quinta-feira, 14 de junho de 2012

A Enigmática raça dos Nefilim

OS NEFILIM E A QUEDA DE UM SER:
 uma análise da narrativa mitológica de Gênesis 6.1-4 comparada com a síndrome de Down


A figura que se tem sobre os Nefilim no contexto cristão é a de um ser angelical caído, porém não é levado em consideração que o Antigo Testamento, como qualquer literatura, é composto por estilos de linguagem. Esta obra apresenta o mito como estilo literário utilizado no texto de Gênesis 6.1-4 para que seja assimilado aos dias atuais e haja uma melhor compreensão deste ser.

Conduzir o leitor cristão à compreender a narrativa mítica como um estilo literário sendo apresentado em textos bíblicos é um processo trabalhoso, perigoso e gratificante. Através da teoria da imaginação de Immanuel Kant, explicada de forma simples e de fácil compreensão por Ernest Cassirer, pode-se entender melhor o inconsciente coletivo apresentado por Carl Gustav Jung e explicar como o pensamento mítico se faz presente e importante para o ser humano.

Ao se tratar de um texto bíblico, antigo e que apresenta uma narrativa mítica, torna-se imprescindível apresentar as expressões idiomáticas da época veterotestamentárias e como se deu a formação do texto judaico no decorrer dos séculos até os dias atuais.


Mediante a exegese de Gênesis 6.1-4, o pensamento mítico e o inconsciente coletivo da época, apresentado no texto, flui de forma tão simples que o leitor compreende que os Nefilim eram pessoas portadoras de disfunção genética, conhecida nos dias atuais como síndrome de Down, sem abalar a sua fé a sua tradição religiosa.


Apesar de Kant, Cassirer e Jung apresentarem e explicarem a importância do pensamento mítico e do inconsciente coletivo para o ser humano, não é tarefa simples compreender as narrativas míticas encontradas nos textos bíblicos. Por mais que os estudiosos da Bíblia expliquem os textos apresentando os contextos, a tradição faz com que os estilos literários se tornem fatos históricos.


O presente trabalho apresenta o pensamento mítico e o inconsciente coletivo não só na filosofia e na psicologia, mas também nos textos de Gênesis 6.1-4, no decorrer da cultura judaica e nos diagnósticos apresentados nos deficientes desde os tempos imemoriais até os dias atuais, incluindo as comunidades as quais pertenciam.


Por intermédio da filosofia e da psicologia utilizadas pela hermenêutica e aliadas ao conhecimento científico chega-se à compreensão da antropologia teológica apresentada na narrativa mítica de Gênesis 6.1-4 e à conseqüência que as discriminações podem trazer para a humanidade.
 Introdução
A compreensão dos textos bíblicos tem sido uma tarefa difícil para os cristãos desde os tempos antigos até os dias atuais. A interpretação e aplicação dos textos bíblicos à vida dos cristãos sempre se deu pela compreensão passada pela tradição que une os estilos literários, apresentados nos diversos textos bíblicos, à fé e leva os cristãos a compreenderem a moral do texto sem contextualizá-los.

Este procedimento torna mais fácil a interpretação bíblica, porém o fato de não contextualizar e apresentar a cultura à época a que o texto se reporta tem gerado muita distorção dos textos. Ao ler o texto desta forma, o leitor o entende e o aplica à sua vida partindo dos ensinamentos e da moral passados pela tradição.


Cada literatura apresenta em seu conteúdo um estilo literário de acordo com a sua época, de forma que tanto o autor como o leitor o compreendem. Porém ao ler o texto sem a devida contextualização perde-se a ênfase que o autor apresenta no texto.


Para estudar um texto do Antigo Testamento, como em Gênesis 6.1-4 e entender sobre os Nefilim, o leitor precisa conhecer a literatura judaica e os estilos literários que a compõem e isto varia no decorrer das épocas.


Em se tratando de uma narrativa mítica, como no caso de Gênesis 6.1-4, é preciso não só entender o que o autor quer passar como também o tempo ao qual o texto se reporta. Para isto é preciso compreender o contexto envolvido no momento da provável produção do texto, como o contexto do tempo veterotestamentário narrado na passagem bíblica. Este processo envolve, ainda, todo processo hermenêutico, inclusive a exegese do texto e das palavras, para chegar à moral que o texto contém.


Através da filosofia apresentada por Immanuel Kant e da psicologia de Jung, é possível compreender como o ser humano entende os simbolismos que envolvem o mundo ao seu redor e o seu próprio. O pensamento mítico e o inconsciente coletivo de Jung ajudam a compreender como o ser humano pensa e como ele apresenta este pensamento em todos os âmbitos de sua vida. Esta forma de compreensão junguiana serve para entender como os povos antigos, em tempos imemoriais, se portavam com o pensamento mítico.


Os textos bíblicos contêm muitas narrativas míticas, principalmente nos livros que compõem o Pentateuco, por isso é necessário interpretá-los segundo a cultura judaica desde a sua formação literária até a canonização dos livros que compõem a Bíblia. Ao realizar este processo de interpretação para o texto de Gênesis 6.1-4 pode-se compreender o que seriam os Nefilim para a época que o texto apresenta e a moral contida nele.


Por fim, deve-se fazer uma comparação da figura mítica dos Nefilim com os dias atuais e pode-se aplicar os ensinamentos do texto para o dia-a-dia, sem criar teorias infundadas ou que desvalorizem os textos bíblicos. Este é o objetivo a que se propõe o autor desta obra.


 O pensamento mítico e o inconsciente coletivo
É natural ao ser humano dar o nome de imaginação a essa faculdade de ter presente o que está ausente. Ao entender que o ser humano age assim, Kant faz distinção entre a faculdade reprodutiva e a faculdade produtiva. Segundo ele, a faculdade reprodutiva é a representação de algo que está ausente, mas que por ter uma imagem formada em seu espírito o homem a reproduz em algo que vê num determinado momento. Neste caso, a faculdade produtiva é a faculdade artística que produz algo nunca visto, porém utiliza imagens já existentes para produzi-la.

Em sua tese sobre a imaginação, Immanuel Kant apresenta um tema que é muito utilizado por Jung e Cassirer para apresentar o pensamento mítico e o inconsciente coletivo. Kant afirma que a imaginação é a faculdade da re-presentação, isto é, a faculdade de tornar presente o que está ausente.
Imaginação é a faculdade de representar por intuição um objeto que não está presente. A imaginação (facultas imaginandi) é uma faculdade de percepção na ausência do objeto”.
A princípio parece que a imaginação para Kant é a memória, porém ele demonstra que a imaginação é a condição da memória, isto é, uma faculdade mais abrangente.

Em sua obra denominada Antropologia, Kant descreve a memória como a faculdade de tornar presente o passado e a aproxima da faculdade da previsão que torna presente o futuro. Ele faz isto para demonstrar que ambas são faculdades de associação com o presente e que mesmo não sendo percepções, servem para ligar as percepções do tempo. Kant demonstra essas diferenças para fundamentar que a imaginação não precisa ser guiada por essa associação temporal, pois torna presente o que escolher a qualquer tempo.


Kant denomina de faculdade da imaginação o “tornar presente ao espírito o que está ausente da percepção visível” e que é apresentado desde o princípio da filosofia, seja concordando com Parmênides através do nous e it-is ou com Anaxágoras através da expressão “as aparências são uma entrevisão do invisível”.


A partir dessas aparências dadas pela intuição é que Kant afirma que as pessoas se tornam conscientes, isto é, entrevêem algo que não aparece. Este algo apresentado pela intuição é o Ser presente no espírito e não-aparente nas aparências que transforma a metafísica em ontologia. A partir deste Ser, isto é, da intuição no âmbito metafísico é que Kant apresenta o papel da imaginação para a faculdade cognitiva do ser humano que envolve a experiência e o conceito, pois a intuição apresenta algo particular e o conceito (entendimento) torna o particular conhecido e comunicável.


Para explicar melhor este pensamento complexo que envolve a imaginação, Kant, em seu livro Crítica da Razão Pura, chama a imaginação de a “faculdade da síntese em geral”, apresentada em esquemas que envolvem o entendimento humano e a este denomina como uma arte nas profundezas da alma humana.


Kant demonstra através desse esquematismo que a imaginação é uma das fontes originais de toda experiência e que não pode ser derivada de nenhuma outra faculdade do espírito, por isso o homem só terá imagens por causa da faculdade de esquematizar.


Esta teoria de Kant apresenta o princípio essencial e a base de todo o pensamento metafísico do ser humano. Afinal, só se é possível comunicar algo se no fundo do espírito humano de uma pessoa, na profundeza de sua alma, houver um esquema cuja forma seja característica do fruto de sua imaginação, mesmo que tais pensamentos sejam discordantes. O importante é entender que a imaginação de algo universal particular é fruto de um conceito perceptível comum a todos pela experiência.


A partir desta teoria da imaginação, onde Kant explica como o ser humano entende os pensamentos que guarda no mais íntimo do seu ser, é que Carl Gustav Jung se aprofunda. Através da psicologia, trabalhando no âmbito metafísico, Jung apresenta a sua teoria sobre o pensamento mítico e o inconsciente coletivo, que depois é melhor trabalhada por Ernst Cassirer.


Ernst Cassirer
Ernst Cassirer, um dos mais importantes filósofos alemães contemporâneos, utiliza o pensamento mítico baseando-se no inconsciente coletivo de Jung, que por sua vez se baseia na teoria da imaginação de Kant, para explicar que o universo humano é visualizado essencialmente como um universo de símbolos e ou imagens arquétipas estruturais. Para Cassirer e Jung a expressão mítica do homem vai além de um primitivismo de evolução do ser humano, ela alcança uma dimensão simbólica.

Entende-se a teoria de Cassirer ao comparar o pensamento científico que submete os fenômenos ao jugo das leis matemáticas e universalmente validadas; pormenorizando e, conseqüentemente, enquadrando-os nesse ou noutro conhecimento racionalista, com o pensamento mítico, que permanece com toda a potencialidade e possibilidade de interagir com os fenômenos a partir de um estado de consciência onde não existe a separação entre o objeto e o sujeito.


Assim, Cassirer demonstra que a evidência do mito subjaz ao desejo da humanidade e é inegável que o mito estrutura o pensamento do homem desde o seu estágio primitivo, interligando todas as expressões simbólicas.


