A Religião Como Potencialização da Bondade


Quantas maldades as religiões fizeram e ainda fazem em nome da bondade? Da inquisição na Idade Média, passando pela escravidão, pelo apartheid, pelos fundamentalismos contemporâneos e também pela intolerância religiosa no Brasil, resulta uma análise histórico-filosófica da relação entre religião e bondade.

No seu leito de morte, o filósofo francês judeu Henri Bergson (1859-1941) disse a um amigo, também filósofo, que na ocasião o visitava: “Passei a vida inteira procurando a verdade; deveria ter passado procurando ser bom”. Anos antes, esse grande e conhecido pensador quis se converter ao catolicismo, mas não o fez. Abriu mão da conversão, para ser solidário com seus irmãos e irmãs judeus, que foram dizimados durante a Segunda Guerra Mundial. Em outras palavras, negou a religião a qual gostaria de aderir, para ser bom. Exatamente ao abandonar a adesão à religião que tanto gostava, ele tornou-se bom. Isso, contudo, não quer dizer que somente abandonando a religião alguém consegue ser bom.

Pensemos em São Francisco de Assis (1182-1226), conhecido como “pobrezinho de Assis”. Antes de sua conversão radical à fé cristã, sentia nojo dos ‘leprosos’, mal olhava para os pobres e não tinha qualquer vínculo afetivo profundo com a natureza. Após querer ser um cruzado, sonho comum a muitos jovens de seu tempo, Francisco conheceu uma tradução da Bíblia, quando estivera preso por causa de sua participação em um combate em Perúgia, na Itália. Acometido por algumas doenças, depois de um ano no cárcere, Francisco retorna ao lar transfigurado. Decidira abandonar tudo e seguir os passos de Cristo. Rapidamente, “converteu-se” aos pobres, aos leprosos e à natureza como um todo, passando a amá-los e protegê-los até a sua morte. Foi na religião que Francisco potencializou sua bondade universal.

Esses dois exemplos já nos deixam perceber a complexidade da relação entre religião e bondade. Podemos abandonar uma religião para exercer a bondade e podemos aderir a uma religião e, assim, fortalecer nossa capacidade de ser bondoso. Por outro lado, muitos exemplos históricos já nos fazem duvidar de que o simples fato de alguém ser religioso o leva a ser bom. Às vezes, como sabido, o que ocorre é o contrário.

Maldade em nome da religião

O casamento entre altar religioso e poder político, na Idade Média, e também em outros momentos da história, nos mostra quando e como a religião, em nome da bondade, produz assassinatos, perseguições e outros diversos males. Quem lê o manual medieval de caça às bruxas, chamado O martelo das feiticeiras, de Heinrich Kraemer e James Sprenger, publicado originalmente em 1486, fica perplexo com a relação entre religião e maldade. Mulheres as mais diversas eram facilmente consideradas bruxas e deveriam ser perseguidas, silenciadas e mortas pelo fato de serem dotadas de ‘poderes demoníacos’.

Quantas mulheres foram assassinadas por não corresponderem aos ideais morais e religiosos da Igreja cristã? Em uma parte extremamente preconceituosa do referido livro, seus autores dizem que toda mulher é naturalmente torta, porque segue a primeira mulher, Eva, que nasceu da costela de Adão e a costela é torta. Por isso, toda mulher deveria ser corrigida, retificada, regulada, quando não presa e morta, caso não fosse corrigida.

A inquisição medieval não é a palavra final da maldade religiosa. Que se pense, agora, nos fundamentalismos religiosos contemporâneos. Homens-bomba, mulheres-bomba islâmicos, mas também Ku Klux Klan, movimento que se legitimava pela fé cristã, são sinais de que a maldade religiosa não morreu com o fim da Idade Média.

A inquisição medieval não é a palavra final da maldade religiosa. Que se pense, agora, nos fundamentalismos religiosos contemporâneos. Homens-bomba, mulheres-bomba islâmicos, mas também Ku Klux Klan, movimento que se legitimava pela fé cristã, são sinais de que a maldade religiosa não morreu com o fim da Idade Média. O apartheid, por exemplo, foi institucionalizado pelo político e pastor protestante sul-africano Daniel François Malan (1874-1959), em 1948. Essa política segregacionista, que vinha se construindo por meio de medidas legais desde o início do século 20, produzindo a exclusão dos negros e a violência generalizada na África do Sul,durou até 1994.E isso ainda é pouco.

A escravidão de africanos e seus descendentes, que alimentou o desejo europeu de expansão econômica pela via da colonização, não somente foi legitimada pelas Igrejas católica e protestante, como também contou com teorias religiosas abomináveis, como aquela segundo a qual a pessoa negra não tinha alma humana, salvo se fosse batizada na fé cristã.

