sexta-feira, 23 de maio de 2014

(Vídeo) André Chevitarese: O que Caracteriza uma Religião?

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O juiz federal Eugenio Rosa de Araújo, da 17.ª Vara Federal do Rio, afirmou em uma sentença que "as manifestações religiosas afro-brasileiras não se constituem em religiões". Referindo-se à umbanda e ao candomblé, o magistrado afirmou que "não contêm os traços necessários de uma religião" por não terem um texto-base (como a Bíblia ou o Corão), uma estrutura hierárquica nem "um Deus a ser venerado". 
O episódio começou no início do ano, quando a Associação Nacional de Mídia Afro levou ao conhecimento do MPF, por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, um conjunto de vídeos veiculados na internet por meio do site YouTube.
Segundo essas gravações, as religiões de origem africana estão ligadas ao "mal" e ao "demônio". Um dos vídeos afirma que "não se pode falar em bruxaria e magia negra sem falar em africano" e outro associa o uso de drogas, a prática de crimes e a existência de doenças como a aids a essas religiões.
Embora as opiniões sejam atribuídas a grupos evangélicos, não foi possível identificar quem publicou ou divulgou essas gravações na internet.
Para o Ministério Público Federal, esses vídeos disseminam o preconceito, a intolerância e a discriminação a religiões de origem africana. Por isso, o órgão enviou recomendação ao Google no Brasil para que retirasse as gravações da internet. Mas a empresa se negou a atender o pedido, afirmando que o material divulgado "nada mais é do que a manifestação da liberdade religiosa do povo brasileiro" e que os vídeos discutidos não violam as regras da empresa. Diante da postura do Google, o MPF foi à Justiça para pedir a retirada dos vídeos. Mas o juiz não atendeu o pedido. "Os vídeos contidos no Google são manifestações de livre expressão de opinião", afirmou Araújo.
Solidariedade. O procurador da República Jaime Mitropoulos já recorreu da decisão ao Tribunal Regional Federal da 2.ª Região. "O ordenamento jurídico brasileiro estabelece que as relações sociais devem primar pela solidariedade, liberdade de crença e de religião, pelo respeito mútuo, pela consagração da pluralidade e da diversidade. A liberdade de expressar crença religiosa ou convicção não serve de escudo para acobertar violações aos direitos humanos, atacando ou ofendendo pessoa ou grupo de pessoas", afirma o procurador.
"Realmente, não há uma hierarquia nem um código canônico que oriente as religiões de origem africana, mas isso não faz com que elas não sejam religiões. Além de serem religiões, o candomblé e a umbanda são filosofias de vida e manifestações culturais enraizadas no Brasil", afirmou Manoel Alves de Souza, presidente da Federação Brasileira de Umbanda.

domingo, 11 de maio de 2014

A origem do deus de Israel


Como muitos devem saber Yahweh (ou Javé, Iavé ou Jeová) é o deus nacional da chamada Era do Ferro dos reinos de Israel e Judá. As origens da adoração de Yahweh são obscuras, mas o que se sabe é que sua veneração pode remontar o último período tardio da era do Bronze. Para saber mais sobre as chamadas "Era do Ferro" e "Era do Bronze" pesquise na Internet, ou em em livros especializados em história antiga da região conhecida como Levante.

O nome de Yahweh começa como um epíteto do deus cananeu El, que era a deidade chefe do panteão cananeu da era do Bronze de Canaã. "El, aquele que está presente, ou aquele que se manifesta pessoalmente". Há a hipótese de que Yahweh tenha sido um deus do Norte da Arábia (segundo a hipótese dos Queneus). Em qualquer um dos casos, o que é bem claro é que Yahweh aparece como nome único, tanto para Israel e para Judá. O que não está claro é se esse nome era conhecido fora destes dois reinos.

Na literatura bíblica antiga (cuja tradição remonta os séculos 12 ou 11 antes de Cristo), Yahweh é um típico deus guerreiro do Leste, e divindades desse tipo eram comuns naquela região. Yahweh conduzia o exército celestial contra os inimigos de Israel. O que diferencia a história de Yahweh e de Israel é que ambos tinham um pacto, um fato único naquela região. As condições é que Yahweh protegeria Israel, e Israel por sua vez não adoraria outros deuses. Em um período tardio a veneração à Yahweh funcionou como um culto dinástico (o deus de uma realeza), e a corte real o promoveu como um deus supremo acima de todos os outros deuses do panteão, incluindo Baal, El e Asherah. A deusa Ashera, segundo o que as escavações arqueológicas mostraram, e segundo a opinião de eruditos bíblicos, era venerada como a esposa de Yahweh. Em um dado momento o Javismo (como é chamado o culto exclusivo à Yahweh ou Javé) se tornou excessivamente intolerante aos rivais, e a realeza e o templo promoveram Yahweh como deus de todo o Universo, possuindo todas as qualidades previamente positivas de todos os outros deuses e deusas. Com os escritos do Dêutero Isaías (que é o segundo autor do livro de Isaías), a existência dos deuses estrangeiros foi negada, e Yahweh foi proclamado como criador do Cosmos, e deus de todo o Mundo.

Nos tempos bíblicos posteriores, a pronúncia do nome de Yahweh foi cessando. No Moderno Judaísmo, este nome foi substituído por "Adonai", que significa Senhor. Isso deve ser entendido como sendo o nome próprio de Deus, e que indica sua misericórdia. As bíblias cristãs seguem a tradição judaica, e usam o título Senhor. O Vaticano baniu o uso de Yahweh na adoração vernacular em 2008, e a chamada Congregação para a Adoração Divina e Disciplina dos Sacramento orienta que a palavra Senhor e seus equivalentes em outras línguas sejam usados. A despeito disso, o Movimento do Sagrado Nome, em atividade desde 1930, propaga o uso do nome Yahweh nas translações bíblicas e liturgia.

Na Bíblia hebraica, o nome do deus de Israel aparece como YHWH (forma latinizada), em virtude do hebraico bíblico usar apenas consoantes. A pronúncia original de YHVW se perdeu séculos atrás, mas as evidências disponíveis indicam que era algo parecido como "Yahweh", cujo significado aproximado é "Ele que causa ser" ou "Ele que cria (criação)". Como foi dito acima, as origens deste deus são incertas e obscuras, mas uma hipótese, que não é universalmente aceita, é que o nome originalmente formava parte de um título de El, que é o deus cananeu supremo. Este título era El Du Yahwi Saba'ôt, "El, aquele que cria os exércitos", significando que o exercito celestial acompanha El, quando ele marchava com os exércitos terrestres de Israel. Uma hipotese alternativa conecta o nome do deus de Israel como um nome de lugar ao sul de Canaã, que é mencionado em gravações egípcias da Idade do Bronze tardia.

As evidências arqueológicas sugerem que os israelitas surgiram internamente e pacificamente nas terra de Canaã. Nas palavras do arqueologista William Dever: "Muitos daqueles que se chamavam a si mesmo de Israelitas eram nativos ou aborígenes canaanitas". O que distingue Israel de outras sociedades e povos que surgir na Era do Ferro de Canaã é a crença em Yahweh como deus nacional, ao invés de, por exemplo, Quemós, o deus de Moabe, ou Milcom, o deus dos Amonitas. Como hoje se sabe, o hebraico, o moabita e o amonita são idiomas parecidos, e os moabitas talvez até falassem o hebraico.

