sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ouvindo os Dois Lados: Modernismo x Racionalismo


BATALHANDO PELOS PRINCÍPIOS QUE CRISTO ESTABELECEU

A LONGA E DEPLORÁVEL HISTÓRIA DO MODERNISMO TEOLÓGICO -Título original em inglês: The Modernistic Attack Upon The Bible In These Last Days

É impossível entender o que está acontecendo em nossos dias sem um conhecimento da história do modernismo teológico. O modernismo enfraquece a fé das pessoas na Bíblia e estabelece a plataforma para o sucesso da teoria da evolução.

O modernismo não enfraqueceria a Igreja da Inglaterra e outras denominações se não tivesse sido tão amplamente aceito. Charles Darwin foi até mesmo honrado pela Igreja da Inglaterra com uma sepultura na Catedral de Westminster.

O modernismo pavimentou o caminho para ataques furiosos contra a Bíblia pela imprensa secular.

A nona edição da Enciclopédia Britânica, publicada em 1878, incluiu trabalhos de críticos da Bíblia, fazendo com que este criticismo se tornasse disponível para os povos de língua inglesa em geral pela primeira vez. Desde então o assalto a Bíblia pela imprensa popular tem se tornado comum.

A Newsweek, Time, The New York Times, The London Times, National Geographic, CNN, BBC e outras incontáveis vozes influentes regularmente publicam reportagens criticando a Bíblia. Tal fato se tornou plenamente aceitável. O modernismo pavimentou o caminho para a rápida propagação da filosofia da Nova Era.

A Nova Era é baseada na premissa modernista de que o registro histórico da Bíblia não é exato e que o Cristo Bíblico não é verdadeiro. A Nova Era também emprega métodos engendrados de modernistas para interpretação não literal. O modernismo pavimentou o caminho para os ataques violentos das versões modernas da Bíblia.

A maioria dos fundadores do moderno criticismo textual, que nos deram as Bíblias modernas, eram comprometidos com o modernismo teológico. O modernismo pavimentou o caminho para a corrupção do cristianismo popular.

É o modernismo que pode explicar a reportagem da revista Newsweek de 31 de agosto de 2009, intitulado “We Are All Hindus Now.” [Somos Todos Hindus Agora]. O artigo diz: “De acordo com recentes dados de uma pesquisa conceitual, pelo menos, estamos aos poucos nos tornando mais semelhantes aos hindus e menos parecidos com cristãos tradicionais no modo em que pensamos sobre Deus, sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre a eternidade. ... O Rig Veda, o mais antigo escrito hindu, diz assim: ‘A verdade é uma, mas a sabedoria que fala dela é através de muitos nomes’.

Um hindu acredita que existam muitos caminhos para Deus. Jesus é um caminho, o Corão é outro, a prática da yoga é um terceiro. Nenhum é melhor do que outro, são todos iguais... De acordo com o Forum Pew 2008 avaliou que 65% acreditam que muitas religiões podem levar a vida eterna – incluindo 37% de evangélicos.

Para Stephen Prothero, professor de religião na Universidade de Boston, os americanos tem como marca uma propensão para a religião do tipo cafeteria-delicatessen muito semelhante ao espírito do hinduísmo... sobre qualquer prática. Se for para a prática da yoga, está bem –se for para a prática da missa católica, está bem. E se for para uma missa católica e também para a yoga, o budista aceita obras, isto é bom também”.

Em nossa opinião, esta observação está correta... o cristianismo na América está a milhas de distância daquele mostrado nas Escrituras. Mas ainda existe uma pequena porção bíblica nele. Para descobrir a razão disto, deve-se entender o surgimento e a difusão do modernismo teológico sobre os dois últimos séculos.

O MODERNISMO FOI PROFETIZADO NA BÍBLIA

A ascensão do modernismo teológico não é surpresa alguma para um crente na Bíblia. As profecias do Novo Testamento sobre a trajetória da era da Igreja descrevem um grande abandono da fé verdadeira entre os aqueles que professam ser cristãos. Considere por exemplo estas duas passagens:
2 Timóteo 3:1 - 4:4 Esta profecia fala de uma apostasia indiscriminada (abandono da fé bíblica) no fim desta era. Esta não é uma descrição do mundo como um todo; é uma descrição de cristãos professos. Estas pessoas têm “aparência de piedade” (3:5) e rejeitaram a sã doutrina (4:3), ao passo que o mundo nunca teve nada em comum com a sã doutrina. É nos dito que esta apostasia iria aumentar por toda a era da igreja (3:13), mas outras passagens indicam que ela explodirá no fim desta era.

Se observarmos as características desta apostasia, veremos que o modernismo teológico é descrito em grandes detalhes.

1. Orgulho (3:2) Modernismo é caracterizado por orgulho do intelecto e da erudição. Eles rejeitam a sabedoria do passado.

2. Blasfêmia (3:2) Modernistas tem blasfemado de Deus e O rejeitado, negando a divina inspiração de Sua Palavra, chamando-O de “amedrontador”, renunciando Seus milagres e negando que Jesus é Deus.

3. Profanidade (3:2) Modernismo na doutrina tem andado de mãos dadas com o modernismo na vida, com relativismo na moral. Muitos dos pais do modernismo teológico, incluindo Paul Tillich e Karl Barth, foram adúlteros. Alguma das denominações modernistas tem usado até mesmo pornografia em seu ensino. Por exemplo, em 1988, uma comunicação da Igreja Metodista Unida emitiu uma declaração sobre o erotismo, aprovando a sexualidade explícita na pornografia considerando-a como não “violenta ou coerciva”. Como vemos, os modernistas estão na vanguarda na aceitação da homossexualidade em suas igrejas.

4. Calunioso ( 3:3) Modernistas são desonestos. Um pastor crente na Bíblia amigo de um estudante que tinha lido os escritos de modernistas concluiu: “modernistas mentem”. Eles fazem mau uso da Palavra de Deus e torcem a verdade. Eles também torcem aquilo que os crentes na Bíblia acreditam.

5. Desprezo pelos crentes na Bíblia (3:3) Modernistas desprezam os pregadores que crêem na Bíblia. Eles os hostilizam, particularmente quando são desafiados pela verdade.

6. Sempre aprendendo e nunca chegando ao conhecimento da verdade (3:7) O modernismo não tem um credo estabelecido exceto que a Bíblia não é infalivelmente inspirada. Isto tem sido constante por dois séculos.

7. Resiste a verdade (3:8) O modernismo não se contenta em pregar suas próprias doutrinas; ele se opõe a verdade Bíblica, as vezes atrevidamente, as vezes ocultamente.

8 - Réprobos em relação a fé (3:8) O modernismo é fundado sobre este princípio. Começou pela rejeição da fé doutrinária do Novo Testamento.

9. Rejeição intencional da verdade (4:3-4) O problema com os modernistas não é que eles sejam inocentemente ignorantes em relação a verdade, mas sim que eles a tem rejeitado conscientemente.

10. Retorno as fábulas (4:4) O modernismo é impregnado de fábulas. Alegam por exemplo, que houve duas criações em Gênesis 1-2, o documentário da teoria do Pentateuco, os três Isaías, o mítico documento de Qunram sobre o qual os Evangelhos foram alegadamente baseados, etc

2 Pedro 2:1 - 3:7 Esta profecia também vislumbra os “últimos dias” (3:3) e descreve os falsos mestres que iriam proliferar. Novamente, temos uma perfeita descrição do modernismo teológico.

1. Eles ensinarão terríveis heresias sobre Cristo (2:1). Isto é precisamente o que o modernismo tem feito ao negar o nascimento virginal de Cristo, Sua vida sem pecado, Seus milagres, Sua morte em lugar do pecador e Sua ressurreição corpórea.

2. Muitos os seguirão (2:2). Como podemos ver, o modernismo tem ganhado seguidores em massa.

3. Eles blasfemam do caminho da verdade (2:2). Isto aconteceu por causa de suas heresias e suas vidas imorais. Os descrentes dizem: “Se isto é cristianismo, eu não quero ter nada com ele”. Cristianismo modernista tem produzido agnosticismo e ateísmo desenfreado onde quer que tenha entrado. Pessoas que tem crescido em volta deste tipo de cristianismo espiritualmente impotente acabam por rejeitá-lo. O catolicismo romano e a igreja ortodoxa grega tem produzido o mesmo efeito.

4. Eles são avarentos (2:3, 14, 15). A cobiça é o que impulsiona o modernismo. O que motiva um modernista para que afirme que cristãos pensem como ele, do que crer nos fundamentos da verdade? Dinheiro! Prestígio! E satisfação de ver outros também cobiçarem.

5. Eles são rebeldes em relação a absoluta moralidade bíblica (2:6, 10, 14, 18-19). Isto é uma expansão do tema que começou na profecia de 2 Timóteo 3. Em 2 Pedro 3:3, temos uma indicação que esta é a maior motivação dos modernistas, a rejeição da verdade. Eles se recusam a obedecer aos mandatos da Escritura.

6. Eles estão sem vida espiritual (2:17). Tendo rejeitado o Todo-Poderoso Deus Senhor Jesus Cristo e o Evangelho, eles não tem vida espiritual para oferecer a um mundo necessitado.

7. Eles são caracterizados pelo orgulho. (2:18). Vemos isto na 2 Timóteo 3.

8. Eles são escarnecedores (3:3). Eles não estão satisfeitos em rejeitar a Bíblia; eles querem zombar dos ensinos tradicionais. Isto faz lembrar das palavras do bispo Episcopal John Spong em seu livro Rescuing the Bible from Fundamentalism [Regatando a Bíblia do Fundamentalismo]: “É claro que essas narrativas [da Bíblia] não são literalmente verdade. Estrelas não passeiam pelo céu, anjos não cantam, virgens não dão a luz, magos não viajam a uma terra distante para presentear um bebê e pastores não vão procurar um recém nascido”. O nome de Spong não está na Bíblia, mas sua zombaria está!

9. Eles negam a segunda vinda de Cristo (3:4). Este tem sido um princípio do modernismo desde seu começo. Eles negam as profecias bíblicas da segunda vinda totalmente ou as alegorizam.

10. Eles defendem uma doutrina uniformitarista [N.T.: Teoria segundo a qual as grandes modificações ocorridas na Terra, no passado, resultaram não de catástrofes em grande escala, mas de processos geológicos contínuos, como os que ocorrem no presente] e negam que houve um dilúvio que cobriu toda a terra (3:4-5). O modernismo teológico se amarrou a teoria da evolução desde seu começo no século 19.

11. Eles são conscientemente ignorantes (3:5). Novamente, os modernistas não são meramente ignorantes; eles são conscientemente ignorantes. A verdade pode ser encontrada na Bíblia e é bem substanciada por fatos, mas os modernistas se recusam a acreditar.


O COMEÇO E CRESCIMENTO DO MODERNISMO

A metade do século 18 trouxe a era da “iluminação”, em que o racionalismo foi positivamente encorajado por Frederico II, o “rei filósofo”, que reinou sobre a Prússia por 46 anos (1740-1786). A “era do iluminismo” deveria ser de fato chamada de “era da descrença”. Frederico II foi “um profundo racionalista e patrono no ‘livre pensamento’. O sinal de uma cruz, se dizia, era suficiente para ofendê-lo” (Iain Murray, Evangelicalism Divided, p. 5). O dicionário Oxford de 1934 definiu corretamente o termo “iluminismo” como sendo “superficial e pretensioso intelectualismo, excessivo desprezo pela autoridade e tradição”.

Seguem alguns dos nomes mais proeminentes no desenvolvimento do modernismo teológico:

Gotthold Ephraim Lessing (1729-81) poeta alemão, dramaturgo, teólogo e luterano deísta. Ele é conhecido como “o pai do criticismo alemão” (Minute History of the Drama, 1935). Quando jovem se engajou na tradução das obras de Voltaire, que viveu por algum tempo na Alemanha, mas abandonou tal empreitada e desenvolveu sua própria filosofia descrente. Lessing foi uma proeminente voz de uma nova proposta sobre a história do homem que levou ao conceito de “desenvolvimento orgânico”. Lessing considerava a história como um contínuo processo pelo qual um deus imanente vai de forma gradual educando a humanidade. A humanidade é vista como um indivíduo gigante que vai se desenvolvendo desde a infância passando pela juventude até a maturidade; sempre mudando, mas sempre o mesmo indivíduo e em cada estágio de desenvolvimento vai adquirindo avançados conceitos éticos. A palavra germânica aplicada a este processo é aufheben [N.T.: elevar]. A revelação foi meramente a instrução progressiva da raça e não foi negada para ser omitida, mas também não foi sempre intencionada para ser fixa, dada uma vez por todas. Requereu ser mudada de era em era. Este processo de educação religiosa das raças, em que necessariamente há avanço na doutrina, eventualmente tornou-se o conceito de desenvolvimento orgânico”. (James Sightler, Tabernacle Essays on Bible Translation, 1992, pp. 8, 9).

Johann Gottfried Eichhorn (1752-1827) desenvolveu e popularizou a teoria de Jean Astruc. Foi Eichhorn que fez a distinção entre “baixo criticismo” e “alto criticismo”. Baixo criticismo é o exame de manuscritos para “recuperar” o melhor possível do texto original de um documento, enquanto que alto criticismo é a investigação de questões tais como autorias, datas e historicidade da Bíblia. (Ambos, baixo e alto criticismo vieram do mesmo caldeirão de ceticismo e ambos tem minado grandemente a fé nas Sagradas Escrituras porque são baseadas erradamente à fé). Eichhorn audaciosamente se engajou no criticismo bíblico, afirmando que o Pentateuco não foi escrito por Moisés como ensinou Jesus Cristo e os apóstolos e como tradicionalmente o povo de Deus acreditava, mas que foi editado como uma composição de diversos documentos e tradições. “Esta teoria foi depois estendida e desenvolvida na tese Graf-Wellhausen, o qual via todo o Pentateuco como o produto de vários extratos de tradições orais, desenvolvidas com o passar do tempo e os escritos registrados muito tempo depois que os eventos ocorreram” Biblical Criticism).

H.E.G. Paulus (1761-1851) de Heidelberg, Alemanha, fez uma divisão naturalista para explicar os milagres de Cristo. Ele afirmou, por exemplo, que Jesus não caminhou de fato sobre a água, mas que Ele estava caminhando sobre a terra e por causa da neblina e da névoa parecia que Ele estava caminhando sobre a água. Ele afirmou que Jesus não morreu na cruz, mas somente desmaiou, e com a umidade de baixa temperatura da tumba reviveu; e depois de um terremoto ter movido a pedra, Ele saiu do sepulcro e apareceu aos discípulos. É claro que isso tudo teria sido quase como um grande milagre como foi a ressurreição!

Frederick Schleiermacher (1768-1834) de Halle, Alemanha, exaltou a experiência e sentimentos acima da doutrina bíblica. Ele usou linguagem cristã tradicional, mas lhe deu um novo e herético significado. Enfatizou a necessidade de conhecer Cristo através da fé, mas isto não significava crer na Bíblia como a verdadeira Palavra de Deus tanto historicamente quanto infalivelmente; ele se referia meramente a própria intuição humana ou subconsciente. Não era pela fé na Palavra de Deus, mas “fé na fé”. Ele não considerava as verdades bíblicas históricas como necessárias para a fé. Assim Schleiermacher podia dizer: “Com meu intelecto eu sou um filósofo, e com meus sentimentos sou um devoto; mais do que um cristão” (citado por Daniel Edward: “Schleiermacher Interpreted by Himself and the Men of His School”, [Schleiermacher interpretado por si próprio e o Homem e sua Escola] British and Foreign Evangelical Review, Vol. 25, 1876, p. 609). Schleiermacher impediu a pregação doutrinária do púlpito (Iain Murray, Evangelicalism Divided, 2000, p. 11). “Schleiermacher é corretamente visto como a fonte principal da massiva mudança que ocorreu nas denominações protestantes históricas durante os dois últimos séculos ... em sua separação do conteúdo intelectual do cristianismo (a revelação bíblica objetiva) do “sentimento” cristão. Schleiermacher pareceu prover um meios por onde a essência do cristianismo pode restar não afetada, não importando o quanto da Bíblia foi rejeitado. A hostilidade do criticismo pela Escritura por esta razão não necessariamente é vista como uma ameaça a “fé”... o cristianismo, conclui-se, pode ter êxito independente se a Bíblia foi preservada como a Palavra de Deus e este pensamento foi o mais apelativo dos estudos teológicos do século 19 e tornaram-se cada vez mais destrutivos” (Murray, p. 11). Schleiermacher pavimentou o caminho para a visão neo evangélica que o homem pode ser um genuíno cristão e “amar o Senhor” mesmo que rejeite a doutrina bíblica. Por esta razão Billy Graham pode ter doce comunhão com modernistas céticos e papas e bispos católicos romanos.

Ferdinand Christian Baur (1792-1860), fundador da escola de criticismo do Novo Testamento de Tuebingen (Alemanha), afirmou que o Evangelho de João não foi escrito até 170 d.C. e que somente quatro das epístolas de Paulo foram de fato escritas por ele. Argumentou que o Novo Testamento foi meramente o registro natural das igrejas primitivas. Ele ensinava que Paulo pregou uma ressurreição espiritual ao invés de uma ressurreição corpórea e que somente depois da morte do apóstolo, durante a controvérsia com os docetistas é que a pregação da ressurreição corpórea teve início. Baur também promoveu a doutrina do “desenvolvimento orgânico” que “a igreja como o corpo literal de Cristo na terra empreendeu progressivamente elevadas verdades, mas sempre infalível e autoritativa em qualquer ponto ao longo da história” (James Sightler, Tabernacle Essays on Bible Translation, 1992, p. 9). A escola de Tuebingen foi muito influente em espalhar o modernismo teológico.

David F. Strauss (1808-74), um pupilo de Baur, “disseminou a ideia de que os elementos sobrenaturais e messiânicos presentes nos Evangelhos eram mitos”. Negou a divindade corpórea de Cristo. Seu livro Das Leben Jesu (A Vida de Jesus -1835) foi muito influente. A tese de Strauss é que todos os quatro Evangelhos são uma grande parábola; uma grande massa de lendas trazidas de muitas fontes, algumas até mesmo de origem pagã, aplicadas com motivos de esperança e benevolência em seus seguidores, por um obscuro profeta galileu que se promoveu inconscientemente, não apontando para o Deus de Moisés e Elias, cruel e vingativo e mesmo imoral como Strauss e os transcendentalistas o sentiam ser, mas um elevado, sintético, platônico, que foi beneficiário de avançados conceitos éticos no século 19” (Sightler, Tabernacle Essays on Bible Translation, p. 9). Strauss espiritualizou a ressurreição. A sua “Vida de Jesus” foi traduzida para o inglês em 1846 por Mary Ann Evans (que foi pelo ensinada por George Eliott), autor de Silas Marner, “que no processo se rendeu a fé evangélica no qual ela tinha sido criada” (Sightler, p. 9).

John Stuart Mill (1806-73) publicou seu sistema de lógica em 1843, em que afirmava que a única fonte válida de informação é o sentido físico e a investigação cientifica, renunciando assim a fé. Mill teve uma grande influência na Universidade de Cambridge e por toda a Inglaterra no campo acadêmico.

A teoria Graf-Wellhausen foi assim batizada pelos seus criadores Julius Wellhausen (1844-1918) e Karl Heinrich Graf (1815-69). (Wellhausen publicou a Prolegomena, a história do Antigo Israel em 1878). De acordo com esta teoria, o Antigo Testamento não é a divina revelação de Deus, mas meramente o registro da evolução da religião judaica. Wellhausen tinha a opinião que “a religião judaica tinha evoluído a partir do desenvolvimento de primitivas histórias dos tempos dos nômades para o elaborado e institucionalizado ritualismo do período dos séculos antes de Cristo” (The History of Christianity, Lion Publishing, 1977, p. 554). Wellhausen negou a historicidade de Abraão, Noé e outros personagens bíblicos. Afirmou que Israel não conhecia o Deus Jeová até Moisés lhes ensinar sobre Ele no monte Sinai. Afirmou que as leis e o sistema sacerdotal não foram dados através de Moisés, mas foram desenvolvidos depois que Israel já estava estabelecido em Canaã e em alguns casos, depois do exílio babilônico; que a maior parte do Pentateuco foi escrito durante a época dos reis de Israel como uma “piedosa fraude”. Esta teoria teve, em suas diversas mutações várias formas e detém uma vasta influência na educação da maior parte das denominações e tem afetado dramaticamente o ensino “evangélico”.

Considere algumas descrições gerais dos efeitos do modernismo teológico na Europa e na Inglaterra durante o século 19:

O testemunho do historiador James Good:
“O racionalismo foi uma terrível onda que varreu a Alemanha como uma inundação” (James Good, History of the Reformed Church of Germany 1620-1890).

O testemunho de R.L. Dabney em 1881:
“Enquanto os eruditos e instituições de ensino alemãs têm estado demasiado ocupados com seus trabalhos, a nação como um todo tem sofrido um lapso em direção a um estado de semi-paganismo” (“The Influence of the German University System on Theological Education,” Discussions: Evangelical and Theological).

O testemunho de L.W. Munhall: “A condição de declínio espiritual das igrejas… o ceticismo, infidelidade e ateísmo prevalecendo de forma alarmante entre o povo da Alemanha, Suíça e Holanda, é sem dúvida, quase totalmente tributado aos que defendem a tese do criticismo, presente em uma grande maioria de proeminentes pastores e teólogos professores nestas terras. A mesma condição pode ser medida na Inglaterra, Escócia, Nova Inglaterra e em cada comunidade onde este criticismo é crido por qualquer número considerável de pessoas e abertamente defendido (L.W. Munhall, The Highest Critics vs. the Higher Critics, 1896).

O testemunho de Matthew Arnold sobre as condições encontradas na Grã-Bretanha no século 19:
"Clérigos e ministros estão cheios de lamentações sobre o que eles chamam de difusão do ceticismo... as especulações do dia estão operando entre o povo...” (Literature and Dogma, 1873, p. vi).

O testemunho do historiador S.M. Houghton:
“O fato é que a Alemanha, por volta da metade do século 19 foi inundada pela descrença. Os seminários e faculdades, bem como as igrejas, contribuíram para isto. O seu próprio livro de hinos foi revisado para privá-los de muito do conteúdo evangélico. A filosofia foi colocada no lugar da teologia e a Bíblia assaltada com selvageria. Milagres pararam de ser contados como milagres; eles são agora explicados de outra forma. As profecias bíblicas são desacreditadas. A deidade de Cristo foi roubada. Sua ressurreição é dita que nunca aconteceu. Tampouco Ele morreu de fato, mas sofreu um desmaio, ou se retirou depois de Sua suposta morte para algum lugar conhecido somente por seus discípulos. D.F. Strauss chocou com seu livro “A Vida de Jesus” (publicado entre 1835-36) o qual admitia uma estrutura de fato, mas afirmava que muito do conteúdo dos quatro Evangelhos foi pura mitologia. Julius Wellhausen (1844-1910) alcançou notoriedade por atacar o ensino ortodoxo no tocante a autoridade, unidade e inspiração das Escrituras e muitos infelizmente seguiram os seus passos. Ele foi o pioneiro da visão da alta crítica e sob sua influência muitos teólogos por todo o oeste europeu e Estados Unidos questionaram ou abandonaram a autoridade de Cristo” (Sketches from Church History, p. 239).

