terça-feira, 12 de junho de 2012

"Os Caçadores da Arca Perdida"




Muito se discute sobre a Arca. Alguns dizem que foi destruída no incêndio do templo, outros afirmam estar numa igreja localizada numa ilha em um lago na Etiópia e alguns acreditam estar escondida em algum monte em Israel, possivelmente o Nebo (no livro apócrifo II Macabeus 2.2-8). No entanto, uma outra história ocorreu em Jerusalém às 14:15h do dia 6 de Janeiro de 1982, numa caverna 7 metros abaixo do local da crucificação, no Calvário, e esta realmente com base bíblica e fundamento histórico. Passados cerca de 17 anos, foi revelado a nível internacional um fato mantido em segredo a pedido das autoridades judaicas em 1982, sendo divulgado naquela época apenas nos EUA.

Como é a Arca
 
Desejada por estadistas da antigüidade como símbolo de poder, a Arca foi tema de "Os Caçadores da Arca Perdida", o primeiro filme da série Indiana Jones, filmado apenas alguns meses antes da real descoberta. Porém, é completamente diferente daquela apresentada no filme.

Em Êxodo 25.10-22 e 37.1-9 está a descrição completa da Arca da Aliança e da sua tampa, chamada de propiciatório ou "assento de misericórdia".

É uma caixa de madeira de acácia coberta com ouro com aproximadamente 130 centímetros de comprimento e 80 centímetros de largura e altura, aberta apenas na parte superior. Para transportá-la, foram colocadas 4 argolas, uma em cada canto (parte inferior) e 2 varais de madeira de acácia cobertos com ouro passados por dentro das argolas.

A tampa, chamada de propiciatório, é totalmente feita em ouro puro e do mesmo tamanho da abertura da Arca. Em cada lado, nas extremidades, há um querubim feito de ouro batido de forma que ambos e o propiciatório formam um só objeto. As asas de cada querubim passam por cima do propiciatório e as suas faces, em cada extremidade, estão de frente olhando para o propiciatório. Moisés ouvia a voz de Deus vinda de uma nuvem que aparecia sobre o propiciatório (Levítico 16.2 e Números 7.89).

Nota-se que na arca do filme, as posições das argolas e dos querubins ajoelhados são bem diferentes da descrição bíblica!

"A arca de "Os Caçadores da Arca Perdida"

A Arca no Templo e o seu desaparecimento

No Antigo Testamento, no capítulo 35 de II Crônicas a Arca da Aliança é mencionada pela última vez. Era por volta do ano 621 AC, 35 anos antes da invasão e destruição de Jerusalém em 586 AC pelos babilônios sob o comando do rei Nabucodonosor. Como o templo foi completamente destruído, não havia razão para crer que a Arca havia sido retirada antes. No entanto, em II Reis 24.13, 25.13-18 e Jeremias 52.17-23 está descrito em detalhes os artigos que os babilônios levaram da casa do rei Zedequias e do templo. As listas incluíam panelas e outros objetos menores que eram usados no templo, mas o mais valioso e mais significante de toda a mobília, a Arca da Aliança, não foi mencionado! Anos mais tarde, milhares de objetos foram devolvidos para serem colocados no novo templo (Esdras 1.7-11 e 6.5) e a Arca também não estava na lista. Tudo isto sugere que ela não foi levada para a Babilônia, tendo que ter sido retirada do templo entre os anos 621 e 586 AC.

O apócrifo Livro de Baruque tem uma segunda parte onde ele, criado de Jeremias, vê 4 anjos se levantando da cidade e em seguida um outro anjo que desce do céu dizendo que Deus o enviou para avisar que a Arca e os tesouros santos ficariam escondidos sob a terra até o último tempo do domínio dos gentios (estrangeiros) sobre Jerusalém, de forma que os inimigos de Israel nunca os achariam, sendo recuperados ao término desse tempo quando Jerusalém fosse restabelecida totalmente das mãos dos gentios (II Baruque 6.4-10). Ou seja, no futuro, após o domínio de 42 meses do anticristo, a Arca será retirada e colocada no Templo Celestial (Apocalipse 11.19). Com o passar dos séculos se cumpriram as palavras do profeta Jeremias sobre a Arca: O povo judeu a esqueceu, nunca mais se interessou por ela e a Nova Aliança, o Senhor Jesus sentado no Trono, a substituirá no Novo Templo do Reino de Deus (Jeremias 3.16-17).

Há vários registros e histórias diferentes relativas ao destino da Arca. A maioria foi escrita muito tempo depois da Arca desaparecer e a maior parte baseada não nas Escrituras Sagradas ou em pergaminhos históricos mas em lendas. Alguma dessas histórias poderá ser usada futuramente pelo anticristo para enganar os judeus podendo até lhes apresentar uma réplica da Arca (existem algumas na Etiópia) como sendo a verdadeira, colocando-se como o substituto da velha aliança.

A invasão da cidade

"E sucedeu que, ao nono ano do seu reinado, no décimo dia do décimo mês, Nabucodonosor, rei de Babilônia, veio contra Jerusalém com todo o seu exército, e se acampou contra ela; levantaram contra ela tranqueiras em redor. E a cidade ficou sitiada até o décimo primeiro ano do rei Zedequias. Aos nove do quarto mês, a cidade se via tão apertada pela fome que não havia mais pão para o povo da terra. Então a cidade foi arrombada, e todos os homens de guerra fugiram de noite pelo caminho da porta entre os dois muros, a qual estava junto ao jardim do rei (porque os caldeus estavam contra a cidade em redor), e o rei se foi pelo caminho da Campina." II Reis 25.1-4

As tranqueiras eram comumente usadas na antiguidade para render os habitantes da cidade sitiada impedindo a entrada de alimentos. Eram construídas a uma determinada distância (300 metros ou mais) para a própria segurança dos invasores principalmente no caso de haver necessidade de incendiar a cidade.

O cerco durou aproximadamente um ano antes da cidade ser finalmente invadida. Zedequias (rei de Judá) e os soldados judeus fugiram por um caminho que passava entre os muros sendo que o rei foi perseguido e alcançado nas campinas de Jericó, mas os soldados escaparam. Isto foi no dia 9 de Av no calendário judeu.

A História Completa da Descoberta

Em 1978, após descobrir algumas rodas dos carros egípcios no Mar Vermelho, o arqueólogo Ronald Wyatt retornou a Jerusalém em decorrência das fortes queimaduras de sol que adquiriu na praia de Nuweiba, no Egito. Hospedado em um hotel e desapontado com o cancelamento da expedição, Wyatt descansava suas pernas inchadas pelas queimaduras até quando teve condições de caminhar pela vizinhança do muro norte da cidade velha.

Enquanto conversava com um profissional em antigüidades romanas, pararam em uma pedreira antiga conhecida como "Escarpa do Calvário", e apontou para um local que é usado para entulhar lixo. Repentinamente disse: "Esta é a Gruta de Jeremias e a Arca da Aliança está lá". Wyatt, que nunca se interessou pela procura da Arca, espantou-se com as suas próprias palavras! O homem que o acompanhava ficou entusiasmado prometendo-lhe obter permissão por escrito para escavar e, além disso, receber hospedagem e comida gratuitamente. Mas ele recusou temporariamente a oferta retornando para sua casa no Tennessee, EUA, iniciando um sério estudo sobre o maior tesouro da antigüidade.
Estudo sobre o destino da Arca
Wyatt tirou várias conclusões: A Arca não poderia ter sido levada para a Babilônia, de acordo com as referências bíblicas. Deveria ter sido escondida algum dia entre o ano 621 (18º ano do reinado de Josias) e 586 AC, quando os babilônios invadiram a cidade e o templo foi destruído. Finalmente, a Arca deveria ter sido escondida entre as tranqueiras babilônias e o muro da cidade pois ninguém em Jerusalém pôde sair, considerando que a cidade havia sido totalmente destruída e que era altamente improvável que a Arca estivesse escondida nela. Todos estes pontos emparelharam perfeitamente com a área que Wyatt havia apontado e identificado como sendo a Gruta de Jeremias. O lugar estava exatamente entre o muro e as tranqueiras. Isto era o suficiente para ele voltar a Jerusalém e iniciar a escavação.

Localização da Arca durante o cerco babilônio
Nova permissão para escavar

Em Jerusalém, Wyatt logo descobriu que não era tão fácil obter uma licença para escavar. O profissional de antigüidades romanas que havia lhe prometido a permissão por escrito, não pôde fazer assim. Wyatt tinha trabalhado por muitos anos em vários locais arqueológicos mas tudo feito reservadamente pois ele não era um arqueólogo profissional e isto dificultou a situação. Ele pediu uma licença e esperou três longas semanas. Enquanto isso, ele e sua pequena equipe viajaram para Ashkelon na costa oeste de Israel.

Enquanto nadavam no Mar Mediterrâneo, Wyatt esbarrou com os pés em algo na água. Ao verificar o que era, achou uma antiga e grande panela de pedra e continuando a observar na área descobriu vários destes jarros. Cada um estava cuidadosamente lacrado mantendo o seu interior intacto. Quebrando um dos jarros, achou restos de ossos humanos. Ficou evidente que eram panelas ossuárias antigas.

Wyatt as entregou imediatamente ao pessoal do Departamento de Antigüidades que ficou grandemente entusiasmado ao identificá-las como panelas ossuárias Canaãnitas! Um outro arqueólogo já as tinha procurado anteriormente em toda a praia porém sem sucesso. Ninguém pensou em procurá-las por alguns metros dentro do mar!

Para Wyatt estes achados não eram tão significantes quanto as outras descobertas que ele havia feito, mas como resultado deste achado foi-lhe concedido imediatamente uma licença para escavar em Jerusalém. Sem dúvida, foi uma providência divina! Ainda mais que algumas resoluções da ONU proibiam escavações arqueológicas em territórios ocupados por israelenses desde 1967.

O local da escavação
Os 3 dos mais famosos montes na área de Jerusalém são Sião, Moriá e o monte das Oliveiras. Embora seja construída sobre o Sião e o Moriá, a cidade velha normalmente é referida na Bíblia como "Sião".

Os montes onde a velha Jerusalém foi edificada.

O Moriá foi o local onde Davi ergueu um altar depois de ver o anjo que se levantava pronto para destruir a cidade e onde Salomão construiu o templo. De acordo com o livro de Gênesis havia outro evento significante e histórico que acontecera ali: o sacrifício de Isaque, que foi substituído por um carneiro.

Hoje o grande Domo da Rocha está neste local onde o primeiro e o segundo templos estavam anteriormente, onde Abraão tinha erguido um altar para sacrificar Isaque. Com grande alívio ele descobriu que não era o seu filho o escolhido para morrer pela humanidade e além disso, neste mesmo monte, Deus proveria o verdadeiro sacrifício (Gênesis 22.14).

No lado leste, sul e oeste de Jerusalém há vales fundos que proporcionaram excelente proteção para a cidade contra ataques inimigos. A parte norte era muito vulnerável. Uma parte do Moriá foi cortada para que os inimigos não atacassem pelo muro norte ao nível do solo. Esta parte também foi usada como pedreira e o primeiro livro de Reis relata que Salomão usou pedras de uma pedreira para construir o Primeiro Templo e provavelmente próxima. A parte norte do Monte Moriá está separado da cidade e ficou conhecida como "Monte da Caveira" (Monte Calvário) por causa da face do precipício chamada de "Escarpa do Calvário" que fica de frente para o muro norte. A área na frente da escarpa é a que Wyatt identificou estar a gruta de Jeremias.

Localização da "Escarpa do Calvário" em frente ao muro norte


Durante anos Jerusalém foi destruída e reconstruída. Era normal construir a cidade nova sobre os restos da velha. Por isso hoje há restos de várias cidades, um em cima do outro, na mesma área. Assim, para localizar o nível do solo original nesta região do Moriá ele teve que cavar diretamente para baixo pelo lado da face do precipício.

O primeiro problema 

Era janeiro de 1979 e havia nevado um pouco na área revirando a lama. Além disto, o local estava cheio de lixo e emanava um odor terrível que incomodou-lhes muito no início da escavação. Em pouco tempo descobriram que o local tinha uma enorme pedra subterrânea com um pedaço que saía do monte dificultando a escavação para baixo. A equipe era composta por apenas 3 pessoas na época, Ronald Wyatt e seus dois filhos Danny e Ronny que já tinham-no acompanhado anteriormente em várias viagens arqueológicas. Por causa da grande pedra eles decidiram começar cavando alguns metros à direita.

Entrada da escavação

O local da crucificação no Gólgota
A forma de crânio na escarpa levou muitos a crerem que esta parte separada do monte Moriá seria o lugar onde Jesus foi crucificado. O local de crucificação era fora dos muros da cidade e era chamado "O Lugar da Caveira" ou Gólgota (Mateus 27.33, Marcos 15.22, Lucas 23.33 e João 19.17). A Bíblia não menciona "um Monte Calvário" mas "Lugar da Caveira". Até hoje a forma enorme de um crânio pode ser vista na face sul da escarpa, embora a face do precipício tenha ganho pouco interesse antes do 18º século. Atualmente há um terminal rodoviário no local da escavação. Abaixo, fotos de 1870 até 2003.

A face do precipício: "Gólgota" (em aramaico), "Caveira" (em grego) ou "Calvário" (em latim)

Os olhos, o nariz e a boca da caveira

Na década de 80
Em meados dos anos 90

Em 2003 durante a construção do terminal rodoviário

O "Lugar da Caveira" visto do Muro Norte de onde a crucificação podia ser observada

Otto Thenius, um alemão, chegou à conclusão em 1842, que este era o local da crucificação. Também houve várias visitas dos americanos que tiveram a mesma conclusão: Rufus Anderson (1845), Fisher Howe (1853), Charles Robinson (1867) e Selah Merill (1845) junto com o inglês Henry Tristam (1858) e o famoso francês Ernest Renan, autor de "Vie de Jèsus" (1863) ("The Weekend That Changed the World", Peter Walker, 1999, página 113).

Esta escarpa está próxima ao Portão de Damasco que era o principal para entrar e sair da cidade onde havia uma estrada movimentada no tempo de Jesus. Marco Fabio Quintiliano, professor de Latim e escritor romano, registrou que crucificavam criminosos próximo das estradas para que muitos, por causa daquele castigo, temessem a prática do crime. Segundo os judeus de Sefardic este precipício também foi um local de apedrejamento, também conhecido como Mishnah.

Em Gênesis 22.14 também afirma que no monte Moriá Deus proveria o sacrifício do verdadeiro cordeiro, o Messias. Este precipício está na parte norte do monte.

A Tumba de Jesus

"No lugar onde Jesus foi crucificado havia um jardim, e nesse jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda havia sido posto." João 19.41

Realmente há uma tumba, descoberta em 1857, no lado ocidental da escarpa, aproximadamente 200 metros da face do precipício e é exatamente como está definida em Lucas 23.53. A Inglaterra comprou a área que até hoje pertence a uma associação inglesa. Também no local foram descobertas várias cisternas de água onde a maior tem aproximadamente 900 mil litros. Em 1942 foi descoberto um lagar antigo, evidenciando que já houve uma vinha ali. Wyatt iniciou as escavações na região entre a face do precipício e a tumba.

Vista aérea do local
Os Nichos

Wyatt e seus dois filhos começaram cavando diretamente para baixo da face do precipício, paralela a esta. Ao mesmo tempo que removiam vários baldes de pedra e terra eles tiveram que seguir as exigências do Departamento de Antigüidades peneirando tudo para não perder qualquer tipo de artefato. Como eles cavaram para baixo, encontraram 3 nichos cortados como "estantes" na parede do precipício. Alguns arqueólogos já haviam descoberto nichos romanos semelhantes, assim Wyatt reconheceu imediatamente para que serviram.

Os nichos ficam abaixo da "boca da caveira
Nos tempos romanos era comum usar nichos para apoiar grandes placas sinalizadoras. As placas eram feitas de tábuas de madeira cobertas com gesso e eram usadas para fazer notificações. Como estes nichos estavam na parede do precipício e Jesus havia sido executado no estilo romano, era extremamente provável que os 3 nichos foram usados para apoiar cada uma das 3 placas da acusação escritas em três idiomas diferentes (João 19.19-20). Wyatt suspeitou que os 3 nichos descobertos eram seguramente das placas romanas que identificavam "o criminoso". As suas conclusões seriam confirmadas a seguir.