Numerosas evidências conduziram os escolásticos e eruditos à conclusão de que El era o deus original de Israel. Por exemplo, a palavra "Israel" é baseada no nome de El ao invés de Yahweh. El era o deus chefe do panteão canaanita, com a deusa Ashera como sua consorte, e Baal e outras divindades também fazendo parte do panteão. Yahweh surgiu então como um deus guerreiro, originário da região de Edom ou Midiã, no sul de Judá, e foi introduzido ao norte e nas terras centrais das tribos por tribos tais como os Queneus. O erudito K. Van der Toorn sugeriu que o surgimento de Yahweh em Israel foi devido à influência de Saul, o primeiro rei de Israel, que segundo os próprios textos bíblicos tinha uma ascendência edomita. Em dado momento, Yahweh se identificou com El a tal ponto que a palavra El se tornou uma palavra genérica significando simplesmente "deus". Asherah então se tornou a consorte de Yahweh, com o mesmo Yahweh e Baal coexistindo à um primeiro momento, e rivalizando depois.
O culto de Yahweh e a Monarquia

No período monárquico, o rei funcionava como chefe da religião nacional. Os reis usavam a religião nacional para exercer a sua autoridade, mas outros deuses além de Yahweh continuavam a serem adorados. Evidências sugerem cada vez mais que muitos israelitas adoraram Asherah como consorte (esposa) de Yahweh.

Os arqueólogos e estudiosos históricos usam uma variedade de maneiras de organizar e interpretar a informação iconográfica e textual disponíveis. William G. Dever contrasta a"Religião / Religião de Estado / religião do livro oficial" da elite com a "religião popular" das massas. Rainer Albertz contrasta a "religião oficial" com a "religião da família", "piedade pessoal" e "pluralismo religioso interno". Jacques Berlinerblau analisa as evidências em termos de "religião oficial" e "religião popular" no antigo Israel.


Patrick D. Miller distinguiu três grandes categorias de Javismo:o Ortodoxo, o Heterodoxo e o Sincrético. O Javismo Ortodoxo exigia o culto exclusivo de Yahweh (embora sem negar a existência de outros deuses). Os poderes da bênção (saúde, riqueza, continuidade, fertilidade) e salvação (perdão, vitória, libertação da opressão e ameaça) residia totalmente em Yahweh, e sua vontade foi comunicada via oráculo e visão proféticas ou auditivas.Adivinhação e Necromancia  foram proibidos. O indivíduo ou comunidade poderia clamar à Yahweh e receberiam uma resposta divina, mediada por figuras sacerdotais ou proféticas.

Santuários foram erguidos em vários lugares e foram usados para expressar a devoção a Yahweh por meio de sacrifício, refeições festivas e celebrações, oração e louvor. Perto do final do século VII a.C. em Judá, a adoração a Yahweh era restrito ao templo em Jerusalém, enquanto os principais santuários do reino do norte estavam em Betel (perto da fronteira sul) e Dan (no norte). Certas épocas foram definidas para a reunião do povo para celebrar as dádivas de Yahweh, e os atos da divindade de libertação e redenção.

Tudo no reino moral era entendido como uma parte da relação com Yahweh como numa manifestação de santidade. As relações familiares e o bem-estar dos membros mais fracos da sociedade eram  protegidos pela lei divina, e a pureza de conduta, vestuário, alimentos, etc foram regulamentados. A liderança religiosa residia em sacerdotes, que foram associados com os santuários, e também nos profetas, que eram portadores de oráculos divinos. Na esfera política, o rei foi entendido como o delegado e agente de Yahweh.

O Javismo Heterodoxo é descrito por Miller como uma mistura de elementos do Javismo ortodoxo com as práticas particulares que conflitavam com o mesmo javismo ortodoxo, ou não eram habitualmente uma parte dele. Por exemplo, O javismo heterodoxo contou com a presença de objetos de culto rejeitados pelos expressões ortodoxas, como  Asherah, estatuetas de vários tipos (fêmeas, cavalos e cavaleiros, animais e pássaros, e os bezerros e touros do Reino do Norte. Os " lugares altos "como centros de culto parecem ter movido de um lugar aceitável dentro do Javismo a um estado cada vez mais condenado nos círculos oficiais e ortodoxos. Esforços para saber o futuro ou a vontade da divindade também pode ser entendidos como heterodoxos se fossem fora dos limites do Javismo ortodoxo, e até mesmo comumente aceito que o mecanismo revelador como sonhos poderia ser condenado se a mensagem resultante foi percebido como falsa. Consulta de médiuns, magos, adivinhos foram muitas vezes utilizadas por Javistas heterodoxos.

O Sincretismo inclui a adoração de Baal, os corpos celestes (sol, lua e estrelas), a "Rainha do Céu" e outras divindades, bem como outras práticas, como o sacrifício de crianças. Outros deuses eram invocados e servidos na hora da necessidade ou bênção e provisão para a vida, quando o culto de Yahweh parecia inadequado para esses fins. Evidências cada vez mais maiores sugerem que muitos israelitas adoravam Asherah como a consorte de Yahweh, e várias passagens bíblicas indicam que as estátuas da deusa eram mantidas em templos de Yahweh em Jerusalém, Betel e Samaria. Outra evidência inclui muitas figuras femininas descobertas no antigo Israel, apoiando a visão de que Asherah funcionava como uma deusa e consorte de Yahweh, e era adorada como a Rainha dos Céus.



                           Yahweh representado em inscrição hebraica (século VIII a.C.): 
                           “Eu te abençoou por Yahweh de Samaria e sua Asherah

  
O culto de Yahweh depois da monarquia

Após a destruição da monarquia e da perda da terra no início do século 6 (o período do exílio babilônico), uma busca por uma nova identidade levou a um re-exame das tradições de Israel. Yahweh agora se tornou o único Deus no cosmos.

Israel e Judá Antigos


Tem sido tradicionalmente acreditado que o monoteísmo era parte do pacto original de Israel com Yahweh no Monte Sinai, e a idolatria criticada pelos profetas era devido a apostasia de Israel. Mas durante o século 20, tornou-se cada vez mais reconhecido que a apresentação da Bíblia levanta uma série de perguntas: Por que os Dez Mandamentos declaram que não deve haver outros deuses "antes de mim" (Yahweh), se não há outros deuses em tudo? Por que os israelitas cantam na travessia do Mar Vermelho que "não há nenhum deus como tu, ó Yahweh?" [Ex 15:11] o que implica que existem outros deuses? Estas observações eventualmente derrubaram a crença de que Israel sempre tinha adorado Yahweh, e nenhum outro deus mais.

Evidências de adoração israelita de deuses cananeus aparecem tanto na Bíblia e no registro arqueológico. Referências respeitosas à deusa Asherah ou a seu símbolo, por exemplo, como parte do culto à Yahweh, são encontrados nas inscrições de Kuntillet Ajrud e Khirbet el-Qom, do século VIII, e as referências aos deuses cananeus Resheph e Deber ("peste" e "praga") aparecem sem críticas em Habacuque 3:05, como parte da comitiva militar de Yahweh. O "Exército do Céu" também é mencionado sem críticas em 1 Reis 22:19 e Sofonias 1:05. O deus El também é constantemente identificado com Yahweh.