O testemunho de Charles Haddon Spurgeon, que passou os últimos anos de sua vida lutando contra a “degradação” na teologia que havia minado a União Batista Inglesa. Em 1887, Spurgeon escreveu as seguintes palavras:
“UMA BRECHA ESTÁ SE ABRINDO ENTRE OS HOMENS QUE ACREDITAM EM SUAS BÍBLIAS E OS HOMENS QUE FORAM PREPARADOS PARA INVESTIR CONTRA A ESCRITURA... aqueles que estão do lado doutrina evangélica estão em aberta aliança com os que chamam a queda do homem de fábula, que negam a personalidade do Espírito Santo, que chamam a justificação pela fé de algo imoral e que não existe um período de provação depois da morte... participar de adoração pública está diminuindo cada vez mais e reverência pelas coisas santas é considerado como algo vão. Acreditamos solenemente que isto é grandemente atribuível AO CETICISMO QUE TEM SE MOSTRADO NOS PÚLPITOS E SE ESPALHADO ENTRE O POVO” (Sword and Trowel, November 1887).

Spurgeon assim nos descreve a baixa condição espiritual que existia na Grã-Bretanha em sua época como o resultado da difusão do modernismo. A apostasia do fim dos tempos estava florescendo. Enquanto Spurgeon lutava contra o modernismo na União Batista, a mesma batalha sendo travada (e perdida) em outras denominações, incluindo Anglicana, Congregacional, Presbiteriana, Luterana e Metodista. (Uma excelente perspectiva sobre a batalha de Spurgeon pode ser encontrada na obra de Iain Murray: The Forgotten Spurgeon [O Spurgeon Esquecido], Edinburgh: The Banner of Truth Trust).

O testemunho da Liga Bíblica, que foi formada na Grã-Bretanha em 1892:
“Spurgeon em seus dias via a apostasia como uma goteira; no tempo da fundação da Liga Bíblica (1892) tornou-se um córrego, pouco tempo depois expandiu para um rio, e hoje se tornou um autêntico oceano de descrença. A maior parte dos homens que estavam nos marcos antigos desapareceu de vista.

A vida em terra se tornou uma viagem em um oceano desconhecido em um barco de erva daninhas 'lançado para lá e para cá, e levado por todo vento de doutrina.'

Nunca antes na história da humanidade os “homens que com astúcia enganam fraudulosamente”(Ef 4:14) estiveram em tão grande evidência. “Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados. (2 Tim. 3:13)”. (“The Bible League: Its Origin and Its Aims,” Truth Unchanged, Unchanging, Abingdon: The Bible League, 1984).

A VITÓRIA DO MODERNISMO

No século 20 o modernismo teológico já estava impregnado na maior parte das denominações na Europa e América e por todo o mundo.

Na primeira parte deste século, as denominações americanas testemunharam a controvérsia entre fundamentalistas e modernistas. Homens que zelavam pela verdade resistiram a maré do modernismo, mas a batalha foi perdida e as denominações não se voltaram mais para a Bíblia. Considere alguns exemplos de quanto o modernismo teológico tem se tornado a corrente em voga nas denominações.

Em 1976, Harold Lindsell afirmou:
“Não é injustiça alegar que entre denominações como a Episcopal, Metodista Unida, Presbiteriana Unida, Igreja Unida de Cristo, a Igreja Luterana na América e a Igreja Presbiteriana Americana NÃO EXISTA UM ÚNICO SEMINÁRIO TEOLÓGICO QUE TENHA UMA FIRME POSIÇÃO EM FAVOR DA INFALIBILIDADE BÍBLICA” (Harold Lindsell, Battle for the Bible, Zondervan, 1976, p. 145).

O seminário Jesus ilustra o ataque do modernismo. Consistindo de alguns “experts em religião e estudiosos do Novo Testamento”, o seminário teve início em um encontro em março de 1985 com o objetivo de descobrir quais palavras dos Evangelhos eram autenticas.

Ao longo dos anos 80, os participantes do seminário Jesus fizeram votações sobre a autenticidade das palavras ditas por Cristo encontradas nos quatro Evangelhos usando esferas ou bolas. Depois de discutir uma passagem, os “eruditos” modernistas faziam a votação. Vermelho indicava uma forte possibilidade de autenticidade; rosa, uma boa possibilidade; cinza, uma fraca possibilidade; e preto, branco ou sem cor, nenhuma possibilidade. As cores, portanto, indicavam vários graus de dúvida sobre a Palavra de Deus.

Em 1993 o seminário Jesus publicou “Os Cinco Evangelhos: Uma Pesquisa Sobre as Autênticas Palavras de Jesus”, que incluiu uma nova tradução chamada: “A Tradução dos Eruditos”. O código de cores foi incorporado ao texto para descrever o grau em que as várias porções dos Evangelhos são consideradas autênticas.

O seminário concluiu que Jesus disse somente 18% das palavras que Lhe são atribuídas na Bíblia. De acordo com este grupo de eruditos modernistas, Cristo não falou as bem-aventuranças no sermão da montanha; não disse nada sobre dar a outra face; não falou a parábola do semeador, a parábola das dez virgens, a parábola das dez peças de dinheiro, ou a parábola dos talentos; Ele não disse: “edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;”. Ele não orou no jardim do Getsêmane; Ele não disse: “Tomai, comei, isto é o meu corpo” e outras passagens associadas com a Ceia do Senhor, Ele não disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”ou “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” quando Ele estava na cruz. O seminário Jesus chegou a conclusão que Cristo não caminhou sobre as águas, ele não alimentou milhares de pessoas com alguns poucos peixes e pães, não profetizou a Sua morte e ressurreição ou segunda vinda, não conduziu a última ceia como registrado nas Escrituras, não apareceu diante do sumo sacerdote ou diante de Pilatos, não ressuscitou corporalmente ao terceiro dia e não ascendeu aos céus.

De acordo com o seminário Jesus: “A HISTÓRIA DO JESUS HISTÓRICO TERMINOU COM SUA MORTE NA CRUZ E A DECOMPOSIÇÃO DE SEU CORPO” (Religious News Service, March 6, 1995).

Um dos integrantes do seminário Jesus, Marcus Borg, fez a seguinte declaração a imprensa religiosa em 1992:
“EU NÃO VEJO A TRADIÇÃO CRISTÃ COMO VERDADE EXCLUSIVA, OU A BÍBLIA COMO A ÚNICA E INFALIVEL REVELAÇÃO DE DEUS... eu sou um dos cristãos que não acreditam no nascimento virginal, nem na estrela de Belém, nem na jornada dos magos do oriente, nem em pastores que vieram a um estábulo como fatos da história” (Bible Review, December 1992).

A TRAJETÓRIA DO MODERNISMO DESDE A VIRADA DO SÉCULO 20

A descrença que tinha começado como um córrego no século 18 e tornou-se um rio no século 19, transformou-se em um verdadeiro oceano de descrença no século 20. Como o modernismo que estava adormecido no século 18 e se arrastou no século 19, saltou no século 20.

- Albert Schweitzer publicou The Quest for the Historical Jesus [A Busca pelo Jesus Histórico] afirmando que Jesus não foi o Messias sobrenatural, o eterno Filho de Deus, mas um simples homem que pensando que a destruição do mundo era iminente tentou chamar a atenção das pessoas através de sua própria morte.

1907- Walter Rauschenbusch publicou Christianity and the Social Crisis [Cristianismo e as Crises Sociais], popularizando o não bíblico “evangelho social”. Outros influentes nomes do movimento “evangelho social” foram Washington Gladden e Charles Sheldon, autor da obra In His Footsteps [Em Seus Passos].

1910 - Adolf Harnack que no meio cristão apareceu em uma versão traduzida para o inglês, pregando sobre a paternidade de Deus. As leituras foram primeiro entregues na Alemanha, na Universidade de Berlim durante o inverno de 1899-1900.

1913 - Ferdinand de Saussure e seu curso de linguística geral foi publicado postumamente, marcando o nascimento da moderna linguística, negando Deus e a natureza absoluta da linguagem. De acordo com Saussure, o significado da linguagem não é algo para ser recuperado em um sentido absoluto, mas algo que cada pessoa cria por si mesma. Cinquenta anos depois, em seu livro Toward a Science of Translating, Eugene Nida reconheceu a influência de Saussure em sua própria teoria de equivalência dinâmica.

1918 - Harry Emerson Fosdick (1868-1969), pastor da influente igreja Riverside de Nova Iorque, publicou The Manhood of the Master [A Maturidade do Mestre], negando que Jesus Cristo é Deus.

1919 - Walter Rauschenbusch publicou A Theology for the Social Gospel [Uma Teologia do Evangelho Social] que troca a Grande Comissão de pregar o Evangelho a toda a criatura pelo objetivo de transformar a sociedade, buscando construir assim o reino de Deus na terra.

Karl Barth (1886-1968) publicou a primeira parte de seu comentário sobre a epístola aos Romanos.

Emil Brunner Barth (1889-1965) e Reinhold Niebuhr (1893-1971) foram os pais da neo-ortodoxia, que esconde sua descrença sob os termos usados pela teologia ortodoxa, dando um significado herético através de linguagem obscura (como por exemplo, falar sobre a “ressurreição corpórea” de Cristo ou da “segunda vinda” ou da “inspiração da Escritura”, mas não acreditando nessas doutrinas em um sentido tradicional). De acordo com a neo-ortodoxia, a Bíblia em si não é a objetiva e infalível Palavra de Deus, mas simplesmente se tornou a palavra de Deus por causa da experiência de existir através dos tempos.

1921 - Rudolf Bultmann (1884-1976) publicou The History of the Synoptic Tradition [A História da Tradição Sinótica], um primeiro passo em direção a sua tentativa de "desmistificar" o Novo Testamento. Em outro livro, Jesus and the Word [Jesus e a Palavra], Bultmann afirmou: “Podemos agora saber que não conhecemos quase nada sobre a vida e personalidade de Jesus”.

1924 – A Igreja Metodista Episcopal aprovou a ordenação de pastoras.

1925 – A tentativa de ligar os macacos ao homem foi defendida em Dayton, Tennesse, e crentes na Bíblia deram seu apoio mostrando pela mídia secular sua alegria pela suposta linhagem.

Alfred Whitehead (1861-1947) publicou Science and the Modern World [Ciência e o Mundo Moderno]; Whitehead foi uma proeminente voz do “processo teológico”, que ensina que o Deus da Bíblia não é onipotente, mas é sujeito ao processo de mudança “levado pelos agentes do livre-arbítrio; Deus não pode forçar alguma coisa a acontecer, mas somente influenciar o exercício deste livre-arbítrio universal através da oferta de possibilidades; porque Deus contém um universo de mudança, Deus é mutável (isto quer dizer, Deus é afetado pelas ações que ocorrem no universo) sobre o curso do tempo”. Outros proponentes deste “processo teológico” são Charles Hartshorne (1897-2000), John B. Cobb e David Ray Griffin.

1926 – Depois de um debate de quase cinco horas, a Convenção Batista do Norte votou por uma margem de três votos a um pela não expulsão da igreja Riverside de Nova Iorque por causa da militância modernista do pastor Harry Emerson Fosdick.

1927 – O bispo metodista Francis McConnell de Nova Iorque, negou a divindade de Jesus Cristo. Ele disse: “Esta tendência de deificar a Jesus não é mais pagã do que cristã?”.

1928 – O missionário metodista E. Stanley Jones escreveu: “se a infalibilidade verbal é insistentemente defendida, então certamente é muito precária” (p. 257).

1930 – A Igreja presbiteriana na América aprovou a ordenação de mulheres como anciãs.

1931 - Henry Sloane Coffin, presidente emérito da Union Seminary e antigo moderador da Igreja Presbiteriana escreveu: “Certamente... hinos ainda perpetuam a teoria que Deus perdoa pecadores porque Cristo comprou este perdão pela Sua obediência e sofrimento... Não há sangue que possa limpar o registro do que já foi feito... A cruz de Cristo não tem o significado de buscar o perdão” (Coffin, The Meaning of the Cross, pp. 118-121).

1932 – A Convenção Batista do Norte foi tão infiltrada pelo modernismo teológico que um equeno grupo de homens saiu dela e formou a Associação Geral de Igrejas Batistas Regulares - GARBC (General Association of Regular Baptist Churches).

1934 - William Temple, que se tornou arcebispo de Canterbury, disse: “... um ateísta que vive em amor é salvo pela sua fé em Deus cuja existência (sob este nome) ele nega” (Nature, Man and God, p. 416).

1935 - George A. Buttrick, pastor presbiteriano que se tornou presidente do Concílio Federal em 1940, escreveu: “Infalibilidade literal na Bíblia é um forte impossível de ser defendido... Provavelmente poucas pessoas que afirmam “crer em cada palavra da Bíblia” de fato crêem. Esta declaração em manter tal linha de lógica é arriscar uma viagem para um asilo de loucos” (Christian Fact and Modern Doubt, p. 162).

Emil Brunner publicou Unser Glaube (em alemão: Nossa Fé), no qual comparou a voz de Deus na Bíblia com a voz de um orador em uma gravação antiga. Como pode ser reconhecida igualmente a voz do orador da gravação seja tosca e por outro lado imperfeita, a voz de Deus pode ser reconhecida, entretanto a Bíblia é (supostamente) cheia de erros e mitos.

1936 – A Igreja Presbiteriana na América estava tão impregnada com o modernismo teológico que um pequeno grupo de conservadores saiu dela e fundou a Igreja Presbiteriana Ortodoxa.

1937 - O New York Times de 19 de março mostrou Pierre Teilhard Chardin (1881-1955) como o padre jesuíta que acreditava que o homem descendia de macacos. Teilhard fez mais. Ele tentou integrar religião com ciência e aplicar evolução na história humana, o que levaria a humanidade em direção a um "ponto ômega" de paz e unidade. Ele acreditava que a humanidade estivesse envolvida na "noosfera" ou rede de comunicação planetária.

1943—Pio XII, na sua Divino Afflante Spiritu, tornou-se o primeiro papa a endossar o uso do "criticismo cientifico” na Escritura.

1944 - G. Bromley Oxnam, bispo metodista e um dos primeiros presidentes do Conselho Mundial de Igrejas, endossou a chamada de Deus do Antigo Testamento de um "Tirano Sujo" em seu livro de 1944 “Preaching in a Revolutionary Age”. Oxnam escreveu: "Hugh Walpole, em Wintersmoore, conta a respeito de um pai e seu filho na Igreja. Na leitura do Antigo Testamento o menino aprendeu sobre o Deus terrível que enviou pestilências para as pessoas e criou serpentes para atacá-las. Naquela noite, quando o pai passou pelo quarto do menino, este o chamou, envolveu os seus braços ao redor do pescoço do seu pai, e o puxando para si, disse: 'Pai, você odeia Jeová. Assim como eu. Eu detesto esse tirano! ' Nós temos por muito tempo rejeitado uma concepção de reconciliação associada historicamente com um ideal de divindade que é repugnante. Deus, para nós, não pode ser pensado em um Ser bravo, terrível, vingador que por causa do pecado de Adão tem que ter o seu pedaço de carne de Shylock [N.T.: O agiota implacável em “O Mercador de Veneza”, de William Shakespeare. Ele exige um quilo de carne a partir do personagem-título da peça, após a inadimplência comerciante em sua dívida]. Não é nenhuma maravilha que o menino foi honesto em mostrar justificável repugnância ao dizer 'Tirano” (pg. 79).

1945 - Harry Emerson Fosdick, em uma carta escrita em janeiro de 1945 a um indivíduo que o indagara de Indiana, disse: "Claro que eu não acredito no nascimento virginal ou nessa doutrina substituitória antiquada da expiação, e eu não conheço nenhuma pessoa inteligente que a creia" (The Christian Beacon, January 3, 1957). Fosdick se tornaria o pregador de rádio do Conselho Federal de Igrejas na América (o precursor do Conselho Nacional de Igrejas) depois de sua formação em 1950.

1946 - A Convenção Batista do Norte celebrou sua reunião anual na Fountain Street Baptist Church, Grand Rapids Michigan. O pastor anfitrião, Duncan Littlefair, fez as seguintes declarações publicadas em seus sermões: "Deus pode ser identificado como um pedaço desta matéria-prima universal... Deus é uma parte de um grande todo e como tal constantemente está sendo quebrado e destruído e frustrado. ... Eu tenho que dizer que Deus não é eterno. ... Não há nenhuma razão qualquer que seja a natureza de Deus para assumir que ele é o mais forte ou o maior no universo ou que ele pode exercitar a sua 'vontade' como bem entender. ... Baseados em nossos estudos e proposições temos que dizer que Deus não é onisciente e não pode 'nos conhecer' em qualquer sentido normal do termo porque ele não é uma pessoa. ... Jesus não é e não pode ser Deus".

1948 - O recém estabelecido Conselho Mundial de Igrejas adotou uma confissão de fé fraca o bastante para prover praticamente qualquer tipo de heresia e até mesmo pregar universalismo, participando de adoração sincretista e outras atividades com religiões pagãs.

Harold Ockenga cunhou o termo "Neo evangelicalismo" e anunciou que a sua geração tinha “repudiado o separatismo" e pretendia colocar uma face mais positiva e intelectual no cristianismo. Olhando de volta 38 anos depois, Ockenga disse: "A chamada para um repúdio ao separatismo e a convocação para o envolvimento social recebeu uma resposta amável de muitos evangélicos" (prefácio de Ockenga para a obra de Harold Lindsell: The Battle for the Bible, 1986).

Em seu livro “Mahatma Gandhi: An Interpretation”, o missionário metodista E. Stanley Jones afirmou que foi para a Índia converter o pagão, mas que no fim o pagão o conquistou; ele se transformou em um adorador de Gandhi e um promotor do pacifismo.

1950 - O teologicamente liberal e comunista Conselho Federal de Igrejas na América (mais tarde renomeado como Conselho Nacional de Igrejas) foi formado.

1951 - Paul Tillich (1886-1965) começou a publicação de sua Teologia Sistemática, ensinando através de obscura e complicada linguagem um cristianismo filosofal, em que a teologia nunca é dogmática, mas está sempre em processo de mudança, que Deus, o "fundamento do ser", pode ser conhecido somente através de mitos. "Na melhor das hipóteses, Tillich foi um panteísta, mas seu pensamento vai ao limiar do ateísmo".

O influente teólogo Nels Ferre escreveu: "De fato, a referência no Evangelho de João para a reivindicação dos judeus para o efeito que eles não nasceram em adultério, poderia dar crença externa a um nazista a reivindicação de que Jesus era alemão. Maria, lembramos, foi achada grávida antes do casamento dela com José. Nazaré era ocupada por uma guarnição romana onde os soldados eram mercenários alemães. Jesus também é apresentado ao longo da história da arte, como é afirmado, tendo sido loiro. Isto é supostamente antinatural para os países mediterrâneos onde esta mesma tradição começou e foi continuada. Consequentemente, Jesus deveria ter sido filho de um soldado alemão!” (Ferre, The Christian Understanding of God, p. 191).

1955 - O bispo James Pike da Igreja Episcopal disse, "eu abandonei o navio na doutrina da Trindade. Eu lancei fora a doutrina do nascimento virginal de Jesus Cristo" (Christian Beacon, March 17, 1955).

1956 – É formada a revista Christianity Today, com Billy Graham e Carl Henry como seu primeiro editor chefe. Esta revista seria a primeira voz com ênfase positiva, não julgadora, não separatista, intelectualmente respeitável do cristianismo neo-evangélico.

1957 - A cruzada evangelística de Billy Graham em Nova Iorque foi patrocinada pelo Conselho Protestante, marcado por proeminentes teólogos liberais e modernistas. Aqui Graham começou a sua longa prática de elogiar os modernistas, quando gastou aproximadamente 10 minutos elogiando Jesse Baird, um famoso liberal e apóstata, o chamando de grande servo de Cristo. Esta cruzada foi o catalisador para o rompimento de Graham com fundamentalistas como Bob Jones Sr. e John R. Rice.

Leslie Weatherhead, metodista, que negou a expiação pelo sangue de Cristo disse: "Graham está ajudando a encher nossas igrejas. Nós podemos ensinar teologia para as pessoas quando tivermos alguém para ensinar" (Leslie Weatherhead: A Personal Portrait, 1975, pág. 199).

Na sua cruzada na cidade de São Francisco, Billy Graham elogiou o bispo modernista James Pike o fazendo ocupar a plataforma e conduzir a oração. Graham também falou na Grace Cathedral pastoreada por Pike. Graham elogiou Pike novamente em 1960 na sua cruzada em Detroit.

1958 - Um relatório oficial da cruzada de Graham em São Francisco informou que dos aproximadamente 1300 católicos que tinham comparecido, "praticamente todos permaneceram católicos, continuado a rezar para Maria, a ir à missa, e a se confessar a um padre" (Oakland Tribune, Wed., Dec.17, 1958).

O presidente desta cruzada era bispo metodista Gerald Kennedy que negou praticamente toda doutrina da fé cristã e que tinha endossado em 1953 o livro blasfemo de Nels Ferre “The Sun and the Umbrella”.

Quando a Igreja Unida de Cristo foi formada nos Estados Unidos através de uma fusão de congregacionalistas com evangélicos e a Igreja Reformada, adotaram a declaração de fé Unitariana.

1961 - Michael Ramsey, arcebispo de Canterbury, disse,: "O céu não é um lugar somente para cristãos... eu espero ver alguns dos atuais ateístas lá". (The Daily Mail, Oct. 2, 1961).

Os unitarianos na América se uniram com os universalistas para se tornarem a Associação Universalista Unitariana, unindo em um só conglomerado descrentes e ateístas, rejeitando a Bíblia e o Deus que ela apresenta, ao mesmo tempo aceitando praticamente qualquer religião, filosofia ou divindade aparte da Bíblia.

1962 - “Por volta de 1962 ficou evidente que havia alguns no Seminário Teológico Fuller que já não acreditavam na inerrância da Bíblia, tanto entre alunos quanto entre os professores (Harold Lindsell, The Battle for the Bible, pg. 106); David Hubbard que se tornou o presidente do seminário em 1963 se referiu sarcasticamente a doutrina da inerrância da Bíblia como "uma teoria teológica igual ao gás que enche um balão; um só vazamento e a Bíblia inteira vem abaixo”.

1963 — O bispo anglicano John A. T. Robinson escreveu em seu livro popular “Honest to God” que "o quadro inteiro de um ser sobrenatural que vem do céu para ‘salvar’ a humanidade do pecado... é francamente incrível para o homem desta era” (pg. 78). Robinson expressou um ponto de vista ateístico, dizendo: "Talvez, afinal de contas, os freudianos tenham razão, que um Deus tal como o da teologia popular tradicional -- seja uma projeção, e talvez estejamos sendo chamados para viver sem esta projeção de alguma forma" (pp. 17, 18). Na publicação deste livro, Hugh Montefiore, bispo de Birmingham, disse a Robert Runcie que se tornaria o Arcebispo de Canterbury em 1980: "John Robinson escreveu um livro que vai causar o caos -- ele vai contar para o mundo o tipo de coisas que nós realmente acreditamos" (Humphrey Carpenter, Robert Runcie: The Reluctant Archbishop, pg. 159). Claro que isso nunca resultou em caos, pela simples razão que o anglicano comum não se preocupa em nada com doutrina.