O mito é um dos mais antigos e poderosos elementos da civilização humana. Está estreitamente ligado a todas as outras atividades humanas  é inseparável da linguagem, da poesia, da arte e do primitivo pensamento histórico. A própria ciência pagou tributo ao mito: a alquimia precedeu o químico, a astrologia precedeu a astronomia”.
O símbolo, segundo Cassirer, é algo que diferencia o homem das outras espécies animais e tem a propriedade de ser inesgotável e de conferir uma nova dimensão à realidade da vida humana.
Entre o sistema receptor e o sistema de reação, que se encontram em todas as espécies animais, encontramos no homem um terceiro elo, que podemos descrever como o sistema simbólico. Esta nova aquisição transforma toda a vida humana. Em confronto com os outros animais, o homem vive, por assim dizer, numa nova dimensão da realidade. Existe uma diferença inequívoca entre as reações orgânicas e as respostas humanas. No primeiro caso, a resposta dada a um estímulo exterior é direta e imediata; no segundo, a resposta é diferida. É interrompida e retardada por um lento e complicado processo de pensamento”.
Esta dinâmica do símbolo, de configuração estrutural, a respeito da dimensão mítica, descreve as relações eu-mundo, interior-exterior, inconsciente-consciente de Jung.

Da mesma forma que Kant e Jung, Cassirer demonstra que a tríade espaço, tempo e número constitui o meio de ordenação ou realidades dos mundos sob o modelo da antítese sagrado-profano. Para ele essa tríade é composta pelos esquemas intuitivos que “representam os meios do pensamento em virtude dos quais o meio agregado das percepções toma gradualmente a forma de um sistema da experiência”.


O pensamento mítico, predominante nas sociedades primitivas, é definido por Cassirer como o primeiro movimento de organização do mundo pelo homem, cuja organização é fundada na experiência sensorial, onde o espaço é a principal categoria de pensamento. Telma A. Donzelli sintetiza este pensamento mítico de Cassirer ao dizer que:


“(...) o tempo mítico não se define por uma relação abstrata de sucessão. Ao contrário do tempo físico-matemático da ciência, não é algo que ‘flui em si por si sem referência a um objeto exterior’. Cada fase ou intervalo de tempo; como cada zona ou direção no espaço, corresponde a uma intuição qualitativa e concreta. O ‘de onde’ e o ‘para onde’ são visualizados sob a forma de ‘coisas determinadas’; os ‘momentos’ conservam o caráter de ‘coisas de origem’, concretas e independentes. Daí o cuidado na celebração de determinados atos sacramentais que deverão acontecer em certas épocas ou períodos definidos, fora dos quais perderam todo poder sacramental. Esta lógica do tempo no pensamento mítico adviria, segundo Cassirer, da própria forma do ser mítico: enquanto ‘sagrado’, a essência do mítico é a de ser ‘único’ definindo-se como um ‘ser-de-origem’, sem passado; somente o ‘acontecer’ confere-lhe este caráter de passado, de ‘já dado’, e portanto, de ‘tempo’ propriamente dito; ora o ‘acontecer’ é o vir a ser rítmico da configuração existencial; conseqüentemente cada intervalo de tempo, no pensamento mítico, identifica-se com o seu conteúdo existencial”.

Nota-se que a noção de tempo e espaço pertence a uma dimensão além das determinações antropocêntricas. É uma ligação íntima com o caráter trans-humano de ambos. Por isso Cassirer diz que “o conceito mítico de causalidade não está aparentado nem conectado com a continuidade temporal, mas sim com a causalidade espacial”.

Para Cassirer o tempo no contexto do pensamento mítico apresenta um tempo de origem, isto é, ocorre a sincronicidade à luz de uma totalidade que envolve o sujeito e o objeto, no acontecer do dado. Assim, a relação de causa e efeito são únicas e uma só, a saber, a presença dos deuses ou dos ancestrais protetores da comunidade.


Para o homem moderno, cuja consciência de tempo é distinta do homem primitivo, a dimensão do inconsciente é semelhante ao pensamento mítico, independente da relação tempo, espaço e sucessão.
Jung diz que o homem moderno é o portador do princípio da parte pelo todo, isto é, da manifestação imediata da psique que compreende o pensamento mítico de Cassirer quanto o científico, pois ambos refletem um estado de consciência da humanidade.

Carl Gustav Jung

Para Jung o Ser incorporado no homem dita a participação humana com o acontecer da temporalidade e da especialidade, do mundo e das coisas. Neste ponto, Jung reivindica maior atenção para o indivíduo, porque é através dele que o inconsciente adquire configuração. Ele afirma que:
A estrutura e fisiologia do cérebro não conseguem explicar o processo da consciência. A psique possui um modo próprio de constituição que não se reduz a nada semelhante. Apesar de apresentar, do mesmo modo que a fisiologia, um campo de experiência relativamente fechado em si mesmo, ela possui um sentido inteiramente próprio, na medida em que encerra em si mesma uma das condições inalienáveis do Ser, qual seja o fenômeno da consciência. Sem essa condição não pode haver mundo, pois este só existe como tal enquanto reflexo e expressão de uma psique consciente. A consciência é uma condição do Ser. Nesse sentido, a psique – recebe a dignidade de um princípio cósmico que filosoficamente e de fato – ocupa um lugar semelhante ao princípio físico do Ser. O portador dessa consciência é o indivíduo. Todavia, ele não produz voluntariamente, sendo por ela moldado desde a infância em direção à consciência adulta. Se a psique possui uma importância empírica tão significativa, o indivíduo, que constitui a sua manifestação mais imediata, deve ser considerado de maneira igualmente prioritária”.
Em outras palavras, Jung demonstra, à luz do inconsciente, que o indivíduo participa na inexistência de um tempo-sucessão, presente no princípio cósmico da psique.

Esta é a forma de Jung demonstrar que o homem primitivo, apesar de ter uma estrutura biológica idêntica à do homem moderno, não tinha a mesma familiaridade em relação às idéias de quantidade e qualidade, propiciadas pela valorização numérica existente para o homem moderno.


As coisas do pensamento do homem primitivo pertenciam a um todo, nada era discriminado, separado, individualizado; era um tipo de visão holística que dominava o seu mundo. Tudo era percebido à luz de uma totalidade divina, até mesmo, o homem tribal (coletivo) era percebido desta forma e o que não participava deste consciente coletivo era considerado profano.


A diferença do homem primitivo para o homem moderno se encontra na visão do todo e da parte. Isto não ocorre por falta de conhecimento ou atraso no mesmo, mas porque o homem primitivo tinha uma compreensão à luz da totalidade e não de forma numérica ou fracionada. Desta forma um objeto de culto ou um utensílio utilizado para um ritual não representava a divindade, era a própria divindade. Isto é possível por causa do caráter mítico-religioso e, conseqüentemente, o poder ou a sacralidade.


Por intermédio da psicose pode-se perceber que há uma fragmentação da consciência, a incapacidade do pensamento de coordenar idéias em conjuntos, relacionando-os em: função de uma centralidade possibilitando o reconhecimento dessa totalidade sacra, conforme cita o Prof. Dr. Nilton de Souza da Silva (2005), em seu livro O mito em Ernst Cassirer e Carl Gustav Jung: uma compreensão do ser do humano:
A própria história da humanidade mostra esse processo de emergência da subjetividade: com o desdobramento do espírito durante o período socrático o homem atinge, então, um novo estado de consciência diametralmente oposto à mítica; entra em cena o sujeito e a subjetividade, embasados na construção de um eu antropomórfico reduzido da multiplicidade de sensações imediatamente dadas pela natureza e sintetizado através da relação do acontecer externo e interno do homem”.

Nota-se que o processo espiritual do homem encontrou e encontra na multiplicidade dos fenômenos, imediatamente dados pela natureza, uma necessidade de organizar, coordenar e direcionar tais sensações conforme seu estado de consciência.

A compreensão da história da evolução do pensamento humano é melhor compreendida no período pré-socrático, porque a evolução mítico-religiosa dos objetos no espaço e no tempo sagrados permitiam ao homem distinguir os elementos da natureza e a distinção da própria identidade frente ao mundo sensível do imediatamente dado.


Esta vivência mítico-religiosa levou o homem a procurar sua origem, o seu centro, possibilitando construir uma compreensão de sua gênese, ainda que de forma mitológica. Por intermédio desta participação mítico-religiosa o homem se desenvolve através da real necessidade de tomar parte na unidade criadora e ser uno.


Em meio a tantos fenômenos na pré-história, surge a consciência da subjetividade no homem, por intermédio do sentimento mítico-religioso. Mesmo havendo, no decorrer da história da humanidade, uma multiplicidade de atos de fé, expressos por vários povos, eles representam sempre o desejo da inteireza humana que para Jung é o eu, isto é, uma dimensão psíquica mediadora da relação consciente-inconsciente, presente na humanidade.


Para Jung o divino oculta a verdade que é proibida ser penetrada pelo homem e no divino está a gênese do mito, a vivência do eu que é expressa em muitas línguas.


Nota-se que o inconsciente coletivo e pensamento mítico apresentam a característica de manter unificados o espaço e o tempo em várias expressões humanas, entre elas, figuras de linguagem ou estilos literários, segundo cada povo e cultura, principalmente os considerados como sendo primitivos.


Jung acreditava que os mitos estão todos relacionados numa região da mente humana denominada inconsciente coletivo que designa algo compartilhado por toda a humanidade, a saber, um patrimônio comum. Este inconsciente coletivo composto por vários mitos tem sido apresentado no decorrer da história da humanidade, desde os tempos primitivos até aos dias atuais, através de figuras de linguagem expressas nos estilos literários.


O mito como estilo literário

Durante séculos a humanidade, por não ser numerosa na Terra e por viver em pequenos grupos isolados, tinha suas próprias características que tornavam tais grupos diferentes dos demais.

Apesar dessas diferenças culturais entre os diversos grupos existentes na humanidade, no decorrer da história, a mente humana é em toda a parte uma e a mesma coisa, com as mesmas capacidades. Enquanto Jung denomina isto como inconsciente coletivo, a antropologia social se volta para o mito e afirma que o mito é capaz de revelar o pensamento de uma sociedade, a sua concepção da existência e das relações que os homens devem manter entre e com o mundo que os cerca. Isto ocorre porque o pensamento mítico desempenha o papel do pensamento lógico.