Isso transformou senhores de engenho no Brasil em benfeitores, uma vez que eles seriam responsáveis por “humanizarem” os escravos e as escravas, ao levá-los para as águas do batismo. A cruz descia goela abaixo, enquanto a chibata cortava corpos negros na América como um todo.

Também vale a pena lembrar da intolerância religiosa no Brasil. Cristãos falam que Deus é amor, porém alguns deles invadem terreiros de candomblé e de umbanda, destroem seus espaços e acreditam que estão promovendo a vontade de Deus. E a homofobia cristã? E a inferiorização da mulher em diversas religiões, sobretudo nas conhecidas religiões monoteístas – judaísmo, cristianismo e islamismo? Quem consegue enxergar bondade em práticas e teorias religiosas que promovem exclusão e diminuição do outro, ainda quando assim o fazem em nome do amor?

De boa intenção…

Isso tudo serve para mostrar que bondade e religião não são a mesma coisa. Como mostrado acima, a religião pode incentivar a maldade, a crueldade justamente em nome da bondade. Talvez seja esse o sentido do famoso ditado popular: “De boa intenção o inferno está cheio”. Os inquisidores medievais, por exemplo, não deveriam inquirir um ‘herege’ querendo destruí-lo, mas só poderiam abordá-lo com misericórdia no coração. Aliás, deve-se lembrar que o tribunal da inquisição católica (também existiu inquisição protestante) era conhecido como ‘tribunal da misericórdia’. Quando o corpo de um herege queimava nas chamas por ordem do ‘braço secular’, que efetivamente enviava para o fogo aqueles e aquelas que a Igreja anteriormente havia julgado e condenado, os padres que participavam do processo deveriam ter o coração repleto de amor, pois estavam orando pela misericórdia divina e pela salvação de suas almas.

De fato, religião e bondade não são a mesma coisa. Mas, por que é assim? Por que discursos tão cheios de reverência ao sagrado, ao ser humano e à natureza muitas vezes produzem genocídio, ódio à diferença, ressentimento e práticas de exclusão? Qual a diferença da religião na vida de São Francisco de Assis para a religião (a mesma, diga-se de passagem) na vida dos inquisidores?Todas essas questões dependem diretamente do que chamamos de bondade. É a bondade que nos permite entender por que ora a religião condiciona práticas de destruição, ora a mesma religião pode possibilitar a bondade profunda das pessoas.Por isso, devemos perguntar: quando exercemos a bondade?

O que entendemos por bondade não possui qualquer traço individualista. É claro que muitas vezes falamos que alguém é bom individualmente, quando, por exemplo, possui um bom desempenho em um esporte coletivo ou mesmo individual. Falamos que alguém é um bom corredor e assim o dizemos pensando no indivíduo, que compete com os outros e os vence em uma competição. Portanto, é possível falar que alguém é bom justamente porque derrota os outros. Mas, há uma outra bondade que não se refere à competitividade e nem pode gerar qualquer perspectiva individualista. Trata-se da bondade que se expressa nas relações de cooperação e solidariedade com os outros. Nessa bondade, o indivíduo é tanto melhor, quanto mais consegue fortalecer o outro. Por isso, nesse sentido, a bondade só existe quando o indivíduo se coloca como fonte de favorecimento da vida do outro. Em outras palavras, alteridade e bondade são termos que se interpenetram de ponta a ponta.

Mas o que é alteridade?

Toda questão recai em saber o que significa a alteridade, o outro, que é o alvo da minha bondade. Ser outro não é ser alguém que eu não sou. Ser outro é ser irredutível a mim, é ser o radicalmente diferente, o que jamais pode ser assimilado ao meu modo de pensar, sentir e querer. Por isso, quando me relaciono com o outro, me relaciono com o inadequado, com o indizível, com aquele ou aquela que jamais pode ser enquadrado nos limites do meu conhecimento ou mesmo dos meus sentimentos. Relacionar-se com o outro é abrir mão de formas narcisistas de viver. Em outros termos, só nos relacionamos com o outro quando nos abrimos àquele ou àquela que jamais se identifica comigo por inteiro. Isso é extremamente difícil.