1964 - Uma pesquisa religiosa extrapolou isso, mostrando que por volta de 60.000 membros das três principais denominações nos Estados Unidos (Igreja Unida de Cristo, Metodista Unida, e Episcopal) são ateus ou agnósticos (Christianity Today, Nov. 20, 1964). A mesma pesquisa mostrou que 43% dos protestantes não acreditavam no nascimento virginal. --------- Quando perguntado se os cristãos congregacionalistas "acreditavam no nascimento virginal”, um porta-voz da Igreja Unida de Cristo (uma fusão de congregacionalistas com evangélicos e a Igreja Reformada) respondeu: "Provavelmente, a maioria não”. (Douglas Horton, “What Is A Congregationalist?” St.Louis Globe Democrat, 5 aug. 1964).

1965 - Harvey Cox, professor batista da escola de divindade de Harvard, publicou Secular City - “Celebrating the Advent of Secular Urban Civilization and the Retreat of Traditional Christianity”. Cox pulou na carroça da teoria de que "Deus está Morto" dizendo, "é muito cedo para falar, sem dúvida, mas pode bem ser que nossa palavra inglesa para Deus terá que morrer, confirmando na mesma medida o julgamento apocalíptico de Nietzsche que 'Deus está Morto' “.

1966 - Langdom Gilkey da Escola de Divindade da Universidade de Chicago relatou que: "Os mais jovens nem mesmo levantam o assunto do nascimento virginal ou do pecado original. Eles estão discutindo a existência de Deus. E se não houver Deus, você não tem que discutir sobre quaisquer das outras doutrinas" (“Theology,” Time magazine, Nov. 11, 1966, p. 57).

1967— Em relação à negação pública do bispo James Pike sobre a Trindade e outras doutrinas cardeais da fé cristã, a Igreja Episcopal nos Estados Unidos adotou uma resolução que declara que toda heresia é um anacronismo. Pike tinha “abandonado o navio da doutrina da Trindade" e chamado o nascimento virginal de "um mito primitivo".

1968 - Uma pesquisa religiosa feita por Jeffrey Hadden mostrou que aproximadamente 60% do clero metodista nos Estados Unidos não acreditava no nascimento virginal de Jesus Cristo e pelo menos 50% não acreditava na Sua ressurreição corporal.

Troy Perry fundou a Igreja Metropolitan Community Church, em Los Angeles, que se tornou a igreja mãe da primeira denominação cristã predominantemente homossexual. Até 1988 afirmava ter 38.000 membros em 200 congregações espalhadas pelo mundo.

Na sua autobiografia espiritual, “Song of Accounts”, E. Stanley Jones, missionário metodista, disse: "Não acreditamos que o Novo Testamento seja a revelação de Deus--isso seria a Palavra ter se transformado em "tinta de impressora “(pg. 377). 1971--Sete mil pessoas se espremeram na catedral episcopal de São João, Nova Iorque, para uma missa comemorativa ao terceiro aniversário do musical da Broadway “Hair”. O evento foi marcado pela presença de mulheres sem sutiã, trajes sensuais, banda de rock e milhares de balões coloridos ("Troubadours for God”, Time, May 24, 1971).

Na Igreja presbiteriana da Quinta Avenida em Nova Iorque, um ministro batizou um bebê "em nome do Pai, do Espírito Santo, e de Jesus Cristo Superstar", uma referência ao blasfemo musical que descreve o Senhor Jesus como um pecador comum ("The New Rebel Cry: Jesus Is Coming!” Time, June 21, 1971).

1972 - Cecil Williams, pastor da Igreja metodista Glide Memorial, de São Francisco, disse: "eu não quero ir para nenhum céu... eu não acredito neste assunto. Eu acho que tudo isso é um monte de -----”. [N.T.: tivemos que deletar o restante de sua explicação].

William Johnson da Associação Golden Gate do Norte da Califórnia, vinculada a Igreja Unida de Cristo se tornou a primeira pessoa abertamente homossexual a ser ordenada por uma das principais denominações nos Estados Unidos. Quando perguntado se poderia ser um bom ministro sem ter uma esposa, Johnson respondeu: "Eu realmente não sinto necessidade de uma esposa. Eu espero algum dia compartilhar uma relação de profundo amor com outro homem" (New York Times, May 2, 1972).

O Seminário Teológico Fuller mudou formalmente sua declaração doutrinária para refletir a heresia que estava sendo ensinada desde o começo dos anos 60. A declaração original dizia que a Bíblia é "plenamente inspirada e livre de todo erro em todas as suas partes". A nova declaração eliminou "livre de todo erro em todas as suas partes", levando-a para o campo de visão herético mantido pelo presidente David Hubbard e de muitos professores do Fuller de que a Bíblia contém erros.

A Igreja Episcopal São Clemente de Manhattan em 1972, apresentou "um batismo teatral onde mostrava painéis com as fotos dos irmãos Kennedy e de Martin Luther King Jr., um homem se barbeando em um banheiro aberto cantando ‘We Shall Overcome’, três jovens nuas tocando kazoos e esparramando água uma piscina de plástico, um ator que executava uma cena em uma banheira e queima de incenso" (Thomas Reeves, The Empty Church: The Suicide of Liberal Christianity, 1996, p. 154).

Em 1972 na sua conferência quadrienal, a Igreja Metodista Unida formalmente aprovou uma política de pluralismo doutrinário fundamentado em “quatro pilares de autoridade”: Bíblia, tradição, experiência, e razão.

1973 - Gustavo Gutierrez publicou “A Teologia da Libertação”, tornando-se uma proeminente voz pela liberação teológica, o qual via a salvação em termos de libertação da sociedade das injustiças sociais e econômicas. É o marxismo misturado com o cristianismo.

J. Kincaid Smith testemunhou que quando se formou na Hamma School of Theology, um seminário da Igreja luterana, que as seguintes condições predominavam: "Para o melhor de meu entendimento, nenhum de meus colegas, nem eu, acreditam em qualquer dos elementos milagrosos da Bíblia, em qualquer coisa sobrenatural, nem em seis da criação, nem que Adão e Eva foram pessoas reais e históricas, nem que Deus realmente falou com as pessoas, nem no dilúvio com a Arca de Noé, nem na divisão do Mar Vermelho. Acreditamos que nada na Bíblia do Antigo Testamento predisse alguma coisa sobre Jesus de Nazaré, que Jesus não foi profetizado no Antigo Testamento. Nem no nascimento virginal. Um de meus professores do Novo Testamento foi movido a escrever um poema para a ocasião da sua posse. Era um erudito a serviço da Capela Universitária de Wittenberg. Na ocasião ele especulou que o pai de Jesus era um soldado romano itinerante. Ele plenamente negou a real divindade de Cristo" (Christian News, April 29, 1985).

1974 - O assunto de março da revista Eternity continha um artigo escrito por Bernard Ramm intitulado "Bem-Vindos, novos evangélicos". Depois de listar cinco características (eles não estão interessados em questões sobre doutrina ou a controvérsia sobre a evolução ou os detalhes das profecias Bíblicas ou em debates sobre a infalibilidade das Escrituras, eles dão mais importância a psicologia do que a correção doutrinária), Ramm disse que deu boas-vindas a estes “evangélicos". 1976—O bispo James Thomas, da Igreja Metodista Unida, disse por ocasião da conferência quadrienal desta denominação: "Nós não acreditamos... em conceitos doutrinários rígidos para nos manter firmes em um mundo que está em constante mudança" (F.E.A. News & Views, May-June 1976).

1977 - Anne Holmes da Igreja Unida de Cristo se tornou a primeira mulher abertamente lésbica ordenada por uma grande denominação protestante. Um ano depois, Ellen Barrett se tornou a primeira mulher declaradamente homossexual a ser ordenada na Igreja Episcopal. Ela disse em relação a sua amante lésbica: "é o que alimenta a minha força e compaixão, e o que me trouxe ao ministério" (“The Lesbian Priest,” Time magazine, January 24, 1977).

1978 - Em seu livro The Worldly Evangelicals, Richard Quebedeaux declarou: "... é um fato bem conhecido que um grande número, se não a maioria, das faculdades e seminários em questão hoje já não acreditem na plena inerrância da Bíblia, até mesmo em situações onde os seus mantenedores ainda lhes exijam que assinem a declaração tradicional de que a Bíblia é 'verbalmente inspirada', 'inerrante', ou 'infalível em todas as suas partes', ou afirmar em outras palavras claramente definidas a doutrina da inerrância...”.

1979 - O Presbitério Nacional da Igreja Presbiteriana (nos E.U.A.) votou por uma margem de 165 a 59 a aprovação para ordenar Mansfield Kaseman como pastor embora ele negasse abertamente a divindade, nascimento virginal, impecabilidade e ressurreição corporal de Jesus Cristo. Quando perguntado se "Jesus é Deus", Kaseman respondeu, "Não, Deus é Deus". Mesmo diante dos apelos para que reconsiderasse esta decisão, o presbitério da denominação manteve Kaseman no cargo. 1981--Robert Bratcher, tradutor da Bíblia na Linguagem de Hoje, disse: "Somente ignorância voluntária ou desonestidade intelectual podem responder a reivindicação de que a Bíblia é inerrante e infalível. ... Nenhum crente amante da verdade, temente a Deus, e que honre a Cristo deveria ser culpado de tal heresia. Investir a Bíblia com as qualidades de inerrância e infalibilidade é a idolatrá-la, é transforma-la em um falso deus" (The Baptist Courier, Greenville, SC, April 2, 1981). Bratcher nesta ocasião estava falando a um seminário nacional patrocinado pela Comissão de Vida Cristã da Convenção Batista do Sul em Dallas, Texas.

O autor cristão popular Malcolm Muggeridge escreveu, "A história de Jesus como contada nos Evangelhos é verdade até onde pode ser acreditada; sua verdade deve ser procurada nos corações dos crentes em vez da história" (Muggeridge, Jesus, The Man Who Lives).

1982 - Robert Runcie, Arcebispo de Canterbury, quando perguntado na época da páscoa por um repórter pelo significado da cruz, respondeu: "sobre isso, eu sou um agnóstico" (Sunday Times Weekly Review, April 11, 1982). Seis anos depois Runcie disse: "A Igreja tem que se manter firme na dianteira contra o pensamento conservador".

Robert Schuller publicou Self-Esteem: The New Reformation, redefinindo o cristianismo nos termos da sua teologia do amor-próprio, declarando, por exemplo, que pecado é a falta de amor-próprio e nascer de novo significa que devemos ser mudados de uma negativa para uma positiva auto-imagem “(Schuller, Self-Esteem, p. 68).

Neste mesmo ano, somente 15% dos estudantes do Seminário Teológico Fuller mantinham a convicção dos fundadores do seminário de que a Bíblia é inerrante (George Marsden, Reforming Fundamentalism, p. 268).

Uma pesquisa do instituto Gallup em 1982 revelou que 34% dos metodistas acreditavam que o serviço comunitário é mais importante que proclamar o Evangelho.

1983 - O Conselho Mundial de Igrejas em sua assembléia geral apresentou uma dança pagã por uma mulher hindu do sul Índia. Era uma "dança clássica Bharathanatyam", executada para a “deusa mãe terra” hindu.

O Novo Conselho Nacional de Igrejas apresentou orações a Deus como o "Pai e Mãe." O comitê fortemente pró-feminista, encabeçado por um luterano, reclamou que o antigo idioma da Bíblia sobre Deus o Pai foi "usado para apoiar a autoridade excessiva dos pais" (Richard Ostling, “O God Our Mother and Father,” Time magazine, October 24, 1983).

1984 – Os editores da Christianity Today examinaram a teologia de Robert Schuller e concluíram que ele não é um herético.

A Igreja Metodista Unida aprovou um relatório que chamou todas as suas igrejas para se referir a Deus e a Jesus Cristo somente em termos de linguagem inclusiva--em outras palavras, não se dirigir a Deus como "Ele" ou como "Pai."

Charles Keysor afirmou que um pastor que apóia o sistema da Igreja Metodista Unida pode "ser qualquer coisa, de um silencioso conservador a um universalista agnóstico, ou até mesmo um comunista" e que "o clima na Igreja Metodista Unida é estranho e não hospitaleiro a fé evangélica sincera" (Christianity Today, Nov. 9, 1984).

Pouco antes de sua morte, o famoso líder evangélico Francis Schaeffer, publicou o livro “The Great Evangelical Disaster”, advertindo que: "Dentro evangelicalismo há um número crescente de pessoas que estão modificando as suas visões sobre a inerrância da Bíblia de forma que a autoridade plenária da Escritura está sendo completamente cortada”.

O Conselho Mundial de Igrejas publicou “No Longer Strangers” ensinando as mulheres a rezarem a Deus pelos seguintes nomes: Senhora da paz, Senhora da sabedoria, Senhora do amor, Senhora do nascimento, Senhor das estrelas, Senhor dos planetas, Mãe, presença, poder, essência, simplicidade...

A Catedral Episcopal de São João o Divino de Nova Iorque exibiu uma estátua da crucificação feita de bronze com 1,21 metros mostrando um Cristo com corpo feminino e nu (“Vexing Christa,” Time magazine, May 7, 1984).

David Jenkins, consagrado bispo de Durham [Inglaterra] em julho, descreveu a doutrina da ressurreição corporal de Jesus Cristo como uma “escamoteação com ossos” (no programa de rádio da BBC “Poles Apart”). Jenkins disse que o corpo de Cristo poderia ter sido roubado pelos discípulos ou ainda poderia estar na tumba. No típico falar dobre liberal, ele afirmou que, entretanto, milagres bíblicos como a ressurreição não são eventos literais, são "reais". Falando para o Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra no dia 6 de julho de 1986, Jenkins foi ovacionado quando advertiu que: "ser contra em associar milagres com Deus é afirmar que nenhuma igreja pode decidir de forma exata o que Deus é e o que ele quer" (Associated Press, St. Louis Post Dispatch, July 7, 1986).

O Teólogo luterano Dorothee Soelle escreveu: "Em minha própria reflexão teológica, minha afirmação de Deus como fêmea parece apropriada, especialmente quando eu quero enfaticamente diferenciar meu idioma desse Deus patriarcal. ... Não faz sentido algum postular o poder absoluto de Deus... quem precisa de um Deus como esse? " (To Work and to Love: A Theology of Creation, Fortress Press, pp. 6, 14).

M. Scott Peck estabeleceu a “Foundation for Community Encouragement” para "forjar uma nova cultura planetária". Peck afirma ser um cristão e os seus livros são populares tanto em livrarias cristãs quanto nas de Nova Era. Em seu livro de 1978 “The Road Less Traveled”, ele disse, "Deus quer que nós nos tornemos como Ele mesmo (ou Ela ou consigo mesmo). Estamos crescendo em direção a divindade. Deus é o objetivo da evolução". Um revisor do The New York Times disse: “a principal audiência deste livro está no vasto cinturão bíblico”. [N.T.: região localizada no sudeste dos Estados Unidos, conhecido por ser predominantemente de linha evangélica conservadora – no idioma inglês é chamado de “Bible Belt”].

1985 - A Igreja Episcopal São Lucas em Mineápolis promoveu uma campanha publicitária com o slogan, "A Igreja Episcopal dá as boas-vindas a você, não importando a raça, credo, cor ou o número de vezes que você nasceu”.

Herman Hanko, professor no Seminário Reformado Protestante em Grandville, Michigan, observou: "É quase impossível achar um professor evangélico nas escolas teológicas de nossa terra e no estrangeiro que ainda se mantém inflexível em relação a doutrina da inspiração infalível da Bíblia. O perigo insidioso é que a alta crítica é promovida justamente por esses que reivindicam acreditar na inspiração infalível" (Hanko, The Battle for the Bible, pp. 2, 3).

No dia 13 de maio, um evento ecumênico televisionado na Catedral de Newcastle da Igreja da Inglaterra mostrou hindus cantando, dançando, e oferecendo flores a um ídolo, muçulmanos lendo o Corão, e um guru Sikh honrando a sua divindade. O deus hindu Rhama foi proclamado como senhor e rei. O evento mostrou somente uma referência específica a Jesus Cristo, um hino de encerramento de linha Trinitariana (“Conservative Evangelicals claim there are serious errors in the Church of England,” The Christian News, April 15, 1985).

Vinte igrejas episcopais em Memphis, Tennessee, fizeram um anúncio declarando: "Em uma atmosfera de direito absoluto e injustiça, aqui há um pequeno lugar para respirar. ... a Igreja Episcopal é totalmente comprometida com a preservação do diálogo aberto e da fé não dogmática. Existimos para contar ao mundo sobre um Deus que nos ama apesar do que temos feito ou do que acreditamos. Até mesmo se nós não acreditarmos nEle, Ele acredita em nós. Não nos sufocamos com absolutos" (Christian News, Oct. 14, 1985).

William Schultz, presidente nacional da Associação de Universalista Unitariana, disse: “Universalistas Unitarianos estão abertos a verdades de todas as grandes tradições religiosas, como também da ciência e da experiência humana. Deus é muito grande para ser limitado por um dogma. Acreditamos que o foco da religião deveria estar nesta vida, em lugar de uma preparação para uma perspectiva de vida depois da morte" (St. Petersburg Times, Nov. 16, 1985, Religious Section, pp. 6, 7). 1986--O serviço de abertura da Sexta Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas em Vancouver, Columbia Britânica, mostrou índios pagãos norte-americanos que construíram um altar e uma "chama sagrada" nas quais lançaram oferendas de peixe e tabaco para satisfazer aos seus deuses da natureza, e ao redor eles dançaram. Três hindus, quatro budistas, dois judeus, quatro muçulmanos, e um Sikh eram os convidados oficiais da Assembléia, e havia leituras dos escritos hindu, budista, e muçulmano. No relatório do Secretário Geral para a Assembléia, Philip Potter, disse que “Deus unirá todas as nações na suas diversidades em uma casa".

Em 1986, haviam 20.730 mulheres ordenadas ao ministério de tempo integral em denominações norte-americanas, que representando 7,9% de todo o "clero" norte-americano (National & International Religion Report, March 13, 1989).

O Dia de Oração para Paz Mundial aconteceu em Assis, Itália, em outubro, conduzido pelo Papa João Paulo II. Unidos ao Papa estavam os representantes de 32 denominações Cristãs e organizações (incluido YWCA, Reformados Quakers, Menonitas, Aliança Batista Mundial, Discípulos de Cristo, Federação Mundial Lutarana, Anglicana, Ortodoxa e Católica Romana) e várias religiões não cristãs (hindu, Sikh, budista, Judaica, Islãmica, afro animistas norte-americanos, Xintoístas, religião de Zoroastro, Baha'i). Das orações combinadas desta multidão misturada, disse o Papa: "É urgente que uma elevação de preces em coro, e com insistência, da terra para o céu, pergunte ao Onipotente, de quem serão as mãos que conduzirão o destino do mundo, para o grande dom da paz" (The Tidings, April 11, 1986). O evento foi repetido em 1993 e 2002.

A Casa dos Bispos da Igreja da Inglaterra publicou “The Nature of Christian Belief”, dizendo que em relação à ressurreição de Cristo uma palavra como "corporalmente" é "inadequada ou até mesmo um termo enganoso e não faz justiça a Bíblia".

David Jenkins, bispo anglicano de Durham, disse que Deus pode ser uma mulher. “Claramente Deus não é exclusivamente masculino. Ele (ou ela?) deve refletir tudo o que é feminino. E ele/ela vai além de tudo isso” (Australian Beacon, October 1986).

A Sociedade de Bíblia da Austrália publicou um livro que mostrou Jesus Cristo como uma caricatura de um "HOMEM de AÇÃO."

1987- Michael Saward na Inglaterra descreveu a superficialidade do cristianismo evangélico de seus dias como "uma geração educada em guitarras, coros, de grupos de discussões nos lares, como um deles disse para mim, não usam palavras com precisão porque a imagem é dominante, não usam a Palavra; equipados não para dominar a doutrina, mas sim para ‘compartilhar’... suspeitando da definição e dos rótulos" (Evangelicals on the Move, p. 92).

1988 - Depois de participar de um culto de adoração em um templo budista, o bispo episcopal John Spong disse: "Como o cheiro de incenso encheu o ar, eu me ajoelhei diante de três imagens de Buda, sentindo que a fumaça pudesse levar minhas orações para o céu. ... Minha convicção é que o verdadeiro Deus... está dentro e além de todas estas tradições de adoração antigas. ... quando eu visito um templo budista que não é para mim um lugar pagão... eu não farei qualquer tentativa adicional para converter o budista, o judeu, o hindu ou o muçulmano. Eu estou contente de aprender deles e caminhar lado a lado com eles para o Deus vivo, eu acredito, além das imagens que nos ligam e encobrem tudo" (Spong, “A dialogue in a Buddhist temple,” The Voice, Jan. 1989; this is the official publication of the Diocese of Newark, New Jersey, of the Episcopal Church USA).

1989 - Uma extensa pesquisa feita entre pastores e o laicato da Igreja presbiteriana [dos E.U.A.] mostrou que somente 5% dos pastores acreditavam que a Bíblia deveria ser tomada literalmente, enquanto 75% acreditavam que aqueles que não ouviram falar de Cristo não serão condenados (National & International Religion Report, Mar. 13, 1989).

1990 - O Conselho Mundial de Igrejas em sua Sétima Assembléia em Canberra, Austrália, abriu com adoração pagã feita por aborígines que "trajados com tangas e penas e com seus corpos pintados com motivos tribais, dançavam em roda de um altar tocando tambores em uma tradicional cerimônia de purificação” (Christian News, Feb. 18, 1991, p. 1). Em seu pronunciamento diante da Assembléia, a teóloga feminista presbiteriana Chung Hyun-Kyung da Coréia do Sul invocou os espíritos “da morte da Terra, Ar, e Água" e disse, "eu já não acredito mais em um onipotente, machista, Deus guerreiro que salva todos os bons e castiga todos os maus".

1991 - Em seu livro “Rescuing the Bible from Fundamentalism”, o bispo John Spong da Igreja na Episcopal disse: “É claro que essas narrativas [da Bíblia] não são literalmente verdade. Estrelas não vagueiam, anjos não cantam, virgens não dão a luz, magos não viajam a uma terra distante para presentear um bebê e pastores não vão procurar um salvador recém nascido”.

1992 - Em seu livro The Battle for the Resurrection, Norman Geisler documentou a negação da ressurreição corporal entre evangélicos proeminentes, incluindo George Ladd do Seminário Fuller, E. Glenn Hinson do Seminário Teológico Batista do Sul e Murray Harris do Trinity Evangelical Divinity School. De acordo com estes, o corpo de Jesus desapareceu na ressurreição e Ele ascendeu imediatamente a céu; os aparecimentos subsequentes dele eram em uma forma visível mas não material através do que Ele se acomodou a compreensão humana.

1993 - A Associação de Clérigos de Salem, Massachusetts, deu boas-vindas um alto sacerdote de uma convenção de feiticeiros em sua sociedade.

David Wells, professor no Seminário Teológico Gordon-Conwell, publicou “No Place for Truth: or Whatever Happened to Evangelical Theology”, o qual a revista Time descreveu como "uma acusação pungente da corrupção teológica do evangelicalismo”.

Em uma conferência ecumênica em Mineápolis os participantes das principais denominações protestantes adoraram a Deus como um ser feminino e Chung Hyung Kyung da Coréia disse a multidão: "Minhas entranhas são budistas, meu coração é budista, meu cérebro direito é confuciano, e meu cérebro esquerdo é cristão".

Durante um culto de Páscoa, uma sacerdotisa da catedral Episcopal de Chicago disse que se Jesus voltasse ele desejaria que todo o mundo fosse livre para desfrutar do sexo, em qualquer forma que pudesse ser (“Show and Tell,” The Living Church, June 20, 1993).