Uso dos 3 nichos para fixar as placas

Simulação no local no tempo das escavações

O placa mais alta foi fixada abaixo da "boca" da caveira.

A Cisterna

As paredes do local onde estavam escavando começaram a parecer instáveis assim passaram a escavar no local onde Wyatt havia apontado primeiramente. Ele achou que havia bastante espaço para cavar atrás da pedra subterrânea que anteriormente foi um obstáculo, assim começou a escavar entre a pedra e a parede do precipício. Agora a pedra formava um "teto" semelhante a uma marquise.
A uns 11,5 metros abaixo do nível do solo encontraram o antigo chão do local, o ponto mais baixo. Depois de remover cuidadosamente os escombros, eles acharam uma câmara com um diâmetro de aproximadamente 4,5 metros. Havia degraus em espiral na parede e mais acima um buraco. Era a evidência que a câmara deve ter sido transformada em uma cisterna. No buraco teria uma corda que desceria um balde para coletar água ou talvez grãos.
Ao cinzelar através do emboço usado como enchimento para moldar a cisterna, ele achou vários fragmentos de cerâmica e os levou até as duas casas de antigüidades da cidade para avaliação. Nelas o informaram que alguns datavam do tempo dos Jebusitas, antes de David ter tomado Sião e declarado Jerusalém a capital de Israel, mas as amostras mais recentes eram do período romano. Assim a câmara deve ter sido emboçada e transformada durante a era romana.

O local de apedrejamento

Com o achado dos fragmentos de cerâmica e das moedas, conseguiram então encontrar o nível do solo da época. Neste momento eles começaram a cavar horizontalmente um túnel ao longo da parede do precipício, até o local onde eles tinham iniciado as escavações. O propósito era achar uma entrada de uma caverna ou escavar até a parte subterrânea da face do precipício. Mas o que eles encontraram foi a evidência da violência que era cometida ali. Um metro acima da extremidade da cisterna terminava a fundação. Cavando diretamente um metro abaixo, Wyatt achou várias pedras do tamanho de um punho, e entre elas achou também ossos humanos, particularmente ossos de dedo. As muitas pedras incomuns e ossos espalhados mostraram claramente que o local não foi uma sepultura, e concluiu que poderia ter sido o local de apedrejamento descrito no livro de Atos 7.57-58, onde descreve o apedrejamento de Estevão.

O buraco da cruz

Wyatt continuou escavando em direção ao local inicial da escavação quando encontrou a fundação de uma edificação antiga, presa à face do precipício. Era uma pedra lisa prolongada de uma das paredes parecendo um altar. Alguém poderia tê-la usado como um "memorial", mas para quê? Havia pouco espaço na frente da pedra horizontal e Wyatt notara que estava coberta com calcário. Era tão incomum e tão simétrica que certamente fora cortada pelo homem e Wyatt a inspecionou mais intimamente. Erguendo-a ficou surpreso ao descobrir que estava cobrindo um buraco quadrado cinzelado na base da pedra. O lugar parecia ter estado intacto por vários anos e havia muita sujeira e escombros ao redor que escondiam o buraco. Ao remover tudo isso, viu uma rachadura no chão saindo daquele buraco. Era uma plataforma, como uma borda, estendida dois metros e meio na frente da face do precipício e era nesta borda que o buraco quadrado fora cinzelado. Na área da frente da borda ele achou outros três furos quadrados cinzelados no chão de pedra da mesma maneira como o primeiro. Os lados dos buracos tinham aproximadamente 30 a 33 centímetros. As medidas de Wyatt mostraram que o primeiro buraco com a rachadura localizava-se 4,2 metros diretamente abaixo dos três nichos. A sua teoria de que estes nichos poderiam ter sido usados para sustentar placas que descreviam a natureza do crime era agora confirmado pela localização dos buracos. Eram nitidamente buracos de cruz. As circunstâncias que levaram Wyatt a começar cavando ali e a sua confiança de que Deus estava lhe dando uma direção, o fez crer que o primeiro buraco com a rachadura poderia muito bem ter fixado a cruz de Cristo.
Mas não foi só isso que o levou a esta conclusão. A fundação da estrutura indicava que a área inteira havia sido coberta em um certo tempo. Poderiam cristãos terem erguido uma edificação ali em memória do que havia acontecido? O modo com que a estrutura foi construída ao redor do buraco e alguém ter colocado uma pedra em cima do buraco quadrado, fortalecia a sua convicção de que aquele era o buraco que de fato fixou a cruz de Jesus. A rachadura do buraco da cruz era típica de um terremoto. Não haviam marcas que caracterizasse o uso de martelo ou cinzela, então tinha que ter sido natural. Mateus afirmou que houve um terremoto quando Jesus estava na cruz: "... a terra tremeu, fenderam-se as rochas;" (Mateus 27.51). O buraco tinha uma profundidade de 59 centímetros. A rachadura do buraco era ainda mais profunda, mas naquele momento Wyatt ainda não havia medido a sua profundidade. Após um ano ele descobriu que ela tinha aproximadamente 6 metros abaixo do chão.

A fenda tem 6 metros de descida

Há diversas fendas de terremotos no Calvário



Datando a edifícação

Wyatt e sua equipe acharam moedas que possibilitavam datar a edificação. Uma das moedas tinha a inscrição de Tibério, imperador que governou Roma entre os anos 14 e 37. Nenhuma moeda de datas anteriores foi achada, mas haviam outras que datavam do ano 135. A partir destas evidências, Wyatt calculou que a edificação foi erguida entre o tempo da crucificação e o ano 135. O lugar foi construído provavelmente depois que o imperador Tito destruiu Jerusalém em 70. Desde o tempo da crucificação até a destruição da cidade, este local provavelmente ainda estava sendo usado. No livro "Guerras dos judeus", Livro V, Capítulo XI, parágrafo I do historiador Josefus, é narrado que cerca de 500 homens foram crucificados diariamente em Jerusalém no período de Tito. Isto teria tornado quase impossível para os cristãos construírem qualquer memorial no local até então. Quando Jerusalém foi totalmente destruída pelos romanos em 70, a crucificação em massa terminou, e a maioria dos judeus foram mortos ou vendidos como escravos. A cidade que era tão magnífica, e que havia experimentado sua segunda destruição por completo, foi reduzida a um acampamento romano. O segundo templo que tinha sido construído no mesmo local do templo de Salomão ficou totalmente em ruínas (Mateus 24.1-2) e a mobília dourada foi roubada. Umas oitocentas guarnições romanas ficaram estacionadas no acampamento para assegurar que ninguém tentasse reconstruir a cidade novamente. Os cristãos tinham sobrevivido à destruição de Jerusalém por terem sido advertidos por Jesus, quando exatamente deveriam deixar a cidade. Enquanto Jesus estava vivo, havia lhes contado que a cidade seria destruída, e lhes deu um sinal que indicava quando fugir e evitar a morte pela invasão do exército inimigo (Lucas 19.43-44).

Quando o imperador romano Hadrian chegou para reconstruir a cidade no ano 130, ele se mostrou tolerante para com os cristãos. Aos judeus porém, não lhes foi permitido pisar na cidade. O imperador chamou a nova cidade que construíra de "Aelia Capitolina". Os judeus que voltaram para a Judéia se revoltaram contra ele, resultando na morte de meio milhão de judeus. Como a moeda mais recente encontrada era do ano 135, possivelmente os cristãos perceberam que era a chance de levantar a edificação após a destruição de Jerusalém quando o Cristianismo foi tolerado pelos romanos, que lhes permitiram acessar essas áreas. A ausência de qualquer moeda com data após 135 indica que o local poderia ter sido abandonado nos anos seguintes. A condição dos restos da edificação indicavam que não foi destruída, mas abandonada e deteriorada naturalmente. Com o passar dos anos a área foi coberta por terra e escombros.

A lápide

A construção era muito simples. Protraindo da parede traseira estavam duas paredes externas perpendiculares. Como eles continuaram cavando na procura da outra parede, acharam uma pedra cortada de quase 60 centímetros de espessura. A maior parte estava coberta por terra e escombros, mas uma seção exposta apresentou-se arredondada, como um tampo de mesa redonda. Como era enorme não tentaram descobri-la. Wyatt pensou se esta seria a pedra que José de Arimatéia rolou para fechar a tumba de Jesus (Mateus 27.59-60). A maior lápide encontrada por ele tinha 1,7 metros de diâmetro, mas esta arredondada era muito maior. Depois de alguns anos que ele descobriu, pela ajuda de um radar, que a pedra tinha um diâmetro de um pouco mais de 4 metros. Como a pedra redonda foi posta dentro da antiga estrutura, era provável que os cristãos que fizeram este memorial, tinham incorporado outros objetos relativo a Jesus, como parte da construção. Isto explicaria por que a pedra havia sido levada para longe da tumba sendo colocada próxima dos buracos das cruzes. 





Porta da tumba e o chão onde rolava a pedra

A pedra circular rolava até tampar a porta da tumba

Simulação de como a pedra seria usada na época

Um Grande Sistema de Cavernas

Quase dois anos haviam se passado desde que Wyatt e seus dois filhos começaram a escavar, e ainda não tinham achado qualquer sistema de caverna ou túneis escondidos. Embora Wyatt tivesse achado vários artefatos de grande significância, não eram exatamente o que estava procurando: a Arca da Aliança. O trabalho estava parado, havia gastos e tinha que continuar com a escavação. Wyatt relata:


"Sabia que havia cavernas porque mel de abelhas estava saindo das rachaduras, e elas voando para dentro. Assim seus ninhos estariam lá. De qualquer modo, meu filho mais jovem disse: 'Papai, você orou por isto?', respondi, 'Sim. Eu deveria ter orado com meus filhos'. Nós olhamos para trás e vimos erros que cometemos, mas ele questionou: 'Oramos à noite e pela manhã, mas deveria ter pedido direito.' De qualquer maneira, ele disse: 'Você orou por isto?', e respondi, 'Sim'. Ele disse: 'Você indicaria o que é melhor se fazer?'. Disse-lhe, 'Sim. eu suponho ter que penetrar direto naquele precipício'. E ele disse, 'Bem, façamos isto'. E eu disse, 'De modo algum! Isso é estupidez! Eu não vou fazer isso'. Assim trabalhamos durante três ou quatro dias a mais e estávamos para partir no dia seguinte. Meu filho mais velho estava triste comigo e estávamos passando as ferramentas para meu filho mais novo guardá-las, e o mais velho, que é uma pessoa bastante calada, disse-me: 'Papai, você orou sobre isto?', respondi 'Certamente, eu orei'. Ele disse: 'Bem?' eu disse, 'Fui orientado para quebrar naquele precipício mesmo'. E ele disse, 'Bem, façamos!'. E eu disse, 'Não! Isso é estupidez! Eu não baterei minha cabeça contra um precipício!' Ele disse, 'Bem, papai, perdoe-me por falar assim, mas eu o vi fazer coisas mais estúpidas!' Eu disse, 'OK... Diga para Ronny devolver as ferramentas...'.



Agora se você olhar cuidadosamente verá uma rachadura aqui mesmo. Não é muito mas é uma linha de falha daquela rocha. Assim nos movemos uns 46 centímetros para este lado, levamos nossos martelos e cinzéis e começamos marcando a rocha para cima e para baixo, e para cima e para baixo. Finalmente um grande pedaço grosso estourou para fora. Nós o empurramos para o lado e olhamos o fundo. Havia um pequeno buraco escuro sobre aquele pedaço retirado (Wyatt indica o pequeno buraco com seus dedos). Não vi nada prometedor. Pedi ao meu filho a lanterna, e sentamos onde eles poderiam ver. Dava em um túnel. Assim coloquei a lanterna naquele buraco e havia uma grande câmara de caverna. Não nos levou muito tempo para aumentar o buraco o bastante para poder entrar. Pensei que a Arca da Aliança estivesse ali mesma. Não estava... Assim, como tivemos que partir na manhã seguinte, tampamos aquele buraco. Voltando para o nível do solo, fechamos o buraco. Com tudo estando arrumado ninguém poderia saber onde havíamos estado. Eu tive que ir para casa, trabalhar e economizar mais um pouco e retornar..." (Ronald Wyatt, Zedekiah's Cave, Dezembro de 1997)

A Chocante Descoberta

Na viagem seguinte, descobriram que esta caverna conduzia a um outro sistema de cavernas e túneis muito maior. Nem todos os túneis eram conectados um ao outro, e gastaram várias horas cinzelando paredes de pedra encontrando mais túneis e cavernas. Este sistema de caverna parecia completamente intacto de mãos humanas. Era dezembro de 1981, o inverno estava frio em Jerusalém, e Wyatt e seus dois filhos ficaram doentes. Ele estava profundamente confiante que Deus o permitiria achar a Arca naquela viagem. Ele havia recebido várias respostas para a oração que o levava a esta conclusão, mas agora por causa da doença, começaram a desanimar. Wyatt relata:

"Meus dois filhos tinham ficado muito doentes em 1982. Eu enviei um deles para casa na véspera de Natal, e o outro na véspera do ano novo. Eu devia 300 dólares ao hotel, e não tinha dinheiro para nada. Havia um árabe que nos deixou comer em seu restaurante. Aquela gente é humilhante para mim. Havia coisas com as quais não me sentia confortável, e estava experimentando várias delas naquela viagem. Eu decidi que iria achar a Arca da Aliança ou morrer no buraco. Isso podia parecer um pouco melodramático, mas estava humilhado. Não podia pagar a conta do hotel, estando bastante 'morto' numa situação como aquela...

De qualquer maneira, o pequeno árabe que estava nos deixando comer no restaurante, era um homem adulto mas tinha aproximadamente esta altura (disse apontando à altura do seu tórax). Então, para nós, ele passaria pelo sistema de caverna, rastejaria nas câmaras e lhe daríamos uma lanterna, e ele iluminaria ao redor e espiaria para ver se parecia haver alguma coisa lá. E assim nós o fizemos repetidas vezes e chegamos a um outro buraco. Eu lhes digo que não acreditariam por onde havíamos entrado naquela caverna. Quantos de vocês alguma vez estiveram dentro de uma caverna grande com túneis e câmaras e tudo o mais? OK, vocês sabem o que eu estou dizendo. Nós há pouco tínhamos passado por toda parte daquele lugar, para cima, abaixo, níveis diferentes, e neste momento nós tínhamos abaixado aproximadamente 14 metros, e então voltamos para cima, e este buraco estava na parede, sobre aquele grande ao redor (ele faz um círculo de aproximadamente 20 cm com as mãos), e havia uma estalactite pendurada no meio disto. Era a única estalactite que tinha visto na caverna que não era esta pequena (ele mostra com os dedos o tamanho de cerca de 10 cm). A outra era grande e eu a tenho em minha coleção de objetos.

Assim eu a rompi, fiz um buraco grande o bastante para ele entrar, e assim foi rastejando para dentro, e lhe dei a lanterna para que ele pudesse fazer o mesmo que estávamos fazendo há vários dias. Ele retornou apressadamente, os olhos dele estavam tão arregalados quanto olhos humanos podem ficar e disse, 'O que tem lá? O que tem lá? Eu não voltarei lá!' E disse-lhe, 'Bem, o que viu?' Ele disse, 'Não vi nada' Então pensei, 'Bem, OK. Agora entrou em lugares mais apertados e por isso havia respondido daquele jeito'. Assim, eu peguei este pequeno feixe de luz, e vocês sabem que é um lugar muito escuro aqui, e pensei, 'Isso é um terror Divino', vocês sabem que isso é um terror sobrenatural. Assim calculei que era aonde a Arca da Aliança está, ou o caminho para chegar até ela, um ou o outro. E Deus não quer que este colega saiba onde está. De qualquer maneira, ele há pouco disse, 'Tenho que sair daqui!', e saiu. Assim aumentei o buraco o bastante para poder entrar, entrei lá e, gente, estava cheio de pedras. Maior que estas aqui. Até a altura de cerca de 45 cm do teto. Se este moço não tivesse ficado aterrorizado e saído apressadamente como fez, eu não teria entrado naquele lugar... 