Quase sempre não nos relacionamos com o outro, mas com o que o outro pensa, com a cor da pele do outro, com a profissão que desempenha, com o time de futebol de alguém, com as crenças religiosas que ele ou ela tem. Quando rotulamos alguém, quando o enquadramos nos referenciais de nossa religião, quando o reduzimos à nossa moralidade, então, não mais nos relacionamos com o outro, mas com um objeto que pode ser usado, manipulado e, por vezes, descartado. Por isso, onde usamos e funcionalizamos alguém, matamos sua alteridade, destruímos seu modo de ser outro. Onde o outro aparece, relações gratuitas se estabelecem. Um bom exemplo disso é o que Carlos Drummond de Andrade chamou de amor, em um belíssimo poema chamado ‘As sem razões do amor’:
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Drummond acertou em cheio: “Amor é dado de graça, /é semeado no vento, /na cachoeira, no eclipse./Amor foge a dicionários/e a regulamentos vários.” O amor, um dos grandes veículos da bondade, é dado de graça, não possui interesse além de favorecer o outro, pois deseja somente a ele ou ela se entregar. Por outro lado, o amor, que‘foge a dicionários’, é indizível, porque me abre ao outro, que sempre é inadequado ao que eu penso dele ou dela. Aí está a sua grandeza: sem querer usar ninguém, entrega-se ao outro; sem querer explicar o que o outro é, quer favorecer sua vida, promover o seu caminho. Trata-se de uma experiência de entrega e fortalecimento do outro e não de apropriação, dominação e rebaixamento.
Quando a religião fortalece a maldade humana, melhor é abandoná-la para ficar com a bondade humana, pois é esta que nos permite entender a grandeza de qualquer divindade: ser capaz de tornar os seres humanos mais humanizados.

Termômetro para a religiosidade

Por vezes, a religião é um espaço de potencialização da bondade; outras vezes, é o contrário que acontece. Isso, talvez, nos possibilite pensar em um termômetro para a religiosidade humana: quanto mais uma religião me favorece a me abrir ao outro para fortalecer o seu caminho, melhor ela é. Quanto mais ela me fecha em mim mesmo, promovendo a ditadura do individualismo e do egocentrismo, por mais que fale de Deus, de amor ou de qualquer outra realidade sagrada, pior ela é.

Em outras palavras, a qualidade da experiência religiosa pode ser medida pela sua capacidade de promover a bondade humana. Foi exatamente isso que Dalai Lama falou para o teólogo brasileiro Leonardo Boff, no intervalo de um encontro promovido pela ONU, após ser perguntado por este qual seria a melhor religião. Sua resposta foi: “Aquela que te faz melhor”. Para explicar sua resposta, continuou: “Aquela que te faz mais compassivo é a melhor religião”. Não seria o mesmo que afirmar que a melhor religião é aquela que faz alguém mais bondoso? Se for assim, então, todos os ritos, mitos, dogmas, conceitos de Deus etc. só têm sentido se tornam o ser humano mais capaz de fortalecer outros humanos (sem contar a natureza como um todo). Por isso, quando a religião fortalece a maldade humana, melhor é abandoná-la para ficar com a bondade humana, pois é esta que nos permite entender a grandeza de qualquer divindade: ser capaz de tornar os seres humanos mais humanizados.

O Caso Judas Iscariotes - Parte 2


Anteriormente se examinou as referências a Judas Iscariotes no Evangelho de Marcos, particularmente com a maneira como o autor conecta o verbo paradidómi a Judas. Comecei com Marcos porque foi o primeiro dos quatro evangelhos a ser escrito e quero ver como o caráter do Grande Traidor se desenvolveu ao longo do tempo. O post de hoje cobrirá referências a Judas Iscariotes no Evangelho de Mateus, o segundo dos quatro evangelhos que foram escritos.

JUDAS ISCARIOTES NO EVANGELHO DE MATEUS

O evangelho de Mateus geralmente segue a ordem dos eventos estabelecidos no evangelho de Marcos e, portanto, a primeira vez que vemos Judas Iscariotes mencionado, é a lista de discípulos que se assemelha a Marcos 3: 13-19. A lista de discípulos de Mateus claramente se diferencia de Macos, mas em Judas Iscariotes, ambos concordam: Judas foi um ho kai paradon auton - "aquele que também o traiu". Como discuti na parte 1 desta série, o verbo paradidómi é o termo usado para descrever o que aconteceu com Jesus por Judas e pelos principais sacerdotes e escribas.

Encontro com os principais sacerdotes

Judas não aparece novamente pelo nome no Evangelho de Mateus até a narrativa da Paixão, onde, após a unção de Jesus em Betânia, Judas vai aos principais sacerdotes para traí-lo (26: 14-16). Mas Mateus acrescenta detalhes que Marcos não tem. Se você olhar em todo o Evangelho de Marcos, Judas nunca diz uma única palavra até que ele trai Jesus e ali apenas diz apenas uma palavra - “Rabino!”. Mas no Evangelho de Mateus, vemos que Judas tem algumas linhas adicionais. ! Então, enquanto Marcos nos diz que Judas “foi aos principais sacerdotes para traí-lo a eles” (Marcos 14:10), Mateus registra as palavras de Judas às autoridades religiosas: “O que você vai me dar se eu o trair? você? ”(26:14)

Essa é uma mudança interessante, porque, enquanto em Marcos a motivação para trair Jesus não é clara, em Mateus parece aparentemente por ganância: "O que você vai me dar se eu o trair para você?" E enquanto em Marcos o pagamento não é especificado e apenas prometido, em Mateus nos dizem que Judas recebe o pagamento naquele momento e que são exatamente trinta moedas de prata. O Judas de Mateus é ganancioso.

