terça-feira, 23 de novembro de 2010

Perseguição no cristianismo Primitivo

Observaste o procedimento correto, caro Plinio, lidando com os casos daqueles que foram denunciados a ti como cristãos. Pois não é possível estabelecer uma regra geral para servir de parâmetro. Eles não devem ser perseguidos. Se eles forem denunciados, e for provada a culpa, eles deverão ser punidos, com esta ressalva, qualquer um que negar que é cristão, e provar isso, istoé, adorando os nossos deuses, mesmo que tenha sido suspeito no passado, obterá perdão mediante seu arrependimento. Mas acusações anônimas não devem ser admitidas nos processos. Por isso, além de perigoso, não se coaduna com o espírito de nossa época.
[Imperador Trajano para Plínio, o Moço; em Cartas 10:97]

A carta acima, escrita em 110 DC, faz parte da ampla correspondência entre o Imperador Trajano (98-117 DC), e Plínio, o Moço, então governando a província da Bitínia. Entre os assuntos tratados, está a questão dos cristãos. Como já discutimos aqui, Plínio encontrou um grande número deles na província, e não sabendo muito bem o que fazer, e tendo recebido algumas denúncias, interrogou os acusados. Os que confessaram (ser cristãos), foram interrogados segunda e terceira vez, agora sob ameaça, e os que não se retrataram foram executados (ou enviados a Roma, se fossem cidadãos romanos), pois como o próprio Plinio afirma "independente da natureza de sua crença, teimosia e obstinação inflexível certamente merecem punição".

Em certo momento, entretanto, Plínio começa a questionar: "devo puni-los apenas porque usam o nome de cristãos, ou há algum crime associado ao nome que mereça punição?". Para esclarecer suas dúvidas, interroga cristãos que se retrataram ou tinham abandonado o grupo anos antes, e descobre os "horríveis segredos" da seita :
"se reuniam num dia fixo, antes de nascer do sol, cantar um cântico a Cristo como seu deus, e se comprometiam sob juramento, não com algum crime, mas a abandonar o furto, o roubo, o adultério, a infidelidade e não se apossar dos bens a eles confiados. Findos estes ritos, tinham o costume de se separarem e de se reunirem novamente para uma refeição comum e inocente". E mesmo essas reuniões "secretas" deixaram de ser realizadas quando "após a publicação de um edito teu onde, segundo as tuas ordens, se proibiam as associações secretas".

Plínio, inconformado, e ainda incrédulo, entende ser necessário "extrair a verdade", e manda interrogar duas escravas, que eram líderes cristãs, chamadas diaconisas, sob tortura (como rezava o bom direito romano de então), e, se torna ainda mais perplexo em descobrir que embora se tratasse de uma superstição depravada, disso ele tinha certeza, dificilmente podia ser considerada perigosa, pois não era subversiva ou revolucionária, ou de alguma forma criminosa. Plínio decide então suspender o inquérito e pergunta a Trajano, O que eu faço agora?

Trajano endossa a percepção de Plínio, e acrescenta que os meios estatais não deveriam ser utilizados contra os cristãos, uma vez que nenhum crime ou ameaça concreta estavam associados ao grupo . Somente se provocados os oficiais romanos deveriam agir. E denúncias anônimas sequer deveriam ser consideradas. Mesmo após a denúncia, todas as oportunidades eram concedidas para que o acusado se livrasse do castigo. Trajano enfatiza que o que se demandava dos cristãos, se denunciados, é que obedecessem as determinações dos magistrados e adorassem aos deuses romanos.

Se como diz Plínio os cristãos não ofereciam perigo (e inclusive faziam juramentos de não fazer o mal), pode-se questionar a lógica de tal orientação, afinal:
Mas porque os cristãos foram perseguidos?