O mito dá ao homem a ilusão, extremamente importante, de que ele pode entender o universo e de que ele o entende de fato. Todavia é preciso compreender que a mitologia é estática, pois apresenta os mesmos elementos mitológicos combinados de infinitas maneiras, mas num sistema fechado, contrapondo-se à história que, evidentemente, é um sistema aberto.


Porém isto não tira a importância e a credibilidade do mito, porque os mitos ensinam ao homem a se voltar para dentro e a captar a mensagem dos símbolos existente na natureza humana por intermédio do inconsciente coletivo.


Ao ler os mitos de outros povos, além dos que compõe a sua religião, o ser humano não se limita apenas a interpretar a sua religião com fatos, mas passa a captar e a compreender a mensagem mitológica. Isto é a beleza que o mito contém, conforme afirma Joseph Campbell (1986) ao dizer que “o mito ajuda a colocar sua mente em contato com essa experiência antiga e se sentir vivo”.


Nota-se então, que o vocábulo mito apresenta uma gama diversificada de idéias que o compõem, porque ele faz de um conjunto de fenômenos, cujo sentido é difuso, pouco nítido e múltiplo. O mito serve para representar várias idéias, ser usado em diversos contextos com a finalidade de expressar um conceito amplo e complexo, seja do passado ou em tempos atuais.


Entretanto o mito não faz isto por si só, ele depende do ser humano que tem como marca uma particularidade de possuir e organizar símbolos que se tornam linguagens articuladas, aptos a produzir qualquer tipo de narrativa.


Noam Homsky (1998), explica este processo ao dizer que “ao investigar o uso da língua, descobre-se que as palavras são interpretadas em termos de fatores tais como constituição material, configuração geral, uso característico e pretendido, papel institucional e assim por diante”.


Homsky explica que os significados das palavras têm várias propriedades que podem ser investigadas de vários modos: aquisição de língua, generalidade entre língua, formas inventadas, estilos e figuras de linguagem, etc.


Outro autor que define a importância do mito na linguagem humana é Everardo Rocha:
O mito é uma narrativa. É um discurso. É uma forma de as sociedades espelharem suas contradições; exprimirem seus paradoxos, dúvidas e inquietações. Pode ser visto como uma possibilidade de se refletir sobre a existência, o cosmos, as situações de estar no mundo ou as relações sociais”.

Atualmente é comum pensar em mito como uma mentira, ou melhor, como uma forma estética de encobrir a verdade. Porém o mito é mais importante que isto, é uma tradição de forma alegórica, apresentada por uma mensagem cifrada, subjetiva e por isso precisa ser decifrado, interpretado para demonstrar o seu valor e sua eficácia na vida social.

Compreende-se isto ao ver que as literaturas grega e latina costumavam fazer parte da educação de todas as pessoas. Porém ao serem suprimidos, toda uma tradição de informação mitológica do Ocidente se perdeu, porque muitas histórias se conservavam nas mentes das pessoas. Quando a história está na mente percebe-se a sua relevância para aquilo que está acontecendo na vida de alguém ou lhe dá a percepção de que algo está acontecendo. Ao perder essas histórias das mentes dos povos, perde-se muito porque não há nada para por no lugar.


Essas informações, provenientes dos povos antigos, sempre apresentaram temas que sustentam a vida humana lhe dando sentido, constroem civilizações e formam religiões através dos séculos.


O mito por intermédio de tais informações se envolve com profundos problemas interiores, com os mistérios, com os limiares da travessia humana no caminhar da vida. Entretanto, se o homem não souber decifrar tais sinais ao longo do caminho, terá de produzi-los por conta própria.


Todavia, ao ter acesso a essas informações, seja de qualquer tradição, até mesmo de cultura muito diferente e diversificada, o ser humano a tem como preciosa e vivificadora de forma que não abre mão dela.


A história da humanidade, dos diversos e diferentes povos apresenta isto, incluindo o processo de não compreensão dos mitos. Isto demonstra que ao ler os textos bíblicos é preciso entender os povos que compõem o cenário do contexto lido para compreender o que os estilos literários expressos e também o que os mitos têm a apresentar.


O mito nos escritos veterotestamentários

Os israelitas formaram a sua cultura e os elementos que a compõem recebendo influência de vários povos da Mesopotâmia Anterior como os sumérios, acadianos, egípcios, hititas, cananeus, caldeus e, ainda, dos babilônios, assírios, persas e outros.

Sabe-se que, na época em que os israelitas estavam na Palestina, já se encontrava a escrita e esta também era ensinada nas escolas dos escribas. As comunidades oficiais e diplomáticas utilizavam, normalmente, a escrita cuneiforme, proveniente da Babilônia e mais tarde, cerca de 2.000 a.C., os fenícios desenvolveram a escrita consonantal, utilizando caracteres cuneiformes até que criaram caracteres próprios.


Nas escolas dos escribas havia textos das literaturas mesopotâmica e egípcia incluindo cânticos, poemas épicos, mitos, textos sapienciais e outros. Por isso percebe-se que as narrativas israelitas contêm uma evolução literária partindo dos estilos literários utilizados desde a Mesopotâmia Anterior até o período Persa.


Apesar de ser comprovado arqueologicamente que a tradição escrita remonta a eras da Mesopotâmia Anterior, não se pode negar que elas iniciaram através da tradição oral, isto é, por meio de contos por pessoas conhecidas como contadores de histórias dos povos.


Os gêneros literários da Mesopotâmia Anterior influenciaram muito na literatura israelita, por isso encontra-se nos textos veterotestamentários máximas de vida, questões jurídicas, juramentos, bênçãos, maldições, oráculos, diálogos, cartas, novelas, anedotas, sagas, lendas, mitos e etc.


O mito e o conto, a saga e a lenda constituem formas originais de narração por meio das relações mútuas entre as narrativas que eles determinam. Todavia, o mito se diferencia das demais narrativas. Enquanto a saga surge do caráter peculiar e da importância de certos fatos ou acontecimentos singulares ocorridos no tempo e no espaço; o conto pára nestes. Contudo, o mito se encontra em épocas mais remotas e imemoriais e seu conteúdo é utilizado nesses estilos literários.


Apesar de haver sagas, lendas e contos com conteúdos míticos, o mito sempre se destaca nas narrativas por apresentar o divino sob formas antropomórficas e pela antropopatia empregada para demonstrar a relação e a interação entre os homens e o divino.


Pode-se perceber que o mito nos escritos veterotestamentários se passa no mundo dos deuses, que têm, no mínimo, uma participação decisiva no acontecimento narrado. Sellin-Fohrer (1978) explica que:
Este acontecimento narrado não é único, mas exemplar, típico e sempre se repete, sendo, porém apresentado como acontecimento único e original. Torna-se visível e captável, mediante a personificação e a descrição dos destinos dos deuses e heróis, na medida em que esta descrição e personificação são vividas como origem de determinadas experiências e fenômenos existenciais”.
Isto demonstra que há ocorrência do mito desde as narrativas principais dos livros do Antigo Testamento até os salmos, passando pelas profecias e histórias do povo.

Nos capítulos 1 a 11 do livro de Gênesis, encontram-se nas narrativas, elementos míticos para explicar e apresentar os patriarcas do povo, o princípio de tudo e a origem do povo de Israel, conforme a cultura dos povos da Mesopotâmia Anterior apresentava.


Estes onze capítulos iniciais do livro de Gênesis contêm as mesmas narrativas existentes nas epopéias de Atrahásis, o sábio; da criação feita pelos deuses Anu, Enlil, Ea; de Gilgamesh; e outros povos de tempos veteromesopotâmicos.


Apesar das narrativas mitológicas e dos mitos serem mais conhecidos, pelos que vivem em pleno século XXI, por causa dos filósofos e entre eles pode-se citar Platão e Aristóteles na literatura Greco-romana, pode-se perceber que os mitos remontam realmente a tempos imemoriais. Por isso Jung, através de sua teoria do pensamento mítico e o inconsciente coletivo, apresenta o essencial para entender o que tais narrativas demonstram.


Entre as narrativas veterotestamentárias que apresentam a existência do mito em seu teor literário, há os capítulos 6 a 9 de Gênesis, onde aparece a questão do dilúvio. Apesar do dilúvio ser reconhecido e comprovado pelos estudiosos que é uma narrativa comum à cultura Mesopotâmica Anterior, os cristãos a aceitam, alguns de forma relutante, como sendo um evento regional. Porém eles apenas atentam para um possível elemento mítico ou pensamento mítico em relação à narrativa do dilúvio, mas não em relação ao texto de Gênesis 6.1-4, onde é apresentado o motivo originário deste evento.


Em Gênesis 6.1-4 há a narrativa sobre os gigantes, que alguns interpretam como sendo os “filhos nascidos em resultado da união entre os filhos de Deus com as filhas dos homens”. A esta narrativa os cristãos atribuem como sendo um fato histórico e divino e se reportam à queda dos anjos que se rebelaram juntamente com Satanás contra Deus.


Para compreender o motivo que originou o evento mítico, dilúvio, é preciso entender as figuras míticas que este texto apresenta. Mas isto só é possível ao analisar o contexto apresentado segundo a tradição judaica do texto.


Gênesis 6.1-4: a tradição judaica do texto
A maior parte do texto das Escrituras é composta pela narrativa da Torá. Esta narrativa tem as características de uma crônica primitiva, na qual o fato histórico aparece em meio à mitologia, magia, milagre e lenda. Entretanto, ela não é uma história infantil, mas contém um núcleo histórico através do qual os mitos surgiram.

Os mitos que compõem o estilo literário do Pentateuco são compostos pelos estilos literários de povos como os sumérios, os acadianos, os ugaríticos e outros. Os povos mais avançados da Mesopotâmia Anterior apresentavam sagas tribais que alcançaram os demais povos e o mundo posterior. Isto ocorreu porque esses mitos apresentavam uma questão moral elevada e que incomodava a consciência da humanidade.


A maioria desses povos apresentava as suas religiões possuindo os mitos da criação, queda, dilúvio, etc. Através desta forma de se apresentar aos povos pode-se perceber que a Bíblia, no Pentateuco, mais especificamente em Gênesis, utiliza o mesmo gênero de modelo universal dos mitos conforme havia na Mesopotâmia Anterior.