A refeição da Páscoa 

A próxima vez que o nome de Judas aparecer for na refeição da Páscoa. Em Marcos, todos os discípulos se reuniram e começaram a comer quando Jesus lhes disse que um deles o trairia (Marcos 14:18). Um a um, eles perguntam a Jesus: “Certamente não eu?”, Mas ele não os responde individualmente. Em vez disso, ele lhes diz: “É um dos doze que está mergulhando pão na tigela comigo” (14:20), uma declaração totalmente inútil, pois todos eles estavam mergulhando pão na tigela com Jesus.

Mas no evangelho de Mateus, as coisas são um pouco diferentes. Como em Marcos, Jesus diz aos discípulos: “Um de vocês me trairá” (26:21; cf. Marcos 14:18). Como em Marcos, os discípulos ficam “muito angustiados” e começam a perguntar a Jesus se são eles que o farão (26:22; cf. Marcos 14:19). Como em Marcos, Jesus responde dizendo: “Quem colocou a mão na tigela comigo me trairá” (26:23; cf. 20) e até fala sobre como a traição foi predita, mas teria sido melhor. se o traidor nunca tivesse nascido (26:24; Marcos 14:21). Mas enquanto a narrativa Marcos passa para o que ficou conhecido como Ceia do Senhor, Mateus acrescentou um pedaço de diálogo.

O Evangelho de Marcos dá a impressão de que cada um dos discípulos pergunta a Jesus se eles deveriam traí-lo. Então Jesus diz a eles que é quem está comendo com ele e o pericópio conclui. Mas em Mateus, depois que os discípulos perguntaram quem seria o traidor, lemos essa troca: Judas, que o traiu, disse: “Certamente não, rabino?” Ele respondeu: Você o disse ”(26:25).

Observe como Mateus enquadra essa história. Já sabemos que Judas concordou em ajudar os principais sacerdotes na tentativa de levar Jesus. E sabemos que ele pediu para ser pago para fazê-lo. Mas o Judas ganancioso também é o Jesus enganador . Judas sabe o que fez e ainda assim pergunta: “Certamente não, rabino?” Rabino? Não é assim que ele chama Jesus antes de beijá-lo diante das autoridades religiosas? Isto é.

"Rabino" é uma transliteração da palavra grega rabbi e aparece apenas quatro vezes no Evangelho de Mateus. As duas primeiras aparições estão no mesmo contexto, a saber, a denúncia de Jesus aos escribas e fariseus. Ele diz a eles que os escribas e fariseus adoram ter o lugar de honra nos banquetes e os melhores lugares nas sinagogas, e ser recebidos com respeito nos mercados, e ter pessoas que os chamam de rabinos. Mas você não deve ser chamado de rabino, pois você tem um professor e todos são estudantes. (23: 6-8)

Em outras palavras, enquanto os escribas e fariseus gostam de ser elevados na sociedade, entre os que seguem Jesus, não deve haver uma pessoa maior que o resto. O único professor deles é Jesus e todos ainda são estudantes (literalmente, "irmãos").

Então, por que Judas, um homem que se aproximou das autoridades religiosas por sua própria vontade, pediu pagamento para entregar Jesus e depois começou a planejar como fazê-lo, chamando Jesus de "rabino"? Observe como os outros discípulos perguntaram a Jesus se eles eram os culpados: “E ficaram muito angustiados e começaram a dizer-lhe um após o outro: Certamente não eu, Senhor? (26:22) Todos os discípulos se dirigem a Jesus como“ Senhor. ”Mas não Judas. Em vez disso, Judas se refere a Jesus como "rabino", um termo que Jesus havia dito que os escribas e fariseus amam, mas que não deveria existir entre seus seguidores. Judas mostrou sua mão: ele não é mais um verdadeiro discípulo de Jesus. Jesus não é seu senhor.

Getsêmani 

Como em Marcos, não nos dizem exatamente quando Judas deixa o grupo para ir aos principais sacerdotes para levá-los a Jesus. Jesus disse a Judas que era ele quem o trairia (26:25 - “Você disse isso”), por isso parece estranho que ele fique com Jesus na cerimônia de 26: 26-30 ou na afirmação coletiva de que eles todos morreriam por Jesus (26:35). Talvez Mateus pretenda que seus leitores pensem que Judas continuou seu ardil para enganar seus colegas discípulos, embora Jesus esteja bem ciente do que está acontecendo. Seja qual for o caso, a traição de Jesus acontece no mesmo espaço narrativo que em Marcos. Jesus foi ao Getsêmani para orar, encontrou Pedro, Tiago e João dormindo três vezes e, finalmente, mandou que se levantassem porque “meu traidor está próximo” (26:46).