Israel herdou o politeísmo do final do primeiro milênio de Canaã, e a religião cananéia, por sua vez, teve suas raízes na religião de Ugarit do Segundo Milênio. No segundo milênio, o politeísmo foi expresso através dos conceitos do Conselho Divino e Família Divina, uma entidade única, com quatro níveis: o deus principal e sua esposa (El e Asherah), as setenta crianças divinas ou "estrelas de El" ( incluindo Baal, Astarte, Anat, e provavelmente Resheph, bem como a deusa-sol Shapshu e o deus-lua Yerak), o ajudante chefe da família divina, Kothar wa-Hasis, e os servos da casa divina, incluindo os deuses-mensageiros  que mais tarde aparecem como os "anjos" da Bíblia hebraica.


No estágio inicial, Yahweh era um dos setenta filhos de El, cada um dos quais era o patrono de uma das setenta nações. Isto é ilustrado pelo Manuscritos do Mar Morto e pelos textos da Septuaginta de Deuteronômio 32:8-9, em que El, como o chefe da assembléia divina, dá a cada membro da família divina, uma nação de seu próprio ", de acordo com o número de os filhos divinos ": Israel é a parte de Yahweh. O texto massorético tardio, evidentemente desconfortável com o politeísmo expresso pela frase, alterou-o para "de acordo com o número dos filhos de Israel"  Os estudiosos Keil e Delitzsch observam que a interpretação da Septuaginta é de nenhum valor crítico, que se baseia sobre a noção judaica de anjos da guarda das diferentes nações (Sir. 17: 14), que provavelmente se originou em um mal-entendido de Deuteronômio 04:19, quando comparado com Daniel 10:13, Daniel 10:20-21 e Daniel 0:01.

Entre o oitavo para o sexto séculos El tornou-se identificado com Yahweh, e Yahweh-El se tornou o marido da deusa Asherah, e os outros deuses e os mensageiros divinos gradualmente tornaram-se meras expressões do poder do Yahweh. Yahweh está escalado para o papel do Rei Divino decidindo sobre todas as outras divindades, como no Salmo 29:2, onde os "filhos de Deus" são chamados a adorar Yahweh, e como Ezequiel 8-10 sugere, o próprio Templo tornou-se palácio de Yahweh, povoado por aqueles em sua comitiva.

É neste período que as primeiras declarações monoteístas claras aparecem na Bíblia, por exemplo,  aparentemente no Deuteronômio do século VII 04:35, 39, 1 Samuel 02:02, 2 Samuel 07:22, 2 Reis 19:15, 19 (= Isaías 37:16, 20), e Jeremias 16:19,20 e a parte do século VI de Isaías 43:10-11, 44:6, 8, 45:5-7, 14, 18, 21 e 46:9. Porque muitas das passagens envolvidas aparecem em trabalhos associados ou no Deuteronômio, a história deuteronomista (Josué a Reis) ou em Jeremias, trabalhos acadêmicos mais recentes têm sugerido que um movimento deuteronomista deste período desenvolveu a ideia do monoteísmo como uma resposta aos questões religiosas do seu tempo. 

O primeiro fator por trás desse desenvolvimento envolve mudanças na estrutura social de Israel. Em Ugarit, a identidade social foi mais forte no nível da família: documentos legais, por exemplo, eram feitos muitas vezes entre os filhos de uma família e os filhos de outra. A religião de Ugarit, com sua família divina liderado por El e Asherah, espelhavam esta realidade humana. O mesmo aconteceu no antigo Israel durante a maior parte da monarquia, por exemplo, a história de Acã em Josué 8 sugere uma família como a principal unidade social. No entanto, as linhagens familiares passaram por mudanças traumáticas começando no século VIII, devido à grande estratificação social, seguida por incursões dos assírios. Nos séculos VII e VI, começamos a ver as expressões de identidade individual (Deuteronômio 26:16, Jeremias 31:29-30, Ezequiel 18). Uma cultura com um sistema de linhagem diminuída, deterioração durante um longo período a partir dos nono ou oitavo século, menos embutido em patrimônios familiares tradicionais, podem ser mais predispostos tanto para manter o indivíduo responsável por seu comportamento, e ver uma divindade individual responsável pelo cosmos. Em suma, o surgimento do indivíduo como a unidade social básica levou ao surgimento de um único deus substituindo uma família divina.

O segundo fator importante foi o surgimento dos impérios neo-assírio e neo-babilônicos.Enquanto Israel foi, desde o seu próprio ponto de vista, parte de uma comunidade de nações pequenas e semelhantes, fazia sentido para ver o panteão israelita em pé de igualdade com as outras nações, cada uma com o seu próprio deus patrono, tal como no quadro descrito com Deuteronômio 32: 8-9. O pressuposto por trás dessa visão de mundo é que cada nação era tão poderosa quanto o seu deus patrono. No entanto, a conquista neo-assíria do Reino do Norte de Israel em  722 a.C. contestou isso, pois se o império neo-assírio era tão poderoso, então assim deve ser o seu deus, e, inversamente, se Israel poderia ser conquistado (e mais tarde Judá, em 586 d.C.), deu a entender que Yahweh era, por sua vez, uma divindade menor. A crise foi recebida pela separação do poder divino e reinos terrenos. Apesar da Assíria e Babilônia serem tão poderosas, o novo pensamento monoteísta em Israel fundamentado, isso não significava que o Deus de Israel e Judá era fraco. Assíria não tinha conseguido sucesso por causa do poder de seu deus Marduk, era Yahweh que estava usando a Assíria para punir e purificar uma nação que o próprio Yahweh tinha escolhido.

No período pós-exílico, o monoteísmo pleno surgiu: Yahweh era o deus único, e não apenas de Israel, mas de todo o mundo. Se as nações eram instrumentos de Yahweh, então o novo rei que viria redimir Israel poderia não ser um judeu, como ensinado na literatura antiga (por exemplo, o Salmo 2). Agora, mesmo um estrangeiro como Ciro, o persa,  poderia servir como o ungido do Senhor (Is 44:28, 45:1). Um deus estava por trás de toda a história do mundo.

Os Papiros de Elefantina e Anat-Yahu

Os papiros de Elefantina do quinto século a.C. sugerem que "Mesmo no exílio, e mais além, a veneração de uma divindade feminina foi mantida". Os textos foram escritos por um grupo de judeus que viviam em Elefantina, perto da fronteira Nubiancuja religião tem sido descrita como "quase idêntica à da Idade do Ferro II da religião judaica". O papiro descreveos judeus como adorando Anat-Yahu (ou AnatYahu). Anat-Yahu é descrita como a mulher (ouparedraconsorte sagrada) de Yahweh, ou como um aspecto hipostasiada de Yahweh.
 Yahweh nas religiões abraâmicas


Muitos judeus, cristãos e muçulmanos, sem dúvida são ofendidos pela idéia de que Yahweh apareceu historicamente como um outro deus entre muitos deuses pagãos:

     A ideia de Deus mudando parece uma contradição em termosporque Deus é suposto serabsoluto, eterno e sagrado, e no fato de que a realidade sagrada essencial não muda, mas a forma como as pessoas a expressam ao longo dos anos faz mudança.