De qualquer maneira, com a lanterna rastejei até lá, ao redor e por cima das pedras, e iluminei para baixo entre as rachaduras da pedra, e nessa superfície plana uma coisa dourada refletiu atrás de mim. Assim movi por cima das pedras e iluminei para baixo por outra rachadura. Havia duas reflexões, uma aqui, uma lá e uma em cima daqui. Assim percebi que era uma superfície plana, parte superior dourada, e pensei: 'A Arca da Aliança!'. Me esqueci dos querubins assentados na parte de cima. Eles teriam sido empurrados para cima através das pedras e das coisas, em cima do propiciatório. 





Mas de qualquer maneira, eu comecei a mover essas pedras, e as coloquei em qualquer lugar que pudesse. Me abaixei até a superfície dourada que estava atrás dos meus ombros, inclinada atrás deles. Era a Mesa dos Pães (Números 4.7)... Mas de qualquer maneira, estava olhando para a Arca da Aliança. Só a partir de então tive tempo para examinar cuidadosamente o resto da câmara. Visto que apenas tinha rastejado até ali, dei uma olhada e comecei a verificar debaixo das pedras. Então movi a lanterna ao longo da parede, vi uma caixa de pedra colocada contra a parede, com muito espaço entre ela e o teto. A tampa estava quebrada, deslocada para o lado e diretamente acima dela havia uma rachadura com uma substância marrom escura parecida com a do fundo desta rachadura. E pude vê-la da parte superior da tampa da caixa. Em ambos os lados dos pedaços quebrados havia mais desta substância marrom escura (silêncio, Wyatt chora). De repente percebi que estava sentado em frente da Arca da Aliança e o sangue de Cristo estava derramado sobre ela (silêncio). Nunca tinha ouvido alguém orar qualquer coisa sobre aquele tipo de possibilidade, nunca. Era muito para mim. Quando recuperei a consciência e olhei novamente para meu relógio, 45 minutos tinham se passado desde que rastejei na câmara." (Ronald Wyatt, Zedekiah's Cave, Dezembro de 1997).

As autoridades

A promessa que Wyatt acharia a Arca nesta viagem foi cumprida, mas contudo não lhe foi permitido vê-la totalmente, nem lhe foi possível retirar a Arca da caverna. Frustrado com isso, ele ouviu a voz de Deus: "Só lhe disse que a acharia. Sairá daqui no seu devido tempo".

Wyatt informou a descoberta às autoridades israelitas, e depois entregou um minúsculo artefato que encontrou na caverna. Era um romã de marfim com uma inscrição que o identifica pertencer ao templo de Salomão. Este é o único objeto do primeiro templo já visto e exibido no Museu Israelita em Jerusalém. Esta descoberta os convenceu que o Wyatt pudesse estar dizendo a verdade sobre a descoberta da Arca da Aliança. Ele foi o único que encontrou um objeto do primeiro templo onde a Arca esteve. Wyatt sabia que vários críticos ao redor do mundo não acreditariam que ele encontrara este romã, então quebrou-lhe um pedaço pequeno e o deixou na câmara com a Arca da Aliança.

Romã de marfim

As autoridades lhe disseram que mantivesse a descoberta da Arca em segredo. O motivo é que esta descoberta poderia criar grandes problemas religiosos e políticos para Israel por ser uma sociedade frágil e explosiva. Eles temiam uma possível reação violenta de alguns judeus radicais se eles tomassem conhecimento de que a Arca da Aliança foi encontrada, achando ser este um sinal de Deus para retomar o Monte do Templo, destruir o Domo da Rocha e construir o 3° Templo, ocasionando um conflito geral com todo o mundo árabe. Em outras épocas a disputa pelo Monte do Templo gerou alguns conflitos sangrentos.

Anos mais tarde, após ter sido avisado que Wyatt havia divulgado a descoberta, e ainda pela internet, onde não há controle sobre as informações, o conselho da Associação do Jardim da Tumba teve que emitir um documento confirmando que ele teve permissão para escavar até o verão de 1991, mas desmentindo o achado da Arca (para evitar futuros conflitos) e afirmando ainda que não tinha qualificação como arqueólogo (de fato, era amador)! Descobrir a Arca da Aliança em Jerusalém seria um grande perigo!

Os objetos na câmara

Não era possível tirar quaisquer dos objetos da câmara. Primeiramente estava cheio de pedras empilhadas ao redor das mobílias do templo, e secundariamente, Wyatt não pôde retirar os artefatos pelo pequeno buraco por onde entrou. Ele teria primeiro que localizar a entrada original usada pelos homens (Jeremias e Baruque?) para esconder os objetos.

Wyatt voltou várias vezes na câmara. Em uma delas levou uma furadeira usada em cirurgia ortopédica e um colonoscópio, um instrumento óptico com uma forte fonte luminosa que médicos usam para examinar dentro do corpo humano. A caixa de pedra era tão alta, que a tampa estava próxima ao teto e tinha de olhar pela abertura da tampa quebrada para ver a Arca. Com a broca Wyatt tentou fazer um buraco pequeno na caixa de pedra para poder identificar a Arca. O efeito desejado falhou então ele fez um buraco na caixa de pedra com abertura suficiente para introduzir o colonoscópio. Neste instrumento só se pode ver uma pequena área de cada vez, mas movendo-o ao redor poderia ver o famoso objeto dourado. A primeira coisa que ele viu foi a bordadura ao redor do topo do propiciatório. Então viu a superfície lisa com os lados dourados. Isto era suficiente para que tivesse certeza de que a Arca realmente estava ali.

Em seguida Wyatt identificou os seguintes objetos na câmara: A Arca da Aliança que estava na caixa de pedra, a Mesa dos Pães, o Altar do Incenso de Ouro, um candelabro de 7 ramificações, uma espada grande de 1,57 metro, um éfode (espécie de manto sacerdotal), uma moeda de bronze, vários abajures de óleo, e um anel de bronze. Também havia outros objetos mas Wyatt não tinha certeza para quê tinham sido usados. Estes artefatos estavam cobertos com peles de animais. Nas peles foram colocados troncos de madeira, e em cima deles uma camada de pedras. As Tábuas de Pedra com os 10 Mandamentos estavam ainda na Arca da Aliança, e do lado da Arca estava um cubículo pequeno aberto que continha o Livro da Lei que Moisés escreveu sob ordenança de Deus: "Ora, tendo Moisés acabado de escrever num livro todas as palavras desta lei, deu ordem aos levitas que levavam a arca do pacto do Senhor, dizendo: Tomai este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca do pacto do Senhor vosso Deus, para que ali esteja por testemunha contra vós." (Deuteronômio 31.24-26; 17.18 e 29.21 - também em Êxodo 24.7). Do que ele pôde ver, estava lá a maioria dos livros de Moisés. Todos aqueles rolos, feitos de pele de animal e envelhecidos por mais de 3 mil anos, estavam em condição surpreendentemente excelente! Wyatt também achou sete abajures de óleo que ele supôs haverem sido usados pelos que trouxeram os objetos para a câmara. Um dos abajures estava enfeitado com um desígnio típico assírio; uma cabra ou um carneiro, com suas pernas traseiras levantadas e se alimentando numa videira. Isto mostrou a influência cultural que o povo assírio teve na Judéia durante um longo tempo antes do cativeiro babilônio.

A entrada original

O sistema de caverna pelo qual Wyatt havia entrado na câmara parecia estar intocável por mãos humanas. O buraco pelo qual ele tinha entrado era muito pequeno e mal localizado para ter sido a entrada que Jeremias e seus homens usaram para levar os objetos grandes para a caverna. A pergunta agora era: Qual túnel eles haviam usado?

Wyatt começou a inspecionar a câmara pela outra entrada. Em um lugar ele viu algo que estava coberto com pedras, e parecia conduzir para outra câmara. Ao remover algumas das pedras, descobriu um longo túnel natural com marcas de cinzel, o que garantia que alguém o havia alargado. O problema que Wyatt encontrara agora era que o resto do túnel era completamente bloqueado por fora com grandes pedras. Desbloquear o túnel seria muito difícil e depois de sair e marcar a sua pequena entrada, ele decidiu procurar do outro lado, no início daquele túnel. Desde que as mobílias tinham sido trazidas do Templo, obviamente este era o ponto de partida e a câmara era o destino deles. Wyatt não estava informado sobre algum túnel que ía na direção do Templo, mas ele ainda tinha alguma idéia sobre onde poderia começar a procurar. A Caverna de Zedequias com uma extensão de 230 metros sob o Monte Moriá foi durante um certo tempo usada como mina de pedra (pedreira subterrânea). Esta caverna fica situada entre o Monte do Templo e a Escarpa do Calvário (imagem abaixo), assim poderia ter uma possível ligação. 




A caverna de Zedequias

Dr. James Turner Barclay era um americano que trabalhou como médico e missionário em Jerusalém de 1851 a 1857. Ele ainda é conhecido (entre outras coisas) por ter redescoberto um portão de entrada para o local do Templo, assim recebeu o nome de "Portão de Barclay".

Dr. Barclay freqüentemente andava com seu cão nas áreas ao redor da cidade velha. Num domingo do inverno de 1854, ele foi caminhar ao longo do muro norte da cidade velha de Jerusalém. De repente, seu cão desapareceu, e Dr. Barclay assobiou para ele. O cão não veio, e o filho de Dr.Barclay que o acompanhara começou a procurar o animal. Ao olhar ao longo a parte da pedreira onde o muro norte foi construído, achou um buraco fundo por onde eles ouviram o cachorro latir dentro da caverna.

Assim esta enorme caverna foi redescoberta. Durante séculos acreditava-se que a entrada da Caverna de Zedequias havia sido bloqueada pelas construções de pedra.

Entrada da Caverna de Zedequias (Muro Norte)

Uma maneira de escapar
Muitos acreditam que Salomão usou pedras da Caverna de Zedequias para construir o magnífico Templo. A Bíblia relata como as pedras foram cortadas e como elas foram lavradas dentro da pedreira, evitando barulho na cidade durante a construção do templo (I Reis 6.7).

A caverna recebeu o nome de "Caverna de Zedequias" porque muitos achavam que esta foi a que o rei Zedequias usou para fugir de Jerusalém durante o cerco babilônio. Porém, a Bíblia apenas diz: "E o príncipe que está no meio deles levará aos ombros os trastes, e às escuras sairá; ele fará uma abertura na parede e sairá por ela; ele cobrirá o seu rosto, pois com os seus olhos não verá o chão." (Ezequiel 12.12). "Então a cidade foi arrombada, e todos os homens de guerra fugiram de noite pelo caminho da porta entre os dois muros, a qual estava junto ao jardim do rei (porque os caldeus estavam contra a cidade em redor), e o rei se foi pelo caminho da Arabá. Mas o exército dos caldeus perseguiu o rei, e o alcançou nas campinas de Jericó; e todo o seu exército se dispersou." (II Reis 25.4-5).

A passagem dos lapidários
Enquanto caminhava ao redor e examinava esta caverna, Wyatt tentou se familiarizar com os lapidários. Quando viu que a caverna se estendia pelo fundo da montanha, percebeu como era sem sentido e cansativo tirar as pedras da pedreira e as levar para a cidade por um dos portões do muro norte. Como a pedreira está debaixo da cidade, seria muito mais fácil retirar as pedras diretamente da pedreira. Um simples buraco no teto da caverna poderia iluminar consideravelmente a carga dos trabalhadores.

Wyatt começou a examinar os pilares de pedra que os trabalhadores tinham deixado para apoiar o teto da caverna. Um dos pilares se parecia um grande monte de terra e escombros empilhado tão alto que atravessava um buraco no teto. Isto o fez pensar que talvez existira uma abertura no teto da pedreira. Assim, a Arca poderia ter sido transportada para baixo por este buraco, e então passada por um túnel, e finalmente trazida para a câmara onde agora está.

Um dos túneis da caverna

Um querubim da guarda

Wyatt começou a procurar túneis, e logo achou um. Estava escondido por trás de pedregulhos e rochas suspensas e fechado por pedras que haviam sido cortadas e lavradas com este propósito. O túnel ia para a direita, mas ainda era um longo caminho para a câmara. Se este fosse o túnel certo, teria muito trabalho para limpá-lo.

Quando o francês Charles Clermont-Ganneau em finais do século XIX desenhou a caverna de Zedequias, fez esboços, mapas e diagramas de quase cada detalhe da enorme pedreira. Uma de suas descobertas foi um querubim gravado em um pilar. Tinha corpo de leão, um par de asas e cabeça de homem com um véu antigo. Clermont-Ganneau removeu o querubim e enviou ao Fundo da Exploração Palestina em Londres. É parecido com um querubim do Palácio Israelita em Samaria. O estilo é aproximadamente do 7º século AC, quando Israel estava sob influência da cultura assíria. Isto ocorreu antes dos babilônios tomarem Jerusalém, e coincidiu com o tempo em que foi escondida a mobília do Templo.

Desenho do Querubim removido da caverna de Zedequias
Com esta conexão é interessante verificar novamente a citação do livro apócrifo II Macabeus mencionado anteriormente. Assim diz sobre Jeremias e os homens que esconderam a mobília do Templo na caverna: "Em seguida, bloqueou a entrada. Mais tarde, alguns dos que tinham acompanhado Jeremias, vieram para marcar o lugar, mas não conseguiram encontrá-lo. Quando soube, Jeremias repreendeu-os dizendo: O lugar ficará desconhecido, até que Deus finalmente se mostre misericordioso e reúna novamente seu povo". É possível que o querubim gravado próximo da entrada bloqueada seja uma marca feita pelos homens (levitas?) de Jeremias, já que não conseguiram achar a gruta.

Em seguida, Wyatt usou um radar para esquadrinhar e garantir que realmente havia um túnel da pedreira até a câmara onde achou a Arca da Aliança e os outros objetos. Aproximadamente 6,5 metros abaixo do nível do solo ele descobriu um túnel vazio que ia na direção dos buracos que atravessou e da câmara, mas por causa das edificações que obstruem o caminho, ele não pôde seguir todo o túnel. Ao invés disso ele levou o radar para a caverna de Zedequias e esquadrinhou a entrada que havia achado. Quando parecia existir um vazio atrás dos blocos de pedra, na verdade abria uma passagem. Mas escombros bloqueavam o túnel mais adiante, parecendo que alguém tinha tentado fazê-lo parecer natural, tentando esconder o fato de que eles tinham fechado o túnel propositalmente. A passagem foi bem bloqueada e, novamente, o trabalho de limpá-la seria extremamente laborioso.

Uma experiência especial

Wyatt decidiu que a única opção era fazer uma entrada maior para a câmara, cavando um poço diretamente acima dela, diretamente abaixo da rocha. Havia um risco do poço se desmoronar podendo destruir os objetos na caverna. Também seria um grande projeto que requereria muito trabalho. Após várias escavações ele iria escavar aproximadamente 3 metros de rocha calcária, mas o fim estava longe. Quase dez anos tinham se passado desde que ele achou a Arca, e a sua frustração cresceu por causa dos enormes esforços que tinha passado, tudo parecendo infrutífero até o momento.

Um ou dois meses antes de voltar a Jerusalém para trabalhar no poço, Wyatt realizou uma reunião em uma igreja na Carolina do Norte. Ele apresentou vídeos e os espectadores fizeram-lhe perguntas. Durante esse período de questionamento, um indivíduo perguntou-lhe quando planejava estar em Israel. Quando Wyatt e seu assistente chegaram mais tarde ao hotel em Jerusalém, aquele mesmo homem estava sentado, esperando por ele. Aparentemente acreditou que era algum tipo de profeta, e lhe ofereceu ajuda no projeto. Mas Wyatt esteve ali há tanto tempo que era impossível continuar com seu trabalho. Ele perdeu toda a esperança e sentiu todo o projeto abandonado. Ele acreditava que a sua viagem em vão significava que era a hora de “sair do emprego”. Ele sabia que Deus não precisava particularmente dele para completar o trabalho.