Judas chega com as autoridades religiosas e uma multidão armada. Ele então diz a Jesus: "Saudações, rabino!" E o beija. A palavra "rabino" em Marcos não tem o estigma associado a ela, como no Evangelho de Mateus. Em Marcos, Jesus é chamado de "rabino" por Pedro duas vezes (Marcos 9: 5, 11:21) e, portanto, parece que o título não estava fora do lugar. Mas, como já vimos no Evangelho de Mateus, Judas usá-lo para descrever Jesus é um tapa na cara. Aqui é acompanhado por um beijo da morte.

O arrependimento de Judas

Jesus é levado embora e, na manhã seguinte, é levado perante os principais sacerdotes e anciãos que decidiram entregá-lo a Pôncio Pilatos (27: 1-2). Então, Mateus insere uma cena que não aparece em nenhum outro evangelho.

Quando Judas, seu traidor, viu que Jesus foi condenado, ele se arrependeu e trouxe de volta as trinta moedas de prata para os principais sacerdotes e anciãos. Ele disse: “Pequei traindo sangue inocente.” Mas eles disseram: “O que é isso para nós? Veja você mesmo. Jogando as moedas de prata no templo, ele partiu; e ele foi e se enforcou. Mas os principais sacerdotes, pegando as moedas de prata, disseram: "Não é lícito colocá-las no tesouro, porque são dinheiro de sangue". Depois de se reunir, usaram-nas para comprar o campo do oleiro como um local para enterrar estrangeiros. Por esse motivo, esse campo foi chamado de Campo de Sangue até hoje. Cumpriu-se então o que havia sido falado por meio do profeta Jeremias: “E eles tomaram as trinta moedas de prata, o preço daquele a quem um preço havia sido fixado.

Essa cena deve ser vista em paralelo com 26: 14-16. Assim como ele, por sua própria vontade, traiu Jesus às autoridades religiosas, agora Judas retorna às autoridades religiosas para expressar seu arrependimento. Assim como ele pediu pagamento e o recebeu por trair Jesus, agora Judas retorna o pagamento pelo qual ele havia traído Jesus. Finalmente, assim como Judas, ao receber o pagamento, tomou medidas para acabar com a vida de Jesus, agora Judas, depois de devolver o pagamento, tomou medidas para acabar com sua própria vida.

Lembre-se de que a última vez que ouvimos Judas foi depois da cena no Getsêmani. Mas Mateus oferece a seus leitores uma aparência de encerramento. O traidor tirou a própria vida, mas não antes de perceber que coisa terrível ele havia feito. Então Judas, o traidor ganancioso e enganoso, torna-se Judas, o arrependido.


O Caso Judas Iscariotes - Parte 1


“Então ele nomeou ... Judas Iscariotes, que o traiu.”
Marcos 3: 16a, 19, NRSV

De todos os personagens dos Evangelhos, poucos se destacam como Judas Iscariotes. Não é porque ele é tão detalhado quanto Pedro pode ser, nem porque se destaca como Tiago e João. Enquanto a maioria dos discípulos desaparece em segundo plano atrás de Pedro, Tiago e João, Judas não o faz por causa do que ele faz com Jesus. Em cada um dos evangelhos, a primeira coisa que se diz dele é que ele traiu Jesus (Marcos 3:19, Mateus 10: 4, Lucas 6:16, João 6:71). Ser traidor é sua reivindicação à fama e até hoje seu nome costumava descrever alguém que age como traidor.

Os Evangelhos não nos dão muitos vislumbres sobre quem Judas realmente era. Mas o que é interessante ver é como Judas se desenvolve ao longo do tempo à medida que passamos do evangelho mais antigo para o mais recente. É sobre essa questão que esta série de postagens se concentrará.

Judas Iscariotes no evangelho de Marcos

No Evangelho de Marcos, não nos é dito como Judas veio a seguir Jesus. Ele não é chamado como Pedro, André, Tiago e João (Marcos 1: 16-20). Ele também não está sentado em uma cabine de impostos e ouve as palavras "Siga-me" saindo dos lábios de Jesus, como Levi ouviu (2: 13-14). Ainda não está claro que a primeira menção de "discípulos" (grego, matemático) no evangelho de Marcos inclui o grupo que normalmente considera os discípulos principais de Jesus (2:15).

Antes, a primeira vez que vemos Judas ser chamado é quando Jesus sobe uma colina e "chama a ele aqueles a quem ele queria" (3:13). Fora desse grupo, ele aponta doze "para estar com ele e ser enviado para proclamar a mensagem e ter autoridade para expulsar demônios" (3: 14-15). O último a ser listado na série de doze nomes é "Judas Iscariotes, que o traiu" (3:19). Aprendemos duas coisas sobre Judas com essas poucas palavras.

