), Mestrado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ – 1989), Doutorado em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo (USP – 1997) e Pós-Doutorado em História e Arqueologia, pela Universidade de Campinas (UNICAMP – 2003). Atualmente é Professor Associado I da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Professor do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Professor Visitante do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de História, com ênfase em História Antiga Grega, Romana, Judaísmo Helenístico e Paleocristianismo.

De que forma, você como profissional da área de História antiga, acredita que seja possível levar a antiguidade para além dos bancos da academia?

Eu acho que é possível sim. Primeiro é preciso romper com a idéia de que haja um especialista em antiguidade Não há um professor de história antiga. Essa é uma questão base se formos capazes de entender. Nós que trabalhamos com pesquisas relacionadas ao mundo antigo, se nos formos capazes de entender que não somos pesquisadores da antiguidade, mas pesquisadores do tempo presente, os quais se voltam a um período histórico específico, a fim de compreender o seu próprio tempo, a sua própria realidade. Fora desse princípio, reina uma grande confusão. Como a história antiga não está lá, mas está sendo reelaborada, reescrita e resignificada em termos desse tempo presente, tudo que nós fazemos, em grande parte, é dar conta dessa experiência presente e não a do tempo passado. Não existe o pesquisador da antiguidade, não existe o pesquisador medieval; as suas demandas, enquanto pesquisas, são demandas do tempo presente, não do tempo passado. O tempo passado não está lá. Ao contrário, ele está sendo reconstruído. Se eu perco de vista, por exemplo, que helenismo é um conceito altamente contaminado de uma ideologia que me prende ao século XIX, eu vou achar que eu sou um pesquisador da antiguidade, pesquisando o período helenístico. Isso é uma criação do século XIX, já que o que está por detrás do período chamado helenístico, senão o pressuposto de que foi graças a Deus interferindo na história, ou seja, Deus intervindo na história, que levou Alexandre a expandir o seu império em direção ao Oriente mais longínquo, de modo que toda essa população oriental pudesse aprender o grego. Com isso, eles puderam ler os evangelhos. É isso o que está por detrás do conceito de Helenismo. Então, se eu acho que sou um pesquisador da antiguidade dando conta do período de Alexandre com sua helenização, eu preciso mesmo acreditar que Alexandre estava helenizando alguma coisa. Esse é um conceito absolutamente encravado no século XIX, marcadamente eurocêntrico. Certamente, por essa perspectiva, acaba-se por sentir saudade de Alexandre, já que, foi por meio de sua ação, que os evangelhos puderam ser lidos por esses tais árabes e indus. Hoje, essa leitura se complica, ela ganha um ar surreal. Mas, eu me interesso, entre outros aspectos, de uma região chamada Bactria, que seria hoje um grande território dominado por países contemporâneos como Afeganistão, Paquistão, e principalmente noroeste da Índia. O embate historiográfico que ainda se sustenta para essa área é se os gregos situados na Bactria foram indianizados ou se eles helenizaram a Índia. No fundo, ainda se vê o resultado de uma aplicação que nos costumamos fazer, de colocar nas nossas salas de aula sem a devida reflexão: assumimos que houve um momento de helenização do oriente, mas nunca o contrário, isto é, que os tais orientais reagiram, ocorrendo, com isso, uma orientalização dos gregos. Ora, essas questões não têm nada haver com antigo, como também não tem nada de antigo projetarmos para antiguidade grega ou romana os indivíduos serem todos brancos, já que ali haviam muitos negros. Mas, até a noção de negro e de branco passa por um crivo racial que não estava lá, nesta tal antiguidade, mas no século XIX. Então eu acho que a gente vai dar um grande passo quando nos convencermos que todos são pesquisadores do tempo presente, que optam por um determinado recorte temporal e espacial para pensar em suas próprias realidades.

Qual o limite entre o Jesus histórico, Jesus mito, e Jesus profeta?