Ao analisar esses mitos percebe-se que eles contêm vestígios dessas antigas crenças e isto demonstra que eles possuem uma realidade histórico-cultural própria.



Percebe-se nos textos antigos e no Pentateuco que o ser humano, incomodado pelos mistérios que a vida e o universo apresentavam, procurava explicar as coisas e buscava a causa que originou tudo. Nota-se, também, que há semelhança entre os relatos de José e sua família com a História dos dois irmãos, do Egito e a lenda síria de A História de Idrimi; de Moisés com o primeiro grande rei babilônico Sargão e com Hamurabi; da criação do mundo feita pelos Elohim com Ra, o Deus-sol e Tot, o Deus-escriba dos egípcios; de Noé com Gilgamesh ou Utnapshitim da Babilônia; e que todas elas apresentam uma moral para a humanidade.

A moral da narrativa do dilúvio aponta para a corrupção que dominava os corações dos seres humanos, demonstrando sua ingratidão e desobediência ao seu Deus, por isso este Deus deixa a humanidade se afogar em suas transgressões e varre-a do seu meio.


Apesar dessas narrativas conterem personagens diferentes e em épocas diferentes, elas apresentam o mesmo cunho moral. Há uma enorme semelhança entre as crenças e os costumes dos povos antigos. James G. Frazer (1986) diz que “muitas dessas semelhanças podem ser explicadas pela simples transmissão, com maior ou menor transmissão, para o povo”.


E, ainda, Nathan Ausubel (1989), em seu comentário sobre o conhecimento judaico, feito na Coleção Judaica, no volume II, diz que:


Todas essas seqüências narrativas, que possuem indiscutivelmente um cerne de verdade histórica, estão envoltas em texturas diáfanas de sonho que atingem o sobrenatural e o miraculoso. Possivelmente só crianças grandemente imaginativas ou povos primitivos, não corrompidos pela sofisticação da civilização, seriam capazes de tais efusões de sentimento e evocações poéticas”.

Nathan Ausubel demonstra e expressa claramente que todas as personalidades, acontecimentos e imagens dessas narrativas são projetadas com surpreendente objetividade e honestidade intelectual.

Outra pessoa que concorda com o comentário feito por Nathan Ausubel e o ratifica é o filósofo judeu Baruch Spinoza (1632-1677) ao dizer que
a Escritura toda foi elaborada primordialmente para um povo inteiro e que seu conteúdo deve necessariamente adaptar-se, o melhor possível, à compreensão das magias, pois o seu objetivo não era o de convencer a razão, mas atrair e dominar a imaginação”.
O relato bíblico dos milagres e das maravilhas, do engendrar dos mitos empolgantes e das narrativas mágicas devia, portanto, magnetizar, sugerir, ensinar e, finalmente, levar à fé e à conduta virtuosa.

Todavia, alguns cronistas bíblicos, revelando um apego à verdade que beira a austeridade, não tentam romancear, adornar ou glorificar seus heróis nacionais, seja ele o pai Abraão, o patriarca Jacó ou o grande líder Moisés. Não procuram disfarçar os deslizes que tais personagens cometeram, nem conciliar as gritantes contradições e falhas de caráter, mas fazem com que eles se apresentem na história como seres humanos, de uma maneira muito convincente, de tal forma que quaisquer que sejam suas inconsistências e divagações morais, eles são apresentados sempre à procura de compreensão e retidão.


Os mitos, as sagas, as lendas, os milagres e as maravilhas que essas narrativas contêm fazem parte do folclore judaico que se construiu no decorrer dos anos através das várias formas de textos judaicos até chegar à Torá e, conseqüentemente, ao Pentateuco e à Bíblia.


É comum ver nas narrativas, não só nos textos bíblicos, como nos mais antigos como Midrash, Talmude, Mishnah, Guemarah, Halachah, Agadah e outros, inclusive de outros povos vizinhos do povo hebreu ou da Mesopotâmia Anterior, os seres divinos tendo formas, sentimentos e atitudes humanas. Por entender isto é que H. Slonimsky (1979) diz:
Realmente, em parte alguma como aqui no Midrash, Deus tornou-se tão profundamente humano, chegou tão junto do homem e nesse abraço, transformou-se tanto num irmão mais velho, num pai um pouquinho mais idoso, que Deus não apenas só se fez homem, como se fez judeu, um velho judeu barbudo”.

Afinal, nenhum folclore exibe uma história tão longa e contínua como o judaico, tanto no tempo como na geografia. O folclore judaico é ricamente variado e pitoresco e isto demonstra as marcas da enorme diversidade de cultura que os judeus assimilaram de vários povos no decorrer dos séculos.

O folclore é um registro vivo de um povo, palpitante de vida própria e apresenta como sua maior arte a ausência da arte. É um relato verdadeiro, um flagrante sem poses.


O folclore é revelador, verdadeiro à medida em que é uma expressão espontânea. É tridimensional para com os sentidos de vida e de povo. Segue uma linha reta em busca do significativo, ignorando o trivial. Através do seu antagonismo (bem e mal, luz e sombra, lágrimas e riso) alcança a harmoniosa unidade dos contrários que existe na verdade objetiva.
Os mitos encontrados nos textos bíblicos como em Gênesis 6.1-4 que antecedem o dilúvio, inclusive o dilúvio, fazem parte do folclore judaico cujo conteúdo apresenta assuntos a respeito do céu e da Terra, do paraíso e do inferno, do bem e do mal, do natural e do sobrenatural, do espiritual e do material, do sagrado e do profano.


Grande parte desses mitos e lendas que também se encontram no texto de Gênesis 6.1-4, são derivados de povos vizinhos e da cultura antiga, e fala de anjos e demônios como mediadores entre Deus e o destino do homem, do qual é o arquiteto, conforme a sua boa ou má conduta. Como se pode ver o folclore é um processo contínuo e infinito que flui paralelo aos acontecimentos que ocorrem no curso da vida.


Os Nefilim e os filhos de Deus

O texto de Gênesis 6.1-4 narra o motivo que ocasionou o dilúvio bíblico. Porém ao ler o versículo 5 deste mesmo capítulo, nota-se que IHWH viu que a maldade do homem, isto é, todo o instinto dos pensamentos do seu coração era ininterruptamente mau: “Iahweh viu que a maldade do homem era grande sobre a terra; e que era continuamente mau todo o desígnio de seu coração”.

Mas para entender sobre quais pensamentos e qual a maldade que habitava no coração dos homens é preciso ler o que consta nos versículos de 1 a 4 do capítulo 6 do livro de Gênesis:
Quando os homens começaram a ser numerosos sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram belas e tomaram como mulheres todas as que lhes agradavam. Iahweh disse: Meu espírito não permanecerá no homem, pois ele é carne; não viverá mais que cento e vinte anos. Ora, naquele tempo (e também depois), quando os filhos de Deus se uniam às filhas dos homens e estas lhes davam filhos, os Nefilim habitavam sobre a terra; estes homens famosos foram heróis dos tempos antigos”.

Esta narrativa explica como o ser humano se multiplicou na Terra, partindo desde o princípio com a narrativa a respeito de Adão e Eva que seria o primeiro casal e seres humanos criados. Nota-se que nesta narrativa não há uma ótica teológica, mas folclórica para explicar a maldade existente entre os seres humanos.

Por se tratar de uma história antiga, aparece a expressão 
Elohim para se referir a Deus. Este vocábulo designa o panteão divino e criador de tudo o que há no mundo, da mesma forma que aparece nos mitos e nas narrativas das demais culturas dos povos da Mesopotâmia Anterior.


Há muita especulação sobre estes quatro primeiros versículos do capítulo 6 de Gênesis, pois alguns exegetas vêem nos filhos de Deus 
uma denominação para tribos específicas, neste caso, tribos de alta cultura. Rashi (1997) os vê como sendo filhos de príncipes e juízes, uma classe dirigente que falhou em sua missão ética e se perverteu no abuso de poderes.


Os filhos de Deus também são vistos como uma forma de expressão que determina a categoria ou grupo pertencente e, neste caso, podem se referir a seres angelicais, governadores ou reis (Salmo 82.6 - Eu declarei: vós sois deuses, todos vós sois filhos do Altíssimo); seres celestes (Jó 1.6 - No dia em que os Filhos de Deus vieram se apresentar a Iahweh, entre eles veio também Satã; 38.7 - [...] entre as aclamações dos astros da manhã e o aplauso de todos os filhos de Deus?; Salmo 89.7 - E quem, sobre as nuvens, é como Iahweh? Dentre os filhos dos deuses, quem é como Iahweh?) ou, até mesmo, monstros (Deuteronômio 14.1 - Sois filhos de Iahweh vosso Deus. Nunca vos marcarei com uma incisão ou tonsura entre os vossos olhos por causa de um morto).


Por se tratar de uma narrativa folclórica que envolve a saga da descendência de Set, filho de Adão e Eva; a lenda sobre a união dos filhos dos Elohim com as filhas dos homens; e o mito sobre os Nefilim, é preciso compreender que a maldade instintiva 
do ser humano encontra-se na prática, fruto do seu pensamento que, conforme pensavam os judeus, desagradava a IHWH. Afinal, as filhas representavam a figura da continuidade da geração.


Ao tomarem para si como mulheres, as filhas dos homens e terem filhos com elas, os filhos dos Elohim, a descendência de Set, estavam contrariando a cultura judaica, que compreendia como sendo a vontade de IHWH a união entre pessoas da mesma descendência, e se mesclando a outros povos com culturas diferentes e isto incluía a adoração a outros deuses.


Entretanto, há ainda no texto, no versículo 4, um comentário a respeito dos Nefilim. Os Nefilim aparecem nesta narrativa e confundem um pouco mais a compreensão deste texto, pois não há como saber se são os filhos gerados pela união entre os filhos dos Elohim com as filhas dos homens ou se é uma narrativa mitológica para situar o contexto histórico à uma época bem antiga.