Primeiro, Judas recebe o sobrenome "Iscariotes", uma palavra que provavelmente significa "homem de Kerioth", uma vila na região sul da Judeia. Se esse é o significado de "Iscariotes", é uma parte interessante da história. De fato, isso pode significar que Judas fazia parte de um grupo de “todo o interior da Judeia” que foi ver João Batista e foi batizado por ele (1: 5). Talvez tenha sido lá que ele encontrou Jesus pela primeira vez. É certo que, embora seja um cenário plausível, é puramente especulativo.

Segundo, Marcos descreve Judas como hos kai paredōken auton - “aquele que também o traiu.” O verbo traduzido como “traído” no NRSV é paradidómi, uma palavra composta que deriva da preposição grega para e do verbo didómi , para Ceslas Spicq observa que paradidómi está no Novo Testamento se tornou "um termo técnico para a paixão de Jesus" e, embora "deva ser tomado primeiro em seu sentido jurídico e judicial", também "transmite ... uma nuance moral ou psicológica" e um valor teológico. ” 

Spicq escreve:
Muitas vezes, o verbo também conota essa nuance da criminalidade: deserção para outro campo, violação da fé juramentada, traição da confiança de alguém. É certo que os primeiros cristãos viram a crucificação de Cristo menos como uma forma de tortura atrozmente dolorosa do que como uma ignomínia e resultado da perfídia. Dizer que Jesus foi entregue, então, significa que ele foi traído.  

Como veremos, quando Judas Iscariotes aparece no Evangelho de Marcos, ele sempre é associado contextualmente a alguma forma de paradidómi, embora nem toda instância de paradidómi esteja contextualmente associada a Judas.

Previsões de Paixão

Antes de Jesus entrar na cidade de Jerusalém em 11:11, ele faz algumas declarações que prevêem o que acontecerá com ele quando chegar lá.

Primeiro, quando Jesus e os discípulos passam pela Galileia a caminho de Cafarnaum, ele começa a ensiná-los: “O Filho do Homem deve ser traído [ paradidotai ] em mãos humanas, e eles o matarão, e três dias depois de serem mortos, ele ressuscitará ”(9:31). Jesus não diz quem o trairá, apenas que ele será traído. Marcos comenta que “eles não entenderam o que ele estava dizendo e tiveram medo de perguntar” (9:32). Como o "eles" se refere aos discípulos de 9:31, Judas deve ter sido incluído.

Segundo, a caminho de Jerusalém, Jesus leva os Doze de lado e diz a eles o que acontecerá quando chegarem à cidade: “Veja, estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue [ paradothēsetai ] para os principais sacerdotes e os escribas, e eles o condenarão à morte; então eles o entregarão [ paradossauros ] aos gentios ”(10:33). Assim, ele vai primeiro ser entregue aos chefes dos sacerdotes que acontece quando Judas leva os principais sacerdotes e escribas para Getsêmani no 14:43. E então os principais sacerdotes e os escribas entregam Jesus aos “gentios”. Isso ocorre em 15: 3 - “Eles amarraram Jesus, o levaram e o entregaram [ paredōkan ] a Pilatos” (cf. 15: 10, 15:15).

A conspiração para matar Jesus

Quando Jesus e os discípulos chegam à cidade, tudo o que Jesus havia previsto começa a acontecer. Tudo começa a decair depois que ele entra no templo e começa a expulsar do templo os mercadores e seus clientes (11: 15-17). Uma vez que os principais sacerdotes e os escribas descobrem o que ele fez, eles começam a procurar uma maneira de matá-lo, "porque eles estavam com medo dele, porque toda a multidão ficou encantada com seus ensinamentos" (11:18). As autoridades religiosas começam a confrontar Jesus para questionar sua autoridade (11: 27-33), procurando prendê-lo, mas abstendo-se por causa das multidões (12:12).

Dois dias antes da Páscoa, as autoridades religiosas começam a planejar uma maneira de prender Jesus silenciosamente e matá-lo (14: 1). “Não durante o festival”, disseram eles, “ou pode haver um tumulto entre o povo” (14: 2). Enquanto isso, Jesus e os discípulos estão na casa de Simão, o leproso, onde ele é ungido por uma mulher anônima (14: 3-9). Em algum momento, Judas deixa o grupo e volta a Jerusalém, onde se reúne com as autoridades religiosas "para traí-lo [ paradoi ] para elas" (14:10). Eles estão entusiasmados com a perspectiva e prometem pagamento a Judas em troca de sua cooperação. A partir de então, Judas "começou a procurar uma oportunidade para traí-lo [ paradoi ]" (14:11).