1994 - Descrevendo a superficialidade teológica do evangelicalismo na última metade do século 20, David Wells disse: "O mar que se vislumbrou como sendo de uma milha de largura se mostrou ser só de uma polegada de profundidade" (Wells, God in the Wasteland).

O London Sunday Times de 31 de julho relatou que em uma conferência para “ateus cristãos”, que pelo menos em 100 Igrejas da Inglaterra os sacerdotes não acreditam em um Deus externo, sobrenatural.

Thomas Oden advertiu que seminários teológicos estão "inundados em "suposições sobre o anti-sobrenatural e que não há absolutos. De fato, "muito do pensamento de se inquirir por heresia tem se tornado uma nova heresia " (Oden, “Measured Critique or Ham-handed Trivia?” In Trust, Spring 1994, pp. 24-25).

Em outubro, o sacerdote Matthew Fox da Igreja Episcopal realizou a “missa planetária” na Grace Cathedral, São Francisco. Incorporou música rave, dançarinos girando, um altar na forma de um sol e de uma lua crescente, exercícios de tai chi chuan, referências a "Deusa Mãe" e a santidade da terra. O bispo William Swing disse: “Eu fui muito carregado por aquilo” (“It’s All the Rave,” The Living Church, November 27, 1994).

Na Convenção Geral da Igreja Episcopal nos Estados Unidos, o bispo da Carolina do Norte se desculpou por ter ofendido as mulheres chamando Deus de "Pai" (“Revival or Decline?” The Evangelical Catholic, March-April 1995, p. 10). 1995—Referindo-se a uma conferência teológica patrocinada por InterVarsity Christian Fellowship e Wheaton College, Carl Henry alertou que “não se apresentou um único representante da ortodoxia evangélica histórica comprometido com autoridade inquebrantável da Bíblia” (Calvary Contender, July 1, 1995).

O Mistério de Salvação, publicação da Comissão de Doutrina da Igreja da Inglaterra, declarou, "... hoje para muitos cristãos a idéia de um Deus que se oferece como substituto para nossos pecados é profundamente repelente" (pg. 122).

Dave Tomlinson, um professor evangélico da Igreja da Inglaterra, escreveu: “Retidão doutrinária pouco importa a Deus e assunto de placas de igrejas muito menos... São Pedro não nos está perguntando qual igreja pertencemos, ou se acreditamos no nascimento virginal; a palavra 'evangélico' nem mesmo entra na conversão" (Tomlinson, The Post-Evangelical, pp. 61-62).

Se referindo aos seus alunos, o professor Christopher R. Seitz da Escola de Divindade da Universidade de Yale queixou-se: “A maioria não sabe os nomes da metade dos livros da Bíblia, se Calvino viveu antes ou depois de Augustinho, se a ira de Deus é um meio de como entender um julgamento final" (“Pluralism and the Lost Art of Christian Apology,” In Trust, Summer 1995).

1996 - No dia 20 de abril, 80 teólogos evangélicos famosos e líderes de igrejas assinaram a Declaração de Cambridge, advertindo: "... a palavra 'evangélico' ficou tão inclusiva que perdeu seu significado. … Como a autoridade Bíblica foi abandonada na prática, como suas verdades tem se enfraquecido na consciência cristã, e suas doutrinas perderam a importância, a igreja está sendo crescentemente esvaziada de sua integridade, autoridade moral e direção".

George Carey, Arcebispo de Canterbury, bateu contra os fundamentalistas "que colocam a Bíblia acima e além da investigação humana" (Christian News, Dec. 9, 1996).

1997 - Em uma entrevista com Robert Schuller, Billy Graham disse: "Deus está convocando as pessoas do mundo pelo Seu nome, se eles vêm do mundo muçulmano, ou do mundo budista, ou do mundo cristão ou o mundo não crente, eles são os membros do corpo de Cristo porque eles foram chamados por Deus. Eles podem nem mesmo saber o nome de Jesus, mas eles sabem que em seus corações precisam de algo que não têm, e eles se voltam para a única luz que eles têm, e eu penso que eles são salvos, e que vão estar conosco no céu" (broadcast on Robert Schuller’s Hour of Power, May 31, 1997).

Oliver Barclay escreveu, "Nenhuma universidade na Inglaterra ostenta agora a frase 'o temor do Senhor é o princípio da sabedoria' " (Barclay, Evangelicalism in Britain: 1935-1995: A Personal Sketch, p.129).

Uma pesquisa religiosa mostrou que a vasta maioria de jovens que professam ser cristãos na Inglaterra não vê nada errado com sexo fora do casamento; 85% de católicos romanos e 80% de anglicanos têm esta mesma visão (Religious News Service, June 18, 1997).

A homossexualmente-orientada Universal Fellowship da Metropolitan Community Church foi admitida no Conselho Ecumênico do Sul da Califórnia. A Universal Fellowship habitualmente executa casamentos homossexuais.

1998 - O arcebispo de Canterbury George Carey disse: "Para muitos de nós na Igreja, o liberalismo é um elemento criativo e construtivo para explorar a teologia de hoje. ... Constituiria o fim do Anglicanismo como uma força significante em um contexto de cristianismo mundial se perdêssemos este ingrediente vital" (Church of England Newspaper, April 9, 1998, p. 8).

Carl Trueman da Universidade de Aberdeen escreveu: "É necessário somente uma olhada em muitas das obras que surgem de eruditos evangélicos contemporâneos para concluir que a noção de autoridade bíblica como compreendida em quaisquer de seus modos clássico-ortodoxos foi substituída em geral ou pelos conceitos de neo-ortodoxia ou simplesmente pelo silêncio nos assuntos mais espinhosos" (“The Impending Evangelical Crisis,” Evangelicals Now, Feb. 1998).

1999 - O cardeal católico Francis Arinze, da Thanksgiving World Assembly (Dallas, Texas) em março, disse que uma pessoa poderia ir para o céu sem aceitar a Jesus. Recorrendo a um documento do concílio Vaticano II ele disse que: “a grande salvação de Deus não só inclui os cristãos, mas judeus, muçulmanos, hindus e as pessoas de boa vontade" (Dallas Morning News, March 20).

Os representantes da Federação Luterana Mundial e da Igreja Católica Romana se encontraram em Augsburg, Alemanha, no dia 31 de outubro e assinaram a “Declaração em Comum da Doutrina da Justificação". A Declaração apóia a posição católica que boas obras e sacramentos são necessários para a salvação.

2000 - Em um artigo postado no The Bulletin, Peter Carnley que foi eleito chefe da Igreja Anglicana na Austrália declarou em abril que o autor do livro de Atos escreveu em ignorância quando declarou que Jesus Cristo é o único meio de salvação (Atos 4:12).

Um relatório da doutrina do Inferno patrocinada pela Aliança Evangélica do Reino Unido declara que muitos evangélicos rejeitam a doutrina de que Inferno é um lugar de tormento e apóiam a doutrina da aniquilação. 2001--Três congregações unitarianas nos Estados Unidos realizaram rituais de feitiçaria e se referiram a uma divindade feminina em seus serviços. O mais recente a fazer isto é a Pleasant Valley Unitarian Universalist Church em Garland, Texas. Eles usam velas que representam "os elementos da terra, ar, fogo, e água" e sermões focalizados em temas sobre as coisas da terra.

Uma organização chamada Standing Together Ministries foi estabelecida para promover diálogo entre os cristãos evangélicos e mórmons. O seu fundador Greg Johnson escreveu um livro junto com Steve Robinson, um mórmon, intitulado "How Wide the Divide”, concluindo que as divisões entre mórmons e crentes na Bíblia não são tão grandes quanto antigamente se pensava.

Enquanto estava em uma mesquita muçulmana no Bahrein, o arcebispo de Canterbury George Carey, disse: "Maomé foi claramente um grande líder religioso cuja influência em milhões foi para o bem" e escarnecendo de cristãos que pregam uma salvação exclusiva e sustentam a declaração de que "Jesus é o único caminho".

A Igreja presbiteriana (dos E.U.A.) em sua Assembléia Geral em julho rejeitou a declaração que só podem ser salvas as pessoas pela fé em Jesus Cristo. Ao invés, foi aprovada uma declaração vagamente formulada que Cristo é "exclusivamente Salvador", isto necessariamente não significa que não podem ser salvos os não cristãos pelas próprias suas religiões.

2002 - Os mais de 1185 participantes presentes ao encontro de clérigos femininas da Igreja Metodista Unida Internacional em San Diego se uniram em apoio a homossexualidade. Lésbicas foram representadas por mulheres que usavam roupões pretos e segurando cartazes onde se lia, "Nós também fomos batizadas”, enquanto as pastoras as cercavam para descrever "um anel de solidariedade" com os homossexuais.

Em agosto, Rowan Williams (que foi consagrado arcebispo de Canterbury seis meses depois), diante do sol do amanhecer e com orações cantadas "ao deus antigo e a deusa da terra", foi introduzido na ordem dos Druidas Brancos. Esta ordem foi fundada em 1792 por Edward Williams, e ainda que alguns afirmem que não tem nenhuma associação pagã, na realidade bebe abertamente das fontes hindu e druida. Edward Williams ajudou a fomentar o Unitarianismo em Gales.

2003 - A feminista Patricia Ireland, antiga presidente da National Organization for Women (NOW), foi designada como a nova executiva principal nos 145 anos da Y.W.C.A (Associação Cristã de Jovens Mulheres). Nos anos noventa a pró-aborto, pró-lésbica Patricia Ireland viveu com outra mulher em Washington.

Na 55ª reunião anual da Sociedade Teológica Evangélica, os membros votaram para não expulsar dois membros, Clark Pinnock e John Sanders que aderiram a heresia do teísmo aberto. Esta teologia nega a presciência e onisciência de Deus, reivindicando que Ele não sabe o futuro perfeitamente. O teísta aberto Gregory Boyd diz: “Deus não pode saber de antemão as decisões boas ou ruins do povo que Ele criou até que ele cria essas pessoas e elas por sua vez, criam as suas decisões”.

O ápice da filosofia do cristianismo rock & roll foi alcançada com a publicação de Thomas Nelson “Revolve: The Complete New Testament”. Elaborado no formato de uma mundana revista para meninas adolescentes, completada com fotografias de belas modelos e rapazes, com inclinação e valorização da beleza carnal, sugestões de como se divertir com o namorado (a), encorajamento para se sentir confortável usando trajes de banho, um teste para determinar se você é introvertido ou extrovertido, e muitas outras coisas vãs que distraem e até mesmo contradizem a mensagem da Bíblia.

No dia 7 de junho a Diocese Episcopal de New Hampshire elegeu o primeiro bispo abertamente homossexual na história da Comunhão Anglicana. O bispo recentemente eleito, Gene V. Robinson, tinha quebrado o seu solene juramento de matrimônio 13 anos quando deixou sua esposa e duas filhas jovens e passou a viver com um dos membros masculinos de sua denominação.

2004 - Falando no dia 31 de janeiro a 700 delegados na reunião anual da sua diocese, Peter James Lee, bispo episcopal da Virgínia, disse, "Se você tiver que fazer uma escolha entre heresia e cisma, sempre escolha heresia."

Em fevereiro, a 27ª edição do Lariat, o periódico da Universidade Baylor, a maior universidade batista do mundo, apresentou um editorial defendendo o casamento homossexual.

ADVERTÊNCIA FINAL

Estas informações são somente a "ponta do iceberg", mas estes fatos são suficientes para revelar que o cristianismo foi corrompido profundamente em nossos dias, e a prática da separação bíblica é mais necessária hoje do que em qualquer outra época. Por modernismo, o assobio da serpente escorregando pode ser ouvido ainda perguntando, "É assim que Deus disse?”. O povo de Deus têm que ir adiante até Cristo "fora do arraial" do cristianismo apóstata (Hebreus 13:13). A Palavra de Deus nos exorta “saí do meio deles, e apartai-vos” (2 Coríntios 6:17). Devemos evitar os que ensinam o contrário da verdade apostólica (Romanos 16:17) e que tem uma forma de piedade mas negam a sua eficácia (2 Timóteo 3:5).

Muitos jovens têm abandonado a fé ao entrarem em escolas teológicas modernistas e ao lerem literatura modernista.

Devemos ter certeza de nossa salvação da mesma forma que temos a unção do Espírito Santo (1 João 2:27) e estejamos fundamentados na Palavra de Deus de forma que possamos exercitar um agudo discernimento espiritual (Atos 17:11).

Temos que ensinar os membros da igreja nas Escrituras como também na história básica e nos princípios das heresias que nos confrontam em todos os lados. É dito que a CIA, a Agência Central de Inteligência, tem como uma de suas atribuições proteger a moeda norte-americana de falsificações treinando seus agentes através da análise de notas genuínas. Na realidade, este treinamento consiste em comparar as notas genuínas com as falsas e conhecer os métodos que estas notas foram falsificadas. Este é o método que nós vemos nas epístolas do Novo Testamento. Praticamente cada uma delas contém tanto as verdades quanto claras advertências sobre certas heresias específicas, e este é o exemplo de como igrejas de hoje têm que ensinar aos seus membros.



terça-feira, 26 de abril de 2011

Marcos (5,1-20) e o Enigmático Tema do Edemoninhado de Gadara

Empreender um estudo sócio-teológico sobre possessão e exorcismo é uma tarefa árdua e desafiadora, principalmente para um leigo (não formado na matéria de Sociologia, mas versado em Filosofia e Teologia). Sair do lugar comum e expor os conflitos de uma interpretação bíblica mais humana e intencional não tem sido considerado pela maioria dos eruditos. Por um lado, haverá aqueles que dirão não ser possível estudar sociologicamente o “mundo espiritual”. Outros dirão que humanizar o sagrado é correr o risco de banalizar a fé. A proposta de uma interpretação sociológica, uma nova leitura, é necessária porque não se pode desvincular a Bíblia do ser humano e este, do mundo em que vive.

O que tem a dizer, então, a História, a Tradição, o mundo bíblico do 1º e 2º Testamento, a Razão e a Ciência, sobre a possessão? Pode-se vincular possessão e alienação, possessão e opressão, possessão e doença? A partir desse ponto de vista, quê demônios atinge e penetra no ser humano e o aliena e o possui, tirando-lhe a liberdade?

Onde, nesse processo, se encaixa o preconceito religioso - contra negros p. ex. – com seus deuses demonizados? E o preconceito de gênero – contra as mulheres – que, acredita-se, é portadora e responsável pelo pecado original e por isso mais suscetíveis aos “encantos da serpente?” E o preconceito social – contra os pobres – onde este é considerado maldito e incapaz de mudar sua própria sorte, livrar-se de suas doenças, crescerem na vida?

Por quem ou pelo quê são possuídos?
Quais demônios sociais e políticos niilistas são introduzidos à força em seu viver frágil?

Sugerir respostas que gerem reflexões é a intenção desta obra. Porém, não foi possível incluir os conceitos de Paul Tillich (o demônico), e também, da mesma forma injusta, foi deixado à margem Rudolf Otto (o sagrado). Não seria possível abarcar todos esses conceitos, mas eles se encontram nas entrelinhas. A música como forma de exorcismo também não encontrou um espaço coerente para análise. Entre outros, foram considerados aspectos mais relevantes dentro da possessão: a política, o preconceito religioso, a medicina (doença), a comunicação (linguagem), a possessão cristã (pelo espírito de Deus), entre outros.

I. PARTE
1. INTRODUÇÃO

A perícope de Marcos (5,1-20) permite que o leitor da Bíblia a utilize além dos objetivos marcanos. Além da mensagem e da prática de Jesus, o leitor/intérprete poderá tirar práticas diversas sobre demonologia, exorcismo, palavras de ordem, diálogo, batalha espiritual, corporal e geográfica. Mas se o texto for analisado dentro de um contexto de opressão social e militar, o texto se revela pleno de sentidos reais e simbólicos. Embora seja um texto milenar em sua composição e originalidade, supõe-se uma narrativa realista que “requer simultaneamente a autonomia da literatura e a plausibilidade da redação histórica; ela é ao mesmo tempo contemporânea e afastada do leitor. Autonomia literária significar a liberdade criativa do autor para usar a ‘licença poética’ ao narrar situações, caracterizações e trama. O Evangelho não pretende ser relato ‘jornalístico’ de eventos; Marcos livremente interpreta e editorializa as tradições em que se inspira.” Marcos escreve a partir de um momento histórico e ninguém pode se apropriar do texto para criar uma teologia própria.

Esses aspectos do mundo narrativo de Marcos só podem ser vistos como reflexo direto de sua realidade social. A deterioração econômica e política, especialmente na década anterior aos levantes da guerra romano-judaica, deixou em extrema pobreza partes significativas da população palestinense, principalmente nas áreas rurais densamente populosas da Galiléia. A doença e a incapacidade física constituíam parte inseparável do ciclo de pobreza (fenômeno ainda verdadeiro nos dias de hoje, apesar do advento da medicina moderna). Para o trabalhador diarista, a enfermidade significava desemprego e empobrecimento imediato, As “multidões” (ochlos) servem de pano de fundo para a narrativa e representam um dos grandes aspectos de sua localização social.

Essa “apropriação” do texto para fins diversos pode ser literal, espiritual, ideológica ou sociológica. Mas sempre há uma intencionalidade no texto marcano, um conflito latente que se expande à medida que o texto vai sendo desvendado.

Um texto sempre é escrito a partir de um lugar social. Nele estão codificados elementos de política, econômica, ideologia e relações sociais que permitem identificar o leque das relações sociais e suas contradições, mesmo que tenha sido escrito a partir do horizonte de compreensão da classe dominante.

“A apropriação é algo mais do que a simples compreensão de um texto, não sendo apenas assimilação. Aqui, trata-se do mecanismo por meio do quais grupos ou classes sociais tentam tornar ‘seus’ o texto bíblico. Desse modo, tenta-se utilizar ideologicamente o texto bíblico como justificativa de uma determinada prática.” Fica claro que esse exemplo (do geraseno/gadareno) sempre será lembrado como o que mais causa impacto como prática exorcística. Para Marcos toda a prática de Jesus deriva desse conflito.

Para Marcos, toda prática de Jesus em seu ministério na Galiléia é caracterizada pela atividade de expulsar demônios. Desde a tentação no deserto (1,12-13) e o exorcismo inaugural (1,21-28), o evangelista caracteriza a prática de Jesus como expulsão de demônios.

2. O EVANGELHO DE MARCOS

O evangelho de Marcos deve ter sido escrito, de acordo com a maioria dos exegetas, por volta do ano 70. Marcos é considerado o mais antigo dos Evangelhos. Foi escrito em língua grega koiné, com hebraismos evidentes. Na história redacional, Marcos é tido como o redator final do texto recolhidos dos dados da tradição. O mais importante para o redator é o assunto e não a seqüência cronológica do relato. Marcos tem uma intenção querigmática ou “segunda intenção” na redação do texto.

Embora não se dê nenhuma importância à exatidão da sucessão histórica dos acontecimentos, a sua disposição dos diversos trechos, um ao lado do outro, não é arbitrária. É a intenção querigmática que dirige o seu trabalho de redator.

Marcos trouxe para o seu escrito tradições mais antigas que, na forma original, ainda não tinham sido propostas e transmitidas como “Evangelho”. Por ser a fonte mais antiga serviu de base para os demais evangelhos sinóticos, que têm como base também, a fonte “Q”.

É um relato em forma literária fantástica e original (não serão analisadas as variantes constantes nos demais evangelhos sobre esse episódio, como por exemplo, Mateus, que cita dois endemoninhados). Percebe-se essa estrutura literária intencional em Marcos.

Neste relato [Mc 5,1-20], muito elaborado a partir do ponto de vista literário, vão se alternando o registro narrativo... Jesus chega pela primeira vez a um território pagão (v. 1); a tomada de iniciativa contra o mal é o que desencadeia toda ação. O endemoninhado está situado no campo da impureza e da morte (vv. 2-5), simboliza o homem dominado e escravizado; nesse contexto, o diálogo com o demônio tem conotações políticas (Legião = Exército romano = demônios = porcos) e apresenta seu final violento no mar-morte. Porém deve-se ter em conta o que o “ corpo” significa na antropologia judaica: é o que dá presença operante ao espírito no mundo. Se são expulsos do homem, os demônios não poderão seguir atuando naquela região, a não ser em “outro corpo”; daí a importância do pedido (v. 10). Porém no consentimento de Jesus aparece a ironia: a porcaria, os porcos são lugar demônios-Legião romana. A concessão de Jesus é só aparente: quando os porcos se jogam no mar, os demônios ficam “sem corpo”, com o que a expulsão chega ao seu final. Não houve pacto.

Dessas conclusões estruturais se deduz a intencionalidade do momento histórico. Torna-se ainda mais fantástico porque, de acordo com alguns exegetas, Paulo já exercia seu apostolado nessa época. Pode-se ter uma idéia do contexto histórico do relato.

A interpretação do evangelho de Marcos pode ajudar-nos a descobrir, se não com exatidão, pelo menos aproximadamente, a sua situação histórica. Quando Marcos escreveu o seu evangelho, a missão entre os pagãos, que supõe a pregação de Paulo, já era incontestável.

(Há divergência entre os eruditos se há cinco, seis ou sete, relatos de exorcismo no 2º Testamento. Para o teólogo PE. Luís Schiavo existe seis). Não se chegou ainda à conclusão se o exorcismo é uma fórmula (ou forma) literária.

Tem-se discutido muito se o exorcismo seria uma forma literária. Existe também a preocupação em se definir uma coleção de milagres onde o exorcismo faça parte. Pelas características da prática exorcística do Jesus de Marcos é possível perceber uma estrutura bem definida, como atesta outras fontes e tradições. Encontramos muitos exemplos de histórias de expulsão e de envio de demônios ao mar na antigüidade. O mar sempre foi um lugar de destruição, do desconhecido, para o homem primitivo.

3. EXORCISMO COMO MILAGRE

Quase todos os cristãos acreditam em milagres, sem o qual a vida do homem religioso não teria sentido. “Todos acreditam em milagres, pelo menos os que acontecem no Antigo Testamento, nos tempo de Cristo e em Atos dos Apóstolos. Ele é o aviso mais visível e o mais acreditado entre os poderes do sobrenatural. Se, à sua maneira, ele serve para medir a crença comunitária no vigor de Deus e na verdade da fé, nada é mais forte do que as religiões dos fracos.” O milagre é o estímulo e o conforto de todo sofredor, oprimido, que acredita que um dia Deus irá salvá-lo e pode, por vezes, parece ser uma troca.

... o milagre popular é a mostra de efeitos simples de trocas de fidelidades mútuas entre o sujeito e a divindade, com a ajuda ou não de uma igreja e de mediadores humanos ou sobrenaturais.

Os milagres são acontecimentos estranhos, que o crente entende como sinais da ação salvadora de Deus. A narração dos milagres ocupa bastante espaço, com 156 versículos contra 119 da história da paixão e não se sucedem por ordem natural ou histórica. E todas essas narrativas de milagres tem como única e exclusiva intenção apresentar Jesus. E apesar de todas as controvérsias, o povo da Bíblia não questionava os milagres, visto não possuírem outra explicação para estranhos fenômenos.

Na opinião de SCHREINER, J. e DAUTZENGER, G., as narrativas de milagres, no Evangelho de Marcos, desenrolam-se de forma diferente que nos sinóticos e em João, e salientam a intenção querigmática de evangelista.