Essa é uma linha muito tênue. Eu diria o seguinte: para quase a totalidade dos pesquisadores é mais fácil definir o Jesus numa perspectiva estritamente religiosa de fé, principalmente num contexto cultural brasileiro, onde as possibilidades de escolha de uma criança que nasce no Brasil de não ser cristão tende a quase zero. Portanto, desde muito cedo os dados advindos sobre Jesus são todos eles mediados por percepções marcadamente envoltas num contexto religioso, demarcado por um ambiente de fé. Jesus, então, antes de qualquer coisa, adquire essa leitura de divino, de Deus. Olha quanta teologia tem aí, desde o indivíduo que começa perambular pela Galiléia até ele chegar a ser Deus. E essa percepção teológica, ao invés de ser lida assim, é assumida como verdade. Se eu falo de Jesus, eu falo de fé, e ao falar de um Jesus de fé, eu não leio essa percepção como sendo teológica, mas histórica. Tem-se aí uma inversão: o retrato de Jesus que eu tenho é um retrato histórico de Jesus Deus, como se isso fosse História, e não profissão de fé. O Jesus histórico é um grande estranhamento, porque, se desde criança somos ensinados a ver o Jesus da fé e o Jesus da História com um só pessoa, então o Jesus histórico da academia nada tem de histórico, nada tem de verdadeiro, porque lhe falta o elemento fé. Com isso eu não quero dizer se essa inversão é boa ou ruim, mas é assim que começa. Em muitos casos os pesquisadores sentem uma enorme dificuldade em pensar o Jesus histórico descontextualizado de toda a fé que ele atribui a Jesus. Então como é que se pode pensar uma pesquisa nestes termos. Eu acho que o exercício maior, antes de se buscar uma pesquisa direta, pelo menos eu faço assim com os meus alunos, é trabalhar dois, três, quatro semestres com esses alunos, por meio de muita disciplina e orientação acadêmica; discutir muitos textos com eles, de modo que eles compreendam que a sua experiência de fé, ao ser deslocada da pesquisa do Jesus histórico, não os colocará no inferno. Para que suas pesquisas ganhem credibilidade acadêmica, essa separação precisa se impor. Eles precisam ousar, eles precisam ter certa coragem de pegar, por exemplo, o evangelho de João, para a gente se manter em João, e perceber interpoladores agindo. Se perguntar: Jesus foi batizado por João? Saber que por detrás dessa questão, há muita teologia, há muito debate teológico. E Jesus, ele batizou alguém? Se batizou, no ato do batismo, havia ou não a presença do Espírito Santo? Isto está em João, não sou eu quem estou dizendo, este é o embate que está lá. Como é que se resolve isso? Um interpolador vai entrar em João 3:22 “ Depois disto foi Jesus com seus discípulos para o território da Judéia e permaneceu ali com eles e batizava”. Jesus batizava está dito. Vamos para o capítulo quatro versículo 1 e 2 de João “Quando Jesus soube que os fariseus tinha ouvido dizer que ele fazia mais discípulo e batizava mais que João – ainda que de fato Jesus mesmo não batizasse mais os seus discípulos”. A imensa maioria dos que querem trabalhar com Jesus histórico não consegue ver essa contradição em 3:22. Jesus batiza, em Jo 4:1, mas em 4:2 “ainda que ele não batizasse” Então eu digo para os meus alunos: vejam aqui, há duas camadas redacionais. A mais antiga é aquela que informa que Jesus batiza, a comunidade está discutindo a figura de Jesus, e o que é a discussão? Se ele batiza, o Espírito Santo se faz presente. Alguém entrou na discussão posteriormente e disse não, Jesus não batiza. E parece que isso é que saiu vitorioso, porque essa mesma camada antiga vai se reproduzir no capítulo 7 de João a partir do versículo 37, quando esse interpolador de 4:2 fala assim “no último dia da festa e a mais solene Jesus de pé disse em alta voz: “se alguém tem sede venha mim e beba, quem crê em mim como diz a escritura dos seus seios jorraram rios de água viva”. Ele falava do espírito que deviam receber