Outra Previsão de Paixão

Na noite da Páscoa, Jesus compartilha uma refeição com os Doze. Enquanto eles estão comendo, Jesus interrompe com um inferno de uma conversa inicial: "Em verdade eu digo a você, um de vocês vai me trair [ paradōsei ]" (14:18). Os discípulos estão angustiados com essa previsão e cada um pergunta a Jesus quem fará isso (14:19). Mas Jesus não lhes fornece detalhes específicos - “É um dos doze, que está mergulhando pão na tigela comigo”. Como todos estavam “mergulhando pão na tigela” com Jesus, esse pedaço de informação não ' Ajude os discípulos a descobrir sobre quem Jesus está falando. Mas os leitores de Marcos sabem!

Jesus também diz sobre quem o trairia: “Pois o Filho do Homem continua como está escrito a seu respeito, mas ai daquele por quem o Filho do Homem é traído [ paradidotai ]! Teria sido melhor para aquele não ter nascido ”(14:21). Esta é uma afirmação interessante de Jesus porque, por um lado, implica que o que está prestes a acontecer com Jesus já foi gravado em pedra ("o Filho do Homem segue como está escrito a seu respeito"), mas aquele que faz sua parte trazer isso seria melhor nunca mais existir!

"O Traidor"

Em nenhum momento da narrativa de Marcos nos é dito quando Judas sai para levar as autoridades religiosas a Jesus. Ele o faz logo após a refeição ou antes de Jesus orar no Getsêmani. Meu sentimento pessoal é que ele o faz logo antes de chegarem ao Getsêmani, já que Jesus estando naquela área teria permitido que os principais sacerdotes prendessem Jesus em silêncio (ver 14: 1). Curiosamente, o Evangelho de João registra que Judas deixou Jesus depois que ele mergulhou o pão em um prato e o deu a Judas (ver João 13: 26-30). Como ele sabia onde Jesus estaria, não é esclarecido por João.

Quando Jesus entra no Getsêmani, ele pede aos discípulos que o esperem enquanto ele ora (14:32). Ele então pega Pedro, Tiago e João e diz a eles: “Estou profundamente triste até a morte; permanece aqui e fica acordado ”(14: 33-34). Mas eles não conseguem ficar acordados nem uma nem duas vezes, mas três vezes! (14:37, 40-41). Depois da terceira vez em que os pega dormindo, Jesus diz: “Basta! Chegou a hora; o Filho do homem é traído [ paradidotai ] nas mãos dos pecadores. Levante-se, vamos embora. Veja, meu traidor [ paradisíaco ] está próximo ”(14: 41-42). Enquanto ele fala com Pedro, Tiago e João, vem Judas e com ele as autoridades religiosas e uma multidão armada com espadas e paus (14:43).

No restante do evangelho de Marcos, o personagem de Judas Iscariotes não aparece. Marcos retira Judas de seu nome e a última coisa que ele chama no Evangelho de Marcos é ho paradidiano - "o traidor". Judas passou de um dos homens mais próximos de Jesus para um que o entregou às autoridades religiosas. Judas havia dito aos principais sacerdotes que quem ele beijava era o que eles queriam, e então Judas se aproxima de Jesus, se refere a ele como "rabino" e o beija (14: 44-45). Jesus é então preso e levado (14:46).

Não há mais nada a dizer sobre Judas Iscariotes. Não temos em Marcos nem a cena mateana em que Judas joga seu dinheiro de volta nos sacerdotes e depois se enforca (Mateus 27: 3-10), nem os detalhes da morte de Judas oferecidos por Lucas (Atos 1: 15-20). Sua história termina no Getsêmani com um beijo. É abrupto e assustador.

Larry Hurtado e as terminologias semíticas no Evangelho de Marcos - Encantamentos Mágicos?


Larry Hurtado, um estudioso bíblico da Universidade de Edimburgo, na Escócia, escreveu recentemente abordando a questão de saber se algumas das terminologias semíticas usadas no Evangelho de Marcos são exemplos de encantamentos mágicos. As passagens em questão são Marcos 5:41 e 7:34.
Ele a pegou pela mão e lhe disse: “Talitha cum”, que significa: “Garotinha, levante-se!” (Marcos 5:41, NRSV)

Então, olhando para o céu, ele suspirou e disse-lhe: "Efatá", isto é, "Abra-se". (Marcos 7:34, NRSV)

São essas expressões aramaicas - "Talitha cum" e "Ephphatha" - que estão em vista. Esta questão também foi abordada por outros comentaristas e a conclusão é geralmente que eles não representam tal coisa.

Hurtado oferece três razões para isso:
(1) a falta de mais exemplos desses encantamentos mágicos não faz sentido se Jesus os usou quando realizou milagres como exorcismos;
(2) Frases semíticas que não estão conectadas a histórias de milagres também podem ser encontradas em outros lugares em Marcos, bem como nos outros evangelhos; 
(3) os termos são traduzidos por Marcos , algo que você não faz com encantamentos mágicos.