Muito diferente, no evangelho de Marcos foi o desenvolvimento das narrações dos milagres. Certamente elas foram determinadas desde o princípio pela primitiva profissão de fé em Jesus. É o que já se vê no uso freqüente de títulos cristológicos como “kyrios” (5,19; 7,28), “mestre” (3,1; 5,7), “o santo de Deus” (1,24), “Filho do homem” (2,10). As próprias aclamações que fecham as narrações dos milagres servem, direta ou indiretamente, à profissão de fé em Jesus, p. ex., em Marcos não têm, porém, uma característica única, como a sua história da paixão. Os seus modelos se encontram tanto no Antigo Testamento (p.ex., a ressurreição de mortos por Elias e Eliseu), como, principalmente, no ambiente helenístico do cristianismo primitivo. É possível descobrir entre as histórias prodigiosas helenísticas e cristãs primitivas não só motivos paralelos formais como também amplas concordâncias de estilo e de construção narrativa.

Ao apresentar Jesus como libertador e Messias, Marcos pretende mostrar que “em suma, os atos simbólicos de Jesus eram poderosos não porque desafiassem as leis na natureza [como milagre], e sim porque desafiavam as próprias estruturas da existência social. (...) sua cura e seu exorcismo funcionavam para ‘elaborar’ a ordem simbólica dominante, desmascarando a maneira como esta atuava para legitimar relacionamentos sociais concretos. À medida que essa ordem desumanizava a vida, Jesus desafiava, bem como desafiava suas estruturas: eis porque seus “milagres” não eram universalmente aceitos. Dependendo do status da pessoa na ordem dominante, cada um os encarava como desvios sociais (maus, heréticos) ou libertadores. Este ainda é um desafio para o século XXI: colocar em práticas os exemplo e ações de Jesus libertador.

John D. Crossan, citando o estudioso e erudito Haroldo Remus, esclarece ainda que o mesmo milagre que ocorre no interior de um grupo não tem o mesmo nome que em grupos rivais. Realidade sociológica que divide os povos. Mas o exorcismo é um milagre e existe sempre uma ligação entre os milagres apresentados pelos evangelistas e a mensagem e a pessoa de Jesus. Pode ser chamado de “milagre querigmático”.

3.1. A estrutura do milagre de exorcismo

Da cultura greco-romana, o judaísmo e cristianismo herdaram, entre outras coisas, o modo estrutural de pensamento, tanto expositivo como sistemático. Baseados em histórias de exorcismos desse sincretismo cultural, pode-se observar a seguinte estrutura de um milagre – de forma geral - de exorcismo:

Estrutura

1. Indicação da situação e descrição do estado do possesso
2. Encontro do exorcista com o possesso
3. Tentativa de defesa por parte do demônio
4. Ordem dada pelo exorcista para que saia do possesso
5. Saída acompanhada de demonstração
6. Reação dos espectadores

Os seguintes elementos estruturais típicos fazem parte da tópica:

1. Indicação do quadro mórbido
2. Tentativa de defesa por parte dos demônios
3. Pergunta pelo nome e indicação do nome
4. Ordem dada pelo exorcista ao demônio para que saia do possesso; fórmulas e práticas de esconjuros que ele usa
5. Saída acompanha de demonstração
6. Reação dos espectadores

Para não ficar apenas em um exemplo estrutural, citando J. Greimas, Ched Myers define cinco elementos essenciais das narrativas de exorcismo:

(1) mandato ou mandamento;
(2) aceitação ou rejeição do mandato;
(3) confronto;
(4) sucesso ou insucesso;
(5) conseqüência ou atribuição.

Entre outra característica dos milagres de exorcismo está o fato de que “no ritual das histórias extrabíblicas de expulsão de demônios encontram-se também ordens de silêncio.” No caso de Marcos, Jesus impede que os demônios revelem quem ele é, mas ao mesmo tempo, como um xamã, exige o nome do (s) demônios. Somente conhecendo o nome dos demônios, um exorcista poderia expulsá-lo.

4. A “LIBERTAÇÃO”

A opção narrativa de Marcos contém elementos de duplicidade, no qual ele repete os acontecimentos em seqüência a fim de enfatizá-los, ou chamar a atenção do leitor.
...certos elementos ocorrem duas vezes, a intervalo de apenas um versículo. Assim, p. ex., descrevem-se duas vezes: o encontro de Jesus com o possesso (vv. 2.6); a permanência do possesso os túmulos (vv. 3.5); o pedido de garantia dos demônios (vv. 10.12), e o relato das testemunhas oculares a outras pessoas (vv. 14.16). Estas duplicatas, ao que parece, querem reforçar a impressão que o relato deve provar no ouvinte e no leitor. E nisto elas se aproximam de um outro fenômeno que nos chama a atenção, ou seja: a indomabilidade do possesso, o comportamento totalmente oposto deste homem depois de curado, o grande número de demônios, etc.

Paul Tournier já expressava há algumas décadas que “os gritos são a arma dos fracos. O endemoninhado que grita está apenas expressando sua fraqueza diante de uma dominação reinante. A dialética existente entre a vontade do indivíduo e a vontade de dominar está implícita nas narrativas de exorcismo de Marcos. É visível, a partir daí, a relação antropológica e sociológica da possessão.

Se o exorcismo é um milagre, é um milagre de cura, de libertação do indivíduo alienado dentro de uma sociedade. A narrativa do gadareno pode incluir elementos simbólicos, porque o possesso está “cheio” de demônio (s) poderoso (s). Libertá-lo é inseri-lo na sociedade a fim de desenvolver plenamente o seu papel. O pedido para que Jesus vá embora da cidade deriva do medo que o milagre seja interpretado pelos romanos como um evento revolucionário. O medo torna-se maior que o milagre. O indivíduo está livre, mas a sociedade não. Na opinião de J. D. Crossan, toda sociedade oprimida desenvolve a crença em que os opressores são os demônios possuidores e a cura se dá através de um movimento de libertação ou ação religiosa que possibilite uma sublimação. Como exemplo ele cita uma história africana. Pode-se compara esse exemplo ao demônio-Legião, ou seja, o estrangeiro opressor.

A existência de uma dialética política entre o indivíduo possuído e a sociedade (...), ou seja, entre o microcosmo e o macrocosmo demoníaco – é confirmada pelo meu segundo exemplo, desta vez retirada de um caso moderno. Segundo Barrie Reynolds, nas tribos lunda-luvale dos barotse, que habitavam a região conhecida como Rodésia do Norte, havia uma enfermidade tradicional chamada mahamba, que era causada “por uma possessão pelos espíritos dos ancestrais”. Mais tarde, no entanto, acabou se desenvolvendo uma versão moderna dessa doença, chamada bindele; ela era “provocada pela possessão por outros espíritos [o que] pode ser considerado um reflexo da tensão entre a sociedade da vítima e o grupo representado pelo espírito. Acredita-se que aqueles que sofrem de bindele (palavra em luvale que significa ‘europeus’) estão possuídos pelo espírito de um europeu” (133). Reynolds ainda conta que em 1944 um exorcista chamado Rice Kamanga, que mais tarde adotaria o nome Chana I, fundou uma igreja dedicada à cura da bindele, “um processo demorado, que pode levar uma a cinco meses (135). Legião estava para a Palestina romana assim como bindele estava para a Rodésia colonizada pelos europeus.

O colonizador representa o demônio que possui geográfica e fisicamente o oprimido, gerando religiosas de fuga e subversão a fim de exorcizar aquilo que o dominador representa.

5. ONDE ACONTECEU O EXORCISMO DO GADARENO

Não há consenso sobre o local do exorcismo na opinião de vários autores. Henry H. Halley alega que Gerasa é a atual Querza, sendo que Gadara ficava mais ao sul, onde existem colinas caindo para o mar. Alfons Weise informa que não havia nenhum lago na região de Gerasa.

A expulsão do demônio teria acontecido na região das gerasenos, ou seja, nas vizinhanças da cidade de Gerasa, que ficava na Jordânia oriental, cerca de 55 km ao sul do lago de Genesaré. Fora fundada pelos gregos, no século IV a.C. Hoje se chama Dsherash. As difuculdades do texto de Marcos começam com essa indicação topográfica, pois não havia nenhum lago na região de Gerasa, nem esta região ficava perto do lago de Genesaré, de sorte que os animais pudessem se precipitar “pelo despenhadeiro”.

Os evangelistas e não somente os teólogos divergem sobre o local do exorcismo, como é caso de Mateus.

Mateus sentiu esta dificuldade e mudou a indicação do lugar, transferindo o acontecimento para Gadara, situado mais ou menos a 10 km do lago. Mas esta distância é também muito grande ainda. Orígenes, um dos Padres da Igreja, introduziu uma variante, por volta de 200 d.C. segundo a qual o acontecimento se deu perto de Gergesa, lugar situado junto ao lago. Com isto ele aplaina as dificuldades, mas ao preço de grave mudança no texto original, o que não representa nenhuma solução. Todos os três topônimos quadram com a região conhecida como Decápole – distrito das dez cidades – situada na Jordânia helenística oriental. Talvez a prolixa indicação topográfica de Marcos seja indício de que a narrativa a tenha passado por um processo de crescimento e de que em seu estado fundamental, ou seja, no estágio anterior à Marcos, ainda não continha a história da passagem de Jesus pelo lago e dos animais que se precipitaram nas águas. É bem possível que a sua introdução começasse mais ou menos com estas palavras: Ele chegou a região dos gerasenos.

Champlin, citando os pais da Igreja, também vê dificuldades em apresentar o lugar.

Gerasa era uma cidade de Decápolis (moderna Jeras, na Transjordânia), localizada a mais de 50 km a suleste do mar da Galiléia e, conforme Orígenes (Comentário sobre João V, 41 m(24), esse é o menos provável dos três lugares. Outra área dacapolitana era Gadara, acerca de 8 km a suleste do mar da Galiléia (moderna Um Queis). Embora Orígenes também fizesse objeção a Gadara (o que, segundo ele afirmou, aparece em alguns poucos manuscritos) porque ali não havia nem lago e nem precipício, Josefo (vida IX, 42) refere-se a Gadara como cidade que tinha um território “que jazia nas fronteiras de Tiberias” (= o mas da Galiléia). Que esse território chegava até ao mar pode-se inferir da fato que antigas moedas que trazem o nome de Gadara com freqüência retratam um barco. Orígenes preferia Gersesa, não porque ocorre nos manuscritos – ele faz silêncio sobre isso – mas por causa da base dúbia da tradição local (é o lugar “de onde, conforme se frisa, os porcos foram lançados precipício abaixo pelos demônios”, e, por causa da base ainda mais duvidosa da etimologia (“o significado de Gergesa é “habitação dos que foram expulsos”, e. desse modo, o nome “contém uma alusão profética à conduta mostrada pelos habitantes daqueles lugares ao Salvador , ‘os quais rogaram-lhe que se afastasse do território deles’”.

Embora haja uma inclinação a favor de Gerasa, a composição narrativa de Marcos faz supor que havia uma intenção em localizar Gerasa na Decápolis com a finalidade de enfatizar o espaço sócio-simbólico gentílico.

6. LEGIÃO-DEMÔNIOS

A quantidade de soldados de uma Legião coincide com o número de porcos em Marcos. Este chama o conjunto dos porcos da “manada” com 2.000 porcos. Após vários incidentes na Palestina, as legiões destacadas para essa região eram das mais ferozes. Tinham a finalidade de debelar qualquer insurreição violentamente. O teólogo Luigi Schiavo, na tese de mestrado (UMESP) “2000 demônios da Decápole” (vide bibliografia), relata:

O momento histórico era de grande presença militar na Palestina. A Legião VI Ferrata estava estacionada na Galiléia e a X Fretensis, na Síria, com provavelmente, uma guarnição de 2 mil homens em Gerasa. Por outro lado, aumentavam os levantes populares armados com o objetivo de “lançar ao mar” todos os opressores.

Essa designação de “lançar ao mar” tem paralelo na história de Israel, a começar com Faraó do Egito (o êxodo) e também com Jonas (a fuga). O mar é grande símbolo de destruição total, punição, esquecimento. Atualmente, os árabes se apossaram desse slogan, imagens militares de aniquilação.

“Legião” é um termo, alguns chamam de latinismo (C. Myers e G. Thiessen), que possuía sentido no mundo social de Marcos. Quando uma pessoa ouvia falar de “legião”, sua mente remetia ao grupo de soldados do império romano. O texto está, assim, empregnado, implicitamente de imagens militares. Decorre dessa situação de dominação a alienação do gadareno.

G. Theissen observa com acerto que qualquer pessoa naquela época, ao ouvir esse nome, não poderia deixar de fazer a associação com as legiões romanas. A dimensão política está presente nesse exorcismo pelo valor simbólico do nome do demônio (“Legião”). (...)... A presença do imperialismo romano significava que, no nível social, o povo de Deus estava sendo possuído por demônios. Repare, aliás, nas implicações esquizofrênicas do controle demoníaco: ele aponta para a existência de um poder mais forte do que o indivíduo, um poder que está “dentro” dele, mas que é visto como algo maléfico, afastando, portanto, qualquer possibilidade de conluio ou cooperação.

A título de uma irônica curiosidade, Halley aponta que os porcos entraram em pânico quando perceberam os demônios dentro de si e por isso, perderam o domínio de si mesmos e precipitaram-se no mar...

7. EXORCISMO, MAGIA E RELIGIÃO

Crossan analisando a vida de um camponês do mediterrâneo (conforme livro de mesmo título na bibliografia), conclui que esse camponês vinculava religião e magia e Jesus, nesse contexto, era visto como um mago ou xamã, pois curava e expulsava demônios, possuía contato direto com a divindade, e só um mago ou xamã poderia fazer isso. Na Palestina do tempo de Jesus, as pessoas que praticavam o exorcismo, ou a expulsão de demônios, estavam exercendo uma profissão reconhecida e de reputação. Nesse ponto de vista, Jesus é um mago, pois o povo assim o vê e vai atrás dele, para ver se lhe sobra uma pouco desse poder. Está claro, também, que por suas atividades como curandeiro, milagreiro e exorcista (título do livro de Luigi Schiavo – vide bibliografia), convocando discípulos e atraindo multidões, ao entrar em Jerusalém, já prenuncia sua morte. As autoridades não deixarão de agir a fim de debelar qualquer tipo de insurreição. Outros já haviam promovido revoltas semelhanças. Não havia interesse que um “profeta do povo” agitasse Jerusalém da festa da Páscoa, momento crucial para demonstrações de violência, poder e força. Os videntes, ou nabis, cuja tradição João Batista concluíra, deviam ser perseguidos e mortos, como reza a tradição. O mago e o bandido tinham a mesma sorte.

... a magia está para a religião assim como o banditismo está para a política. Enquanto o banditismo contesta a legitimidade do poder político, a magia contesta a do poder espiritual. Tanto no mundo antigo quanto no moderno, pode-se fazer uma distinção entre magia e religião através de definições prescritivas e políticas, mas não através de descrições neutras e objetivas. A religião é magia oficial e aprovada; a magia é uma religião extra-oficial e censurada. Ou, em termos mais simples: “nós” praticamos religião, “eles” praticam magia. Não importa se os magos são a favor ou contra a religião oficial. A sua própria existência, independente de suas intenções, já constitui uma ameaça para a validade e a exclusividade da religião. É por isso que grandes magos judeus, como Honi, o Criador-de-círculos, e Hanina ben Dosa, tiveram que ser purificados em termos de oração e estudo para serem aceitos dentro da crescente hegemonia da tradição rabínica.

Apesar da existência de alguns exorcistas, xamãs ou magos conhecidos (deve-se lembrar que alguns magos do oriente viram a estrela de Belém e foram visitar o menino Jesus). Alguns exemplos de exorcistas famosos da antigüidade: Elias e Eliseu, Honi e Hanina eram magos, assim como Jesus de Nazaré, Salomão, Eleazar, Apolônio de Tiana e Hanina Ben Dosa (este dois últimos praticaram exorcismos parecidos com o de Jesus, mas antes dele). Os exorcistas eram personagens normais da sociedade antiga. Deles se esperava que comunicasse as palavras e os atos divinos aos pobres mortais.

Portanto,
1. há uma forte conexão entre exorcismo e magia e/ou religião ...
2. há pouquíssima narrativas de exorcismos.
3. pouquíssimas figuras exorcistas...
4. a única figura exorcista na literatura disponível a quem um número razoável de exorcismos é atribuído, e relatado em detalhe, é Jesus de Nazaré.

8. A PRÁTICA DE JESUS, EXORCISTA

“Jesus é o profeta da inclusão.” Como profeta da inclusão, as evidências estão claras a seu favor, quando desobstrui o caminhos dos pobres e oprimidos a fim de que, como gente, participem da sociedade como iguais. Em que se caracteriza a prática de Jesus?

Chamamos práticas ao conjunto de ações pelas quais um sujeito busca incidir na transformação da realidade e nas quais realiza seu projeto e sua utopia. Nenhuma prática se dá como algo isolado, porque não existe o “sujeito puro”; dado o caráter dialogal da existência humana, toda ação é ação-resposta, que nasce de uma interpretação e provoca outras ações, seja de colaboradores (projetos semelhantes ou complementares), seja de oposição (quando se trata de projetos contrários). Portanto, para compreender o sentido de uma prática, deve-se situar as ações que a compõem dentro de um duplo contexto:

• o contexto interno, dentro da prática homogênea de um sujeito, em que se vão dando mudanças que respondem a uma lógica interna nascida da coerência com determinados valores e projetos;
• o contexto externo, constituído pelas outras práticas com as quais entra em relação, e com as circunstâncias nas quais elas se realizam.

Prática e valores estão intimamente relacionados, pois deles brota a prática e a partir deles analisa e valoriza outras práticas como similares ou contrárias. Assim, pois, pela análise das práticas podemos conhecer os valores e os projetos subjacentes a elas. Porém, para descobrir no relato de Marcos essa prática de Jesus processual e situada necessitamos de “chaves de leitura”, porque não se expressa de maneira direta, explícita, mas por insinuações, implícitas. Todo texto tem esses dois níveis de mensagem: o direto, que se descobre à primeira vista, e o indireto, que está nas entrelinhas e que, com freqüência, é o mais importante. Quando não se chega a esse nível de significado, corre-se o risco de se ficar numa leitura fundamentalista.

Jesus realizou seu projeto e sua utopia para transformar a realidade sem empregar um padrão rígido de procedimento. Geralmente, Jesus nunca tocava em indivíduos possuídos por demônios, mas, por outro lado, costumava tocar em enfermos e doentes; “o uso de uma palavra de comando talvez fosse a técnica mais comum que empregava para realizar suas curas e exorcismos.” Jesus exorcizava preferencialmente pessoas pobres e indivíduos, intervindo profundamente na realidade social deles.

Porém, somente a presença de Jesus já era suficiente para mostrar o mal que agia na vida das pessoas. A presença do mal era definitivamente erradicada da vida da pessoa. A ação de Jesus era a favor da vida abundante e impedia que “outros” falassem por eles.

A prática de Jesus anula a ação do demônio no gadareno. Este se endireita e fala livremente. Antes, um demônio (a presença física dos violentos legionários) o possuía, falava por ele e o dominava. A ação de Jesus torna esse homem livre para falar o que realmente pensa livre de opressões de qualquer tipo. Por isso, os seus conterrâneos querem que Jesus saia da cidade na mesma hora, mas por causa do medo da liberdade de expressão de um homem são e livre. O endemoninhado representa ansiedade coletiva em face do imperialismo romano. Jesus reata o caminho da comunicação perdida. O gadareno não podia impedir que falassem por ele, “sua voz era a expressão da ideologia daqueles que tem poder.” Não tinha nem vez, nem voz, nem identidade pessoal.

Jesus nunca se interessou por demônios, mas antes pelas pessoas possuídas. Como o método de Jesus não era extático, também não pode sacramentar métodos de exorcismo como os atuais. Para Neuza Itioka, apesar do seu preconceito religioso, “não existe nenhum método seguro prescrito de expulsar demônios.” É preciso avaliar aquilo que realmente possui as pessoas nesta época e procurar dar as respostas baseadas em uma prática evangélica, não extática, que permita ao indivíduo a liberdade de crer por si mesmo, apesar do sistema de poder que querem manipulá-lo sem a menor culpa.

II. PARTE
1. Evolução da crença

É sabido que “desde os tempos mais remotos do pensamento humano, existem formas diferenciadas de possessão (possessão demoníaca). Paralelamente, existiram também, desde os tempos imemoriais, mecanismos de defesa contra a possessão, entre eles o exorcismo.” Dessa forma, o conceito de possessão e exorcismo sempre estiveram atrelados à religião. A crença em espíritos que podem penetrar no ser humano, seja como forma de vingança ou de poder, é originária da história das religiões.

O demônio e seu mundo não só constituem um aspecto da teologia ou da doutrina cristã, mas também povoam o universo cultural que se desenvolveu nos dois últimos milênios de nossa história.

Atualmente o tema ganha relevo em meios pentecostais e neopentecostais, onde o demônio ocupa, no culto e na vida, lugar central. A centralidade nos demônios desloca o verdadeiro sentido do culto a Javé. Já em tempos pós-modernos “o sagrado reaparece em formas primitivas e selvagens...” Nas palavras do historiador João Gonzaga “no final do século XII surgiu notável eclosão de espiritualidade popular... Acima de tudo fortificou-se a convicção de que Deus, os santos e, também, o demônio estão sempre presentes neste mundo, imiscuindo-se materialmente nos negócios humanos”. E tal como um paradoxo acredita-se que o mesmo ato que serve como prova de alguma influência maligna, também serve como sinal de divindade.

Para os estudiosos, principalmente antropólogos, está claro que:
A crença em espíritos é encontrada em todas, ou quase todas, as sociedades humanas. Ela assume formas variadas, mas um espírito parece ser um agente invisível, quase humano, que é imediata, e quase instintivamente, postulado como sendo a causa de um acontecimento repentino, estranho e inesperado.

Após o advento do Iluminismo, a tentativa de transformar a ciência em dogma ou a tentativa de transformar a religião em ciência, derrotou o espírito de interação entre uma e outra. Anteriormente, o Escolasticismo já prenunciava a ruptura. O mundo da razão não consegue perceber que o mito faz parte do sentido de mundo do crente. Contudo, também não se consegue explicar Deus. Vê-se, assim, que se alternam durante a história humana a interpretações das crenças. Há aqueles que querem o retorno aos fundamentos e ao literalismo bíblico, e há aqueles que preferem uma abertura para compreender melhor a vida e qualquer outra dimensão inexplicável, concluindo que o finito não pode compreender o Infinito nem o relativo atingir o Absoluto. Torna-se necessário buscar explicações no passado e no presente para julgar convenientemente o que é possessão.

Assim, por volta do século IX o diabo começava a ocupar uma posição central na crença dos cristãos ocidentais. A teologia ortodoxa do Oriente dava pouca atenção às doutrinas a respeito do Maligno. Os Padres bizantinos enfatizavam de maneira mais específica a transcendente unidade de Deus; todas as coisas, independentemente de parecerem boas ou más, vinham de Suas mãos. Tudo procedia de Deus e tudo estava destinado a retornar a Ele.

Neste caso, o passado demonstra que nem sempre a preocupação se centraliza no demônio. Esta deveria ser a tônica da religião (ou das Religiões). Quando tudo procede de Deus não há lugar para o Mal.