Caso o texto sobre os Nefilim seja visto como sendo a geração dos filhos dos Elohim com as filhas dos homens, ele está voltado para os mitos de Ur, Assur e Babilônia que apresentavam que os deuses e as raças gigantes disputavam as filhas dos homens. Nesses mitos antigos a descendência dessa união se concretizava por meio de filhos como sendo uma espécie de super-homens ou Titãs, também conhecidos como Anaquim 
(Números 13.28,33 - Contudo, o povo que a habita é poderoso; as cidades são fortificadas, muito grandes; também vimos ali os filhos de Enac [...] Lá também vimos filhos de gigantes(os filhos de Enac, descendência de gigantes). Tinhamos a impressão de sermos gafanhotos dizante deles e assim também lhes parecíamos; Deuteronômio 1.28 - Para onde subiremos? Nossos irmãos nos desencorajaram, dizendo: É um povo mais numroso e de estatura mais alta do que nós, as cidades são grandes e fortificadas até o céu. Também vimos ali descendentes de enacim; 3.11 - Pois somente Og, rei de Basã, sobrevivera dos remanescentes dos rafaim. seu leito é o leito de ferroque está em Rabádos filhos de Amon: tem nove côvados de comprimento e quatro côvados de largura, em côvado comum) por causa de seu aspecto mitológico.


Se forem vistos como heróis antigos, mas sem estarem ligados à união dos filhos dos Elohim com as filhas dos homens, os Nefilim são heróis, mas não seres divinos ou divinizados.


Alguns exegetas vêem nos Nefilim a expressão para denominar uma tribo de cultura decadente para a época. Este pensamento surge porque o vocábulo hebraico Nefilim 
significa caídos e vem de Nefel cujo significado é nascimento fora do tempo, aborto e vai indicar uma ação física usual e também uma circunstância violenta ou acidental, resultando em monstruosidades extraordinárias para a época.


À medida que se analisa a etimologia da palavra Nefilim descobre-se que ela se refere a uma forma de deficiência física e que era perceptível a todos. Não era um defeito moral ou uma simples imperfeição física 
ou muito menos uma falha simples como consta no Salmo 50.20 (Sentas-te para falar contra teu irmão, e desonras o filho da tua mãe), mas era uma falha visível e que para a época era considerada como sendo uma aberração para os demais seres humanos. Isto pode ser compreendido melhor ao analisar o termo Nefilim, partindo da etimologia semítica.


O vocábulo semítico NPL  traduzido no hebraico para Nefilim significa queda; como uma grande gravidez caída; molde inferior; perdido; divide-se; apresenta-se; coloca-se; aceita-se.
O comentário que consta no dicionário hebraico Brown-Driver-Briggs’ considera os Nefilim como uma tribo muito antiga (sumério-acadiana) dos cananeus e que fazia parte dos antediluvianos . Ele se baseia na teoria que considera os Nefilim como guerreiros antigos que viviam naquela época.


A raiz semítica NPL 
também aparece recebendo alguns prefixos e afixos que expressam outros termos que explicam melhor o que significava a palavra NPL para aquela cultura: MNPL recusa, dando a entender o que é jogado para baixoMNPLH ruína, designa uma pilha da recusa como caída ou jogada para baixoMNPLT ou MPLT ruína, carcaça, que especifica algo que é caído.


Os escritos pós-exílicos utilizam este termo com o significado de caído para enfatizar que os Nefilim eram os anjos caídos na época da rebelião de Satan contra Deus e que tentaram se casar com as filhas dos homens. Entretanto a questão da queda designada por este vocábulo não se refere a cair dos céus, mas à queda na hora do parto ou no decorrer da gestação, por isso também é utilizado o substantivo aborto como um dos significados deste termo.
Percebe-se que NPL refere-se a um tipo de gravidez considerada caída, jogada para baixo ou algo que caiu no decorrer da gestação ou gravidez e que teve como conseqüência uma deformação corpórea visível, de forma que quem a visse pudesse considerar como sendo a ruína do corpo humano. Analisando desta forma é possível compreender como as pessoas da época chegaram a esta conclusão e o motivo de terem utilizado esta expressão para a possível deformidade ou disfunção genética que uma pessoa possuía.


O fato de algo cair ou ser jogado para baixo no decorrer da gestação ou gravidez, apresenta a explicação para uma deformidade física e visível; porque um feto que caísse ao nascer, em primeiro lugar, chocaria com seu crânio no chão, o que também explica a idéia de ruína ou carcaça que o vocábulo semítico expressa.


Ao continuar analisando esta teoria por esta ótica entende-se o motivo de atribuir o termo Nefilim para um grupo de indivíduos ou uma tribo da época. Pois como esta expressão designa uma deformidade física e que era visível, provavelmente no crânio ou na face, pode-se entender que todos apresentavam a mesma deformidade.


Ao pensar num ser humano com uma aparência assim compreende-se que tal deformidade pode ser algumas das disfunções genéticas mais conhecidas nos dias atuais como deficiências físicas. Sendo assim, este ser humano era tido como um excluído da comunidade ou como sendo uma pessoa amaldiçoada pelos deuses.


O final do versículo 4, de Gênesis 6, serve para ratificar a compreensão desta teoria. Neste versículo os Nefilim são definidos como gigantes grandes e que eram antigos. Isto demonstra que não houve um aborto, mas que eles nasceram, cresceram e se tornaram fortes ou acostumados com lutas (o que explica a comparação com guerreiros), que eram vários e viviam em grupos, tribos ou comunidades compostas por pessoas que tinham a mesma deformidade.


Todavia a idéia de atribuir os Nefilim como sendo anjos caídos remonta à tradução da Torá feita pelos LXX e aos conteúdos existentes nos livros considerados apócrifos ou pseudo-epígrafos que não entraram na canonização da Bíblia e foram considerados, pela tradição, como heresias. Esta teoria é ratificada por intermédio da cabala que surgiu em Provença, no final do século XII, e que era uma tradição esotérica do judaísmo helênico.


A cabala é uma forma de teosofia, um ensinamento sobre a natureza oculta da divindade. Ela envolve, através de um complexo universo mental, a metafísica especulativa, a teoria da natureza humana, apresentada como folclore, por isso “contém concepções imaginosas e paradoxais de Deus, da alma humana, do mal e da vida religiosa do judeu; extraindo da imaginação e da intuição deste por meio da interação com a tradição judaica”.


A cultura judaica, como pode ser vista, é apresentada sob muito folclore e que com o decorrer do tempo foi sendo adaptada às mudanças decorrentes na civilização. Por isso pode-se levar em consideração a questão dos Nefilim não serem as gerações decorrentes da união dos filhos dos Elohim com as filhas dos homens ou que seriam anjos caídos, isto é, expulsos do céu. Este texto apresenta muito mais no seu contexto em relação à maldade que nascia no inconsciente humano e era praticado para com os demais.


No decorrer da história isto é visto mais claramente e sem muito folclore, inclusive nos povos antigos, indígenas e, até mesmo, em outros textos bíblicos. Afinal, os homens considerados primitivos não poderiam entender ou aceitar uma deformação física, uma disfunção genética de um ser humano como sendo algo comum e passível a qualquer ser humano possa sofrer. Pois a própria Bíblia narra que nas épocas antigas a menstruação, uma micose (pústula), mancha, calvície ou a gestação eram consideradas um mistério divino para todos, chegando a considerar as pessoas que apresentassem algumas destas ou outras, como sendo impuras (Levítico 12-15).


A conseqüência deste pensamento era excluir as pessoas da comunidade, fazendo com que elas morassem fora do acampamento, conforme consta em Levítico 13.46 (Enquanto durar sua enfermidade, ficará impuro e, estando impuro, morará à parte: sua habitação será fora do acampamento). Isto demonstra que tais pessoas, consideradas impuras por falta de conhecimento científico para a época, viviam semanas, meses e até o resto de suas vidas fora da comunidade, o que fazia com que elas se agrupassem e formassem a sua tribo, grupo ou comunidade, com costumes comuns entre si.


OS PORTADORES DE DISFUNÇÕES GENÉTICAS NA HISTÓRIA
Nos escritos veterotestamentários

O Antigo Testamento demonstra em suas narrativas que qualquer pessoa que tivesse uma disfunção genética era considerada uma monstruosidade, uma aberração para a sociedade, principalmente para a sociedade da época antediluviana.

No texto de Levítico 13.46 dá entender como era o tratamento para com as pessoas que apresentassem qualquer diferença visível no corpo humano e que era considerada uma enfermidade: “Enquanto durar a sua enfermidade, ficará impuro e, estando impuro, morará à parte: sua habitação será fora do acampamento”.


O substantivo hebraico utilizado neste versículo traduzido para enfermidade é nega’ 
cuja raiz vem do verbo naga’  e que significa tocar em algo, ferir. O verbo naga’ é utilizado várias vezes para designar, num contexto ritualista, as coisas santas, isto é, consagradas a IHWH e que não deveriam ser tocadas por pessoas não autorizadas, conforme consta nos livros de Êxodo 19.13 (Ninguém porá a mão sobre ela; será apedrejado ou flechado: quer seja homem, quer animal, não viverá. Quando soar o chifre do carneiro, subirão à montanha); Levítico 12.4 ([...]e, durante trinta e três dias, ela ficará ainda purificando-se do seu sangue. Não tocará coisa alguma consagrada e não irá ao santuário, até que se cumpra o tempo da sua purificação), Números 4.15 (Assim que Arão e seus filhos tiverem terminado de acondicionar as coisas sagradas e todos os seus acessórios, no momento de levantar o acampamento, virão os filhos de Caat para transportá-los, sem contudo tocar naquilo que é consagrado; morrerão se o fizerem. Este é o encargo dos filhos de Caat na Tenda da Reunião). A idéia que esta expressão apresenta nestes textos é a respeito de estender uma autoridade sobre o que está sendo tocado.