Paula Frederiksen, Professora da Universidade de Boston, explica que as primeiras perseguições contra os cristãos foram aleatórias, esporádicas e locais. Em muitos casos, os cristãos tinham relativa liberdade, até mesmo visitando e assistindo seus irmãos de fé presos, havendo casos de pessoas que mesmo sob custodia, como Inácio de Antioquia, visitavam igrejas. Isso ilustra o que o esta escrito com todas as letras na correspondência entre Plinio e Trajano: ser cristão não era motivo para alguém ser preso [1].

Já o Professor Graeme Clarke, da Universidade Nacional da Austrália, observa que a natureza não sistemática e esporádica das perseguições aos cristãos era semelhante a observada contra outros grupos considerados exóticos (astrólogos, adivinhos, magicos e assemelhados). Os cristãos estavam ipso facto, potencialmente, no lado errado da Lei, mas para que houvesse perseguição efetiva havia necessidade de que as circunstâncias locais favorecessem essa possibilidade, especialmente como resultado de agitação popular (tanto de fervor religioso, ou medo causado por terremotos, secas, inundações, praga ou fome), e, até, ocasionalmente, a própria ousadia de alguns cristãos. Em todo, continua o Prof. Graeme, era a pressão de baixo, da base que causava tais episódios, e não a iniciativa imperial. A atitude imperial era passiva até confrontar-se com um caso ou casos particulares, e estava geralmente confinada ao nível local e provincial. As fontes posteriores tenderiam a universalizar e exagerar as perseguições dos cristãos, o que não correspondeu a realidade ao longo do II e primeira metade do III século.[2]

As fontes pagãs e cristãs fixam como início da perseguição romana aos cristãos o reinado de Nero (54-68 DC), posteriormente ao grande incêndio de Roma em 64 DC [3] Professor Herbert Benario, Emory University, observa que os por conta de sua recusa a adorar o Imperador, seu estilo de vida, e suas reuniões "secretas", não eram muito populares. Além disso dois de seus maiores mestres estavam em Roma, Pedro e Paulo. Assim, continua Benario, eles eram "bodes expiatórios" perfeitos. Individuos a qual a maioria dos romanos desprezavam, e que nutriam crenças "estranhas". Nero planejou tudo com precisão e crueldade. Cristãos foram expostos a bestas selvagens, incendiados. Contudo, as execuções foram tão cruéis que acabaram despertando a compaixão da população. Assim, conclui Benario a tentativa de Nero de desviar as suspeitas acabou se voltando contra ele, sua popularidade, até mesmo entre os mais humildes, foi irremediavelmente prejudicada [4]

Após a morte de Nero (68 DC), seguiu-se uma Guerra Civil. O ano de 69 teve quatro imperadores (Galba, Vitélio, Oto e Vespasiano). Ao final daquele ano, Vespasiano (69-79 DC), conseguiu controlar a situação, inaugurando a dinastia Flaviana, ao ser sucedido por seu filho Tito (79-81). Durante esse período, o império parecia ter esquecido os cristãos, cujo número só aumentava. No ano de 81, Domiciano sucedeu Tito. Seus primeiros anos de reinado foram tão benignos aos cristãos quanto haviam sido seus antecessores. Mas no final de seu reinado (95-96 DC) desabou a perseguição, que parece ter sido inicialmente direcionada contra os judeus. Uma vez que o Templo de Jerusalém havia sido destruido na Guerra Judaico Romana de 66-73 DC, Domiciano determinou que a oferta anual dos judeus enviada a Jerusalém deveria ser destinada ao Tesouro Imperial. Muitos resistiram, e o Imperador reagiu violentamente. Como, à época, a distinção entre judeus e cristãos não estava completamente estabelecida, os servidores imperiais começaram a perseguir todos os que praticavam "costumes judaícos", atingindo ambos os grupos. [5]

Embora basicamente restrita a cidade de Roma e a Asia Menor (na atual Turquia), ela atingiu até a família imperial. Domiciano mandou executar seu primo, o Consul Flavio Clemente, e mandou para o exílio Flávia Domitila, esposa dele, e puniu também vários nobres, sob a acusação de "ateismo" (negação dos deuses romanos estabelecidos, acusação recorrente contra os cristãos) e "costumes judaicos". Provavelmente, entre esses nobres haviam conversos do judaismo e cristianismo. A perseguição durou pouco mais que um ano. Logo Domiciano seria assassinado (96 DC), e assim como Nero, o Senado Romano o declarou tirano, ordenando que seu nome fosse apagado de monumentos e inscrições. [5]