Foi então que Wyatt teve uma experiência que o marcou a sua vida. Ele estava se sentando próximo aos nichos e dos buracos das cruzes que haviam encontrado no princípio das escavações. O tal homem tinha terminado a difícil tarefa que Wyatt havia lhe dado e estava sentado há alguns poucos metros, almoçando debaixo da sombra de um grande arbusto. O nível de chão onde eles estavam sentados era muitos metros abaixo do que a área ao redor. De repente Wyatt ouviu uma voz atrás dele dizendo, “Deus o abençoe no que está fazendo aqui”. Wyatt virou-se. No topo de uma escadaria, estava um homem alto de pé, esbelto de cabelo escuro. Ele estava usando um longo roupão branco e um turbante (ou mitra) na cabeça semelhante ao usado em tempos bíblicos. Wyatt não tinha contado para ninguém o que estava fazendo e desejou saber quem era aquela pessoa. Achou-lhe estranho por saber tudo sobre ele e o que estava fazendo. Wyatt tentou descobrir quem era aquele estranho e tentou conversar educadamente: “Você é desta região?” , perguntou. “Não” , era a simples resposta seguida de um silêncio. “Você é um turista?” , perguntou-lhe Wyatt. “Não” , silenciando-se novamente. Wyatt não sabia mais o que poderia dizer, então apenas sentou-se e observou-lhe sua amável face. Então o homem lhe disse: “Estou no caminho da África do Sul para a Nova Jerusalém” e repetiu as suas primeiras palavras: “Deus o abençoe no que está fazendo aqui”. Então se virou e foi embora.

Por estar sentado debaixo do arbusto, o ajudante "não convidado" de Wyatt não tinha visto o homem vestido de branco, mas tinha escutado toda a conversa. Ele perguntou: “Você acha que falamos com um anjo?” (Hebreus 13.2). “Talvez” respondeu, porque deixou-lhe a impressão que pudesse ter sido até o próprio Jesus Cristo...

Só há uma entrada no Jardim da Tumba, e todo mundo tem que passar por ela para entrar no complexo. Wyatt perguntou ao pessoal do local se tinham visto o tal homem de branco e eles responderam que ninguém vestido daquele jeito havia entrado ou deixado o Jardim da Tumba. Ninguém o tinha visto. Esta experiência o fortaleceu e o encorajou para que continuasse, não importando a difícil situação em que se encontrava.

A quarta visita a câmara

Wyatt tinha tentado várias vezes tirar fotos nítidas da Arca com máquinas fotográficas e uma câmera de vídeo, mas em todas as imagens ficaram desfocadas, lhe causando muita frustração. Em sua quarta visita na câmara Wyatt levou consigo uma câmera de vídeo e um tripé, esperando finalmente gravar um filme nítido da Arca.
Depois de passar pela mesma entrada que sempre usou para ir até a câmara, notou imediatamente que algo estava diferente. As pedras que tampavam a caverna não estavam mais lá. Uma luz brilhou na câmara, mas não podia entender como. Ele então viu que a câmara havia sido completamente limpa e todas as pedras retiradas. Uma tarefa que ele sabia que teria de ser feita mas levaria muito tempo, e agora o trabalho estava feito! A câmara estava totalmente limpa, e a Arca da Aliança tinha sido retirada da caixa de pedra. Ele ficou subjugado pelo que viu. A Arca estava contra uma parede da câmara, debaixo da rachadura do teto causada por um terremoto, por onde o sangue de Jesus tinha fluído até cair sobre o propiciatório. As outras mobílias do Templo estavam em suas posições corretas em relação à Arca. O restante dos objetos foi posto ao longo de uma das paredes. As imagens mostram como é a Arca e o local do propiciatório onde foi derramado o sangue.

Vista frontal


Vista superior em perspectiva

A ARCA DA ALIANÇA

Dimensões, detalhes e o modo de retirar o propiciatório








Embora Wyatt não conseguia descrever exatamente assim mas a parede atrás da Arca parecia cristal e radiava as cores do arco-íris. Enquanto estava olhando para aquilo, ele percebeu de repente que não estava só. Ele pode perceber a presença de anjos. Havia quatro homens jovens na caverna, que não se assemelhavam a forma popular de se representar anjos (com vestido branco e asas). Estavam vestidos normalmente. Wyatt ficou parado durante vários minutos, não se movendo ou falando. Ele queria saber o que estavam fazendo lá e por que estavam lá, mas se achou incapaz de falar.

Um dos anjos deu um passo para a frente e começou a falar com ele. Disse-lhe que são os 4 anjos designados para vigiar a Arca desde a sua construção, no Sinai. Ele se aproximou da Arca e as Tábuas de Pedra foram retiradas dela, e o anjo as colocou em um nicho na parede, e começou a lhe informar sobre vários assuntos importantes. As Tábuas de Pedra só iriam ser postas em exibição ao público depois que uma lei fosse aprovada em todo o mundo. Uma lei que forçaria o mundo a receber “a marca da besta”.

Wyatt montou a câmera de vídeo e começou a filmar antes que ele retirasse as Tábuas de Pedra da Arca da Aliança. Ele pegou a máquina fotográfica e a fita de vídeo e saiu da caverna pela sua entrada original. Seguindo o túnel, descobriu a saída do sistema de caverna para a rua. Ele foi para o quarto do hotel e conferiu a filmagem. A Arca, os anjos e as Tábuas de Pedra estavam perfeitamente visíveis e ficou muito satisfeito por tudo estar tão nítido. Mas a sua alegria mudou de repente ao lembrar do que o anjo havia-lhe dito. Isso não ia ser mostrado antes que a lei da “marca da besta” fosse aprovada. Ele sabia a natureza da lei à que estava se referindo, e sabia o significado das palavras do anjo. O que ele iria fazer com a fita até aquele tempo? Onde estaria segura?

Wyatt, não sabendo o que fazer, decidiu voltar à câmara e perguntar ao anjo o que ele deveria fazer com a fita de vídeo. Ao entrar na câmara o anjo com quem havia falado lhe perguntou o que queria. Wyatt lhe falou que não tinha um lugar suficientemente seguro para guardar a fita. O anjo pegou a fita da sua mão e colocou-a próxima das Tábuas de Pedra que estavam no nicho.

Nos fins da década de 90, Wyatt estava se aproximando dos 70 anos. Ele estava cansado devido as pressões de trabalho e também lutava contra um certo tipo de câncer. Ainda assim persistiu, trabalhando pesado, fazendo tudo o que pôde para ajudar as pessoas a espalhar a mensagem que estas descobertas tinha para o mundo, e a mensagem do Cristo vivo. No dia 4 de agosto de 1999, Ronald Wyatt morreu de câncer em Tennessee, EUA.

Passagem para a Caverna
O exame de sangue

Wyatt conta a história novamente para um pequeno público dentro da Caverna de Zedequias, “Depois de ter estado lá [a caverna com a Arca da Aliança] três vezes, na quarta vez em que entrei, havia quatro homens jovens que se levantaram, que se os tivesse visto na rua não teria notado nenhuma diferença entre eles e qualquer outra pessoa. Um deles disse, "Nós somos os anjos que foram designados à Arca da Aliança, e lhe contaremos o que Deus quer que seja feito com isto, e lhe ajudaremos a fazer o que Ele quer que seja feito com isto." Eles queriam que levasse uma amostra do sangue para ser analisado. Tudo que tinha comigo eram um cartucho de filme (recipiente de filme de máquina fotográfica) e uma aba de puxar (tampa superior) de uma lata de Coca-Cola. Então peguei aquela aba, deformei-a para fazer uma pequena concha e coloquei o sangue seco sobre ¾ dela. Nós o levamos para ser analisado. Colocamos uma quantia do sangue seco em uma solução normal de sal na temperatura do corpo (36°C), e a misturamos suavemente durante 72 horas. E esta foi parte das instruções que recebi do anjo. Quando guardamos a cultura durante outras 72 horas e a visualizamos em um microscópio, as células brancas estavam se dividindo.

Nós obtivemos uma contagem de cromossomos. Havia 24 cromossomos. 23 Cristo recebeu de Maria. Ele recebeu um que era o determinante de sexo, ou o Y do seu Pai divino para um total de 24. Todos nós temos 46. Nós recebemos 23 de nossa mãe e 23 de nosso pai. Agora estes ainda estão vivos após quase 2000 anos. As pessoas que fizeram o teste pensaram que eu tinha passado a perna neles. Nunca em suas vidas haviam visto um sangue seco que ainda estava vivo. Há um texto na Bíblia que fala sobre Cristo. Está em Salmos (16.10) diz: "Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção". Então após quase 2000 anos, o sangue de Cristo estava muito vivo, e ainda está. Assim o Espírito, o sangue e a água estão testemunhando na Terra. (I João 5.6-8)” (Ronald Wyatt, Zedekiah's Cave, novembro de 1996).

A cultura foi levada para um laboratório israelense que descobriu a existência de apenas 24 cromossomos. Nesta palestra, Wyatt responde a uma pergunta sobre este caso.

Contagem dos cromossomos: 24 de Jesus e 46 do homem normal
Diante deste fato surge a pergunta: Como era o sangue de Adão, filho de Deus, já que não teve uma mãe? Teria também 24 cromossomos?

A mensagem que ninguém tinha ouvido
A história de Ronald Wyatt chamou muita a atenção como também uma violenta discussão. Um homem simples estava contando ao mundo uma história incrível que ninguém havia ouvido antes. Para alguns era uma história fantástica onde o mundo espiritual é descrito como acreditável e real. Wyatt estava afirmando que a Bíblia, o livro mais lido no mundo, era a verdade histórica, mas afirma também que o Homem que nasceu neste mundo aproximadamente há 2000 anos atrás, realmente era o Messias que os judeus haviam esperado, mas rejeitaram. Não só isso, mas está afirmando que Ele foi o Único por quem Deus criou este mundo. A descoberta de Wyatt até hoje incita incredulidade, até mesmo no mundo cristão, e cria mal-estar dentro da comunidade judaica. Até o momento esta mensagem não é reservada para as comunidades religiosas. De fato faz um efeito enorme em todo o mundo, por isso fazem a pergunta, “A Bíblia é realmente verdadeira?”.

A história de Ronald Wyatt não falta credibilidade pois várias pessoas estavam com ele quando estava cavando, e podem testemunhá-la. Em um certo momento havia aproximadamente 15 pessoas diferentes que ajudaram limpando túneis. Havia o pequeno árabe que entrou primeiro na caverna e foi tomado por um medo indescritível, simplesmente saindo da câmara. O romã, o primeiro artefato descoberto do primeiro templo, que hoje encontra-se seguro em um pequeno gabinete de vidro no Museu Israelita, como uma testemunha visível. O exame do sangue da câmara tem chocado os investigadores profissionais ao redor do mundo, e ninguém pode negar muitas das coisas que testemunham para o fato da história de Ronald Wyatt ser verdade. Porém, para alguns a história continua tão inacreditável porque eles não viram a Arca ou o sangue. Assim eles preferem duvidar. Wyatt disse, um dia o mundo verá a evidência com seus próprios olhos, mas se não quiserem acreditar então há pouco o que fazer para os convencer. O mundo está pronto para acreditar que fora de fato criado e que nós não evoluímos de macacos ou répteis?

Wyatt na Caverna de Zedequias ensinando sobre a descoberta da Arca da Aliança

O sangue de Jesus derramado no propiciatório contém a mensagem que jamais alguém ouviu ou até mesmo pensou. Nem mesmo o próprio Ronald Wyatt, antes de ter descoberto a Arca e ter contado a história. Ainda restam perguntas nas mentes de muitas pessoas, “Por que aconteceu?” e “O que tudo isso significa?”

O Estatuto Perpétuo

"E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão." Hebreus 9.22

A necessidade do sangue ter caído no propiciatório está no Estatuto Perpétuo do "Dia da Expiação" determinado por Deus (Levítico 16). No 10° dia do 7° mês (mês de Etanim, correspondente ao período atual de Setembro-Outubro), o sacerdote atravessava o véu do santuário usando roupa e túnica de linho. Então aspergia no propiciatório sobre a Arca, o sangue de um novilho por seus pecados e pelos da sua família, e o sangue de um bode pelos pecados do povo de Israel. Os estrangeiros (Gentios) e o povo não podiam trabalhar nesse dia.

No dia da crucificação, Jesus usava a sua própria roupa e uma túnica (Mateus 27.31-35, Marcos 15.20, João 19.23) que foi trocada pela coroa de espinhos. Para morrer pelos pecados dos Gentios, bastava o derramamento de sangue na cruz, mas era necessário também que morresse pelos pecados do sacerdote (o próprio Jesus, o verdadeiro sacerdote) e do povo de Israel, assim anularia a antiga aliança. Isso só poderia ser feito atravessando o véu, que era a sua própria carne (Mateus 27.51, Marcos 15.38, Lucas 23.45 e Hebreus 10.20 ) e aspergindo o seu próprio sangue no propiciatório. Por isso afirmou que destruiria o santuário e o reedificaria em três dias (Mateus 26.61, Marcos 14.58 e João 2.19-21), anulando os estatutos antigos.

O "Dia da Expiação" não era respeitado desde a invasão dos babilônios. Isso porque a Arca foi removida do templo antes deste ser incendiado, e os sacerdotes foram levados para a Babilônia. Não a vendo mais, naturalmente creram na sua destruição no incêndio. Quando retornaram do exílio, os sacerdotes voltaram a respeitar as festas, fazendo sacrifícios e holocaustos no 7° mês (Esdras 3.1-7 e Neemias 8). Porém, já não havia mais a Arca.

O sangue derramado confirma dois Estatutos Perpétuos - do Dia da Páscoa e do Dia da Expiação:

- O sacrifício do cordeiro - Na Páscoa (1° dia do ano), tinha que ser no final da tarde (Êxodo 12.6 e Levítico 16.5-6). Podia ser também para os Gentios (Números 9.14), confirmado em Gálatas 3.13-14, Isaías 53.4-7, João 1.29 e I Pedro 1.19;
- O sacrifício do novilho - Somente pelos pecados do sacerdote e da sua família (Levítico 16.14), ou seja, o próprio Jesus como maldição na cruz;
- O sacrifício do bode - Somente pelos pecados do povo de Israel (Levítico 16.15).

O sangue da Nova Aliança derramado sobre a Antiga Aliança, substituindo-a!



Mortes por tentativa de retirar a Arca

Em uma de suas estadias em Jerusalém, Wyatt recebeu um pedido de ajuda por parte das autoridades israelenses. O problema era sobre 6 homens que tinham entrado no sistema de túneis pela Caverna de Zedequias numa tentativa de passar a Arca para outro local do sistema. A motivo desta operação era que naquele tempo a área havia sido ocupada por palestinos e as autoridades israelenses temiam que a tomassem definitivamente levando-lhes a perder o acesso ao local da Arca. Yasser Arafat tinha a intenção de retomar a área e parecia que a ONU e os Estados Unidos queriam que Israel aceitasse aquela situação. Assim para eles parecia lógico mover a Arca alguns metros e usaram homens por não haver equipamentos eletrônicos remotamente controlados para fazer isso. A história foi esta:

Em 1990 Ronald Wyatt visitou Jerusalém. Como era o costume dele, foi ao escritório da Autoridade de Antigüidades Israelita (IAA) os deixar saberem que estava na cidade e ver se precisavam de sua ajuda em alguma coisa. Lhe disseram: "Sim, estamos numa situação que precisamos de sua ajuda". Então lhes disse que os encontraria na Caverna de Zedequias naquela noite.

Quando Wyatt chegou havia vários automóveis oficiais estacionados no local. Ao entrar na caverna foi escoltado até o lugar onde a entrada do sistema de túneis fica situada para então ir ao local da Arca. Lhe foi falado que tinham sido enviados 6 homens ao túnel para mover a Arca e o conteúdo da câmara a uma parte diferente do sistema de forma que ficasse segura, afastada do território ocupado. Os homens foram vestidos como sacerdotes (levitas) e carregavam rádios para comunicação mas logo após terem entrado no túnel começaram a gritar. Os gritos eram tão terríveis que o restante dos homens tiveram medo de entrar também. Eles perguntaram a Wyatt se ele entraria e veria o que tinha acontecido. Ele concordou.