     -Karen Armstrong, Uma História de Deus, A & E Television Networks2001


O uso do nome Yahweh na religião contemporânea

No judaísmo moderno

No judaísmo moderno, o tetragrama YHWH é convencionalmente substituído por Adonai ("Meu Senhor"), quando na leitura do texto da Bíblia. Os judeus deixaram de pronunciar o nome no período intertestamentário, substituindo-o pelo substantivo comum Elohim, "Deus", para demonstrar a soberania universal da divindade de Israel sobre todas as outras. Ao mesmo tempo, o nome divino era cada vez mais considerado como sagrado demais para ser pronunciado, e foi substituído no ritual falada pela palavra Adonai ("Meu Senhor"), ou com Hashem ("Nome") na fala cotidiana

Na Igreja Católica Romana

Tradicionalmente, na adoração e vernáculo em latim a palavra"Senhor" foi utilizada, seguindo o grego do Novo Testamento e da Septuaginta. Embora a representação do tetragrama YHWH como "Yahweh" seja encontrada no Antigo Testamento nas versões como a católica romana Bíblia de Jerusalém e Nova Bíblia de Jerusalém (1985), o uso litúrgico do Yahweh em adoração vernacular foi reprovado pelo Vaticano em 2008.  A Congregação vaticana para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos direção "que a palavra" Senhor" seja usada no lugar de Yahweh em adoração, e que o equivalente local ao latim Dominus (Senhor, Mestre) seja usado em toda a adoração vernacular, foi baseada no entendimento de que os judeus da época de Cristo (compare com o uso de “Kyrios” na Septuaginta, palavra grega para "Senhor") e também os primeiros cristãos usavam outras palavras, em vez de pronunciar este nome.

No Protestantismo

O estudioso da Bíblia e autor Charles Ryrie, autor do estudo do Ryrie Study Bible, diz que o nome "Yahweh" aparece 6.823 vezes no Velho Testamento, e também muitas vezes no Novo Testamento quando o é citado diretamente ou em passagens paráfrases do Antigo Testamento contendo o nome de Deus. Ele escreve que o nome "Yahweh" é particularmente associada com a santidade de Deus, [Lev 11:44,45] seu ódio ao pecado [Gênesis 6:3-7] e sua prestação de redenção. [Isa 53:1,5,6 , 10] Pode ser que as traduções contemporâneas da Bíblia não usam "Yahweh" por respeito à reverência judaica tradicional para este nome. 

Quase todas as Bíblias (KJV, DRC, RSV, ESV, NASB, NIV, NJPS, NRSV, NAB, NABRE, CCD, NEB, REB, NKJV, etc.), com exceção da Bíblia de Jerusalém e da Nova Bíblia de Jerusalém, e em algumas raras traduções, como o Rotherham Emphasized Bible, substituem os títulos de "Senhor" e "Deus" em Versalete (SENHOR, DEUS), onde o Tetragrama aparece no hebraico. A American Standard Version de 1901, que é uma revisão da English Revised Version de 1881, derivada da King James Version, sempre usou o termo Jeová. O nome "Javé" não aparece nos textos mais populares das traduções da Bíblia em inglês no mercado hoje. Estudiosos Judeus da Bíblia introduziram esta tradição em meados do século 2 a.C. na tradução Septuaginta, e tem continuado desde então. Em 1611, a edição inaugural da King James da Bíblia não incluía o nome "Yahweh",pois os editores não esta ciente de sua interpretação, embora Jeová não apareça também várias vezes.

Existem alguns casos contemporâneos, onde a ortografia Yahweh entrou em uso religioso. O Movimento do Nome Sagrado, que é um pequeno movimento cristão, ativo desde os anos 1930, que propaga o uso do nome Yahweh nas traduções da Bíblia e na liturgia. As chamadas "Bíblias com o Nome Sagrado" são bíblias que interpretam o tetragrama YHWH por transliteração (ou iconograficamente através da inserção de escrita hebraica na tradução). Uma das primeiras bíblias nesse estilo é a Rotherham's Emphasized Bible ,de 1902. 

A Tradução do Novo Mundo das Testemunhas de Jeová sempre usa o nome "Jeová", e até mesmo o insere incorretamente no Novo Testamento em lugar do grego "kyrios" em muitos lugares.

As antigas raízes do Judaísmo


As antigas raízes do Judaísmo jazem na chamada idade do Bronze das antigas religiões semíticas, especificamente a religião canaanita. Um sincretismo com elementos do Zoroastrismo persa e da adoração de Yahweh é refletida nos mais antigos livros proféticos da bíblia hebraica. Durante o cativeiro babilônico dos séculos 6 a.C. e 5 a.C., certos círculos dentro dos judeus exilados na Babilônia redefiniram ideias pré existentes sobre Monoteísmo, eleição, lei divina e aliança dentro de uma Teologia que viria dominar o Judaísmo nos séculos seguintes.

Do quinto século antes de Cristo até o ano de 70 d.C., a religião de Israel se desenvolveu dentro de várias escolas teológicas do Segundo Templo de Jerusalém, além do Judaísmo helenístico na diáspora. O texto da bíblia hebraica foi redatado na sua forma padrão neste período, e possivelmente canonizado. O Judaísmo rabínico se desenvolveu na antiguidade tardia, entre os terceiro e sexto séculos da era cristã. O texto massorético da bíblica hebraica (no qual existe a adição de vogais ao texto consonantal) e o Talmude são compilados neste período. Contudo os manuscritos mais antigos da tradição massorética vem do século 10 e 11, na forma do Códice de Aleppo, que é datado do século 10, e do Códice de Leningrado, que é datado do ano de 1008 ou 1009. Quanto às obras rabínicas, que devido em grande parte à censura e queima de manuscritos na Europa medieval, são bem mais recentes. Os mais antigos manuscritos existentes de várias obras rabínicas são bastante tardios. Por exemplo, a mais antiga cópia do manuscrito completo do Talmude babilônico é datada do ano de 1342.

Pré-monárquico (religião tribal)

O mito fundador central da nação israelita é o êxodo dos israelitas do Egito, sob a orientação de Moisés, seguido pela conquista da Terra Prometida (Canaã). Há pouca ou nenhuma evidência histórica ou arqueológica para apoiar essas narrativas, e embora possam, em parte, se originar no século 10 a.C., chegaram a algo parecido com sua forma atual apenas no quinto ou quarto séculos a.C., quando foram editados para cumprir com a teologia do Judaísmo do Segundo Templo.

Monarquia (religião centralizada)

A Monarquia Unificada dos séculos 11 a 10 a.C. foi uma das entidades políticas da região do Levante durante a Idade do Ferro. Estes estados foram organizados como monarquias, com os reis governando cidades-estado, e de cada cidade reivindicando uma deidade  patrona a quem o templo principal da cidade era dedicada. Em Jerusalém, foi o Templo de Salomão em Jerusalém, construído durante o século 10 a.C.