Tertuliano (cerca 200 DC) faz uma referência a um édito de Nero contra os cristãos, que foi sido utilizado por Domiciano, embora de forma mais branda e por um breve período:
"Consultai vossas histórias. Verificareis que Nero foi o primeiro que atacou com seu poder imperial a seita Cristã, fazendo isso, então, principalmente em Roma. Mas nós nos gloriamos de termos nossa condenação lavrada pela hostilidade de tal celerado porque quem quer que saiba quem ele foi, sabe que nada a não ser uma coisa de especial valor seria objeto da condenação de Nero. Domiciano, igualmente, um homem do tipo de Nero em crueldade, tentou erguer sua mão em nossa perseguição, mas possuía algum sentimento humano; logo pôs um fim ao que havia começado, chegando a restituir os direitos daqueles que havia banido. (...) Que Trajano por muito tempo tornou nula proibindo procurar os cristãos? Que nem Adriano, embora dedicado no procurar tudo o que fosse estranho e novo, nem Vespasiano, embora fosse o subjugador dos Judeus, nem Pio, nem Vero, jamais as puseram em prática? " [6]

Muito se discute em relação a esse Édito de Nero e sua utilização pelos seus sucessores. Maurice Crouzet observa que, em todo caso, Trajano reduziu significativamente sua eficácia ao proibir tanto as denúncias anônimas, quanto ao instruir que os cristãos não deveriam ser procurados. Posteriormente, Adriano (118-137 DC) tornou o edito de Nero efetivamente letra morta ao determinar que somente ofensas objetivas a Lei deveriam ser analisadas, e não o simples fato do acusado ser cristão [7]. Mas, ainda assim, como vimos, a recusa em adorar aos deuses diante de um tribunal era uma ofensa a Lei, e essa parece ter sido a "ofensa a Lei" que levou muitos cristãos a execução. Em todo o caso, não há notícia de perseguição organizada contra os cristãos por Vespasiano e Tito, sendo provavél que as orientações de Trajano a Plínio fossem apenas a formalização de uma política já adotada por seus antecessores. Que foi seguida, em linhas gerias, pelos imperadores Adriano e Antonino Pio (138-161 DC). Logo, Nero e Domiciano foram uma excessão a regra.

Dois aspectos estão ligados a perseguição aos cristãos. O primeiro era a desconfiança de Roma relativa as associações voluntárias, o que englobava não só o cristianismo mas também grupos como astrólogos, adivinhos, mágicos e algumas religiões de mistério. A segunda, e mais séria, é a questão do culto público ao Imperador e aos deuses ancestrais.

Em sua Carta, Plínio relata a Trajano que havia dado curso a seu edito que proibia as associações secretas, o que atingira aos cristãos, que tiveram de alterar sua forma de se reunir. Existia o costume de grupos ligados por interesses comuns (corporativos, religiosos, funerários) se associarem em "Collegium". Tais associações eram comuns, necessárias e disseminadas no Império, mas também eram acompanhadas de perto, pois podiam "degenerar" em objetivos políticos. Por isso a preocupação de Plínio, com rigor um tanto excessivo, empregando até mesmo tortura, em se assegurar que os cristãos não representavam risco ao estado.

Professores John D. Crossan e Jonathan Reed relatam outro episódio que deixa isso claro.