Ao entrar no túnel viu que os homens só tinham caminhado aproximadamente 20 metros faltando 90 para chegarem até a Arca. Eles estavam mortos no chão com os olhos grandemente abertos e virados para trás. Como médico anestesista, Wyatt percebeu que era um sintoma clássico de um golpe bilateral ou uma hemorragia volumosa no cérebro. Então saiu e contou para as autoridades o que havia encontrado. Em seguida levou uma cesta de salvamento com uma corda presa no túnel e retirou os corpos dos homens um por um. Pediram-lhe que não mencionasse a ninguém sobre o incidente.

Outros incidentes por causa da Arca

Aproximadamente 16 pessoas morreram por tentarem interferir ou parar os trabalhos que Wyatt fez com a permissão de Deus. A maioria delas morreu particularmente relacionada à Arca da Aliança.

Um dos incidentes foi com um homem que soube da existência da Arca antes de Wyatt afirmar que não diria nada sobre ela. Ele ficou entusiasmado e queria que Wyatt desse informações à imprensa. Ele recusou e então o homem disse que iria divulgá-las e chamou alguns jornalistas para uma conferência à imprensa. Wyatt estava bastante preocupado com isto, mas não pôde fazer nada pois havia programado pegar o vôo para casa na manhã seguinte, no mesmo horário da entrevista coletiva. Aquela conferência nunca foi realizada - o homem foi encontrado morto em uma ruela atrás do local com a garganta cortada de orelha a orelha!

Outro incidente no qual os resultados só não foram trágicos porque Deus não permitiu, foi quando um programa de televisão religioso desejou obter informações sobre a descoberta da Arca e tentou convencer Wyatt a levá-los ao local, tentando suborná-lo com dinheiro. Ofereceram pagar qualquer quantia para irem com ele, esperando que Wyatt lhes mostrasse a Arca. O chefe do programa e seu irmão estavam lá e faziam pressão para que os levasse à Arca, mas Wyatt recusou.

Finalmente alguém sugeriu que eles orassem para aparecer "um sinal" indicando o que fazer. Então oraram para que chovesse até o amanhecer somente se Wyatt não os fosse levar à Arca . Chuva naquela parte do mundo e àquela época do ano era muito improvável, mas aquela noite choveu forte. Mesmo assim no dia seguinte, um dos irmãos ainda insistia para que fossem levados à Arca e sugeriu que o seu irmão fosse. Porém este lhe disse que não iria sozinho.

O resultado foi que eles não pegaram a fita de vídeo sobre a Arca como planejado e o irmão insistente iniciou um boato dizendo que Wyatt havia quebrado um acordo e levado o dinheiro.



Escavações Recentes

Em 1989 essas escavações foram encerradas e desde então houve muita especulação e controvérsia sobre os achados, o que causou muita angústia para a Associação do Jardim da Tumba, pois Wyatt não pôde validar suas afirmações por ter falecido em 1999, sem deixar concluída nenhuma evidência.

Desde aquele tempo, o Wyatt Archaeological Research (W.A.R.) tem feito todo esforço para substanciar suas afirmações - prover uma segunda testemunha que transformaria uma suposição em fato estabelecido. Em 2002 recebeu permissão da Associação do Jardim da Tumba e da Autoridade de Antigüidades Israelita, cujo empenho começou com determinação. As apresentações foram gravadas em DVD e são resumos de uma grande quantia de trabalho realizado em quatro anos, a maioria de projetos intensivos e caros empreendidos pelo W.A.R.. Eles são dedicados ao Salvador e ao grande número de trabalhadores voluntários e contribuintes sem os quais teria sido impossível realizar esta tarefa monumental.

Em 2003 o W.A.R. continuou a escavar na caverna de Zedequias a fim de encontrar mais detalhes da passagem por onde Jeremias carregou a Arca. A direção do W.A.R. descreve todo o trabalho do projeto:
"Em fevereiro de 2003 o W.A.R. utilizou um radar de profundidade de solo para escânear o exato local em que Wyatt descreveu como a entrada da passagem de Jeremias. O radar revelou um vazio atrás de uma parede feita por mãos humanas, e assim iniciou-se o projeto para localizar a passagem. Foram obtidas licenças de escavação com a Autoridade de Antigüidades de Israelita e um apelo foi feito para voluntários participarem. A resposta foi impressionante. Não só havia os que se ofereceram a ajudar fisicamente no trabalho, mas outros com apoio financeiro e a maioria com um importante apoio por meio de oração.

Entre os que apoiaram o W.A.R., uma equipe internacional consistindo em trinta voluntários participou fisicamente para localizar a passagem de Jeremias.

O projeto começou com o uso da mais recente tecnologia em Subsurface Interface Radar, um dispositivo que permite examinar abaixo da superfície e ver em que posição os objetos estão. A escavação começou abaixo da parte frontal da parede encontrada pelo radar numa tentativa para encontrar alguma abertura que poderia conduzir à passagem de Jeremias. Este esforço levou a uma descoberta perigosa e inesperada que alteraria os planos da escavação; a descoberta que parecia ser da fundação das paredes tinha apenas uma curta distância abaixo da superfície.

Naquele momento, era incerto se o que tinha sido descoberto era verdadeiramente uma fundação, ou o topo de outra parede. Mais uma vez o radar foi empregado numa tentativa para determinar a natureza da descoberta. Depois de revisar os dados os arqueólogos israelitas solicitaram uma ampla escavação: a remoção de toneladas de material. O pedido apresentava uma tarefa aparentemente insuperável dado o limite de tempo dos trabalhadores. Levantou-se a pergunta: Como poderia tanto material ser removido em um curto período de tempo?

A equipe do W.A.R. foi trabalhar. Um sistema de rampa foi projetado para tornar possível transportar pedra, terra, e escombros do local da escavação para descer os carrinhos de mão: um sistema que comprovaria grandemente acelerar a escavação. Em um esforço sem precedentes, toneladas de material foram removidos em tempo recorde só para confirmar que o que havia sido revelado realmente era uma fundação e não o topo de outra parede.
Depois que as paredes foram cuidadosamente e meticulosamente limpas, os engenheiros foram trazidos para analisar a situação. Na conclusão ficou uma dúvida sobre escavar mais adiante. A parede estava em risco de desmoronar!

Os membros da equipe de escavação trouxeram uma gama extensiva de talentos: empresários, médicos e enfermeiras, envolvidos no campo da ciência, e perícias no campo da construção e de materiais de construção. Através de escolha divina, não foi nenhuma coincidência a participação do dono de uma das maiores empresas do mundo da área de fundações. Foram apresentados planos aos engenheiros e um esforço em conjunto foi lançado para projetar um método de escorar a parede e assim poder escavar seguramente debaixo dela.

Uma reunião especial foi realizada no Museu Rockefeller, prédio da Autoridade de Antigüidades de Israelita, e depois de horas de extensa discussão e cálculo científico um sistema de escoramento foi projetado para permitir a continuação das escavações. Enquanto a equipe de escavação preparava o local, foi encaminhada a procura por material para a escora de madeira; uma tarefa cara e não tão simples em Jerusalém, uma cidade em que predominam as construções de pedra. Depois de muita procura os materiais finalmente foram entregues horas mais tarde e a primeira armação do escoramento estava pronta para ser colocada.



Na frente da parede subterrânea um abrigo seria construído para que a escavação pudesse continuar seguramente debaixo da sua fundação. Os membros da equipe posicionavam as armações de escoramento de uma em uma, enquanto ao mesmo tempo outros apoiavam a parede cuidadosamente com bolsas de areia. Tendo reforçado a parede, então o trabalho poderia continuar. Seguindo o caminho do material que tinha sido visto no radar, um túnel foi construído debaixo da fundação da parede antiga. Um caminho de pedra solta e terra macia foi localizado confirmando o relato de Ronald Wyatt. Esta certamente é uma área que deve ter sido ocupada em algum momento no passado. Investigações no material e mais escaneamentos com o radar indicavam que estávamos na pista certa.

Mais uma vez, preocupações de segurança se tornaram um fator. Foi determinado pelos engenheiros selecionados pelo projeto que uma vez a escavação estendida além das paredes da fundação, que agora serviam como um teto, o grande peso do material solto acima poderia desmoronar sobre as escavações; um perigo mortal.

Para determinar com precisão quanto material havia acima, uma equipe de vistoria foi convocada para calcular a posição e a elevação exata da escavação de Wyatt em relação as paredes antigas de Suleiman, e a Cidade Velha de Jerusalém sobre a qual está situada. Depois de localizar um ponto de referência de pesquisa, externo ao muro norte de Jerusalém, a posição da cidade estava sobreposta no mapa de escavação. A pesquisa levou a uma descoberta surpreendente. Para surpresa de todos, não só a escavação estava a se estender do outro lado da parede abaixo mas também além dos altíssimos muros exteriores de Jerusalém, tudo em perfeito acordo com o relato de Ronald Wyatt.





A vistoria continuou e ficou definido que mais de 10 metros de material estavam localizados acima dos trabalhadores.

Como o tempo da primeira fase das escavações se aproximava do fim, todos os participantes estavam de acordo que o local deveria ficar protegido temporariamente. Uma decisão que não finalizava o projeto, mas era o bastante para um novo começo, um passo essencial para se ter sucesso no futuro.

Lembrando que Ronald Wyatt trabalhou durante três anos e meio antes de realizar seus esforços para localizar a Arca da Aliança, as equipes do W.A.R. retornam para casa com um senso de cumprimento e aguarda um outro dia na busca da chave que destravará o mistério do querubim na caverna de Zedequias, e a passagem que conduz à Arca da Aliança."




As escavações foram reiniciadas em agosto de 2005. Pela primeira vez o lugar que Wyatt descreveu como o local da crucificação foi gravado em DVD para comprovar as descobertas feitas por ele nos anos 80. Edificações antigas escondidas durante milhares de anos foram localizadas tendo artefatos com datas anteriores ao tempo do rei Davi. A direção da Autoridade de Antigüidades Israelita descreve todo o trabalho:

"Durante o mês de agosto de 2005 uma escavação de teste foi realizada dentro do complexo do Jardim da Tumba, ao norte do Portão de Damasco (Licença para escavar n° A-4549). A escavação, em nome da Autoridade de Antigüidades, foi financiada por duas fundações americanas - o Wyatt Archaeological Research (W.A.R.) do Tennessee e o Biblical Archaeology Foundation (BAF) do Texas - foi dirigido por Y. Zelinger, com a ajuda de V. Pirsky (inspeção), I. Berin (desenho de plantas), T. Sagiv (fotografia), N. Katznelson (achados em vidro), T. Ornan (lacre de rolo), D.T. Ariel (numismática), C. Hersch (desenhos de vidros e cerâmica), tendo também participações de voluntários de várias partes do mundo.

A escavação foi iniciada ao sul da formação rochosa natural identificada pelo General C. Gordon em 1883 como "Gólgota". Durante os anos 80, Ronald Wyatt escavou várias câmaras subterrâneas no local. A escavação atual foi realizada nas câmaras anteriores e adicionais.

Mapa da localização da Caverna de Zedequias no local escavado
O complexo subterrâneo foi acessado por meio de um poço natural estreito, descendo 5 m e abrindo em uma câmara de molde irregular (2 × 3 m e 2,8 m de altura). Uma abertura estreita (0,65 × 1 m) foi feita na parede sul da câmara, dando em um corredor cortado na rocha, direcionado de leste a oeste. A passagem foi bloqueada para o oeste pela queda de terra e pedras; para o leste, leva a uma edificação circular (3 m de diâmetro) cujas paredes foram construídas com pedras do campo (0,3-0,4 m de largura) e edificadas nos degraus de uma pedreira antiga que descia verticalmente (2,5 m) para o sul. A função da edificação não foi determinada devido às limitações da escavação. Provavelmente era parte de uma estrutura residencial ou uma instalação industrial. A terra acumulada nesta área revelou uma moeda extremamente usada no período Umayyad (697-750 DC). A maioria dos fragmentos de cerâmica deste local datava dos períodos helenístico-bizantino: uma garrafa comprida do período helenístico, uma panela de cozinha, um jarro e um abajur do período romano e uma tigela do período bizantino.

Outros achados recuperados nesta área incluíam uma cratera (jarra em forma de taça) datada da Idade do Ferro II, um jarro da Idade do Ferro I e uma estatueta de animal quebrada bem conhecida da Idade do Ferro II em Jerusalém. Um achado especial foi um selo cilíndrico de vidro (0,75 cm de diâmetro e 1,7 cm de comprimento; o selo foi assim identificado por C. Hersch), datado do 8° ao 7° século AC. O selo é no estilo Neo-Assírio local e retrata um adorador em frente a uma meia-lua em uma vara, representando o deus-lua, Pecado de H.aran. (Sin of H aran)

A parede sul da edificação circular foi quebrada e levava a outra câmara de molde irregular que não foi escavada devido a problemas de segurança. Porém, sua parede ocidental curvada provavelmente era a parede exterior de uma cisterna de água, revelada no teste com radar de penetração de solo.

Os achados que estavam desordenados pela escavação anterior e as condições da atual escavação tornaram difícil o reconhecimento dos restos. O período inicial do local foi uma pedreira, subsistida por canais de divisão das pedras de alvenaria. Era parte da extensa pedreira conhecida próxima da Caverna do Zedequias e da Gruta de Jeremias. Os achados de cerâmica e do selo cilíndrico da Idade do Ferro foram talvez de ruínas de um cemitério da Idade do Ferro perto de St. Etienne que tinha aparentemente estendido sobre a área do Jardim da Tumba. As relativas quantidades de achados cerâmicos recuperados da edificação indicam que podem ser datadas do período romano".

Novas escavações iniciadas em agosto de 2006 revelaram uma cisterna circular bizantina de 45 mil litros e também uma escadaria de pedra exatamente no local descrito por Wyatt. A foto mostra o local da escavação 9 metros abaixo da superfície.




Em algum dia, num futuro próximo, a Arca da Aliança e as Tábuas de Pedra com os 10 mandamentos bem como os demais objetos serão finalmente retirados da Gruta de Jeremias. Mas não por vontade e vaidade humana mas de acordo com a vontade de Deus, o verdadeiro dono de todas essas relíquias.

Fotos do jornal Discovery Times sobre o achado.

domingo, 10 de junho de 2012

A metafísica do Deus "encarnado": O Desenvolvimento da cristologia




De Jesus a Cristo



Um outro ponto em relação ao qual existe amplo acordo entre os estudiosos do Novo Testamento é ainda mais importante para compreender o desenvolvimento da cristologia. Ele consiste no fato de que o Jesus histórico não reivindicou para si o atributo da divindade, atributo este reivindicado para ele pelo pensamento cristão posterior: ele não se compreendeu como Deus, ou o Deus Filho encarnado. A encarnação divina, no sentido em que a teologia cristã usou a idéia, requer que um elemento eternamente preexistente da divindade, o Deus Filho ou o Logos divino, tenha se encarnado como um ser humano. Mas é extremamente improvável que o Jesus histórico tenha concebido a si próprio de maneira semelhante a esta. A bem da verdade, ele provavelmente teria rejeitado a idéia como blasfema; um dos ditos a ele atribuídos reza: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um só, que é Deus” (Mc 10,18).