os que nele cressem pois não havia ainda espírito porque Jesus não fora ainda glorificado. Implica dizer, para a camada posterior, que está em 4:2, e que saiu vitoriosa desse embate, enquanto Jesus não ressuscitar e subir aos céus o espírito não se fará presente. Isso tem haver com Jesus histórico? Tem, porque essa comunidade joanina, que gradativamente vai sendo constituída ao longo de um processo histórico, nos seus primeiros passos admite com toda segurança que João, cognominado Batista, é o mentor de Jesus e que, esse último aprende com o primeiro a batizar. Jesus agrega novos elementos neste batismo. Pode-se afirmar com uma certa segurança: Jesus batizava e esse dado provém mesmo de Jesus. Ele não é uma invenção tardia. Olha o que está sendo dito em 3:22 em 4:1 o indivíduo ao ser batizado tem dentro de si um ente, quando a gente abre o mapa das comunidades judaicas, nos diferentes judaísmos dessa primeira metade do século I, só essa comunidade faz isso, todas as outras fazem diferente, é Jesus quem agregou esse dado. Mas isso gerou um problema, conforme essa comunidade foi recebendo mais gente via conversões; os debates continuaram, idéias continuaram a ser produzidas sobre quem era esse Jesus. O Jesus da história está sendo pensado nos ismos, se ele batizava ou não já não era a questão chave; a questão é que idéia eu tenho a cerca do que foi o batismo, e o que é o batismo na minha comunidade e de como eu vou fazer esse diálogo com Jesus. Se você, enquanto um pesquisador do Jesus histórico ou dessas comunidades cristãs, não está suficientemente educado, do ponto de vista da pesquisa, como você espera perceber esses embates? Como você poderá identificar essas camadas mais antigas e as mais recentes em termos de redação de um texto? Como você espera identificar essas contradições? Porque as igrejas não nos ensinam a ver as contradições, mas, ao contrário, elas buscam sempre harmonizar o texto bíblico. Tudo é pensado em termos relacionais, como se estivéssemos diante de um grande grupo de amigos que sentaram para produzir os textos sagrados. A gente harmoniza toda a leitura; isso é fruto da nossa educação. Isso precisa ser desconstruído para que uma nova metodologia de leitura apareça. Agrega-se a essa nova metodologia uma questão que não é acadêmica mais que precisa ser resolvida. Ao se desconstruir uma educação marcadamente de escola dominical, de escola catequética, e se reconstruir uma educação acadêmica para essa pesquisa. Porque o indivíduo pode estudar sobre outras coisas, aí ele não vai precisar aprender a reconstruir. Ele precisa entender que ao fazer isso ele não vai par o céu, nem para o inferno, vai apenas fazer pesquisa. Sua fé continuará preservada porque ela é altamente subjetiva, é dele e nada tem haver com a pesquisa. Meus alunos, em dois anos, estão aptos para essas pesquisas e, se são religiosos, continuam em suas denominações, sem problemas. Eu os oriento a não falar muito em suas igrejas, porque se eles começam a falar lá em suas igrejas sobre as pesquisas, eles estarão fora de contexto. Numa igreja as pessoas buscam reparações, consolo, o ombro amigo de seu Deus. As pessoas não estão buscando história, nem arqueologia. Mas a recíproca é verdadeira, a academia não é o lugar para se resolver essas questões de ordem mais interna, porque ela está conectada com pesquisa. Então a dificuldade em pensar o Jesus histórico, Jesus da fé ou Jesus mito é ter mais ou menos pressa em começar o trabalho de pesquisa. Quanto mais lento, melhor educado for o indivíduo em termos de orientação, menos problema e mais seriedade naquilo que ele vai produzir. Quer dizer, para dar gosto de ler o que ele está produzindo. Normalmente o que eu leio é uma certa confusão entre fé e história, e isso não tem nada haver com o indivíduo ser mais inteligente ou menos inteligente, tem haver com estar mais ou menos preparado para pesquisa.