"Plínio pedira permissão para organizar um "collegium" para cerca de 150 bombeiros na cidade de Nicomédia. Incêndios haviam danificado o Templo de Ísis e o santuario da deusa Men. Plínio esperava receber permissão para criar uma brigada de combate ao fogo, assegurando a Trajano que "não seria difícil manter sob observação tão pequeno número de homens" (Cartas 10:33). Mas como as próprias cartas atestam, Trajano nega o pedido e explica as razões:"Quando as pessoas reunem-se com propósitos comuns, não importando o nome que lhes demos nem as razões que possam ter, logo transformam essa reunião em clube político. A melhor política será providenciar equipamentos e ensinar os proprietários a usa-los, pedidndoajuda de outros se acharem necessário". (Cartas 10:34)Incêndios poderiam ameaçar propriedades e vidas, mas não podiam ameaçar as regras imperiais de integração da política com a religião enquanto sutíl e única operação de poder [8]

Assim, existia a preocupação dos oficiais romanos com o carater basicamente associativo dos cristãos. Contudo, essa preocupação existia com outros cultos e a postura típica era vigiar, controlar, acompanhar, monitorar, mas raramente proibir ou utilizar os recursos do estado para perseguir. Trajano sabia que os cristãos existiam, que eles se associavam em caráter "secreto", que estavam em grande número (Plínio diz que o "contágio" do cristianismo tinha sido tal que os Templos tinham ficado desertos e os ritos religiosos negligenciados, mas que ele estava resolvendo a situação), mas orienta que não deveria haver esforço para elimina-los. Eles não ofereciam risco e não eram motivo de maiores preocupações.

O segundo, e mais importante, motivo para a perseguição aos cristãos passa pela relação entre a religião e o estado romano, como Crossan e Reed, descrevem:
"A religião romana pertencia ao estado, existia para ele e, portanto, era por ele controlada. A obras "Das Leis" de Cicero, expressa a atitude romana consensual de que "ninguém deve ter deuses para si mesmo, sejam deuses novos, ou estrangeiros, a não ser que o estado os reconheça". Essa idéia explica as tensões crônicas e repressões períodicas depois da entrada de elementos religiosos estrangeiros em Roma. Dois exemplos são suficientes . O Império reprimiu certas devoções do Dionisio grego, o Baco Romano, e outras ligadas a mãe e deusa anatólia, Cibele, a Magna Mater" [9]

Existiam, literalmente, centenas de divindades, cultos e seitas no Império. Contudo, interesses religiosos e políticos caminhavam juntos, e, quando necessário, os deuses de Roma e o culto ao Imperador deveriam ser atendidos, para manutenção do bem do Império. "Ninguém deve ter deuses para si mesmo".

Paula Fredriksen observa a necessidade, na concepção vigente na Roma pagã, de se honrar os deuses locais, associados as cidades e povos do Império. Cada pessoa, não importa suas inclinações pessoais, devia ser leal aos deuses e práticas religiosas de seus ancentrais.

"O problema, então, do ponto de vista da cultura dominante, não era que cristãos gentios fossem "cristãos". O problema era que, seja quais fossem as práticas religiosas que essas pessoas escolhessem seguir, elas ainda eram, para todos os efeitos, "gentias". Quer dizer, os cristãos permaneciam como membros de de um genos (povo) ou natio (nação) particular, com obrigações para com os deuses de seu "genos", que eram os deuses da maioria das pessoas. Do final do primeiro século até cerca de 250 da era cristã, estes cristãos poderiam sofrer dos ressentimentos e ansiedades locais, precisamente porque eles não estavam honrando os deuses da qual a prosperidade de sua cidade dependia. Como na famosa reclamação de Tertuliano "Se as inundações do Tibre atingem os muros, se as [cheias] do Nilo não atingem os campos, se os céus não se movem ou se a Terra o faz, se há fome ou peste, o grito logo se faz ouvir "Lançem os cristãos aos leões" (Apologia 40.2). Judeus cristãos praticamente não eram perseguidos, porque como judeus a não participação do culto público era uma prática antiga, tradicional e protegida por sólida jurisprudência. Obrigação ancenstral era o que importava." [10]

A vida com uma espada na cabeça: O efeito prático da política de Trajano foi que os cristãos tinham relativa tranquilidade, até que alguém tivesse disposição suficiente em acusa-los publicamente, ou que algum administrador provincial, zeloso de suas funções, decidisse reforçar o culto público ao imperador, ou que um Imperador quissesse dar mais ênfase as velhas tradições e ao culto aos deuses, ou que catástrofes levassem a população a achar que o favor dos deuses devesse ser reconquistado, castigando os "ateus" e "impíos" cristãos. Os epísodios de perseguição eram esporádicos e curtos mas, frequentemente, muito violentos.