2. DEFINIÇÕES E EXPLICAÇÕES
2.1. O que é possessão demoníaca?

Existe uma série de definições e explicações para o que é possessão demoníaca. Desde o conceito dos Evangelhos, elaboraram-se várias teologias que resumiram-se na chamada Demonologia. Para os cristãos ocidentais a possessão é sempre negativa, ou seja, atribuída a um mau espírito vindo da parte de Satan/Diabo/Lúcifer. Os pentecostais e neopentecostais têm sua própria cosmologia demoníaca de onde derivam os estados de possessão. Dentro dessas duas vertentes cristãs a cura evidencia-se pelo ato de “exorcismo”, comumente chamado de “expulsão”. Expulsar é ordenar em voz audível com bastante ênfase, em nome de Jesus, para que o demônio/espírito do mau, saia “de dentro” do indivíduo. Para isso, utilizam-se das fórmulas literais também presentes nos Evangelhos.

Como exemplo, pode-se citar um item do Manual da Igreja Universal do Reino de Deus: possessão “é a habitação de um ou mais demônios no corpo de uma pessoa, exercendo-lhe controle e influência, com prejuízo para as funções mentais e físicas. Nesse caso, os demônios agem no interior da pessoa, de dentro para fora”. Neuza Itioka, conhecida “batalhadora” espiritual, utiliza o conceito de possessão de acordo com a ciência, Antropologia e a Sociologia, e que deve ser entendida como “invasão de espíritos”, que podem ser “voluntárias ou involuntárias”, “induzidas ou espontâneas”, “violentas ou calmas’. Para ela, porém, a possessão não se limita a pessoas, mas também a matéria sem vida e à natureza em geral.

A necessidade de compreender melhor esse problema sociologicamente permite uma abordagem mais global da possessão ou endemoninhamento.

O que é endemoninhamento ou possessão?
Qual a sua origem?

Para algumas pessoas, pastores, teólogos e estudantes pareceriam óbvio. No entanto, é causa de grande sensacionalismo entre os cristãos em geral. Muitas vezes por desconhecimento do assunto ou por falsas e curiosas “revelações”.Existem divergências entre os teólogos quanto às definições ou origem, mas em geral, são semelhantes. Torna-se necessário resumir a idéia de alguns autores como tentativa de consenso mais amplo. Ainda do ponto de vista de Neuza Itioka, endemoninhamento é... é a invasão de um espírito com personalidade penetrando na vida de uma outra pessoa, tentando expressar-se ou manifestar-se, e muitas vezes controla-la, suprimindo a primeira.

Na opinião de Pe Gustavo Solimeo, o endemoninhamento/possessão consiste...em um domínio que o demônio exerce diretamente sobre o corpo e indiretamente sobre a alma de uma pessoa. Esta se converte em um instrumento cego, dócil, fatalmente obediente ao poder perverso e despótico do demônio.

Outros se exprimem em categorias de possessão diabólica:
Por possessão diabólica se entende a posse de uma pessoa humana por um espírito do mal de maneira tal que o espírito assume a personalidade do ser humano e controla todos os seus movimentos físicos, inclusive a fala.

Maior divergência existe quanto às origens da possessão. Como já foi citado anteriormente, a possessão por espíritos maus considerada negativa prevalece sobre a possessão positiva, sinal do divino. Os cristãos ocidentais em geral consideram a possessão negativa muito mais que a positiva. Crêem que a origem da possessão está nos demônios e espíritos maus vindo do inferno. Uma minoria acredita na possessão por entes queridos que morreram (Neuza Itioka).

Para verificar a origem da possessão é preciso considerar a crença nos demônios, suas formas de agir, modo, natureza, etc. “O vocábulo ‘demônio’, nesse caso, conforme sua origem (...) não se refere especificamente ao diabo, mas a criaturas sobrenaturais, espírito supra-humano e abaixo de deus (théos), compreendendo quer entidade malfazeja, como o diabo, quer benfazeja, como os anjos.”

2.2. Os demônios

Os demônios em suas diversas formas são considerados os responsáveis pela possessão. A fim de buscar um início comum, verifica-se que em todas as culturas existe um princípio comum. Fora do judaísmo e do cristianismo também existem fontes e referências para identificar o que são “demônios”.

O judaísmo incorporou diversas característica da região em que se desenvolveu (Mesopotâmia). Acredita-se que somente após a saída do Egito eles passaram a acreditar no demônio. “Mas o nome demónio não era por eles [judeus] atribuídos (como acontecia com os gregos) aos espíritos bons e maus, mas somente aos maus. E aos bons demônios deram o nome de Espírito de Deus, e acreditavam que aqueles cujos corpos entravam eram profetas. Em suma, todas a singularidades, quando boas, eram atribuídas ao Espírito de Deus, e as más a algum demónio, mas a um, um mau demónio, isto é, um diabo.

E portanto chamavam demoníacos, isto é, possuídos pelo diabo aqueles que denominamos loucos ou lunáticos, ou aqueles que tinham a doença de cair, ou que diziam qualquer coisa que eles, por não a compreenderem, consideravam absurda.” O termo “daimon” era empregado no gr. clássico, às vezes como um sinônimo de theos (deus). Entre os gregos, o demônio podia ser um “poder” ou até mesmo a psiquê. Para os estóicos a alma do morto pode se tornar um demônio (daí a crença da possessão pelos parentes mortos ter origem na mitologia). Para Heráclito, “o caráter é o espírito que habita em um homem, e não uma entidade separada.”

Na cultura brasileira, mais especificamente de origem africana, os demônios são representados pelo Exús, e demais orixás do Candomblé.

2.3. Etimologia.

Palavra de formação erudita, do gr. daímon, -onos, ‘divindade, gênio, espírito supra-humano, mas infradivino, depois, em linguagem eclesiástica, ‘espírito mau, gênio desfavorável’, representado no lat. daemon, onis, e a base grega –logía, ‘ tratado, ciência, discurso’. O ing. demonology e o fr. démonologie são do séc. XVI, o port. it. demonologia, esp. demonología aparecem no séc. XVIII-XIX.

Dentro da cultura mesopotâmica todos os demônios tinham nomes. O bruxo ou xamã deveria conhecer o nome do demônio. Somente assim poderia expulsá-lo. No 1º Testamento não existe ainda essa crença. “Nada de realmente certo se encontra sobre a origem dos demônios, nas páginas da Bíblia, ainda que muitos creiam que sejam os anjos caídos que seguiram a Satanás.”

Champlin continua dizendo:

Muitas coisas são indiscutíveis sobre esse assunto: a primeira, nem os hebreus e nem os cristãos criaram as elaboradas demonologias e angelologias que, finalmente, vieram a ser aceitas. Segunda, apesar das elaborações, exageros e elementos místicos que entraram no pensamento hebreu e cristão, no tocante aos demônios, essas noções são corretas quanto à temível realidade dos demônios e sua capacidade de influenciar e de apossar-se de pessoas.

Referindo-se a Tertuliano, Champlin considera ainda:

As próprias Escrituras nada nos informam acerca dos demônios, pelo menos em termos bem definidos; por isso mesmo, a sua identificação com os anjos caídos pode representar ou não a verdade. Se isso representa a verdade, mesmo assim, pode não representar a verdade inteira sobre a questão. Muitos casos de possessão demoníaca parecem demonstrar que alguns demônios, pelo menos, são de fato entidades que antes eram seres humanos comuns.

O positivista Aldous Huxley, criticando com dureza o processo inquisitivo de Loudun (França), discorreu sobre o demônio com importante papel a desempenhar no mundo religioso como personalidade ativa, não restando ao homem somente o recurso da oração.

Os demônios desempenharam até pouco tempo atrás um papel muito importante na religião cristã – e isso desde seus primórdios. Porque, como observou o Padre A Lefèvre, S. J., “o Diabo ocupa uma posição muito irrelevante no Velho Testamento; seu poder supremo ainda não se revelara. O Novo Testamento o mostra como o chefe das forças coligadas do mal”. Nas atuais traduções do pai-nosso, pedimos para sermos livres do mal. Mas será que o apo tou ponerou é neutro, em vez de masculino? Não está implícito na própria estrutura da oração que a palavra se refere a uma pessoa? “Não nos deixes cair em tentação, mas (pelo contrário) livrai-nos do Diabo, do Tentador.” O crescimento da ênfase nos demônios é muito grande. Há grupos que estabelecem relação de determinados demônios com certos problemas: demônio da bebida, do machismo, da pobreza, etc. Numa espécie de neo-maniqueísmo o mundo é dividido entre Deus e Satanás (e seus anjos maus), e quase todo conflito é visto em função dessa pretensa atuação demoníaca.

Para verificar a progressão do conceito dos demônios é preciso ver os dados bíblicos disponíveis, ou seja, o Primeiro e o Segundo Testamento.

3. 1º TESTAMENTO

Não se encontra possessão demoníaca no Primeiro Testamento, a não ser a possessão de Saul (1 Sm 16,14-23). Essa possível “possessão” vem de Deus, ou seja, de um espírito vindo diretamente de Javé. Um estudo mais detalhado indica que a demonologia judaica tem origens externas (outras religiões). Mesmo Davi é chamado de Satã (adversário), cf. 1 Sm 29,4. Conclui-se que originalmente Satanás é um ser humano. Em Jó, Satanás faz parte da corte celestial, chamado de filho de Deus (ben-elohim). Em Tobias 6,7 (livro considerado apócrifo ou deutero-canônico) há uma fórmula de exorcismo primitiva: oração e ritual (além de se queimar um fígado de peixe- para a cultura celta o salmão é um peixe sábio). Para as tribos de Javé, porém, não havia “necessidade de corporificar uma entidade maligna. Para eles, Jahveh, era um deus tribal e, como tal, superior aos deuses das tribos vizinhas, que se colocavam, assim, como seus adversários e como expressões naturais da maldade, tornando supérfluas qualquer encarnação suplementar do Mal. Mas é óbvio que a crença deveria crescer e solidificar-se, tal como atesta Weise.

Mais tarde a concepção de Israel a respeito de Deus modifica-se já sob vários aspectos: ao lado de Iahweh, ou em seu lugar, aparece o mensageiro de Deus, para comunicar a vontade divina aos homens (Ex 3). A partir dos dois últimos séculos antes de Cristo, Deus é representado como o absolutamente transcendente, inatingível. O grande vazio entre ele e os homens é ocupado, então, cada vez mais, de acordo com as concepções religiosas de Israel, por seres intermediários, aos anjos. São estes seres que agora estabelecem o contato entre Deus e o homem. Esta evolução é importante também no que respeita ao aparecimento da idéia de um poder mau personificado. O ponto de partida desta idéia é o problema relativo à origem da culpa, das doenças, da morte e, por fim, também do mal. A resposta mais antiga a esta questão é a narrativa do pecado original (Gn 3): o mal não vem de Deus, mas é causado pela vontade do homem. Aqui ainda não se fala do diabo, mas somente da serpente que seduz o homem, enquanto símbolo de um poder astuto e misterioso, porém inteiramente submetido a Deus. É da época igualmente antiga que provém a frase: “Iahweh instigou Davi” a fazer o recenseamento do povo, recenseamento que, em verdade, não agradou a Deus (2Sm 24). Mais ou menos 600 anos depois, a mesma cena é expressa nesses termos: “E Satanás instigou a Davi (1Cr 21; cerca de 300 a.C.). O que aconteceu nesse intervalo de tempo? Já não se suportava a idéia de que Deus tentasse o homem e, sob influência do meio ambiente em que vivia Israel, adotaram-se então certa concepções a respeito de seres sobrenaturais que, embora submetidos a Deus, eram adversários do homem. Por isto, já por volta de 400 a.C., afirma-se no livro de Jó que Satanás acusa os homens perante o tribunal de Deus, como um dos “filhos de Deus” e membros da corte divina. Em alguns círculos de Israel desenvolveu-se paralelamente uma autêntica demonologia na qual Satanás, de membro que era da corte celeste, foi progressivamente se transformando em um ser dependente, desligado de Deus, tendo sua morada no inferno [mundo subterrâneo] e uma corte de espíritos malignos.

A Bíblia, procura desvincular Deus da origem do Mal, da origem do Diabo, a fim de isentá-lo e, num curto espaço de tempo, personificou outro ser, independente e antagônico. Esse ser era responsável pelo mal que escolhera para si mesmo e para o mundo. Em futuro distante lutaria pela posse de todos os seres. O Diabo se fez a si mesmo.

4. 2º TESTAMENTO

“Jesus é o personagem da Antigüidade do qual o maior números de exorcismos é narrado.” Na Palestina do tempo de Jesus, as pessoas que praticavam o exorcismo, ou a expulsão de demônios, estavam exercendo uma profissão reconhecida e de reputação. Eram magos ou xãmas.

O discurso de Jesus faz do poder do exorcismo um motivo teológico de certa importância. As desordens que se manifestam nos endemoninhados são conseqüências do reino do pecado no homem; os poderes do mal se apoderam da sua liberdade de tal maneira que o homem se tornou vítima indefesa, até no santuário íntimo de sua pessoa.

Seguindo a mesma linha de raciocínio anterior, “... o nome demónio não era por eles [judeus] atribuídos (como acontecia com os gregos) aos espíritos bons e maus, mas somente aos maus. E aos bons demônios deram o nome de Espírito de Deus, e acreditavam que aqueles cujos corpos entravam eram profetas. Em suma, todas as singularidades, quando boas, eram atribuídas ao Espírito de Deus, e as más a algum demónio, mas a um, um mau demónio, isto é, um diabo. E, portanto chamavam demoníacos, isto é, possuídos pelo diabo aqueles que denominamos loucos ou lunáticos, ou aqueles que tinham a doença de cair, ou que diziam qualquer coisa que eles, por não a compreenderem, consideravam absurda.”

Dentro, portanto da cultura semítica, mesopotâmica ou judaica, a presença do Mal eqüivalia à criação de seres responsáveis por ele. Não difere em muito das demais culturas consideradas primitivas das demais sociedades humanas. Sempre há um princípio do Bem e um princípio do Mal, qualquer que seja o nome que lhe for dado. No Brasil, por exemplo, não é diferente. O exemplo da cultura indígena também se pode verificar na cultura de origem africana os mesmo princípios.

Outro aspecto a ser explorado era a forma como a Tradição patrística compreendia os demônios e a possessão. Dentro da patrística é possível perceber, como era esperado, o papel negativo, destrutivo, dos demônios. A crença ainda incipiente, herdada do 2º Testamento, contribui em progresso crescente com relação à demonologia. Mas ainda é possível perceber a presença do elemento mítico. Agostinho foi o que melhor expressou teologicamente, ou formulou uma demonologia com cores e matizes, ainda que medievais.

5. OS PAIS DA IGREJA

Dizem que Santo Agostinho ficava irritado com os demônios. Ele cria que aS bruxas eram fruto do relacionamentos de um demônio com uma mulher. Os demônios juntavam sêmen de homens e injetavam nas mulheres, já que eles não têm como produzi-los. Daí nasciam bruxas. Sua obra Cidade de Deus resumiria sua crença de um mundo bom e um mundo mal. Esses demônios eram chamados de íncubos, e conhecidos também por silvanos e faunos. Íncubos eram demônios que possuíam mulheres. São Clemente acreditava que os demônios, por não terem órgãos, possuíam os humanos a fim de utilizá-los. E todos eram unânimes em concordar que o demônio, em qualquer caso ou situação, não deveria ser levado em conta. Deveria até ser desacreditado. Havia desentendimento e contra senso.

Ele cita o pensamento pagão prevalecente na sua época: “Os deuses ocupam as regiões mais elevadas, os homens as mais baixas, os demônios a região intermediária... Eles têm a imortalidade do corpo, mas as paixões da mente em comum com os homens”. No livro VIII de A Cidade de Deus (iniciado em 413), Agostinho assimila essa antiga tradição, substitui os deuses por Deus, e converte os demônios em diabos – afirmando que eles são, sem exceção, malignos. (...) Ele os chama de “animais aéreos”...

6. CARACTERÍSTICAS DA POSSESSÃO DEMONÍACA

As perguntas: como distinguir a possessão genuína da fraude? ou como saber se realmente é possessão? São relevantes. Existem muitas formas, sintomas e sinais para saber “diagnosticar” esse estado. Estão, de modo geral, de acordo com a Igreja, de acordo com a tradição, de acordo com os teólogos, desde as mais “óbvias” até as mais curiosas e ridículas.

Os testes mais simples é a evidência de falar em uma língua diferente, mas esse teste pressupõe também uma possessão cristã, visto que como sinal de Pentecostes o povo fala em outras línguas. Em acréscimo a esse sinal estão a força física descomunal, a levitação e a clarividência.

6.1. Formas de possessão

Na época da Inquisição, quando o mundo era povoado por demônios, o interesse e a curiosidade pelo assunto beiravam à loucura e à ingenuidade, ao mesmo tempo. À loucura porque satisfazia os desejos secretos dos inquisidores, segundo alguns críticos.

A curiosidade da época descia a detalhes para responder: Como entra um espírito mau no homem? De várias maneiras, explicava-se: com a comida que a pessoa ingere; ou passando por um lugar onde existe determinado espírito; ou com um rito para se obter um espírito; ou por espírito ter se sentido ofendido etc. Sabia-se que eles eram mais ativos à noite. Para alcançar a posse de uma pessoa, o Demônio se instala nas mais variadas formas, suscetíveis de permitirem o ingresso no corpo da vítima. Assim, sabe-se, através de confirmações feitas por Diabos em pessoa, durante exorcismos, que eles penetram através da boca, do ânus, dos órgãos sexuais, e de outras vias não esclarecidas. Afinal, os demônios não eram obrigados a revelar todos os seus segredos.

Nesse ponto é necessário um esclarecimento. Na antropologia judaica é o corpo que possibilita a atuação dos maus espíritos no mundo. Sem corpo, eles não conseguem atuar. O mesmo vale para locais geográficos. Exemplos dessa visão podem ser encontrados na Bíblia, no livro de Daniel e nos livros considerados apócrifos (ou deutero-canônicos).

6.2. Sintomas

Quais são os sintomas de uma possessão demoníaca? Para Edir Macedo é “tudo aquilo que foge ao normal, sem que tenha uma causa plausível.” Podemos resumir em:
a. Doenças e enfermidades físicas
b. Doenças mentais
c. Constantes dores de cabeça ou dores localizadas em outras partes do corpo, não diagnosticadas pela Medicina
d. Insônia
e. Medos e fobias
f. Desejos de suicídios
g. Vícios
h. Nervosismo
i. Depressão
j. Visões de vultos e audições inexplicáveis

Champlin elabora outra lista semelhante, ao que ele chama de sinais de possessão.

a) Fenômenos psíquicos
b) Enfermidades em geral
c) Personalidade múltipla
d) Crenças errôneas (heresias)
e) Agitação interior (falta de paz)
f) Falta de controle sobre os vícios
g) Perversões sexuais
h) Malignidade de toda sorte (violência)
i) Atitudes e Atos anti-sociais
j) Ódio
k) Espíritos que atacam e se retiram (tática de guerrilha)
l) Espíritos malignos difíceis
m) Variedade de espíritos possuidores
n) Comportamento ameaçador
o) Limites impostos aos espíritos
p) Contorções faciais típicas
q) Vozes (interiores)
r) Melancolia

6.3. As manifestações do endemoninhamento violento

(1) Mudança da personalidade, afetando a inteligência

(2) Mudança física, afetando a voz, etc

(3) Mudança mental (conhecimentos ocultos)

(4) Mudança espiritual (contra Deus)

“Aliando-se aos doutores da Igreja, os médicos medievais acrescentaram outras dezessete evidências, das quais citaremos apenas algumas mais pitorescas que denunciam um universo preso a uma obsessão demoníaca”:

- quando a doença fosse tal que os médicos não conseguissem descobri-la nem conhece-la;

- quando, sob a ação de todos os tratamentos possíveis, em vez de se apaziguar, a doença se agravasse;

- quando o mal se revestisse, logo de início, de grandes sintomas e dores, ao contrário das doenças comuns que aumentam pouco a pouco;

- quando a pessoa soltasse suspiros tristes e lamentosos sem nenhuma causa legítima;

- quando perdesse o apetite e vomitasse a carne ingerida;

- quando se tornasse impotente ao mister de Vênus (relações sexuais);

- quando se mostrasse perturbado, assustado, ou fosse tocado de alguma mudança notável, ao penetrar no recinto onde se encontrasse a pessoa suspeita de lhe haver feito mal;

- finalmente, quando, no intuito de sanar o mal, o padre houvesse aplicado unções sagradas nos olhos, nos ouvidos, na testa e em outras partes do corpo, e essas partes viessem a eliminar suor ou apresentassem alguma outra modificações.

6.4. Causas

As causas do endemoninhamento dentro do levantamento histórico efetuado também contemplam a opinião de diversos autores, alguns já citados. A grande maioria está relacionada à ausência da proteção divina derivada da prática constante de algum pecado (segundo a crença evangélica). Além disso, existem outras práticas (ou predisposições que facilitam a entrada de um demônio em uma pessoa). Segundo Neuza Itioka e R. Champlin, as causas da possessão podem ser, respectivamente:

(1) Quando as leis de Deus são quebradas

(2) Reações a desastres e calamidades

(3) Músicas com determinados ritmos

(4) As drogas

(5) A embriaguês através de bebidas fortes

(6) A manipulação dos poderes assim chamados parapsicológicos

(7) O exercício da passividade

(8) Culto aos ancestrais

(9) Pecados de imoralidade


6.4.1. Predisposições que encorajam a possessão demoníaca

a) Uma vida de dissipações

b) Freqüentar lugares de má fama

c) Participação em ritos onde baixam “espíritos’

d) Vida vazia

(e) Música sensual

f) Vícios

g) Pactos

h) Misticismo

i) Ocultismo

j) Crianças suscetíveis aos espíritos dos mortos


No Tratado Sacerdotal Sammarinus, documento antigo, existe dezessete formas de um sacerdote reconhecer a possessão demoníaca.

COMO RECONHECER A POSSESSÃO (segundo o Tratado Sacerdotal Sammarinus)

1 – Quando o suspeito não consegue comer carne de cabra no espaço de trinta dias. Entretanto, esse sinal se refere mais provavelmente aos epiléticos;

2 – Quando o indivíduo apresenta fisionomia assustada, olhar espantado e aspecto hediondo;

3 – Quando simula estar louco, crescendo continuamente o volume do seu corpo e sua força;

4 – Quando não consegue pronunciar o Santo Nome de Jesus ou de qualquer outro santo, nem cantar os Salmos “Miserere meu Deus”, ou “Qui habitat”, o Evangelho de São João, que começa com “no princípio era o Verbo”, e outras coisas do gênero;

5 – Quando se exprime em grego, latim ou outro idioma que jamais haja aprendido, ou lê, escreve, canta musicalmente e realiza outras coisas que não lhe foram ensinadas;

6 – Quando se torna mudo, surdo, lunático, cego, que são sinais assinalados pela Sagrada Escritura;

7 – Quando, ao ser exorcizado, sente descabidamente um vento frio ou quente na cabeça, nos ombros e nos rins, e se transforma, se aflige a blasfema;

8 – Quando experimenta dores e sintomas extraordinários, como violentas cólicas nas entranhas e partes internas, sensações como vermes, formigas, rãs, a correrem desde a cabeça até o resto do corpo, até os artelhos, quando o ventre se dilata, ou o pescoço, ou a língua, ou quando se reconhece exaltado no seu estado de ânimo;

9 – Quando, por alguma razão secreta, deixa de assisti ao Serviço Divino, de fazer orações de acordo com o seu hábito, de tomar água benta, de ouvir a palavra de Deus;

10 – Quando se mostra vexado ou encolerizado ao aplicar-lhe o padre as relíquias dos Santos, os Agnus Dei, ou quando, nas preces, o sacerdote recorre ao Sinal-da-Cruz, às coisas bentas e, principalmente, ao Santo Sacramento do Altar;

11 – Quando se eleva e logo desaparece uma bolha na sua língua. Quando se elevam diversas bolhas, semelhantes a pequenos grãos, trata-se de sinal mais digno de nota, concluindo-se, à vista das bolhas, qual o número de Demônios alojados no corpo do indivíduo;

12 – Quando o indivíduo se revela presa de constante inquietação, andando para cá e para lá, principalmente em busca de lugares solitários e desertos;

13 – Quando está tolhido em todos os seus membros, mantendo-se sempre adormecido como morto;

14 – Quando não consegue suportar o aroma das rosas ou outros determinados perfumes;

15 – Quando revela fatos absolutamente secretos e os denuncia manifestando desprezo por Deus e dirigindo injúrias aos vizinhos;

16 – Quando se torce ao ser exorcizado, faz meneios, se curva e contorce o corpo e os membros de maneira imprevista e inadmissível numa criatura;

17 – Finalmente, quando o Demônio, seja de que forma for, lhe apareceu antes que tivesse noção de estar possesso.