Normalmente, o verbo naga’ aparece nos textos bíblicos com o sentido de estender a autoridade sobre alguém, reivindicando a pessoa como sua ou infligindo-lhe um golpe, que pode ser fatal, conforme consta nos textos de Jó 1.19 ([...]quando um furacão se levantou das bandas do deserto e abalou os quatro cantos da casa, que desabou sobre os jovens e os matou. Só eu puder escapar para trazer-te a notícia); 5.19 (De seis perigos te salva, e no sétimo não sofrerás mal algum); Jeremias 4.18 (Teu procedimento e tuas obras trouxeram-te essas coisas. Esta é a tua maldade, como é amarga! Como atinge até teu coração!). Sendo assim, naga’ é entendido como sendo um castigo divino, impetrado pela justiça de IHWH (Gênesis 32.25,26 - E Jacó ficou só. E alguém lutou com ele até surgir a aurora; 1Samuel 6.9 - [...]Depois observareis se ela sobe para Bet-Sames, tomando o caminho de seu território, então foi ele quem nos causou este grande mal; senão saberemos que não foi a sua mão que nos atingiu, e o que nos aconteceu foi acidental.; Isaías 53.4 - [...]E no entanto, eram nossos sofrimentos que ele levava sobre si, nossas dores que ele carregava. Mas nós tínhamos como vítima do castigo, ferido por Deus e humilhado.).


O toque divino era uma expressão mitológica muito conhecida entre os antigos. Ele sempre revelava o poder do divino, fosse nas montanhas (Salmo 104.32 - Ele olha a terra e ela estremece, toca as montanhas e elas fumegam.; Amós 9.5 - O Senhor Iahweh dos Exércitos...aquele que toca a terra e ela vacila, e ficam de luto todos os que habitam nela; toda ela se levanta como o Nilo e depois desce como o Nilo do Egito.), num sacrifício (Juízes 6.21 - Então o Anjo de Iahweh estendeu a ponta do cajado que tinha na mão e tocou a carne e os pães sem fermento. O fogo se ergueu da pedra e devorou a carne e os pães sem fermento, e o Anjo de Iahweh desapareceu a seus olhos.; 2Samuel 23.7 - o homem que os toca, é cheio de ferro e de madeira das lanças, e são queimados, queimados no lugar.) ou nos seres humanos (1Samuel 10.26 - Saul também retornou com ele a Gabaá, e foram com ele os valentes cujo o coração Deus tocara; 1Reis 19.7 - Mas o Ano de Iahweh veio pela segunda vez, tocou-o e disse: "Levanta-te e come, pois do contrário o caminho te será longo demais".). Algumas vezes era atribuído de forma benéfica, capacitando uma pessoa para determinada função (Isaias 6.7 - Com ela tocou-me os lábios e disse: "Vê, isto te tocou os lábios, tua iniqüidade está removida, teu pecado está perdoado".; Jeremias 1.9 - Então Iahweh estendeu a sua mão e tocou-me a boca. E Iahweh me disse: Eis que ponhos as minhas palavras em tua boca.; Daniel 10.16 - Foi quando alguém, com a semelhança de filho do homem, tocou-me os lábios. E abri a boca para falar, e disse ao que estava diante de mim: "Meu Senhor, angústias me sobrevieram por causa da aprição e nã tenho mais forças.).


Mediante as narrativas contidas nos textos citados entende-se que o substantivo nega’ expressava um golpe físico ou um castigo que um superior desferia sobre alguém. Para os judeus, IHWH é o ser superior que desfere esta punição ou enfermidade sobre alguém, como resultado de sua justiça divina.


No texto de Levítico 13.46 nega’ se refere a uma enfermidade aplicada por IHWH a uma pessoa, de forma que a enfermidade poderia ser ou não contagiosa. Por isso o pensamento em torno desta condição era levado muito a sério, de maneira que a pessoa deveria se retirar da comunidade e viver isolada dos demais. Era um isolamento radical, visando preservar o restante do povo.


Os judeus eram tão criteriosos quanto a tais questões que, no livro de Levítico, nos capítulos 12 a 15, são apresentadas várias considerações e restrições sobre essas enfermidades consideradas golpes divinos, chegando a diferenciá-las entre o que era profano e sagrado para com IHWH. As enfermidades destacadas nestes capítulos vão desde a micose à lepra e de uma queimadura à gestação.


Apesar de não haver um texto específico sobre portadores de disfunções genéticas nestes capítulos, nota-se que o inconsciente coletivo da comunidade daquela época considerava qualquer diferença corpórea como sendo uma anomalia e, conseqüentemente, um castigo vindo da parte da justiça de IHWH.


Outro texto que fala sobre uma disfunção corpórea, encontra-se em Gênesis 32.23 a 33. Esta narrativa explica que o manquejo de Jacó era proveniente de uma luta que ele travara com Deus, durante toda uma noite, e que, ao final desta, recebeu um golpe divino para demonstrar que obteve uma bênção.


Diante destas narrativas veterotestamentárias, pode-se perceber e ratificar a idéia que qualquer disfunção genética visível que um ser humano apresentasse era tida como sendo o resultado de um golpe vindo da parte de IHWH, podendo ser uma bênção ou um castigo sobre sua vida.
Este era o modo que as culturas da Mesopotâmia Anterior entendiam a respeito de qualquer disfunção genética que um ser humano apresentasse. Como eles não tinham um conhecimento científico específico para explicar tais causas, eles as definiam por intermédio do pensamento mítico o que se tornou, com o passar dos anos, um senso comum.


Entretanto o Antigo Testamento não relata apenas a questão da exclusão e do isolamento da sociedade em que tais portadores de disfunções eram condenados. Há também relatos de como essas pessoas passavam a viver e como se comportavam após serem expulsas da comunidade.


No livro de 2 Reis, capítulo 3, nos versículos de 7 a 11, há um relato sobre quatro leprosos que haviam sido expulsos de Samaria e viviam às portas da cidade para sobreviverem. Eles são os protagonistas sobre a notícia da fuga dos arameus, num momento em que Ben-Hadad, rei de Aram sitiava Samaria.


Como Samaria estava sitiada e alguns já estavam morrendo de fome. O texto narra que os leprosos decidiram ir ao acampamento dos arameus em busca de alimentos, uma vez que iriam morrer de qualquer forma. Ao chegarem ao acampamento descobriram que os arameus fugiram. Então os leprosos se alimentaram, pegaram roupas, dinheiro e os esconderam, depois foram anunciar ao povo de Samaria sobre o ocorrido.


Esta narrativa do livro de 2 Reis demonstra que os que eram expulsos da comunidade se agrupavam para sobreviver. O mesmo acontecia com os portadores de disfunções genéticas ou qualquer outra disfunção considerada uma condenação da parte divina. Assim, surgiam grupos, tribos, clãs ou, até mesmo, comunidades compostas por portadores de tais anomalias comuns entre si e que, conseqüentemente, passavam a ter atitudes comuns entre si também.


Nos escritos neotestamentários

O Novo Testamento também apresenta alguns relatos sobre pessoas com doenças ou portadoras de disfunções genéticas que eram excluídas das comunidades. Lógico que cada narrativa apresentada no Novo Testamento se refere a Cristo como sendo o Messias prometido, o Deus encarnado e, neste caso, ele sempre é procurado como o Deus-homem que pode impetrar uma bênção sobre quem tem uma maldição.

No Evangelho de Lucas, capítulo 17, versículos 11 a 19, há o relato sobre dez leprosos, que viviam à entrada de um povoado e que foram ao encontro de Jesus para serem curados, mas apenas um voltou para agradecê-lo pela cura recebida.


O Evangelho de João também apresenta um local, distante da cidade, onde ficavam inúmeros doentes ou portadores de disfunções e que aguardavam uma bênção divina para serem curados de seus infortúnios. No capítulo 5, versículos 1 a 18 há o relato sobre um homem que era paralítico há 38 anos e que também foi curado por Jesus.


Todavia, neste mesmo texto, no versículo 3, é narrado que outras pessoas viviam nos pórticos das cidades à espera de uma possível recuperação. Essas pessoas eram consideradas impuras e amaldiçoadas da mesma forma que as da época do período veterotestamentário e antediluviano.


Em Mateus 4.24 e em outros textos são mencionados os problemas que essas pessoas sofriam: “Sua fama espalhou-se por toda a Síria, de modo que lhe traziam todos que eram acometidos por doenças diversas e atormentados por enfermidades, bem como endemoninhados, lunáticos e paralíticos”.


No período Greco-romano, época em que as narrativas do Novo Testamento estão inseridas, os portadores de disfunções genéticas eram considerados incompetentes, chegando a serem tratados como não humanos.


Krynski (1977) comenta que a história dos portadores de disfunções é tão longa quanto à história do homem, reportando-se ao Código de Hamurabi (2.100 a.C.), ao Papiro de Tebas (1.552 a.C.), ao Talmud, Corão, à própria Bíblia e, definitivamente, aponta que eles foram pessoas isoladas do convívio social por serem considerados possuídos por espíritos ruins ou tendo possessões demoníacas.


Com o advento do cristianismo e da Idade Média, o dualismo bem e mal, comum à época, demonstra que era evidente o descaso para com os portadores de disfunções, pois ou eram considerados marginais para a sociedade e amaldiçoados pelos deuses ou inocentes e puros enviados pelos deuses.


Contudo, os Nefilim não se enquadram nos relatos feitos sobre os portadores de disfunções dessas épocas. Mas tantos os textos veterotestamentários como os neotestamentários e os demais fatos históricos narrados em outros textos, demonstram que os portadores de disfunções genéticas viviam em comunidades criadas por eles mesmos, por causa da exclusão e do isolamento imposto pela sociedade.


O motivo desta exclusão, por parte da sociedade, era por falta de conhecimento científico específico sobre essas questões e que, com o passar do tempo, foram sendo percebidas, descobertas e apresentadas pela ciência moderna. Sabe-se, porém, que eles receberam inúmeros epítetos até seus portadores serem reconhecidos pela ciência como deficientes e as doenças como síndromes.


Os portadores de disfunções genéticas e os Nefilim

A falta de conhecimento científico mais específico sobre a formação genética e a estrutura corpórea de um ser humano sempre foi o motivo principal para considerar tais pessoas como monstruosidades míticas ou seres condenados pelos deuses.
A exclusão e o isolamento impostos pela comunidade da época forçaram aos portadores de disfunções a aprenderem a viverem unidos e em outra forma de sociedade.


O ser humano é constituído e influenciado, no ambiente ao qual é inserido, nos âmbitos social, afetivo e cultural que o envolve. Os ambientes inadequados e debilitados, aos quais os excluídos eram isolados, geraram novas experiências e influenciaram o comportamento deles. A etologia ratifica esta afirmação apresentada pelo comportamento genótipo no fenótipo, como no caso dos Nefilim que eram considerados guerreiros antigos.