É claro que nenhuma afirmação sobre o que Jesus disse ou não disse, pensou ou não pensou, pode ser feita com certeza. Mas a evidência existente levou os historiadores do período a concluir, com um grau impressionante de unanimidade, que Jesus não teve a pretensão de ser Deus encarnado. Hoje em dia existe uma concordância tão geral a esse respeito que umas poucas citações representativas, mesmo tomadas de autores que afirmam uma cristologia ortodoxa, serão suficientes para o nosso presente propósito. Nessa linha, o falecido Arcebispo Michael Ramsey, que era um erudito do Novo Testamento, escreveu: “Jesus não reivindicou divindade para si” (Ramsey 1980, 39). Um contemporâneo seu, o especialista em Novo Testamento C.F.D. Moule, disse: “Toda e qualquer defesa de uma cristologia ‘desde cima’ que dependesse da autenticidade das supostas reivindicações de Jesus acerca de si próprio, em especial no Quarto Evangelho, seria efetivamente precária” (Moule 1977, 136). Em um estudo importante das origens da doutrina da encarnação, James Dunn conclui: “na tradição mais antiga sobre Jesus, não havia reais evidências daquilo que poderia razoavelmente ser chamado uma consciência da divindade” (Dunn 1980, 60). Além disso, Brian Hebblethwaite, defensor resoluto da tradicional cristologia niceno-calcedoniana, admite: “já não é possível defender a divindade de Jesus Cristo fazendo referência às reivindicações de Jesus” (Hebblethwaite 1987, 74). Indo mais além, David Brown, outro leal defensor de Calcedônia, diz: “há boas evidências sugerindo que [Jesus] jamais viu a si mesmo como um objeto adequado de culto” e é “impossível basear qualquer alegação em favor da divindade de Cristo em sua consciência, uma vez que abandonemos o retrato tradicional refletido numa compreensão literal do Evangelho de São João” (David Brown 1985, 108).

Essas citações (que poderiam ser multiplicadas) refletem uma transformação notável resultante do moderno estudo histórico-crítico do Novo Testamento. Até aproximadamente cem anos atrás (como ainda hoje, de forma muito difundida, em círculos não instruídos) tinha-se por certo que a crença em Jesus como Deus encarnado firmava-se com toda segurança sobre seu próprio ensinamento explícito: “Eu e o Pai somos um”; “Aquele que me viu, viu o Pai”; e assim por diante. Agora, porém, para citar um dos mais recentes defensores de uma cristologia calcedoniana, Adrian Thatcher: “dificilmente haverá um estudioso competente do Novo Testamento que esteja preparado a defender a concepção de que as quatro ocorrências do uso absoluto de “Eu sou” em João, ou mesmo a maior parte dos outros usos, possam ser historicamente atribuídas a Jesus” (Thatcher 1990, 77).

Às vezes, embora nem sempre, esse reconhecimento é associado à idéia de que Jesus se tornou o Cristo ao ser ressuscitado por Deus. Esta idéia, por sua vez, vincula-se a uma linha adocionista muito antiga do pensamento neotestamentário. Como diz James Dunn: “a pregação cristã primitiva parece ter considerado a ressurreição de Jesus como o dia de sua designação à filiação divina, como o evento pelo qual ele se tornou Filho de Deus” (Dunn 1980, 36). Assim, a versão lucana do discurso de Pedro em Pentecostes refere-se a Jesus como a “um homem aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais Deus realizou por intermédio dele entre vós” (At 2,22), e diz: “A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. (...) Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel, de que, a este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (2,32.36). Além disso, Paulo fala de Jesus como de um ser humano (“veio da descendência de Davi de acordo com a carne”) que foi “poderosamente designado [horisthentos] Filho de Deus, segundo o espírito de santidade, pela sua ressurreição dos mortos” (Rm 1,3-4). Nesta cristologia, uma das mais antigas que já existiram, o ser humano Jesus foi elevado a ocupar um papel único e extremamente exaltado (embora não tenha sido elevado à condição divina) logo depois de sua morte.

Tudo isso exclui a forma de apologética outrora popular, segundo a qual quem pretende ser Deus deve ser ou louco, ou mau, ou Deus; e já que Jesus evidentemente não era nem louco nem mau, deve ter sido Deus (e.g. Lewis 1955, 51-2). Com o reconhecimento de que Jesus não pensou dessa forma a seu próprio respeito, a discussão cristológica moveu-se daquela que outrora se supunha ser a rocha firme da própria reivindicação de Jesus em direção ao terreno, muito menos certo, das tentativas eclesiais subseqüentes de formular o sentido de sua vida.

Vale a pena fazer uma pausa para refletir sobre a magnitude dessa mudança. Pelo menos do século V até o final do século XIX os cristãos geralmente acreditavam que Jesus se autoproclamara Deus Filho, a segunda pessoa de uma Trindade divina, que vivia uma vida humana; e, conseqüentemente, seu discipulado incluía esta crença como um artigo central da fé. Mas essa suposta autoridade dominical dissolveu-se sob o impacto do exame histórico. Até um período comparativamente recente, este resultado da pesquisa do Novo Testamento teria causado um choque indescritível em círculos eclesiásticos; e numa época tão tardia como o século XVI, em países protestantes, e como o século XVII, em países católicos, aqueles que o propusessem teriam estado sob grave perigo de serem executados por heresia. Na verdade, muitos dos resultados da pesquisa acadêmica dos séculos XIX e XX provavelmente teriam sido considerados demoníacos pelos líderes da Igreja em Nicéia e Calcedônia (2), ou por Tomás de Aquino e pelos outros teólogos medievais, ou por Lutero e Calvino e pelos outros reformadores, ou mesmo pelos cristãos em geral até apenas há algumas gerações atrás – como de fato muitas vezes ainda o são entre a grande maioria dos cristãos que continuam não tendo familiaridade com o estudo moderno da Bíblia. Esta ignorância por parte dos membros da Igreja, que normalmente não perturba seus pastores, ainda torna difícil discutir questões teológicas básicas na Igreja de maneira aberta e genuinamente reflexiva.

Hoje, muitos teólogos cristãos – mas não mais quase todos, como em gerações anteriores – continuam a aderir ao dogma niceno-calcedônio. Agora, porém, depois que seu fundamento centenário desmoronou, eles tiveram de encontrar uma nova base para ele. Conseqüentemente, concluíram que a doutrina da encarnação não requer o conhecimento ou consentimento do próprio Jesus histórico. Com efeito, David Brown argumenta: “é incoerente supor que uma mente humana poderia estar consciente de sua própria divindade” (Brown 1985, 109 e cap. 6). E, respondendo ao “novo paradoxo do Deus encarnado que não sabe que é Deus encarnado”, Brian Hebblethwaite protesta que “referir-se com indiferença à noção de que Jesus era Deus mas não tinha consciência deste fato é o mesmo que não captar a finalidade da cristologia quenótica” (Hebblethwaite 1979, 90). Em outras palavras, na encarnação o Deus Filho auto-esvaziou-se dos atributos da divindade a tal ponto que perdeu a consciência de ser Deus. Precisamos agora (nos capítulos 6 e 7) considerar com todo cuidado a viabilidade ou inviabilidade dessa idéia.

No entanto, supondo por um instante – e para favorecer a argumentação – que a idéia de um Deus encarnado que ignora sua própria divindade pode tornar-se inteligível, levando a implicações aceitáveis, a nova pergunta será: como é possível que a Igreja saiba algo de tamanha importância a respeito de Jesus, algo que ele mesmo não sabia?

Esta pergunta evocou quatro tipos diferentes de resposta, que às vezes aparecem separadamente mas que, mais freqüentemente, surgem em várias combinações.

O primeiro tipo de resposta envolve uma limitação do reconhecimento de que Jesus não tinha consciência de sua própria divindade e tampouco a incluiu em seus ensinamentos. Esta resposta sustenta que ele estava implicitamente consciente dela em sua relação singularmente íntima e filial com o Pai celeste, e que ele a ensinou implicitamente por meio de suas ações, particularmente ao ab-rogar a lei de Moisés e ao perdoar pecados. Portanto, ao construir sua doutrina da encarnação, a Igreja estava apenas explicitando aquilo que estivera implicitamente embutido nos fatos desde o princípio (3). Dada a natureza do caso, uma consciência implícita não é suscetível de ser objeto de prova ou contraprova, e o ato de afirmá-la ou negá-la tem de ser instigado por um posicionamento teológico mais amplo. Nessa linha, o erudito católico-romano Gerald O’Collins admite “as dificuldades inerentes à sondagem do conhecimento e da experiência interior de qualquer ser humano – especialmente de um que viveu há quase dois mil anos atrás”, e pergunta: “Quem de nós é suficientemente sábio ou santo para falar com uma grande convicção acerca do conhecimento e da mente de Jesus? (O’Collins 1983, 184-5). Quem será de fato? E não obstante, a despeito disso, e mesmo numa postura de desafio a isso, O’Collins sente-se capaz de afirmar com toda confiança “uma autoconsciência e presença de si na qual [Jesus] estava intuitivamente consciente de sua identidade divina” (185)!

Também James Dunn supõe uma tal consciência implícita ao dizer: “Não podemos reivindicar que o próprio Jesus acreditou ser o Filho de Deus encarnado; mas podemos reivindicar que a doutrina a esse respeito, assim como se exprimiu no pensamento cristão do final do primeiro século, foi, à luz da totalidade do evento de Cristo, uma reflexão apropriada sobre a percepção do próprio Jesus quanto à sua filiação e missão escatológica, bem como um detalhamento da mesma” (Dunn 1980, 60). Esta frase merece atenção, construída que foi, com todo cuidado, por um estudioso proeminente do Novo Testamento e crente decidido na fórmula de Calcedônia. Observa-se, em primeiro lugar, que ela não aspira ir além da noção pré-trinitária do “Filho de Deus” e chegar à idéia, esta sim propriamente trinitária, do “Deus Filho”. Nota-se também que a frase faz uso da noção altamente elástica do “evento Cristo”, que precisamos considerar a seguir. Mas, passando ao largo destes pontos, o que foi “a percepção do próprio Jesus quanto à sua filiação”? Foi a percepção ressaltada pelo uso da sua expressão abba, “pai querido”. Embora se discuta o significado preciso que tinha abba naquela época – e James Barr recentemente defendeu com vigor a idéia de que a expressão não possuía, de modo especial, o sentido íntimo que tantas vezes lhe foi atribuído, mas simplesmente significava “pai”, usada por crianças ou por adultos (Barr 1988a, 1988b) –, e embora também se discuta a freqüência com que ocorria esta expressão no discurso de outros carismáticos judeus (Dunn 1980, 26-7), não pretendo oferecer resistência à concepção, amplamente aceita, de que o uso da palavra por Jesus constituiu uma contribuição genuinamente nova à espiritualidade ocidental. Considerar Deus como nosso Pai celeste não era de maneira nenhuma algo novo, mas Jesus parece ter dotado a idéia de uma centralidade e poder bastante distintos, e dessa forma ter iniciado, através de seu uso, um novo desenvolvimento dentro daquilo que viria a ser o cristianismo. Pois na Oração do Senhor ele ensinou seus discípulos a dirigir-se a Deus desse mesmo modo familiar. Paulo posteriormente interpretou a prática no sentido de que ela envolvia uma incorporação mística ou metafísica na vida do Cristo ressuscitado. Mas nisso, como geralmente o fazia, Paulo acomoda Jesus à sua própria teologia, tendo pouca consideração com a figura histórica. Contudo, é com certeza inteiramente admissível que a consciência de Jesus acerca do Pai celeste tenha sido muito mais vigorosa e intensa do que a de qualquer um de seus contemporâneos. Temos porém de acrescentar, e mesmo enfatizar, que experimentar Deus como Pai celeste não é o mesmo que experimentar a si mesmo, de maneira única, como o Deus Filho, segunda pessoa de uma Trindade divina.

De mais a mais, qual era a “missão escatológica” de Jesus referida por Dunn? Não era seu chamamento para ser o último profeta, um ser humano que falaria em um momento crucial como mensageiro de Deus? O papel do último profeta era único por não poder voltar a repetir-se, de sorte que “Jesus teve a sensação de uma unicidade escatológica em sua relação com Deus” (Dunn 1980, 28). Mas também isso está bem longe da possibilidade de Jesus ter pensado ser, ele mesmo, Deus (i.é, o Deus Filho).

Assim sendo, considerar esses dois elementos – o uso jesuânico da expressão abba e sua mensagem escatológica – como suficientes para conferir uma autoridade dominical implícita à crença da Igreja na divindade de Jesus é caminhar sobre um terreno bastante movediço.

O que fazer, porém, da sugestão de que ao “ab-rogar a lei de Moisés” e ao “perdoar pecados” Jesus estava implicitamente reclamando para si uma autoridade divina?

Jesus de fato ab-rogou a Torá, e de fato fez o que somente Deus pode fazer ao perdoar pecados? Como a literatura demonstra, aqui há muito espaço para desacordo entre os pesquisadores. Após um exame cuidadoso dos textos, E.P. Sanders diz: “Encontramos uma situação em que Jesus efetivamente exigiu a transgressão da lei: a exigência ao homem cujo pai morrera [“Segue-me, e deixa aos mortos o sepultar seus próprios mortos”, Mt 8,22). Afora isso, o material nos evangelhos não revela nenhuma transgressão da parte de Jesus. E, com uma única exceção, segui-lo não implicou transgressão por parte de seus seguidores. Por outro lado, existem claras evidências de que ele não considerou a dispensação mosaica da lei como final e absolutamente vinculatória”; e Sanders sugere, como razão para isso, que “foi a sensação que tinha Jesus de estar vivendo na virada de uma era para outra que lhe permitiu pensar que a lei mosaica não era final e absoluta” (Sanders 1985, 267). E ele conclui com referência ao perdão dos pecados: “A reivindicação muitas vezes repetida de que Jesus ‘colocou-se no lugar de Deus’ é exagerada. Freqüentemente se diz que ele fez tal coisa ao perdoar pecados; precisamos observar, contudo, que ele somente pronunciava o perdão, o que não é prerrogativa de Deus, e sim do sacerdócio.

Estes são pontos do tipo sobre o qual continuarão por muito tempo a existir argumentos, em ambas as direções, por parte dos especialistas no Novo Testamento. Existem diversas outras passagens relevantes que são debatidas, particularmente a parábola da vinha, em que o filho é morto (Mc 12,1-11; Mt 21,33-41; Lc 20,9-18); e o seguinte dito de Marcos: “Mas a respeito daquele dia ou daquela hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mc 13,32); bem como o de Mateus: “Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,27). A autenticidade de cada uma destas passagens enquanto ditos de Jesus tem sido seriamente questionada, e seu significado muito debatido. Mas, ao invés de tentar fazer um exame detalhado de cada uma delas, será suficiente citar aqui a conclusão a que chega James Dunn ao cabo de sua discussão detalhada de todos os materiais sinóticos que têm relação com a autocompreensão de Jesus: “Justamente quando nosso questionamento alcança o tópico decisivo (Tinha Jesus consciência de ser o Filho divino de Deus?), descobrimos que ele é incapaz de proporcionar uma resposta histórica clara” (Dunn 1980, 29). As evidências não concedem uma prova, ou mesmo um grau objetivo de probabilidade. Deve haver juízo histórico na ponderação de considerações divergentes; e as conclusões tiradas desses exercícios de ponderação inevitavelmente refletem a perspectiva e o compromisso mais gerais do autor. Neste ponto concordo com a observação de David Brown sobre a “situação de jogo entre os especialistas” com respeito à autoconsciência de Jesus, observação no sentido de que “o teólogo filosófico não pode deixar de suspeitar que razões apologéticas estão por trás de boa parte da energia devotada à questão” (David Brown 1985, 107). Com efeito, muitas vezes existe uma circularidade no uso da Escritura a fim de estabelecer conclusões teológicas debatidas. De modo geral, uma postura teológica mais ampla toma a dianteira, levando uma seleção de textos a partir do largo espectro de materiais neotestamentários a coadunar-se com aquela posição. Por conseguinte, seria perigoso basear uma fé na divindade de Jesus no juízo histórico segundo o qual ele mesmo reclamou, implicitamente, tal divindade para si. Caso já se tenha aceito uma forma de cristologia ortodoxa, pode-se razoavelmente interpretar algumas das palavras e ações de Jesus, assim como são apresentadas pelos escritores dos evangelhos, como sustentação implícita daquela crença. Mas parece estar claro que não é possível chegar de modo justificado à crença simplesmente a partir das evidências do Novo Testamento assim como estas são analisadas e interpretadas até agora pela comunidade de pesquisadores.

Uma segunda resposta diante da descoberta de que o próprio Jesus não reivindicou ser Deus encarnado é o uso do conceito “evento Cristo”. Esta idéia útil, porque elástica, é vastamente utilizada no presente para afastar a pressão colocada contra o pilar da autoridade dominical – que já se descobriu ser oco –, deslocando-a para o fato historicamente sólido da doutrina da Igreja. Aqui supõe-se que o “evento Cristo” consiste não só na vida de Jesus, mas também na formação da Igreja e no crescimento de sua fé na divindade de Jesus. É este conjunto maior de fatores, e não as próprias palavras e ações de Jesus, que se declara agora oferecer a autorização da crença de que ele foi o Deus encarnado.