De acordo com a Bíblia Hebraica, Jerusalém era uma fortaleza dos jebuseus, conquistada pelos israelitas e transformada em seu capital por volta de 1000 a.C. (Edwin R. Thiele data a conquista de Jerusalém por Davi em 1003 a.C.). Como resultado, o culto jebuseu exerceu considerável influência sobre a religião israelita. Os jebuseus observavam um culto astral envolvendo Shalem, uma divindade astral identificada com a estrela da noite na mitologia ugarítico, além Tsedec, "justiça", e El Elyon, o "Deus Altíssimo". É plausível, no entanto, que a aplicação do epíteto Elyon "mais alto" para o hebraico Yahweh anteceda a conquista de Jerusalém, pois este epíteto foi aplicado com fluidez suficiente ao longo do Noroeste semítico, que assumindo uma transição de sua aplicação a El ao culto de Yahweh não apresente nenhum obstáculo.

Tanto as evidências arqueológicas como os textos bíblicos documentam as tensões entre grupos favoráveis ​​à adoração de Yahweh ao lado de divindades locais, tais como Asherah e Baal e os que insistem em culto de adorar apenas Yahweh durante o período monárquico. Durante o século 8 a.C. , o culto de Yahweh em Israel estava em concorrência com muitas outras seitas, descritos pela facção javista (de Javé ou Yahweh) coletivamente como Baal. Os livros mais antigos da Bíblia hebraica, escritos no século 8 a.C., refletem esta competição, como nos livros de Oséias e Naum, cujos autores lamentam a "apostasia" do povo de Israel, ameaçando-os com a ira de Deus se não desistirem de seus cultos politeístas.

A facção monoteísta parece ter ganhado considerável influência durante o século 8 a.C., e pelo sétimo século a.C., com base no testemunho de origem deuteronomista, o culto monoteísta de Yahweh parece ter se tornado oficial, isso é refletido na remoção da imagem de Asherah do templo de Jerusalém sob Ezequias (r. 715-686 a.C.), de modo que o culto monoteísta do Deus de Israel, pode ter se originado durante seu governo.


Sucessor de Ezequias, Manassés inverteu algumas dessas mudanças, restaurando o culto politeísta, e de acordo com 2 Reis 21:16, mesmo perseguindo a facção monoteísta. Josias (r. 641-609 a.C.), voltou-se para monolatria. O livro de Deuteronômio, assim como os outros livros atribuídos ao Deuteronomista, foram escritos durante o reinado de Josias. As duas últimas décadas do período monárquico, levando até o saque babilônico de Jerusalém em 597 a.C., foram, assim, marcadas por monolatria oficial do Deus de Israel. Isso teve conseqüências importantes no culto de Javé como era praticada no cativeiro babilônico e, finalmente, para a teologia do Segundo Templo judaísmo.

Exílio Babilônico

Após o segundo cerco de Jerusalém em 587 a.C., os babilônios destruíram o muro da cidade e do Templo. Judá tornou-se uma província da Babilônia, chamada Yehud. O primeiro governador nomeado pela Babilônia era Gedalias, um Judeu nativo, ele encorajou os muitos judeus que haviam fugido para países vizinhos como Moabe, Amom, Edom a voltarem, e tomou providências para devolver o país à prosperidade. Algum tempo depois, um membro sobrevivente da família real assassinou Gedalias e seus assessores da Babilônia, levando a uma onda de refugiados em busca de segurança no Egito. Assim, até o final da segunda década do século 6 a.C., além daqueles que permaneceram em Judá, haviam comunidades judaicas significativas na Babilônia e no Egito, este foi o início das tardias e numerosas comunidades judaicas que viviam permanentemente fora de Judá, na diáspora judaica. De acordo com o livro de Esdras, Neemias, o persa Ciro, o Grande, terminou o exílio em 538 a.C., ano em que ele capturou Babilônia. O Exílio termina com o retorno sob Zorobabel e a construção do Segundo Templo, no período 520-515 aC.

Período do Segundo Templo

Os escritos mais antigos do judaísmo que sobrevivem datam diretamente do período helenístico. Isso inclui papiros em hebraico e aramaico com fragmentos bíblicos, como os Manuscritos do Mar Morto, e os documentos gregos, como a Septuaginta. O contato das culturas israelita e grega resultou no desenvolvimento de monoteísmo estrito, que reformulou o deus nacional de Israel no papel do criador do universo, o que corresponde ao “Uno” ou o “Todo” da religião helenística. Outros estudiosos afirmam que o desenvolvimento de um estrito monoteísmo foi o resultado da difusão cultural entre os persas e os hebreus. Embora na prática seja dualista, o zoroastrismo acreditava no monoteísmo escatológico. Alguns sugerem que não é mera coincidência que o modelo do zoroastrismo do monoteísmo escatológico e o modelo dos historiadores deuteronômicos estritamente monoteísta receba articulações formação durante o período após a Pérsia ter derrubado a Babilônia.

No período do Segundo Templo, o judaísmo foi dividido em facções teológicas, nomeadamente os fariseus contra os saduceus, além de numerosas seitas menores, como os essênios, os movimentos messiânicos, como cristianismo primitivo e tradições intimamente relacionadas, tais como samaritanismo (que deixou o Pentateuco Samaritano, uma importante testemunha do texto da Torá independente do texto massorético).
Do segundo até o primeiro século a.C., quando a Judéia estava sob domínio romano e selêucida, o gênero da literatura apocalíptica se tornou popular, o trabalho mais notável dessa tradição é  o Livro de Daniel.

 O desenvolvimento do judaísmo rabínico

Durante séculos, o entendimento tradicional tem sido de que o judaísmo veio antes do cristianismo, e que o cristianismo se separou do judaísmo algum tempo após a destruição do Segundo Templo em 70 d.C.. A partir da segunda metade do século 20, alguns estudiosos começaram a argumentar que o retrato histórico é um pouco mais complicado do que isso. No primeiro século, muitas seitas judaicas existiram em competição umas com as outras. As seitas que eventualmente se tornariam o judaísmo rabínico e Cristianismo primitivo eram apenas dois deles. Alguns estudiosos começaram a propor um modelo que prevê um nascimento gêmeo do cristianismo e do judaísmo, ao invés de uma separação entre eles. Por exemplo, Robert Goldenberg (2002) afirmou que é cada vez mais aceito entre os estudiosos de que "no final do primeiro século d.C. não haviam ainda duas religiões separadas chamadas Judaísmo "e" Cristianismo. Daniel Boyarin (2002) propõe um entendimento revisto das interações entre o Cristianismo primitivo e o Judaísmo Rabínico nascentes na Antiguidade Tardia, que vê as duas religiões tão intensamente e complexamente entrelaçadas ao longo deste período.

Os "Amoraim" foram os estudiosos judeus da Antiguidade Tardia que codificaram e comentou sobre a lei e os textos bíblicos. A fase final da redação do Talmud em sua forma final ocorreu durante o século 6, pelos estudiosos conhecidos como "Savoraim". Esta fase conclui o Chazal era fundamental para o Judaísmo Rabínico.

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Referências bibliográficas

História de Israel, J. Bright, Ed. Paulus [1978]

A Fonte Q: Objeções e Afirmações.


A chamada fonte Q (que também é conhecida como documento Q ou evangelho Q é retirada da palavra alemã Quelle, que significa Fonte), é uma coleção hipotética dos ditos ou logia de Jesus, que e admitida como uma das duas fontes escritas que foram usadas como referência pelos escritores dos evangelhos de Mateus e Lucas. A outra fonte é o evangelho de Marcos, que é reconhecido como o mais antigo dos evangelhos. Então a fonte Q é definida como sendo o material encontrado tanto nos evangelhos de Mateus e de Lucas, mas que não é encontrado no evangelho de Marcos. A fonte Q é supostamente o materialmente que é baseado na tradição oral do cristianismo primitivo, e conteria os ensinamentos de Jesus, talvez até mesmo escritos por ele mesmo.