Na época do período antediluviano, as sociedades viviam em grupos restritos e voltados para os seus. Até a união entre homens e mulheres deveria ser feita entre os membros do grupo étnico, quem fizesse ao contrário era considerado culpado e estando em pecado, como pode ser visto nas narrativas bíblicas.


Entretanto, é comprovado cientificamente, nos dias atuais, que na união entre parentes consangüíneos e com idade avançada há uma grande probabilidade de haver disfunções genéticas nos descendentes, principalmente por causa dos cromossomos.


A ciência apresenta uma série de disfunções genéticas, sob o nome de síndromes para especificar e apresentar esses problemas e apresenta as deformações especificas na formação corpórea de cada deficiente para que sejam conhecidas e compreendidas.


Entre os inúmeros casos de deformações genéticas, conhecidos como deficiências físicas que a ciência moderna diagnosticou, também conhecidas como síndromes e que podem 

 ser comparados com às características da etimologia da palavra Nefilim, há:

- Síndrome de Hutchinson-Gilford: 
também chamada de progeria, que vem do grego e significa prematuramente velho. Nesta síndrome a doença genética acelera o processo de envelhecimento, em até, sete vezes em relação à taxa normal. Assim, uma criança com 10 anos tem a aparência de um adulto de 70 anos.

progeria se faz presente a partir dos 18 meses após o nascimento e ocorre tanto em meninos como em meninas, porém é um caso raro e até o momento há apenas 100 casos relatados. Entre outras características clínicas que uma criança com a síndrome de Hutchinson-Gilford apresenta elas têm estatura baixa e magra.


Apesar desta síndrome poder ser comparada com os Nefilim pelo envelhecimento precoce, não é possível considerá-la como sendo o fato ocorrido naquelas pessoas, porque os Nefilim eram guerreiros gigantes;
- Síndrome de Klinefelter: recebe o nome do Dr. Harry F. Klinefelter, que a descobriu ao diagnosticar um caso de um homem que desenvolveu seios em seu corpo (ginecomastia).


Esta síndrome é caracterizada pela estatura elevada e magra, braços longos, pouca barba, crescimento de mamas, porém a característica mais comum é a esterilidade. Diante disto, se os Nefilim forem compreendidos como a descendência dos filhos de Elohim e que formaram um grupo de guerreiros e que tinham descendentes, não é possível considerá-los como sendo portadores desta síndrome, sem contar que não há deformidade ou disfunção no crânio ou na face;
- Displasia Tanatofórica: este termo é derivado do grego que significa parto morto, porque a maioria dos recém nascidos dura poucas horas ou poucos dias de vida. Os portadores desta deficiência também sofrem macroencefalia e são acometidos de nanismo.


Como os portadores da Displasia Tanatofórica, apesar de sofrerem macroencefalia, tinham uma vida curta, não poderiam viver o suficiente para se tornarem guerreiros gigantes, descartando-se, então, a possibilidade de serem os Nefilim;
- Síndrome de Apert: diagnosticada por G. Apert em 1906, está entre as 6000 mais conhecidas síndromes genéticas e é classificada como umaanomalia craniofacial.


As principais características de uma pessoa portadora da síndrome de Apert são: craniosinostose, a saber, a fusão precoce das suturas intracranianas que pode gerar deficiência mental, cegueira, surdez, otites e problemas cardiorrespiratórios; recuo terço médio da face entre a órbita dos olhos e o maxilar superior, que pode causar problemas respiratórios e faz com que os olhos fiquem saltados (exoftalmicos); sindactilia das mãos e dos pés, isto é, fusão dos dedos das mãos e dos pés, tanto nas partes moles como nos ossos, podendo ocorrer em dois ou mais dedos, contudo, normalmente, o polegar fica separado.


Todavia a síndrome de Apert não pode ser considerada a disfunção que os Nefilim portavam porque além de esporádica e rara (1 em cada 160.000), ela pode ser vista no recém nascido imediatamente, o que ocasionaria o assassinato do mesmo no exato momento em que fosse constatado tanta disfunção num corpo humano;
- Síndrome de Williams: diagnosticada em 1960 pelo médico neozelandês Dr. J. P. Williams, apresenta as seguintes características: rostos semelhantes, atraso mental, problemas com equilíbrio e de coordenação.


Apesar desta síndrome afetar homens ou mulheres e poder ocorrer em qualquer lugar do mundo ou em qualquer grupo étnico, o seu portador tem a sua face descrita como a de um duende (um ser mitológico) por ter nariz pequeno e afinado, cabelo encaracolado, lábios cheios, dentes pequenos e sorriso freqüente.


O portador da síndrome de Williams apresenta uma estatura menor que a de seus pais, o que não condiz com os gigantes guerreiros Nefilim;
- Síndrome 47,XYY: apesar de não estar associada a nenhum tipo de fenótipo obviamente anormal, aparece com boa freqüência entre as já citadas. Cerca de 3% dos homens em clínicas de doentes mentais apresentam este cariótipo.


As características mais comuns são: estatura elevada (acima de 1,80 cm), inteligência como nas demais pessoas, fertilidade normal; na adolescência apresentam enorme número de acne facial e anomalia nas genitálias; porém são imaturos emocionalmente, apresentam menor inteligência verbal que os demais o que acarreta em seu comportamento, tornando-os agressivos e anti-sociais.


Apesar dessas características poderem ser atribuídas ao comportamento de um guerreiro gigante como no caso dos Nefilim, os portadores da síndrome 47,XYY não são disfórmicos e isto é contrário à etimologia do termo em hebraico e semítico;
- Síndrome de Angelman: diagnosticada em 1965 pelo neurologista britânico Dr. Harry Angelman, ainda é considerada rara por ser pouco divulgada e conhecida.


Na síndrome de Angelman a criança tem a cabeça menor que o normal apresentando um achatamento posterior, a boca é grande, o queixo proeminente, os dentes espaçados, as bochechas acentuadas, o lábio superior é fino, os olhos são claros e fundos; também tem epilepsia, desvio de coluna, estrabismo, cabelos finos e claros e a pele clara.


O portador desta síndrome apresenta dificuldade ou ausência de fala, dificuldade de aprendizado, tem movimento anormal e transtorno de sono. Por ter um andar desequilibrado, anda com as pernas abertas e com os braços rígidos na busca de manter o equilíbrio.


Apesar de todas essas disfunções que o portador da síndrome de Angelman apresenta, é possível que desenvolva habilidades comuns a qualquer outro ser humano. Para isto é necessário paciência e treino por parte do grupo com o qual convive.


Mesmo diante dessas síndromes diagnosticadas e que são conhecidas apenas as síndromes 47,XYY e de Angelman é que podem ser consideradas mais próximas às características e à etimologia do termo Nefilim apresentadas em Gênesis 6.4.


Estas duas síndromes apresentam algum tipo de deformidade no crânio ou na face, conforme apresenta a etimologia de Nefilim. A síndrome 47,XYY apresenta ainda a altura elevada e uma atitude anti-social que poderia ser comparada à característica de um guerreiro gigante daquela época. A síndrome de Angelman também apresenta uma deformidade quase em todo o corpo do deficiente e tem outro item a ser destacado que é em relação ao comportamento que é ensinado pelo grupo ao qual faz parte.


Entretanto estas duas síndromes têm questões fortes que as desabilitam para serem relacionadas aos Nefilim: na síndrome 47,XYY seus portadores não são disfórmicos e na de Angelman seus portadores dependem que outras pessoas os ensinem a desenvolver habilidades para que sobrevivam e isto demonstra que precisa ser feito por alguém normal no decorrer de um longo tempo. Apesar desta deficiência poder ser encontrada na época antediluviana, não seria tão comum, uma vez que as demais pessoas excluíam e isolavam os deficientes da comunidade.


Entretanto, a síndrome de Down, ao ser comparada com os Nefilim, pode ser considerada a disfunção genética do texto de Gênesis 6.4, conforme a etimologia do termo e as características apresentadas no texto.


A Síndrome de Down

Em 1866, o Dr. John Langdon Down percebeu que havia nítidas semelhanças fisionômicas entre certas crianças com atraso mental e passou a utilizar o termo mongolismo para descreva-las, porque, segundo o Dr. John Down, os mongóis eram pessoas inferiores: "Eles têm o rosto mais achatado e largo, as bochechas são redondas e a distância entre os olhos maior do que o normal. A língua é maior e a pele tem menos elasticidade, dando a impressão de ser mais larga do que o corpo”.

Em 1958, o geneticista Jérôme Leseume, descobriu que as células desses mongóis recebem 47 cromossomos, ao invés dos 46 que uma pessoa normal deve ter, sendo 23 do pai e 23 da mãe. O Dr. Jérôme descobriu que, ao invés de terem 23 pares de cromossomos, os mongóis recebem um cromossomo a mais no par 21 e por isso surgiu o termo científico, Trissomia 21 (Trissomia 21 é o resultado da não disjunção primária, que pode ocorrer em ambas as divisões meióticas e em ambos os pais. O processo que ocorre na célula é identificado por um não pareamento dos cromossomos de forma apropriados para os pólos na fase denominada anáfase e por isso um dos gametas recebe 2 cromossomos, enquanto outro recebe nenhum) para designar os mongóis. Como forma de homenagear o Dr. John Down, o Dr. Jérôme batizou esta anomalia com o nome de Síndrome de Down.


Registros antropológicos mostram que o caso mais antigo da síndrome de Down é datado no Século VII, onde foi descoberto um crânio saxônico apresentando modificações estruturais idênticas às que eram encontradas com freqüência nos portadores da síndrome de Down.


Entretanto as evidências históricas indicam que é provável que sempre tenha havido pessoas com síndrome de Down na humanidade. Os registros mais antigos mostram pessoas com as características físicas da síndrome em um altar na cidade de Aachen, na Alemanha, de 1505.


Segundo alguns pesquisadores, muitos artistas da Idade Média e do Renascimento usaram pessoas que nasceram com a síndrome de Down na hora de pintar figuras angelicais e o menino Jesus.


Especula-se que o uso de pessoas com síndrome de Down como modelos de seres celestiais teria sido um hábito tão comum como usar rapazes na hora de retratar figuras femininas, como fez, por exemplo, Leonardo Da Vinci.