A noção do “evento Cristo” parece ter surgido pela primeira vez na interpretação existencialista do Novo Testamento proposta por Rudolf Bultmann, interpretação segundo a qual a fé cristã não é uma resposta ao Jesus de Nazaré em grande parte desconhecido, mas sim à noção atual de Jesus como o Cristo; deste modo, sempre que “o Cristo” é proclamado, tem-se uma “continuação do evento de Cristo” (Bultmann 1955, 286). Na obra de Bultmann, o uso da idéia do evento Cristo refletia um forte ceticismo histórico e a conseqüente mudança de uma compreensão ontológica para uma compreensão existencialista de Cristo. No entanto, na obra de outro estudioso do Novo Testamento, John Knox, o evento Cristo possui um sentido eclesiástico (e portanto social) em vez de um sentido existencial (e mais individual). A fé cristã não está centrada somente na pessoa de Jesus de Nazaré, mas na memória desenvolvida pela Igreja – não, porém, uma memória comum no sentido literal, mas uma “memória” metafórica – acerca dele como seu Senhor divino (Knox 1967, 2s). Para Knox, “A expressão ‘Jesus Cristo nosso Senhor’ não designa primordialmente um indivíduo histórico do passado, mas uma realidade presente efetivamente experimentada dentro da vida comunitária” (Knox 1967, 2). Na verdade: “A Igreja é a realidade cristã distintiva (...). E é porque a Igreja é corpo [de Cristo] e, na história, seu único corpo, que muitas vezes usamos as palavras ‘Cristo’ e ‘Igreja’ de maneira intercambiável, dizendo ‘em Cristo’ quando queremos referir-nos ao que realmente significa estar – e realmente estar – na Igreja. É esta corporificação ou encarnação (isto é, a Igreja) que é mais imediatamente conhecida – na verdade, a única que é imediatamente conhecida. (...) E por isso digo mais uma vez: a Encarnação originalmente não teve lugar dentro dos limites da existência particular de um indivíduo, mas sim na nova realidade comunitária, em princípio coextensiva com a humanidade, da qual ele foi o centro criativo” (Knox 1967, 66-7).

A esta altura somente irei tecer um comentário e fazer uma pergunta. O comentário resume-se em dizer que este tipo de pensamento, no qual o cristianismo já não está centrado na pessoa de Jesus, mas sim na Igreja, afastou-se um bom trecho da crença tradicional de que Jesus, o indivíduo histórico, foi ele próprio o Deus Filho encarnado. E a pergunta inevitável torna-se então: a Igreja cristã, como uma realidade dentro da história humana, tem sido tão gloriosamente diferente de todas as outras sociedades humanas a ponto de justificar-se uma reivindicação sua à divindade? Pensar em Jesus como um ser divino de algum modo faz sentido, intuitivamente falando; mas faz o mesmo sentido pensar a Igreja cristã como algo divino?

Outros teólogos contemporâneos importantes utilizam o conceito do evento Cristo como uma forma de consertar a tessitura da doutrina ortodoxa, danificada após os efeitos da crítica do Novo Testamento. Assim, John Macquarrie diz que o uso dessa concepção em certa medida minimiza os problemas que surgem de nossa falta de informação a respeito do Jesus histórico. Digamos que a vinda à existência por parte da Igreja ou do movimento cristão é mais visível e claramente atestada na história do que a carreira pessoal do rabino de Nazaré. E se pensamos que tanto Jesus como a comunidade são abarcados pelo evento Cristo, isso não significa apenas ser fiel ao caráter inevitavelmente social de toda existência humana, mas dissolve também algumas questões que costumavam ser debatidas com alguma veemência entre homens de igreja, que discordavam sobre o que vem de Jesus e o que vem da comunidade. Por exemplo: se os assim chamados sacramentos “dominicais” foram instituídos por Jesus ou por seus seguidores, ou talvez em parte por ambos, torna-se uma questão de pouca importância a partir do momento que se reconhece não existir uma linha divisória nítida entre Jesus e a comunidade. Em alguns dos livros mais antigos sobre cristologia, atribuía-se ainda mais importância à questão como Jesus se autocompreendia. Ele considerava a si mesmo como Messias, ou designava-se Filho do Homem em algum sentido escatológico especial desse termo? Foi ele o primeiro a aplicar a si mesmo a imagem do servo sofredor do Dêutero-Isaías? Ele considerou a si mesmo como alguém que se encontrava em uma relação única com o Pai? Ou algumas dessas formas de pensar, ou quem sabe todas elas, originaram-se entre os seus discípulos? Penso que não pode haver nenhuma resposta segura a estas questões. Mas acho também que a importância destas questões foi exagerada. Nós não necessitamos conhecer os pensamentos íntimos de Jesus, e, de qualquer modo, não podemos conhecê-los. Quando o colocamos em seu contexto e reconhecemos que ele não pode ser abstraído de sua comunidade e das respostas dessa comunidade para ser composto a partir dos títulos aplicados a ele, então muitas de nossas questões, embora continuem a possuir um certo interesse histórico, deixam de ser tão decisivas em cristologia (Macquarrie 1990, 21-2).

Vê-se aqui como pode ser útil a idéia do “evento Cristo” na tarefa de dissipar questões potencialmente explosivas. Já não importa como Jesus se autocompreendeu. Já não importa, por exemplo, se ele se considerou como alguém que se encontrava em uma relação única com o Pai celeste. Isso porque a encarnação consiste, para Macquarrie, na existência da comunidade cristã, incluindo-se nisso as crenças que a mesma desenvolveu acerca de Jesus. Assim, afirmar a encarnação é afirmar a Igreja e a narrativa cristã pela qual esta vive; e isso não requer um juízo prévio ou independente de que a narrativa seja literalmente verdadeira. Uma posição um tanto semelhante é apresentada por Schubert Ogden quando diz que “o sujeito real da asserção cristológica não é o Jesus histórico ou, como agora podemos dizer mais precisamente, o Jesus empírico-histórico, em relação ao qual o estrato mais antigo do testemunho cristão deve ser usado como fonte histórica. Antes, o sujeito da asserção cristológica é o Jesus existencial-histórico, em relação ao qual este mesmo estrato mais antigo do testemunho cristão desempenha o papel um tanto diferente da norma teológica” (Ogden 1982, 56).

Contudo, o conceito do “evento Cristo” tem o mérito de chamar a atenção para algo importante. O significado da vida de alguém para outras pessoas não consiste apenas na realidade concreta daquela vida em si, mas também na(s) forma(s) em que este alguém é percebido, reverenciado ou denegrido, recordado e respondido pelos outros. Isso é verdadeiro a respeito de todas as figuras históricas, tanto boas como más, sejam elas São Francisco ou Átila, George Washington ou Hitler. Elas se tornaram parte da história pública em termos das memórias e narrativas, das lealdades e dos ódios dos outros, sendo conhecidas pelos valores que se considera encarnarem. Isso também é verdade em relação a Jesus. Sabemos a seu respeito somente porque outros responderam a ele e ainda outros responderam às respostas destes, de sorte que se desenvolveu um movimento que, de modo quase inevitável, veio a considerá-lo divino no sentido extremamente elástico em que figuras religiosas e políticas proeminentes muitas vezes eram tidas como divinas no mundo antigo. Esta divindade “fraca”, expressa na metáfora “filho de Deus”, finalmente se desenvolveu até chegar à reivindicação metafísica “forte” de que Jesus era o Deus Filho, segunda pessoa de uma Trindade divina, encarnada. Mas usar o conceito do “evento Cristo” para validar este desenvolvimento implica estender de maneira arbitrária aquele “evento” altamente flexível no mínimo até o Concílio de Nicéia (325 dC), incluindo, de preferência, o Concílio de Calcedônia (451 dC).

A terceira resposta à falta de autoconsciência divina em Jesus ou, de qualquer modo, à falta de qualquer indicação de uma tal autoconsciência, tem um parentesco íntimo com isso. Porém, ao invés de utilizar o conceito do “evento Cristo”, e estendê-lo a fim de incluir o desenvolvimento da ortodoxia trinitária, ela fala do Espírito Santo como o guia da Igreja em seu desenvolvimento teológico. Esta é principalmente uma posição católico-romana. Por isso diz M. Schmaus: “O que o Espírito Santo concedeu aos discípulos foi uma compreensão verdadeira de Jesus Cristo e de sua obra” (Schmaus 1972, 42); e Hugo Meynell afirma a respeito da evolução da cristologia da Igreja: “Do ponto de vista cristão ortodoxo, este desenvolvimento deve ser, em última análise, atribuído à providência divina” (Meynell 1986, 107). O Vaticano II declarou: “Esta tradição que vem dos apóstolos desenvolve-se na Igreja com o auxílio do Espírito Santo” (Abbott 1966, 116 – Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina, cap. 2, par. 8). E o Cardeal Ratzinger chega a dizer o seguinte a respeito da história da Igreja: “Esta história é, em sua totalidade, uma manifestação do Espírito Santo” (Ratzinger 1987, 131). Como anglicano, Richard Swinburne afirma que a revelação divina exige ou uma autoridade interpretativa infalível, que pode ser representada pelo papa ou pelos concílios (ou por ambos), ou “uma direção geral de Deus, que permite erros aqui e ali mas que garante a estrutura básica da fé” (Swinburne 1989, 82-3). E Stephen Davis, protestante evangélico, diz da cristologia de Calcedônia: “Confesso uma forte crença de que a Igreja foi conduzida à doutrina clássica pelo Espírito Santo” (Davis 1988, 43). A pretensão de que a orientação divina incidiu sobre a teologia da Igreja em desenvolvimento é instigada pelas imensas diferenças entre essa teologia e a mensagem do próprio Jesus. Mas deveria ser evidente que um apelo ao Espírito Santo nada pode acrescentar à defesa da verdade do dogma de Calcedônia ou de qualquer outro. Ao propor o dogma adicional de que aqueles que criaram o dogma original foram divinamente guiados, simplesmente se desloca o ponto de debate: de uma crença de primeira ordem passa-se à crença de segunda ordem de que a crença de primeira ordem é divinamente garantida. Mas não temos nenhum modo de determinar se os concílios foram de fato divinamente inspirados, a não ser avaliando seus pronunciamentos. Se podemos aceitar estes pronunciamentos como verdadeiros, poderíamos aceitar que os autores foram inspirados ao fazê-los; do contrário, não. Aqui existe uma circularidade óbvia: acredita-se que o dogma é verdadeiro porque os concílios ecumênicos foram divinamente guiados ao declará-lo verdadeiro, e acredita-se que foram divinamente guiados porque se acredita que o dogma é verdadeiro. Aqui não há escapatória da questão relativa aos fundamentos de primeira ordem do dogma. Assim, esta terceira resposta acaba sendo enganosamente redundante.

A quarta linha de resposta ao reconhecimento de que o Jesus histórico não se autoconcebeu como Deus encarnado tem se dado no abandono do Jesus terreno em favor do Cristo celestial ou cósmico (na tradição católica) ou do Jesus ressuscitado experimentado no presente (no protestantismo evangélico), ambos entendidos como o objeto da fé cristã.

O enfoque católico é expresso por Eric Mascall: “É básico para a nossa fé o fato de que o Cristo que conhecemos hoje é o Cristo histórico, mas, para nos familiarizarmos com ele, não dependemos da pesquisa dos historiadores ou dos arqueólogos. Ele também é o Cristo celestial, e como tal é o objeto de nossa experiência presente, mediado através da vida sacramental da Igreja” (Mascall 1985, 38-9).

A linguagem evangélica de que “Jesus está comigo”, “guiando minhas decisões” e assim por diante, reflete um tipo de experiência religiosa de alcance mundial, na qual se sente que um guru ou um deus está espiritualmente presente junto ao crente. Pense-se, por exemplo, no hino cristão “No Jardim”, com seu refrão “Ele anda comigo, fala comigo e me diz que sou seu”; ou no spiritual que reza: “Tenho uma conversinha com Jesus e lhe conto meus pesares”; e termina dizendo: “Uma simples conversinha com Jesus faz tudo ficar bem, bem, bem”. Em provável continuidade com isso – do ponto de vista da descrição psicológica – está a vívida impressão, relatada com abundância, de que uma pessoa querida já morta (em geral recentemente) encontra-se presente de modo invisível, confortando, guiando ou desafiando alguém em alguma situação do presente.

Eu absolutamente não desejaria excluir a possibilidade de que as pessoas que morreram possam às vezes estar presentes dessa forma para os vivos, e que isso também pode ter sido verdade no tocante a Jesus durante os dias e semanas que sucederam sua morte. Mas a experiência evangélica de estar falando hoje com um Jesus invisível – ou algumas vezes, no caso dos católicos, com uma Virgem Maria invisível ou com um santo glorificado – deve ser entendida, juntamente com a percepção do Cristo cósmico, de um modo que também se aplica a fenômenos comparáveis dentro de outras tradições religiosas. Um sem-número de exemplos de experiências vivas daquilo que se considera ser uma presença divina pessoal encontramos no livro de William James, Varieties of Religious Experience (3ª Conferência), bem como na coleção de textos contemporâneos Seeing the Invisible: Modern Religious and Other Transcendent Experiences, textos estes extraídos dos relatos compilados pelo Centro de Pesquisa Alister Hardy em Oxford. Esses relatos registram muitos casos de uma experiência de encontro com Jesus, esboçada com base nas narrativas dos Evangelhos (Maxwell 1990, 78-9, 83, 104-5, 142, 150, 166). Existem relatos similares, tirados de fontes hindus, acerca do encontro com o Senhor Krishna (Klostermeier, 1969, 15) ou com a Mãe Kali (Isherwood 1965, 65s). Às vezes ouve-se uma voz, e às vezes a experiência é cercada de uma luz brilhante (James 1960, 251s; Maxwell 1990, 165), de forma idêntica ao exemplo de Paulo no caminho de Damasco. Como no caso de todas as formas de experiência religiosa, são possíveis tanto uma interpretação religiosa como uma interpretação naturalista. Do ponto de vista naturalista, todas essas experiências devem ser vistas como alucinações. Do ponto de vista religioso, porém, elas devem ser testadas por meio de seus frutos; e, se estes promovem a transformação humana salvífica que leva do autocentramento a um novo centramento na Realidade divina, elas devem ser aceitas como modos pelos quais o Transcendente veio à consciência na experiência de pessoas formadas pelas diferentes tradições. Assim, tais experiências são, conjuntamente, produtos da presença universal do Real último; das circunstâncias especiais que fazem com que, em momentos particulares, os indivíduos se abram àquela realidade; e dos conceitos e imagens em termos dos quais sua experiência consciente é construída.

Acabamos de tomar conhecimento das várias formas em que os teólogos responderam ao fato de Jesus não ter pretendido ser Deus encarnado. E vimos que nenhuma dessas formas pode eximir os defensores da deificação de Jesus da tarefa de justificar um passo tão importante. Uma tal justificação implica demonstrar duas coisas: que o processo pelo qual se produziu a deificação é um processo que podemos considerar válido; e que a doutrina daí resultante é coerente e crível em si mesma.

Mas, antes de examinar a coerência da doutrina tradicional, vamos considerar, no próximo capítulo, a maneira pela qual ela parece ter surgido enquanto um objeto da história.