Ao lado da hipótese marconiana (que afirma que o evangelho de Marcos é o mais antigo), a hipótese da fonte Q foi estabelecida em 1900, e ambas constituem os fundamentos dos estudos modernos sobre as origens dos evangelhos. O estudioso inglês Burnett H. Streeter formulou uma visão amplamente aceita de como seria a fonte Q: ela teria sido um documento escrito (e não apenas uma tradição oral), composta em grego, e que quase todo o seu conteúdo aparece em Mateus ou em Lucas, ou em ambos, e que o evangelho de Lucas é o que mais preserva sua forma original na ordem do texto do que Mateus. Na hipótese das duas fontes, Mateus e Lucas usam o evangelho de Marcos e a fonte Q como suas fontes. Alguns eruditos postulam que Q era na verdade uma pluralidade de fontes, algumas compostas por escrito, e outras orais. Outros tem tentado determinar as etapas nas quais Q foi composta.

Como toda hipótese científica, a existência de Q foi algumas vezes modificada, e até mesmo questionada. Um dos maiores críticos e céticos com relação à teoria da fonte Q foi Mark Goodacre, um professor neo-testamentário da Universidade de Duke, Carolina do Norte. Segundo ele a omissão do que deveria ter sido um documento cristão altamente precioso de todos os catálogos da Igreja primitiva, e que não é mencionado por parte dos padres da Igreja antiga, pode ser visto como um grande enigma para a moderna erudição bíblica. Contudo isso, muitos escolásticos explicam isso por apontar que copiar ou mencionar a fonte Q não era necessário, desde que ela havia se dissolvido em outros textos, nomeadamente os dois evangelhos canônicos (Mateus e Lucas), que haviam ganhado maior importância. O conselho editorial internacional do projeto Q sugere: "Durante o segundo século da era cristã, quando o processo de canonização estava começando a consolidar, os escribas não fizeram novas cópias de Q pelo simples fato de que o processo de canonização envolvia a escolha daquilo que deveria e do que não deveria ser usado na liturgia da igreja. Então eles preferiram fazer cópias dos evangelhos de Mateus e de Lucas, onde os ditos de Jesus tirados da fonte Q foram reformulados para evitar mal entendidos, para atender suas próprias necessidades e de sua compreensão daquilo que Jesus realmente queria dizer ". Apesar dos desafios, a hipótese de duas fontes mantém amplo apoio, e permanece como base para os estudos modernos do Novo Testamento.

Esquema básico da Hipótese das Duas Fontes. Os Evangelhos de Mateus e Lucas foram escritos de forma independente, cada um usando Marcos e um segundo documento hipotético chamado "Q" como fonte. Q foi concebido como a mais provável explicação para o material comum (principalmente os ditos ou “logia” de Jesus) encontrado no Evangelho de Mateus e do Evangelho de Lucas, mas não em Marcos.

A História

Estudiosos do Novo Testamento do século XIX que rejeitaram a perspectiva tradicional da prioridade de Mateus, em favor da prioridade de Marcos, começaram a especular que os autores de Mateus e Lucas tiraram o material que eles têm em comum com o Evangelho de Marcos justamente desse evangelho. Mateus e Lucas, no entanto, também compartilham grandes seções de texto que não são encontrados em Marcos. Eles sugeriram que nem um dos dois evangelhos se guiou sobre o outro, mas em cima de uma segunda fonte comum, denominado Q.

Nos tempos modernos, a primeira pessoa a fazer uma hipótese de uma fonte Q foi um inglês chamado Herbert Marsh, em 1801, em uma solução complicada para o problema sinóptico que seus contemporâneos haviam ignorado. Marsh rotulou esta fonte com a letra hebraica Beth (ב).

A próxima pessoa a avançar na hipótese Q foi o alemão Friedrich Schleiermacher em 1832, que interpretou uma declaração enigmática de um dos primeiros escritores cristãos, Papias de Hierápolis, cerca de 125: "Mateus compilou os oráculos (em grego: logia) do Senhor de uma forma hebraica de expressão ". Mais do que a interpretação tradicional que Papias estava se referindo à escrita de Mateus em hebraico, Schleiermacher acreditavam que Papias estava realmente dando testemunho de uma coleção de ditos que estava disponível para os Evangelistas.

Em 1838, outro alemão, Christian Hermann Weisse, aceitou a sugestão de uma fonte de palavras de Schleiermacher, e à isso combinou com a idéia de prioridade de Marcos para formular o que é agora chamado a Hipótese das Duas Fontes, em que Mateus e Lucas usaram Marcos e da fonte de Ditos. Heinrich Julius Holtzmann aprovou esta abordagem em um tratamento influente do problema sinóptico, em 1863, e a hipótese das duas fontes manteve o seu domínio desde então.

Até este momento, “Q” era normalmente chamado de Logia por conta da declaração de Papias, e Holtzmann deu-lhe o símbolo Lambda (Λ). Perto do final do século 19, no entanto, dúvidas começaram a crescer na propriedade de ancorar a existência da coleção de ditos no testemunho de Papias, portanto, um símboloneutro “Q “ (que foi inventado por Johannes Weiss baseado na palavra alemã Quelle, foi adotado significado de origem) para permanecer neutro, independente da coleção de ditos e sua conexão com Papias.

Esta hipótese das duas fontes especula que Mateus “emprestou” material de Marcos e de uma coleção de ditos hipotéticos chamada Q. Para a maioria dos estudiosos, a coleção de ditos “Q” explica o que Mateus e Lucas compartilham - às vezes em exatamente as mesmas palavras - mas não são encontradas em Marcos. Exemplos de tais materiais são: As três tentações do diabo à Jesus, as bem-aventuranças, a Oração do Pai Nosso, e muitos provérbios individuais.

No livro “Quatro Evangelhos: Um Estudo das Origens (1924), Burnett Hillman Streeter argumentou que uma terceira fonte, conhecido como ”M” e também hipotética, está por trás do material em Mateus e que não tem paralelo em Marcos ou em Lucas. Além disso, algum material presente apenas em Lucas pode ter vindo de uma fonte de “L”, também desconhecida. Este Hipótese das Quatro Fontes postula que havia pelo menos quatro fontes para o Evangelho de Mateus e o Evangelho de Lucas: o Evangelho de Marcos, e de três fontes perdidas: Q, M e L (material de M é representado pelo verde no gráfico acima)

Durante todo o restante do século 20, houve vários desafios e refinamentos da hipótese de Streeter. Por exemplo, em seu livro de 1953 “O Evangelho Antes de Marcos”, Pierson Parker postulou uma primeira versão de Mateus (conhecido como o “Aramaico M” ou Proto-Mateus) como a fonte primária. Parker argumentou que não foi possível separar o material de Streeter "M", a partir do material em Mateus paralelo à Marcos.

Nas duas primeiras décadas do século 20, foram feitas mais de uma dúzia de reconstruções de Q. No entanto, estas reconstruções diferiam tanto entre si que nem um único versículo de Mateus estava presente em todos elas. Como resultado, o interesse em Q diminuiu, e foi negligenciado por muitas décadas.