Hurtado conclui:
Então, minha sugestão final sobre essas instâncias particulares é a seguinte: elas não são realmente apenas exemplos do uso mágico de expressões estrangeiras / exóticas, mas Marcos pode realmente ter pretendido combater essa ideia! É como se ele "enviasse" a prática, pegando o que a princípio poderia parecer o dispositivo mágico de palavras exóticas e depois as traduz, anulando assim qualquer poder mágico. Talvez a intenção fosse, se houver alguma alusão à prática mágica, enfim, distinguir os milagres de Jesus dela.

É interessante que Marcos tenha mais palavras / expressões semíticas (principalmente aramaicas) do que qualquer outro evangelho. O que devemos fazer disso? Alguns podem sugerir que estes são os resíduos de um original aramaico. Mas não há nada que corrobore isso e muito que o torne improvável.

Ao preparar um documento da conferência sobre o uso ritual do nome de Jesus nos primeiros exorcismos e curas cristãos, duas instâncias dos “semitismos” de Marcos surgiram novamente para consideração: a expressão “ talitha koum ” na criação da menina em Marcos 5:41 , e a expressão " ephphatha " na cura de surdos e mudos em 7:34, ambas expressões únicas de Marcos. Estudiosos como Adela Yarbro Collins (em seus comentários amplos e com muitos recursos sobre Marcos na série Hermeneia) julgam com razão que esses não são feitiços ou encantamentos. Outros estudiosos, no entanto, propuseram que são termos mágicos, que são exemplos de um dispositivo mágico que envolve a pronúncia de palavras ou frases estrangeiras / exóticas. Existem muitos exemplos disso nos textos mágicos do mundo antigo.  Mas costumo pensar que esta leitura dos exemplos de Marcos está incorreta.

Minha primeira razão é a seguinte: se o autor pretendia retratar Jesus usando esse dispositivo, por que apenas nesses dois casos? Em particular, dado o lugar de destaque do exorcismo no relato de Marcos a respeito de Jesus, por que o suposto artifício não é usado nessas narrativas?

Segundo, vale a pena notar novamente minha declaração de abertura, de que o autor usa palavras / frases semíticas várias vezes, não apenas nesses textos milagrosos. Somente Marcos nos diz que Jesus chamou os irmãos Zebedeu de " boanerges " (3:17). Marcos sozinho tem Jesus acusando os escribas da prática de " corban ". E também Marcos sozinho coloca " Abba " nos lábios de Jesus no Getsêmani (14:36).

Além disso, ainda existem outros termos semíticos em Marcos, que também são usados ​​por um ou ambos os outros Evangelhos Sinópticos: " Belzebu" 3:22, ecoado em Mateus e Lucas); "Gehenna" (9: 43-47, ecoado em Mateus); " Hosana " (11: 9-10, ecoado em Mateus); Gólgota (15:22, também em Mateus); e, é claro, " Eloi, eloi, lama sabachthani " (15:34, uma forma variante em Mateus).

Nesses outros casos, parece mais o dispositivo literário ou de contar histórias do que poderíamos chamar de "cor da linguagem". Ou seja, inserir algo da linguagem dos personagens e eventos históricos para obter um efeito dramático. É como o que temos algumas vezes em filmes em inglês, nas quais cenas de estrangeiros conversando entre si os fazem usar seu idioma autêntico, para dar uma nota de realismo adicional. Então, acho que as duas expressões semíticas nas duas narrativas milagrosas devem ser vistas à luz desse uso mais amplo dos termos semíticos em Marcos, aparentemente com efeito dramático.

Minha terceira razão para duvidar de que “ talitha koum ” e “ ephphatha ” fossem concebidos como dispositivos quase mágicos é que, assim como geralmente sua prática no uso de outros termos semíticos, o autor os traduziu para seus leitores. Mas na prática mágica antiga, você não traduz as palavras exóticas! Pois são seus sons que os tornam mágicos, não sua tradução. De fato, traduzi-los é praticamente despojá-los de seu poder mágico.

Além disso, nesses dois casos, observe as traduções. No primeiro, Marcos traduz “ talitha koum ” como “menininha, levante-se”, que é praticamente o que a expressão significa. E, por outro lado, Marcos também traduz corretamente " ephphatha " como "esteja aberto". Em outras palavras, essas expressões sonoras simplesmente transmitem os comandos tipicamente simples pelos quais Jesus realiza seus vários milagres, de acordo com as narrativas do Evangelho. Traduzido, eles são quase banais!

Então, minha sugestão final sobre essas instâncias particulares é a seguinte: elas não são realmente apenas exemplos do uso mágico de expressões estrangeiras / exóticas, mas Marcos pode realmente ter pretendido combater essa ideia! É como se ele "enviasse" a prática, pegando o que a princípio poderia parecer o dispositivo mágico de palavras exóticas e depois as traduz, anulando assim qualquer poder mágico. Talvez a intenção fosse, se houver alguma alusão à prática mágica, enfim, distinguir os milagres de Jesus dela.