A afirmação eclesial da divindade de Jesus

Nossa próxima tarefa, então, será considerar o desenvolvimento histórico desde o Jesus de Nazaré terreno ao Cristo divino da fé, da teologia, da pregação e dos sacramentos cristãos ortodoxos. Como foi que ocorreu essa transição imensamente significativa? Ao fazer esta pergunta, temos de avaliar a diferença entre o ambiente intelectual do primeiro século da era cristã e o ambiente de nosso Ocidente moderno industrializado, dominado pela ciência e secularizado. Eis aqui algumas palavras de James Dunn que recomendam cautela: “Quando os primeiros cristãos chamaram Jesus de ‘filho de Deus’, que significado teria isso para os seus ouvintes? (...) precisamos fazer o esforço de sintonizar nossa maneira de escutar a fim de ouvir com os ouvidos dos contemporâneos dos primeiros cristãos. Devemos tentar cumprir a tarefa extremamente difícil de banir de nossas mentes as vozes dos antigos Padres da Igreja, dos concílios e dos teólogos dogmáticos ao longo dos séculos; e isso se no caso de terem afogado as vozes mais antigas, e de as vozes mais antigas tiverem dito algo diferente, e estas pretendessem que suas palavras falavam a seus ouvintes com uma força diferente” (Dunn 1980, 13-14). De nosso ponto de vista hodierno, seriam necessários milagres de fazer tremer a terra, que revirassem toda a concepção de mundo secular já estabelecida, para que um indivíduo histórico fosse considerado também Deus. Isso porque, sob a influência de séculos de pensamento cristão, passamos a significar com a palavra “Deus” o eterno, o onipotente e onisciente criador do universo. No mundo antigo, porém, o conceito de divindade era definido de maneira muito menos clara, e as condições para seu uso eram marcadas por exigências muito menores. Aquele era um mundo em que havia, na expressão de São Paulo, “muitos deuses e muitos senhores” (1Cor 8,5). Assim, para citar novamente o Arcebispo Michael Ramsey: “O título ‘Filho de Deus’ não precisa por si mesmo possuir grande significado, pois em círculos judeus ele poderia significar o mesmo que o Messias ou inclusive a nação israelita como um todo, e no helenismo popular havia muitos filhos de Deus, entendendo-se, sob isso, homens santos e inspirados” (Ramsey 1980, 43). Explicando ainda mais o tema, Dunn destaca que, no mundo romano do período do Novo Testamento, as palavras “divino” e “filho de Deus”, e mesmo “Deus”, eram usadas de modo mais ou menos intercambiável. Heróis “eram freqüentemente chamados de ‘divinos’ em Homero e, de Augusto em diante, ‘divino’ tornou-se um termo fixo no culto imperial, ‘o César divino’. Na outra ponta do mesmo espectro, o termo poderia simplesmente significar ‘pio’, ‘piedoso’. (...) Mais uma vez descobrimos que os heróis eram às vezes chamados de ‘deuses’; e que ‘deus’ era um título comum de imperadores e reis a partir dos tempos h será saudado como o Filho de Deus, e o chamarão Filho do Altíssimo” Esse uso flexível e permissivo continuou , 16-17).

Referindo-se especificamente ao conceito “filho de Deus”, Dunn diz que alguns dos heróis legendários do mito grego eram chamados filhos de Deus – em particular Dioniso e Hércules eram filhos de Zeus com mães mortais. Governantes orientais, especialmente egípcios, eram chamados filhos de Deus. Sobretudo os ptolomeus do Egito reivindicaram o título de “filho de Hélio” a partir do século IV aC, e no tempo de Jesus a expressão “filho de Deus” (huios theou) era muito utilizada com referência a Augusto. Também de filósofos famosos, como Pitágoras e Platão, dizia-se às vezes que foram gerados por um Deus (Apolo). E na filosofia estóica pensava-se que Zeus, o ser supremo, era o pai de todos os homens (...) (Dunn 1980, 17).

Dunn conclui: “A linguagem da filiação divina e da divindade possuía uso difundido e variado no mundo antigo e teria sido familiar aos contemporâneos de Jesus, de Paulo e de João num amplo leque de aplicações” (Dunn 1980, 17). Evidência adicional disso é que os manuscritos do Mar Morto se referem a alguém que “será chamado filho do Grande Deus. Ele será saudado como o Filho de Deus, e o chamarão Filho do Altíssimo”. Esse uso flexível e permissivo continuou a existir por um bom período de nossa era cristã. Escrevendo em torno do ano 200, Clemente de Alexandria, por exemplo, afirmou: “Também alguns dos indianos obedecem aos preceitos de Buda que, por causa de sua extraordinária santidade, eles elevaram às honras divinas” (Clemente 1956, 316; Livro I, cap. 15). Deter honras divinas, ser divino, ser um deus ou um filho de Deus eram todos itens pertencentes ao mesmo amplo espectro do divino.

Em vista desta elasticidade da idéia de divindade no mundo antigo, inclusive no judaísmo do primeiro século, não é de modo algum surpreendente ou notável que Jesus viesse a ser tido como alguém pertencente à classe das pessoas divinas. Mesmo durante sua vida, a sua qualidade especial de santo profeta e impressionante pregador e curandeiro bem pode ter sido reconhecida dessa forma. Como diz o especialista em Novo Testamento Maurice Casey: “Jesus podia ter sido chamado filho de Deus por qualquer um que pensasse ser ele uma pessoa particularmente justa: dada a sua habilidade como exorcista, pessoas que acreditavam estar possuídas pelo mal bem poderiam ter usado aquele termo com referência a uma figura tão obviamente santa e eficaz” (Casey 1991, 46). E após a sua morte e os eventos da ressurreição, quando ele veio a ser identificado por seus seguidores como o Messias, da linhagem real de Davi, o título “filho de Deus” de novo seria natural e apropriado. De fato, podemos até mesmo dizer que teria sido surpreendente se Jesus não tivesse compartilhado da difundida divinização honorífica de figuras religiosas destacadas, e se a metáfora hebraica de “filho de Deus” não tivesse sido aplicada a ele.

Digo “metáfora”, muito embora no mundo antigo não se traçasse com nitidez a nossa distinção moderna entre o uso literal da linguagem e seus vários usos metafóricos e não-literais de outra espécie. Na tradição hebraica, o significado de um acontecimento lembrado pessoal ou comunitariamente, ou então de uma pessoa encontrada nessas mesmas formas, era prontamente expresso em termos metafóricos e míticos. Aquela era “uma cultura acostumada à expansão, ao estilo do Midrash” (Casey 1991, 52). Com efeito, toda a linguagem bíblica a respeito de Deus e de suas manifestações no mundo é, em bem grande parte, metafórica. Deus é descrito nas Escrituras hebraicas como rei, pastor, pai e rocha. No Novo Testamento, a imagem-chave é a do pai, de sorte que esta imagem e sua imagem correlativa de um filho tornaram-se centrais no discurso cristão. Em seu uso escriturístico original, todas estas são – em termos de nossa distinção moderna –, de modo manifesto, metáforas. Literalmente, um pai é um ascendente masculino imediato. Deus, porém, é espírito, para além da distinção biológica entre masculino e feminino, e não gera filhos de modo literal – se bem que a idéia do “nascimento virginal” de Jesus (ou mais precisamente: da concepção virginal) chegue perigosamente próxima disso. Mas, quando falamos de Deus como nosso Pai celeste, estamos fazendo uso de uma metáfora poderosa que retrata a atitude divina com a humanidade como sendo, de uma maneira importante, análoga à de um pai ou mãe ideais.

Assim sendo, no caso da linguagem do “filho de Deus”, temos aquilo que era, no mundo antigo, uma metáfora amplamente utilizada e prontamente compreendida, ainda que a teologia cristã subseqüente viesse a tratá-la como uma linguagem dotada de sentido literal. Citarei aqui o erudito judeu Geza Vermes: “A expressão ‘filho de Deus’ sempre foi entendida metaforicamente em círculos judeus. Nas fontes judaicas, seu uso jamais implica a participação da pessoa assim denominada na natureza divina. Em conseqüência, pode-se seguramente presumir que, se o meio no qual a teologia cristã se desenvolveu tivesse sido hebraico e não grego, ela não teria produzido uma doutrina da encarnação assim como esta é tradicionalmente compreendida” (Vermes 1983, 72).

No entanto, pareceu a alguns, e pode ser o caso, que Paulo constitui uma exceção ou uma exceção parcial pelo fato de ter sido alguém cujo modo de pensar era distintamente judeu, mas que, não obstante isso, chegou até a idéia de Jesus como o único Filho de Deus encarnado. Paulo pode ser compreendido, e de fato o foi, de várias maneiras; isto porque (em suas cartas) ele é geralmente exortativo e retórico e não preciso em termos conceituais. Ao invés de escrever teologia sistemática, ele prega a grupos cristãos com suas particularidades. Fala de Jesus como o Senhor Jesus Cristo e como o Filho de Deus; e em sua última carta, aos colossenses – se é que esta é de Paulo (muitos especialistas duvidam disso) –, sua linguagem se move na direção da deificação. Naturalmente, porém, a pergunta é: o que esta linguagem significou para o escritor e seus leitores no primeiro século? A imagem central utilizada por Paulo, a de pai e filho, sugere inevitavelmente (e sugeriu com ênfase ainda maior no mundo antigo) a subordinação do filho ao pai. E nos escritos de Paulo não é possível dizer que Deus e o Filho de Deus sejam co-iguais, como mais tarde se declarou serem as pessoas da Santíssima Trindade. A noção de Jesus como Filho de Deus é, na verdade, pré-trinitária. A posição teológica de Paulo, cuidadosamente enunciada na Epístola aos Romanos, parece – segundo o sermão petrino de Pentecostes narrado por Lucas em Atos – afirmar que Jesus foi um homem elevado por Deus, em sua ressurreição, a um status especial e importante de maneira única. A respeito de Jesus, Paulo diz que, “segundo a carne, ele veio da descendência de Davi, e foi poderosamente demonstrado Filho de Deus, segundo o espírito de santidade, pela sua ressurreição dos mortos” (Rm 1,3-4). O papel subordinado do Filho é deixado claro de modo ainda mais inequívoco em 1Cor, onde, ao falar da futura ressurreição geral, Paulo diz que Cristo irá aparecer primeiro, “depois os que são de Cristo, na sua vinda. E então virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. (...) Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos” (1Cor 15,23-28).

Contudo, tem-se argumentado, com base no tema da quenose do hino em Fl 2,5-11 (“a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tendo nascido em semelhança de homens [...]”), e em passagens como Gl 4,4 (“Deus enviou seu Filho, nascido de mulher [...]”), que para Paulo Jesus era um ser preexistente que Deus enviou ao mundo – uma idéia que poderia estar ligada a concepções judaicas de entidades intermediárias (Sabedoria, Palavra, anjos) entre Deus e a humanidade. Nesse caso, Paulo está mais próximo da idéia desenvolvida da encarnação divina do que sugere o conteúdo geral de seus escritos. Mas a questão demonstrou ser altamente discutível, e na verdade pertence ao tipo de questões objetivamente sem solução na exegese do Novo Testamento, e provavelmente continuarão a alimentar pontos de vista conflitantes. James Dunn conclui, após um exame cabal de todos os textos relevantes: “É possível que nas duas passagens, ao falar do Deus que envia seu Filho (Rm 8,3 e Gl 4,4), ele pretenda supor que o Filho de Deus era preexistente e se encarnou como Jesus; mas é igualmente verossímil, de fato provavelmente mais verossímil, que o sentido pretendido por Paulo não se estenda tão longe, e que nestes momentos ele e seus leitores simplesmente pensavam, em relação a Jesus, que ele era a pessoa encarregada por Deus de participar totalmente da fragilidade, do cativeiro e do pecado humano, e cuja morte realizou o propósito libertador e transformador de Deus para com o ser humano” (Dunn 1980, 46). Mas uma vez que, a esta altura, faz pouca diferença se Paulo estava mais próximo das interpretações mais antigas ou mais tardias acerca de Jesus, nesta questão, não irei além deste ponto. De modo provisório, considero que seu pensamento está mais ou menos na altura de um terço do caminho histórico que conduz da designação honorífica do Jesus humano como “filho de Deus” – e a seguir mais especificamente como “o filho de Deus” (com o F maiúsculo suplantando, no devido momento, o f minúsculo) –, até se chegar, finalmente, após vários séculos de debates, a designá-lo como o Deus Filho, segunda pessoa de uma Trindade divina.
A Igreja que crescia e se desenvolvia tinha de explicar as suas crenças em termos filosóficos aceitáveis, tanto para a cultura de fala grega do mundo mediterrâneo como para si mesma; e, depois da conversão do imperador Constantino ao cristianismo, a paz do Império passou a exigir um conjunto unitário de crenças cristãs. Por isso, Constantino convocou em 325 o Concílio de Nicéia, “com o propósito de restaurar a concórdia na Igreja e no império” (Pelikan 1985, 52); e foi nele que pela primeira vez a Igreja adotou oficialmente, da cultura grega, o conceito não-bíblico de ousia, declarando que Jesus, como o Deus Filho encarnado, era homoousios toi patri, da mesma substância que o Pai. As metáforas bíblicas originais foram daí por diante relegadas, para propósitos teológicos, ao nível da linguagem popular que aguardava interpretação, ao passo que uma definição filosófica tomou o seu lugar para objetivos oficiais. Um filho de Deus metafórico se transformara no Deus Filho metafísico, segunda pessoa da Trindade. O significado político disso foi que o imperador cristão possuía agora o status de vice-rei de Deus na terra. Assim, ao escrever sobre a vitória de Constantino diante de seu rival Licínio, o historiador contemporâneo Eusébio diz que Constantino e seu filho, “sob a proteção de Deus, o Rei universal, tendo o Filho de Deus, Salvador de todos, como seu líder e aliado, juntaram suas forças de todos os lados contra os inimigos da Divindade, chegando a uma fácil vitória” (Eusébio 1952, 386; Livro X, cap. 9, par. 4).

A formulação nicena foi aumentada, com o uso da mesma conceptualidade filosófica, no Concílio de Calcedônia em 451, afirmando que Cristo era “homoousios com o Pai quanto à sua divindade, e ao mesmo tempo homoousios conosco quanto à nossa humanidade (...), dado a conhecer em duas naturezas [que existem] sem confusão, sem modificação, sem divisão, sem separação (...)”. E é esta formulação de Calcedônia que, desde então, constituiu a linguagem cristã oficial a respeito de Cristo.

A linguagem metafórica da Bíblia cria de modo natural comunicação com todos que habitam ou possam adentrar imaginativamente em seu universo de discurso. Ainda temos pais e filhos, e, menos universalmente, reis e pastores como parte de nosso mundo conceitual; e, fazendo valer apenas um pouco de esforço imaginativo, podemos apreciar o hábito antigo de conceber uma pessoa espiritualmente próxima de Deus, como um servo fiel de Deus, tal como um Filho de Deus. Metáforas como esta estabelecem comunicação com sucesso, porque foram formadas dentro do discurso ordinário da época. Mas a fórmula de Calcedônia é um artefato filosófico, que contém todo o sentido fixado por ela, nada mais nada menos. Fórmulas como esta impressionam precisamente porque seu único sentido é técnico e conhecido apenas dos eruditos. Contudo, um minucioso exame crítico e de cunho filosófico dessas construções conceptuais sempre deve estar na ordem do dia. E nesse caso, precisa-se considerar a possibilidade de que a fórmula, que à primeira vista parece tão firme e definitiva, seja incapaz de ser explicada de qualquer maneira religiosamente aceitável. A intenção por trás dela era excluir qualquer compreensão de Jesus que negasse, quer sua divindade plena e autêntica, quer sua humanidade plena e autêntica. Mas talvez isso não possa ser feito! Se a fórmula é constituída de tal maneira que qualquer explicação pormenorizada de seu significado venha a ter implicações que entram em conflito com um ou outro daqueles desideratos, então a fórmula representa um fracasso. Se todas as tentativas de explicá-la revelam-se inaceitáveis, ela somente pode funcionar como um pronunciamento ritual, cujo sentido não deve ser examinado muito de perto e que somente pode servir para inibir e ensandecer o pensamento.

Esta é a lição, creio eu, dos debates cristológicos iniciados já antes da época de Nicéia e conduzidos até os dias de hoje. Naturalmente é impossível provar que ninguém conseguirá, no futuro, tornar inteligível a fórmula das duas naturezas de modo válido em termos religiosos. Segundo penso, porém, é possível mostrar que isso ainda não foi feito, a despeito de tantos entre os melhores cérebros cristãos terem tentado fazê-lo, ou apesar de terem recuado diante da tarefa como algo irrealizável, geração após geração.