Este estado de coisas mudou a partir do ano de 1960, depois de traduções de uma coleção de ditos recém descobertos e análogos, o Evangelho de Tomé, tornou-se disponível. James M. Robinson, do Seminário de Jesus, e Helmut Koester propuseram que as coleções de provérbios, como Q e o Evangelho de Tomé ,representam os primeiros materiais cristãos em um ponto inicial de uma trajetória que acabou resultando nos evangelhos canônicos.

Esta explosão de interesse após a descoberta do Evangelho de Thomas levou à reconstruções literárias cada vez mais sofisticados de Q, e até mesmo a especulação redacional, nomeadamente na obra de John S. Kloppenborg. Kloppenborg, através da análise de certos fenômenos literários e temáticos, argumentou que Q foi composta em três fases. Na sua opinião, no estágio primitivo foi uma coleção de ditos de sabedoria que envolviam questões como pobreza e discipulado. Então, ele postula, esta coleção foi ampliada com a inclusão de um estrato de ditos de julgamento contra "esta geração". A fase final inclui a narrativa da tentação de Jesus.

Embora Kloppenborg alertou contra assumir que a história da composição Q é a mesma que a história da tradição de Jesus (isto é, que o estrato mais antigo de Q é necessariamente o estrato da tradição antiga e pura de Jesus), alguns pesquisasores recentes do histórico Jesus, incluindo os membros do Semináriode Jesus, fizeram exatamente isso. Baseando suas reconstruções, principalmente no Evangelho de Tomé e no estrato mais antigo de Q, eles propõem que Jesus era um filosofo sábio, ao invés de um rabino judeu, embora não todos os membros afirmam a hipótese das duas fontes. 

No entanto, os estudiosos que apoiam a hipótese da evolução histórica de três estágios de Q, como Burton L. Mack, argumentam que a unidade Q vem não só do fato de ser compartilhada por Mateus e Lucas, mas também porque, nos estratos de Q como reconstruído, os estratos posteriores construidos em cima e pressupõem que os anteriores, ao passo que o inverso não é o caso. Assim, evidências de que Q tem sido revisto não é evidência para a desunião em Q, uma vez que as revisões hipotéticas dependem de ligações lógicas assimétricas entre os que devem ser postaos como estratos posteriores e anteriores.

A Composição

No estudo da literatura bíblica, alguns estudiosos acreditam que um redator desconhecido compôs em língua grega um proto-evangelho. Pode ter estado em circulação em forma escrita no mesmo tempo da composição dos Evangelhos Sinópticos (ou seja, entre 65 e 95 d.C.). O nome “Q” foi cunhado pelo teólogo alemão e estudioso bíblico Johannes Weiss.

Os Evangelhos Sinópticos e a Natureza da Q

A relação entre os três evangelhos sinóticos vai além da mera semelhança dos pontos de vista. Os evangelhos frequentemente contam as mesmas histórias, geralmente na mesma ordem, e às vezes usando as mesmas palavras. Estudiosos notam que as semelhanças entre Marcos, Mateus e Lucas são grandes demais para serem explicadas por mera coincidência.

Se a hipótese das duas fontes estiver correta, então Q provavelmente teria sido um documento escrito. Se Q eram apenas uma tradição oral compartilhada, não poderia explicar as semelhanças quase idênticas, palavra por palavra entre Mateus e Lucas ao citar o material Q. Da mesma forma, é possível deduzir que Q foi escrito em grego. Se os Evangelhos de Mateus e Lucas estavam se referindo a um documento que tinha sido escrito em outra língua (por exemplo, o aramaico), é altamente improvável que duas traduções independentes teriam exatamente a mesma redação.

O documento Q deve ter sido composto antes dos Evangelhos de Mateus e Lucas. Alguns estudiosos chegam a sugerir Q pode até ter precedido Marcos. A data para a redação do documento final Q é muitas vezes colocada na década de 40 ou 50, nos anos do primeiro século, com alguns argumentando que sua chamada camada sapiencial (1Q, contendo seis discursos de Sabedoria) foi escrita no início dos anos 30.

Se Q existiu, então ele está perdido. Alguns estudiosos acreditam que ele pode ser parcialmente reconstruído, examinando elementos comuns a Mateus e Lucas (mas ausente em Marcos). Este Q reconstruído é notável na medida em que geralmente não descreve os acontecimentos da vida de Jesus: Q não menciona o nascimento de Jesus, a sua seleção dos 12 discípulos, a sua crucificação, ou sua ressurreição. Em vez disso, ele parece ser uma coleção de provérbios e citações de Jesus.

Argumentos a favor de Q

A existência de Q decorre do argumento de que nem Mateus nem Lucas estão diretamente dependente um do outro na dupla tradição (definido pelos estudiosos do Novo Testamento, como material de que Mateus e Lucas partes que não aparecem em Marcos). No entanto, o acordo verbal entre Mateus e Lucas está tão perto em algumas partes da dupla tradição que a explicação mais razoável para esse acordo é a dependência comum em uma fonte escrita ou outras fontes. Mesmo que Mateus e Lucas sejam independentes, a hipótese da fonte Q diz que eles usaram um documento comum. Os argumentos para Q ser um documento escrito incluem:

Às vezes, a exatidão na formulação é impressionante, por exemplo, a narrativa de Mateus 6:24 é igual à de Lucas 16:13 (27 e 28 palavras gregas, respectivamente); também a narrativa em Mateus 7:7-8 é igual à Lucas 11:9-10 (24 palavras gregas cada). 

Há, por vezes, em comum, na ordem entre os dois, como por exemplo, no Sermão da Planície/Sermão da Montanha.

A presença de parelhas, onde Mateus e Lucas, por vezes, cada apresentam duas versões de um ditado semelhante, mas em um contexto diferente, apenas uma dessas versões aparece em Marcos. Parelhas podem ser consideradas como um sinal de duas fontes escritas, ou seja, Marcos e Q. Lucas menciona que ele sabe de outras fontes escritas sobre a vida de Jesus, e que ele tinha investigado a fim de recolher o máximo de informação.

O fato de que não existe nenhum manuscrito de Q atualmente não argumenta necessariamente contra a sua existência. Muitos textos do cristianismo primitivo já não existem, e só por acaso sabe que eles existiram uma vez, devido à sua citação ou a sua menção nos textos existentes. Como o texto de Q foi incorporado ao corpo de Mateus e Lucas, a importância de preservá-lo tornou-se menos importante, bem como o interesse em copiar Marcos parece ter sido extinto substancialmente, uma vez que ele foi incorporado em Mateus.

As Objeções contra Q

Embora a maioria dos estudiosos aceite a hipótese de duas fontes, muitos nunca foram inteiramente satisfeitos com isso. A dificuldade tende a girar em torno Q. A Hipótese de Duas fonte explica a dupla tradição, postulando a existência de um "ditos de Jesus" perdido, documento conhecido como Q. É este, em vez de prioridade de Marcos, que forma a característica distintiva da hipótese.