Entre as obras de arte que mostrariam anjos e o menino Jesus com traços da síndrome de Down estão, por exemplo, a Virgin with Child, do artista italiano Andrea Mantegna (1431-1506), quadro exposto no Fine Arts Museum, em Boston.


Nesta pintura, o menino Jesus apresenta traços comuns entre as pessoas que nasceram com a síndrome de Down como o formato dos olhos, o tamanho do pescoço, a posição das orelhas e, principalmente, a distância maior entre o dedão do pé dos demais dedos.


Pueschel volta mais ainda no tempo na hora de coletar evidências sobre a existência de pessoas com Down na humanidade. Alguns pesquisadores, mencionados por Pueschel, acham similaridades entre certos traços faciais de figuras da civilização Olmeca, que viveu há 3 mil anos na América Central, com a do rosto dos portadores da síndrome de Down.


Apesar dos portadores da síndrome de Down apresentarem várias características idênticas e comuns entre sim apenas alguns apresentam todas, porém algumas são mais acentuadas em uns do que em outros.


As principais são características dos portadores da síndrome de Down são:
- Cabeça: pouco maior que o normal. A parte posterior da cabeça é levemente achatada (braquicefalia) na maioria das crianças, o que dá uma aparência arredondada à cabeça. As moleiras (fontanela) são, muitas vezes, maiores e demoram mais para se fechar. Cabelo liso e fino; em algumas crianças, pode haver áreas com falhas de cabelo (alopecia parcial), ou, em casos raros, todo o cabelo pode ter caído (alopecia total);


- Rosto: tem contorno achatado, devido, principalmente, aos ossos faciais pouco desenvolvidos e nariz pequeno. Osso nasal geralmente afundado e em muitas crianças as passagens nasais são estreitadas;


- Olhos: têm uma inclinação lateral para cima e a prega epicântica (uma prega na qual a pálpebra superior é deslocada para o canto interno), com pálpebras estreitas e levemente oblíquas, semelhante às orientais;


- Orelhas: pequenas e de implantação baixa, a borda superior da orelha é muitas vezes dobrada. A estrutura da orelha é ocasionalmente, alterada e os canais do ouvido são estreitos;


- Boca: é pequena e em algumas crianças mantêm-se aberta e a língua pode projetar-se um pouco. À medida que a criança com síndrome de Down fica mais velha, a língua pode ficar com estrias. No inverno, os lábios tornam-se rachados. O céu da boca (palato) é mais estreito do que na criança normal. A erupção dos dentes de leite é geralmente atrasada, às vezes, um ou mais dentes estão ausentes e alguns dentes podem ter um formato um pouco diferente. As mandíbulas são pequenas, o que leva, muitas vezes, a sobreposição dos dentes;


- Pescoço: tem aparência larga e grossa com pele redundante na nuca. No bebê, dobras soltas de pele são observadas, muitas vezes, em ambos os lados da parte posterior do pescoço, os quais se tornam menos evidentes, podendo desaparecer, à medida que a criança cresce;


- Abdômen: costuma ser saliente e o tecido adiposo é abundante. O tórax tem um formato estranho, sendo que a criança pode apresentar um osso peitoral afundado (tórax afunilado) ou o osso peitoral pode estar projetado (peito de pomba). Na criança cujo coração é aumentado devido à doença cardíaca congênita, o peito pode parecer mais globoso do lado do coração;



- Mãos e pés: tendem a ser pequenos e grossos; os dedos dos pés são geralmente curtos, o quinto dedo é, muitas vezes, levemente curvado para dentro e falta de uma falange no dedo mínimo. Prega única nas palmas (prega simiesca). Na maioria das crianças, há um espaço grande entre o dedão e o segundo dedo, com uma dobra entre eles na sola do pé;

- Genitália: Nos homens o pênis é pequeno e há criptorquidismo (Ausência de testículo no escroto, por haver ficado retido na cavidade abdominal ou no canal inguinal), nas mulheres os lábios e o clitóris são pouco desenvolvidos. Os meninos são estéreis, e as meninas ovulam, embora os períodos não sejam regulares;
Além destas características serem comuns entre os portadores da síndrome de Down, alguns dados sobre as possíveis causas que geram esta síndrome são: 60% dos casos são originados de mulheres com mais de 30 anos e que são explicados pela ovogênese (Na época do nascimento de uma criança, os ovócitos encontram-se na prófase 1 e, logo após o nascimento, interrompem a meiose por um período que dura de 12 a 50 anos (da menarca à menopausa) e quanto mais longo for este período maior o número de aneuplóides que, ao serem lançados na tuba, o ovócito encontra um meio diferente do que permaneceu durante anos e fica exposto à ação de fatores ambientais, tornando-se mais vulnerável à ocorrência de não-segregação), porém 80% dos casos registrados são originados de mulheres jovens; 30% dos casos ocorrem devido a um aumento da idade paterna, superior a 55 anos, que também acarreta na ocorrência de aneuploidias.

As crianças que nascem com esta anomalia não são doentes e se portam como uma criança que não tenha a síndrome, podendo chegar a viver até os 60 anos.


Os portadores da síndrome de Down são capazes de viverem sozinhos e de forma independente, também são capazes de terem os mesmos sentimentos que qualquer pessoa, inclusive, são capazes de formarem todos os tipos de relacionamentos.


As mulheres portadoras da síndrome de Down podem gerar filhos, tendo 50% de chances de nascerem sem esta síndrome. Esta anomalia é comum a qualquer pessoa, independente da etnia, região geográfica e sexo.


Conforme as características apresentadas e mediante os dados fornecidos pode-se observar que há uma grande similaridade entre os portadores da síndrome de Down com as características e a etimologia do termo Nefilim citados em Gênesis 6.4.


Ao analisar as características percebe-se que a cabeça de uma criança com esta anomalia parece ter caído na hora do parto e chocado com o chão, pois a face aparenta ser achatada na frente o que a deixa com uma forma mais arredondada e maior que as demais. O fato do pescoço ser largo e grosso dá a entender que sofreu uma queda que o comprimiu junto ao tronco.


Além da questão relativa à aparência há a questão genética sobre o que gera a síndrome de Down num ser humano e que se enquadra muito com o contexto da época.


Uma criança ou pessoa que apresentasse tais sintomas para a época antediluviana ou na Mesopotâmia Anterior era vista como sendo uma monstruosidade e seu formato poderia ser explicado como sendo o fruto de uma queda durante o parto. Da mesma forma que a formação do corpo poderia ser considerada uma ruína ou carcaça em comparação com as pessoas que não sofriam desta anomalia, o que para eles caracterizava uma maldição por parte dos deuses.


Outro fator importante é que a maioria dos casos ocorre porque o pai é mais velho, com idade acima de 55 anos e no período antediluviano, que envolve boa parte dos contextos apresentados no Antigo Testamento, o pai tinha vários filhos, fruto da união do patriarca (um homem idoso) da família, tribo ou clã, com uma ou mais jovens que ele adquiria. Outro fator compatível com o contexto é que muitas uniões eram feitas entre esses patriarcas com as jovens de sua família, visando não misturar os povos.


Todos estes itens destacados das características dos portadores da síndrome de Down, ao serem comparados com as características apresentadas no texto de Gênesis 6.4 e com a etimologia do vocábulo Nefilim, demonstram que há uma enorme similaridade entre ambos os casos.


Deve-se lembrar que os portadores da síndrome de Down, conhecida também como Trissomia 21, em outros momentos, foram chamados de mongóis por causa de uma compreensão errônea com aplicação metafórica, da mesma forma que tem ocorrido com o termo Nefilim.


É comprovado pela psicologia que as pessoas que convivem junto durante certo período, elas passam a ter as mesmas atitudes, os mesmos modos e os mesmos costumes. Inclusive, o ser humano procura pessoas com interesses e características semelhantes às suas para fazer parte de seu convívio social. A etologia demonstra que este comportamento é comum nas tribos, grupos ou clãs desde os tempos antigos.


Mediante esta comprovação cientifica compreende-se que os enfermos ou portadores de disfunções genéticas nos tempos veteromesopotâmicos tinham a mesma atitude e que, por condições impostas pela sociedade da época, foram forçados a se unirem em grupos com características parecidas, não só comportamentais, mas genéticas também.
Conclusão
O texto de Gênesis 6.1-4 apresenta uma narrativa mitológica, contendo os Nefilim como uma referência para a época citada, cujo moral da história é a maldade que fluía do coração do ser humano. Esta maldade, conforme pode ser visto nos versículos de 1-3, tem conseqüências drásticas, porém a maior de todas é que as atitudes praticadas por aquelas pessoas estavam gerando uma nova sociedade à sua volta.

O tratamento dado às pessoas que não faziam parte de uma determinada comunidade, seja por pensamento diferente ou por características diferentes e que eram excluídas de um determinado convívio social, estava gerando novos grupos sociais que desrespeitavam os demais seres humanos.


A Bíblia demonstra no texto de Gênesis 6.1-4 que os Nefilim não eram simplesmente seres angelicais ou espirituais que caíram do céu e perderam o seu convívio com Deus, mas que eram pessoas excluídas das comunidades pelo simples fato de serem e portarem características diferentes. Demonstra também que este senso comum da época estava gerando um sério problema no convívio entre as sociedades e entre os seres humanos que conviviam em tais.


Com o passar dos anos este inconsciente coletivo apresentado pelo pensamento mítico, através das figuras e expressões de linguagem, foi conservado e as atitudes das pessoas continuaram sendo as mesmas. Isto gerou e tem gerado até os dias atuais uma queda bem maior e mais acentuada no relacionamento entre os seres humanos. As discriminações e os descasos feitos a qualquer ser humano que apresentam qualquer tipo de disfunção genética refletem um problema muito maior para a humanidade do que a queda de um ser espiritual.


Os textos bíblicos apresentam narrativas cujo conteúdo está voltado para o bem-estar da sociedade. Desde o princípio, os textos bíblicos ensinam o ser humano a amar ao seu próximo e a conviver em sociedade, sem fazer distinção ou discriminar qualquer pessoa por qualquer diferença que seja.


A moral da história que as narrativas bíblicas apresentam foi, é e sempre será a mesma: o homem precisa estar em harmonia com o mundo ao qual está inserido, porque assim ele estará em harmonia com o divino, com a natureza e consigo também.
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