Para Macedo a manifestação da possessão demoníaca é bem simples. Basta o indivíduo ouvir a pregação do Evangelho.


6.5. Tipos de possessão/endemoninhamento

A terminologia demoníaca, ou seja, a terminologia dos tipos de possessão não é uniforme. Alguns falam de possessão propriamente dita, endemoninhamento, invasão, obsessão, tormento por espectros e até circumissessão. A presença do demônio da vítima se dá por período de crise ou permanentemente. No caso do endemonhiado gadareno, ele estava atormentado por vários demônios ao mesmo tempo. “No Malleus maleficarum [manual do inquisidores], com base na melhor autoridade possível, declara-se que os demônios não possuem vontade e compreensão, mas somente o corpo e as faculdades mentais mais estreitamente ligadas a este. Em muitos casos, os demônios nem possuem o corpo inteiro do endemoninhado, mas uma pequena parte dele – um único órgão, alguns músculos ou ossos.” Da mesma forma que os demônios eram considerados (referentes à sua natureza) ígneos, aéreos, terrestres, aquáticos, subterrâneos e lucífugos , também as formas e os tipo variavam. Alguns chegavam a se disfarçar de alimento para entrar na vítima.

Quando deseja penetrar, de qualquer forma, disfarça-se até de pedra, pássaros, insetos em geral (nunca se sabe quando o mosquito que zumbe à noite é um demônio... cuidado, portanto, ó mortais), animais domésticos, etc.

Portanto, o coração humano não está livre das possessões, na opinião do crítico de Loudun (Aldous Huxley), mesmo o “coração permanentemente vigiado e controlado torna-se receptivo a todas as graças, e finalmente é ‘possuído e governado pelo Espírito Santo’. .. Mas, durante o percurso para esse fim desejado, pode haver possessões de espécies muito diferentes. Pois de forma alguma todas as inspirações são divinas, ou mesmo edificantes ou convenientes. Como poderemos distinguir entre as orientações do não-Eu que é o Espírito Santo, e daquele outro não-Eu que é algumas vezes um tolo, ou um louco, ou mesmo um criminoso malévolo?”

No início dos tempos moderno, apesar de um reavivamento do “sagrado selvagem”, ainda não se pode ver nenhum esclarecimento do aspecto social da possessão. Como foi visto acima, na Idade Média, o Escolasticismo, cria-se em um mundo de três andares: inferno abaixo, terra no meio e céu acima. Com o Iluminismo e a progressão científica muitas situações que poderiam ser creditas ao diabo, agora têm explicações racionais e razoáveis, principalmente no que se refere às doenças.

7. DOENÇAS
7.1. A doença e a possessão

Tem sido cada vez mais apregoado pelos meios de comunicação, rádio e tv, por igrejas neopentecostais, que todo o mal, incluindo a doença, vem do diabo. Revive-se, assim, a crença primitiva de que aquilo que não é bom para o corpo vem do mal. Na Mesopotâmia existiam demônios para cada doença e para órgão do corpo (todos esses demônios tinham nome). Para a febre existia, por exemplo, um demônio específico.

As causas que associavam doenças a demônios vinham de longe, com raízes na Babilônia e no Egito. De fato, na Mesopotâmia as doenças foram atribuídas aos demônios, aos monstros e outros seres maus. A cura era baseada por meio de orações e textos de encantamento. Portanto medicina estava entrelaçada com religião e magia, fé e crença em forças ocultas.

Em geral, a religião não permitia desde essa época que o fiel consultasse qualquer tipo de médico. No 1º Testamento, a figura do sacerdote reunia as qualidades de curandeiro e o homem de ligação com Javé. Procurar um médico e não utilizar o recurso da oração consistia em falha grave. Comparavam-se os médicos aos embalsamadores egípcios. Por volta do século II já se admitia a consulta a um médico (p. ex. Lucas), mas somente depois de se ter ido ao Templo.

Para doenças vistas como conseqüência do pecado deveria haver um remédio religioso, uma mágica, um ritual. O medico se utilizava, então, do método do exorcismo como forma de cura. A doença também era considera impureza, o que impedia o acesso do doente ao Templo, tendo que adquirir alguns passaportes para esse fim (comprar animais para o sacrifício).

No manual de doutrinas da IURD, Macedo diz que todas as enfermidades têm uma origem em comum, i.e., que são causadas por um espírito de enfermidade ou uma bactéria demoníaca. Por isso, em muitos casos, dar-se ordem aos loucos e lunáticos para que todo mal saía do corpo do homem “possuído”.

Retornando à interpretação do mundo grego, a doença era sinal de possessão.

Outras interpretações é a de que a doença era um sinal de que o demônio tomou posse da pessoa. Muitos povos primitivos, particularmente os gregos, responsabilizavam os deuses pelas doenças; assim, por exemplo, a palavra “influenza”, que significa gripe, originalmente significava que alguém está sob a influência maligna dos astros – os deuses podiam curar desde que lhes fossem oferecidos um sacrifício apropriado.

Da mesma forma que na Mesopotâmia as doenças eram e atribuídas aos demônios e, no judaísmo as doenças psíquicas eram consideradas como diabólica, no Brasil, semelhantemente os Exús e outros deuses de origem africana, são responsáveis pelas doenças: credita-se a Exú as doenças das vias bucais. Há referências aos demônios das dores de cabeça nas tabuinhas cuneiformes da Babilônia. O processo de cura para as “doenças de possessão’ se daria através do ritual de “exorcismo”. O exorcismo é a prática mais comum para qualquer caso de possessão.

7.2. Exorcismo e cura

Dentro do processo de formação da crença em espíritos possuidores, da explicação sobrenatural daquilo que não se compreende ou não se aceita, foi necessário descobrir como curar ou “extrair” o espírito de dentro da pessoa. De forma primitiva, dentro da crença das várias épocas, destacam-se alguns métodos: processos eméticos, processos purgantes, processos de sangria e processos a quente (nos primeiros casos fazia-se o possesso vomitar até perder a alma). Utilizava-se também do calor , colocando-se a cabeça do possesso dentro de um forno, como forma de expelir o demônio.

Esperava-se que o demônio saísse desta forma. Se não saía pela “porta da frente”, tentava-se fazê-lo sair pela retaguarda, empregando purgantes com vontade. Persistindo a ação demoníaca, os “médicos” aplicavam sangria, na vã tentativa de expulsar o Diabo de dentro do corpo da vítima.

A possessão e exorcismo poderiam, talvez, ser considerado fenômenos culturais por serem encontrados em quase todas as culturas. Sempre existe alguma forma de possessão e alguma forma de exorcismo. Analisando a cultura geral de povo pode-se perceber qual o seu grau de compreensão e interação com essa questão. A cultura indígena brasileira e a cultura africana permitem, com certa liberdade, uma reflexão mais correta.

Para os cristãos a cura está em Jesus Cristo, Deus.

8. CULTURA
8.1. Indígena brasileira

Outras culturas têm explicações diferentes para a presença do Bem e do Mal no seus meio, diferentes do dualismo ocidental. Dentro da cultura latina, os colonizadores “demonizaram” as crenças das terras conquistadas. Aquilo que acreditavam ser diferente era anticristão. Ao realizarem a primeira missa na Terra de Santa Cruz, crucificaram os índios como hereges. Esse primeiro ritual cristão de posse desfigurou o verdadeiro sentido da cruz. Mas também os mataram, que mesmo depois de mil anos não ressuscitarão. Contarão em suas lendas como foram possuídos pelo homem branco sem cura ou exorcismo.

Entre os índios o exorcismo era conhecido.

Entre os índios do Brasil a possessão pelos espíritos é um fenômeno mais do que conhecido. O ciclo de lendas do Jurupari, relacionado com herói civilizador que trouxe a organização patriarcal, inclui o fenômeno de possessão como algo bastante comum. O espírito do herói pode ser incorporado mediante técnicas especiais, em cerimônias secretas, a que só podem comparecer os homens. Por vezes, espíritos contrários tomam conta de alguns membros da tribu e são esconjurados, por meio de invocações e furmigações. Para os índios avás-canoeiros, de Goiás, não existe o mal como força eterna e absoluta. A força cósmica é sempre boa, positiva. Por isso eles riem dos brancos que vivem num dilema constante entre um deus bom e um deus agressivo. Esses povos admitem o mal na terra, por exemplo, na cobra, mas este depende totalmente da experiência humana. A cobra só faz mal se alguém mexer com ela. A culpa não será da cobra, mas sim de quem vai provocá-la.

A teologia indígena, portanto, já elaborava de forma bem avançada a reflexão sobre o bem e o mal, não necessitando de teólogos oficiais e demonstrando sabedoria.

8.2. Africanos

Os africanos também foram demonizados em seus costumes, cultura e religião. Assim, obrigatoriamente foram aceitando certa superioridade da cultura do exílio, relacionando–a a um fator sócio-econômico. Verifica-se o preconceito religioso.

O próprio negro brasileiro, ao estudar a religiões africanas de seu país, aceita o ponto de vista do branco, o da superioridade da civilização ocidental. Tende-se inconscientemente a admitir que o candomblé não pode fundamentar ou postular uma filosofia do universo e uma concepção do homem, diferentes sem dúvida das nossas, mas tão ricas e complexas quanto estas, a pretexto de que o fiéis dessas religiões pertencem em geral às camadas mais baixas da população – empregadas, lavadeiras, proletários.

Na opinião de Neusa Itioka, “os negros teriam todas as razões para confundir os santos católicos com os orixás do seu animismo ou fetichismo.” [Itálicos deste autor]. Essa afirmação demonstra como ao demais estudiosos evangélicos, o preconceito sobre aquilo que desconhecem, além de tratar-se de uma afirmação racista ao creditar ao negro a impossibilidade de reflexão, o que poderia ser sintetizado nas palavras do sociólogo Roger Bastide. Ele considera que “... é preciso demonstrar que esses cultos não são um tecido de superstições, que, pelo contrário, subtendem uma cosmologia, uma psicologia e uma teodicéia; enfim, que o pensamento africano é um pensamento culto.”

Além disso, torna-se necessário reagir imediatamente contra um preconceito pejorativo que ameaça desnaturar a descrição dos fatos etnográficos; que impedia, na realidade, a compreensão do verdadeiro significado das cerimônias e dos gestos, apresentando-os antes como uma espécie da caricatura ou de degradação.

Ainda, na opinião de Bastide, o candomblé é uma imagem de sociedade divina. Portanto, ao citar a possessão (ou êxtase – como chama Bastide) é falar de uma possessão divina, dentro da concepção africana. Os evangelicais ocidentais vão “discernir” que o que os possui nos seus domínios (nos seus terreiros) são demônios. É a demonização em curso histórico.

(Haveria ainda espaço para falar de outras religiões, por exemplo, o Hinduísmo, onde Brahma é neutro. Nele não há maldade nem bondade).

Caminhando ao lado do preconceito cultural (demonização da cultura), ainda existe o preconceito de gênero (demonização da mulher), “como parte mais fraca”.

8.3. Preconceito de gênero: a mulher

Dentro da maioria das religiões a mulher ainda é a maioria, porém a mais discriminada. Torna-se a “mais possuída” em todos os sentidos. Ainda que seja por mais vezes objeto do divino, também foi por muitas vezes instrumento do Mal. À mulher coube a culpa histórica de introduzir no mundo o pecado.

Crossan, citando Ioan Lewis, comparou opressão com possessão:
Ioan Lewis chamou atenção para a conexão existente entre possessão e a opressão, quer esta tome a forma de sujeição sexual e familial das mulheres aos homens, ou da racial e imperial de um povo a outro. No primeiro caso “os cultos de possessão feminina são (...) movimentos de protesto quase explícitos contra o sexo dominante (...) Dentro da sua função social a possessão por espíritos estrangeiros surge como uma estratégia agressiva oblíqua” (31,32). No segundo caso, as sociedades em que persistem cultos de possessão centrais geralmente são compostas por pequenas unidades sociais fluidas, expostas a condições ambientais particularmente rigorosas, ou comunidades conquistadas que vivem sob o domínio da opressão estrangeira” (35).

Dentro desse aspecto social, a mais penalizada será a mulher, uma vítima por excelência.

Incorporando, pois, todas as crenças da Antiguidade, amplificado pelo discurso da Igreja, o Diabo preside a vida comunitária cristã. Em toda parte se vê o diabólico, o mundo inteiro é por ele invadido. E sua vítima é, por excelência a mulher. Porque a mulher está mais predestinada ao Mal que o homem, segundo os textos bíblicos – “Toda a malícia é leve, comparada com a malícia de uma mulher; que a sorte dos pecadores caia sobre essa!” (Eclesiástico 25:26) – e os primeiros teólogos cristãos.

“Desde o princípio, foi a mulher que Deus nomeou como antagonista do espírito do mal (Gn 3,15).” Essa interpretação ainda está vigente no meio evangelical. Mas essa nomeação não a exclui de ser portadora do mesmo mal que antagoniza e às vezes personifica.

Também não havia clemência na opinião dos padres da igreja sobre as mulheres e o diabo.

Mas, de acordo com os textos dos Padres da Igreja, nos primeiros séculos, havia ao mesmo tempo uma visão teológica contrária em relação ao papel das mulheres. Elas é que eram consideradas as tentações dos homens, que procuravam levar o homem à queda. Em alguns desses textos, parecia que as mulheres não tinham papel algum a desempenhar na criação, exceto como instrumentos do Diabo e como tentações a serem vencidas. Em muitos casos os textos bíblicos, com suas formulações, serviram como fonte de opressão, sobretudo das mulheres. Em outros casos, eles trazem a luta de muitas mulheres que não se conformaram com a triste realidade à qual eram submetidas. O texto bíblico também é produto de uma determinada cultura histórica, muitas vezes androcêntrica e patriarcal. Resgatar isso nos possibilita uma leitura libertadora, não só em relação à mulher, como também ao homem. Também nos oferece pistas de como velhos paradigmas, que só serviam para legitimar o poder de uns em cima de outros, podem ser superados, em favor da busca e da construção de novas relações de gênero entre mulher e homem.

A dominação da mulher por círculos de poder poderia ser chamada de possessão. Os círculos de poder (pode-se chamar de demônios) podem ser a igreja, os homens, os códigos culturais, etc. Por mais incrível que pareça, a sexualidade é o maior campo de possessão, tanto feminina como masculina. “É a descoberta da sexualidade como reciprocidade, mas também como fator de dominação. A serpente é um símbolo de dominação: seu culto era bastante difuso no norte do Estado de Israel. (...) Cobrir as genitálias, as dores de parto, o desejo que leva à dominação, a hostilidade da mulher com a serpente (Gn 3,15-16): tudo isso é confirmação do projeto de dominação que a serpente representa. Ela é astuta (é símbolo também de sabedoria), e pode enganar. Pela sexualidade pode-se enganar, também! E a mulher, não por ser mais fraca, mas por estar mais ligada à geração da vida, é mais exposta que o homem a este engano. (...) devemos pensar no sistema de dominação patriarcal, cujo símbolo é a serpente, reafirmado e reforçado pelo cristianismo posterior.” O papa Gregório Magno, em seus Diálogos, conta que uma pobre freira, tendo entrado na horta do convento para colher alfaces e comido, sem a oração devida, um pé de alface no qual um diabo se escondia, ficou por isso endemoniada.

Curiosamente, tanto havia demônios-machos (súcubos) como demônio fêmea (íncubus). De duas formas a mulher era possuída. Deitam-se com as mulheres ou as corrompem, pois são fracas e culpadas.

Os súcubos (“os que deitam por baixo”) eram demônios fêmeos que assaltavam os homens adormecidos, sob o aspecto de mulheres formosas, às vezes virgens, impelindo-os a quebrarem os votos de castidade ou, no caso de homens casados, a cometerem adultério. (...) Os íncubos (“os que se deitam por cima”) representavam a contrapartida masculina, buscando corromper a mulher, deflorando-a, se fosse virgem, ou arrastando as esposas ao adultério.

Para a mulher não havia fuga possível. Ou era possuída pelo mal ou era geradora dele. A sexualidade é uma das maiores formas de possessão de gênero.

III. PARTE
1. Em nossos dias...

Dizem que o “Deus e o Diabo dos brancos chegaram ao nordeste [do Brasil] nas caravelas de Pedro Alvares Cabral”. Provérbios e contradições à parte, toda conquista diviniza ou demoniza, a exemplo dos conflitos que envolvem árabes e norte-americanos neste tempo (século XXI). Não poderia deixar de ser diferente no tempo de Jesus, com a conquista romana, onde a população sofria forte pressão de ambos os lados. Nesse contexto a explicação da possessão como fator social fica ainda mais evidente. Seria uma espécie de protesto.

Na antropologia e nas demais ciências sociais “pode-se observar um interesse pelo ambiente social em que o indivíduo está inserido; o problema é visto já dentro do campo de interação entre o indivíduo e o grupo social”. Deve-se, portanto analisar que relação existe entre grupo social e possessão demoníaca. Dessa interação derivam os “demônios” que o invadem sem permissão. Entre tornar-se possesso e ser possesso existe uma grande diferença, pois tornar-se implica no resultado de um processo externo e ser implica em um processo interno. Tanto o oprimido como o opressor podem tornar-se ou ser.

O historiador Joseph Campbell exemplifica melhor essa tese:
“Um professor”,escreveu Leo Froebius em um famoso ensaio sobre a força do mundo demoníaco (daimoniacós) na infância, “está escrevendo em sua mesa de trabalho e sua filha de quatro anos está correndo pela sala. Ela não tem nada para fazer e o está perturbando. Então, ele dá a ela três palitos de fósforos queimados, dizendo: ‘Olhe, brinque com isto’, e ela senta-se no tapete e começa a representar com os fósforos, Joãozinho, Mariazinha e a bruxa. Assim passa um bocado de tempo, durante o qual o professor se concentra em seu trabalho sem ser interrompido. Até que, de repente, a menina grita aterrorizada. O pai corre, perguntando: ‘O que é? O que aconteceu?’ A menina corre para ele, mostrando todos os sinais de pânico. ‘Papai, papai’, ela grita, ‘tire a bruxa daqui! Não suporto mais a bruxa!” “Uma explosão emocional”, observa Froebius, é uma característica de uma mudança espontânea de idéia, do nível dos sentimentos (Gemut) para o da consciência sensorial (sinnliches Bewusstsein). Além do mais, o surgimento de tal explosão obviamente significa que determinado processo espiritual se completou. O palito de fósforo não é uma bruxa; tampouco o era para a menina no início da brincadeira. O processo, portanto, está no fato de o fósforo ter-se transformado numa bruxa no nível dos sentimentos e conclusão do processo coincide com a transferência dessa idéia para o plano da consciência. A observação do processo escapa à avaliação do pensamento consciente, pois ela entra na consciência apenas após ou no momento da conclusão. Entretanto, desde que a idéia é, ela deve ter-se tornado. O processo é criativo, no melhor sentido da palavra; pois, como vimos, para uma criança um palito de fósforo pode tornar-se uma bruxa. Concluindo: a fase do tornar-se ocorre no nível dos sentimentos, enquanto a do ser está no plano consciente.

O escritor russo Dostoievski, na sua obra Os Demônios, onde nenhum personagem é um espírito mal – todos são humanos, transmite a mensagem de que o mal “tem realidade na medida em que o demônio faz de uma criatura um possesso”. Está implícito o processo de tornar-se.

Seria incorreto, então, concluir que no “seio da própria igreja há uma atividade demoníaca” , na medida em que os demônios são invocados para depois serem rechaçados sob o poder de Deus? Filosoficamente o ser torna-se não-ser para depois de “liberto” retornar a ser o que era antes. É um paradoxo de transformação invocar – fazer se manifestar - para depois expulsar. Quais serão as alterações físicas e emocionais por quais passará o indivíduo nesse processo de “possível” cura (exorcismo)?

Na verdade, dentro de um ambiente social de opressão política, religiosa e econômica o indivíduo passa por um processo religioso de cura/exorcismo, quando essa pretensa cura é apenas um paliativo para a doença que reside em outro lugar. A tentativa de esclarecer o verdadeiro lugar da doença continua.

2. O AMBIENTE SOCIAL

O mundo ainda vive o conflito dualista entre o bem e o mal.

As forças destruidoras da vida ainda estão entre nós: doença, alienação, pobreza, miséria, exclusão, preconceito, desemprego, violências, poluição, destruição do meio ambiente, corrupção, drogas, vícios etc. São os demônios e os espíritos maus de hoje.

A sociedade é culpada por causar distúrbios nos indivíduos. Os comportamentos estranhos são uma forma de protesto, de reação, p. ex., a possessão. Ou seja, procurar a causa apenas no indivíduo não é o melhor caminho a percorrer, embora o individualismo concorra com um mal solitário deste século. O evangelicalismos e o fundamentalismo focalizam o problema apenas no indivíduo que não se integra, responsabilizando-o inteiramente pelo mal que o possui. Daí resultam os adjetivos de que é cunhado: pobre e maldito, impossibilitado de se comunicar com Deus.

O possesso geraseno representa ...a exclusão social com todas as suas conseqüências: “desajustamento social”, enfermidades psíquicas, redução da pessoa ao nível vegetativo, sem capacidade de comunicação.

No ambiente social onde estes fenômenos ocorrem, atualmente, não foi possível perceber ainda uma prática inclusiva, a prática de Jesus, que interferisse no processo de exorcismo sem deslocar o foco da questão. Segundo Émile Durkheim, sociólogo, deve-se afastar “sistematicamente todas as prenoções”, pois é a base de um método confiável de investigação e estudo. As prenoções são como dogmas milenares do cristianismo e da cultura.

3. SOCIEDADE E EXORCISMO SOCIAL

A sociedade atual precisa de exorcismo, mas a religiosidade cristã por vezes atrapalha, como bem expressa Bráulia Ribeiro, missionária da Jocum na Região Norte do Brasil. Perdeu-se o foco da libertação.

A nossa religiosidade rasa às vezes nos leva a exorcizar pessoas, e não demônios. Um verdadeiro ato de amor a Deus e aos pobres exorciza os demônios que habitam nossa consciência social e atrai aqueles a quem Deus ama para libertá-los.

O teólogo Irineu J. Rabuske afirma que espírito e demônios tem papéis baseados naquilo que cada sociedade lhe atribui de bom ou mal. Isso é significativo porque é ideologicamente concebido, intencionalmente explorado. Mas, por outro lado, estão claros os componentes que contribuem para a ideologia da possessão. O papel do cristianismo contemporâneo reside na verificação correta do mal e no remédio apropriado.