Embora essa hipótese continue a ser a explicação mais popular para a origem dos evangelhos sinóticos, a existência de "concordâncias menores" levantou sérias preocupações. Estes concordâncias menores são aqueles pontos onde Mateus e Lucas concordam contra ou além Marcos precisamente dentro de seus versos de Marcos (por exemplo, a questão de zombaria no espancamento de Jesus: "Quem é que te bateu?" (Lucas 22:64 /Matt 26:68), encontrados tanto em Mateus e Lucas, mas não em Marcos, embora deva ser notado que esta "concordância menor" cai fora da faixa geralmente aceite de Q). As "pequenas concordâncias", assim, põem em causa a proposição de que Mateus e Lucas conheciam Marcos mas não o outro, por exemplo, Lucas poderia ter sido de fato seguido Mateus, ou pelo menos uma fonte como Mateus. Peabody e McNicol argumentam que até uma explicação razoável como a Hipótese de Duas Fontes não é viável. 

Em segundo lugar, como é que uma grande e respeitada fonte, usada em dois evangelhos canônicos, desapareceria totalmente? Se Q existisse, estas palavras de Jesus teria sido altamente valorizadas na Igreja Primitiva. Permanece um mistério como um documento tão importante, que foi a base de dois evangelhos canônicos, pode ser totalmente perdido. Um mistério ainda maior é que os extensos catálogos Igreja compilados por Eusébio e Nicéforo iria omitir uma obra tão importante, e tais catálogos, no entanto, incluem narrativas como o Evangelho de Pedro e o Evangelho de Tomé. A existência de um documento de palavras altamente valiosas em circulação indo não mencionado pelos Padres da Igreja Primitiva continua sendo um dos grandes enigmas da erudição bíblica moderna. Pier Franco Beatrice argumenta que até que esses problemas sejam resolvidos, Q permanece em dúvida. 

Alguns estudiosos afirmam que o Evangelho de Mateus, de acordo com os hebreus foi a base para a tradição sinóptica. Eles apontam que na primeira seção da De Viris Illustribus (De Viris Illustribus (Sobre homens ilustres em latim) é uma coleção de centro e trinta e cinco pequenas biografias compiladas pelo pai da Igreja latina do século IV dC, Jerônimo), encontramos o Evangelho de Marcos onde deveria estar como foi o primeiro evangelho a ser escrito, e foi a base de evangelhos posteriores. Depois que deveria ser Q. Mas não é só Q não está onde deveria estar no topo da lista de Jerônimo, este trabalho precioso a gravação dos Logia de Cristo não é mencionado em nenhum parte por Jerônimo. Em vez disso, o primeiro documento seminal não é Q, mas o Evangelho Segundo os Hebreus. O lugar de honra da lista, que deveria ser dada ao documento Q, é ocupado por um texto hebraico. 

Austin Farrer, Michael Goulder, e Mark Goodacre também argumentam contra Q, mantendo a prioridade de Marcos, alegando o uso de Mateus por Lucas como fonte. Essa visão veio a ser conhecida como a Hipótese de Farrer. Seus argumentos incluem:

Farrer, em seu artigo de 1955, e que foi o primeiro a delinear esta hipótese, observa que, quando encontramos dois documentos que contêm material comum, idêntico nas palavras e frases que eles usam para descrever algumas cenas, a explicação mais simples é que um dos dois usou o outro como uma fonte, em vez de ambos utilizando um terceiro documento como uma fonte.

Goulder aponta para frases comuns de Mateus como "raça de víboras", "produzir frutos", e "lançado no fogo", e que cada uma delas aparecem em Lucas apenas uma vez, em uma passagem de Q. A conclusão de Goulder, com base em estilos de escrita, é que Mateus é a fonte para esses ditos "Q". 

Goodacre observa que não há cópia existente do Q, e que nenhum escritor igreja primitiva faz uma referência explícita a um documento semelhante a Q, que os estudiosos modernos têm reconstruído a partir do material comum em Lucas e Mateus. 

Enquanto defensores dizem que a descoberta do Evangelho de Tomé suporta o conceito de um “Evangelho de Ditos”, Mark Goodacre aponta que Q tem uma estrutura narrativa como reconstruído, e não é simplesmente uma lista de palavras. 

Outros estudiosos têm argumentos contra a Q:

Há um "Fumus Boni Juris" que dois documentos, ambos corrigindo a linguagem de Marcos, acrescentando narrativas de nascimento e um epílogo da ressurreição, e adicionando uma grande quantidade de "material de palavras" é provável que se assemelhem entre si, ao invés de ter tal escopo semelhante por coincidência. 

Especificamente existem 347 casos (pela contagem de Neirynck), onde uma ou mais palavras são adicionadas ao texto de Marcos, tanto em Mateus e Lucas, que são chamadas de "pequenas semelhanças" contra Marcos. Em 198 casos envolvem uma palavra, 82 envolvem duas palavras, 35 envolvem três palavras, 16 envolvem quatro palavras e outras 16 ocorrências envolvendo cinco ou mais palavras nos textos existentes de Mateus e Lucas, em comparação com as passagens de Marcos. 

John Wenham (1913-1996) aderiu à hipótese agostiniana de que Mateus foi o primeiro Evangelho, Marcos o segundo, e Lucas o terceiro, e opôs por motivos semelhantes aos que sustentam a hipótese de Griesbach (conhecida como Hipotese dos Dois Evangelhos)

Eta Linnemann, um antigo discípulo de Bultmann, rejeitou Q e a prioridade de Marcos, para uma variação da Hipótese dos Dois Evangelhos, que sustenta que a exigência Mosaica para "duas testemunhas" exige dois evangelhos: um evangelho judeu e outro evangelhos para a necessidade do público na Diáspora. 

Os conteúdos notáveis de Q

Algumas das mais notáveis porções do Novo Testamento que são acreditados terem sido originados em Q: 
• As bem-aventuranças
• Amai os vossos inimigos
• Regra de Ouro 
• Não julgueis, para que não sejais julgados
• O teste de uma boa pessoa
• A Parábola dos Sábios e os Construtores Tolos
• A Parábola da Ovelha Perdida
• A Parábola da Festa de Casamento
• A Parábola dos Talentos
• A Parábola do Fermento
• A Parábola do cego guiando outro cego
• A Oração do Pai Nosso
• A exposição da Lei
• Os pássaros do céu e os lírios do campo 
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Referências bibliográficas sobre o assunto:

Introduction to the New Testament, Everett F. Harrison, Wm. Eerdmans (1971) 
A Formação do Novo Testamento, Oscar Cullman, Ed. Sinodal (2001) 
História da formação do Novo Testamento, Pinheiro Martins, Ed. CELD (1993) 
Introdução ao Novo Testamento, Werner G. Kümmel, Ed. Paulus 
The five gospels.Harper SanFrancisco. Funk, Robert W., Roy W. Hoover, and the Jesus Seminar, [1993] 
Introduction to the New Testament, Everett Falconer Harrison [1971] Wm. Eerdmans 
Ehrman, Bart D. (2004). The New Testament: A Historical Introduction to the Early Christian Writings. New York: Oxford. 
Three Views on the Origins of the Synoptic Gospels, Robert L. Thomas
The Biblical Canon: Its Origin, Transmission, and Authority, Lee Martin McDonald
Exploring the Origins of the Bible: Canon Formation in Historical, Literary, and Theological Perspective (Acadia Studies in Bible and Theology) Craig A. Evans, Emanuel Tov, Lee McDonald
The Canon Debate, Lee Martin McDonald, James A. Sanders