Professor Stephen Benko, da Universidade da Califórnia, em seu livro "Pagan Rome and Early Christians", apresenta um exemplo que ilustra muito bem o que falamos acima:
"Em algum momento durante o reinado do Imperador Antonino Pio (86-161 DC), uma senhora casada tornou-se cristã, ainda que seu marido não tenha se convertido. Posteriormente, diferenças irrenconciliáveis surgiram entre os dois, e a mulher se divorciou de seu marido. Ele fez isso, simplesmente, dando a ele um repudium, istoé, uma carta de divórcio. O marido amargurado denunciou então sua ex-mulher as autoridades, sob acusação de ser uma cristã. Imediatamente, ela foi presa, mas o Imperador lhe concedeu liberdade provisória, para que coloca-se sua vida em ordem, antes de comparecer ao tribunal para responder as acusações. Então, seu ex-marido denunciou o instrutor dela na fé cristã, um homem de nome Ptolemaeus, que também foi preso, acorrentado, e levado para prisão, e suportou um longo período maus tratos. Finalmente, o dia de seu julgamento chegou, e ele foi levado diante do Juiz, Urbicus. Urbicus fez uma unica pergunta a Ptolemaeus: "Tu és cristão?" Quando ele respondeu afirmativamente, ele foi condenado a morte, e como sentenças de morte eram aplicadas imediatamente, levado para a execução. Um certo Lucius, que testemunhou o julgamento, levantou-se indignado e gritou para o Juiz: "Porque aplicaste esta sentença? Foi esse homem acusado de um crime? Por acaso, ele era um adúltero, assassino, ou ladrão? Ele apenas confessou ser cristão? Urbicus então respondeu "Parece que és cristão também!" "Sim", disse Lucius, "eu sou". Prontamente, Urbicus mandou que fosse executado. Um terceiro cristão, também se apresentou, e recebeu a mesma sentença. Justino, o filósofo, e posteriormente, martir cristão (100 - 165 DC) soube desse episódio, e em protesto escreveu uma carta ao Imperador, que sobreviveu sob o nome de Segunda Apologia [11]

Ou seja, a mulher mancionada acima, Ptolemaus, Lucius e o terceiro cristão não identificado, podiam viver suas vidas de forma relativamente tranquila, manter casamento com incrédulos, ensinar o cristianismo, assistir procedimentos do forúm, por anos a fio, sem serem molestados. Contudo, caso tivessem inimigos dispostos a acusa-los publicamente diante das autoridades, e, dependendo da rigidez dos juízes, poderiam ter como destino a execução. Era uma condição que poderia até ser tranquila, mas sempre precária. A qualquer momento, uma denúncia podia levar a prisão e a morte. Entre as testemunhas dessa situação, esta um papiro (P. Ox XLII.3035), proveniente do Egito, que traz uma ordem de prisão, de 28 de fevereiro do ano 256, contra um certo "Petosorapis, filho de Horus, Cristão", residente na vila de Mermertha [12].