Muito do que os exorcistas da Igreja antiga conseguiram por meio de esconjuro, hoje deve ser alcançados mediante médicos e cientistas, economistas e políticos. Os exorcistas cristãos primitivos compartilhavam um movimento amplo e excedente ao próprio âmbito das comunidades, do qual (o movimento) o mundo daquele tempo esperava alívio para os seus males. Se o cristianismo atual quiser assumir parte desta preocupação dos antigos exorcistas, então necessita percorrer os caminhos que hoje para isso são necessários, isto é, deve realizar exorcismos mediante a razão e o esclarecimento.

4. CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS

A possessão demoníaca contém o germe da violência porque o indivíduo alienado não consegue distinguir a causa de seus atos, nem o que seus atos significam. Isto acontece porque aquilo que o possui pensa e dirige as cenas da sua vida. Ao se tornar violento, ele representa a sociedade. O mal que ela lhe causa retorna para ela mesma. Visto que as sociedades são violentas por natureza, surge a necessidade de sublimação, compensação, o que indica logo seguir, a criação de um bode expiatório, sintetizado na figura do demônio.

O autor [R. Girardi] recorre ao princípio do bode expiatório, isto é, a violência expulsa a violência, como base da organização das sociedades. Alicerçadas nesse princípio, as sociedades são violentas por natureza e, como tal, necessariamente sucumbem pelo princípio de divisão interna.

Assim, ao nascimento de um indivíduo, de acordo com Durkheim, a sociedade já o aguarda com seus códigos e seus intérpretes autorizados, fórmulas prontas, que existem fora de si mesmos. Portanto, o indivíduo possuído com o germe da violência traz dentro de si a compensação de um bode expiatório, porque a sociedade já definiu isso antes dele nascer. Então, se outro “ser” o comanda, questiona-se se esse homem é culpado.

Não é possível esquecer os demônios - os outros demônios - contemporâneos semelhantes aos da violência. A questão econômica de uma nação pode sofrer o males do “demônio da inflação”, por exemplo. Esse esquema, ou sistema negro de anulação pessoal exige prática igual à de Jesus Exorcista, a fim de esboçar, mesmo que, timidamente, um exorcismo social, ou seja, exorcizar a sociedade, exorcizar as entidades e instituições demoníacas, quer cidades, estados, governos ou igrejas.

Têm-nos temidos, como coisas [os demônios] de um poder desconhecido, isto é, um poder ilimitado para fazer o bem e o mal, e consequentemente, têm dado ocasião aos governantes dos Estados gentios para controlarem assim seu receio, estabelecendo aquela demonologia (na qual os poetas, como sacerdotes principais da religião pagã, eram especialmente empregados, ou respeitados) necessária para a paz pública e para a obediência dos súditos, e para tornarem algum deles bons demónios, e outros maus, uns como esporas para a violência, os outros como rédeas para impedi-los de violar as leis.

Os grupos que se fecham a uma explicação razoável ou racional, mesmo sendo parte da solução e vêem nesses fenômenos de possessão algo de outro mundo são grupos fundamentalistas, que fizeram uma opção ideológica bastante clara e pragmática. Demonizam aquilo que não entendem ou não consegue explicar racionalmente.

4.1. Sociedade possuída

O mundo político do tempo de Jesus expressava essa “demonologia” na violenta dominação romana. Não era uma dominação legítima em termos modernos. Para responder de acordos com as suas forças, o povo elabora suas explicações, visões e cosmologia. É a religião popular produzindo válvulas de escape por meio de mundo sobrenatural. O gadareno está vivendo sob o governo de Roma e poderosas legiões. Quando liberto por Jesus, senta-se como um homem normal, vestido, que articula bem as palavras e expressa, além de tudo, seu desejo de seguir o Mestre. Sua classificação muda de uma hora para outra. Há um nexo entre doença e possessão e classes sociais. O gadareno, por assim dizer, muda de classe social.

A religião popular de uma sociedade – não a de uma igreja na sociedade – prescreve palavras de ordem que apenas recobrem, com os termos do sagrado, o código de trocas das classes de que é parte, ocupando um dos seus setores de produção simbólica de serviços e significados e respondendo por funções de atribuição de legitimidade, não apenas de uma ordem dominante de relações, como se afirma com freqüência, mas principalmente de modos subalternos de vida no interior dessa ordem, ocupando-se muito mais em estabelecer preceitos de trocas entre os seus próprios sujeitos, do que entre eles e qualquer instituição religiosa.

Ter vez é voz na sociedade somente é possível após um ato de libertação divina. A restauração da comunicação do homem alienado e Deus são possíveis. Chama-se religação, religare, um ato cristão por excelência. Não é possível fazer religação através da batalha espiritual ou quebra de maldições. Se o homem é exorcizado do demônio da pobreza para, assim, se tornar rico, possuidor das riquezas deste mundo, outro demônio o possui: o demônio da riqueza. Há apenas uma troca. A casa vazia permite a entradas de demônios piores. Ou então, Jesus é expulso como foi expulso da Decápolis.

A atitude dos que pedem para Jesus ir embora é a mesma de uma sociedade que valoriza mais as posses dos bens do que a libertação dos alienados e escravizados. Em primeiro lugar, Deus quer que o homem viva. A sociedade que põe qualquer coisa acima da vida humana é sociedade que rejeita Jesus.

A visão de um homem adentrando o tempo do capitalismo (Shopping), consumindo (prestando culto ao deus mercado), lhe dá uma sensação de poder (de compra) que não tem. Ele já possuído pelo espírito do capitalismo e a ética protestante (atual) não lhe permite refletir sozinho. O exorcismo (com x) tornar-se “esorcismo” (com s). Ainda sobre a batalha espiritual são verdadeiras são as palavras de Bráulia Ribeiro na Revista Ultimado:

Senti-me desnudada em minhas motivações. Demônios me atraem, crianças sofrendo, não. Antros de trevas e agentes sobrenaturais de repente se tornaram minha motivação e a da igreja, envolvidos nesse video game gigante, brincando de evangelho. Um evangelho-viagem, cósmico, que vai se distanciando sutilmente do evangelho-terra, evangelho-gente, evangelho-amor, evangelho dos pobres e de Jesus.

(...) A batalha espiritual que não gera transformação de consciência social, transformação ética e moral, que não quebra a nossa hipócrita indiferença de classe média brasileira em relação aos pobres, que não cura nossa sociedade aleijada, não passa de animismo, de feitiçaria. (...) A nossa religiosidade rasa às vezes nos leva a exorcizar pessoas, e não demônios. Um verdadeiro ato de amor a Deus e aos pobres exorciza os demônios que habitam nossa consciência social e atrai aqueles a quem Deus ama para libertá-los.

Há um mal cultural inerente às sociedades humanas. Esse mal cultural rompe o equilíbrio social e religioso. As respostas do homem atual são (e serão) as mesmas do homem antigo. Escapará para o mundo cósmico, onde as potestades e principados guerrearão uma guerra acima dos homens mortais. Isto soa muito homérico, mitológico.

No entanto, qualquer que seja o mal, qualquer interpretação que se lhes dê (está claro que o Mal existe sempre personificado), desestabiliza e desequilibra a vida, trazendo o caos para tudo e para todos. A “fuga para o céu” onde tudo se realiza não é mais platônico (a) porque a filosofia na era do evangelicalismo, de modo geral, é incipiente e não comportaria uma reflexão dessa magnitude. Mas poderia se dizer que tudo ocorre no “mundo das idéias”.

A existência do mal dentro de um grupo social característico torna esse grupo impotente, por um tempo breve ou paralisa a revolta dos excluídos?

No interior de um sistema popular de crenças, onde todos o seres agem como os da Terra e têm, portanto, interesses políticos, a existência do Mal demonstra o seu poder sempre provisório, mas sempre renovado, de romper as normas do equilíbrio da vida, da sociedade e da natureza e introduzir sobre todas as coisas um estado transitório de desordem.

Dentro dessa perspectiva, “a ciência moderna funcionou como uma espécie de exorcista enquanto superou em grande parte as concepções ingênuas antigas, apresentando explicações razoáveis para fenômenos antes atribuídos somente a causas metafísicas”. E ainda assim o homem busca explicações (no sentido de cura e salvação), das mais variadas.

“O homem pode buscar a salvação diante de várias concepções do mal – ansiedade, doença, sensação de inferioridade, dor, medo da morte, preocupação com a ordem social. Ele procura, então, soluções de ordens diferentes: uma cura; a eliminação de agentes maléficos; a sensação de que tem acesso ao poder; uma melhoria da sua posição social; maior prosperidade; a promessa de vida após a morte, de reencarnação, de uma ressurreição do túmulo, ou de uma fama que possa perdurar para a posteridade; a transformação da ordem social (incluindo a restauração de uma ordem social do passado, real ou imaginária). (...) Das várias teodicéias que organizam as diversas promessas e atividades apropriadas para lidar com essas percepções específicas do mal, duas reações são bastante comuns entre os povos menos desenvolvidos: a taumatúrgica e a revolucionária” (492).

Esse paralelismo do exorcismo com a revolução tem sentido. Se o dominador é o demônio em pessoa, a salvação virá apenas pela revolução política e social. A tomada do poder é a vitória sobre o poder das trevas.

4.2. Exorcismo social

Desde que a possessão pode ser social, política, econômica e psicológica, torna-se necessário usar a palavra como forma de comunicação, pois o “demônio fala e ouve” e tem um nome pelo qual é reconhecida sua atuação, como faziam os xamãs mesopotâmicos.

Para dominar nossos maus espíritos/demônios interiores/complexos/pensamentos obsessivos, devemos usar palavras mais fortes para quebrá-los, derrotá-los, sujeitá-los. Acima de tudo, devemos dar um nome a eles. Enquanto continuamos como uma legião anônima que não podemos discernir com clareza, eles são muito assustadores. Mas quando recebem um nome, ou são interpretados pelo analista, eles perdem o poder. Ficam desmistificados.

O reconhecimento daquilo que oprime e possui o ser humano contra sua vontade já possibilita experimentar um antídoto, porque ao serem desmistificados perdem a aura de poder que tanto assusta e se tornam “velhos conhecidos”. Ao utilizar a palavra como meio de exorcismo social, está-se utilizando da linguagem comum, ou então não haveria palavras de ordem em nome de Jesus. A bem da verdade, segundo algumas opiniões, um demônio somente pode ser expulso e repreendido se receber uma ordem para sair em voz audível.

Don Cupitt, teólogo anglicano, afirma com todas as letras que as próprias palavras são demônios e fica a pergunta se um reinado pode sobreviver com divisões internas. Nesse ponto ele concorda com Rubem Alves. Cuppit afirma ainda:

Por conseguinte, os espíritos desmitologizados tornam-se palavras gerais e o enorme poder do mundo espiritual sobre os mundos das experiências sensorial passa a ser o enorme poder que a linguagem tem de formar, ordenar e classificar a realidade. As palavras são demônios que podem com tanta facilidade escorregar direto do mundo externo para os seus pensamentos mais íntimos e deixá-lo profundamente perturbado, e elas são os mensageiros alados que você envia para realizar os mais variados propósitos. Palavras são objetos públicos invisíveis, pairando ao meu redor. Enquanto escrevo, em multidão, como um enxame de espíritos. A linguagem é o poder sobrenatural que nos fez sair do estado natural.

“Somos morada de palavras, possessões demoníacas ou o vento indomável do Espírito Santo.”

5. EXCLUSÃO DE GÊNERO: A DIMENSÃO FEMININA DA POSSESSÃO

De acordo com a afirmação do teólogo Irineu J. Rabuske, “a interpretação religiosa da possessão não é mais possível” . A ênfase numa visão social permite diferenciar os tipos, formas e gêneros de possessão e a conseqüente interação com as demais ciências.

Uma forma de preconceito de gênero, desde a Idade Média, foi feita contra as mulheres. O medo do poder do feminino invadia as mentes masculinas religiosas ao ponto de criarem todo um aparato contra as chamadas “bruxas” e que se chamou de Inquisição.

Outros estudiosos já verificaram a conexão entre possessão e gênero feminino.

Ioan Lewis chamou atenção para a conexão existente entre possessão e a opressão, quer esta tome a forma de sujeição sexual e familial das mulheres aos homens, ou da racial e imperial de um povo a outro. No primeiro caso “os cultos de possessão feminina são (...) movimentos de protesto quase explícitos contra o sexo dominante (... Dentro da sua função social a possessão por espíritos estrangeiros surge como uma estratégia agressiva oblíqua” (31,32). N segundo caso, as sociedades em que persistem cultos de possessão centrais geralmente são compostas por pequenas unidades sociais fluidas, expostas a condições ambientais particularmente rigorosas, ou comunidades conquistadas que vivem sob o domínio da opressão estrangeira”.

O que também é a constatação de Rabuske quando cita Katharina Elliger.

Ao longo da história do cristianismo, na maior parte dos casos de possessão trata-se de mulheres. Katharina Elliger observa que, nesses relatos, as vítimas são, na maioria, mulheres humildes, sem instrução e pertencentes às classes mais baixas da sociedade. Tendo presente a histórica opressão da mulher na sociedade ocidental, é plenamente válido supor que estamos diante de uma categoria social oprimida, de acordo com a já citada tese de Gerd Theissen, segundo a qual as narrativas de possessão do NT são, em grande parte, expressão das classes oprimidas. A pesquisa antropológica tem constatado que, nas diversas religiões, possessão pode ser um recurso mediante o qual mulheres e grupos de pessoas oprimidas e carentes de atenção procuram se fazer valer diante de seus maridos ou superiores.

A melhor de chamar a atenção é a possessão. Todas as atenções se voltam para esse fenômeno extraordinário.

6. O PODER DA LINGUAGEM COMO LIBERTAÇÃO

Aldous Huxley sintetizou o resultado da linguagem na formação do mundo e das ideías de forma brilhante. Nada escapa ao poder da palavra bem dita.

A linguagem é o instrumento do progresso humano para além da animalidade, e a linguagem é a causa do desvio do homem, a partir da inocência animal e de sua conformidade à natureza das coisas, para a loucura e as crenças nos demônios. As palavras são ao mesmo tempo indispensáveis e fatais. Tratadas como hipóteses de trabalho, as proposições acerca do mundo são instrumentos para podermos entendê-lo cada vez mais. Tratadas como verdades absolutas, como dogmas que devem ser assimilado, como ídolos que devem ser adorados, as proposições sobre o mundo distorcem nossa visão da realidade e nos conduzem a todo tipo de conduta imprópria.

Traugot Constantin Osterreich, professor, antropólogo, teólogo alemão, descreve o caminho da linguagem desde a filosofia grega, de acordo com Don Cuppit

.... no decorrer da história do pensamento o mundo arcaico dos espíritos foi transformado por Platão em seu Mundo Inteligível de idéias gerais ou Formas. Mais tarde, de novo, o mundo superior de Platão foi transformado por Kant numa ordem de conceitos mentais, e essa, por sua vez, se transformou na filosofia moderna (na década de 1930) no vocabulário de nossa linguagem. Condensando todo esse longo e complexo processo, vemos hoje, do nosso ponto de vista, que o mundo sobrenatural da religião foi, o tempo todo, uma representação mítica do mundo da linguagem.

A obsessão pelo domínio da linguagem, a descoberta de que linguagem pode introjetar quaisquer idéias nas pessoas mediante técnicas apuradas de neurolinguística (para usar somente este exemplo), transformaram alguns seres humanos em demônios, que visam o tempo todo possuir almas e mentes desavisadas para seus mais perversos fins. Nisto a possessão nada tem de sobrenatural, porque parte diretamente do mundo terrestre onde homens se confundem com demônios mediante uma só palavra.

Aldous Haxley, o homem que pesquisou os eventos de Loudun concluiu a mesma coisa. Ele comenta:
A possessão é mais mundana do que sobrenatural. Os homens deixam-se obcecar por pensamentos sobre uma pessoa, uma classe, uma raça ou uma nação, à qual odeiam. Atualmente, os destinos do mundo estão nas mãos de endemoninhados – homens que se deixam possuir pelo mal que escolheram descobrir nos outros. Eles não acreditam no Diabo; mas fizeram todas as tentativas possíveis para serem possuídos – e obtiveram sucesso. E, uma vez que acreditam ainda menos em Deus que no Demônio, parece bastante improvável que consigam se curar da possessão.

Não existe exorcismo para o homem que procura o mal. Este o consome por inteiro.

7. CONCLUSÃO

A presença do Mal na vida humana é inquestionável. A despeito de a Bíblia trazer uma visão de mundo que não coincide com a visão do século XXI, ainda assim, não se pode negar essa presença nefasta. Muito mais importante do que isso é atitude de Jesus frente ao fenômeno. Jesus, como um exorcista do seu tempo, provou que é possível a libertação do ser humano de qualquer opressão que o aliene. Bastam apenas algumas considerações finais a respeito da perícope de Marcos 5,1-20, a começar pelas questões textuais até a análise teológica.

Conhecendo agora textos que nos mostram Jesus como exorcista. Duas são a provas que eles nos fornecem, a saber: (1) a de que Jesus libertava os homens de determinados males que os seus contemporâneos consideravam como possessões diabólicas; (2) a de que os próprios textos não foram redigidos à maneira dos fatos, como os concebe a moderna historiografia. Ele contém um grande número de elementos formais daquela época, além de uma mensagem bastante explícita. Eles estão a serviço da proclamação da palavra da salvação. Temos aí uma questão, por não tratada, mas que se coloca para o homem de nossa época a respeito deste gênero de narrativa: eram forças realmente pessoais, eram demônios que Jesus expulsava das pessoas? Ou os possessos sofriam de doenças que somente em razão dos conhecimentos insuficientes daquela época e de uma concepção superada do mundo, que acreditava na existência de espíritos bons e espíritos maus, eram considerados possessões diabólicas? Esse tipo de pergunta não dirige apenas ao passado. Elas desembocam, sobretudo na questão absolutamente atual de saber como os cristãos, em nossos dias, devem continuar a obra exorcística de Jesus: procurando o diabo em pessoa para torná-lo inofensivo, ou procurando conhecer a forças que ameaçam a existência, represá-las e vencê-las por um engajamento multiforme, mediante a prática do bem?

O mal, como afirma Weise, “é sempre pessoal”. Sempre necessita de alguém para se expressar, sempre um ser humano será o vetor principal da manifestação demoníaca. E um agrupamento de pessoas poderão se tornar em uma instituição possessa, cega para as verdadeiras necessidades de outros irmãos, opressora e detentora de todas as verdades.

Os homens criados à semelhança de Deus precisam vê-lo mais nas pessoas do que oter olhos apenas para o Inimigo.

A possessão existe em quase todas as culturas “primitivas”. A interpretação de como isso se dá é diferente de uma cultura para outra. Para uns a possessão é divina, para outros é diabólica. Para os cristãos ocidentais qualquer possessão que não seja divina (pelo Espírito Santo) é negativa.

Ficar doente é estar possuído, porque a impossibilidade de cura antigamente era computada aos deuses e somente um ritual de exorcismo curaria o doente/possesso. O Primeiro Testamento não crê nos demônios e o Segundo Testamento já aparece com a ação demoníaca. Acredita-se que essa crença é externa ao judaísmo. Para os Pais da Igreja o mundo era tridimensional.

Para os indígenas brasileiros o mal existem para quem provocá-lo. Para os africanos exilados à força, ser possuído é ser visitado por deuses da terra natal.

Às mulheres, após a Queda, é reservada a imagem da culpa pelo Mal que entra no mundo. São dominadas (possuídas) de muitas formas: socialmente, sexualmente. Até chega-se ao ponto do Apóstolo Paulo dizer que serão salvas ao dar à luz. É o direito de salvação reservado à procriação. Sem falar na gestação de um possível anticristo (acredita-se que uma das novidades do fim do mundo seria a imitação que o diabo faria para gerar o anticristo à semelhança de Maria, sem contato humano).

Historicamente, portanto, a possessão demoníaca e seus agentes, os demônios, estão vinculados a uma terrível pressão social, em que os menores indivíduos de uma sociedade são os maiores culpados.

Alguns evangelicais brasileiros ainda mantêm uma atitude de abertura frente ao mundo teológico, o que não quer dizer que acreditem ou desacreditem, concordem ou discordem. Assim ainda é possível ler algumas opiniões muito bem consistentes. Basta citar dois exemplos. Um descreve o diabo como “ninguém” (baseado no poeta Baudelaire) e, portanto, não possui poder que não lhe seja dado.

Enquanto Deus afirma: “Eu sou o que sou” (Êx. 3.14), Satanás declara, segundo o poeta francês Baudelaire: “O meu nome é Ninguém. Não há ninguém: de quem deveis ter medo? Ides tremer diante do Não-existente?”

A outra é a consciente missionária da Jocum, Bráulia Ribeiro.

A batalha espiritual que não gera transformação de consciência social, transformação ética e moral, que não quebra a nossa hipócrita indiferença de classe média brasileira em relação aos pobres, que não cura nossa sociedade aleijada, não passa de animismo, de feitiçaria.

Ambos estão de acordo em não dar atenção a quem, ou o quê, não merece atenção. Antes, deve-se focalizar no ser humano e suas necessidades. Suas necessidades sociais, físicas, emocionais dependem de um correto discernimento do mal que os aflige sem piedade. São demônios, são “flores do mal”, são feiticeiros modernos e não menos sedentos de sangue. Leonardo Boff transforma o diabólico e lhe dá um novo significado.

Dia-bólico provém de dia-bállein. Literalmente significa: lançar coisas para longe, de forma desagregada e sem direção; jogar fora de qualquer jeito. Dia-bólico, como se vê, é o oposto do sim-bólico. È tudo o que desconcentra, desune, separa e opõe.

Ao que se pode deduzir que os homens podem dar significados diferentes à mesma coisa, objeto ou crença. Os demônios, responsáveis pelo mal, foram bodes expiatórios das civilizações. Atualmente, o retorno do “sagrado selvagem” pinta o mundo de outras formas. Porém, menos agressivas na aparência e, no entanto, causadoras do mesmo mal. Não se pode dar mais atenção ao mal do que ao bem, mas pode-se transforma-lo, através de ações que possibilitem a libertação do indivíduo em sociedade. Quem centra sua batalha no mal não consegue mudar o mundo para melhor, se violência gera violência.

Os teólogos, torno a repetir, acautelaram-se ao máximo contra o dualismo maniqueísta, mas em todas as épocas, grande número de cristãos procedeu como se o Diabo fosse o Princípio Fundamental, nivelando-se a Deus. Deram mais atenção ao mal e ao problema de sua erradicação, do que ao bem e às atitudes que contribuíam para o aumento da virtude. Os efeitos provocados pela obsessão do mal são sempre desastrosos. Aqueles que empreendem uma cruzada, não para se encontrarem com Deus, mas para combater o Diabo nos outros, nunca conseguem tornar o mundo melhor, mas o deixam como está ou algumas vezes um tanto pior do que estava ante do início da cruzada. Pensando principalmente na mal, tendemos, por melhores que sejam nossas intenções, a criar ensejo para que o mal se manifeste.

Jesus Cristo Exorcista é o centro da libertação. Quando o possuído é libertado daquilo que o paralisa, aliena e destroi, denuncia a sociedade excludente, que busca mais o mal do que o bem. É o princípio da cura.
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BIBLIOGRAFIA

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