Como o senhor vê o ensino da história antiga no quadro de horário das universidades?

A carga horária é suficiente ou não? Eu diria que sim, pelo menos nas realidades que eu conheço: UFRJ, UNICAMP, UFF, UNIRIO, UERJ e Rural. Essa carga horária é absolutamente suficiente. O problema é se os nossos professores estão suficientemente preparados, capacitados para lecionar História antiga. Porque sobre muitos aspectos, boa parte deles (e a realidade a que me refiro é bem maior que o Rio de Janeiro) trabalha história antiga ainda com livros do tipo “História das Sociedades”. Os dados pesquisados por Emanuel Rolf V. Cabeceiras, da UFF, os quais foram apresentados mais ou menos, há uns dez anos atrás, na Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, mostravam que em um número significativamente grande de universidades públicas e privadas das capitais norte, nordeste, sudeste, centro este e sul, as aulas de história antiga eram dadas por professores que não eram especialistas em Antiga, que não dominavam minimamente uma bibliografia e que reproduziam barbaridades para os seus alunos. Então, o problema, não é tanto carga horária, mas a capacidade do docente de aproveitar bem o pouco ou muito de carga horária que se tem para trabalhar essa tal história antiga.

Professor como o senhor identifica fonte histórica nos escritos bíblicos?

Eu identifico muitas fontes disponíveis para o pesquisador pensar a sua pesquisa. O teólogo dificilmente abre mão do material bíblico para redigir um trabalho monográfico, uma dissertação de mestrado, uma tese de doutorado. Ao contrário, ele pensa o texto bíblico, a bíblia como um todo, como estando profundamente interligada e auto-explicativa, por si mesmo. Então, para resolver uma questão de Marcos, uma questão de ordem conceitual, o teólogo pode lançar mão de Jeremias, já que os textos tendem a se auto-completarem. Porque a Bíblia é pensada como um documento, um único documento e não o nominativo plural grega Ta Biblia, livros. Mas isso é um método da Teologia que eu respeito. Entretanto, o fato de eu respeitar não significa que esse método me basta, me seja suficiente, afinal não sou teólogo, mas historiador. Então eu agrego outros materiais, outros elementos, outros documentos. E o que é legal que nesses grupos de pesquisas que eu freqüento, e que são transdisciplinares por essência, os meus pares da teologia, apesar de gostarem ou detestarem o que eu produzo, prestam muito atenção no que eu falo. Eu sinto e vejo produzir diferenças, tanto é que, nos encontros posteriores, eu vejo aquele meu colega agregar ao documento bíblico (que ele entende ser o documento por excelência) outros documentos. Isso é bacana porque é a pesquisa andando, é a pesquisa fluindo. Eu publiquei recentemente um trabalho sobre a questão de como no judaísmo helenístico e romano o sacrifício de Isaac sofre algumas alterações em termos de leituras, tanto do ponto de vista textual como imagético. Em Josefo (Antiguidade Judaica) Isaac não é um menino como no livro de Gênesis, é um homem de vinte cinco anos, que é informado por Abraão que ele vai ser sacrificado. Ele fica radiante, feliz mesmo por saber que vai ser sacrificado, já que ele vai voltar pra casa do verdadeiro Pai dele. Da onde veio isso? Da onde Josefo tirou isso? É de um contexto de martírio. Josefo viveu a primeira grande guerra judaica contra os romanos, e tem a informação, ao vivo e a cores, porque ele foi testemunha ocular dos mártires judeus. Ele mesmo não quis ser um, mas ele viu os mártires lá. Ele tem a leitura de macabeus tanto primeiro como segundo livros; ele tem o dado da viúva e seus sete filhos sem medo de morrerem porque crêem na ressurreição. Todo material imagético datado do final do século II e início do III EC, Isaac também é um homem adulto. A patrística vai ler Jesus como um novo Isaac, da mesma forma que Isaac carregou a lenha, Jesus carregou a sua cruz. Mas, eles têm suas diferenças também: Isaac morreu e não ressuscitou e Jesus morreu e ressuscitou. Então você amplia o seu corpo documental, e aí você vai ter grande surpresas na pesquisa, sem sombras de dúvidas.