As Grandes Perseguições: Frederiksen observa que mesmo a primeira perseguição coordenada e universal, sob o Imperador Décio (249-251 DC), não marcou uma ruptura total com a politica anterior. Após décadas de crises, guerras civis e tumultos que atingiram o Império, Décio determinou que todos os cidadãos participassem do culto público, que envolvia sacrifícios e homenagens dedicadas ao Imperador. Apesar do grande número de supliciados, Décio não proibiu ou tentou exterminar o cristianismo (alías, nenhum Imperador o fez). Ele "apenas" ordenou que os cristãos gentios, quaisquer que fossem suas práticas peculiares, também observassem os ritos que, acreditava-se, asseguravam a boa vontade dos deuses (e os que não recusaram a cumprir a ordem, cristãos ou não, foram cruelmente torturados, até que o fizessem). O objetivo não era uniformidade religiosa, mas a "preservação" do "bem comum" [13]. Décio morreu em 251, e houveram algumas outras tentativas de reviver a perseguição contra os cristãos, por exemplo, sob o Imperador Valeriano entre 258-260 DC, mas com a ascensão do Imperador Galieno (260-268), houve um período de quase 40 anos de relativa paz para a Igreja, até a extremamente sangrenta "Grande Perseguição" dos cristãos sob o Imperador Diocleciano (284-305 DC) em 303. Conforme observa Frederiksen, quando a "Grande Perseguição" começou, uma grande Basílica ficava no caminho do Palácio de Diocleciano [13].

Crossan e Reed, complementam:
"À mente latina esses cultos iam além dos limites da religião apropriada e eram considerados "superstitio" , superstição. Roma queria dizer com isso não que eram a mesma coisa que magia, mas que se situavam além da crença. Superstição era o excesso imoderado e incontrolável a apenas uma forma de sagrado" [14]

Os cristãos dedicavam sua crença, de forma "imoderada" e "incontrolável" a apenas a uma forma de sagrado, o Cristo, que os desvinculava do culto de Roma ao Imperador e dos deuses de seus ancestrais. Logo, seu culto pode ser citado como um exemplo bem acabado de superstição na concepção romana. Não pelo que faziam, ou pelo que seu mestre havia feito. Não eram uma ameaça, reconheçe Plínio, ou um perigo a qual o estado deveria se ocupar, orienta Trajano. Seu verdadeiro crime era o que deixavam de fazer: adorar os deuses do estado quando solicitados. E isso era especialmente lembrado em situações de crise e calamidade.
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Referências Bibliográficas:
[1] Paula Frederiksen (2006), Christians in the Roman Empire, The First Three Centuries AD, in David Porter (2006), Blackwell Companion to the Roman Empire, fl. 602[2] Graeme Clarke (2005), "Third-century Christianity" in Alan K. Bowman, Peter Garnsey and Averil Cameron (Eds). "The Cambridge Ancient History: The Crisis of Empire, A.D. 193-337", fls. 616-624. Draft version disponível online em http://people.vanderbilt.edu/~james.p.burns/chroma/saints/Persecution.html[3] Tacito, Anais 15:44; Suetônio, A Vida dos Doze Césares, Nero 16:2; Tertuliano, Apologia 5:4[4] Herbert W. Benario, Nero In: De Imperatoribus Romanis:An Online Encyclopedia of Roman Rulers and their Families, http://www.roman-emperors.org/nero.htm, acesso em 18.08.2010[5] Justo L. Gonzalez Uma História Ilustrada do Cristianismo, Volume I, "A Era dos Mártires", fls. 57-60; ver também Suetônio, A Vida dos Doze Cézares, De Vita Domitian, 12.:2 e 17; Cassio Dio, Historia Romana, 67:4.[6] Tertuliano, Apologia, Capítulo V, versos 4 a 7, http://www.tertullian.org/brazilian/apologia.html#5[7] Maurice Crouzet, Historia Geral das Civilizações, Volume 4 - Roma e Seu Império[8] John Dominic Crossan e Jonathan Reed (2004), Em Busca de Paulo, fl. 236[9] John Dominic Crossan e Jonathan Reed, Em Busca de Paulo, fl. 230-231[10] Paula Frederiksen, Christians in the Roman Empire in the First Three Centuries ...., fls. 601[11] Stephen Benko (Stephen Benko, Pagan Rome and Early Christian, fl. 1; Justino Martir, 2ª Apologia, Capítulo 2[12] Graeme Clarke (2005), "Third-century Christianity" ..... fl. 638
[13] Paula Frederiksen, Christians in the Roman Empire in the First Three Centuries ...., fls. 602[14] John Dominic Crossan e Jonathan Reed, Em busca de Paulo, fl. 234

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